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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO CEARÁ CURSO DE SERVIÇO SOCIAL RYNNA GARBÊNIA CARACAS SILVA FEITOSA FAMÍLIA SUBSTITUTA: UMA VISÃO SOCIAL SOBRE AS DIFERENTES FORMAS DE ADOTAR FORTALEZA – CE 2019 RYNNA GARBÊNIA CARACAS SILVA FEITOSA FAMÍLIA SUBSTITUTA: UMA VISÃO SOCIAL SOBRE AS DIFERENTES FORMAS DE ADOTAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social do Centro Universitário Estácio do Ceará, como quesito para a obtenção do grau de bacharel. Orientador: Profº. Dr. Julio Cesar Adiala. FORTALEZA – CE 2019 Ao meu esposo, pais e irmãos, que ensinam diariamente o significado do amor. AGRADECIMENTOS À Deus, que nos criou de forma única e ímpar. Aos meus pais que são base do meu caráter e vida. Aos queridos mestres que incansavelmente estiveram ao meu lado nesta caminhada. “O amor de uma família adotiva é construído da mesma forma que de uma família biológica; não é ter o mesmo sangue que vai garantir o amor nem o sucesso da relação” (WEBER, 1995). Resumo A adoção é um ato que possibilita que pessoas que desejam ser pais possam usar dos meios legais para encontrarem o filho tão esperado. Mesmo sendo uma prática que já ocorre há bastante tempo, a adoção ainda é considerada um tabu por conta dos desafios, medos e anseios de vincular-se a uma criança ou adolescentes que estão institucionalizadas. Além disto, é uma pesquisa a respeito da atuação do assistente social como mediador, estando ele junto as Varas da Infância e Juventude como profissional responsável de subsidiar a decisão do juiz e próximo aos pretendentes e o meio social que estão inseridos, sendo um agente de informações sobre os direitos e deveres destes futuros pais. Independente de qual modalidade de adoção seja, o assistente social é um profissional que deve assegurar o melhor interesse das crianças e adolescentes, sabendo da reponsabilidade de lidar com este tipo de processo jurídico. Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica que utiliza do método da revisão sistemática de literatura como forma de análise dos dados relevantes para o estudo publicados em meios eletrônicos, anais impressos e livros. Palavras-chaves: Adoção; Pais, Filhos, Criança; Adolescente; Assistente Social. Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 Capítulo 1: Família e suas evoluções ....................................................................... 10 1.1 A evolução do que é ser família ....................................................................... 10 1.1.1 A concepção de Família nas civilizações .................................................. 10 1.1.2 A concepção de Família nas civilizações contemporâneas ...................... 13 1.2 Famílias brasileiras .......................................................................................... 14 1.3 O Estatuto da Criança e Adolescente e o processo de adoção ................... 17 1.3.1 Adoção ...................................................................................................... 24 1.3.2 Adoção tardia ............................................................................................ 27 Capitulo 2: Diferenças entre os tipos de adoção e o papel do assistente social nestes processos .................................................................................................................. 29 2.1 Adoção a brasileira .......................................................................................... 29 2.2 Adoção intuitu personae .................................................................................. 32 2.3 Adoção através do Cadastro Único de Adoção ............................................... 35 2.4 O Serviço Social no processo de adoção ........................................................ 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48 8 INTRODUÇÃO A família é espaço vital para que os membros tenham em si um ambiente de proteção, cuidado e principalmente amor. Sendo uma constituição que vem passando por transformações há muito tempo. Deste a Grécia antiga, em Roma e em outros povos, a família possuía um significado e cada membro um papel a exercer. A organização familiar no período Romano tinha a figura do patriarcado como detentor do poder e sobre os filhos tinha o direito de decidir seus destinos, desde castigá-lo até vendê-los; já a mulher, restava- lhe exercer a submissividade ao homem e sua postura como dona do lar e desses afazeres. A visão família foi sendo trazida em cada época da história, com diversas configurações, mas sem deixar que o núcleo principal deixasse de ser o mais aceito pela sociedade que vê a família como o ambiente ocupado por pai, mãe e filhos. É por esta perspectiva que casais que não conseguem gerar um filho de maneira natural buscam a adoção como forma de garantir que passem a tornar um seio familiar completo. O processo de adoção precisou passar por diversas modificações desde o favorecimento dos desejos dos pretendentes ao fortalecimento da noção da importância do melhor interesse da criança nestes casos de adoção. No Brasil, a adoção é um ato que acontece a muito tempo, trazendo fatos históricos, a entrega de bebês a casais que não possuíam filhos biológicos é algo que acontecia com frequência. Por falta de condições financeiras, principalmente, mãe doavam seus filhos a famílias que possuíam um nível social capaz de suprir com as necessidades básicas de uma criança e eles registravam o bebê como se filho fosse e criar um cenário que se assemelhe a chegada de um filho biológico, mais à frente, este ato passou a ser conhecido como Adoção Brasileira, por se tratar de uma ação que ocorre em paralelo a ações legais de adoção e garantir mais os direitos das crianças. Durante a Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança, adotado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 20 de novembro de 1989, entrando em vigor em 2 de setembro de 1990, sendo ratificado no Brasil em 24 de setembro de 1990 assegurou que o Estado deve respeitar, garantir o bem-estar e os direitos de todas as crianças, independente de raça, cor, sexo, língua, religião, 9 opinião política e que estas possam ter um ambiente saudável para crescer e a adoção é uma forma de garantia legal para isso. Como forma de garantia para que este pleito seja conquistado da forma que o Estatuto da Criança e do Adolescente legitima as Varas da Infância e Adolescência do Brasil são responsáveis pela habilitação e vinculação de candidato desejosos de adotar um filho. A equipe do Juizado da Infância e Adolescência formado por assistentes socias, psicólogos e pedagogos são os agentes que trabalharão para que os processos se realizem da melhor forma possível. Sendo uma adoção de recém-nascido, adoção tardia ou adoção intuitu personae, o papel do assistente social é o mesmo, garantir que seus relatórios possam subsidiar a decisão dos juízes para o processo. Diante do exposto, o interesse da autora para realizar este trabalho surgiu após seu período de estágio curricular no Setor de Adoção do Juizado da Infância do Ceará, estando próximado seu recorte e com o questionamento de como o assistente social lida com as diversas formas de adoção e o paradigma de trabalhar junto ao juizado, mas sem distanciar-se do meio social a qual sua profissão é inserida e não deslegitimar o desejo dos pretendentes. O trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica de dados relevantes ao tema escolhido. De acordo com Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange a bibliografia já tornada pública em relação ao objeto de estudo. Realizou-se um levantamento de referenciais teóricos já publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, revistas científicas, entre outros meios que embasaram este corpus, com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002). Os artigos foram selecionados utilizado o método de revisão sistemática da literatura e assim, segundo Caiado et al. (2016) localizou-se os estudos mais relevantes existentes com base em questões de pesquisa formuladas anteriormente para avaliar e sintetizar suas respectivas contribuições. 10 Capítulo 1: Família e suas evoluções 1.1 A evolução do que é ser família Família é um termo que possui uma diversidade de significados, tendo passado pelo decorrer da história diversas transformações. Segundo Sierra (2011) apud Christiano e Nunes (2013), a palavra família surgiu da palavra “famulus” significando “escravo doméstico”, sendo considerado na época dos romanos um conjunto de escravos pertencentes a um mesmo homem, destacando o homem como o possuidor da família e regente dela. Um outro conceito de família e trazido por Prado (1981) em que a família é constituída por pessoas aparentadas que vivem, no geral, na mesma moradia, formada por uma figura paterna, materna e a linhagem de filhos ou ainda pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem, estirpe ou admitidos por adoção. Quanto a Noronha e Parron (s.d., p 3) A origem da família está diretamente ligada à história da civilização, uma vez que surgiu como um fenômeno natural, fruto da necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas de forma estável Com as mudanças ao decorrer da evolução histórica, passam a ter novas visões sobre os conceitos de família e daqueles que a integram, Christiano e Nunes (2013) destacam que dentro do seio familiar, um termo que pluralmente era utilizado caiu no desuso, nas famílias atuais o chamado chefe de família está sendo representado pelo termo “pessoa de referência” ou “pessoa responsável”, não sendo este necessariamente o homem. Para a chegada a este patamar, diversas transformações foram percebidos, cada civilização possuía uma forma diferenciada sobre o quer era a família e o seu papel na sociedade. 