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1 Brenda Neiva Bagano – FBDG O direito tem uma pretensão de controle, mas, não há nada que garante que ele vai efetivar isso. Nós temos inúmeros problemas na nossa convivência social e principalmente pela ausência de controle social. Chamamos de controle social todos os mecanismos tendentes a mudar o comportamento para uma vida em sociedade. Muitas vezes nem percebemos essa esfera de controle ou não as reconhece como tal. Muitas questões sobre o nosso comportamento decorrem desses mecanismos de controle sem que percebamos não por falta de capacidade de percepção, mas porque isso é tão assimilado ao longo da convivência em sociedade, que não notamos isso como mecanismo de controle. Durkheim fala dessa noção de algo que atua sobre o indivíduo e o controle social, de certo modo, é isso: se torna necessário ao sujeito para que seja possível conviver socialmente. Esse controle social, não é feito somente pelo Direito, por isso, há uma diferença entre: 1- Controle social primário: mecanismos que nos alcança desde os primeiros anos de vida – quando a criança começa a exprimir algum tipo de comunicação. Ex: comer de garfo e faca. Se formos para um restaurante e comer com as mãos, iremos encontrar reprovações. Esse controle nos prepara para as primeiras trocas sociais, e quando nos referimos ao ambiente familiar que é o local onde o ser vai receber suporte material e moral, o próprio estado não tem o fito de substituir esse controle social primário. Quando uma criança é tirada dos seus pais por algum motivo, o Estado entende que deve dar a esta as condições necessárias para que posteriormente ela seja novamente reintegrada em um seio familiar porque ele entende que esse controle é da família. 2- Controle social secundário: exercido pelas instituições da sociedade, ou seja, espaços de convivência social como: igreja, escola, clubes etc. Nesse controle, se destaca a Escola que não se confunde com a família. O fato de a escola ser um meio de controle produz certa resistência. A violência é um claro exemplo dessa tentativa de resistência A Escola é a continuidade de um espaço urbano. 3- Controle social pelo direito: A ideia de que nos é trazida é de que há uma espécie de caminho a ser percorrido para que somente depois o indivíduo seja alcançado pelo direito. Não é por acaso que é estabelecida uma idade para a maioridade penal e para a maioridade civil. O Estabelecimento do critério etário vem justamente da percepção de que existe um processo de formação prévio – que são esses mecanismos de controle anteriores ao controle pelo direito que são necessários para a formação do sujeito. Só a partir de certa idade o indivíduo pode ser responsabilizado juridicamente pelos seus atos. O controle social pelo direito, não necessariamente será o último controle – pode ser que do 0 aos 18 anos – alguma circunstancia me deixe suscetível ao controle pelo direito. EX: se me torno órfão ou se cometo alguma infração. Porque o Direito funciona como um mecanismo de controle? O primeiro ponto a ser considerado é o fato de o direito ser institucionalizado o que significa dizer que, para que eu reconheça como norma, ele tem que ter passado pelos filtros institucionais. Ex: se um professor falar que a média é 8 sem ser, ninguém vai reconhecer aquilo como norma, pois ele não tem competitividade para criar uma norma. Esses mecanismos institucionais são processos para que posteriormente seja aplicado por autoridades competentes, ex: uma norma municipal não pode ser aplicada por autoridades que não tenha influencia nesse âmbito municipal. Além disso, o direito é um instrumento de controle social porque ele é interpretado e aplicado pelo Estado – esse detém legitimidade para o uso da força seja ela física ou não. O fato, portanto, do direito ser interpretado pelo Estado faz com que ele seja um mecanismo de controle social. Não apenas existe a norma, como essa pode ser 2 Brenda Neiva Bagano – FBDG aplicada, e esse estado tem a sua disposição medidas possíveis para fazer valer esse direito. O direito é um instrumento de controle social, pois atua se valendo da sanção, o fato de haver sansão para a hipótese de descumprimento da norma, garante ao direito o exercício do controle social. A sanção é a consequência