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SOCIOLOGIA JURÍDICA - SEGUNDA PARTE (CLAUDIA ALBAGLI)

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1 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
O direito tem uma pretensão de controle, mas, não há 
nada que garante que ele vai efetivar isso. Nós temos 
inúmeros problemas na nossa convivência social e 
principalmente pela ausência de controle social. 
Chamamos de controle social todos os mecanismos 
tendentes a mudar o comportamento para uma vida 
em sociedade. Muitas vezes nem percebemos essa 
esfera de controle ou não as reconhece como tal. 
Muitas questões sobre o nosso comportamento 
decorrem desses mecanismos de controle sem que 
percebamos não por falta de capacidade de 
percepção, mas porque isso é tão assimilado ao longo 
da convivência em sociedade, que não notamos isso 
como mecanismo de controle. Durkheim fala dessa 
noção de algo que atua sobre o indivíduo e o controle 
social, de certo modo, é isso: se torna necessário ao 
sujeito para que seja possível conviver socialmente. 
Esse controle social, não é feito somente pelo Direito, 
por isso, há uma diferença entre: 
1- Controle social primário: mecanismos que nos 
alcança desde os primeiros anos de vida – quando a 
criança começa a exprimir algum tipo de comunicação. 
Ex: comer de garfo e faca. Se formos para um 
restaurante e comer com as mãos, iremos encontrar 
reprovações. Esse controle nos prepara para as 
primeiras trocas sociais, e quando nos referimos ao 
ambiente familiar que é o local onde o ser vai receber 
suporte material e moral, o próprio estado não tem o 
fito de substituir esse controle social primário. Quando 
uma criança é tirada dos seus pais por algum 
motivo, o Estado entende que deve dar a esta as 
condições necessárias para que posteriormente ela seja 
novamente reintegrada em um seio familiar porque ele 
entende que esse controle é da família. 
 
2- Controle social secundário: exercido pelas 
instituições da sociedade, ou seja, espaços de 
convivência social como: igreja, escola, clubes etc. 
Nesse controle, se destaca a Escola que não se 
confunde com a família. O fato de a escola ser um 
 
 
meio de controle produz certa resistência. A violência é 
um claro exemplo dessa tentativa de resistência A 
Escola é a continuidade de um espaço urbano. 
3- Controle social pelo direito: A ideia de que nos 
é trazida é de que há uma espécie de caminho a ser 
percorrido para que somente depois o indivíduo seja 
alcançado pelo direito. Não é por acaso que é 
estabelecida uma idade para a maioridade penal e para 
a maioridade civil. O Estabelecimento do critério etário 
vem justamente da percepção de que existe um 
processo de formação prévio – que são esses 
mecanismos de controle anteriores ao controle pelo 
direito que são necessários para a formação do sujeito. 
Só a partir de certa idade o indivíduo pode ser 
responsabilizado juridicamente pelos seus atos. O 
controle social pelo direito, não necessariamente será o 
último controle – pode ser que do 0 aos 18 anos – 
alguma circunstancia me deixe suscetível ao controle 
pelo direito. EX: se me torno órfão ou se cometo 
alguma infração. 
 
Porque o Direito funciona como um mecanismo de 
controle? O primeiro ponto a ser considerado é o fato 
de o direito ser institucionalizado o que significa dizer 
que, para que eu reconheça como norma, ele tem que 
ter passado pelos filtros institucionais. Ex: se um 
professor falar que a média é 8 sem ser, ninguém vai 
reconhecer aquilo como norma, pois ele não tem 
competitividade para criar uma norma. Esses 
mecanismos institucionais são processos para que 
posteriormente seja aplicado por autoridades 
competentes, ex: uma norma municipal não pode ser 
aplicada por autoridades que não tenha influencia nesse 
âmbito municipal. Além disso, o direito é um 
instrumento de controle social porque ele é 
interpretado e aplicado pelo Estado – esse detém 
legitimidade para o uso da força seja ela física ou não. 
O fato, portanto, do direito ser interpretado pelo Estado 
faz com que ele seja um mecanismo de controle social. 
Não apenas existe a norma, como essa pode ser 
2 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
aplicada, e esse estado tem a sua disposição medidas 
possíveis para fazer valer esse direito. 
O direito é um instrumento de controle social, pois atua 
se valendo da sanção, o fato de haver sansão para a 
hipótese de descumprimento da norma, garante ao 
direito o exercício do controle social. A sanção é a 
consequência prevista pela norma, é uma espécie de 
garantia da norma jurídica, pois, ela é a certeza que o 
direito tem de que na eventualidade do 
descumprimento da norma, o Estado poderá aplicar 
uma consequência para isso. O direito é um dever ser, 
porque, se você não agir em conformidade com ele, 
será penalizado por isso. 
 