1.1.1 A concepção de Família nas civilizações A origem da constituição familiar, segundo Cardoso e Brambilla (2015), chega a ser tão primitiva quanto o próprio homem, estando presente desde os primeiros 11 povos. Isto se explica porque o ser humano possui uma vontade característica de conviver com seus semelhantes. A Grécia Antiga teve a família como uma formação de clãs, onde os indivíduos uniam-se baseados em um parentesco. Estes clãs foram os responsáveis pela formação das polis1, que possuíam mecanismos de organização, o que as faziam ser independente, politicamente, uma das outras. Os gregos viviam sob uma sociedade patriarcal; as mulheres possuíam uma vida reclusa, ligada aos afazeres domésticos (CARDOSO e BRAMBILLA, 2015). Van Acker (1994 apud Cardoso e Brambilla, 2015) afirma que o espaço feminino era restrito e as mulheres não precisavam trabalhar e muito mesmo sair as ruas da cidade, elas apenas eram vistas nos dias de festa. Homens e mulheres ocupavam espaços muito distintos, à semelhança dos deuses Héstia e Hermes. Héstia era relacionada sobretudo com a lareira que existia no centro das casas; e Hermes, o protetor dos mensageiros, estava sempre colocado na soleira das portas, ligado, portanto, ao lado exterior, ao mundo das conquistas, do comércio e do trabalho fora de casa (VAN ACKER, 1994 apud CARDOSO e BRAMBILLA, 2015). Roma possuiu uma forte influência grega, a sua organização familiar também estava sob a autoridade do pai que tinha o poder de vida e de morte sobre os filhos, assim como vendê-los e até mesmo castigá-los com penas corporais, quanto a mulher, esta assumia um papel de submissividade ao homem, com o dever de serviço aos afazeres domésticos e criação dos filhos, não tendo o mesmo direito que o marido e os poderes de decisões que o mesmo possuía, muito menos era permitido que a mulher fosse a provedora do sustento família, algo apenas posto ao homem (OLIVEIRA e SANTANA, 2015), essa definição se assemelha ao que Pizzi (2012) chama desdobramento nuclear tradicional, em que o casal possui uma concepção previamente postas pela sociedade, em que o homem deve responsabilizar-se por sustentar a família economicamente e ser a autoridade principal sobre filhos, quanto a mulher possui as tarefas reprodutivas, tarefas domésticas e a socialização dos filhos com o social. A família romana era formada por um conjunto de pessoas e coisas que estavam submetidas a um chefe: o pater familias. Esta sociedade primitiva era conhecida como a família patriarcal que reunia todos os seus membros 1 Cidades-estados que possibilitaram o desenvolvimento da civilização grega. Cada polis possui uma organização política distinta, mas uniam-se no aspecto cultural, especialmente quanto à língua e costumes. 12 em função do culto religioso, para fins políticos e econômicos (NORONHA e PARRON, s.d., p 3). E mais: É importante destacar que as famílias em tempo passado adotavam como cultura, não propor aos membros qualquer tipo de demonstração de afeto, o autoritarismo é o fator determinante dessa relação, os genitores sobre influência das gerações passadas, acreditavam que conquistava o respeito e admiração dos filhos por meio da submissão, desconheciam que afeto é um fenômeno que fortalece os laços familiares (RIBEIRO, 2018). Para Noronha e Parron (s.d., p 3) a família romana teve o mérito de estruturar, com os seus princípios normativos, a família como se está acostumado. Isto porque até então a família era formada por meio dos costumes, sem regramentos jurídicos. Assim, a base da família passou a ser o casamento, uma vez que somente haveria família caso houvesse casamento. Observa-se, portanto, que a monogamia foi uma construção humana que se deu através do tempo e de maneira bastante morosa. A princípio, não havia a exigência de exclusividade. Ao revés, a promiscuidade predominava nas tribos pré-históricas. Isso demonstra que não só o comportamento humano é mutável, como também nossa moralidade e afeições, tudo consequência da evolução somada à intervenção do meio (CARDOSO e BRAMBILLA, 2015). Oliveira e Santana (2015), destacam que assim como em Roma, via-se que na civilização Babilônica o núcleo familiar tinha como base o casamento monogâmico, a contudo, o marido detinha o direto a uma segunda esposa, caso a primeira estivesse com alguma doença grave ou não pudesse ter filhos, pois a questão de assegurar a linhagem era importante para esta sociedade. Porém, foi na Idade Média que o cristianismo se solidificou e a Igreja Católica regia autoridade sob a sociedade com família como algo sagrado e divino, defendendo o casamento, incumbindo este sacramento como fonte única do surgimento da família., com a ideia da união de sexos opostos para gerar a prole e seus descendentes de direito, algo que se predomina a atualidade e faz de outras formas de família uma estranheza (ALVES, 2014). Comungando deste mesmo julgamento, no tempo do Império somente o casamento católico era reconhecido, pois era essaa religião oficial. Obrigando que apenas poderiam casar-se as pessoas que professassem a religião católica (NORONHA e PARRON, s.d., p 3). 13 1.1.2 A concepção de Família nas civilizações contemporâneas Em um salto histórico, chega-se a um período anterior ao da Revolução Industrial, momento este que as economias giravam em torno do artesanato e da agricultura, junto a uma família que era fomentada por papeis (SOUZA e SILVA, 2016). A autoras ainda destacam que os papeis era definidos para que o homem, pai de família, fosse o responsável pelo sustento da mulher e dos filhos. A mulher, por sua vez, cuidaria do lar e dos filhos, tendo ela um comportamento amável e submisso ao marido. Quanto aos filhos, estes eram auxiliares dos trabalhos agrícolas e as filhas eram educadas, desde a infância, para cuidar da casa e dos irmãos mais novos, este aprendizado iria fazer delas futuras boas senhoras e mães. Ademais, Souza e Silva (2016), declaram que: A família possuía uma composição que configurou um modelo de “Família Nuclear Burguesa”, em que toda e qualquer família, considerada “normal” deveria ter um homem, uma mulher e filhos com os papéis definidos. No imaginário social, a família seria um grupo de indivíduos ligados por laços de sangue e que habitam a mesma casa. Depois da Revolução Industrial essa visão foi se transformando, a agricultura não era mais o ponto central da economia, muitas famílias deixaram os campos agrícolas para viverem nos centros urbanos industriais. O salário oferecido pelas indústrias já não era mais o suficiente para o sustento da família, as mulheres também foram trabalhar, até mesmo as crianças, iniciando assim, a exploração da mão-de- obra de mulheres e crianças. Essas são modificações que configuram a emergência da sociedade urbana industrial. Com a chegada da Revolução Industrial, o meio de sustento deixou de ser o agrícola e as familiar caminharam rumo as cidades para tentar trabalhar nos meios fabris. O ganho não era o necessário para assegurar as necessidades básicas da família e as mulheres saíram do oficio de donas de casa e adentraram em busca de trabalho. Estas mudanças são retratas por Amaral (2011, apud SOUSA e SILVA, 2016) como parte de uma construção social de uma nova visão do que é ser família, mas com traços comuns que não se desgastaram: A família é uma construção social que varia segundo as épocas, permanecendo, no entanto, aquilo que se chama de “sentimento de família”, que se forma a partir de um emaranhado de emoções e ações pessoais, familiares e culturais, compondo o universo do mundo familiar. Entretanto, há dificuldade de se definir família, cujo aspecto vai depender do contexto sociocultural em que a mesma está inserida. 14 Percebe-se que a família contemporânea perdeu essa ligação tão forte com as normativas do âmbito da Igreja Católica e está sendo configurada de outras maneiras, sai um pouco Igreja, entra o Estado, em que junto as famílias devem assumir responsabilidades sobre as criança, adolescente, idosos e portadores de necessidades especiais (SOUZA e SILVA, 2016). Neste interim, Lévi-Strauss (1956, p.309 apud OLIVEIRA, 2009) realça que o casamento monogâmico é considerado instituição digna pelo senso comum, mesmo com diversos tipos de família percebe-se que a família monogâmica nuclear ainda predomina, constituindo-se como uma “união mais ou menos duradoura, socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus filhos, constitui fenômeno universal, presente em todo e qualquer tipo de sociedade”. 