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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

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1 
 
Disciplina: Competência comunicativa 
Autor: Esp. Deise Cristina Pires 
Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima 
Ano: 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança 
de direitos autorais. 
 
 
 
2 
 
Deise Cristina Pires 
 
 
 
 
 
Competência comunicativa 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
Curitiba, PR 
Faculdade UNINA 
 
 
3 
 
Faculdade UNINA 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.r Eduardo Soncini Miranda / 
D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / 
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / 
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Designer Instrucional 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Revisão Ortográfica 
Lucimara Ota Eshima 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
PIRES, Deise Cristina. 
Competência comunicativa / Deise Cristina Pires. – Curitiba: Faculdade UNINA, 
2020. 
74 p. [adaptado 76 p.] 
ISBN: 978-65-87972-54-1 
1. Contexto. 2. Fala. 3. Sociolinguística. 
Material didático da disciplina de Competência comunicativa – Faculdade UNINA, 
2020. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade UNINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ..................................................................................................... 07 
Aula 1 – Contextualização histórica e a língua como fenômeno 
sociocultural ............................................................................................... 
 
08 
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08 
 1.1 A construção conceitual de Competência Comunicativa ............... 08 
 1.1.1 A língua como fenômeno sociocultural ...................................... 14 
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 19 
Aula 2 – Sociolinguística ............................................................................ 21 
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 21 
 2.1 Sociolinguística ............................................................................. 22 
 2.1.1 Sociolinguística: identidade social ............................................. 31 
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 34 
Aula 3 – Situação de comunicação e competência comunicativa: 
linguagem ação e cooperação; organização da fala em interação; e a 
construção situada dos sentidos ............................................................... 
 
 
 35 
Apresentação da aula 3 ............................................................................ 35 
 3.1 Situação de comunicação e competência comunicativa: 
linguagem ação e cooperação ................................................................... 
 
36 
 3.1.1 A organização da fala em interação: a construção situada dos 
sentidos ..................................................................................................... 
 
 42 
 3.2 A construção situada dos sentidos ............................................... 45 
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 50 
Aula 4 – Evolução, constituintes, construção e uso(s) da competência 
comunicativa em contextos de ensino-aprendizagem da língua; 
fundamentação linguística do ensino da língua com ênfase no 
desenvolvimento da competência comunicativa do estudante ................... 
 
 
 
 52 
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 52 
 4.1 O desenvolvimento da competência comunicativa do estudante . 53 
 4.2 Evolução, constituintes, construção e uso(s) da competência 
comunicativa em contextos de ensino-aprendizagem da língua ............... 
 
55 
 4.2.1 Fundamentação linguística do ensino da língua com ênfase no 
desenvolvimento da competência comunicativa do estudante ................... 
 
60 
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 68 
 
 
6 
 
Conclusão da disciplina ............................................................................. 71 
Índice Remissivo ........................................................................................ 73 
Referências ............................................................................................... 74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Prefácio 
 
 Nesta disciplina, de Competência Comunicativa, iremos explorar com 
mais profundidade os territórios das competências e habilidades 
comunicacionais e suas vertentes. Como estes conceitos teóricos funcionam nas 
práticas diárias e, de que maneira, eles podem ser extremamente úteis na 
construção e na aplicabilidade das especificidades do conhecimento, agregando 
qualidade e valor a tudo o que você realiza em seu campo de ação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Aula 1 - Contextualização histórica e a língua como fenômeno sociocultural 
 
Apresentação da aula 1 
 
Nesta aula serão abordadas a contextualização histórica e a língua como 
fenômeno cultural. A intenção é propor a percepção da estrutura das teorias 
oferecidas em outras décadas, que se ancoram na linguística e sociolinguística, 
fazendo um paralelo com o que está sendo oferecido atualmente nos parâmetros 
educacionais, com relação à competência comunicativa. 
 
➢ O trajeto do conceito de Competência Comunicativa 
 
E como pode ser descrito este trajeto conceitual da Competência 
Comunicativa? Quais caminhos percorreu e quais pegadas deixou? Justamente 
estas trilhas marcadas pela construção conceitual da Competência 
Comunicativa serão, de certa forma, ressaltadas nesta disciplina, para que seja 
possível perceber a importância e a relevância que esta concepção adquiriu ao 
se consolidar ao longo do tempo. 
 
1.1 A construção conceitual de Competência Comunicativa 
 
Há mais de cinco décadas o conceito de CompetênciaComunicativa que 
é discutido com veemência pelos pesquisadores da linguística, assim como, de 
áreas paralelas. O conceito difundido pelas pesquisas do linguista norte 
americano Dell Hymes não foi desenvolvido propriamente para ser aplicado à 
linguística, mas acabou contribuindo sensivelmente nos estudos científicos para 
a área da linguística aplicada como um todo. O interesse no aprofundamento 
desta noção conceitual se justifica pela importância que a comunicação exerce 
sobre as atividades humanas, realizando ação direta no desempenho e nas 
habilidades individuais e coletivas na sociedade contemporânea. 
 
O conceito de competência comunicativa vem sendo discutido desde 
quando surgiu com Hymes (1971), no seu texto de ampla circulação 
On Communicative Competence no qual discorda da dicotomia 
apresentada por Chomsky (1973) entre competência e desempenho e 
critica as teorias linguísticas “irrelevantes”(segundo ele) que, até então, 
 
 
9 
 
contemplavam um falante ideal sem considerar o contexto social em 
que os comunicantes estivessem envolvidos. A Competência 
Comunicativa é um termo mais complexo e sugere uma dinâmica que 
abrange bem mais do que o simples conhecimento de regras 
gramaticais e sua pretensa aplicação. Hymes (op.cit.) mostra a 
importância do contexto para que se desenvolva a CC a partir da 
interação entre os comunicantes, argumentando que não há aquisição 
de língua fora do contexto social (nossa ênfase). É o uso que busca a 
propriedade na linguagem em diversos contextos de comunicação que 
vai contribuir para o desenvolvimento dessa crucial competência. 
(FRANCO; ALMEIDA FILHO, 2009, p. 5, 6). 
 
O linguista, filósofo e sociolinguista Dell Hymes se contrapôs às ideias do 
também linguista e estudioso de outras áreas Noam Chomsky, que se centrava 
na ideia do aprofundamento das regras estruturais da língua, enquanto Hymes 
vem ampliar este olhar, apontando para outras importantes vertentes que 
influenciariam diretamente o falante durante a comunicação. 
 
Após palestra proferida por Noam Chomsky na Conferência do 
Nordeste sobre Ensino de Línguas Estrangeiras em 1966, na qual o 
gerativista questionou os postulados tanto da linguística quanto da 
psicologia adotados como premissas na aquisição de linguagem 
segundo os proponentes e defensores do método audiolingual 
(CHOMSKY, 1973), a comunidade acadêmica de linguistas aplicados, 
autores de livros didáticos e professores de língua estrangeira (LE) 
encontraram no construto de competência comunicativa de Dell Hymes 
um caminho que indicava uma nova possibilidade teórica. Hymes 
ampliou o conceito de competência proposto por Chomsky em Aspects 
of the Theory of Sintax, postulando que uma teoria linguística deveria 
contemplar, além do formalmente (sistemicamente) possível, também 
o viável, o apropriado e o que é efetivamente realizado pelo falante 
(HYMES, 1972). A chamada Abordagem Comunicativa (AC) apropriou-
se do termo utilizado por Dell Hymes e desde a década de 1970 vem, 
de certa forma, traçando as balizas para o ensino de língua estrangeira. 
Um dos pilares da AC tornou-se a contextualização da linguagem – em 
uma tentativa de criar no ambiente de sala de aula condições para o 
‘uso real’ da língua estrangeira. (ALMEIDA, 2011, p. 4378) 
 
O conceito defendido por Hymes mostra a Competência Comunicativa 
como algo que vai muito além de se utilizar as mais complexas regras 
gramaticais, ela exige a compreensão do contexto sociocultural e o 
entendimento de como as regras de convivência se aplicam em cada ambiente, 
ou seja, é uma tessitura de determinações que podem ser descritas teoricamente 
e outras que devem ser vivenciadas sócio e culturalmente pelo empirismo ou, 
ainda, pelas experiências in loco, agregando mais conhecimento por meio das 
experimentações. 
Em seu seminal On Communicative Competence (1972), Dell 
Hymes apresentou argumentos para defender que o conceito de 
 
 
10 
 
‘competência’ de Chomsky (o falente ideal em uma comunidade de 
língua homogênea) é, de certo modo, incompleto. Para Hymes, 
mais do que adquirir as regras formais da língua, os falantes nativos 
também adquirem outras regras (sociolinguísticas) que podem 
igualmente ser analisadas e descritas. Embora Hymes não se 
referisse a aprendizagem de segunda língua, seu artigo influenciou 
outros que apresentaram novas abordagens para o ensino de 
segunda língua em uma época na qual o método áudio-lingual já 
dava mostras claras de enfraquecimento (ALMEIDA 2010, p.1). 
 