Sanções 
 
Sanções positivas ou premiais: A sanção ao invés de 
prever uma consequência negativa, a consequência 
jurídica prevista pela norma é um estímulo a conduta 
do indivíduo. No caso dessa sanção positiva, o direito 
estabelece uma conduta e prevê um prêmio ou um 
benefício para a hipótese de cumprimento da conduta. 
É como se o direito criasse um reforço ao indivíduo de 
que se comporte de acordo com a norma. Ex: 
desconto para o caso de pagamento de ipva 
antecipado, porque, pagar o imposto já é uma 
obrigação. Todavia, o que o direito faz é prever um 
benefício para a hipótese de você cumprir essa 
obrigação até determinada data, isso serve de estímulo 
do comportamento para com a norma. 
 
Sanções negativas: podem ser de diferentes naturezas 
1- Constritivas: o termo vem de constranger ao 
cumprimento da obrigação, a sanção não é o 
cumprimento em si da obrigação, mas um mecanismo 
para fazer com que a pessoa cumpra a obrigação. Ex: 
busca e apreensão (não satisfaz a obrigação em si, 
mas visa obter determinado resultado) 
2- Reparatórias: é consequência de uma ação ou 
omissão que geram um dano e ao produzir esse dano 
 
 
geral um direito a reparação. Entre essa ação, omissão 
e o dano é preciso que haja o nexo causal para que 
seja pleiteada a reparação. Todavia, há casos em que 
essa reparação pode ser mensurada ou não Ex: dano 
moral, o juiz não consegue mensurá-lo. Hoje, há uma 
redução dos valores estabelecidos por danos morais 
nos processos. 
3- Sanções privativas de liberdade: No direito 
brasileiro, só é possível privar a liberdade de alguém 
por situações em que o sujeito praticou um crime ou 
uma única situação fora do direito civil que é o caso da 
dívida de alimentos. A privação da liberdade não está 
associada ao crime. Embora o termo seja “privativas de 
liberdade” consideremos as hipóteses que falam que 
embora não haja a privação total da liberdade, há a 
privação parcial. Aquelas situações onde se impõe 
alguma restrição a liberdade do indivíduo também deve 
ser considerada como uma sanção, como o caso da 
prisão domiciliar. Ao falar sobre sanções privativas de 
liberdade, não nos referimos ao sujeito que é 
encarcerado apenas, estamos tratando das hipóteses 
em que embora ele não esteja preso, as medidas 
restritivas atingem igualmente a sua liberdade. 
Controle Social no Sistema Penal 
A área do direito tem uma pretensão do controle 
social, e a dimensão do direito como controle social 
perpassa por ele como um todo. Contudo, quando 
pensamos em controle social e a parte penal fica 
evidente as questões relativas à ideia de controle social. 
O grande problema que temos hoje no Brasil é o 
sistema penal, porque, para todos nós é evidente que 
vivenciamos inúmeros problemas urbanos de violência. 
Atualmente, a violência atravessa a nossa existência em 
várias dimensões, pois, corremos riscos de ser vítimas 
de um crime até mesmo sem sair de casa, ex: 
computador. 
É fato que nós somos alcançados pela noção de 
violência em múltiplas esferas. 
 
