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ANÁLISE DINÂMICA DO CAPITAL DE GIRO MODELO FLEURIET 2 1. ESTUDO DAS NECESSIDADES LÍQUIDAS DE CAPITAL DE GIRO 1.1 RECLASSIFICAÇÃO DO CIRCULANTE Suponhamos a seguinte estrutura de Ativo e Passivo Circulantes de uma indústria: Quadro 1.1 – Ativo e Passivo Circulantes ($ mil) Ativo Circulante 19X1 19X0 Passivo Circulante 19X1 19X0 Caixa Bancos Aplicações Financ. Dupl. a Receber (-) Prov. Dev. Duv. Estoques Outros Créditos Desp. Antecipadas 3.412 9.737 34.732 439.188 (5.184) 928.428 143.302 3.690 88 5.905 242.331 307.744 (2.881) 707.311 76.997 469 Fornecedores Salários a Pagar Obrig. Previd. Impostos a recolher Empréstimos IR e Contr. Social Dividendos Contas a Pagar 121.855 64.867 12.792 305.307 135.714 54 22 27.494 122.100 43.404 12.709 74.139 34.837 68.403 10.441 17.648 1.557.305 1.337.964 668.105 383.681 Naturalmente, do ponto de vista analítico, é importante conhecermos a capacidade financeira da empresa em saldar os compromissos de curto prazo (até 360 dias). Os analistas, com este objetivo, calculam o Índice de Liquidez Corrente, dividindo o Ativo Circulante pelo Passivo Circulante. No caso do Quadro 1.1, tem-se: 19X1 = 105.668 1.557.305 = 2,3 19X0 = 681383 1.337.964 . = 3,5 Ou seja, com um Índice de Liquidez Corrente de 2,3 podemos afirmar que, para cada real que a empresa deve pagar no curto prazo, possui $ 2,30 em bens e direitos realizáveis, também no curto prazo, exibindo, dessa forma, boa folga em termos da capacidade de cobrir seus compromissos. Esta mesma visão da capacidade financeira de curto prazo pode ser obtida através da apuração do CCL – Capital Circulante Líquido –, ou seja: 3 (em $ mil) 19X1 19X0 Ativo Circulante 1.557.305 1.337.964 (-) Passivo Circulante 668.105 383.681 (=) CCL – Capital Circulante Líquido 889.200 954.283 Contudo, apesar da utilidade e objetividade destes indicadores, eles possuem pelo menos duas falhas: a) pressupõem que, para pagar os compromissos de curto prazo, a empresa deve realizar seu Ativo Circulante, implicando, dessa forma, a liquidação da mesma; b) avaliam o desempenho do passado, uma vez que os indicadores são o resultado das atividades anteriores em termos de política de estocagem, política de crédito, política de compras, taxas de rentabilidade e do nível da utilização de recursos de terceiros. Não são de grande utilidade, portanto, para uma avaliação da capacidade financeira da empresa para os períodos futuros. Para uma avaliação que visa ao estudo da capacidade econômico-financeira de enfrentar um período de desenvolvimento ou uma política econômica recessiva, é necessário estudar a composição do Ativo e Passivo Circulantes, relacionando os saldos contábeis com as atividades da empresa. A estrutura do Ativo e Passivo Circulantes da indústria apresentada, reclassificada conforme o critério ora exposto, ficará assim: Quadro 1.2 – Reclassificação do circulante ($ mil) Ativo Circulante 19X1 19X0 Passivo Circulante 19X1 19X0 Estoques Duplic. a Receber (-) Prov. Dev. Duvid. Desp. Antecipadas Subtotal Caixa Bancos Aplic. Financeiras Outros Créditos Subtotal Total 928.428 439.188 (5.184) 3.690 1.366.122 3.412 9.737 34.732 143.302 191.183 1.557.305 707.311 307.744 (2.881) 469 1.012.643 88 5.905 242.331 76.997 325.321 1.337.964 Fornecedores (1) Obrig. Trabalhistas (2) Obrig. Fiscais Subtotal Empréstimos IR e Contr. Social Dividendos Contas a Pagar Subtotal Total 121.855 77.659 305.307 504.821 135.714 54 22 27.494 163.284 668.105 122.100 56.113 74.139 252.352 34.837 68.403 10.441 17.648 131.329 383.681 (1) Salários a Pagar + Obrig. Previdenciárias (2) Impostos a Recolher 4 As contas que mantêm relação com o nível de atividades da empresa, por sua vez, possuem algumas peculiaridades importantes. Expressam aplicações e fontes permanentes de recursos e são contas cíclicas, à medida que se renovam periodicamente, de acordo com os prazos das operações. A conta de estoques, por exemplo, renova-se em