Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL CURSO DE HISTÓRIA GUSTAVO GUILHERME SCHNEIDER TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980. MARECHAL CÂNDIDO RONDON 2018 GUSTAVO GUILHERME SCHNEIDER TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito básico para obtenção do título de licenciado em História, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon. Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pádua Bosi MARECHAL CÂNDIDO RONDON 2018 A meus pais, e meu irmão o meu mais sincero obrigado. AGRADECIMENTOS A conclusão deste trabalho se deve ao apoio de inúmeras pessoas que contribuíram para que esse momento acontecesse. Primeiramente, agradeço aos meus pais Dalvo e Elena, por todo apoio e dedicação prestados durante todas as fases da minha vida, principalmente durante o período da graduação. Agradeço também meu irmão Eduardo, pelo apoio e amizade. Sem eles essa etapa não estaria se concretizando. Amo vocês. A Ana Paula minha companheira agradeço pelo carinho e apoio e principalmente pela paciência que teve comigo durante essa etapa. Seus elogios e incentivos foram fundamentais para seguir em frente. Obrigado por tudo. Agradeço a Francisco, amigo desde o primeiro ano da graduação, isso lá em 2013. Obrigado Chico pelo apoio, criticas e pelas conversas no bar. Tudo que vivemos, estudamos, discutimos juntos foi de suma importância para minha formação acadêmica. Gaspar, Fano e Eloísa, obrigado por toda ajuda no período da iniciação cientifica e durante a produção do TCC. A todos os colegas que acompanharam minha trajetória na universidade muito obrigado. Em especial a Alana, Gabriel, Marcelo e Jana o pessoal que dividia a carona diária (Hermanoteu Tur) de Toledo a Marechal, foi muito divertido conviver com vocês. Obrigado pelas sugestões e paciência ao me ouvir falar sobre o TCC. E o agradecimento mais especial dedico aqui, ao meu professor e orientador Antonio de Pádua Bosi. Obrigado pela oportunidade de aprender com você. Sua paciência e atenção, desde a iniciação cientifica, me ajudaram a crescer enquanto profissional e pessoa. Muito obrigado mesmo professor. LISTA DE ILUSTRIÇÕES: IMAGEM 1 - “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR IMAGEM 2 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 1 IMAGEM 3 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 2 IMAGEM 4 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 1 IMAGEM 5 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 2 RESUMO SCHNEIDER, Gustavo Guilherme. TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2018. O presente trabalho buscou analisar a experiência dos trabalhadores do frigorífico da Sadia no município de Toledo-PR durante as décadas de 1960 a 1980. O frigorífico da Sadia buscou consolidar uma imagem de progresso associado ao desenvolvimento da própria cidade. E que esta utiliza desse discurso, além de algumas estratégias como facilitar a compra da casa própria para recrutar trabalhadores, que se dirigiram para a região durante os anos 1960, 1970, 1980 em busca de emprego. Esses sujeitos, narraram suas trajetórias na Sadia como vitoriosas, apesar do serviço pesado, com o trabalho no frigorífico conseguiram melhorar de vida. Palavras-chave: Frigorífico; Trabalho; Sadia. SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAS......................................................................... 12 CAPITULO 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO ECONÔMICA DE TOLEDO-PR E A CONTRUÇÃO DE UM FRIGORÍFICO............................. 14 1.1 SÍNTESE HISTÓRICA DA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO OESTE DO PARANÁ................................................................... 15 1.2 O FRIGORÍFICO PIONEIRO................................................. 20 1.3 A SADIA CHEGA À REGIÃO................................................. 25 1.4 A RECRUTAGEM DE TRABALHADORES............................ 33 CAPÍTULO 2: OS TRABALHADORES........................................................ 35 2.1 TRABALHAR NO FRIGORÍFICO........................................... 38 2.2 “VINHA DE FORA PRA TRABALHAR”................................ 45 2.3 TRABALHAR E MORAR NA VILA OPERÁRIA...................... 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 55 FONTES........................................................................................................ 