3 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
O conceito de sistema penal engloba toda a 
perspectiva envolvendo as questões penais – desde o 
momento em que a conduta é praticadae considerada 
crime, até a possibilidade de execução da pena. 
 
Vivemos em uma sociedade em que temos medo da 
maioria das coisas. Dentro desse tema trabalhamos duas 
perspectivas diferentes 
1- Perspectiva funcional-liberal – reúne aquela 
doutrina que entendem que o sistema penal tem 
problemas, mas acreditam que a saída esteja dentro do 
próprio sistema penal. Essa perspectiva não abre mão 
do que nós temos como sistema penal. Dessa 
perspectiva nasce o juizado. Como exemplo dessa 
perspectiva temos a criação de penas alternativas 
como a prestação de serviços a comunidade, ou até 
mesmo multas como punição quando cabível. 
2- Perspectiva Conflitiva – denuncia um sistema 
penal que não está mais funcionando e precisa ser 
repensado na sua totalidade e ressignificá-lo. Todavia, 
vemos sempre que a prisão é a resolução para todos 
os problemas, todavia, o aumento da massa carcerária 
não diminui o problema da criminalidade, pelo contrário, 
dos anos 90 para cá a criminalidade e o aprisionamento 
tem crescido ligeiramente. Além disso, todos os 
presídios brasileiros estão dominados por organizações 
criminosas, e quanto mais nós prendemos, estamos 
corroborando para que esses sujeitos sejam 
“entregues” a essas organizações. A perspectiva 
conflitiva trás algumas premissas dentre elas 
 
a) Ilegitimidade do poder punitivo – o poder 
punitivo é ilegítimo porque é higienista, ou seja, limpa da 
sociedade aquilo que ela vê como “bandido”. Nessa 
proposta, o poder punitivo alcança apenas aquilo que é 
visto socialmente como maléfico. De forma geral, o 
poder punitivo é ilegítimo porque funciona de maneira 
desigual retirando da sociedade aquilo que socialmente 
é visto como bandido. É importante compreender que 
onde há 
 
 
sociedade há crime e descaracterizar a noção de que 
crime é um sintoma de uma patologia social. 
Pelo crime nós somos capazes de pautar valores 
sociais, pois, no momento em que eu indico que 
determinada conduta é criminosa, eu estou dizendo que 
aquela conduta não é desejada pela sociedade. A partir 
do momento que eu começo a dizer que uma conduta 
é criminosa, eu estou apontando que aquela conduta 
não é mais desejada pela sociedade. O crime acaba 
formando uma tábua de valores pela qual eu crio o que 
a sociedade quer e o que ela não quer. CRIME É UM 
DESVALOR DA CONDUTA. 
 O fato de nós considerar que onde há 
sociedade há crime, não significa dizer que em qualquer 
sociedade os problemas associados à criminalidade são 
iguais. Colômbia e Dinamarca, por exemplo, não vivem 
a mesma situação. 
b) Além disso há uma inexistência entre o bem e 
o mal, pois, há uma desconstrução do crime como um 
sintoma da sociedade e do criminoso como alguém que 
não faz parte do âmbito social. Assim, qualquer um de 
nós está suscetível a praticar um crime e a torna-se 
aos olhos da sociedade um criminoso. 
c) A inexistência da culpabilidade pessoal – A 
culpabilidade é onde se observa os aspectos subjetivos 
do crime: se houve ou não a intenção de matar, etc. 
Para a perspectiva conflitiva, a culpabilidade não deve 
ser observada individualmente, mas sim socialmente. 
Todavia, o princípio da insignificância não se aplica 
somente as coisas de menor valor. Não justifica a 
máquina processual do Estado se movimentar para 
punir algo de pouca significância para o direito. 
O fato de um objeto ser insignificante não tem nada a 
ver com seu valor, pode ser um bem jurídico que vala 
5 reais e não seja insignificante a luz do direito, assim 
como pode ser um bem jurídico de maior valor e que 
entre na condição de insignificância. 
d) Impossibilidade de ressocialização: Essa crítica 
vem contra a ideia de ressocialização, é feita por 
autores mesmo de fora do Brasil e não está 
4 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
relacionada apenas ao sistema carcerário brasileiro. É 
feita por aqueles que entendem que esse sistema, não 
é feito para ressocializar. Hoje, nós temos um sistema 
carcerário onde não se respeita a própria lei, o que 
dificulta ainda mais a ressocialização. 
e) Seletividade do sistema penal: Dominação das 
organizações criminosas no sistema carcerário. O 
quadro que nós temos hoje é de absoluto controle por 
parte das organizações criminosas ao ponto de alguns 
locais do Brasil, se perguntar ao sujeito qual 
organização criminosa ele faz parte para leva-lo até a 
ala da sua organização. Desde os anos 90 já se 
evidencia o aumento dessas organizações criminosas. 
Houve uma interiorização do crime, aumentando a 
criminalidade até mesmo nos interiores. A população 
carcerária brasileira é composta majoritariamente por 
pessoas negras, baixa escolaridade, e homens. A 
questão da idade diz respeito ao fato de que, a grande 
maioria dos indivíduos não sobrevive na criminalidade. O 
fato de a maioria ser jovem, não quer dizer que o 
velho não comete crime, por exemplo, mas sim 
porque a idade média das pessoas no crime é até 30 
anos – até isso ela é capturada ou morta. 
 