1.2 Famílias brasileiras Quanto ao Brasil, o pais esteve em seu período colonial e do império sob a égide de uma cultura católica, em que pregava a família como possível através do casamento, este possuía “três modalidades distintas de casamento: o casamento católico; o casamento misto (católico e acatólicos) e o casamento entre pessoas de seitas dissidentes” (NORONHA e PARRON, s.d., p 4). Dentro das diversas formas de família e sua construção histórica, os vários tipos de família brasileira tem como base laços de sangue ou não, composta por arranjos de famílias nucleares, monoparentais, aquelas em torno de uma figura que não tem companheiro residindo na mesma casa, podendo ou não residir com os filhos; multiparentais em que a paternidade/maternidade do padrasto ou madrasta que ama, cria e cuida de seu enteado(a) como se seu filho fosse, enquanto que ao mesmo tempo o enteado(a) o ama e o (a) tem como pai/mãe, sem que para isso, se desconsidere o pai ou mãe biológicos; família eudemonista em que afeto recíproco, a consideração e o respeito mútuos entre os membros que a compõe, independente do vínculo biológico; homoafetivas que são os casais homossexuais com ou sem crianças; e por fim, a família substituta no qual há colocação de uma criança ou adolescente em família mediante guarda, tutela ou adoção. Com isto, família nuclear já não se configura como único tipo familiar encontrado na esfera da sociedade e como fonte de uma assistência social (CHRISTIANO e NUNES, 2013). http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/tutela.htm http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/adocao.htm 15 Oliveira (2009) realça que mesmo com a existência de novas tipologias de família, como família reestruturada, reconstituída, reorganizada, nova família, “não há um conceito novo de família, pois embutidos na família, existem várias possibilidades de novas configurações, não ficando exclusivamente em um único modelo”. Carnut e Faquim (2014) ressaltam que a família nuclear é a mais aceita pelo senso comum e hegemônica na história brasileira. É composta de um homem e uma mulher que coabitam e mantêm um relacionamento, tendo pelo menos um filho. Outra configuração comum brasileira são os lares monoparentais, em que os filhos vivem com um único genitor. Portanto, na situação contemporânea, não se pode definir um “modelo” de família a ser seguido e uma única forma de trabalho com a mesma, pois ela possui particularidades e diferentes formas de enfrentamento das consequências do processo de produção capitalista e das transformações na sociedade consumista, determinadas pelo próprio sistema de produção que repercuti no consumo, na dinâmica social, comunitária e familiar, na vida e na classe social, que a família está inserida. O desafio das políticas públicas que visa a proteção social é pensar e repensar a família buscando superar velhas ações e concepções centradas na focalização e estratificação da proteção social a partir das famílias (SOUZA e SILVA, 2016). No mais: Na contemporaneidade, a diversidade de questões que envolve a configuração familiar passa muito mais pela constituição de laços afetivos. Dessa forma, não é concebível a rotulação das relações afetivas empreendidas pelas pessoas. Quem poderá dizer que duas pessoas do mesmo sexo que se amam, coabitam, constroem juntas um patrimônio, não são uma família? Um casal heterossexual, que não tenha filhos, também não pode configurar-se como família? A família monoparental, seria de fato uma família? A família não pode ser reduzida a um simples e único modelo, tendo em vista que é composta a partir de seres humanos, com vivências e experiências distintas, com diferentes subjetividades e, por isso mesmo, em constante transformação (SOUZA e SILVA, 2016). Conforme Oliveira (2009) “as novas estruturas familiares colocam os profissionais que trabalham com família e os próprios membros da instituição familiar em busca de novas denominações ou de tentar compreender socialmente tais mudanças”. Segundo Neder (1996) apud Mioto (2004), os assistentes sociais tem a família como objetos de intervenção, sendo eles os são os únicos profissionais que possuem este trabalho desde sua trajetória histórica, ao contrário de outras profissões que não tem o contexto familiar como importantepara seu ofício. Complementando, Iamamoto 16 (1983, apud SOUZA e SILVA 2016) discorre que o trabalho do assistente social no Brasil, está ligado “aos movimentos sociais, cunho político junto as classes subalternas, particularmente junto a família operária. Ou seja, o alvo predominante do exercício profissional é o trabalhador e a sua família, em todos os espaços ocupacionais”. No Brasil, as novas estruturas de parentesco colocam os profissionais que trabalham com família, principalmente os assistentes sociais e os próprios membros a procura de novas denominações ou de tentar compreender socialmente tais mudanças, entender em que ponto sua família se encaixa, coloca-la pertencente ao meio. Dentre o seio familiar ainda incomum para a sociedade, Carnut e Faquim (2014) destacaram as famílias homoafetivas, compostas por um casal do mesmo sexo, também permitindo ser uma multiparentalidade, assim a criança possui duas figuras paternas e/ou maternas, simultaneamente. Para que seja possível esta forma de parentalidade, incluiria nesse conceito a hipótese de adoção homoafetiva, através da qual o adotado passará a ter dois pais ou duas mães. Essas famílias são constituídas por pessoas do mesmo sexo que têm filhos via três caminhos: (a) reconstituição – um dos parceiros traz para a relação homossexual os filhos do casamento anterior; (b) a adoção – legalizada ou não; (c) a co-parentalidade – em que um dos membros do casal gera uma criança com uma pessoa que oferece parceria biológica e o filho passa a fazer parte do núcleo parental do pai ou mãe homossexual (CARNUT e FAQUIM, 2014 p. 65). E mais: Hoje, em virtude da grande metamorfose que está ocorrendo nas configurações familiares, as possibilidades de adoção apresentam-se sob múltiplas formas e em diferentes contextos. Embora a maior demanda ainda seja oriunda de casais jovens com problemas de infertilidade, também casais com filhos biológicos, casais na meia idade, casais homossexuais e pessoas solteiras têm manifestado interesse em constituir ou aumentar a sua família através da adoção (SCHETTINI et al., 2006). Não apenas nos casos de casais homoafetivos, mas de outras maneiras a adoção permite que a criança e o adolescente possam ter seu direito a família garantido. Durante a Convenção Internacional sobre os direitos da criança, adotado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 20 de novembro de 1989, entrando em vigor em 2 de setembro de 1990, sendo ratificado no 17 Brasil em 24 de setembro de 1990 assegurou que o Estado deve respeitar, garantir o bem-estar e os direitos de todas as crianças, independente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política. 1.3 O Estatuto da Criança e Adolescente e o processo de adoção Para Coelho et al. (2012) a Assistência Social no Brasil como meio de intervenção ao Estado iniciou nos anos 1937 e 1942, quando houve a criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) em 1937 e a Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 1942. Outro marco, destacado pelo autores ocorreu na década de 80, período marcado pelo processo de democratização do país com o fim da ditadura civil militar de 1964 e a promulgação da Constituição Federal de 1998, em vigor até hoje, quando a assistência social ganha o status de Política Pública, direito do cidadão e dever do Estado, bem como componente do Sistema de Seguridade Social (BRASIL, 1988, Art. 194). No Artigo 203 da Constituição Federal (1988), a Assistência Social: Busca proteger, amparar e habilitar não qualquer família, idoso, adolescente ou deficiente, mas sim aqueles que sofrem privações de qualquer ordem, incluindo a regulamentação da garantia de transferência de renda em situações particulares de incapacidade de manutenção das condições mínimas de bem-estar, ou seja, de atendimento as suas liberdades substantivas básicas (COELHO, SOUZA, et al., 2012). Para que a lei que visasse o benefício dos menores estivesse nos moldes do que hoje é reconhecido, muito foi criado e modificado. Inicialmente, o Código Civil de 1916 a adoção possuía formas diferentes as quais é de conhecimento atualmente, estava ela com “fortes indícios de resistência e restrições” (BRITO SILVA, 2016). Este Marco civil, Segundo Brito Silva (2016), considera a adoção como uma convenção jurídica bilateral e solene, com a necessidade de escritura e consentimentos das partes, tanto o adotante2 como o adotado. Caso o adotado tivesse menos de 18 anos 2 Aquele que está adotando. 