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 58 12 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este trabalho de conclusão de curso (TCC) tem como origem um projeto de iniciação cientifica desenvolvido entre 2016 e 20171. Desta pesquisa inicial emergiu uma questão que resultou na elaboração dessa pesquisa, que tem como objetivo, em um primeiro momento, perceber como é construída uma demanda de matéria- prima necessária ao funcionamento de um frigorífico em Toledo, no final da década de 1950. Pensar de que forma a Sadia se instala na região na década de 1960 e organiza o processo produtivo, ampliando a produção de porcos, mobilizando trabalhadores e construindo uma imagem de progresso associada ao seu funcionamento em Toledo. Para tanto o trabalho foi dividido em dois capítulos. No primeiro capítulo será analisado o processo de formação econômica da região de Toledo. No segundo capítulo será analisada a atuação da Sadia em Toledo. A forma como ela organiza e dinamiza o fornecimento de matéria prima, como ela buscou construir uma imagem de progresso associando sua atuação ao desenvolvimento da cidade e como se davam as relações de trabalho no ambiente da fábrica. Antes disso, tentei mostrar como a região foi organizada economicamente e como esta organização facilitou a instalação do frigorífico. A forma como a Maripá promoveu esse processo foi baseada na pequena propriedade, lotes de 25 hectares, onde se praticava uma agricultura diversificada. Os sujeitos selecionados como compradores provinham, principalmente, dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, eram sujeitos com certa experiência no trabalho em pequenas propriedades. (GREGORY, 2002). Esse tipo de econômica, pautada na pequena propriedade de policultura, possibilitou a criação de uma demanda de matéria-prima. Na região eram criados porcos, que serviram para o consumo interno na região, sendo o pouco excedente comercializado. A partir da década de 1950 houve um significativo aumento na produção de porcos da região. Para atender os interesses de produtores de agregar valor a carne comercializada, foi proposta a criação de um frigorífico que seria criado com capital local. Em 1959 é criado o Frigorífico Pioneiro, que teve dificuldades 1 PIBIC/CNPq/ Unioeste. “Trabalhadores e vila operária: Um estudo de caso sobre o frigorífico da Sadia, Toledo-PR, 1960-1980.” Sob orientação do Professor Antonio de Pádua Bosi. 13 durante seu funcionamento para assimilar a produção de suínos da região, sendo comprado pela SADIA em 1964. A compra do Frigorífico Pioneiro foi justificada por seu diretor, Atillio Fontana devido a grande produção de suínos da região. Os registros sobre esse processo foram levantados em trabalho de campo no ano de 2016 e 1917. Basicamente são entrevistas, materiais consultados no Museu histórico Wily Barth de Toledo-PR e visitas ao lugar onde era a vila operária ligada à Sadia. Ao comprar o Frigorífico Pioneiro, em 1964, a SADIA iniciou uma série de reformas que terminariam em 1971. Durante esse período a mesma buscou organizar o fornecimento de porcos, com a atuação do Fomento SADIA, buscou disseminar práticas para um bom manejo na criação de suínos. Uma vez organizado o fornecimento de matéria prima o frigorífico encontrava-se pressionado por uma falta de trabalhadores, que a mão de obra da cidade não conseguiu suprir. Nesse sentido a SADIA buscou trabalhadores de outras regiões. Neste período, sujeitos de diferentes regiões do Brasil se dirigiram para a região de Toledo em busca de emprego, fugindo de condições precárias em suas cidades. A SADIA buscou construir uma serie de estratégias para assegurar a manutenção da mão de obra. Eram ofertados além do salário “benefícios” como vale transporte, assistência odontológica e durante a década de 1970 a possibilidade de adquiri a casa própria. Para realizar a análise sobra a atuação da SADIA foram utilizados dois recortes de periódico com circulação regional, dos anos de 1968 e 1970. A partir da análise desses documentos foram construídas algumas questões acerca de como a SADIA cria uma imagem de empresa que trouxe o “progresso” a região. Foram realizadas oito entrevistas no ano de 2017, destas quatro são utilizadas nessa pesquisa. Trata-se da fala de três homens que entraram no frigorífico durante as décadas de 1960 e 1970 e se aposentaram na SADIA e de uma mulher que começou a trabalhar no frigorífico no inicio dos anos 1970, saindo após seu casamento com outro funcionário. Trata-se de analisar como esses sujeitos enxergam sua trajetória de vida, que foi marcada pelo trabalho na SADIA. 