prevista pela norma, é uma espécie de garantia da norma jurídica, pois, ela é a certeza que o direito tem de que na eventualidade do descumprimento da norma, o Estado poderá aplicar uma consequência para isso. O direito é um dever ser, porque, se você não agir em conformidade com ele, será penalizado por isso. Sanções Sanções positivas ou premiais: A sanção ao invés de prever uma consequência negativa, a consequência jurídica prevista pela norma é um estímulo a conduta do indivíduo. No caso dessa sanção positiva, o direito estabelece uma conduta e prevê um prêmio ou um benefício para a hipótese de cumprimento da conduta. É como se o direito criasse um reforço ao indivíduo de que se comporte de acordo com a norma. Ex: desconto para o caso de pagamento de ipva antecipado, porque, pagar o imposto já é uma obrigação. Todavia, o que o direito faz é prever um benefício para a hipótese de você cumprir essa obrigação até determinada data, isso serve de estímulo do comportamento para com a norma. Sanções negativas: podem ser de diferentes naturezas 1- Constritivas: o termo vem de constranger ao cumprimento da obrigação, a sanção não é o cumprimento em si da obrigação, mas um mecanismo para fazer com que a pessoa cumpra a obrigação. Ex: busca e apreensão (não satisfaz a obrigação em si, mas visa obter determinado resultado) 2- Reparatórias: é consequência de uma ação ou omissão que geram um dano e ao produzir esse dano geral um direito a reparação. Entre essa ação, omissão e o dano é preciso que haja o nexo causal para que seja pleiteada a reparação. Todavia, há casos em que essa reparação pode ser mensurada ou não Ex: dano moral, o juiz não consegue mensurá-lo. Hoje, há uma redução dos valores estabelecidos por danos morais nos processos. 3- Sanções privativas de liberdade: No direito brasileiro, só é possível privar a liberdade de alguém por situações em que o sujeito praticou um crime ou uma única situação fora do direito civil que é o caso da dívida de alimentos. A privação da liberdade não está associada ao crime. Embora o termo seja “privativas de liberdade” consideremos as hipóteses que falam que embora não haja a privação total da liberdade, há a privação parcial. Aquelas situações onde se impõe alguma restrição a liberdade do indivíduo também deve ser considerada como uma sanção, como o caso da prisão domiciliar. Ao falar sobre sanções privativas de liberdade, não nos referimos ao sujeito que é encarcerado apenas, estamos tratando das hipóteses em que embora ele não esteja preso, as medidas restritivas atingem igualmente a sua liberdade. Controle Social no Sistema Penal A área do direito tem uma pretensão do controle social, e a dimensão do direito como controle social perpassa por ele como um todo. Contudo, quando pensamos em controle social e a parte penal fica evidente as questões relativas à ideia de controle social. O grande problema que temos hoje no Brasil é o sistema penal, porque, para todos nós é evidente que vivenciamos inúmeros problemas urbanos de violência. Atualmente, a violência atravessa a nossa existência em várias dimensões, pois, corremos riscos de ser vítimas de um crime até mesmo sem sair de casa, ex: computador. É fato que nós somos alcançados pela noção de violência em múltiplas esferas. 3 Brenda Neiva Bagano – FBDG O conceito de sistema penal engloba toda a perspectiva envolvendo as questões penais – desde o momento em que a conduta é praticadae considerada crime, até a possibilidade de execução da pena. Vivemos em uma sociedade em que temos medo da maioria das coisas. Dentro desse tema trabalhamos duas perspectivas diferentes 1- Perspectiva funcional-liberal – reúne aquela doutrina que entendem que o sistema penal tem problemas, mas acreditam que a saída esteja dentro do próprio sistema penal. Essa perspectiva não abre mão do que nós temos como sistema penal. Dessa perspectiva nasce o juizado. Como exemplo dessa perspectiva temos a criação de penas alternativas como a prestação de serviços a comunidade, ou até mesmo multas como punição quando cabível. 