conformidade com o prazo em que os estoques permanecem na empresa. Além destas peculiaridades, o saldo destas contas relaciona-se especificamente com um tipo de atividade: o giro dos negócios. Neste sentido, em nosso modelo serão conceituadas como Aplicações de Capital de Giro, no caso das contas ativas, e como Fontes de Capital de Giro, no caso das contas passivas. Assim, as contas do Ativo e Passivo Circulantes serão agrupadas da seguinte forma: Quadro 1.3 – Modelo de reclassificação do circulante Ativo Circulante Passivo Circulante APLICAÇÕES DE CAP. DE GIRO Dupl. a Receber Estoques Despesas Antecipadas OUTRAS CONTAS DO AC Disponibilidades Aplicações Financeiras Outras FONTES DE CAP. DE GIRO Fornecedores Obrig. Fiscais Obrig. Trabalhistas OUTRAS CONTAS DO PC Duplicatas Descontadas* Instituições Financeiras Outras * De acordo com a Lei n.º 6.404/76, o saldo desta conta é apresentado como dedução (conta retificativa) das Duplicatas a Receber. Para fins analíticos deve ser reclassificada para o Passivo Circulante, à medida que se trata de uma obrigação com Bancos. A reclassificação do Ativo e Passivo Circulantes os moldes do Quadro 1.3 permite o cálculo de duas variáveis-chaves para a análise da situação financeira das empresas. Na primeira variável, sempre que as Aplicações de Capital de Giro forem maiores que as Fontes de Capital de Giro, teremos a indicação de que a empresa necessita de recursos para financiar o giro dos negócios. Por outro lado, sempre que o valor das Fontes de Capital de Giro for maior que o valor das Aplicações de Capital de Giro, teremos a indicação de que a empresa não necessita de recursos para o giro dos negócios e, pelo contrário, dispõe de fontes para financiar outras aplicações. Esta diferença denominamos Necessidade Líquida de Capital de Giro: 5 APLICAÇÕES DE CAPITAL DE GIRO (-) FONTES DE CAPITAL DE GIRO (=) NLCDG – NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO A segunda variável calculada a partir da reclassificação do Circulante trata das Outras Contas do grupo Ativo e Passivo Circulantes. De um lado, sempre que as Outras Contas do Ativo Circulante apresentarem saldo de valor superior às Outras Contas do Passivo Circulante, teremos aplicações de recursos no curto prazo. Por outro lado, sempre que as Outras Contas do Passivo Circulante apresentarem saldo superior ao das Outras Contas do Ativo Circulante teremos fontes de recursos de curto prazo financiando as atividades da empresa. Esta diferença denominamos Tesouraria: OUTRAS CONTAS DO ATIVO CIRCULANTE (-) OUTRAS CONTAS DO PASSIVO CIRCULANTE (=) T – TESOURARIA Para a indústria que estamos analisando, o cálculo destas duas variáveis está demonstrado nos Quadros 1.4 e 1.5. A apuração da NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro da indústria que estamos analisando apresenta valores positivos, ou seja, nos dois anos o valor das Aplicações de Capital de Giro é superior ao valor das Fontes de Capital de Giro. O valor de $ 861.301 mil em 19X1 e $ 760.291 mil em 19X0 indica o montante dos recursos necessários para manter o giro dos negócios da empresa na data do balanço. Em termos analíticos, este montante deverá ser financiado com recursos próprios, e/ou com recursos de terceiros de curto prazo e/ou com recursos de terceiros a longo prazo. As demais variáveis do modelo que estamos desenvolvendo procurara dar respostas sobre estas formas de financiamento das necessidades de recursos para manter o giro dos negócios.6 Quadro 1.4 – Apuração da NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro ($ mil) 19X1 19X0 Estoques 928.428 707.311 (+) Dupl. a Receber (Líq. da PDD)* 434.004 304.863 (+) Desp. Antecipadas 3.690 469 Aplicações de Capital de Giro 1.366.122 1.012.643 Fornecedores 121.855 122.100 (+) Obrig. Trabalhistas 77.659 56.113 (+) Obrig. Fiscais 305.307 74.139 Fontes de Capital de Giro 504.821 252.352 NLCDG – Necessidade Líquida 861.301 760.291 de Capital de Giro * PDD – Provisão para