14 CAPÍTULO 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO ECONÔMICA DE TOLEDO-PR E A CONTRUÇÃO DE UM FRIGORÍFICO Este capítulo tem por objetivo discutir as estruturas econômicas, presentes formação econômica de Toledo-PR durante as décadas de 1950 e 1960. Trata-se de analisar como esse processo, baseado na pequena propriedade e na policultura, gera uma demanda de matéria-prima, um rebanho suíno considerável. A criação de porcos contribuirá com a constituição de um frigorífico em Toledo no final dos anos 1950. E posteriormente, durante a década de 1960, esse frigorífico servirá como estrutura para a constituição da SADIA no município. Para tanto, em um primeiro momento, faz-se necessário dissertar acerca da formação econômica do município de Toledo. Logo, pode-se colocar como referência a ocupação organizada do Oeste do Paraná a década 1940.2 Há que se ressaltar que, durante o início da década de 1930, ocorre um processo de ocupação de terras onde se estabelecem famílias que migraram dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse período pode ser considerado intermediário entre a ocupação esporádica e definitiva desse espaço. Esses primeiros proprietários, chamados de “colonos”, dedicavam-se ao cultivo de subsistência e a o extrativismo de madeira e erva-mate. Também, no período anterior as décadas de 1930, empresas, em sua grande maioria estrangeiras, dirigiram a exploração econômica da madeira e erva-mate. Portanto, a ocupação econômica efetiva da região Oeste do Paraná vem a ser realizada em meados dos anos 1940 e 1950, essa ocupação é favorecida no contexto da Primeira Guerra Mundial. Foram estipulados legislações e direcionamentos políticos que, em grande medida, criaram dificuldades para a operação e manutenção das empresas estrangeiras que atuavam na região. As dificuldades para a manutenção dessas empresas favoreceram a instalação de empreendimentos, de capital nacional, que exploraram o comércio de madeira e colonização. 2 No Período Vargas, as ações oficiais do governo, baseadas no nacionalismo e assentadas sobre um estado fortalecido e centralizador, objetivavam buscar a integração. No que tange à ocupação do território, foi promovida uma ação administrativa agressiva através do programa “Marcha para o Oeste”. (GREGORY, 2002, p.65) 15 Durante a década de 1940, diferentes empresas de capital nacional, iniciaram atividades de colonização e extração de madeira na região Oeste e Sudoeste do Paraná. O recorte desse trabalho irá analisar a atuação da Companhia Colonizadora do Rio Paraná S/A – Maripá na região de Toledo. A colonizadora organizou a ocupação econômica da região, orientada por um projeto de colonização, o que permitiu o desenvolvimento de uma economia pautada em uma policultura de subsistência. Portanto, há que se considerar, como a Maripá estrutura o processo produtivo da região? De que forma a criação de uma demanda de produção permitiu a criação de um frigorífico? Como se organizaram os frigoríficos, primeiro o Pioneiro e depois a SADIA, no município de Toledo? 1.1 SÍNTESE HISTÓRICA DA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO OESTE DO PARANÁ. A Maripá, empresa constituída no Rio Grande do Sul no ano de 1946 adquiriu, em setembro do mesmo ano, 290.000 hectares com a compra da Fazenda Britânia da empresa Maderas del Alto Paraná, companhia inglesa com matriz na Argentina. Essa companhia utilizava a fazenda para a extração de madeira e erva-mate. Em um primeiro momento, antes de a ocupação ser estruturada, a Maripá valeu-se principalmente da extração e comércio de madeira para gerar fundos. Esse processo foi facilitado pela estrutura organizada pelo dono anterior da fazenda Britânia, onde se encontrava em funcionamento um porto equipado para facilitar o escoamento de toras pelo Rio Paraná. Quanto a ocupação organizada, foi estruturado um projeto que priorizou alguns pontos principais. A presença humana, tamanho das propriedades rurais, tipo de agricultura e a industrialização foram os elementos priorizados na ocupação econômica. Isso permitia a organização do comércio de terras e a exploração