18 deveria ser representado por seis pais, tutor3 ou curador4. Ademais, era possível uma dissolução do vínculo, mediante acordo entre as partes. De acordo o Capítulo V do Código Civil de 1916: Art. 368 - Só os maiores de 50 anos sem prole legítima ou legitimada podem adotar. Art. 369 - O adotante há de ser, pelo menos 18 (dezoito) anos mais velho que o adotado. Art. 370 - Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher. Art. 373 - O adotado, quando menor, ou interdito, poderá desligar-se da adoção no ano imediato ao em que cessar a interdição, ou a menoridade. Art. 374 - Também se dissolve o vínculo da adoção: I - Quando as duas partes convierem. II - Quando o adotado cometer ingratidão contra o adotante. Art. 377 - A adoção produzirá os seus efeitos ainda que sobrevenham filhos ao adotante, salvo se pelo fato do nascimento, ficar provado que o filho estava concebido no momento da adoção. O Código Civil de 1916 foi totalmente revogado, trazia ela uma busca em satisfazer quem adota e não era levado em consideração o melhor interesse da criança ou adolescente. No ano de 1957 com a Lei 3.133/57 mudanças relevantes foram dadas a questão da adoção. Brito Silva (2016) afirma que nesta lei uma das mudanças significativas é que a adoção poderia ser permitida a quem tivesse vontade independente do adotando ser impossibilitado ou não de gerar filhos. Quanto ao adotando, este não entraria na sucessão hereditária. A Lei 3.133/57 tinha entre seus artigos uma nova redação para o código civil, sendo algumas delas: Art. 368. Só os maiores de 30 (trinta) anos podem adotar. Parágrafo único. Ninguém pode adotar, sendo casado, senão decorridos 5 (cinco) anos após o casamento. Art. 369. O adotante há de ser, pelo menos, 16 (dezesseis) anos mais velho que o adotado. Art. 372. Não se pode adotar sem o consentimento do adotado ou de seu representante legal se for incapaz ou nascituro. Art. 377. Quando o adotante tiver filhos legítimos, legitimados ou reconhecidos, a relação de adoção não envolve a de sucessão hereditária. Art. 2º No ato da adoção serão declarados quais os apelidos da família que passará a usar o adotado. 3 aquele a quem é conferido o encargo ou autoridade de alguém, por lei ou testamento, para que proteja, oriente, responsabilize-se e administre os bens uma criança ou de um menor de dezoito anos, que se acham fora do pátrio poder, ou seja, que seus pais tenham falecido ou sido destituídos do poder familiar. 4 Aquele que é encarregado, pela justiça, de cuidar dos interesses das pessoas que estão impedidas de fazê-lo. 19 Parágrafo único. O adotado poderá formar seus apelidos conservando os dos pais de sangue; ou acrescentando os do adotante; ou, ainda, somente os do adotante, com exclusão dos apelidos dos pais de sangue. Foi em 1965 que a Legitimação Adotiva, Lei 4.655/65, foi proposta, esta lei diferenciando-se das anteriores equiparava o filho adotada a um biológico, procurando criar um laço irrevogável e transferindo direitos hereditários à criança, no mais, a criança a ser adotada era de pais desconhecidos ou menores abandonados até os sete anos de idade e esta não teria qualquer ligação com sua família biológica (FREIRE, MARQUES e SILVA, 2013). A Lei 4.655/65 possuía a seguinte redação: Art. 7º A legitimação adotiva é irrevogável,ainda que aos adotantes venham a nascer filhos legítimos, aos quais estão equiparados aos legitimados adotivos, com os mesmos direitos e deveres estabelecidos em lei. Art. 8º A violação do segredo estabelecido neste capítulo, salvo decisão judicial, sujeitará o funcionário responsável às penas do art.325 do Código Penal. Art. 9º O legitimado adotivo tem os mesmos direitos e deveres do filho legítimo, salvo no caso de sucessão, se concorrer com filho legítimo superveniente à adoção (Cód. Civ. § 2º do art. 1.605). Art. 10. A decisão confere o menor o nome do legitimante e pode determinar a modificação do seu prenome, a pedido dos cônjuges. A lei n. 6.697/79, conhecida como o Código de Menores, revogou a lei de 1965. O Código de Menores, os autores Freire, Marques e Silva (2013) asseguram que tratava-se uma “regulação e controle dos então denominados pobres ou considerados em ’situação irregular’, separando sem menor constrangimento os ricos dos pobres, os sem pai nem mãe que viviam nas ruas”. E mais: As crianças e adolescentes consideradas em “situação irregular” eram regidas pelo Código de Menores sendo consideradas como aquelas que praticavam atos infracionais, ou os que não tinham condições de sustento garantidas pela família, vivendo nas ruas. Para FÁVERO (2007) o Código de Menores foi criado a fim de lidar com estas chamadas crianças em situação irregular, aquelas que não vinham de boa família, que viviam na rua, ou aqueles que eram abandonados nas rodas dos expostos (FREIRE, MARQUES e SILVA, 2013). https://jus.com.br/tudo/penas 20 Brito Silva (2016) complementa que o Código de Menores de 79 diferenciou a adoção em duas formas, adoção simples e adoção plena, destinadas àqueles considerados em situação irregular. A adoção simples era deliberada aos menores de 18 anos, com autorização judicial e o adotando a possibilidade de usar o apelido da família que o adotou, que passaria a constar do alvará e da escritura para averbação no registro de nascimento do menor. Para efetivar a adoção simples, era necessário um período de convivência de no máximo um ano entre quem desejava adotar e o menor. Dentre os requisitos para adotar, Brito Silva (2016) frisa que ainda era um forte requisito que os adotantes fossem casados por no mínimo 05 anos (desconsiderado caso fosse comprovado esterilidade pelo marido ou pela esposa) e que um dos cônjuges deveria ter mais de 30 anos de idade. Sobre a adoção plena, a autora explica que era uma forma de adoção mais complexa. Configurava-se com viúvos e a separados possibilitados de adotar uma criança de até 07 anos de idade, podendo adotar acima desta idade caso o adotando já estivesse com a guarda. O grande diferencial nesse tipo de adoção estava na consequência que sentença que deferia a adoção, posto que, tornava sem efeito o registro anterior, como não fazia nenhuma menção à adoção, o nome dos novos pais, como dos novos avós, tanto paternos como maternos, nome e prenome do menor poderiam ser alterados, eram os de real validade, essa adoção era irrevogável, os direitos concedidos a esta criança que agora era adotada eram os menos que os filhos biológicos possuíam, como por exemplo, o direito de sucessão que até então era vetado aos adotados (BRITO SILVA, 2016). A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) disposto pela Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, foi proposto como forma de proteção aos menores, além de ser bem explícito quando considera que toda criança e adolescente tem direito a uma família, e que isto deve ser assegurado pelo Estado e pela própria sociedade. O ECA tem em geral o uso da democracia, buscando a solução das necessidades da população e fundamentado na doutrina da proteção integral (BRASIL, 1990). Embasando esta questão, a Constituição Federal (1988), estabelece: Artigo 226 – A família, a base da sociedade, tem especial proteção do Estado. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.069-1990?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.069-1990?OpenDocument 21 Está explicitado no inciso 8º: O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Artigo 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Dentre os direitos fundamentais contido no ECA, dar-se importância a família. Bolwby (1997), salienta que à convivência familiar é de suma importância para a criança, visto que ela necessita de uma representação que lhe norteei, uma referência para que assim desenvolva sua sociabilidade, determinando todos seus relacionamentos íntimos futuros e por uma necessidade de segurança e apego, instintivos ao ser humano. Contudo, diante da atual situação de vulnerabilidade social ou pessoal em alguns lares é comum um ambiente familiar inóspito, que necessite de estratégias de apoio proporcionando o acesso aos bens e serviços públicos ou de uma mediação no atendimento a elas, com programas que tenham como propostas a manutenção dos vínculos ou procurar uma nova formação, como é o caso da adoção. De acordo com Nery (2010) quando a criança ou adolescente é inserida na medida protetiva, de acordo com o estabelecido pelo ECA (Título II), ficará em situação de abrigamento, podendo ser acolhida por uma instituição, sob guarda de pessoa da própria família (avós, tios etc.) ou de outra família, dependendo dos programas em funcionamento no município. Isto deve ser em caráter de provisoriedade, podendo a criança ou adolescente retornar à família de origem, assim que for superada a situação que gerou o afastamento. Decorrido algum tempo do abrigamento e após estudo aprofundado pela equipe técnica do Judiciário, poderá ser decretada, pelo juiz da Vara da Infância, a destituição do poder familiar ou a destituição dos pais e de seus deveres em relação aos filhos. Ocorrendo a suspensão do poder familiar, a criança ou adolescente deverá permanecer no abrigo, aguardando a possibilidade de adoção por uma nova família (NERY, 2010). O Estatuto da Criança e Adolescente (1990), afirma que a adoção é uma medida excepcional e irrevogável. É excepcional pelo fato que o Estado tem o dever de recorrer a ela apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa (avós, tios, primos), visando atender seus diretos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à 22 profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a uma convivência familiar e comunitária. É irrevogável por assegurar que nos meios legais a criança não retornará a sua família natural ficando permanentemente com a família que a adotou (BRASIL, 1990). Art. 19 – Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária