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INFECÇÕES DO SNC AUTORIA DE Rebeca Zilli MENINGITE: É a inflamação de meninges do SNC, quase sempre de origem infecciosa (bacteriana, viral, fúngica). Seu diagnóstico é feito através de punção liquórica, mas se o paciente tem suspeita de hipertensão intracraniana ou de outras complicações, deve-se fazer o exame de imagem antes da punção, pois ela pode estar contraindicada dependendo da complicação. ► Clínica: cefaleia, rigidez nucal, irritabilidade. ► Imagem: na maioria das vezes não vai ter alterações na imagem, mas podem ser feitos os seguintes achados: ✓ TC: hiperdensidade em espaço subaracnóideo ✓ RM: hipesinal em espaço subaracnóideo ✓ Impregnação leptomeníngea pelo contraste OBS.: quando se avalia a presença de doenças infecciosas, deve ser pedido exame com contraste venoso. ► Complicações: RM (FLAIR) de crânio Nessa frequência, o líquor tem baixo sinal, e normalmente os sulcos tem que ter o mesmo aspecto que o líquor, mas na imagem vemos que eles estão em alto sinal. Isso é uma alteração que indica inflamação meníngea. Hidrocefalia Estamos sempre produzindo e reabsorvendo líquor, e se houver inflamação de meninges, pode haver uma alteração e diminuir a reabsorção. Isso vai acabar aumentando o líquor. Na imagem, vemos que um ventrículo está maior que outro (líquor não está sendo reabsorvido), além de impregnação leptomeningea à direita (1). À esquerda os sulcos estão normais. (1) OBS.: O Abscesso cerebral pode ser outra complicação, mas será abordado a seguir. ABSCESSO: É uma coleção intracerebral de pús, que pode ocorrer por disseminação hematogênica (o microrganismo cai no sangue e pode acabar no cérebro) ou por extensão direta, como traumas, em que há rompimento de barreira cerebral, ou em complicações de sinusite/ otomastoidites, em que a infecção se estende para o cérebro. Nesse segundo caso, veremos o abcesso bem perto do processo inflamatório inicial. ► Clínica: cefaleia, letargia, náuseas, vômitos, febre, déficits neurológicos focais, irritação meníngea. ► Imagem: pode ser feita TC ou RM com contraste, observando: ✓ Lesões ovaladas e grandes ✓ Impregnação periférica pelo contraste ✓ Área central sem captação pelo contraste Isquemia cerebral Como as meninges estão em íntimo contato com o parênquima, sua inflamação pode irritar os vasos da região, levando à vaso espasmos e isquemia. Na imagem, vejo área de hipersinal cortical (as isquemias são mais corticais) em ambos os lados. Nesse caso, a isquemia não vai respeitar território vascular, pois a fisiopatologia é diferente. DIFUSÃO Epiema subdural ou epidural É a presença de pús fora do parênquima, e sua imagem vai se assemelhar à de um hematoma, com a diferença que se manifesta como hipodenso e é feito o uso do contraste. Logo, na imagem ao lado, vemos uma coleção extra axial, em formato de meia lua, hipodensa. TC de crânio com abscesso Observa-se uma área ovalada centralmente hipodensa (de densidade similar ao líquor), com impregnação pelo contraste na periferia, e ao redor dessa área ovalada ainda observamos região hipodensa, que caracteriza um Edema Perilesional. NEUROCISTICERCOSE: É uma infecção do SNC pela forma larvária da Taenia Solium. Ocorre quando se ingere o ovo desse parasita e suas larvas (cisticercos) caem na via hematogênica e acabam impactando o cérebro. Esses parasitas bastante do SNC, podendo afetar meninges, ventrículos, parênquima. O grande problema em si não está no cisticerco, mas na reação inflamatória que o corpo faz para combatê-lo. Existem 4 estágios dessa infecção: 1. COLOIDAL→ logo que chega na região que vai se instalar. 2. COLOIDAL VESICULAR→ momento em que o corpo vai tentar combatê-lo, surtindo a clínica. 