 Para uma melhor compreensão dessa integralidade entre a fala e as 
vivências assimiladas individualmente como também as experiências coletivas, 
Hymes propõe uma teoria que acolhe tanto a linguística quanto os aspectos da 
cultura e da comunicação e estabelece quatro pilares para a estrutura desta 
proposição: 
 
O conceito de competência proposto por Dell Hymes, portanto, 
transcende o limite do estrutural formal. O autor explicita sua posição 
afirmando que “há vários setores de competência, um dos quais é o 
gramatical” (HYMES, 1972, p. 281). Assim sendo, a proposta do autor 
é de uma teoria linguística que seja integrada com uma teoria de 
comunicação e cultura, e que, portanto, deve abranger (1) o que é 
formalmente possível, (2) o que é viável, considerando os modos de 
implementação disponíveis, (3) o que é contextualmente apropriado, e 
(4) o que é de fato realizado pelos membros da comunidade. Em efeito, 
uma determinada estrutura pode ser formalmente possível (segundo 
as regras gramaticais de uma dada língua), viável, apropriada 
(contextualmente adequada), mas mesmo assim jamais realmente 
utilizada pelo falante, o que tornaria tal estrutura um exemplo abstrato 
de uma enunciação que concretamente jamais existiria, e portanto 
irrelevante para a discussão a respeito de competência comunicativa( 
ainda que seja de interesse para outras áreas de estudos linguísticos). 
Ressalta Hymes, entretanto, que os quatro níveis propostos não devem 
ser vistos como independentes um do outro, mas como esferas que se 
entrelaçam. (ALMEIDA, 2010, p. 48). 
 
Para Refletir 
“O termo “competência comunicativa” foi criado por 
sociolinguistas para demonstrar que o uso de formas 
linguísticas não convencionais pode ser apropriado para 
situações específicas em que os participantes se encontrem, 
e para os objetivos negociados por intermédio de seu 
discurso. O conceito foi também adotado e elaborado pelo 
setor do ensino de línguas estrangeiras, em que ele se tornou 
um dos conceitos-chave da chamada “abordagem 
comunicativa” no ensino de línguas. Esta abordagem prioriza 
o desenvolvimento da competência comunicativa, 
particularmente o conhecimento de como alcançar objetivos 
por meio do uso da língua, ao invés da produção de 
 
 
11 
 
estruturas linguísticas formalmente corretas.” John Corbett, 
Professor de Inglês, da Universidade de Macau. 
https://centerforinterculturaldialogue.files.wordpress.com/2016/09/
kc9-communicative-competence_portuguese.pdf Acesso em 
JUL/2020. 
 
Esta proposta apresentada por Dell Hymes surge em oposição às teorias 
de Noam Chomsky, na qual a competência comunicativa teria como base a 
estrutura formal da língua, sem levar em consideração, até então, o contexto 
sociocultural, como afirmava Hymes. 
 
Para Chomsky, é tarefa do linguista descrever a competência do 
falante. Ele define competência como capacidade inata que o indivíduo 
tem de produzir, compreender e de reconhecer a estrutura de todas as 
frases de sua língua. Ele defende que língua é conjunto de infinito de 
frases e que se define não só pelas frases existentes, mas também 
pelas possíveis, aquelas que se podem criar a partir da interiorização 
das regras da língua, tornando os falantes aptos a produzir frases que 
até mesmo nunca foram ouvidas por ele. Já o desempenho 
(performance ou uso), é determinado pelo contexto onde o falante está 
inserido. (SANTOS, 2006, s/p). 
 
Chomsky demonstra seu domínio e aprofundamentode pesquisa na 
linguística, mas não associa outras vertentes que somadas ao contexto geral, 
podem mudar a interpretação da mensagem emitida e a própria competência 
comunicativa. Existe uma dicotomia entre o “falante real e o falante ideal”, o que 
é questionado arduamente por Hymes e o que se comprova ao longo do tempo. 
 
O termo gramática é usado de forma dupla: é o sistema de regras 
possuídos pelo falante e, ao mesmo tempo, é o artefato que o lingüista 
constrói para caracterizar esse sistema, A gramática é, ao mesmo 
tempo, um modelo psicológico da atividade do falante e uma “máquina” 
de produzir frases. 
A teoria chomskiana conduz ao universalismo, segundo Orlandi, pois o 
que está em questão é o “falante ideal”, e não locutores reais do uso 
concreto da linguagem. A capacidade para desenvolver a linguagem é 
uma habilidade inata do ser humano: já nascemos com ela. E como a 
espécie humana é caracterizada pela racionalidade, a questão 
fundamental para essa linha de estudo é a relação entre linguagem e 
pensamento. Seus estudos se centralizam no percurso psíquico da 
linguagem como e, em conseqüência disso, no domínio da razão. 
Desta forma, a reflexão de Chomsky acaba por trazer para a 
Lingüística toda uma contribuição de estudos nas áreas da Lógica e da 
Matemática e, por outro lado, apresenta uma nova abordagem até 
então inexplorada: estudos sobre os fundamentos biológicos da 
linguagem (característica da espécie humana) (SANTOS, 2006, s/p.). 
 
 
12 
 
Virgílio Pereira de Almeida, professor da Universidade de Brasília, 
discorre em vários textos sobre essa tessitura das diferenças entre as teorias 
de Chomsky e Hymes, ele explica de maneira clara o conceito de competên- 
cia proposto por Del Hymes: 
 
O conceito de competência proposto por Dell Hymes, portanto, 
transcende o limite do estrutural formal. O autor explicita sua posição 
afirmando que “há vários setores de competência, um dos quais é o 
gramatical” (HYMES, 1972, p. 281). Assim sendo, a proposta do autor 
é de uma teoria linguística que seja integrada com uma teoria de 
comunicação e cultura, e que, portanto, deve abranger (1) o que é 
formalmente possível, (2) o que é viável, considerando os modos de 
implementação disponíveis, (3) o que é contextualmente apropriado, e 
(4) o que é de fato realizado pelos membros da comunidade. Em efeito, 
uma determinada estrutura pode ser formalmente possível (segundo 
as regras gramaticais de uma dada língua), viável, apropriada 
(contextualmente adequada), mas mesmo assim jamais realmente 
utilizada pelo falante, o que tornaria tal estrutura um exemplo abstrato 
de uma enunciação que concretamente jamais existiria, e portanto 
irrelevante para a discussão a respeito de competência comunicativa 
(ainda que seja de interesse para outras áreas de estudos linguísticos). 
Ressalta Hymes, entretanto, que os quatro níveis propostos não devem 
ser vistos como independentes um do outro, mas como esferas que se 
entrelaçam. (ALMEIDA, 2010. P 48). 
 
Saiba Mais 
O que é Competência Comunicativa, segundo John Corbett, 
Professor de Inglês da Universidade de Macau? “é o conhecimento 
necessário para interação usando uma linguagem que é não 
apenas correta em sua forma, como também apropriada para a 
situação, por exemplo, no nível de formalidade, cortesia ou 
franqueza. O que distingue competência comunicativa de 
competência linguística é o fato de a primeira focar o 
conhecimento de como a língua é usada para negociar 
relacionamentos pessoais e alcançar objetivos estratégicos, ao 
passo que a competência linguística se refere apenas à produção 
de expressões orais formalmente corretas.” 
Disponível em: 
https://centerforinterculturaldialogue.files.wordpress.com/2016/09/
kc9-communicative-competence_portuguese.pdf Acesso em 
JUL/2020. 
 
Posteriormente, Canale e Swain (1980) partem da ideia estabelecida por 
Hymes, trazendo à tona a importância do contexto sociocultural e das relações 
interpessoais diretamente no processo da competência. Os pesquisadores 
afirmaram que: 
 
 
13 
 
 
[...] entendiam comunicação como algo baseado em interações 
socioculturais e interpessoais imprevisíveis e criativas que 
acontecem em contextos socioculturais. Propuseram então um 
arcabouço teórico do que seja uma CC voltada para a abordagem 
comunicativa de ensino de línguas. A teoria desses autores aponta 
que a CC interage com uma teoria de ação humana e com outros 
sistemas de conhecimento humano. Essa teoria se refere tanto ao 
conhecimento como à habilidade, ambos utilizados numa 
comunicação real. Esse arcabouço de Canale e Swain também foi 
criado objetivando ser usado para o ensino de línguas e para 
avaliação de rendimento e proficiência nesse idioma. Para eles a 
estrutura teórica de CC teria implicações para as principais áreas 
do ensino de línguas: programas de curso, métodos de ensino, 
treinamento (formação) de professores e desenvolvimento de 
materiais de ensino. A partir dessa premissa o termo CC foi 
subdividido em três componentes distinguindo as partes principais 
da competência de linguagem. 
(1) Competência Gramatical (CG):esta competência se relaciona 
com o domínio do código linguístico, quer seja ele o verbal, quer 
seja o não verbal; relaciona-se, também, ao conhecimento de 
termos lexicais e regras de morfologia e sintaxe. Segundo 
Canale e Swain (1980), essa competência seria importante 
para qualquer tipo de abordagem comunicativa, cujos objetivos 
fossem prover os aprendizes com o conhecimento de como se 
determina e se expressa com precisão o sentido literal do 
enunciados. 
(2) Competência Sociolinguística (CS): envolve as 
regras socioculturais de uso e regras de discurso. Segundo os 
autores, conhecimentos das regras socioculturais adquiridas 
para compor esta competência seriam cruciais para interpretar 
declarações de significado social. Essa competência equivale 
a uma adequação do enunciado à forma. 
(3) Competência Estratégica (CE): relaciona-se às estratégias de 
comunicação verbal e não verbal que compensam a 
competência insuficiente e contribuem para tornar a 
comunicação mais eficaz. É uma compensação das falhas da 
comunicação devidas a uma falha na comunicação real. 
(4) Em 1983, Canale expande o conceito de CC com o 
acréscimo de mais um componente – a Competência Discursiva 
– que segundo ele, refere-se à capacidade de combinar formas 
gramaticais para formar um texto coerente e coeso. (FRANCO; 
ALMEIDA FILHO, 2009, p. 7, 8). 
 