2- Perspectiva Conflitiva – denuncia um sistema penal que não está mais funcionando e precisa ser repensado na sua totalidade e ressignificá-lo. Todavia, vemos sempre que a prisão é a resolução para todos os problemas, todavia, o aumento da massa carcerária não diminui o problema da criminalidade, pelo contrário, dos anos 90 para cá a criminalidade e o aprisionamento tem crescido ligeiramente. Além disso, todos os presídios brasileiros estão dominados por organizações criminosas, e quanto mais nós prendemos, estamos corroborando para que esses sujeitos sejam “entregues” a essas organizações. A perspectiva conflitiva trás algumas premissas dentre elas a) Ilegitimidade do poder punitivo – o poder punitivo é ilegítimo porque é higienista, ou seja, limpa da sociedade aquilo que ela vê como “bandido”. Nessa proposta, o poder punitivo alcança apenas aquilo que é visto socialmente como maléfico. De forma geral, o poder punitivo é ilegítimo porque funciona de maneira desigual retirando da sociedade aquilo que socialmente é visto como bandido. É importante compreender que onde há sociedade há crime e descaracterizar a noção de que crime é um sintoma de uma patologia social. Pelo crime nós somos capazes de pautar valores sociais, pois, no momento em que eu indico que determinada conduta é criminosa, eu estou dizendo que aquela conduta não é desejada pela sociedade. A partir do momento que eu começo a dizer que uma conduta é criminosa, eu estou apontando que aquela conduta não é mais desejada pela sociedade. O crime acaba formando uma tábua de valores pela qual eu crio o que a sociedade quer e o que ela não quer. CRIME É UM DESVALOR DA CONDUTA. O fato de nós considerar que onde há sociedade há crime, não significa dizer que em qualquer sociedade os problemas associados à criminalidade são iguais. Colômbia e Dinamarca, por exemplo, não vivem a mesma situação. b) Além disso há uma inexistência entre o bem e o mal, pois, há uma desconstrução do crime como um sintoma da sociedade e do criminoso como alguém que não faz parte do âmbito social. Assim, qualquer um de nós está suscetível a praticar um crime e a torna-se aos olhos da sociedade um criminoso. c) A inexistência da culpabilidade pessoal – A culpabilidade é onde se observa os aspectos subjetivos do crime: se houve ou não a intenção de matar, etc. Para a perspectiva conflitiva, a culpabilidade não deve ser observada individualmente, mas sim socialmente. Todavia, o princípio da insignificância não se aplica somente as coisas de menor valor. Não justifica a máquina processual do Estado se movimentar para punir algo de pouca significância para o direito. O fato de um objeto ser insignificante não tem nada a ver com seu valor, pode ser um bem jurídico que vala 5 reais e não seja insignificante a luz do direito, assim como pode ser um bem jurídico de maior valor e que entre na condição de insignificância. d) Impossibilidade de ressocialização: Essa crítica vem contra a ideia de ressocialização, é feita por autores mesmo de fora do Brasil e não está 4 Brenda Neiva Bagano – FBDG relacionada apenas ao sistema carcerário brasileiro. É feita por aqueles que entendem que esse sistema, não é feito para ressocializar. Hoje, nós temos um sistema carcerário onde não se respeita a própria lei, o que dificulta ainda mais a ressocialização. e) Seletividade do sistema penal: Dominação das organizações criminosas no sistema carcerário. O quadro que nós temos hoje é de absoluto controle por parte das organizações criminosas ao ponto de alguns locais do Brasil, se perguntar ao sujeito qual organização criminosa ele faz parte para leva-lo até a ala da sua organização. Desde os anos 90 já se evidencia o aumento dessas organizações criminosas. Houve uma interiorização do crime, aumentando a criminalidade até mesmo nos interiores. A população carcerária brasileira é composta majoritariamente por pessoas negras, baixa escolaridade, e homens. A questão da idade diz respeito ao fato de que, a grande maioria dos indivíduos não sobrevive na criminalidade. O fato de a maioria ser jovem, não quer dizer que o velho não comete crime, por exemplo, mas sim porque a idade média das pessoas no crime é até 30 anos – até isso ela é capturada ou morta. Nessa aula ela debateu os textos que passou para ler. Luiz Cláudio fala sobre “o jogo dos sete erros”. Luiz Cláudio fala que há uma conexão entre a gramática política brasileira e o universo do sistema prisional. Quando ele diz da ausência de universalismo dos procedimentos, do corporativismo, do