Art. 20 – Os filhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (BRASIL, 1990). Entende-se como criança a pessoa que possui doze anos incompletos e adolescente entre doze e dezoito anos, tendo com os pais, o seu poder familiar, que é um conjunto de direitos e obrigações para atender ao seu melhor interesse. Portanto, seus responsáveis deverão cumpri-los, sob as penas da lei, entre elas, a própriaperda ou suspensão de seu poder. Cabe destacar que adoção tardia é a adoção de crianças maiores de 2 anos de idade. Em 2009, o Estatuto da Criança e Adolescente recebeu modificações algumas delas no que tratava dos procedimentos de adoção. Conforme Rampazzo e Mative (2010), as alterações tinham o propósito de garantir que as crianças e adolescentes tenham o direito de conviver com seus familiares e em comunidade, e a adoção como excepcional, sendo possível apenas quando forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família natural seja mantida, pois, a adoção precisa ser analisada, devendo ser uma decisão concreta e objetiva e sendo uma medida adotada em último caso, pois a família será o exemplo e espelho para o desenvolvimento social desta criança ou adolescente (RAMPAZZO e MATIVE, 2010). Dentre as alterações, destacou-se, sobre a oitiva do adotando: Art.28 A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. § 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. 23 Quanto a grupos de irmãos, as modificações visão favorecer a não separação dos irmãos e o privilégio a fatores de parentesco, para assim, a criança ou adolescente não tenha prejuízos em sua formação, pois prega-se a manutenção do infante no seu meio familiar natural: § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. § 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. Estágio de convivência é o período de adaptação do adotado ao adotante, neste período os pretendentes são acompanhados pela Equipe Técnica do Juizado da Infância, que mediante relatório emitido ao Juiz da Vara da Infância e Juventude posiciona-se a respeito do vínculo criado ou não. O período de Estágio de Convivência é de no mínimo 30 dias: Art. 46 A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. § 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a convivência da constituição do vínculo. § 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência. § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo 30 (trinta) dias. § 4º O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da convivência do deferimento da medida. Rampazzo e Mative (2010) argumentam que o papel do assistente social nos casos de adoção é de oferecer suporte à família que pretendente adotar, neste meio tempo o profissional auxilia e orienta os habilitados a respeito dos trâmites legais do 24 processo. Além do mais, o assistente social é responsável por encaminhar os interessados em adotar aos chamados grupos de adoção, locais que acontecem encontros e reuniões com pessoas que já passaram ou estão passando pelo processo de adoção. As autoras também abordam que o assistente social poderá indicar filmes ou livros sobre o tema, para que possam estar mais informados. Durante os tramites da adoção é realizado um relatório psicossocial pelos assistentes sociais e psicólogos do Juizado. Este estudo é uma avaliação dos pretendentes, aferindo se a família está apta a assumir os cuidados de um filho, o profissional irá aproximar-se da vida pessoal dos adotantes, conhecendo as suas histórias de vida, a dinâmica familiar e contexto social que estão inseridos. Os aspectos a serem observados são: a composição familiar e os membros que dela fazem parte, a aceitação desses membros, a relação com o adotado e sua nova família, se já possui histórico de adoção na família, se todos estão de acordo com a intenção da adoção e identificar em sua família quais são seus valores e conceitos. Outro fator importante é a condição sócio econômica em que o interessado se encontra, se possui emprego, sua situação habitacional, para que com isso possa ser avaliado se o adotante possui condições de suprir as necessidades básicas da criança (alimentação, saúde, educação, lazer, esporte, entre outros). O fator motivação é fundamental e deverá ser observado criteriosamente pelo técnico. O assistente social possui o papel de orientar as famílias no que se refere a criança pretendida, buscando formas para expor aos interessados a situação da adoção referente a criança desejada a sua cor de pela idade, gênero. Principalmente orientá-los no que se refere à adoção tardia, devendo considerar o contexto social em que estava inserida e situações de violência doméstica que eventualmente tenha vivenciado (RAMPAZZO e MATIVE, 2010). Após esta avaliação o próximo passo é a inscrição no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), onde serão vinculados a uma criação de seu perfil desejado. 1.3.1 Adoção Meira (2017) enfatiza que historicamente a adoção no Brasil, traz consigo o abandono e a exclusão, em sua maioria de crianças pobres, deixadas em ruas, calçadas, florestas, quando não, eram assassinadas. Como uma forma de lidar com essa realidade do abandono e tentar acolher as crianças, foi criada a Roda dos Expostas ou Roda dos Enjeitados, criada em 1726. A Roda dos Expostos era um cilindro, instalado verticalmente, em uma janela da parede externa, com uma abertura onde o recém-nascido era abandonado, girando-o para dentro, por meio de um eixo 25 perpendicular e tocando um sino. Era dividida em quatro partes triangulares, uma das quais se abria sempre o lado externo. (SIMÕES, 2014, pg. 221 apud MEIRA, 2017). Comumente eram instaladas em conventos, Santas Casas, hospitais para receberem recém-nascidos sem qualquer identificação civil (FONSECA 2006 apud MEIRA, 2017), a roda foi a primeira política de acolhimento estabelecida pelo governo junto as Santas Casas de Misericórdias. A Roda dos expostos, de certo modo, tinha como fator “positivo” a ação ser feita de forma anônima, sem precisar apresentar-se a alguma autoridade isto estimulava as mães deixarem seus filhos recém-nascidos na roda. Como não existia a legitimação da adoção, as mulheres abandonavam seus filhos. Essas rodas, inicialmente, foram criadas para aquelas mães pobres para que não abandonassem os filhos na rua, entretanto a Roda também era utilizada por 14 mulheres brancas e de alto nível que, segundo Motta (2008, p.54), “enjeitavam os filhos num gesto que resultavada condenação moral frente a amores considerados ilícitos”. Muitas das mães que tinham filhos bastardos dos homens ricos e que não podiam expor esta condição deixavam os filhos ali. Outro fator que influenciava na utilização das rodas para abandono de crianças era o da vergonha de ser mãe solteira, o que era inaceitável para aquele período histórico (MEIRA, 2017). Meira (2017), acrescenta: A Roda dos Expostos sempre esteve vinculada a uma condição de pobreza, pois na época a população economicamente carente ficava ao cuidado da Igreja Católica, e as Santas Casas de Misericórdias eram instituições vinculadas a Igreja. Para Weber (1998) o sistema de rodas no Brasil, era um mecanismo oficial para transformar as crianças abandonadas em filhos do Estado. Atualmente não existe mais Rodas dos Expostos em nosso país. Em contrapartida nos deparamos com a institucionalização de crianças e adolescentes “abandonadas” pela sociedade, fator que também nos aponta para desigualdade social existente em nosso país. As rodas foram extintas no Brasil em 1950, vale aqui ressaltar que o Brasil foi o último país do mundo a extinguir as rodas e teve seu debate iniciado em 1944, sendo decretado o seu fim em 1948. Percebe-se, assim como Weber (1998) afirma, que a criança tinha pouca ou nenhuma importância no quesito social, “em praticamente todas as sociedades, o abandono ou exposição de crianças e, mesmo o infanticídio, eram práticas comuns”. A adoção faz parte da história da humanidade a bastante tempo, Weber (1996) afirma que com o intuito de simplesmente dar continuidade familiar podia-se haver substituição do marido por um parente em caso de impotência do primeiro, permitindo aferir que em suas origens históricas a adoção visava exclusivamente os interesses 26 dos adotantes, aquele que adota; não dando devido valor no que importa ao adotando, o que é adotado. O ato de adotar pode ser vivenciado por casais heterossexuais e homossexuais, ou por solteiros, sendo sempre um desafio, pois acolhe-se e aceita um outro em sua integridade, com sua beleza e originalidade, mas também com suas dificuldades e limitações (CAMPOS, 2016). Lidia Weber (1996) realizou uma pesquisa sobre a adoção no Brasil, os resultados mostraram o perfil dos pais adotivos. Nele verificou-se que 91% dos que adotam são casados, na média de idade de 40 anos, sendo que 55% não possuem filhos naturais. A maior parte dos casais pertencem a classes sociais média alta e realizam a adoção seguindo os trâmites legais, ou seja, por meio dos Juizados da Infância e da Juventude; enquanto que os de classes menos privilegiadas realizam as adoções dentro do modelo intitulado adoção à brasileira, quando os pais substitutos registram em cartório como se fosse seu um filho que sabe ser de outra