Já, Lyle Bachman (1990) desenvolveu uma estrutura teórica chamada de 
habilidade de linguagem comunicativa ou “competência de linguagem”, 
que, em resumo, de maneira simples, seria a facilidade de se comunicar de 
maneira adequada em ambiente específico. 
 
A partir da percepção de que a competência abarca conhecimentos 
específicos que são usados na comunicação, o autor dividiu a CC em 
competência organizacional, subdividida, por sua vez, em competência 
gramatical e competência textual; e competência pragmática, 
subdividida em competência ilocucionária e sociolinguística. A 
competência gramatical é semelhante a competência linguística de 
 
 
14 
 
Canale e Swain (1980) e a competência textual semelhante à 
discursiva de Canale (1983). 
A competência ilocucionária, segundo o autor (op. cit.), nos possibilita 
usar a língua para expressar e entender várias funções de linguagem. 
A competência sociolinguística, por sua vez, nos habilita a usar a língua 
apropriadamente de acordo com o contexto. (FRANCO; ALMEIDA 
FILHO, 2009, p. 9 e 10). 
 
 Segundo os autores Franco e Almeida Filho, uma versão repaginada do 
modelo de Competência Comunicativa foi proposta em 2008, pela pesquisadora 
estadunidense da área da linguística Celse Murcia, sendo especificamente 
designada ao ensino de línguas. 
 
Esse novo modelo ficou dividido nas Competências Linguísticas, 
Sociocultural, Discursiva, Formulaica e acrescentou a Interacional na 
qual incorporou a anteriormente denominada CompetênciaAcional. Da 
mesma forma que em seu modelo anterior (o de 1995), a Competência 
Discursiva segue situada no papel central do construto Competência 
Comunicativa. Esse termo, segundo a autora estadunidense, se refere 
à “seleção, sequenciamento e organização de palavras para se chegar 
a um enunciado completo”. No seu texto também é destacada a 
importância de se desenvolver o conhecimento sociocultural porque 
professores de língua, muitas vezes, têm mais conhecimento ou dão 
mais atenção às regras linguísticas do que aos comportamentos 
sociais e expectativas que acompanham o uso da língua-alvo. 
(FRANCO; ALMEIDA FILHO, 2009, p. 10 e 11). 
 
 
Ví deo 
Inteligências, Competências e Habilidades - Celso Antunes 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V0oqZBkMavQ 
 
1.1.1 A língua como fenômeno sociocultural 
 
Antes de abordar diretamente sobre a importância da língua no contexto 
sociocultural, é imprescindível tratar sobre o que é cultura, nos moldes 
conceituais do termo. 
É pertinente utilizar a conceituação do antropólogo brasileiro Roque de 
Barros Laraia, que discorre sobre cultura de forma clara, ressaltando o homem 
como resultado do meio cultural da sociedade na qual habita. 
 
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é 
um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o 
 
 
15 
 
conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações 
que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse 
patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. (LARAIA, 
1986, p 45.) 
 
Laraia traz em seu livro Cultura um conceito antropológico exemplos 
práticos e de simples compreensão sobre as diferenças culturais ao redor do 
mundo. Roque Laraia (1986) enfatiza ainda a dubiedade quando se discute a 
respeito de cultura, sendo a conciliação da unidade biológica e a grande 
diversidade cultural da espécie humana, ressaltando que uma característica não 
é predominante sobre a outra. A partir destas comparações elaboradas pelo 
autor, o entendimento do conceito proposto fica mais acessível. 
 
Basta comparar os costumes de nossos contemporâneos que vivem 
no chamado mundo civilizado. Esta comparação pode começar pelo 
sentido do trânsito na Inglaterra, que segue a mão esquerda; pelos 
hábitos culinários franceses, onde rãs e escargots (capazes de causar 
repulsa a muitos povos) são considerados como iguarias, até outros 
usos e costumes que chamam mais a atenção para as diferenças 
culturais. No Japão, por exemplo, era costume que o devedor 
insolvente praticasse o suicídio na véspera do ano-novo, como uma 
maneira de limpar o seu nome e o de sua família. O haraquiri (suicídio 
ritual) sempre foi considerado como uma forma de heroísmo. Tal 
costume justificou o aparecimento dos " pilotos suicidas" durante a 
Segunda Guerra Mundial. Entre os ciganos da Califórnia, a obesidade 
ê considerada como um indicador da virilidade, mas também é utilizada 
para conseguir benefícios junto aos programas governamentais de 
bem-estar social, que a consideram como uma deficiência física. A 
carne da vaca é proibida aos hindus, da mesma forma que a de porco 
é interditada aos muçulmanos. O nudismo ê uma prática tolerada em 
certas praias europeias, enquanto nos países islâmicos, de orientação 
xiita, as mulheres mal podem mostrar o rosto em público. Nesses 
mesmos países, o adultério é uma contravenção grave que pode ser 
punida com a morte ou longos anos de prisão. (LARAIA, 1986, p 16.) 
 
Já para o antropólogo interpretativista Clifford Geertz (1989), a cultura é 
uma teia de significados tecida pelo homem. Ele também alega que toda 
produção humana, se tem um significado, é cultura; dificilmente algo produzido 
pelo homem não terá algum significado atribuído. Ele explica também que o ato 
de observar é um ato antropológico, quando se pretende entender o que os 
indivíduos fazem e o motivo que os levam a fazer e a agir de determinadas 
maneiras. 
Quando vista como um conjunto de mecanismos simbólicos para 
controle do comportamento, fontes de informação extra-somáticas, a 
cultura fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente 
capazes de se tornar e o que eles realmente se tornam, um por um. 
Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos 
 
 
16 
 
individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de 
significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, 
ordem, objetivo e direção às nossas vidas. Os padrões culturais 
envolvidos não são gerais, mas específicos – não apenas o 
“casamento”, mas um conjunto particular de noções sobre como são 
os homens e as mulheres, como os esposos devem tratar uns aos 
outros, ou quem deve casar-se com quem; não apenas “religião” mas 
crença na roda do karma, a observância de um mês de jejum ou a 
prática do sacrifício do gado. O homem não pode ser definido nem 
apenas por suas habilidades inatas como fazia o iluminismo, nem 
apenas por seu comportamento real, como o faz grande parte da 
ciência social contemporânea, mas sim pelo elo entre eles, pela forma 
em que o primeiro é transformado no segundo, suas potencialidades 
genéricas focalizadas em suas atuações específicas. (GEERTZ, 1989, 
p.64) 
 
A cultura se mostra desde o simples ato de se observar uma refeição. Se 
a comida é fria ou quente; a predominância de carnes ou leguminosos; a 
utilização de talheres, hachis (palitos utilizados na culinária oriental) ou se as 
pessoas comem com as mãos, todos estes são indícios culturais. O mesmo 
pode ser observado na forma das pessoas se vestirem, tanto no dia a dia quanto 
em ocasiões especiais. Para a antropóloga Ruth Benedict (2000), a cultura é 
uma lente por meio da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes 
usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. Este 
olhar sensível e único é o que diferencia cada ser humano dentro dos grupos 
sociais aos quais pertencem. Existe uma individualidade criativa que acaba 
atuando e influenciando os grupos como um todo, neste momento percebe-se a 
questão cultural sendo aflorada e acessada constantemente tanto no individual 
quanto no coletivo. 
Agora, a partir da conceituação do que é cultura e como ela se mostra em 
alguns, dos muitos olhares, podemos afirmar que é inegável a percepção da 
relação de imbricamento entre língua e sociedade, sendo imprescindível o 
estudo de ambos quando se pretende, de alguma forma, diluir o conceito para 
entender o fenômeno linguístico, que compõe o fenômeno sociocultural. 
 
Em uma perspectiva sociocultural, o sentido não reside na língua em 
si, mas em seu uso social, de modo que o desenvolvimento cognitivo 
é caracterizado como a manipulação de instrumentos materiais e 
imateriais, dos quais o mais poderoso é a linguagem. À língua é dado 
caráter dinâmico, pois é concebida como sistema de signos 
mediadores do pensamento e do desenvolvimento cognitivo, 
considerada não apenas em seus aspectos intrinsecamente 
linguísticos, mas também discursivos e pragmáticos, na direção da 
formação de conceitos e resolução de problemas, de modo que a 
 
 
17 
 
cultura, os contextos locais e a história são levados em conta como 
seus componentes (LANTOLF & APPEL, 1994, 
Apud, GOMES, 2016, p. 762). 
 
Ví deo 
Viver Ciência - Língua, Cultura e Sociedade 
https://www.youtube.com/watch?v=rtHs4iEy3ZA 
Língua, Cultura e Sociedade / Convidados: Joana Plaza Pinto 
(doutora em Linguística e prof. FL/UFG) e Sebastião Elias Milani 
(doutor em semiótica e e linguística geral e prof. FL/UFG) 
 
 
É pertinente entender a complexidade do conceito de fenômeno social, 
para então se fazer as associações necessárias para a compreensão contextual, 
quando se incorpora o fenômeno social à cultura, pois os dois caminham juntos, 
expressando a conexão existente entre língua, cultura e fenômenos sociais. 
 