clientelismo ele está dizendo que: problemas que são típicos da politica brasileira reaparecem no sistema carcerário. Ele está querendo nos mostrar que, embora o sistema prisional seja uma ilusão de isolamento, ele não está isolado. Inclusive, ele reproduz as questões típicas da política e da sociedade brasileira. No terceiro erro, ele trás a questão do comando das organizações criminosas no sistema prisional, mostrando como o controle do Estado é falível e não consegue responder aquilo que ocorre no sistema e como isso acaba resultando num comando por organizações criminosas. O quarto erro também trabalha na mesma perspectiva, mostrando que essa ideia de proporcionalidade não funciona. Uma série de dispositivos que deveriam ser cumpridos na lei penal, a exemplo da separação por crime mais grave e do cumprimento provisório de pena não são cumpridos. Dessa forma, temos pessoas que praticaram um furto convivendo numa mesma cela com um sujeito que cometeu um latrocínio e responde por inúmeros homicídios, assim como temos no mesmo sistema pessoas que ainda estão aguardando ser condenadas, com pessoa que já foram e estão respondendo a pena. Isso gera a facilidade de captação de membros para organizações criminosas. Além disso, atualmente nosso sistema abriga mais pessoas que podem não vir a responder pelo crime, do que por uma população já condenada. O sexto erro é o fato de a prisão ser um lugar estatizado, isso entra também a questão de como existe uma lógica econômica própria dentro do sistema prisional. Luiz Cláudio buscar mostrar que há um universo a parte, uma espécie de economia delinquente, que surge dentro do sistema prisional e que é fruto dessa lógica própria desse sistema. No último erro, ele irá dizer que o sistema prisional não é estatal, trazendo a questão de que não há uma padronização de procedimentos, e regras, tanto que o procedimento dos presídios federais é diferente do presídio estadual, por isso surge à frase irônica de que “um preso foi preso” – foi transferido para outro local cujas regras são diferentes de onde ele estava. Os universos prisionais funcionam como um “universo a parte” – dentro de um mesmo espaço não há um funcionamento conjunto, pois as prisões são diferentes entre si, funcionam como feudos, onde o diretor dos presídios estabelecem regras e mandam e desmandam. 5 Brenda Neiva Bagano – FBDG Já para Fernando Sallas, pesquisador da questão de segurança pública, trás no seu texto uma das razões pelas quais surgem as organizações criminosas dentrodo sistema penal. Seu artigo tenta entender o surgimento do PCC, a gênese da formação dessa organização e as possíveis relações de serem estabelecidas. O que eles observam é que a ausência do Estado abre espaços para a constituição da organização criminosa. No momento que o Estado retira a política e deixa um espaço, ele permite que esse espaço seja ocupado. No texto, os autores tentam apresentar a percepção de que fenômenos complexos como as organizações criminosas, não podem ser explicadas/entendidas a partir de um caminho ou a partir somente de uma via. Há motivações formais, passíveis de serem entendidas a partir do sistema e das suas formalidades, como também há motivações informais, que são razões que não estão determinadas/expressas, mas que também originam a formação dessas organizações criminosas. Não é possível compreender um fenômeno complexo como a formação das organizações criminosas dentro do sistema prisional sem entender que isso é decorrência de falhas formais (do sistema jurídico e da sua operação, do modo como se executa a lei) e de causas informais (relações internas do sistema penitenciário que não são passíveis de um controle prévio). Estratificação social e Direito Há uma diferença entre o olhar da sociologia e o olhar do direito. Na sociologia observamos a sociedade a partir das classes sociais e suas diferenças. O direito, em regra, observa a sociedade como um todo, ele trata de forma equânime os sujeitos, ou seja: não temos um direito tributário para mulheres e outro para homens. O direito se estabelece como uma só norma para toda a sociedade. Quando pensamos no direito abstrato – norma jurídica -, ela é uma só, que olha o conjunto de pessoas que estão dentro do ordenamento jurídico, por isso temos uma norma aplicada a todos os indivíduos, desde que estejam em solo brasileiro. A ciência social trabalha com duas abordagens 1- Qualitativa: perspectiva marxista, parte da ideia de que a sociedade deve ser observada a partir da qualidade que ele desempenha no seio social, nessa abordagem importa a forma que você é qualificado pela sociedade. Essa abordagem pretende evidenciar os opostos e os conflitos presentes na sociedade. Nessa abordagem, pouco importa se você ganha um salário de 70 mil reais ou 2 mil reais, por exemplo. Nessa perspectiva, nós somos facilmente descartáveis pelo sistema. 