de outras fontes de renda. (GREGORY, 2002) A empresa definiu que o tamanho dos lotes seria de, aproximadamente, 25 hectares. Isso estruturou a ocupação da terra por agricultores em pequenas propriedades. A divisão desses lotes levou em consideração inicialmente o fornecimento de água, sendo os cursos d‟água utilizados para balizar a divisão das propriedades. Kalervo Oberg3 em levantamento realizado no ano de 1956 discorre 3 Kalervo Oberg, antropólogo norte americano, produziu relatório socioeconômico na região de Toledo no ano de 1956. Esse relatório faz parte do Projeto de Desenvolvimento Regional da Zona Fronteiriça do Oeste do Paraná. Foi publicado sob o titulo de “Toledo, um município da fronteira Oeste do 16 sobre a formação econômica na região Oeste. Com base em seu relatório pode-se analisar a atuação da colonizadora em Toledo. Quanto à escolha dos compradores a Maripá priorizou a venda de terras para um elemento humano especifico. Os descendentes de imigrantes alemães e italianos radicados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina foram considerados ideais, pois seriam uma “uma população provada e testada para a experiência de uma vida pioneira da nova área” (OBERG; JABINE, 1980, p.28). A escolha desse perfil foi justificada pelo fato de esses indivíduos serem pequenos proprietários rurais, agricultores do tipo familiar com a tradição do trabalho árduo. Há que se ressaltar que as vendas de terras realizadas pela Maripá excluíam a possibilidade de determinados sujeitos adquirirem propriedades, sendo que uma campanha de publicidade em grande escala descartada. Esperava-se que esta campanha pudesse atrair sujeitos considerados aventureiros. O caboclo foi descartado como possível comprador. Foi levada em consideração duas percepções da empresa. Primeiramente, por possuírem uma agricultura que a empresa considerava primitiva. Além disso, os caboclos não dispunham de dinheiro suficiente para adquirir uma parcela de terra. No entanto, a companhia, utilizou-se da mão de obra desses sujeitos na derrubada de mata, construção civil e na abertura de estradas. O caboclo foi contratado para trabalhar, em algumas ocasiões, em trabalhos de empreita. Sua posição subalterna foi reforçada pela empresa e pelas famílias compradoras das terras. Com intuito de selecionar trabalhadores aptos ao seu projeto de lotear e vender o Oeste do Paraná, a Maripá estabeleceu contato com agricultores de projeção dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses indivíduos serviriam de intermediários da empresa com pequenos agricultores da região Sul, cooperando para a vinda das primeiras levas de agricultores para Toledo. Parte das levas de “colonos” que vieram para Toledo nesse período teve sua vinda intermediada por agentes contratados. Kalervo Oberg registra que “O que esses homens contavam a seus amigos a respeito de Toledo era acreditado, sendo muito de mais eficácia para conseguir bons „colonos‟ do que anúncios em jornais.” (OBERG; JABINE, 1980, p.31). Paraná” em primeira edição no ano de 1960 e é publicado novamente em 1980. O levantamento que o pesquisador realizou serve para observarmos alguns processos implantados pela Maripá para o desenvolvimento da colonização na região. 17 Antes de a Maripá começar a venda das fazendas, realizou-se, no ano de 1949, um levantamento topográfico de modo a determinar áreas e elaborar mapas da região. O processo de aferição das áreas destinadas a fazendas acabou sendo mais moroso, o que retardou a vinda de alguns agricultores do sul. De qualquer modo, a Maripá construiu uma estrutura de casas que serviu para alojar “colonos” de forma gratuita logo que chegados à região. A partir desse levantamento e da analise das condições climáticas da região foi estipulado o tipo de agricultura a ser praticada. Com temperaturas mais baixas e sujeitas a geadas, o cultivo de grãos era a opção ideal, pois não acarretariam grandes perdas por conta das condições climáticas. A região também foi considerada adequada para a criação de gado e de porcos. Esses tipos de propriedade, com cultura mista, consolidaram uma economia estável na região. Segundo Oberg,4 no ano de 1956, já haviam sido vendidas 9.618 propriedades, com o preço por alqueire de terra cultivável, sendo o alqueire equivalente a 2,42 hectares5, variava entre 7.000 e 9.000 cruzeiros, o que custaria, atualmente, algo