Devedores Duvidosos A variável T-Tesouraria da indústria que estamos analisando apresenta saldo positivo nos dois anos, indicando que o saldo das outras Contas do Ativo Circulante é maior do que o saldo das Outras Contas do Passivo Circulante. A variável Tesouraria, sem dúvida, é aquela que melhor expressa a situação financeira de curto prazo das empresas. O seu saldo sendo positivo, indica uma situação financeira folgada; se o saldo for negativo, indica a utilização de recursos de terceiros para financiar as atividades operacionais da empresa. Naturalmente, como será visto mais adiante, é a magnitude de valores e a tendência que servirão de base para uma avaliação segura da situação financeira de curto prazo. Quadro 1.5 – Apuração da T-Tesouraria ($ mil) 19X1 19X0 Caixa 3.412 88 (+) Bancos 9.737 5.905 (+) Aplic. Financeiras 34.732 242.331 (+) Outros Créditos 143.302 76.997 Outras Contas do Ativo Circulante 191.183 325.321 Empréstimos 135.714 34.837 (+) IR e Contr. Social 54 68.403 (+) Dividendos 22 10.441 (+) Contas a Pagar 27.494 17.648 Outras Contas do Passivo Circulante 163.284 131.329 T-Tesouraria 27.899 193.992 7 No caso da empresa que estamos analisando, os valores apurados no Quadro 1.5 indicam uma folga financeira nos dois anos. É bem verdade que esta folga diminuiu e bastante, de $ 193.992 mil para $ 27.899 mil. 1.2 ANÁLISE DA NLCDG – NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO A variável NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro constitui-se na principal determinante da situação financeira das empresas. O seu valor revela o nível de recursos necessários para manter o giro dos negócios. Diferentemente dos investimentos no Ativo Não Circulante, que envolvem decisões de longo prazo e com recuperação lenta de capitais, as contas que compõem a NLCDG – Necessidade LÍquida de Capital de Giro expressam operações de curto prazo e de efeitos rápidos. Modificações na política de estocagem, na política de crédito e na política de compras produzem efeitos imediatos sobre o fluxo de caixa. Neste sentido, a avaliação, bem como o acompanhamento da NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro, transformam-se em verdadeiro leme da situação financeira das empresas. O desdobramento da variável NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro, por sua vez, permite análise detalhada de todos os fatores que determinam o Ciclo Financeiro. No modelo que estamos desenvolvendo, a referida variável é o resultado da somatória dos saldos das seguintes contas (as principais): NLCDG = Duplicatas a Receber mais Estoques mais Despesas Antecipadas menos Fornecedores menos Obrigações Fiscais menos Obrigações Trabalhistas Sendo o Ciclo Financeiro determinado pela relação: Ciclo Financeiro = )anual (período 360 x *Brutas Vendas NLCDG * Receita Operacional Bruta – Vendas Canceladas 8 Podemos desmembrar este parâmetro nos seguintes componentes: 360 x Vendas Desp.Ant. 360 x Vendas Estoques 360 x Vendas Dupl.Rec. 360 x Vendas NLCDG mais mais 360 x Vendas Trab. Obrig. 360 x Vendas Fiscais Obrig. 360 x Vendas esFornecedor menosmenosmenos O Ciclo Financeiro, desta forma, fica decomposto analiticamente em todos os seus componentes. Para a indústria que estamos analisando, o desdobramento será: Quadro 1.6 – Apuração do Ciclo Financeiro ($ mil) 19X1 19X0 Estoques 928.428 707.311 (+) Dupl. a Receber (Líq. da PDD)* 434.004 304.863 (+) Desp. Antecipadas 3.690 469 () Fornecedores 121.855 122.100 () Obrig. Trabalhistas 77.659 56.113 () Obrig. Fiscais 305.307 74.139 (=) NLCDG – Nec. Líq. de Capital de Giro 861.301 760.291 Vendas Brutas 4.207.264 3.282.746 Estoques 360 x 3.282.746 707.311 360 x 4.207.264 928.428 Dupl. a Receber 360 x 3.282.746 304.863 360 x 4.207.264 434.004 Desp. Antecipada 360 x 3.282.746 469 360 x 4.207.264 3.690 Fornecedores 360 x 3.282.746 122.100 360 x 4.207.264 121.855 Obrig. Trabalhistas 360 x 3.282.746 56.113 360 x 4.207.264 77.307 Obrig. Fiscais 360 x 3.282.746 