Os fenómenos sociais são o objeto das Ciências Sociais. Estas 
estudam os fenómenos ligados à vida dos homensem sociedade. 
Designamos por fenómeno um determinado tipo de factos com 
características comuns e semelhantes. O conceito de "fenómeno social 
total" implica que aquilo que o caracteriza é uma multiplicidade de 
aspetos que com ele se relacionam. "Marcel Mauss, ao falar de 
fenómeno social total, referia-se ao facto [...] de que as experiências 
dos atores sociais não são redutíveis a uma única dimensão do real, 
as suas implicações distribuem-se pelos diferentes níveis do real [...]" 
(1987, Marques - In MESQUITELA LIMA. Introdução à Sociologia. 
Lisboa: Presença). Este conceito define o real social como 
pluridimensional, mas único. Deste modo, numa abordagem 
sociológica, devemos ter em conta a pluridimensionalidade dos 
fenómenos sociais que se caracterizam como totais. Quando, por 
exemplo, nos referimos às causas várias do suicídio, estamos a falar 
do fenómeno do suicídio em geral e não num facto isolado. 
Segundo Sedas Nunes, "o campo da realidade sobre o qual as 
Ciências Sociais se debruçam é, de facto, um só (o da realidade 
humana e social) e todos os fenómenos desse campo 
são fenómenos sociais totais, quer dizer: fenómenos que [...] têm 
implicações simultaneamente em vários níveis e em diferentes 
dimensões do real social, sendo portanto suscetíveis, pelo menos 
potencialmente, de interessar a várias, quando não a todas as Ciências 
Sociais" (1987, Nunes - Questões preliminares sobre as Ciências 
Sociais. Lisboa: Presença) (INFOPEDIA, 2003, s/p). 
 
 A partir dos conceitos discutidos sobre cultura e fenômeno social, é 
possível, então, se entender a importância da língua no contexto social, por ela 
estar à disposição das pessoas na composição de um sistema, ou seja, a língua 
 
 
18 
 
é utilizada na estrutura de uma sociedade, para que se estabeleça a 
comunicação e, com ela, logicamente, as relações sociais. 
 Esse fenômeno social é também um fenômeno sociocultural, que se 
estabelece no ensino-aprendizado de uma língua, tanto no caso da língua mãe 
quanto no caso de outra língua, pois não se ensinam apenas regras gramaticais, 
mas sim, um conjunto de conhecimentos são repassados aos aprendizes, que 
podem se sentir estimulados a pesquisar sobre a cultura do país de origem da 
língua em aprendizagem. 
 
Ao ensinarmos uma língua, ensinamos muito mais do que sistemas de 
signos e como eles se relacionam para produzir sentidos. Estudamos 
seus efeitos na sociedade, suas implicações para o desenvolvimento 
humano e a aprendizagem, suas consequências e possibilidades nas 
práticas sociais. A perspectiva sociocultural é pioneira em não 
desvincular linguagem, cognição e a interação entre o que é interno e 
externo ao sujeito na aprendizagem, que alavanca o desenvolvimento 
que, por sua vez, incentiva novamente a aprendizagem, em um 
processo circular que se impulsiona mutuamente. A adoção de tal 
perspectiva teórica visa incentivar o encontro consigo mesmo e com o 
outro (GARCEZ 2008, apud GOMES, 2016, p. 763). 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
 
Existe relação entre a competência comunicativa e o diálogo 
intercultural? “O conceito se encaixa apenas parcialmente no 
diálogo intercultural. Ele não se encaixa na medida em que a 
competência comunicativa presume que os participantes de uma 
dada interação devem compartilhar normas culturais sobre o uso 
apropriado da língua, por exemplo, quando usar linguagem formal 
ou informal. Por outro lado, o conceito se encaixa na medida em 
que a competência comunicativa tem como foco o uso da língua 
para alcançar objetivos estratégicos. Competência comunicativa 
intercultural é uma extensão do conceito, se refere ao 
conhecimento do que fazer quando as normas culturais do que 
seja comportamento linguístico apropriado não são 
compartilhadas, mas mesmo assim, é necessário que os objetivos 
comunicativos sejam alcançados. Tal conhecimento inclui a 
sensibilidade de considerar que diferentes estilos de interação são 
culturalmente condicionados”. John Corbett, Professor de Inglês, 
da Universidade de Macau. 
https://centerforinterculturaldialogue.files.wordpress.com/2016/09/
kc9-communicative-competence_portuguese.pdf Acesso em 
JUL/2020. 
 
 
 
 
19 
 
Conclusão da aula 1 
 
Esta primeira aula trouxe à tona construções conceituais do tema geral da 
disciplina, que é Competência Comunicativa. Para a compreensão da ideia foi 
estabelecida uma breve contextualização histórica da língua como fenômeno 
sociocultural, e proposta a reflexão a respeito do que é cultura, tendo por base 
os escritos teóricos do antropólogo brasileiro Roque de Barros Laraia. No 
decorrer da aula, foram apresentadas as teorias dos teóricos da linguística 
Hymes, Chomsky, Canale e Swain, Bachman e Celse Murcia sobre a importância 
da línguística na sociedade. 
Nesta primeira aula foi trabalhada uma rápida contextualização histórica 
sobre a conceituação de Competência Comunicativa (CC), assim como foi 
discorrido sobre a importância da língua como fenômeno sociocultural. O 
conceito difundido pelas pesquisas do linguista norte americano Dell Hymes não 
foi desenvolvido propriamente para ser aplicado à linguística, mas acabou 
contribuindo sensivelmente nos estudos científicos para a área da linguística 
aplicada como um todo. 
O conceito defendido por Hymes define a Competência Comunicativa como 
algo que vai muito além de se utilizar as mais complexas regras gramaticais, ela 
exige a compreensão do contexto sociocultural, o entendimento de como as 
regras de convivência se aplicam em cada ambiente. Para a compreensão dessa 
integralidade entre a fala e as vivências assimiladas individualmente como 
também as experiências coletivas, Hymes propõe uma teoria que acolhe tanto a 
linguística quanto os aspectos da cultura e da comunicação e estabelece quatro 
pilares para a estrutura desta proposição: 
 
(1) o que é formalmente possível, (2) o que é viável, considerando os 
modos de implementação disponíveis, (3) o que é contextualmente 
apropriado, e (4) o que é de fato realizado pelos membros da 
comunidade. Em efeito, uma determinada estrutura pode ser 
formalmente possível (segundo as regras gramaticais de uma dada 
língua), viável, apropriada (contextualmente adequada), mas mesmo 
assim jamais realmente utilizada pelo falante, o que tornaria tal 
estrutura um exemplo abstrato de uma enunciação que concretamente 
jamais existiria, e portanto irrelevante para a discussão a respeito de 
competência comunicativa (ainda que seja de interesse para outras 
áreas de estudos linguísticos). Ressalta Hymes, entretanto, que os 
quatro níveis propostos não devem ser vistos como independentes um 
do outro, mas como esferas que se entrelaçam. (ALMEIDA, 2010. p 
48). 
 
 
20 
 
 
Esta proposta apresentada por Dell Hymes surge em oposição às teorias 
de Noam Chomsky, em que a competência comunicativa teria como base a 
estrutura formal da língua, sem levar em consideração, até então, o contexto 
sociocultural, como afirmava Hymes. 
Posteriormente, Canale e Swain (1980) partem da ideia estabelecida por 
Hymes, trazendo à tona a importância do contexto sociocultural e das relações 
interpessoais, diretamente no processo da competência. A partir disso, os 
pesquisadores subdividem o termo Competência Comunicativa em três partes 
principais da competência de linguagem, que são: a Competência 
Gramatical (CG); a Competência Sociolinguística (CS); e a Competência 
Estratégica (CE). 
No início da década de 1980, Canale amplia a conceituação de 
Competência Competitiva adicionando a Competência Discursiva. 
Posteriormente, Lyle Bachman (1990) desenvolveu uma estrutura teórica 
chamada de habilidade de linguagem comunicativa ou “competência de 
linguagem”, que em resumo, de maneira simples, seria a facilidade de se 
comunicar de maneira adequada em ambiente específico. 
Segundo os autores Franco e Almeida Filho, uma versão remodelada do 
modelo de Competência Comunicativa foi proposta em 2008, pela pesquisadoraestadunidense da área da linguística, Celse Murcia, sendo especificamente 
designada ao ensino de línguas. Esta versão repaginada foi dividida da seguinte 
forma: Competências Linguísticas, Sociocultural, Discursiva, Formulaica e 
acrescentou a Interacional na qual incorporou a anteriormente denominada 
Competência Acional. 
No tópico A língua como fenômeno sociocultural, primeiro foi explanado 
sobre o que é cultura, trazendo para a discussão o aporte teórico do antropólogo 
brasileiro Roque de Barros Laraia, que discorre sobre cultura de forma clara, 
ressaltando o homem como resultado do meio cultural da sociedade na qual 
habita. 
Já para o antropólogo interpretativista Clifford Geertz (1989), a cultura é 
uma teia de significados tecida pelo homem. Ele também alega que toda 
produção humana, se tem um significado, é cultura. 
 
 
21 
 
Para a antropóloga Ruth Benedict (2000), a cultura é uma lente por meio 
da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes 
diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. Este olhar sensível 
e único é o que diferencia cada ser humano dentro dos grupos sociais aos quais 
pertencem. Existe uma individualidade criativa que acaba atuando e 
influenciando os grupos como um todo, neste momento, percebe-se a questão 
cultural sendo aflorada e acessada constantemente tanto no individual quanto 
no coletivo. 
A partir dos conceitos discutidos sobre cultura e fenômeno social, foi 
possível, então, entender a importância e a pertinência da língua no contexto 
social, por ela estar à disposição das pessoas na composição de um sistema, ou 
seja, a língua é utilizada na estrutura de uma sociedade, para que se estabeleça 
a comunicação e, com ela, logicamente, as relações sociais. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Faça uma análise comparativa das três representações mais 
recentes sobre Competência Comunicativa, dos autores 
Celce-Murcia (2008), Cantero (2008) e Almeida Filho (2009). 
Tenha por base o artigo científico: O conceito de 
competência comunicativa em retrospectiva e 
perspectiva. Revista Desempenho, v. 10, n.1, jun/2009. Dos 
autores Marilda Macedo Souto Franco e José Carlos Paes de 
Almeida. 
 