em torno de R$ 3.272.00 por alqueire. A agricultura começou a se desenvolver em dimensões maiores a partir de 1951. Ainda que, referente à utilização do território da colônia, em 1956 apenas 18,4 por cento, 44.150 hectares estavam sendo explorados como lavouras. As demais propriedades, já vendidas a agricultores que ainda não haviam começado o processo de derrubada da mata, que em media demorava 1 ano. Dados presentes na pesquisa de Oberg indicam que em 1956, 71% da terra ainda estavam cobertas por mata, 20% eram utilizadas em cultivos temporários, 5% em lavouras permanentes e 2% considerava-se terra inapropriada a cultivos. Os 20 por cento em culturas temporárias, em 1956, estavam distribuídas da seguinte maneira: milho, 62 por cento; aipim ou mandioca doce, 14 por cento; arroz, 8 por cento; soja, 5 por cento; trigo, 4 por cento; outras culturas, três por cento. (OBERG; JABINE p.68, 1980) 4 A fim de contextualizarmos os valores tanto de tamanho quanto de valor monetário serão feitas algumas conversões nos dados apresentados. O tamanho das propriedades será convertido de hectare para alqueire. A que se ressaltar que o alqueire não possui um valor exato, podendo variar de estado para estado do Brasil, deste modo será utilizado o alqueire paulista. A conversão monetária se fara do Cruzeiro (Cr$) para o Real (R$), sem utilizarmos as correções de inflação, para determinarmos o preço dos lotes comercializados na época. 5 Conversão: Sendo que 1 hectare (ha) é igual a 10.000 m², um alqueire paulista é igual a 24.000 m² de modo que 1 alqueire = 2,42 ha. E que Cr$ 1,00 é igual a R$ 2,75, Logo 1 alqueire = Cr$ 9.000,00/2,75 = R$3.272,00 que seria o preço do alqueire de terras cultiváveis. 18 O tamanho médio das propriedades, minifúndios que mediam 256 hectares, ou aproximadamente 10,4 alqueires, com um custo de R$ 34.028,80. Esses tipos de lotes determinaram um tipo de agricultura de pequenas lavouras com cultivos diversos. A economia na região assentada nessa forma de agricultura alternava a produção para o mercado e para o consumo interno. Quanto a grande quantidade de terras cobertas com mata nativa essas foram gradativamente dando lugar a pastagens. Isso se deve a ausência de pastagens naturais na região e o problema da falta de carne. A região era abastecida com carne trazida em boiadas do Mato Grosso. Para aumentar a quantidade de cabeças de gado, tanto o leiteiro quanto o de corte, na região a floresta foi transformada em pastagens. A criação de porcos era comum nas propriedades da região, quase todas as propriedades possuíam suas pocilgas no período, diferindo apenas no tamanho e tipo. Os porcos eram criados soltos pela propriedade, o chamado porco de invernada, ou eram criado dentro de chiqueiros que variavam quanto ao tamanho.7 A alimentação desses animais era à base de milho e de mandioca, produzida pelos próprios agricultores. No regime de engorda eram utilizadas duas rações compostas de fubá de milho, farelo de trigo, mandioca, batata doce, soja e sais minerais. Os suínos eram vendidos quando chegavam a oito ou nove meses com o preço girando em torno de 18 a 20 cruzeiros8 o quilo do suíno vivo. (OBERG; JABINE, 1980) A criação e comercialização de porcos constituiu um dos elementos que possibilitaram aos agricultores a acumulação de capital, nos anos 50 e 60. No período de 1950 em torno de 70% da produção de suínos eram direcionados ao comercio. No ano de 1956 foi feito levantamento onde foi estimado que existissem no município aproximadamente 45.000 cabeças. O Empório, serviu como intermediário a venda de porcos para o frigorífico Wilson em Ponta Grossa. A partir de dados levantados por Oberg pode-se observar 6 Conversão: 1 colônia = 25 ha, sendo que 25/2,42 = 10,4 alqueire. Tendo em vista que o preço do alqueire era de R$3.272,00 * 10,4 alqueire por colônia. O custo da propriedade seria algo em torno de R$ 34.028,00. 7 O chiqueiro seria construído com medidas de 6 metros de cada lado do corredor central, era uma construção quadrada. Os compartimentos destinados aos suínos possuíam 6 metros quadrados e comportavam cerca de 50 suínos. Cada compartimento possuía um comedouro com 30 centímetros de largura e 15 de profundidade e um cocho com água corrente. (OBERG; JABINE, 1960) 8 Eram pagos R$ 7,50 o quilo do suíno vivo. 19 o aumento significativo da produção de suínos na região. Foram comercializados 3.000 porcos no ano de 1955 e no ano seguinte o numero de exportados do município foi de 5.000. Até o final da década de 1950 o numero de suínos comercializados chegaram a perfazer números superiores a 50.000 mil cabeças.