74.139 360 x 4.207.264 305.307 Ciclo Financeiro 360 x 3.282.746 760.291 360 x 4.207.264 861.301 79 dias (+) 77 dias (+) 37 dias (+) 33 dias (+) () () 10 dias () 13 dias () 6 dias () 6 dias () 26 dias (=) 8 dias (=) 74 dias 83 dias 9 A decomposição do Ciclo Financeiro, conforme o Quadro 1.6, permite a seguinte análise sobre o comportamento da variável NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro em 19X1, a indústria sob análise aumentou, em termos reais, a NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro – como resultado da evolução das Vendas Brutas, as quais cresceram 28%, não obstante a redução do Ciclo Financeiro de 83 para 74 dias. Dos resultados depreende-se: a empresa manteve praticamente sem alteração suas políticas de crédito, de estocagem e de pagamento das compras; a redução no Ciclo Financeiro foi obtida na área das obrigações fiscais, onde pode estar ocorrendo atrasos nos recolhimentos dos impostos incidentes sobre vendas; a grande pressão sobre o Ciclo Financeiro vem da área de Estoques; os fornecedores não representam expressiva fonte de financiamento. Como pode ser observado, a simples decomposição do Ciclo Financeiro por contas que formam a NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro, permite avanço na avaliação da situação financeira da empresa. 1.3 ANÁLISE DA T-TESOURARIA Conforme foi analisado anteriormente, a variável T-Tesouraria é o resultado da reclassificação das contas do Ativo e Passivo Circulantes, especificamente aquelas cujos saldos não se relacionam com a atividade operacional da empresa, as quais denominamos Outras Contas do Ativo e Passivo Circulantes. Por isso mesmo, são contas que, depois de realizadas ou liquidadas, se constituem, definitivamente, em entradas e saídas de caixa. As principais contas que podem ser classificadas como T-Tesouraria são: a) Outras Contas do Ativo Circulante: Caixa Bancos Aplicações Financeiras Outros Créditos a Receber b) Outras Contas do Passivo Circulante: Empréstimos Instituições Financeiras Duplicatas Descontadas Provisão para IR Outras Contas a Pagar 10 Outra forma de reclassificar as contas para compor a T-Tesouraria e pela exclusão: depois de identificadas aquelas que fazem parte da NLCDG - Necessidade Líquida de Capital de Giro, as demais pertenceriam a T-Tesouraria. Por outro lado, analiticamente, a variável T-Tesouraria pode ser estudada da seguinte forma: TESOURARIA POSITIVA: o saldo positivo da Tesouraria indica que as Outras Contas do Ativo Circulante, como Caixa, Bancos, Aplicações Financeirasetc., apresentam saldo superior ao das contas como Empréstimos, Duplicatas Descontadas, Provisão para Imposto de Renda etc., ou seja, a realização das contas do Ativo Circulante classificadas como Tesouraria transformar-se-á em disponível mais do que suficiente para liquidar as contas do Passivo Circulante classificadas como de Tesouraria. Assim, a Tesouraria positiva expressaria uma situação financeira folgada. Contudo, muito cuidado deve ser tomado com esta folga financeira. A situação financeira estará verdadeiramente superavitária quando a referida folga expressar saldo de aplicações financeiras ou de outros ativos de elevada liquidez e adequada remuneração. Assim como uma Tesouraria positiva com elevados saldos em obscuras contas "Outros Créditos" pode esconder recursos que jamais serão realizados, uma Tesouraria positiva com elevados saldos em contas de Caixa/Bancos pode indicar ineficiente gerencia de recursos financeiros; TESOURARIA NEGATIVA: indica que o saldo das contas de Caixa, Bancos, Aplicações Financeiras etc., não é suficiente para, quando realizado, cobrir os compromissos expressos nas contas de Empréstimos, Provisão para Imposto de Renda, Duplicatas Descontadas etc. Indica, ainda, que a empresa esta. utilizando-se de capital de terceiros de curto prazo (expresso nas Outras Contas do Passivo Circulante) para financiar sua atividade. Todavia, é grande o número de empresas que