Nessa aula ela debateu os textos que passou para ler. 
Luiz Cláudio fala sobre “o jogo dos sete erros”. 
Luiz Cláudio fala que há uma conexão entre a 
gramática política brasileira e o universo do sistema 
prisional. Quando ele diz da ausência de universalismo 
dos procedimentos, do corporativismo, do clientelismo 
ele está dizendo que: problemas que são típicos da 
politica brasileira reaparecem no sistema carcerário. Ele 
está querendo nos mostrar que, embora o sistema 
prisional seja uma ilusão de isolamento, ele não está 
isolado. Inclusive, ele reproduz as questões típicas da 
política e da sociedade brasileira. No terceiro erro, ele 
trás a questão do comando das organizações 
criminosas no sistema prisional, mostrando como o 
controle do Estado é falível e não consegue responder 
aquilo que ocorre no sistema e como isso acaba 
 
 
resultando num comando por organizações criminosas. 
O quarto erro também trabalha na mesma perspectiva, 
mostrando que essa ideia de proporcionalidade não 
funciona. Uma série de dispositivos que deveriam ser 
cumpridos na lei penal, a exemplo da separação por 
crime mais grave e do cumprimento provisório de 
pena não são cumpridos. 
Dessa forma, temos pessoas que praticaram um furto 
convivendo numa mesma cela com um sujeito que 
cometeu um latrocínio e responde por inúmeros 
homicídios, assim como temos no mesmo sistema 
pessoas que ainda estão aguardando ser condenadas, 
com pessoa que já foram e estão respondendo a pena. 
Isso gera a facilidade de captação de membros para 
organizações criminosas. 
Além disso, atualmente nosso sistema abriga mais 
pessoas que podem não vir a responder pelo crime, do 
que por uma população já condenada. 
 
O sexto erro é o fato de a prisão ser um lugar 
estatizado, isso entra também a questão de como 
existe uma lógica econômica própria dentro do sistema 
prisional. Luiz Cláudio buscar mostrar que há um 
universo a parte, uma espécie de economia 
delinquente, que surge dentro do sistema prisional e 
que é fruto dessa lógica própria desse sistema. No 
último erro, ele irá dizer que o sistema prisional não é 
estatal, trazendo a questão de que não há uma 
padronização de procedimentos, e regras, tanto que o 
procedimento dos presídios federais é diferente do 
presídio estadual, por isso surge à frase irônica de que 
“um preso foi preso” – foi transferido para outro local 
cujas regras são diferentes de onde ele estava. Os 
universos prisionais funcionam como um “universo a 
parte” – dentro de um mesmo espaço não há um 
funcionamento conjunto, pois as prisões são diferentes 
entre si, funcionam como feudos, onde o diretor dos 
presídios estabelecem regras e mandam e desmandam. 
 