(OBERG; JABINE, 1980) A comercialização de suínos com o frigorífico Wilson dependia do transporte elemento que de certo modo rebaixava o preço recebido pelo produtor na venda. Era utilizada um taxa de frete que custava em torno de 1,70 cruzeiros para Curitiba e 1,50 para Ponta Grossa. Nos anos de 1950 aproximadamente 70 por cento da produção de suínos destinava-se ao comércio e a partir dos anos 60 quase a totalidade desses animais era comercializado com frigoríficos de Ponta Grossa e São Paulo. (BOSI, 2016) Para além do porco os principais produtos que se destinavam ao comercio eram o fumo e o feijão preto. Dados de metade dos anos 50 dão conta do volume de venda desses produtos, que os configura como as principais culturas comerciais da colônia no período. No ano de 1955 foram exportados em torno de 8.000 arrobas de fumo e 4.000 sacas de feijão. O fumo era vendido a Companhia Souza Cruz que possuía instalação destinada à secagem de Fumo em Toledo. Quanto ao feijão, o mesmo era vendido e transportado até Ponta Grossa, local onde existia a ferrovia mais próxima. O custo para o transporte de produtos ensacados, cereais em geral, custava em media 1 cruzeiro o quilo. (OBERG; JABINE, 1980) Dos três produtos mais exportados em Toledo o suíno é o que veio a ter mais relevância. Quanto ao abastecimento interno esse era suprido pelo que se produzia nas lavouras da região. Consumia-se uma grande quantidade de arroz, manteiga, batatas, milho, frango e ovos. O milho em geral era direcionado quase todo a produção de ração para os porcos. Existia em Toledo uma infraestrutura que permitia o beneficiamento de produtos necessários ao abastecimento interno. A empresa procurou estabelecer, manter e estimular a construção de indústrias que favorecessem o desenvolvimento na região. Inicialmente esses estabelecimentos atendiam as necessidades mais imediatas desses proprietários. De modo geral, foram construídas oficinas mecânicas, para reparos rápidos em maquinários, um moinho para o beneficiamento de cerais e um armazém onde 20 se realizava as compras básicas e eram vendidos produtos como porcos. Além de uma série de empresas ligadas a extração e ao beneficiamento de madeira. A forma como a Maripá organizou esse processo, pautado em uma policultura em minifúndios permitiu a região conhecer um desenvolvimento acelerado. Com a implantação de tecnologias e a mecanização do campo, a produção de produtos como o milho, base da alimentação dos suínos cresceu também. O dinamismo dessa economia permitiu que se gestassem condições para a criação de empresas do tipo agroindustrial que beneficiavam produtos, do tipo primário, produzidos na região. A ideia da construção de um abatedouro-frigorífico em Toledo remonta ao ano de 1956. O discurso de Ondy Niederaurer9, um dos diretores da Maripá, apresenta o projeto de construção de um frigorífico em Toledo: Nada os intimidou [colonos], nem os que o seguiram. A custa de seus esforços em 1946, 1947 e 1948, foi-nos possível a construção de algumas estradas, serrarias e as primeiras casas. Depois seguiu- se a exportação de madeira que trouxe algum dinheiro.(...) Em 1949 e 1950, vieram os primeiros compradores de terra. Alguns indivíduos fracos logo desistiram mas os mais ousados resolveram tentar a sorte, comprando uma ou duas colônias. Em 1951 os „colonos‟ vieram de avalancha. (OBERG; JABINE, 1980, p.37) Ao destacar a história da região, os esforços realizados e as conquistas alcançadas. Niederauer interpreta esse trajeto como um sucesso. O projeto do frigorífico que seria construído com participação dos agricultores, com intuito de obter melhores preços com a venda de pedaços processados dos animais seria outro empreendimento “bem sucedido da colonizadora”. 1.2 O FRIGORÍFICO PIONEIRO O frigorífico funcionaria para adicionar valor a atividade de suinocultura em Toledo, uma vez que permitiria a comercialização de produtos industrializados. Quando processada a carne suína, o tempo para chegar ao mercado consumidor e o tipo de estrada seriam problemas secundários. De fato os fundadores do frigorífico não se preocuparam com a logística da distribuição. Pelo menos não se preocuparam no início. Niederauer descreve como deveria ser tal empreendimento: 9 Esse discurso foi proferido em um radio local em 1956 e transcrito para o relatório de Kalervo Oberg. 