apresentam a Tesouraria negativa como forma de financiamento. Na verdade, a existência de saldos negativos nesta variável não implica, necessariamente, situação financeira apertada. O que deve ser analisado, e com muita atenção, é a proporção da Tesouraria negativa em relação a NLCDG - Necessidade Líquida de Capital de Giro e a tendência desta relação. A relação T-Tesouraria dividida pela NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro é o verdadeiro termômetro da situação de liquidez da empresa. Com a T-Tesouraria 11 negativa e o crescimento da referida relação teremos certamente, uma situação financeira caminhando para o desequilíbrio econômico-financeiro. 010 x NLCDG T TSF(%) O termômetro da situação financeira da indústria que estamos analisando é o seguinte: Quadro 1.8 Termômetro da situação financeira ($ mil) 19X1 19X0 Tesouraria (Vide Quadro 1.5) 27.899 193.992 NLCDG (Vide Quadro 1.4) 861.301 760.291 TSF (%) 3,2 26 Como pode ser observado, em 19X0 a empresa apresentava boa folga financeira, correspondente a 26% da necessidade de recursos para o giro. Em 19X1, no entanto, esta folga financeira foi reduzida, para apenas 3,2% da NLCDG. 12 2. RECURSOS DE TERCEIROS DE LONGO PRAZO 2.1 CONCEITOS De acordo com a Lei n° 6.404/76, todos os bens e direitos realizáveis, bem como todas as obrigações exigíveis em prazos superiores a 360 dias, constituirão contas classificáveis no Realizável a Longo Prazo e no Exigível a Longo Prazo, respectivamente. Do ponto de vista analítico, os saldos dos dois grupos são de grande relevância para a formação das fontes e aplicações de recursos nas empresas. A presença do Exigível a Longo Prazo na estrutura financeira (Passivo) indica a existência de fontes de recursos não exigíveis no próximo período anual, propiciando, desta forma, folga financeira na liquidez empresarial. Por outro lado, a presença do Realizável a Longo Prazo na estrutura de investimentos (Ativo) indica a aplicação de recursos em atividades de lenta recuperação financeira, pressionando a liquidez da empresa. No Brasil, o saldo dos grupos Realizável e Exigível a Longo Prazo não apresenta grande expressividade no balanço da grande maioria das empresas, possivelmente em função das incertezas que sempre marcaram o desenvolvimento da economia. Quanto à estrutura financeira, na qual seria importante a presença de fontes de recursos de longo prazo financiando a atividade empresarial, são escassas as alternativas de financiamento bancário com prazo superior a 360 dias. O crédito oficial via BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BB – Banco do Brasil S. A. e outros constitui-se em exceção e, na maioria dos casos, favorece somente a grandes empresas. O grupo do Exigível a Longo Prazo, quando presente no balanço, na maioria dos casos é composto principalmente pelas seguintes contas: Financiamentos de Bens do Ativo Não Circulante; Debêntures; Imposto de Renda Diferido; Recursos de Sócios para Aumento de Capital; Parcelamento de Tributos. 13 No grupo Realizável a Longo Prazo, as principais contas encontradas são: Empréstimos Compulsórios Eletrobrás; Créditos a Interligadas; Aplicações por Incentivos Fiscais. LP – Longo Prazo = Passivo não circulante menos Realizável a Longo Prazo Esta variável expressa, em termos líquidos, a presença de fontes ou aplicações de recursos de longo prazo na atividade da empresa. Quando o Exigível a Longo Prazo apresentar saldo superior ao Realizável a Longo Prazo, teremos fontes de recursos de longo prazo financiando a empresa; quando o Realizável a Longo Prazo apresentar saldo superior ao Exigível a Longo Prazo, teremos aplicações de longo prazo exigindo recursos. Apuração das variáveis empresariais: 31.12.X1 31.12.X0 NLCDG 8.704 3.766 T 4.680 (625) LP (1.824) 357 Análise: Em 19X0 a empresa apresenta recursos de longo prazo financiando parte de sua NLCDG, já em 19X1, a empresa possui aplicações em ativos realizáveis a longo prazo, e portanto, necessita de recursos para seu financiamento. 