2- Quantitativa: perspectiva weberiana, essa abordagem busca critérios objetivos que nos permite uma leitura mais aproximada do social. Ela permite uma aproximação maior do conjunto social, uma demonstração do que temos na sociedade. Ex: questionários do ENEM que pergunta quantos banheiros têm em casa, quantos quartos, etc. Weber já falava dessa sociedade composta por diferentes estamentos, ele via a sociedade como um apanhado de pessoas diferentes entre si. Normalmente, essa abordagem classificava a sociedade a partir de classes: alta, média alta – essa abordagem nos ajuda a fazer uma estratificação da sociedade. Aqui analisamos renda, gênero, questões raciais e éticas. Sociedade de estratificação fechada: Sociedades com BAIXA ou NENHUMA mobilidade social. Ex. Sistema de Castas na índia. Muito embora já tenha sido abolido formalmente em 1947, ainda existe de forma indireta. São outros exemplos: Arábia Saudita, Coréia do Norte etc. Sociedade de estratificação aberta: Prevalece a mobilidade social, e a possibilidade de movimentação na pirâmide social. Quanto mais desigual for o estado, mais essa mobilidade social é possível e evidente. 6 Brenda Neiva Bagano – FBDG O Direito é Instrumento para dificultar ou facilitar a mudança social? Exemplos que dificultaram a mudança social: • Leitura jurídica do cidadão eleitor (analfabetos que antes da atual constituição não podiam votar, sendo que inclusive tínhamos uma população analfabeta muito significante). Assim, gera um ciclo de retroalimentação dessa política excludente onde eles não tinham acesso a políticas de estudo, se mantendo assim, e não podendo votar, não havendo a possiblidade de criação desse tipo de política. • Regime jurídico de propriedade (durante todo processo de formação do Brasil a propriedade foi tratada como direito absoluto, não podendo o Estado intervir. Assim, se manteve um ciclo de manutenção do poder. Apenas com a Const. de 1988 que vemos a mudança importante que exige a função social da propriedade). Exemplos que facilitaram a mudança social: • O marco da Const. de 1988 • CLT de 1943 (feita no governo Vargas, intenção de proteger os trabalhadores. O princípio de primazia do trabalhador é adotado e traz que em primeiro lugar deve vir a proteção ao trabalhador. Foi a primeira legislação trabalhista e entende o trabalhador como a parte mais fraca da relação jurídica, vindo então para reequilibrar a relação). • ECA de 1990 (não existia legislação anterior que abarcasse toda a situação da criança e adolescente, apenas a punição. Com o ECA vem também a interface protetiva do menor, além da punição. Também não existia anteriormente separação entre criança e adolescente, a separação foi importante para dimensionar diferentes punições entre criança [até 12 anos] e adolescente [dos 12 aos 18]). • CDC de 1990 (o código do consumidor coloca o consumidor como parte mais fraca da relação jurídica que necessita de auxílio para equilibrar a relação. Com o CDC há a inversão do ônus da prova, o vendedor que deve provar, por exemplo, o defeito do produto). • Estatuto do Idoso de 2003 (percebe-se o envelhecimento da população e anteriormente não existia uma legislação específica e detalhada para o idoso. A Const. fala de proteção ao idoso, mas não pode ir aos detalhes, sendo o Estatuto responsável por isso). • Estatuto da Pessoa Deficiente de 2015 (tenta aproximar o deficiente à sociedade e permitir sua inserção). Formação da sociedade Brasileira O Brasil possui algumas características indispensáveis. Quando a gente se propunha em pensar o Brasil como sociedade, um dos pontos de partida é como se deu o modo de ocupação: tínhamos populações nativas – o modo de ocupação se deu pela propriedade privada, Portugal