pessoa. Na mesma pesquisa, Weber (1996) categoriza que 76% do perfil das crianças que mais interessam aos casais correspondem àquelas cujo estado de saúde é avaliado como saudável, sendo que a preferência aponta para as recém-nascidas, os 69% dos bebês que têm até 3 meses de idade. Quanto ao sexo, as preferências são por meninas, compreendendo 60%, e de pele clara, 64%. As crianças que despertam menos interesse nos requerentes à adoção, são as que possuem em média 2 anos, com índice de 16,66%. Também configuram crianças com mais dificuldades em serem filiadas as de cor negra ou parda, englobando 36%, e as que possuem alguma deficiência ou problema de saúde, totalizando 23,15%. Recém-nascidas são as mais procuradas, o que permite destacar que os meninos e principalmente as crianças pardas, mais ainda as negras, são em maiores números em instituições de acolhimento do que as crianças brancas, logo, têm menos chances de serem adotadas e terem o seu direito à família suprido. Assim, permanecem por mais tempo em instituições de acolhimento. Segundo Camargo (2005) a justificativa para a preferência por bebes recém-nascidos é pelo fato de os pais acreditarem que será possível uma melhor adaptação da criança em relação a eles e a família extensa, uma solidificada relação de vínculos efetivos parentais para apagar as marcas da rejeição e abandono dos pais biológicos, acompanhamento do desenvolvimento e de sua educação. Destacou também, que o desejo por neonatos possibilita a construção de uma história e assim caso seja opção da família adotiva, 27 manter-se em segredo as origens do adotando, o que não se é indicado. 1.3.2 Adoção tardia Para Vargas (1998) as crianças consideradas mais velhas para a adoção foram as abandonadas tardiamente pelas mães, que por circunstâncias pessoais, psicológicas ou socioeconômicas, não puderam manter a criança consigo ou estas crianças foram retiradas dos pais pelo poder judiciário, que os julgou incapazes de mantê-las em seu poder, ou, ainda, foram “esquecidas” pelo Estado desde muito pequenas em orfanatos. Logo, em casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente deverão obrigatoriamente ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais (BRASIL, 1990). A criança e adolescente reside no acolhimento por um tempo provisório e há a possibilidade de retorno à família de origem, assim que for sanada a situação que gerou o afastamento. Decorrido algum tempo do abrigamento e após estudo aprofundado pela equipe técnica do Judiciário, poderá ser decretada, pelo juiz da Vara da Infância, a Destituição do Poder Familiar (DPF), que consiste na suspensão definitiva dos pais e de seus deveres em relação aos filhos. Ocorrendo a suspensão do poder familiar, a criança ou adolescente deverá permanecer no abrigo, aguardando a possibilidade de adoção por uma nova família. A adoção tardia, em alguns casos, é marcada de desafios que cercam a vinculação dos pretendentes a pais com a criança. Dentre as dificuldades deste processo, ressalta-se a criança já possuir conceitos e posturas pré-definidas, uma bagagem emocional carregada de sentimentos e sensações e até o receio de ser novamente abandonada, o que pode vir a gerar agressividade, contribuindo para conflitos durante a rotina familiar. Na adoção tardia, o desafio tende a ser maior, pois é comum que a criança ou adolescente tenham sinais de agressividade, emoções ambivalentes, imaturidade, frutos do conhecimento de sua história, das vivências em instituições de acolhimento e do receio de novamente ser abandonada pela família substituta. Como citado por Campos (2016): 28 Adotar uma criança maior, muitas vezes, se reveste de uma complexidade ou desafio maior porque nos relacionamos com alguém que não foi por nós “criado”, “moldado”, como se acredita que os filhos são ou devem ser pelos pais. Entretanto, nos esquecemos de que, na maior parte das nossas relações pela vida com os colegas de escola ou trabalho, namorado(a), marido ou esposa, nos relacionamos com outros “moldados” e “criados” por outros. E nem por isso essas relações são menos prazerosas ou significativas. O diferente, muitas vezes, assusta, mas sempre nos enriquece. Frisa-se que adotantes devem perceber se realmente querem e estão dispostos a enfrentar os percalços que existirão, permitir que novos ensinamentos em relação a como cuidar de um filho sejam aceitos, pois nunca se está inteiramente preparado, nem nunca se está totalmente pronto para serem pais; além disto, entender que a construção do vínculo e de uma relação saudável entre pais e filhos depende da convivência, com a criação de afeto e respeito mútuos. Estabelecer este vínculo e consolidá-lo é uma conquista mútua diária com momentos muito prazerosos e outros não tanto. Caberá aos pais adotivos saberem lidar com o histórico de vida do filho, respeitando sua origem e identidade, inclusive o nome. No estudosocial é significante identificar no pretendente à adoção sua disponibilidade e interesse em buscar orientações e ajudas externas, isso no que se refere à rede de atendimento: saúde, educação, habitação, entre outros (RAMPAZZO e MATIVE, 2010). Campo (2016) ressalta que é fundamental manter a esperança e a perseverança nos momentos agudos de crise. A cada etapa da vida das crianças novas exigências são formuladas necessitando de novos modos de relacionamento a serem constituídos. Facilita o limar deste desafio buscar formas de auxílio, como compartilhar experiências em grupos de apoio à adoção, assim como, também procurar ajuda especializada, profissional e fazer leituras sobre o tema. “Nessa perspectiva, a adoção tem dupla finalidade: permitir que a criança encontre uma nova família e um ambiente satisfatório para o seu desenvolvimento e possibilitar aos pais o exercício da paternidade” (SCHETTINI et al., 2006). 29 Capitulo 2: Diferenças entre os tipos de adoção e o papel do assistente social nestes processos Há diversos tipos de adoção e se faz importante dar destaque a cada um deles para que se tenha ciência do papel do assistente social nestes processos. Para Moreira (2011) a adoção está ligada com as noções de afeto e a necessidade de ter uma filiação para poder constituir a família que o senso comum está acostumado. O caráter de irrevogabilidade da adoção traz a importância do processo e como os operadores do Direito e a equipe do Juizado da Infância e da Juventude têm o papel estruturar um processo que vise o melhor interesse da criança e que a adoção a ser realizada possa trazer benefícios e atender aos direitos da crianças que estão constituídas no Estatuto da Criança e do Adolescente. 2.1 Adoção a brasileira A roda dos expostos foi de certo modo marco inicial para a adoção no Brasil, mas foi sendo extinta, pois a adoção passou a ser tratada como uma questão jurídica e com um trâmite bem pontuados pelo Estatuto da Criança e Adolescente. Contudo, como destaca Moreira (2011), a motivação pra se constituir uma família fazia com que principalmente, antes da década de 80, um casal registrasse uma criança como sua, sem muitas perguntas ou exigências de documentos, ou seja, o cartório não indagava e nem exigia comprovações que aqueles que ali estavam eram realmente pais da criança a ser registrada. Este tipo de faceta passou a ser conhecida como “adoção a brasileira”. Trata-se de assumir uma criança sendo está entregue pelos pais biológicos ou não, como sua, sem passar pelos trâmites legais, registrando-a como filho, burlando assim os processos legais de adoção, eles desconhecem o programa da justiça e depois buscam o juizado para “oficializar” a adoção (ELIAS, 1994 apud ARAÚJO MONTE, 2014). 30 Esta forma irregular de adoção era facilitada pela não exigência de declarações e as pessoas costumavam utilizar documentos falsos oriundos da maternidade ou hospitais para subsidiar o delito, fugindo da burocracia do processo legal de adoção. Relembra-se que durante o século XVI as crianças adotadas desta forma passavam a ser tidas como empregadas da casa ou servir como companhia (ARAÚJO MONTE, 2014). Este tipo de adoção é ilegal por pular etapas de um processo já estruturado. É um ato que prever crime pelo código penal, contudo, mesmo sendo um crime de falsidade ideológica para a esfera criminal, aqueles que realizam este ato são, em sua maioria, absolvidos pois o juiz acaba julgando o ato como algo nobre realizado pelo casal (MOREIRA, 2011). A linha evolutiva do direito de família é consubstanciada pelo afeto enquanto valor jurídico e, portanto, como mola impulsionadora para fundamentar e até mesmo justificar um ato que em princípio colida com a lei, como é a hipótese da adoção à brasileira, mas que o tempo solidifica uma realidade fática baseada no sentimento e no amor. E é esta realidade que motiva o ser humano em sua vida e em sociedade (MOREIRA, 2011). Para Moreira (2011), aqueles que recorrem a esse tipo de adoção trazem a justificativa de que através dela se permite aproveitar as etapas de desenvolvimento de um bebê, além de que há a possibilidade da criança não ter lembranças de sua família de biológica, “se oculta a real origem da criança e ao mesmo tempo se mostra à sociedade uma gestação virtual, como se o adotado realmente tivesse nascido daquele núcleo