14 3. CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO 3.1 CONCEITO Denominamos CDGP a parcela dos recursos próprios da empresa que se encontra disponível para aplicações. Contabilmente, o valor do CDGP é obtido pela seguinte formulação: CDGP = Patrimônio Líquido menos Ativo Não Circulante Como pode ser observado, a variável CDGP refere-se àquela parcela dos recursos próprios que não está aplicada no Ativo Não Circulante; portanto, disponível para outras aplicações. Vejamos três exemplos: Empresa “A” Empresa “B” Empresa “C” AC 400 PC 200 AC 400 PC 500 AC 400 PC 1 .200 ANC 600 PL 800 ANC 600 PL 500 ANC 600 PL (200) 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000 Onde: AC = Ativo Circulante PC = Passivo Circulante ANC = Ativo Não Circulante PL = Patrimônio Líquido A empresa “A” possui CDGP no valor de 200 (800 menos 600). Devido a inexistência de atividades de longo prazo, que estariam expressas no Realizável a Longo Prazo e no Exigível a Longo Prazo, o valor do CDGP está aplicado no CCL – Capital Circulante Líquido (Ativo Circulante menos Passivo Circulante). 15 P A empresa “B” não possui CDGP, pois o valor do Ativo Não Circulante é superior ao valor do Patrimônio Líquido. Em termos de objetivos da gerencia financeira, o equilíbrio de fontes e aplicações de recursos foi quebrado e a empresa está financiando ativos de recuperação lenta (Ativo Não Circulante) com recursos de curto prazo. A empresa “C”, além de não possuir CDGP, apresenta o que denominamos Passivo a Descoberto, ou seja, o valor do capital de terceiros é superior ao valor do Ativo. A partir do relatório contábil, os fatores que determinam o nível do CDGP estão relacionados com as atividades cujos resultados estão expressos nos saldos das contas que compõem o Ativo Não Circulante e o Patrimônio Líquido. As contas mais importantes são as seguintes: a) Ativo Não Circulante: Ativo Imobilizado: Imóveis, Móveis e Utensílios, Instalações, Máquinas e Equipamentos, Imobilização em Andamento etc. Investimentos: Participação em Outras Empresas, Aplicações por IncentivosFiscais etc. Ativos Intangíveis: Marcas e patentes; tecnologias em desenvolvimentos. Contas Retificativas: Depreciação, Amortização e Exaustão Acumulada. b) Patrimônio Líquido: Capital Social Reservas de Capital Reservas de Reavaliação Reservas de Lucros Lucros ou Prejuízos Acumulados Considerando que a obtenção da variável CDGP resulta da subtração do Ativo Não Circulante do Patrimônio Líquido, podemos afirmar que todas as operações que impliquem aumento das contas do Ativo Não Circulante, bem como as que impliquem diminuição do Patrimônio Líquido, reduzem o CDGP. Todas as operações que acarretam diminui o do Ativo Não Circulante e/ou aumento do Patrimônio Líquido aumentam o CDGP. Assim, as principais atividades que atuam sobre o nível desta variável são: 16 a) Atividades que reduzem o CDGP: Prejuízos Aquisição de Ativo Imobilizado Aquisição de Investimentos Gastos em Despesas Pré-operacionais (Ativo Diferido) Distribuição de Lucros b) Atividades que aumentam o CDGP: Lucros Venda de bens do Ativo Não Circulante Aporte de recursos de sócios para aumento de capital Depreciação, Amortização e Exaustão 17 4. ANÁLISE GERENCIAL DE BALANÇOS Nos tópicos precedentes desenvolvemos um modelo de reclassificação do balanço do qual foram extraídas quatro variáveis, que denominamos Variáveis Empresariais: NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro T – Tesouraria LP – Longo Prazo CDGP – Capital de Giro Próprio A variável NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro, obtida da reclassificação das contas do Ativo Circulante e do Passivo Circulante, expressa, quando positiva, a necessidade de recursos que a empresa apresenta para manter o giro dos negócios, e quando negativa, a fonte de recursos propiciada pelo giro. A variável T – Tesouraria, também obtida da reclassificação das contas do Ativo e Passivo Circulantes, indica