3. NODULAR GRANULAR 4. NODULAR CALCIFICADO→ foco de cicatrização do cisticerco que um dia já esteve ali. ► Clínica: é muito variável, podendo haver crise convulsiva, cefaleia, déficits neurológicos focais, alteração do nível de consciência. A clínica vai sempre estar relacionada com a área impactada pelo parasita. ► Imagem: pode ser feita TC ou RM com contraste, observando: FASE COLOIDAL VESICULAR: ✓ Imagem cística hiperdensa ✓ Captação anelar pelo contraste ✓ Predomínio em local de transição entre substância branca e cinzenta FASE NODULAR CALCIFICADA ✓ Nódulos de calcificação hiperdensos RM de crânio com abscesso O abscesso aparece em baixo sinal em T1 (assim como o líquor), e em alto sinal em T2 (também igual ao líquor), com impregnação periférica pelo contraste. RM em DIFUSÃO de crânio com abscesso O corpo isola uma região, no meio dela é onde está o pus, que é célula morta, com nada de útil, e ao redor capta contraste. O pus, assim como células mortas (AVE) e no aumento do número de células (tumor), vai restringir a difusão. Logo, são nessas três situações que encontramos a restrição à difusão. NEUROTOXOPLASMOSE: É uma infecção oportunista do SNC pelo parasitismo do Toxoplasma gondii, acometendo principalmente pacientes imunocomprometidos, sobretudo os HIV+ que desenvolveram AIDS. Um paciente sem nenhuma imunodeficiência raramente vai ter esse achado, pois é uma doença de pacientes com sistema imune debilitado. ► Clínica: crise convulsiva, cefaleia, déficits neurológicos focais. ► Imagem: pode ser feita TC ou RM com contraste, observando: ✓ Imagem cística hiperdensa ✓ Captação anelar pelo contraste TC sem e com contraste Observa-se imagem nodular hiperdensa, com hipodensidade ao redor por edema adjacente (característico de processo inflamatório). D: Neurocisticercose RM em FLAIR e T1 (pós contraste) Observa-se imagem nodular captando o contraste perifericamente. Em FLAIR, vemos o edema adjacente hiperdenso. D: Neurocisticercose TC de crânio com cisticercose Nessa fase NODULAR CALCIFICADA observamos a cicatrização do processo inflamatório onde o parasita estava alojado. São focos de calcificação hiperdensos, e nesse momento o paciente não tem mais clínica. O paciente vai ficar com esses nódulos para o resto da vida, podendo nunca apresentar clínica; outros podem ter sequelas neurológicas. D: Neurocisticercose crônica ✓ Preferência pela transição cortiço-subcortical, núcleos da base e tálamo Lesões hipodensas nodulares, com captação de contraste pode ser: abscesso, infeccioso (neurotoxo ou neurocisti), metástase (tumor secundário advindo de foco primário), mioblastoma ou linfoma. Como diferencio tudo isso? → o abscesso é único e grande, enquanto as lesões infecciosas são múltiplas e pequenas. → o neurotoxoplasma vai estar relacionado a paciente imunodeficiente. → as metástases geralmente acompanham clínica de neoplasia (atual ou pregressa). CASOS CLINICOS: 1. Mulher, 68 anos, com crise convulsiva, a primeira da vida, e cefaleia a duas semanas. Não é normal uma paciente com essa idade ter a primeira crise convulsiva. Temos que pensar em um processo expansivo acometendo-a (abscesso, metástase, neutoxoplasmose, neurocisticercose etc.). TC de crânio sem e com contraste Observamos lesão nodular em região nucleocapsular (núcleos da base), e ao redor percebe-se uma hipodensidade grande, característico de edema perilesional. D: Neurotoxoplasmose RM de crânio em T2 e T1 Observamos lesão nodular em região nucleocapsular (núcleos da base), edema perilesional, e impregnação periférica pelo contraste. D: Neurotoxoplasmose TC de crânio com contrasteObserva-se uma hipodensidade ovalada com leve impregnação por contraste perifericamente, no lobo frontal direito. É uma lesão grande, única, caracterizando um Abscesso Cerebral. 