 
 
Aula 2 – Sociolinguística 
 
Apresentação da aula 2 
 
Nesta segunda aula serão apresentados temas relacionados à 
sociolinguística, como noções centrais da sociolinguística, contexto, situação de 
comunicação, comunidade de fala, identidade social e competência 
comunicativa. 
 
 
22 
 
➢ Noções centrais da sociolinguística 
 
O que é a sociolinguística? Como ela influencia a linguagem propriamente 
dita? Quais são as noções centrais que atuam diretamente na sociolinguística? 
Como o contexto, a situação de comunicação e as comunidades de fala podem 
influenciar a linguagem? Como a língua tem papel crucial na identidade social 
do indivíduo e dos grupos sociais? E qual a influência da competência 
comunicativa neste complexo campo de estudo? Estes são os tópicos a serem 
discorridos nesta segunda aula. 
 
2.1 Sociolinguística: noções centrais, contexto e comunidade de fala 
 
Os mistérios que permeiam as formas de comunicação utilizadas pelos 
seres humanos desde os primórdios registros de sua existência já transpassam 
nuances das pseudo-explicações de cunho religioso até as mais ousadas 
explicações científicas. Neste embaralhado filosófico-científico surge a 
linguagem e com ela, toda uma gama de relações, que trazem a sociolinguística 
como parte deste emaranhado tão interessante de se analisar. De acordo com a 
doutora em linguística e pesquisadora Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante, 
a sociolinguística estuda a relação entre as línguas e as sociedades em que elas 
são usadas. 
 
Na perspectiva da Sociolinguística, o ser humano é por natureza 
plurilíngue (usa diversas línguas).E mesmo quando usamos nossa 
língua, esta se apresenta de diversos modos: por exemplo, em casa, 
usamos o idioma familiar; na escola, modificamos o nosso modo de 
usar a língua e interagimos com outras pessoas, colegas e 
professores, que trazem o modo de usar a língua diferentes do nosso. 
Isto acontece em qualquer língua, seja ela o português brasileiro ou a 
LIBRAS. 
As línguas então são um aglomerado de níveis de expressão, 
atestando que nenhuma comunidade é inteiramente homogênea. De 
fato, cada falante é, ao mesmo tempo, usuário e agente modificador de 
sua língua, nela imprimindo marcas geradas pelas novas situações 
com que se depara. (CAVALCANTE, s/d, p. 242). 
 
Pode-se perceber nitidamente que a língua e a linguagem atuam como 
reflexo da sociedade onde se vive e vice-versa. A língua constitui e é constituída 
pela sociedade. Vê-se o mundo por meio dela. Como este universo social está 
em constante transformação, a língua também sofre essa metamorfose. A 
 
 
23 
 
sociolinguística se debruça sobre os fatores que fazem “pressão” sobre as 
línguas, ou seja, que exercem variações linguísticas, sendo elas, as próprias 
mudanças linguísticas ou, ainda, a língua varia em decorrência de fatores que 
estão presentes na sociedade. 
 
Entre sociedade e língua não há uma relação de mera causalidade. 
Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca, e 
suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se 
reais a partir do momento em que, pela imitação ou associação, 
começamos a formular nossas mensagens. Sons, gestos e imagens 
cercam a vida do homem moderno, compondo mensagens de toda 
ordem, transmitidas pelos mais diferentes canais. Em todos, a língua 
desempenha um papel fundamental, seja ela visual, oral ou escrita. 
Desse modo, a corrente Sociolinguística, iniciada na década de 60, 
buscava desenvolver uma nova concepção do estudo da Linguística. 
A Sociolinguística ocupava uma posição central no processo de 
pesquisa: a Etnografia da Fala e a Sociologia da Linguagem, 
capitaneadas respectivamente por Dell Hymes e Joshua Fishman. 
Assim, atribui-se à Sociolinguística o estudo das relações entre língua 
e sociedade. Aqui, língua deve ser entendida como um sistema de 
vários níveis integrados num todo historicamente estruturado. A 
Sociolinguística se ocupa, do estado da possível incidência das forças 
sociais sobre os estratos fonológicos, morfológicos, sintáticos e 
semânticos das línguas. (CAVALCANTE, s/d, p. 243-244). 
 
O pesquisador e linguista americano William Labov foi um dos principais 
teóricos a discorrer sobre as variações linguísticas, sendo o fundador da 
sociolinguística variacionista, obtendo destaque em seus resultados científicos 
publicados, abrindo uma gama de discussões a respeito da relação entre a 
língua e a sociedade. 
 
Foi William Labov que voltou a estudar a relação entre língua e 
sociedade na posição virtual e real, do sistematizar e da variação 
existente e própria da língua falada. 
É William Labov quem inaugura os estudos desta nova disciplina em 
1963, quando analisa o inglês falado na ilha de Martha´s Vineyard, no 
estado de Massachusetts (EUA). Após esta pesquisa, várias outras 
surgiram: como a estratificação social do inglês falado na cidade de 
Nova York (1966); a língua do gueto, entre outros. 
Labov inaugura uma vertente de estudos anti-saussuriana, ou seja, 
contrária à corrente dominante e que deu origem ao curso de 
Linguística Geral. Assim, ao invés da langue- língua, como fez 
Saussure, Labov centra seus estudos na parole- fala/uso de um ponto 
de vista social e não individual. (CAVALCANTE, s/d, p. 244). 
 
A pesquisadora e doutora em linguística, Marianne Carvalho Bezerra 
Cavalcante, deixa claro que “a língua, então, funciona como elemento de 
interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua. É por intermédio dela 
 
 
24 
 
que a realidade se transforma em signo, pela associação de significantes 
sonoros e significados arbitrários, processando assim, a comunicação 
Linguística” (CAVALCANTE, s/d, p. 245). 
 
Ao estudar qualquer comunidade Linguística,a constatação mais 
imediata é a existência de diversidades ou da variação. Toda 
comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de 
falar/sinalizar – chamadas variedades linguísticas. 
O conjunto de variedades linguísticas utilizado por uma comunidade é 
chamado de repertório verbal. Qualquer língua, falada/sinalizada por 
qualquer comunidade, exibe sempre variações. Nenhuma língua 
apresenta-se como entidade homogênea, todas são representadas por 
um conjunto de variedades. (CAVALCANTE, s/d, p. 247). 
 
Cavalcante explicita que as variações linguísticas são fenômenos que não 
podem ser separados da língua e, que a sociolinguística interpreta essa 
diversidade como positiva, na caracterização do fenômeno linguístico. 
 
Qualquer tentativa de buscar apreender apenas o invariável, o sistema 
subjacente – se valer de oposições como “língua e fala” ou 
“competência e desempenho” – significa uma redução na 
compreensão do fenômeno linguístico. O aspecto formal e estruturado 
do fenômeno linguístico é apenas parte do fenômeno total. 
Todas as línguas do mundo são sempre continuações históricas – 
gerações sucessivas de indivíduos legam a seus descendentes o 
domínio de uma língua particular. As mudanças temporais são parte 
da história das línguas (CAVALCANTE, s/d, p. 248). 
 
Importante 
As variedades linguísticas podem ser: 
Variação Diatópica ou Geográfica: relaciona-se a diferenças 
Linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre 
falantes de origens geográficas distintas. 
Ex. Brasileiros e Portugueses. Pessoenses e gaúchos. Surdos 
pessoenses e surdos recifenses. 
Variação Diastrática ou Social: relaciona-se a um conjunto de 
fatores que têm a ver com a identidade dos falantes e com a 
organização sociocultural da comunidade de fala. Classe social, 
idade, sexo e situação ou contexto social são fatores que estão 
relacionados às variações de natureza social. 
Ex. Classe social – um advogado e um ambulante possuem 
linguagens diferentes. 
 
 
25 
 
Idade- o uso do léxico particular, como presente em certas 
gírias (“maneiro”, como sentido de uma avaliação positiva) 
denota uma faixa etária mais jovem. 
Sexo- o uso frequente de diminutivos, como “bonitinho”, 
costuma ocorrer na fala feminina. 
Situação ou contexto social - qualquer pessoa modifica sua 
fala/sinal, de acordo com o(s) seu(s) interlocutor(es) – se este é 
mais velho ou hierarquicamente superior ou, ainda, segundo o 
lugar em que se encontra: um bar ou uma conferência. Todo 
falante varia sua fala/sinal segundo a situação em que se 
encontra. 
Cada grupo social estabelece um contínuo de situações cujos 
polos extremos e opostos são representados pela formalidade 
e informalidade. 
Mudança Metafórica - é uma interação social particular em que 
o indivíduo decide mudar de variedade linguística sem que 
tenha ocorrido mudança de situação. 
Variações estilísticas ou registros – são as variações 
linguísticas relacionadas ao contexto, ocorrem quando os 
indivíduos diversificam sua fala/sinal, usam estilos ou registros 
distintos, em função das circunstâncias em que ocorrem suas 
interações verbais. (CAVALCANTE, s/d, p. 248-249). 
 