21 O frigorífico projetado deverá ser grande, mas não demais. Considerando a atual e a futura produção de porcos, deve ter a capacidade para 200 a 250 porcos por dia, além de 10 a 25 cabeças de gado. O frigorífico deve ser construído de forma a permitir a expansão futura. Outra consideração de grande importância na formação da nova Companhia é a continua solidariedade do povo, nesta área. Se cada um de nós procurasse se tornar independente e trabalhar por si só, estaríamos trabalhando para trás. Devemos nos unir e trabalhar juntos, pois só unidos venceremos. (OBERG; JABINE, 1980, p.38) É importante salientar que Niederauer necessitava reunir capital para o empreendimento. Não sabemos se houve aporte de recursos emprestados de bancos. Fato é que a participação de capital local, captado entre os agricultores, foi alvo dos apelos inicias. O final do texto acima indica isso. A união referida por ele dizia respeito também à organização da oferta de porcos. A partir do relatório de Oberg (1960), pode-se observar que o interesse em se construir um frigorifico tinha como principal objetivo agregar valor ao preço do porco. Esse estava sujeito às crises do mercado onde ora o preço era favorável à venda, ora os preços estavam abaixo das expectativas dos criadores. A narrativa que Oberg construiu apresenta um episódio onde o preço do suíno estava baixo. Quando no ano de 1956 três navios com os porões carregados de banha atracaram no Rio de Janeiro. A banha foi comprada pela COFAP10 dos Estados Unidos e colocada à venda no mercado nacional a Cr$30,00 o quilo. A construção de um frigorífico permitiria aos produtores manterem o nível dos preços do porco, agregando valor no suíno processado. A demanda de produção necessária ao funcionamento de um frigorífico estava se engendrando na região. Aliado ao aumento do rebanho contribuía para a criação, à suficiência em matéria-prima, necessária a ração dos porcos. Portanto, a construção de um frigorífico em Toledo foi condicionada pelo aumento da produção do milho e dos suínos na região. Sobre o frigorífico formulou-se duas questões: Como foram desenvolvidas as atividades desse primeiro frigorífico? O mesmo conseguiu cumprir com o que foi prometido em seu projeto? O frigorífico entra em funcionamento no ano de 1959, com o nome de Frigorífico Pioneiro, na forma de uma sociedade anônima. Sua construção é condicionada pela dinâmica econômica presente na região, que fornecia matéria- 10 Sigla aparece no relatório de Oberg, possivelmente seria uma entidade ligada ao agronegócio durante a década de 1950. 22 prima necessária ao seu funcionamento. O funcionamento do Frigorífico Pioneiro se estendeu de 1959 a 1963, quando é comprado pela Sadia. Existem poucos registros sobre o funcionamento do Frigorífico. O que apresenta algumas dificuldades para analisarmos o seu funcionamento. As atas do conselho fiscal, uma fotografia do frigorífico de 1959, constituem a documentação encontrada. Em um primeiro momento, apresentarei a análise das atas do conselho fiscal. Na pesquisa de campo, realizada nos arquivos do Museu Histórico Wily Barth de Toledo-PR no ano de 2017, foram encontrados, registros dessa documentação do ano de 1960 até 1965, totalizando 13 atas11. O Frigorífico Pioneiro foi constituído como uma sociedade anônima, o que deveria permitir a participação de um número considerável dos agricultores da região. No ano de sua fundação, em 1959, possuía o capital social de Cr$ 10.000.000,00, algo em torno de 3.5 milhões de reais. Esse capital social foi dividido em 10 mil ações no valor de Cr$ 1.000,00 cada, aproximadamente 360 reais. No entanto, essas ações, estavam circunscritas a uma pequena quantidade de sujeitos. Fato que difere da proposta do frigorífico, presente no discurso de Ondy Niederauer. A família Baudisch possuía 69 % do capital, sendo o restante dividido entre 6 indivíduos, os quais possuíam uma ligação direta, ou indireta com administração da Maripá. A partir da análise das atas do conselho fiscal pode-se inferir algumas questões sobre o funcionamento do mesmo. A partir de 1960 foram deliberadas sucessivos aumentos do capital do frigorífico. Consta que, na ata nº2 de 1960 