a folga financeira da empresa (quando positiva) ou, quando negativa, a utilização de recursos de terceiros de curto prazo para financiar as atividades. A variável LP – Longo Prazo, obtida pela diferença dos saldos das contas do Realizável a Longo Prazo e do Exigível a Longo Prazo, expressa fontes de recursos de longo prazo financiando as atividades da empresa (quando positiva) ou aplicações de recursos de longo prazo (quando negativa). A variável CDGP – Capital de Giro Próprio, obtida pela diferença das contas do Patrimônio Líquido e do Ativo Não Circulante, indica o montante de recursos próprios disponíveis para financiar outras atividades que não as aplicações em ativos fixos (quando positiva) ou a indisponibilidade de recursos próprios para financiar as imobilizações (quando negativa). 4.1 CDG – CAPITAL DE GIRO X NLCDG – NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO O primeiro passo para a análise das quatro variáveis empresariais é a comparação entre o valor da NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro com o valor do CDGP - Capital de Giro Próprio. 18 Após a comparação entre a NLCDG e o CDGP, os passos seguintes, ainda na analise das quatro variáveis empresariais, são: - avaliar a magnitude do “buraco” ou da folga financeira (distância entre as variáveis NLCDG e CDGP); - examinar a forma de cobertura/aplicação da defasagem; - identificar as tendências das duas variáveis. 4.1 O “EFEITO TESOURA” A tendência das variáveis empresariais NLCDG e CDGP aponta para uma análise prospectiva da situação econômico-financeira da empresa. No caso de o valor da NLCDG apresentar-se maior do que o valor do CDGP esta defasagem (ou este “buraco” financeiro) aumentar em períodos subseqüentes, temos uma clara tendência ao desequilíbrio econômico- financeiro. Esta conclusão poderá ser atenuada pela presença de recursos líquidos de longo prazo (variável empresarial Longo Prazo de valor positivo) cobrindo a defasagem. No Brasil, o financiamento de longo prazo constitui-se em alternativa escassa e localizada. Linhas de créditos do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, destinadas a cobertura de investimentos no Ativo Não Circulante, debêntures e operações com recursos externos – de longo prazo – representam parcelas pouco expressivas do passivo das empresas, em particular para a grande maioria das pequenas e médias. Companhias de capital aberto e grandes grupos empresariais apresentam melhores condições de participar desta forma de captação de recursos. Assim, a defasagem entre o valor da NLCDG e o CDGP, no caso da grande maioria das empresas brasileiras, e coberta com recursos de curto prazo (Tesouraria negativa). Por outro lado, em termos analíticos, o “buraco” financeiro analisado desta forma pode não ser detectado pelos indicadores financeiros tradicionais. Vejamos um exemplo. 19 A empresa DIFÍCIL LTDA. apresentou os seguintes balancetes mensais (em $ mil): ATIVO Jan. Fev. Mar. Abr. Disponibilidade Duplicatas a Receber Estoques Outras Contas Despesas Antecipadas Total do Ativo Circulante Ativo Não Circulante 200 200 200 400 80 1.080 2.500 420 1.000 450 280 100 2.250 2.500 500 1.320 530 400 100 2.850 3.000 500 1.900 650 100 100 3.250 3.000 Total do Ativo 3.580 4.750 5.850 6.250 PASSIVO Fornecedores Obrigações Fiscais Obrigações Trabalhistas Empréstimos Outras Contas Total do Passivo Circulante Patrimônio Líquido 300 100 150 170 --- 720 2.860 400 100 150 800 50 1.500 3.250 450 110 150 1.150 40 1.900 3.950 600 120 150 1.238 60 2.168 4.082 Total do Passivo 3.580 4.750 5.850 6.250 Os indicadores de liquidez para os quatro meses apresentaram os seguintes resultados: INDICADOR Jan. Fev. Mar. Abr. Liquidez Corrente Liquidez Seca Liquidez Imediata 1,5 1,2 0,28 1,5 1,2 0,28 1,5 1,2 0,28 1,5 1,2 0,23 Como pode ser observado, os indicadores de liquidez apresentam os mesmos valores durante os quatro meses. Quanto às variáveis empresariais da empresa Difícil (em $ mil): 20 VARIÁVEIS