familiar”. A nomenclatura para esse tipo de adoção é fazendo uma analogia ao chamado “jeitinho brasileiro”, conhecido como uma forma comum dos brasileiros buscar atos que o permitam tirar vantagem sobre as situações, “se trata de uma prática muito comum no Brasil, completamente à margem da lei, mas totalmente integrada aos nossos costumes e valores – em especial nas classes populares” (DOMINGOS ABREU apud ARAÚJO MONTE, 2014). Ehrlich (1986) apud Araujo Monte (2014), caracteriza tipos de pessoas, no ponto de vista psicológico, que realizam adoção a brasileira. O autor salienta que, em sua maioria, as pessoas que adotam desta maneira temem a demora na fila da adoção, incerteza se o Poder Judiciário aceitará seu pedido para habilitar-se ou colocar objeções por motivos como falta de recursos financeiros, anomalias psíquicas, inadequação para os cuidados de uma criança etc., 31 acreditam que iram perder tempo no Cadastro Único de Adoção podendo já está com um filho, a possibilidade de não vincular-se ao perfil da criança desejada, o receio de envelhecer sem filhos e ou está velho demais para ter filhos. E reforça a ideia de que a adoção é um processo lento e burocrático, e com a adoção à brasileira tudo se torna mais “fácil para as crianças” principalmente para os pais, que diminuiria o tempo de espera para ambos, mas deve-se lembrar de que adoção não é sinônimo de benesse e que há um fila de pais, que aguardam ansiosamente por essas crianças, o que acaba os desanimando e rendendo-se também à adoção à brasileira, fora o perfil de pais que buscam normalmente essa adoção ( ARAÚJO MONTE, 2014). Em contraponto as características psicológicas para realizar uma adoção tarda, Felipe (2006) apud Araujo Monte (2014) ressalta que há uma perfil social semelhante entre os “adotantes”, sendo eles de uma classe média, com idade de 40 a 50 anos, não residem na região do cartório em que registraram ilegalmente a criança, sendo estes cartórios, em geral, nos interiores dos estados, justificam o ato expondo que a criança necessita de benefícios que registrada possui acesso e buscam prioritariamente recém-nascidos. Segundo Moreira (2011), a adoção a brasileira, em sua maioria: Esconde desinformação, o medo de a mãe de ser presa ao abrir mão de um filho e a do postulante de enfrentar longa espera na Justiça. Mas, entre os especialistas, existe também a preocupação de que o esquema possa esconder pressão sobre a mãe biológica, chantagem contra o casal e até a compra e venda de uma criança. Por outro lado, Araujo Monte (2014) destaca que os pais que adotam através da adoção brasileira nem em todas as vezes estão incumbidos de realizar um gesto nobre, estão interessados de suprir com suas necessidades seja de mostrar a sociedade que possuem uma família tradicional, seja com a questão de ter uma criança que possa no futuro servir de companhia ou cuidadora na velhice. A autora também realça que esses pais não podem ser considerados como delinquentes, mas como uma saída para crianças que até então não possuem expectativa de futuro em uma sociedade que não se importa com elas. Tal qual Moreira (2011), existem situações que o gesto admirável se transforma em uma relação de “faz-de-contas”, acreditando que o que vive é real, mas não passa 32 de uma história contada da forma que os pais desejam, montando e desmontado um cenário de uma geração e nascimento que não existiu como foi retratada.Como num reality show em que tudo é falso, menos os participantes, os “pais” são impostos ao jovem como sendo o grupo familiar. Como que apagando todas as pegadas feitas num solo arenoso que foram deixadas para trás, os indivíduos praticantes da “adoção à brasileira” procuram esconder do petiz sua real origem, evitando ao máximo expô-lo aos verdadeiros genitores. A criança não pode ser criada num ambiente de “faz-de-conta”, em uma montagem que no futuro virá somente em prejuízo em seu desenvolvimento. A mentira gera a mentira (MOREIRA, 2011). De acordo com Moreira (2011), há a possibilidade de regularização de uma adoção a brasileira, para isso os pais devem procurar a justiça através de um advogado, entrando com um processo no Juizado da Infância e da Juventude. Neste momento haverá entrevistas e audiência com os pais adotivos e biológicos, estes devem expressar a concordância com a ação. O assistente social, conforme Araujo Monte (2014), precisa acompanhar o processo juntamente com a equipe especializada, para garantir que todas as partes envolvidas estejam com seus direitos garantidos, principalmente o melhor interesse da criança. O profissional deve trabalhar com estes casos de forma ética, importar-se com a proteção do menor, sua segurança e o cuidado para que situação não cause danos ao infante. “É necessário dar maior atenção aos casos, às denúncias e observar com mais vigor, para que não ocorram mais casos” (ARAUJO MONTE, 2014). 2.2 Adoção intuitu personae A adoção nomeada de intuitu personae é uma das modalidades da adoção que comumente é realizada no Brasil, se resguardando por brechas do próprio Estatuto da Criança e Adolescente. Oliveira e Santos (2017) explicam que a palavra intuitu personae deriva do latim e tem o significado literal de “consideração à pessoa”. Apesar de uma forma de adoção que diverge do que é constituído por lei, a adoção intuitu personae é realizada ao longo dos anos, pois era comum que os pais biológico escolhessem quem desejavam que cuidasse de seus filhos. Acredita-se que os motivos deste tipo de adoção tenham colaborado para a criação de leis que regulamente a adoção no Brasil, pois, maioria dos casos, fatores financeiros e emocionais contribuem para este ato (OLIVEIRA e SANTOS, 2017). 33 Contribuindo, Pádua e Marques (2015), afirmam que pelo receio de um ato ilegal pouco se é sabido sobre a adoção intuitu personae. Bordallo apud Pádua e Marques (2015) explica que este tipo de adoção se sucede com uma intervenção dos pais biológicos que escolherão que família ficará com seu filho, isto sem interposição e conhecimento do Poder Judiciário, entrando em posteriori com o pedido de adoção. Toda a situação de escolha e entrega da criança aos pais socioafetivos se dá sem qualquer intervenção das pessoas que compõem o sistema de justiça da infância e juventude. O contato entre a mãe biológica e as pessoas desejosas em adotar se dá, de regra, durante a gestação, sendo o contato mantido durante todo o período, em que existe a prestação de auxílios à gestante. Com o nascimento da criança, esta é entregue à família substituta (BORDALLO, 2013 apud PÁDUA E MARQUES, 2015). Outra importante definição é tida por Kusano apud Oliveira e Santos (2017): Adoção intuitu personae é aquela em que a mãe (geralmente; ou também o pai, se conhecido) manifesta a vontade de disponibilizar o filho para à adoção e, sem que tenha havido a suspensão ou a perda do poder familiar, indica, fundamentadamente, pessoa determinada para ser o adotante, antes que este tenha convivido com o adotante e, por isso, ainda não criado o vínculo de afeto (não se trata, pois, de regularizar situação fática anterior), desnecessário que o indicado esteja previamente inscrito no cadastro de adotantes. Segundo Pádua e Marques (2015), existem fatores que contribuem pra que se realize uma adoção intuitu personae, destacam que seja por encontra uma criança abandonada ou trabalhar em algum ambiente voluntário ou instituição de abrigo e de certa forma acaba por criar vínculos com determinada criança ou mesmo pela mãe que não tem condições de sustento e de dar uma criação digna para o filho escolhe quem melhor pode ofertar um futuro a criança, mas isto não é reconhecido como um direito a mãe, cabendo um processo jurídico para isso. Sobre a entrega de um filho a determinada pessoa fugindo do aspecto legal, Dias apud Pádua e Marques (2015), destaca: E nada, absolutamente nada, deveria impedir a mãe de escolher a quem entregar o seu filho. Às vezes é a patroa, às vezes uma vizinha, em outros casos é um casal de amigos, que têm certa maneira de ver a vida, ou uma retidão de caráter, que a mãe acha que seriam os pais ideais para o seu filho. Basta lembrar que a lei assegura aos pais o direito de nomear tutor ao filho. E, se há a possibilidade de eleger quem vai ficar com o filho depois da morte, não se justifica negar o direito de escolha de a quem dar em adoção. Aliás, não se pode olvidar que o encaminhamento de crianças à adoção requer o consentimento dos genitores. 