 
5 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
Já para Fernando Sallas, pesquisador da questão de 
segurança pública, trás no seu texto uma das razões 
pelas quais surgem as organizações criminosas dentrodo sistema penal. Seu artigo tenta entender o 
surgimento do PCC, a gênese da formação dessa 
organização e as possíveis relações de serem 
estabelecidas. O que eles observam é que a ausência 
do Estado abre espaços para a constituição da 
organização criminosa. No momento que o Estado 
retira a política e deixa um espaço, ele permite que 
esse espaço seja ocupado. No texto, os autores tentam 
apresentar a percepção de que fenômenos complexos 
como as organizações criminosas, não podem ser 
explicadas/entendidas a partir de um caminho ou a 
partir somente de uma via. Há motivações formais, 
passíveis de serem entendidas a partir do sistema e das 
suas formalidades, como também há motivações 
informais, que são razões que não estão 
determinadas/expressas, mas que também originam a 
formação dessas organizações criminosas. Não é 
possível compreender um fenômeno complexo como 
a formação das organizações criminosas dentro do 
sistema prisional sem entender que isso é decorrência 
de falhas formais (do sistema jurídico e da sua 
operação, do modo como se executa a lei) e de causas 
informais (relações internas do sistema penitenciário 
que não são passíveis de um controle prévio). 
Estratificação social e Direito 
 
Há uma diferença entre o olhar da sociologia e o olhar 
do direito. Na sociologia observamos a sociedade a 
partir das classes sociais e suas diferenças. O direito, em 
regra, observa a sociedade como um todo, ele trata de 
forma equânime os sujeitos, ou seja: não temos um 
direito tributário para mulheres e outro para homens. O 
direito se estabelece como uma só norma para toda a 
sociedade. Quando pensamos no direito abstrato – 
norma jurídica -, ela é uma só, que olha o conjunto de 
pessoas que estão dentro do ordenamento jurídico, 
 
 
 
por isso temos uma norma aplicada a todos os 
indivíduos, desde que estejam em solo brasileiro. 
A ciência social trabalha com duas abordagens 
1- Qualitativa: perspectiva marxista, parte da ideia 
de que a sociedade deve ser observada a partir da 
qualidade que ele desempenha no seio social, nessa 
abordagem importa a forma que você é qualificado pela 
sociedade. Essa abordagem pretende evidenciar os 
opostos e os conflitos presentes na sociedade. Nessa 
abordagem, pouco importa se você ganha um salário 
de 70 mil reais ou 2 mil reais, por exemplo. Nessa 
perspectiva, nós somos facilmente descartáveis pelo 
sistema. 
2- Quantitativa: perspectiva weberiana, essa 
abordagem busca critérios objetivos que nos permite 
uma leitura mais aproximada do social. Ela permite uma 
aproximação maior do conjunto social, uma 
demonstração do que temos na sociedade. Ex: 
questionários do ENEM que pergunta quantos 
banheiros têm em casa, quantos quartos, etc. Weber já 
falava dessa sociedade composta por diferentes 
estamentos, ele via a sociedade como um apanhado de 
pessoas diferentes entre si. Normalmente, essa 
abordagem classificava a sociedade a partir de classes: 
alta, média alta – essa abordagem nos ajuda a fazer 
uma estratificação da sociedade. Aqui analisamos renda, 
gênero, questões raciais e éticas. 
 
Sociedade de estratificação fechada: Sociedades com 
BAIXA ou NENHUMA mobilidade social. Ex. Sistema de 
Castas na índia. Muito embora já tenha sido abolido 
formalmente em 1947, ainda existe de forma indireta. 
São outros exemplos: Arábia Saudita, Coréia do Norte 
etc. 
 
Sociedade de estratificação aberta: Prevalece a 
mobilidade social, e a possibilidade de movimentação na 
pirâmide social. Quanto mais desigual for o estado, mais 
essa mobilidade social é possível e evidente. 
 