A partir da análise de pesquisas realizadas por teóricos da 
sociolinguística, é perceptível a existência de uma relação estreita entre as 
variedades linguísticas e a estrutura social. Esta composição presente em toda 
e qualquer comunidade de fala foi e continua sendo objeto de estudo. 
Cavalcante traz de maneira resumida esta relação entre as variedades 
linguísticas e a estrutura social, em que é possível constatar a presença das 
relações de poder existentes neste processo, desde os primórdios. 
 
Em qualquer comunidade de fala podemos observar a coexistência de 
um conjunto de variedades linguísticas. Na realidade objetiva da vida 
social, há sempre uma ordenação valorativa das variedades 
Linguísticas em uso, que reflete a hierarquia dos grupos sociais. 
Em todas as comunidades existem variedades que são consideradas 
superiores e outras inferiores. “Uma variedade Linguística ‘vale’ o que 
‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, como reflexo do poder e 
da autoridade que eles têm nas relações sociais” Gnerre. 
É evidente a existência de variedades de prestígio e de variedades não 
prestigiadas nas sociedades em geral. Tradicionalmente, o melhor 
modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos dos 
linguísticos socialmente dominantes. Na tradição ocidental – a 
variedade padrão. 
A variedade padrão não detém propriedades intrínsecas que garantem 
uma qualidade “naturalmente” superior às demais variedades. A 
 
 
26 
 
padronização é historicamente definida: cada época determina o que 
considera como forma padrão. O que é padrão hoje pode tornar-se não 
padrão, e o que é considerado não padrão pode ser estabelecido como 
padrão. (CAVALCANTE, s/d, p. 250). 
 
Quando se abordam as variações linguísticas, em seus contextos, a 
referência também se faz ao conceito de ‘comunidade de fala’, que engloba a 
questão dos diversos falares e suas justificativas individuais e coletivas, que 
causam discordâncias entre os teóricos. Vejamos algumas definições sobre 
comunidade de fala, trazidas pela pesquisadora da área da linguística, Aline Aver 
Vanin, no ensaio Considerações relevantes sobre definições de ‘comunidade de 
fala’: 
 
Toma-se, inicialmente, uma definição bastante simples de comunidade 
de fala, dada por Bloomfield (1926, p. 42), para o qual “é um grupo de 
pessoas que interage por meio da fala”. Essa ideia geral sobre o objeto 
de estudo da Sociolinguística é bastante ampla, o que leva Gumperz 
(1968) a restringi-la, argumentando que uma comunidade de fala é um 
grupo de falantes – não necessariamente de uma mesma língua – que 
compartilha um conjunto de normas e regras para o uso da língua. Para 
este autor, deve haver diferenças linguísticas específicas entre os 
membros de uma comunidade de fala e os que estão fora dela. Nesse 
sentido, essa definição abrange o aspecto social da língua, da 
comunicação, mas limita a tendência natural para a interação das 
línguas umas com as outras, com a possibilidade de se sobreporem. 
(Vanin, 2009, p,148). 
 
E qual seria o entendimento do linguista americano William Labov sobre 
o uso dos elementos da língua dentro da ‘comunidade de fala’? 
 
A comunidade de fala não é definida por nenhum acordo marcado 
quanto ao uso dos elementos da língua, mas, sobretudo, pela 
participação em um conjunto de normas compartilhadas. Essas podem 
ser observadas em tipos claros de comportamentos avaliativos, e pela 
uniformidade de seus termos abstratos de variação, que são invariáveis 
com relação aos níveis particulares de uso (LABOV, 1972, P120-121, 
tradução nossa. Apud Vanin, 2009, p,148). 
 
Vanin (2009) ressalta que Labov prefere “o caráter de ‘consciência’ das 
atitudes dos falantes em relação às normas gramaticais compartilhadas pelo 
grupo para caracterizar uma comunidade de fala.” 
 
Para ele, os membros de uma comunidade de fala não têm de, 
necessariamente, falar da mesma forma; eles simplesmente 
compartilham uma série de avaliações sobre a comunidade de fala. 
Assim, o linguista opta pela uniformidade das atitudes dos falantes em 
relação à língua para definir as fronteiras de uma comunidade de fala 
 
 
27 
 
e, com isso, evitar certo tipo de variação. Dessa forma, Labov garante 
homogeneidade no seu objeto de estudo – a comunidade de fala –, e 
não na língua, que é um sistema heterogêneo. (Vanin, 2009, p,148). 
 
Romaine (1980) defende a concepção de que o convívio dos sujeitos com 
os diferentes grupos, por si só comprova, que cada indivíduo pode passar a 
apresentar diferentes características linguísticas, para obter a interação 
comunicacional necessária. 
 
Romaine (1980) também discorda da ideia de homogeneidade da 
comunidade de fala, já que as mudanças não ocorrem em toda a 
comunidade, mas são fenômenos individuais. Para a autora,os 
sujeitos interagem com diferentes grupos e, por isso, podem assumir 
diferentes características linguísticas. Dessa forma, valores sociais 
diversos são atribuídos às variantes linguísticas de forma diversificada. 
A mesma autora afirma que, em diferentes comunidades de fala, 
fatores sociais e linguísticos estão ligados não apenas a formas 
diversificadas, mas em diferentes graus; então, a imbricação da 
estrutura social e linguística em uma dada comunidade de fala é uma 
questão de investigação e não pode ser tomada como dada 
(ROMAINE, 1980. Apud Vanin, 2009, p,149). 
 
É imprescindível perceber as diferenças sutis entre os linguistas, quando 
se pretende estabelecer características pontuais entre os conceitos. Abaixo, 
Vanin estabelece algumas particularidades de Dell Hymes e Romaine, neste 
embate, para se chegar a um denominador comum, ou não, na definição de 
‘comunidades de fala’: 
 
Nesse sentido, Hymes (1972) afirma que o conceito de comunidade de 
fala está ligado a pessoas que compartilham regras de conduta e 
interpretação de fala de, pelo menos, uma variedade linguística. Para 
ele, antes do critério linguístico interessa o critério social. Segundo 
Figueroa (1994), Hymes prioriza muito mais os aspectos sociais na 
delimitação desse conceito, admitindo que um indivíduo pode participar 
de diferentes comunidades de fala, tornando a relação entre ele e a 
comunidade bastante flexível. Assim, a comunidade de fala envolve 
questões sociais, não sendo suficiente concentrar-se no estudo das 
regras gramaticais que regem certo grupo de indivíduos. Concordando 
com essa ideia, Romaine (1994) define comunidade de fala como um 
grupo de pessoas que não necessariamente compartilham a mesma 
língua, e talvez nem mesmo um conjunto de normas e regras para o 
uso da língua. Para ela, os limites entre comunidades de fala seriam 
essencialmente sociais, ao invés de linguísticos, já que essas não são 
necessariamente coextensivas a uma comunidade linguística. (Vanin, 
2009, p,149). 
 
A partir das ideias apresentadas por alguns teóricos de forte 
representatividade na linguística, como seriam formadas essas comunidades de 
fala? Lembrando que segundo a pesquisadora Aline Aver Vanin (2009), “as 
 
 
28 
 
‘atitudes’ dos usuários da língua estariam baseadas nos ideais inerentes a cada 
indivíduo”. 
 
É por isso que, dentro dessa visão, as comunidades de fala podem ser 
constituídas de membros de uma profissão com um jargão 
especializado, grupos sociais distintos, como alunos de Ensino Médio 
ou admiradores de determinado grupo – como os adeptos ao 
movimento punk, por exemplo, ou os moradores de uma favela – ou 
até mesmo grupos menores, como os de famílias e de amigos. Assim 
sendo, até mesmo comunidades on-line podem representar uma 
comunidade de fala. Membros de comunidades de fala desenvolvem 
uma gíria ou um jargão, dos quais o grupo se serve para propósitos 
especiais ou por causa de alguma prioridade. (Vanin, 2009, p,149). 
 
Mas há um teor conciliador que surge entre os teóricos da linguística. 
Patrick (2004) se posiciona de maneira a imbricar teorias, para que deste 
imbricamento, obtenha-se uma proposta conceitual de comunidade de fala, o 
que mesmo assim, parece um tanto quanto delicado. 
 
Para ele, as propostas para um conceito de comunidade de fala como 
consensual – conforme Labov – ou contrastiva – como acredita 
Romaine, por exemplo – podem ser. Entende-se ‘comunidade 
linguística’ como o conjunto de povos que compartilha uma língua em 
comum. Assim, países lusófonos, como Brasil, Portugal e 
Moçambique, por exemplo, fazem parte de uma mesma comunidade 
linguística utilizadas de acordo com as necessidades do estudioso. Por 
esse motivo, o autor explica que esse não poderia ser um conceito 
aceito como já definido, mas deveria ser construído de acordo com as 
necessidades do pesquisador, conforme as hipóteses construídas por 
ele. Hudson (1980, p. 30, tradução nossa), por sua vez, afirma que “é 
possível que as comunidades de fala não existam na sociedade, exceto 
como protótipos na mente das pessoas e, nesse caso, a busca pela 
definição ‘verdadeira’ de ‘comunidade de fala’ é apenas uma 
perseguição inútil”. 
Além dessa questão, é preciso ainda notar que um indivíduo pode 
pertencer a várias comunidades de fala, identificando-se com uma ou 
com outra de acordo com a situação. Fica, então, bem mais difícil 
delimitar o conceito que se busca desde o início deste texto, já que se 
pode encontrar um sem número de comunidades de fala dentro de uma 
mesma sociedade. Desse modo, restringir de forma sistemática essa 
noção parece ser bastante difícil pelas variadas identidades assumidas 
pelos indivíduos. (Vanin, 2009, p,150). 
 