2. Homem, 40 anos, confusão mental e cefaleia, HIV+. Só do paciente ter sintoma neurológico e ser HIV+ já nos encaminha pro diagnóstico. 3. Homem, 22 anos, crises convulsivas a um mês, fraqueza em MMSS. RM em T1 com contraste Observa-se lesão ovalada em hiposinal, com impregnação periférica pelo contraste e edema adjacente. RM em DIFUSÃO Observa-se restrição a difusão em formato ovalado, pois seu conteúdo é pus, e restringe à difusão. TC de crânio com contraste Observa-se lesão nodular discreta, hiperdensa, com impregnação periférica por contraste em lobo frontal esquerdo. restrição a difusão em formato ovalado, pois seu conteúdo é pus, e restringe à difusão, além de edema perilesional hipodenso. Esse achado e a clínica indicam Neurotoxoplasmose. TC de crânio com contraste Verifica-se vários nódulos pequenos em todo o cérebro, com preferência à área de transição entre substância branca e cinzenta. Levando a imagem em conta e o fato de que é um paciente jovem com clínica neurológica, conclui-se que ele tem Neurocisticercose. 4. Mulher, 63 anos, com desvio da comissura labial a 4 horas. Nossa primeira hipótese, sem olhar imagem, vai ser AVE isquêmico. Então, inicialmente devemos pedir a TC sem contraste para direcionamento diagnóstico e verificação de hemorragia. 5. Homem, 35 anos, caiu de bicicleta. 6. Homem, 75 anos, com declínio cognitivo. TC de crânio Na imagem há lesões nodulares pequenas e hiperdensas, indicativas de foco de calcificação por cisticercose no passado. Assim, são cicatrizes, e não tem a ver com a clínica atual da paciente. Dessa forma, sigo com a investigação de AVE Isquêmico. OBS.: há uma área muito hiperdensa ao centro, que é uma calcificação da foice cerebral. Com a idade, muitas estruturas encefálicas vão se calcificando (plexo coroide, glândula pineal, etc). TC de crânio Verifica-se coleção extra axial hiperdensa em formato de meia lua, em lobo fronto-parietal à direita. Trata-se de um Hematoma Subdural Agudo (hiperdenso por completo). Vemos também um Hematoma Subgaleal à esquerda. Provavelmente ocorreu um efeito de golpe-contragolpe, bateu de um lado e chacoalhou o outro. TC de crânio Verifica-se coleção extra axial hipodensa em formato de meia lua, fronto-parieto-occiptal à direita. Provavelmente trata-se de um Hematoma Subdural Crônico (hipodenso). Verifica-se de efeito secundário a ausência dos sulcos corticais, a compressão ventricular e desvio de linha média. Ainda vemos que esse sangramento ocorreu em épocas diferentes, pois vemos área um pouquinho mais hipodensa na região occipital (1). (1) Paciente com hematomas subdurais crônico são geralmente idosos. Eles já apresentam atrofia cerebral e as veias corticais ficam esticadas, podendo se causar sangramento a qualquer microtrauma. Assim, muitas vezes o processo entre formar o hematoma e desencadear os sintomas é lento. 7. Masculino, 37 anos, queda da laje. 8. Sexo masculino, 40 anos, queda de andaime. TC de crânio Verifica-se imagens ovaladas hiperdensas, e outras mal definidas, em parênquima cerebral, diagnóstico de Hematoma Intraaxial ou Contusão Hemorrágica. Ainda vemos um discreto Hematoma Epidural (1). (1) TC de crânio Observam-se coleções hiperdensas em formato de meia lua, localizada em lobo temporal à direita e em outra de formato biconvexo em lobo parietal à esquerda. São Hematomas, Subdural e Epidural, respectivamente, ambos agudos. TC de crânio Quando vemos uma imagem muito hipodensa, similar ao lado de fora do crânio, trata-se de ar/gás. Logo, esse paciente teve um pneumoencéfalo, decorrente dá fratura importante que teve à esquerda.
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