6 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
O Direito é Instrumento para 
dificultar ou facilitar a mudança 
social? 
 
 
Exemplos que dificultaram a mudança social: 
• Leitura jurídica do cidadão eleitor (analfabetos 
que antes da atual constituição não podiam votar, 
sendo que inclusive tínhamos uma população analfabeta 
muito significante). Assim, gera um ciclo de 
retroalimentação dessa política excludente onde eles 
não tinham acesso a políticas de estudo, se mantendo 
assim, e não podendo votar, não havendo a 
possiblidade de criação desse tipo de política. 
• Regime jurídico de propriedade (durante todo 
processo de formação do Brasil a propriedade foi 
tratada como direito absoluto, não podendo o Estado 
intervir. Assim, se manteve um ciclo de manutenção do 
poder. Apenas com a Const. de 1988 que vemos a 
mudança importante que exige a função social da 
propriedade). 
 
Exemplos que facilitaram a mudança social: 
• O marco da Const. de 1988 
• CLT de 1943 (feita no governo Vargas, 
intenção de proteger os trabalhadores. O princípio de 
primazia do trabalhador é adotado e traz que em 
primeiro lugar deve vir a proteção ao trabalhador. Foi a 
primeira legislação trabalhista e entende o trabalhador 
como a parte mais fraca da relação jurídica, vindo 
então para reequilibrar a relação). 
• ECA de 1990 (não existia legislação anterior que 
abarcasse toda a situação da criança e adolescente, 
apenas a punição. Com o ECA vem também a 
interface protetiva do menor, além da punição. 
Também não existia anteriormente separação entre 
criança e adolescente, a separação foi importante para 
dimensionar diferentes punições entre criança [até 12 
anos] e adolescente [dos 12 aos 18]). 
 
 
 
 
• CDC de 1990 (o código do consumidor coloca o 
consumidor como parte mais fraca da relação jurídica 
que necessita de auxílio para equilibrar a relação. Com 
o CDC há a inversão do ônus da prova, o vendedor 
que deve provar, por exemplo, o defeito do produto). 
• Estatuto do Idoso de 2003 (percebe-se o 
envelhecimento da população e anteriormente não 
existia uma legislação específica e detalhada para o 
idoso. A Const. fala de proteção ao idoso, mas não 
pode ir aos detalhes, sendo o Estatuto responsável por 
isso). 
• Estatuto da Pessoa Deficiente de 2015 (tenta 
aproximar o deficiente à sociedade e permitir sua 
inserção). 
 
Formação da sociedade Brasileira 
 
O Brasil possui algumas características indispensáveis. 
Quando a gente se propunha em pensar o Brasil como 
sociedade, um dos pontos de partida é como se deu o 
modo de ocupação: tínhamos populações nativas – o 
modo de ocupação se deu pela propriedade privada, 
Portugal estava em busca de dominar rotas marítimas 
para exercício do poder. Portugal não tinha a pretensão 
de permanecer no Brasil, mas como ele tinha 
descoberto as terras brasileiras, ele estabelece as 
capitanias hereditárias e entrega aos donatários para 
manter a sua autoridade sobre as terras. Nos latifúndios 
estabelecia a monocultura – como o mundo brasileiro 
nasce das propriedades rurais, isso também será uma 
marca definitiva na sociedade. Outra coisa que vai 
caracterizar a colonização portuguesa é a ausência de 
organização urbana, sem planejamento, justamente 
porque a centralidade no processo de formação da 
sociedade estava nas fazendas, no âmbito rural. 
Sempre houve no Brasil uma ausência de separação 
entre vida pública e privada, gerando muitas críticas de 
filósofos nesse sentido. 
 