estava em busca de dominar rotas marítimas para exercício do poder. Portugal não tinha a pretensão de permanecer no Brasil, mas como ele tinha descoberto as terras brasileiras, ele estabelece as capitanias hereditárias e entrega aos donatários para manter a sua autoridade sobre as terras. Nos latifúndios estabelecia a monocultura – como o mundo brasileiro nasce das propriedades rurais, isso também será uma marca definitiva na sociedade. Outra coisa que vai caracterizar a colonização portuguesa é a ausência de organização urbana, sem planejamento, justamente porque a centralidade no processo de formação da sociedade estava nas fazendas, no âmbito rural. Sempre houve no Brasil uma ausência de separação entre vida pública e privada, gerando muitas críticas de filósofos nesse sentido. 7 Brenda Neiva Bagano – FBDG Outro elemento caracterizador é o regime escravagista – O Brasil utilizou aproximadamente a mão de obra escrava por 350 anos. Juridicamente, a escravidão foi um mecanismo de exploração humana onde o indivíduo era tratado como “coisa”, pois, ele nunca foi sujeito de direito no BR. Os escravos eram chamados apenas pelo primeiro nome, e a escravidão era um regime de propriedade. O fato de nós termos um regime escravagista durante 350 anos, tem impactos atuais, pois, ainda enxergamos as relações de trabalho maculada pela relação de escravidão, principalmente no que diz respeito aos trabalhos manuais. O fato de haver escravidão no Brasil fez com que outras áreas não existissem. Além disso, o desenvolvimento das sociedades brasileiras se deu deforma tardia, pois, imperava o sistema rural. Há uma ausência de consciência cidadã, já quem, ninguém almeja ser carpinteiro. Patrimonialismo: Tem a ver entre o universo público e privado, pois, no Brasil nunca houve essa separação. Na origem de formação Brasileira essa relação de vida privada na família e nas relações sociais se confundiam, por isso até hoje temos dúvidas de até onde vai minha vida pública e a minha vida privada. Isso nos remonta ao Brasil colônia, pois, boa parte da vida brasileira estava acontecendo no mundo rural que girava em torno da família – havia outros universos em torno essa família. Quando adentramos no primeiro império e república, a figura do senhor de terra se transfere para o coronel, o mesmo senhor de terras para colônia, dotado de privilégios e que era politicamente, economicamente forte. Ele estabelecia relações com o governo. As instituições estatais foram constituídas a partir disso, e as corrupções que ocorrem, é justamente porque não entendemos a separação entre público e privado: eu não sou prefeito, eu ESTOU prefeito, eu não posso transferir meus anseios pessoais para a vida pública. Tem uma autoria chamada Teresa Sales que nós trás o conceito de cidadania concedida: A cidadania é compreendida por nós como uma concessão do Estado e não como algo conquistado, que me pertence. Falta ao brasileiro a compreensão sobre o que é ser cidadão fruto de um processo histórico que, embora tenha tido algumas lutas sociais, o brasileiro sempre se relacionou com o Estado como um símbolo de concessão da cidadania. Roberto da Mata: Ele compara as questões sociais Brasileiras com os EUA, e ele é muito preciso ao tratar dessas questões. Seu texto tem observações que nos remetem diretamente a situações do nosso cotidiano. “A questão da cidadania no universo relacional” – ele analisa a cidadania no Brasil mostrando como ela é elaborada, na maioria dos países cidadania é questão de universalização, ou seja, todos nós somos parte de um mesmo universo. No Brasil a cidadadia depende do universo relacional, você é mais ou menos cidadão a depender de como você se relaciona, de quem você é amigo. Há uma série de restrições a condição de ser cidadão: juridicamente somos todos cidadãos, mas quando vamos para a realidade sociológica/prática, as diferenças são evidenciadas. Livro de Silvio no Capítulo “Raça e Racismo”: Quando a escravidão estava ocorrendo, o Iluminismo estava se desenvolvendo, fator que gera ambiguidade visto que o Iluminismo defende a liberdade e a igualdade. Silvio mostra a concomitância de dois discursos totalmente antagônicos. Silvio distingue racismo – forma sistemática de descriminação, algo mais profundo; preconceito racial – é você ter