Jan. Fev. Mar. Abr. NLCDG T CDGP T/NLCDG (70) 430 360 -- 900 (150) 750 17% 1.240 (290) 950 23% 1.780 (698) 1.082 39% A análise das variáveis revela situação diferente daquela evidenciada pelos indicadores: mês a mês a empresa vem aumentando a utilização de capitais de terceiros de curto prazo (empréstimos) para cobrir as necessidades de capital de giro. A Tesouraria negativa passou de 17% para 39% do valor da NLCDG. Michel Fleuriet, em seu livro A dinâmica financeira das empresas brasileiras (1978), denominou esta tendência de Efeito Tesoura. Assim, a situação econômico-financeira de uma empresa, caminhando para o desequilíbrio econômico financeiro, aumentando, portanto, a defasagem entre o valor da NLCDG do CDGP, e cobrindo este “buraco” financeiro com recursos de curto prazo (Tesouraria negativa), estaria sob o Efeito Tesoura. Graficamente, a situação pode ser assim visualizada: $ mil Meses J F M A O exame das causas da evolução da NLCDG – Necessidade Líquida de Capital de Giro e do CDGP – Capital de Giro Próprio levará às conclusões sobre os motivos que estão colocando a empresa sob o Efeito Tesoura. CDGP NLCDG Escala: 1/$ 450 mil T + T EFEITO TESOURA 21 EXERCÍCIO: Fazer a análise dinâmica do capital de giro para a Empresa Modelo S/A. Relatório 1 Empresa: Modelo S.A BALANÇO PATRIMONIAL – BP ATIVO PERÍODO 1 PERÍODO 2 PERÍODO 3 PERÍODO 4 PERÍODO 5 CAIXA 0 0 0 43.948 0 APLICAÇÃO 0 0 0 0 0 CLIENTES 1.875.585 1.189.312 2.303.560 2.964.342 2.991.964 ESTOQUE PRODUTO ACABADO0 608.520 0 0 173.547 ESTOQUE MATÉRIA-PRIMA A 612.000 893.037 931.454 1.017.430 1.549.238 ESTOQUE MATÉRIA-PRIMA B 832.158 1.225.397 1.281.187 1.399.001 2.131.473 MÁQUINAS 2.360.000 3.035.900 3.035.900 3.035.900 5.120.584 (-) DEPRECIAÇÃO ACUMULADA 811.500 375.500 451.397 527.295 118.192 TERRENOS 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 PRÉDIOS E INSTALAÇÕES 5.440.000 5.440.000 5.440.000 5.440.000 5.440.000 (-) DEPRECIAÇÃO ACUMULADA 2.301.900 2.356.300 2.410.700 2.465.100 2.519.500 TOTAL DO ATIVO 9.206.343 10.860.368 11.330.005 12.108.227 15.969.115 PASSIVO PERÍODO 1 PERÍODO 2 PERÍODO 3 PERÍODO 4 PERÍODO 5 FORNECEDORES 722.079 1.059.217 1.472.515 2.347.212 3.259.284 CONTAS A PAGAR 0 0 0 0 0 IMPOSTO DE RENDA A PAGAR 14.770 23.807 104.717 62.370 76.596 PARTICIPAÇÕES A PAGAR 0 0 29.669 17.671 21.702 DIVIDENDOS A PAGAR 20.924 33.727 140.931 83.940 103.085 EMPRÉSTIMOS CURTO PRAZO 1.385.795 1.634.119 486.960 750.139 1.188.126 EMPRÉSTIMOS LONGO PRAZO 2.000.000 2.945.540 3.508.458 3.008.319 5.172.490 PATRIMÔNIO LÍQUIDO CAPITAL SOCIAL 5.000.000 5.000.000 5.000.000 5.000.000 5.838.573 LUCROS ACUMULADOS / ANO 62.774 163.956 586.751 838.572 309.256 TOTAL DO PASSIVO 9.206.343 10.860.368 11.330.005 12.108.227 15.969.115 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO - DRE CONTAS PERÍODO 1 PERÍODO 2 PERÍODO 3 PERÍODO 4 PERÍODO 5 RECEITA DE VENDAS 3.451.170 3.071.024 6.409.178 5.530.125 6.394.845 ( - ) CUSTO PROD. VENDIDO – CPV 2.340.970 1.844.803 3.804.306 3.463.546 4.080.891 ( = ) LUCRO BRUTO 1.110.200 1.226.220 2.604.872 2.066.579 2.313.953 ( - ) DESPESAS OPERACIONAIS: DE VENDAS 836.850 747.901 1.503.018 1.263.779 1.223.681 ADMINISTRATIVAS 114.880 114.880 114.880 119.040 119.040 FINANCEIRAS LÍQUIDAS 60.000 204.721 288.860 267.955 265.592 ( = ) LUCRO OPERACIONAL 98.469 158.717 698.113 415.804 705.640 ( ) RESULTADO NÃO OPERAC. 0 0 0 0 -195.000 ( = ) LUCRO LÍQUIDO ANTES DO IR 98.469 158.717 698.113 415.804 510.640 ( - ) PROVISÃO PARA O IR 14.770 23.807 104.717 62.370 76.596 ( = ) LUCRO LÍQUIDO APÓS IR 83.698 134.909 593.396 353.433 434.044 ( - ) PARTICIP. DOS EMPREGADOS 0 0 29.669 17.671 21.702 ( = ) LUCRO LÍQUIDO 83.698 134.909 563.726 335.762 412.342 Etapas da análise: Calcule a NLCDG, T-Tesouraria, LP-Longo Prazo, CDGP-Capital de Giro Próprio, TSF-Termômetro da Situação Financeira e Decomposição do Ciclo Financeiro. Analise cada período em separado e conjuntamente.
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