7 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
 
Outro elemento caracterizador é o regime escravagista 
– O Brasil utilizou aproximadamente a mão de obra 
escrava por 350 anos. Juridicamente, a escravidão foi 
um mecanismo de exploração humana onde o 
indivíduo era tratado como “coisa”, pois, ele nunca foi 
sujeito de direito no BR. Os escravos eram chamados 
apenas pelo primeiro nome, e a escravidão era um 
regime de propriedade. O fato de nós termos um 
regime escravagista durante 350 anos, tem impactos 
atuais, pois, ainda enxergamos as relações de trabalho 
maculada pela relação de escravidão, principalmente no 
que diz respeito aos trabalhos manuais. 
O fato de haver escravidão no Brasil fez com que 
outras áreas não existissem. Além disso, o 
desenvolvimento das sociedades brasileiras se deu deforma tardia, pois, imperava o sistema rural. Há uma 
ausência de consciência cidadã, já quem, ninguém 
almeja ser carpinteiro. 
 
Patrimonialismo: Tem a ver entre o universo público e 
privado, pois, no Brasil nunca houve essa separação. Na 
origem de formação Brasileira essa relação de vida 
privada na família e nas relações sociais se confundiam, 
por isso até hoje temos dúvidas de até onde vai minha 
vida pública e a minha vida privada. Isso nos remonta ao 
Brasil colônia, pois, boa parte da vida brasileira estava 
acontecendo no mundo rural que girava em torno da 
família – havia outros universos em torno essa família. 
Quando adentramos no primeiro império e república, a 
figura do senhor de terra se transfere para o coronel, o 
mesmo senhor de terras para colônia, dotado de 
privilégios e que era politicamente, economicamente 
forte. Ele estabelecia relações com o governo. 
As instituições estatais foram constituídas a partir disso, 
e as corrupções que ocorrem, é justamente porque 
não entendemos a separação entre público e privado: 
eu não sou prefeito, eu ESTOU prefeito, eu não posso 
transferir meus anseios pessoais para a vida pública. 
 
 
 
 
Tem uma autoria chamada Teresa Sales que nós trás 
o conceito de cidadania concedida: A cidadania é 
compreendida por nós como uma concessão do 
Estado e não como algo conquistado, que me 
pertence. Falta ao brasileiro a compreensão sobre o 
que é ser cidadão fruto de um processo histórico que, 
embora tenha tido algumas lutas sociais, o brasileiro 
sempre se relacionou com o Estado como um símbolo 
de concessão da cidadania. 
 
Roberto da Mata: Ele compara as questões sociais 
Brasileiras com os EUA, e ele é muito preciso ao tratar 
dessas questões. Seu texto tem observações que nos 
remetem diretamente a situações do nosso cotidiano. 
“A questão da cidadania no universo relacional” – ele 
analisa a cidadania no Brasil mostrando como ela é 
elaborada, na maioria dos países cidadania é questão de 
universalização, ou seja, todos nós somos parte de um 
mesmo universo. No Brasil a cidadadia depende do 
universo relacional, você é mais ou menos cidadão a 
depender de como você se relaciona, de quem você é 
amigo. Há uma série de restrições a condição de ser 
cidadão: juridicamente somos todos cidadãos, mas 
quando vamos para a realidade sociológica/prática, as 
diferenças são evidenciadas. 
 
Livro de Silvio no Capítulo “Raça e Racismo”: Quando a 
escravidão estava ocorrendo, o Iluminismo estava se 
desenvolvendo, fator que gera ambiguidade visto que o 
Iluminismo defende a liberdade e a igualdade. Silvio 
mostra a concomitância de dois discursos totalmente 
antagônicos. Silvio distingue racismo – forma sistemática 
de descriminação, algo mais profundo; preconceito 
racial – é você ter uma ideia preconcebida sobre a 
raça; discriminação racial – é o tratamento diferenciado. 
Ele entende que existe um racismo individual: EU 
BRENDA, não permito que um negro entre na minha 
casa; institucional: interpretado pelas instituições, ex: um 
negro ao entrar em determinado local é associado com 
8 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
 
 
bandido; e estrutural: ele quer demonstrar que existe 
uma questão racial que está na própria estrutura da 
sociedade e está além das instituições. O racismo 
estrutural é mais profundo, e está de tal maneira 
permeado nas relações sociais, que mesmo EU não 
sendo racista, sou produto de uma sociedade racista. 
 