uma ideia preconcebida sobre a raça; discriminação racial – é o tratamento diferenciado. Ele entende que existe um racismo individual: EU BRENDA, não permito que um negro entre na minha casa; institucional: interpretado pelas instituições, ex: um negro ao entrar em determinado local é associado com 8 Brenda Neiva Bagano – FBDG bandido; e estrutural: ele quer demonstrar que existe uma questão racial que está na própria estrutura da sociedade e está além das instituições. O racismo estrutural é mais profundo, e está de tal maneira permeado nas relações sociais, que mesmo EU não sendo racista, sou produto de uma sociedade racista. Movimentos Sociais do Direito Alain Tourraine define como: “Ações coletivas protagonizadas por sujeitos históricos que procuram viabilizar acordos políticos” É o conjunto de pessoas que se agregam em torno de um objetivo comum e que procuram uma forma de interferência na realidade Ação coletiva Sujeitos históricos Indivíduos que são produto do processo histórico Acordos políticos (política na essência, aquilo que é do espaço público) Acordos que sejam produtos do espaço público Movimentos se renova ao longo da história Características: Identidade essência .Oposição/não-institucionalização Muitas vezes as pautas dos movimentos sociais são contra as do estado Regra para ação/planejamento .Desenvolvimento histórico dos movimentos sociais: .Corrente histórico-estrutural: é formada pelos movimentos de classe trabalhadora, principalmente pela classe operária (final do século XIX até o século XX, entre as décadas de 50 e 70). A pauta primordial era a mudança da estrutura de desigualdade entre o operário e o chefe. O principal teórico a influenciar esse movimento é Karl Marx. .Corrente cultural-identitária: Luta pelas questões identitárias, os quais foram chamados de novos movimentos sociais (anos 60 em diante). Alimentados principalmente pela sociologia e filosofia, fonte de expiração para esses movimentos sociais. Profunda transição social, geração que quando chegou à juventude quis dizer que o mundo construído na primeira metade do século XX não fazia parte da sua meta. Geração que conseguiu mudar hábitos no mundo e por isso foi punida pelas consequências do seu modo de atuar (movimento com drogas, bebidas, etc) .Corrente organizacional: Tentativa de organização desses movimentos sociais, de um lado tem-se um movimento social sem dinheiro e de outro organizações e empresas dispostas a aplicar o seu dinheiro em causas sociais. A escola de analise econômica do direito pondera que se deve associar o movimento social com empresas que tem fundos para o propósito de trazer uma condição institucionalizada dos movimentos sociais e levantar recursos. Porém os movimentos sociais não são considerados movimentos sociais quando viram institucionalizadas. Movimentos Populares, urbanos e rurais Redemocratização de vários países (anos 80) que favoreceram movimentos sociais na luta por terra e moradia Luta movida pelos povos nativos dos países reclamando o reconhecimento de terras e o reconhecimento da cultura tradicional através dos movimentos sociais 9 Brenda Neiva Bagano – FBDG .O movimento sem terra, por exemplo, nasce de uma pauta histórica (questão da Reforma Agrária) tendo uma motivação associada ao processo de formação territorial latifundiário. O Movimento sem teto, por exemplo, reclama da dicotomia de muita gente sem teto e muito teto (prédios) sem gente, tendo como uma política voltada para solucionar esse problema o Minha Casa Minha Vida. Movimentos sociais de cunho supraestatal (ambientais, anticapitalistas, gênero): movimentos mais recentes, pois não estão atrelados a presença dos movimentos em questão específico, eles levantam bandeiras que transcendem as fronteiras do estado, pais ou cidade específico. Surge também uma concomitância entre os movimentos (O movimento feminista anti-racista, por exemplo). .Questões Atuais – Texto Manuel Castells .Conexão por redes de múltiplas formas .Simultaneamente locais e globais .São virais .Horizontalidade das redes favorece cooperação e solidariedade reduzindo a necessidade de liderança formal .Não violentos .Fragmentariedade .Essencialmente políticos (carregam consigo o desejo de mudança através da atuação)
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