Mas e quais seriam os usos e funções de uma língua em uma comunidade 
de fala? A pesquisadora Vanin traz Mello (2001) para responder este 
questionamento, apontando como estratégia recorrer aos ‘domínios linguísticos’, 
exemplificando-os e explicando como acontece essa busca de interação verbal 
 
 
 
29 
 
Por exemplo, a interação entre pessoas de uma mesma família 
pertence ao domínio familiar, enquanto a interação entre professores e 
alunos pertence ao domínio escolar e assim por diante. Fishman (1968) 
apud Mello (2001) identifica como principais domínios linguísticos a 
família, a escola, a igreja, o trabalho ou vizinhança. Cada um desses 
domínios pode exigir uma única língua ou mais, dependendo dos 
participantes da interação, da relação afetiva entre eles, do tópico a ser 
discutido, do grau de formalidade da situação e da função dessa troca 
comunicativa. Portanto, a noção de domínios linguísticos não se limita 
ao local onde ocorre, mas à situação como um todo, incluindo, de modo 
geral, todas as relações psicossociais que permeiam a comunicação 
entre as pessoas. (Vanin, 2009, p,150). 
 
Como as discussões sociolinguísticas sobre ‘comunidade de fala’ são 
extensas e provocam antagonismos, em consequência desses embates, 
teóricos da área apresentam o conceito de microníveis de comunidade de fala, 
sendo eles a ‘rede social’ e a ‘comunidade de prática’, sendo uma estratégia de 
analisar o indivíduo mais especificamente, como explica a pesquisadora Aline 
Aver Vanin: 
 
A ‘rede social’ de um indivíduo é o total de relacionamentos nos quais 
os indivíduos estão envolvidos (MILROY, 2004). Ela é mais bem 
considerada como um meio de captar as dinâmicas subjacentes aos 
comportamentos interacionais dos indivíduos do que como uma 
categoria social fixada. Nessa abordagem, os próprios indivíduos criam 
comunidades pessoais que provêm uma estrutura significativa para 
resolver quaisquer questões relacionadas à vida cotidiana. Contudo, 
as relações entre os indivíduos podem variar de acordo com os tipos e 
a força dos vínculos em que eles se inserem. 
De acordo com Britain e Matsumoto (2008), as abordagens 
relacionadas às redes sociais não são baseadas no uso ou em 
avaliações compartilhadas da língua, mas nas ligações sociais nas 
quais as pessoas estão engajadas, tais como as relações familiares, 
de amizade ou de vizinhança, por exemplo. Esses vínculos parecem 
estar relacionados às noções de ‘domínios linguísticos’[...] 
[...] Já as abordagens relacionadas ao conceito de comunidade de fala, 
segundo os mesmos autores, não mencionam que os membros dela 
devam conhecer uns aos outros e pouco falam sobre o quanto 
integrados socialmente os indivíduos deveriam estar para se 
estabelecer um padrão de análise. Em conformidade com essa visão, 
Gumperz (1996) acredita numa diversidade própria da comunidade de 
fala, visto essa ser constituída por uma variedade de redes de 
socialização, as quais se associam a padrões de uso e interpretação 
linguísticos. Esse autor acredita que as redes sociais devem ser vistas 
como unidades de análise, ao invés da comunidade de fala: “se os 
significados residem em práticas interpretativas e essas se localizam 
em redes sociais nas quais o indivíduo está socializado, então as 
unidades‘cultura-’ e ‘língua-’ não são nações, grupos étnicos ou algo 
similar, mas redes de indivíduos em interação” (GUMPERZ, 1996, p. 
11, tradução nossa). (Vanin, 2009, p,150). 
 
É importante frisar que a pesquisadora Vanin (2009) reforça que alguns 
autores ressaltam que é justamente nestas comunidades de práticas que se 
 
 
30 
 
pode determinar os locais em que ocorrem as interações comunicacionais e, 
junto com elas, é possível avaliar o significado social deste contexto, tendo nos 
elementos da língua a composição das alterações linguísticas. 
 
Embora a variação adquira significado em redes sociais mais 
consistentes, alguns autores, como Meyerhoff (2004), preferem adotar 
o conceito de ‘comunidade de prática’, que está vinculado à noção de 
que as variantes linguísticas alcançam significado por meio desses 
tipos de redes. Tal concepção decorre do fato de que, em comunidades 
de prática, pretende-se determinar os ‘locais interacionais’ em que o 
significado social está ligado por elementos linguísticos, e onde tal 
significado e a mudança linguística são co-construídos (MILROY, 
2004). Além disso, uma comunidade de prática pode ser definida como 
aquela que contém grupos nos quais o engajamento comum em 
alguma atividade ou empreendimento é suficientemente intenso para 
criar, ao longo do tempo, repertórios de práticas compartilhadas. Além 
disso, seus membros devem estar suficientemente engajados e não 
somente compartilharem de certa característica. (Vanin, 2009, p,151) 
 
Segundo Vanin (2009), quando uma pessoa escolhe pertencer a uma 
determinada comunidade, ela compartilha repertórios de práticas, incluindo 
nesse contexto, as práticas linguísticas: 
 
 critérios gerais para que se possa trabalhar nessa concepção: (a) os 
membros de uma comunidade de prática precisam estar juntos para 
engajarem-se em suas práticas compartilhadas; (b) os membros 
compartilham de algum empreendimento negociado em comum, ou 
seja, eles se unem por causa de um propósito; e (c) o repertório 
compartilhado em uma comunidade de prática é o resultado cumulativo 
de negociações internas. Nesse sentido, os repertórios mencionados 
são dinâmicos, isto é, modificam-se conforme o seu uso e as 
negociações dentro da comunidade. Com isso, os seus membros 
compartilham de práticas culturais diversas e, por esse motivo, as 
escolhas na língua estão em constante negociação, e essas ocorrem 
implicitamente, no decorrer das trocas comunicativas. 
[...] Os membros de uma comunidade de fala não precisam, 
necessariamente, se conhecerem, enquanto os de uma rede social 
certamente sim, já que estão ligados por diferentes graus de laços de 
interação, interessando o que as pessoas são. Mas, para uma 
comunidade de prática, essa conexão não basta; é necessário, nesse 
caso, que os indivíduos tenham um engajamento em comum, levando-
se em conta as suas ocupações: pessoas que se relacionam por causa 
de uma determinada atividade costumam participar de uma mesma 
comunidade de prática. Dessa forma, elas compartilham práticas 
culturais distintas, o que se reflete nas suas trocas linguísticas. Pode-
se perceber, com essas concepções recentes, que a Sociolinguística 
parece se encaminhar para um foco mais específico na análise da 
variação, passando da noção de comunidade de fala como um todo 
para o indivíduo como o elemento mais relevante em uma pesquisa. 
Nesses microníveis, mais delimitados, a heterogeneidade de uma 
comunidade de fala é levada em conta, e a relação indivíduo, língua e 
sociedade tem valor primordial para as análises. (Vanin, 2009, p,151-
152). 
 
 
31 
 
 
Vanin (2009) deixa claro que o conceito de comunidade de fala é uma 
estrutura metodológica que deve ser utilizada “conforme as necessidades e no 
momento de pesquisa”. A partir disso, a linguista se posiciona a favor da união 
das concepções de redes sociais e de comunidades de prática, para chegar em 
uma definição mais precisa das variações linguísticas em determinados grupos. 
 
Em primeiro lugar, acredita-se no uso da noção de redes sociais 
porque cada indivíduo traz consigo todo um background de conceitos 
já existentes por causa de suas relações com outros subgrupos dentro 
da mesma comunidade. Em segundo, o conceito de comunidade de 
prática é utilizado conjuntamente porque as crenças, os valores, os 
significados trazidos à tona por meio de fatores linguísticos serão 
inseridos, ou provocarão mudanças conforme ocorrer a interação entre 
pares. Dessa maneira, os vínculos entre língua, sociedade e indivíduo 
são investigados e considerados durante a reflexão do processo de 
variação – ou de mudança – decorrente de um emaranhado de 
relações em que os membros de dada comunidade de fala podem estar 
envolvidos. (Vanin, 2009, p,153). 
 
 
2.1.1 Sociolinguística: identidade social 
 
 A sociedade como um todo tem experimentado um fenômeno de 
mudanças constantes e consideravelmente rápidas. Essa metamorfose é 
presenciada em todos os setores da vida humana, social, biológica, científica e 
nas mais variadas instâncias possíveis de se imaginar alterações. Não seria 
diferente na composição do processo identitário do ser. Como não se fragmentar 
perante transições constantes e incessantes, que mal dão tempo suficiente para 
o indivíduo se acostumar a um “novo estado de ser” e já precisa se adaptar a 
outras imposições ocasionadas pelo meio social, intelectual, econômico etc. E 
como podem ser avaliados os processos de construção da identidade social? O 
que antes parecia ter mais estabilidade, hoje parece dar a impressão de que a 
sociedade se encontra em um estado de fluidez e liquidez, enfim, não se tem 
mais os moldes estáticos aos quais as pessoas tinham que se adequar com a 
rigidez como se teve registro na história. Graças a essa maleabilidade, a essa 
possibilidade de experienciar as mais diversas possibilidades de conhecimento 
e de vivências, que na contemporaneidade é possível aos indivíduos essa busca 
de elementos, que vão fazer parte da co-construção de sua identidade. 
 