Movimentos Sociais do Direito 
Alain Tourraine define como: “Ações coletivas 
protagonizadas por sujeitos históricos que procuram 
viabilizar acordos políticos” É o conjunto de pessoas 
que se agregam em torno de um objetivo comum e 
que procuram uma forma de interferência na realidade 
Ação coletiva 
Sujeitos históricos Indivíduos que são produto do 
processo histórico 
Acordos políticos (política na essência, aquilo que é do 
espaço público) Acordos que sejam produtos do 
espaço público 
Movimentos se renova ao longo da história 
Características: 
Identidade essência 
.Oposição/não-institucionalização Muitas vezes as 
pautas dos movimentos sociais são contra as do estado 
Regra para ação/planejamento 
.Desenvolvimento histórico dos movimentos sociais: 
.Corrente histórico-estrutural: é formada pelos 
movimentos de classe trabalhadora, principalmente pela 
classe operária (final do século XIX até o século XX, 
entre as décadas de 50 e 70). A pauta primordial era a 
mudança da estrutura de desigualdade entre o operário 
 
 
e o chefe. O principal teórico a influenciar esse 
movimento é Karl Marx. 
.Corrente cultural-identitária: Luta pelas questões 
identitárias, os quais foram chamados de novos 
movimentos sociais (anos 60 em diante). Alimentados 
principalmente pela sociologia e filosofia, fonte de 
expiração para esses movimentos sociais. Profunda 
transição social, geração que quando chegou à 
juventude quis dizer que o mundo construído na 
primeira metade do século XX não fazia parte da sua 
meta. Geração que conseguiu mudar hábitos no mundo 
e por isso foi punida pelas consequências do seu modo 
de atuar (movimento com drogas, bebidas, etc) 
.Corrente organizacional: Tentativa de organização 
desses movimentos sociais, de um lado tem-se um 
movimento social sem dinheiro e de outro organizações 
e empresas dispostas a aplicar o seu dinheiro em 
causas sociais. A escola de analise econômica do direito 
pondera que se deve associar o movimento social com 
empresas que tem fundos para o propósito de trazer 
uma condição institucionalizada dos movimentos sociais 
e levantar recursos. Porém os movimentos sociais não 
são considerados movimentos sociais quando viram 
institucionalizadas. 
Movimentos Populares, urbanos e 
rurais 
Redemocratização de vários países (anos 80) que 
favoreceram movimentos sociais na luta por terra e 
moradia 
Luta movida pelos povos nativos dos países 
reclamando o reconhecimento de terras e o 
reconhecimento da cultura tradicional através dos 
movimentos sociais 
 
9 
Brenda Neiva Bagano – FBDG 
 
.O movimento sem terra, por exemplo, nasce de uma 
pauta histórica (questão da Reforma Agrária) tendo uma 
motivação associada ao processo de formação 
territorial latifundiário. O Movimento sem teto, por 
exemplo, reclama da dicotomia de muita gente sem 
teto e muito teto (prédios) sem gente, tendo como 
uma política voltada para solucionar esse problema o 
Minha Casa Minha Vida. 
Movimentos sociais de cunho supraestatal (ambientais, 
anticapitalistas, gênero): movimentos mais recentes, pois 
não estão atrelados a presença dos movimentos em 
questão específico, eles levantam bandeiras que 
transcendem as fronteiras do estado, pais ou cidade 
específico. Surge também uma concomitância entre os 
movimentos (O movimento feminista anti-racista, por 
exemplo). 
.Questões Atuais – Texto Manuel Castells 
.Conexão por redes de múltiplas formas 
.Simultaneamente locais e globais 
.São virais 
.Horizontalidade das redes favorece cooperação e 
solidariedade reduzindo a necessidade de liderança 
formal 
.Não violentos 
.Fragmentariedade 
.Essencialmente políticos (carregam consigo o desejo 
de mudança através da atuação)

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