34 Para Goulart Filho (2012) há uma resistência a este tipo de adoção e se faz por conta de anseios que estão deste o medo de um tráfico de crianças por parte daqueles que estão querendo adotar, há uma forma de comércio, em que os genitores entregam o filho e dizem favoráveis a adoção mediante pagamento. A nova Lei de Adoção de 2009 tende a prepara uma melhor análise de tais questões. A nova lei endossa uma possibilidade de retirada da criança da família substituta e que seja devidamente adotada por quem está na fila, uma forma fria de pôr a lei em prática e não objetivando assegurar o melhor para a criança. Deste modo, um outro lado deve ser considerado, pois não há garantia que o habilitado que está na fila do Cadastro Único de Adoção seja a pessoa ou o casal mais indicado para aquela criança como a família a qual está estava pertencendo. E mais: É importante a participação dos pais biológicos no destino dos filhos que entregam à adoção, é singular quando os pais biológicos nutrem relações de respeito, estima, consideração e, sobremodo, confiança em relação às pessoas por eles escolhidas para amar, criar e educar o filho dado em adoção. A entrega à adoção não é como um abandono, mas como um ato de paternidade responsável dos pais que não se veem em condições de criarem seus filhos, esta é uma importante diretriz para a adoção intuitu personae (COELHO apud GOULART FILHO, 2012). Percebe-se que este tipo de adoção não está nos moldes que o ECA adota como forma de subsidiar um processo legal de adoção. Há uma lacuna no Estatuto e a adoção intuitu personae vale-se dela, na lei não se tem uma regulamentação a este ato, como também não há explicitamente uma vedação para que este tipo de adoção ocorra. A Lei Nacional de Adoção, Lei n. 12.010 de 2009, possui o seguinte parágrafo: § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando: I - se tratar de pedido de adoção unilateral; II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. Desta forma, utiliza-se do princípio do melhor interesse da criança e a adoção é devidamente configurada. Importante ressaltar que para Kusano apud Goulart Filho 35 (2012), há um tipo de adoção que se difere da adoção intuitu personae, a adoção pronta, sendo está uma “resposta” ao que é trazido com a nova lei da adoção. A adoção prontaocorre quando as pessoas recebem a criança e permanecem com ela até que cumpra o tempo designado por lei (3 anos) para que tenha uma vinculação afetiva entre os adotantes e o adotado e só depois leva-se o caso para o Poder Judiciário para regularização. Para Granato (2010 apud OLIVEIRA e SANTOS, 2017, p. 54) de certa forma a nova lei “veio impossibilitar a adoção intuitu personae, em relação a crianças com menos de três anos de idade” e trazendo mais casos de adoções prontas. Para a regularização da adoção intuito personae, Pádua e Marques (2015), afirmam que os mesmos requisitos que são utilizados em uma adoção pelo cadastro devem ser obedecidos neste tipo de modalidade de adoção. Os pais adotivos devem comprovar sua idoneidade, possuir motivos genuínos, mostrar as reais vantagens principalmente para a criança e realizar um período de estágio de conivência, para que a equipe designada pela Vara da Infância e Adolescência possa realizar uma avaliação acerca do convívio e vinculação das partes. Para a equipe interprofissional composta de psicólogos e assistentes sociais, em caso de adoções intuitu personae a avaliação são mais detalhadas e com atenção a cada motivação, deve subsidiar a decisão do Juiz levando em conta se há ausência ou não de má-fé para que o casal tenha realizado esta adoção. O profissional deve observar até que ponto aquele deferimento suprirá os interesses do adotando, existência de laços de afinidade e afetividade e se as intenções são realmente genuínas. 2.3 Adoção através do Cadastro Único de Adoção De acordo com Junqueira e Serres (2010 apud QUEIROZ e BRITO, 2013, p. 58), adotar alguém ainda causa estranhamento, pois a ação está envolta a mitos, com crenças que a justiça é lenta e com um excesso de burocracias, e adotar uma criança é está protegendo as famílias pobres e desestruturadas que deveriam ser assistidas pelo Estado. Esquecendo que o ato de adotar é uma busca de novas garantias par o direito de uma criança ou adolescente de ter uma convivência familiar sadia. 36 As outras formas de adoção são realizadas através do cadastro único de adoção, sendo elas a adoção de bebes e a considerada adoção tardia, já discutidas. É importante destacar que a diferença existente destas adoções é principalmente pelo cunho cultural. O cadastro permite que os pretendentes sejam vinculados a criança que esteja no perfil desejado. Para que se tenha um registro quanto o número de pretendes e crianças cadastras e as ações que acontecem durante o processo, a Corregedoria Nacional de Justiça disponibiliza relatórios a respeito da situação das partes envolvidas no processo. Os dados a seguir são para embasar a situação existente no Cadastro Único de Adoção e servem como informativo acerca do histórico dos pretendestes e crianças e adolescentes que estão cadastrados, disponíveis e vinculados até o momento da pesquisa. Tabela 1: Relatório pretendentes por estado brasileiro. REGIÃO CADASTRADOS % DISPONÍVEIS % VINCULADOS % Norte 1601 3,47% 1452 3,41% 149 4,13% Centro-oeste 3596 7,79% 3294 7,74% 302 8,37% Sudeste 22278 48,31% 20694 48,68% 1584 43,95% Sul 12347 26,77% 11262 26,49% 1085 30,10% Nordeste 6291 13,64% 5807 13,66% 484 13,42% Total 46113 42509 3604 FONTE: Corregedoria Nacional de Justiça (2019). Relacionado ao número de pretendentes, os dados presentes na tabela 1 mostram como há mais habilitados na fila da adoção do que crianças disponíveis para adotar. Existem 42509 candidatos a futuros pais para apenas 4957 crianças disponíveis, uma margem de 8 pais para uma criança, contudo, essa relação também elenca adolescentes e crianças acima da idade que é mais escolhida pelos pretendentes. Confere-se que na tabela 1, a região Sudeste é a que possui o maior número de habilitados cadastrados, disponíveis e vinculados, até o momento da pesquisa, sendo o percentual quase metade do total, seguida pela região Sul com quase 30% 37 do geral de cadastrados. A região norte é onde encontram-se os estados com menor número de pretendentes nas situações apresentadas. Para a cartilha do CNJ (2013), desenvolvida para analisar os dados dos relatórios, o motivo para que as regiões Sudeste e sul tenham um número bem superior de cadastrados é por estas regiões possuírem 39 municípios com grandes capitais regionais com apenas 17,7% de área do território nacional, enquanto o restante do pais há somente 15 municípios com cidades influentes. As regiões constituídas por fluxos migratórios e imigratórios mais intensos, com uma identidade consolidada há décadas, com municípios bem distribuídos espacialmente e que exercem o papel de capital regional em várias regiões da malha geográfica de um estado, sugerem a formação de traços culturais mais habituados à diversidade (CNJ, 2013). Assim, a cartilha aponta que possivelmente a grande maioria dos castrados são residentes destas cidades plurais e diversificadas. Tabela 2: Relatório de crianças e adolescentes no CNA por estado brasileiro. REGIÃO CADASTRADAS % DISPONÍVEIS % VINCULADAS % Norte 402 4,18% 189 3,81% 213 4,58% Centro-oeste 833 8,67% 424 8,55% 409 8,81% Sudeste 4198 43,73% 2260 45,59% 1938 41,75% Sul 2770 28,86% 1340 27,03% 1430 30,81% Nordeste 1395 14,53% 744 15% 651 14,02% Total 9598 4957 4641 FONTE: Corregedoria Nacional de Justiça (2019). Na tabela 2 percebe-se que a região Sudeste, novamente, é a que possui maior número de crianças cadastradas, disponíveis e consequentemente, vinculadas; seguida pela região Sul do país. Os números também apontam como uma região que tem o percentual menor em relação as crianças é a região Norte. O relatório apresenta dados são de relevância. A tabela 3 destaca o sexo das crianças que estão no cadastro e como é possível notar, o número de crianças ou adolescentes do sexo masculino cadastradas é maior que do sexo feminino, mesmo com este sendo o sexo de perfil mais desejado entre os pretendentes, como uma diferença de 124 vinculações de meninos para meninas. Além disso, a tabela 3 traz 38 informações a respeito do número de gémeos existentes no sistema, mostrando que uma pequena parcela, 3,01%, são de gêmeos e dos 289 cadastrados, somente 148 foram vinculados. Tabela 3: Relatório do sexo das crianças e adolescentes no CNA. SEXO CADASTRADA S % DISPONÍVEIS % VINCULADAS % Feminino 4507 47% 2249 45.43 % 2258 48.66 % Masculino 5083 53% 2701 54.57 % 2382 51.34 % Gêmeos 289 3.01 141 2.85% 148 3.19% FONTE: Corregedoria Nacional de Justiça (2019). A cartilha do CNJ (2013) traz ressalvas, afirmam que nas regiões brasileiras o sexo da criança é um fator importante para a escolha do perfil de adotante desejado, dentre as regiões, o percentual é pequeno como mostrando na tabela 3. No mais, há regiões que os pretendentes preferem adotar uma criança do sexo feminino (Regiões Norte e Sul) e outras com preferência pra o sexo masculino (Região Nordeste) e as demais regiões que são indiferentes quanto ao sexo, conforme dados da cartilha da Corregedoria Nacional de Justiça (2013). Outra informação levantada através do relatório da CNJ é quanto o número de criança acometidas com alguma doença e da possibilidade de estas serem também adotas, mesmo que sendo em menor ocorrência, como se confere na tabela 4. Em que as crianças cadastradas com algum tipo de patologia, percebe-se que 1250 doenças foram detectadas e serão repassadas o seu diagnóstico para os pretendentes. Tabela 4: Relatório das doenças das crianças e adolescentes no CNA. DOENÇA CADASTRADAS % DISPONÍVEIS % VINCULADAS % HIV 82 0.85% 38 0.77% 44 0.95% 39 Deficiência física 327 3.41% 276 5.57% 51 1.1% Deficiência mental 797 8.31% 698 14.1% 99 2.13% Doença detectada 1250 13.03% 755 15.25% 495 10.67% Doença
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