 
 
32 
 
[...] toda e qualquer identidade é construída. [...] A construção de 
identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, 
biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva 
e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de 
cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos 
indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu 
significado em função de tendências sociais e projetos culturais 
enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão de 
tempo/espaço. (CASTELL, 2000, P.23-24) 
 
A pesquisadora da área da sociolinguística, Livia Oushiro (2019), em um 
de seus artigos científicos, faz uma revisão conceitual sobre as definições de 
“identidade”, ressaltando o poder de negociação que as relações adquirem, 
sendo utilizado pelos indivíduos ao longo do processo comunicacional e de 
estreitamento de laços. 
 
Definições de “identidade” costumam ressaltar o caráter relacional 
desse conceito. Mendoza-Denton (2002, p. 475) o define como “a 
negociação ativa da relação de um indivíduo com construtos sociais 
mais amplos, na medida em que essa negociação é sinalizada através 
de meios linguísticos e outros meios semióticos”. Dessa definição, 
cabe destacar que identidade é, inicialmente, uma negociação, ou seja, 
um indivíduo não tem poder de definir para si uma identidade 
totalmente nova, que não tenha sido elaborada coletivamente e que 
não seja aceita por outras pessoas. (OUSHIRO, 2019, p. 307-308) 
 
Oushiro traz outros autores que também defendem a ideia de negociação, 
que acontece no processo relacional entre os indivíduos, na construção de sua 
identidade. Elisa Battisti (2014, apud Oushiro, 2019) afirma que existe uma 
espécie de sistema de troca entre o indivíduo e o meio social: 
 
“[a]pesar de as identidades serem experimentadas, vivenciadas pelos 
sujeitos e, nas investigações, serem consideradaspelo exame das 
práticas sociais individuais, elas são em parte construtos sociais” 
(BATTISTI, 2014, p. 80). Battisti se baseia no conceito de habitus de 
Bordieu (1977, apud BATTISTI, 2014) para relacionar as identidades 
individuais com práticas que se adquirem no processo de socialização 
dos indivíduos, da vida em sociedade; essas práticas, por sua vez, vão 
definindo identidades que, ao mesmo tempo, são passíveis de 
mudança ao longo do tempo a partir de nossa participação em 
diferentes comunidades. Battisti (2014, p. 81) considera, assim, que “a 
construção de identidade consiste em negociar os significados de 
nossa experiência de pertença a diferentes grupos sociais”. Kiesling 
(2013, p. 450), de modo semelhante, ressalta a natureza relacional das 
identidades, definindo o conceito como “um estado ou processo de 
relação entre o ‘eu’ e o ‘outro’; a identidade é como os indivíduos 
definem, criam, ou pensam sobre si em termos de sua relação com 
outros indivíduos e grupos, sejam eles reais ou imaginários”3 . Kiesling 
(2013) também chama a atenção para a necessidade de, ao pensar 
identidades em seu contexto social, levar em conta a escala em que o 
conceito é operacionalizado. O autor propõe distinções em pelo menos 
 
 
33 
 
três grandes níveis: (i) amplos grupos “censitários”, como sexo, classe 
social, etnia; (ii) papéis institucionais, como “mãe”, “policial”; e (iii) 
tomadas de postura (stance) durante a interação. Note-se, novamente, 
que não há um abandono das macrocategorias sociológicas, como 
sexo e classe social, mas sim o entendimento de que elas devem ser 
pensadas dentro de sua própria dimensão. (OUSHIRO, 2019, p. 307-
308) 
 
As definições trazidas por Oushiro (2019), “destacam o papel do indivíduo 
que negocia suas identidades com outros indivíduos, grupos e construtos 
sociais”. 
 
Assim, não se deve superestimar o papel agentivo do indivíduo na 
construção de sua própria identidade. É pouco provável que um 
indivíduo possa monitorar e manipular conscientemente cada traço 
linguístico de sua fala a todos os momentos; além disso, uma série de 
construtos sociais que servem de parâmetros identitários preexiste e 
ultrapassa o domínio da ação individual. Gumperz (1971, p. 152-153) 
sintetiza essa questão do seguinte modo: em última instância, é o 
indivíduo que toma a decisão, mas a liberdade de escolher está sempre 
sujeita a restrições tanto gramaticais quanto sociais. As primeiras se 
relacionam com a inteligibilidade das sentenças; as segundas com sua 
aceitabilidade. [...] O poder de seleção, portanto, é limitado por 
convenções que servem para categorizar formas linguísticas como 
informais, técnicas, vulgares, literárias, humorísticas etc. (OUSHIRO, 
2019, p. 309). 
 
É imprescindível a absorção do entendimento de que quando se fala sobre 
o conceito “identidade”, a ideia deve sempre vislumbrar o todo, o contexto, o 
conjunto, o individual e o coletivo, em um complexo social, pois as trocas que 
ocorrem neste pareamento social compõem a construção identitária. 
 
Desse modo, diferentes definições de identidade sempre ressaltam 
que um indivíduo não é “x” ou “y”, mas que essas categorizações 
devem necessariamente estar relacionadas com outros indivíduos, 
uma vez que um olhar sobre a identidade não pode perder de vista as 
relações sociais. A identidade, portanto, não é um atributo pessoal, 
muito menos uma posse; ela é um processo de criação de sentidos que 
deve ser ao mesmo tempo individual e coletivo. A construção de 
sentidos se dá sempre dentro de uma matriz cultural e ideológica, 
sobre a qual o indivíduo não exerce total controle. (OUSHIRO, 2019, p. 
309) 
 
Saiba Mais 
Pesquise mais sobre: Os Caminhos da Identidade em um 
Mundo Multicultural 
Artigo de: Thais Alves Marinho 
 
 
34 
 
Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidade 
s/article/view/1761 Acesso em JUL/2020 
 
Conclusão da aula 2 
 
Nesta segunda aula buscou-se noções centrais da sociolinguística para 
situar pontos cruciais abordados nesta área. A partir destas definições, é 
possível começar a traçar paralelos mais concretos sobre a importância dos 
estudos neste setor da linguística e a extensão deles diretamente na 
compreensão do ser social. 
Nesta aula abordaram-se os principais temas relacionados às noções 
centrais da sociolinguística. Ao longo desta aula pôde-se perceber nitidamente 
que a língua e a linguagem atuam como reflexo da sociedade em que se vive e 
vice-versa. A língua constitui e é constituída pela sociedade, vê-se o mundo por 
meio dela. Como este universo social está em constante transformação, a língua 
também sofre essa metamorfose. A sociolinguística se debruça sobre os fatores 
que fazem “pressão” sobre as línguas, ou seja, que exercem variações 
linguísticas, sendo elas, as próprias mudanças linguísticas ou, ainda, a língua 
varia em decorrência de fatores que estão presentes na sociedade. 
O pesquisador e linguista americano William Labov foi um dos principais 
teóricos a discorrer sobre as variações linguísticas, sendo o fundador da 
sociolinguística variacionista, obtendo destaque em seus resultados científicos 
publicados, abrindo uma gama de discussões a respeito da relação entre a 
língua e a sociedade. 
Foi discorrido sobre as variedades linguísticas, que podem ser classificadas 
em: Variação Diatópica ou Geográfica, Variação Diastrática ou Social, 
Mudança Metafórica e Variações estilísticas ou registros. 
 Quando se observam as variações linguísticas, em seus contextos, a 
referência também se faz ao conceito de ‘comunidade de fala’, que engloba a 
questão dos diversos falares e suas justificativas individuais e coletivas, que 
causam discordâncias entre os teóricos. Além de noções de redes sociais e 
comunidades de prática. 
Esta segunda aula foi encerrada com a discussão do conceito 
“identidade”, sua construção e estereótipo social. É imprescindível a absorção 
 
 
35 
 
do entendimento de que quando se fala sobre o conceito “identidade”, a ideia 
deve sempre vislumbrar o todo, o contexto, o conjunto, o individual e o coletivo, 
em um complexo social, pois as trocas que ocorrem neste pareamento social 
compõem a construção identitária. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Para aprofundar seus conhecimentos nos conceitos de 
identidade, a atividade de aprendizagem desta aula é realizar 
uma resenha do artigo científico: Os caminhos da 
identidade em um mundo multicultural, de Thais Alves 
Marinho. 
Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/articl 
e/view/1761 
 
 
 
Aula 3 - Situação de comunicação e competência comunicativa: linguagem 
ação e cooperação; organização da fala em interação; e a construção 
situada dos sentidos 
 
Apresentação da aula 3 
 
Nesta terceira aula serão tecidos os conceitos de comunicação, situação 
de comunicação e como a competência comunicativa se aplica a estas 
conceituações. A partir disso, será discorrido sobre linguagem, ação e 
cooperação; ainda a respeito da organização da fala em interação e a construção 
situada dos sentidos. 
 
➢ Situação de comunicação e competência comunicativa 
 
Quando se pensa no conceito situação de comunicação, esta é uma 
referência aos mais variados estilos de processos comunicativos, em que se têm 
diretamente o discurso e a maneira como ele está sendo realizado. 
 
 
36 
 
E, a partir do momento que se analisa a competência comunicativa, está 
se avaliando as estruturas que estão munindo o responsável por este processo 
comunicacional. É um conjunto de requisitos necessários para que a estratégia 
de comunicação obtenha sucesso e é justamente isso que será estudado nesta 
aula. 
 
3.1 Situação de comunicação e competência comunicativa: linguagem 
ação e cooperação 
 
Antes de tratar sobre a situação de comunicação, é preciso expor alguns 
conceitos fundamentais desta área. A pesquisadora Natália Ramos, da 
Universidade Aberta de Lisboa, evidencia o

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