do Conselho Fiscal aprovou o aumento de Cr$ 6.000.000,00 do capital. Ata nº 4 de 1961 aprovou o aumento de Cr$ 20.000.000,00 do capital. Ata nº 5 de 1961 aprovou o aumento de Cr$ 24.000.000,00 de capital. Em 1964, ano da compra do frigorífico pela Sadia o conselho fiscal apreciou somente as contas do exercício fiscal dando o parecer favorável. Os sucessivos aumentos de capital social, anterior à compra do frigorífico pela Sadia, podem expressar de ajustamento de condições estruturais e logísticas necessárias ao funcionamento do frigorífico. Será utilizada uma fotografia para analisarmos dimensão do frigorífico e tentar inferir algumas questões sobre sua atividade. Datada do ano de 1959, esse registro apresenta as dimensões do 11 Dados de catalogação 23 Frigorífico Pioneiro quando do inicio de seu funcionamento12. Quanto ao método para a análise desse registro fotográfico levou-se em consideração alguns elementos, ou estágios que compõe um método sugerido por Boris Kossoy. Segundo ele: Houve uma intenção para que ela [a fotografia] existisse; esta pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a registrar determinado tema do real ou de um terceiro que o incumbiu para a tarefa. Em decorrência desta intenção teve lugar o segundo estágio: o ato do registro que deu origem à materialização da fotografia. Finalmente, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia, as vicissitudes por que passou, as mãos que a dedicaram, os olhos que a viram, as emoções que despertou, os porta-retratos que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os porões e sótãos que a enterraram, as mãos que a salvaram. (KOSSOY, 2001, p.45) O registro fotográfico encontra-se disponível no acervo do Museu Histórico Wily Barth de Toledo-PR. Está nomeada como “Primitivo Frigorífico Pioneiro, em 1959, Toledo”. A imagem registrada no ano de inauguração Frigorífico, possivelmente, foi encomendada pela direção do frigorífico. Ela possibilita observar as dimensões da planta produtiva desse empreendimento feito com o capital local. Esse registro, supostamente, entraria no livro de registros do frigorífico. A fotografia foi doada ao museu pela Editora Finkler no ano de 1996. Não foi possível identificar o autor do registro. Quanto à composição da fotografia pode se observar o seguinte: Imagem 1 – “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR 12 Essa fotografia foi localizada em trabalho de campo. 24 A planta produtiva (1) do frigorífico está em evidência quanto a outros elementos que compõe a fotografia. É uma estrutura relativamente grande, levando em consideração a nomeação da fotografia de “primitivo frigorífico”, este possuía dimensões consideráveis, que podem ser comparados a outros frigoríficos do país. Observa-se presença de uma série de casas construídas em madeira (2), nove no total, muito próximas ao frigorífico, essas possivelmente seriam utilizadas por funcionários, requeridos ao funcionamento do frigorífico em casos de manutenção, por exemplo. A estrada de acesso (3) delimita o espaço entre o frigorífico e as casas, sendo um acesso de terra por onde eram transportadas a matéria-prima a ser processada e era escoada a produção. Existia ainda a presença de uma casa, que está fora do espaço do frigorífico, uma propriedade rural (4). A partir da análise dessa fotografia podemos construir algumas afirmações. Primeiro, o frigorífico estava localizado longe do centro urbano de Toledo. Segundo, as casas (2) seriam uteis ao frigorífico, uma vez que os sujeitos que ali residiam estariam a disposição da fabrica em eventuais problemas. Terceiro, os acessos (3) ao frigorífico são feitos por estradas de chão, o que trouxe certos problemas de logística, tanto para o abastecimento, quanto para o escoamento da produção, que deveria estar entre 200 a 250 suínos abatidos por dia. No período de chuvas o transporte para o frigorífico seria precário, devido as condições que as estradas ficavam. Não foram estabelecidas as razões que levaram o Frigorífico Pioneiro a decadência. Possivelmente, isso ocorreu devido as dificuldades para o escoamento da produção, que deveria ficar retida pelas condições de transporte. A decadência do frigorífico é apresentada por Attilio Fontana em sua autobiografia. Ao discorrer sobre os motivos que levaram a compra do Frigorífico Pioneiro o mesmo esclarece que se tratava de um frigorífico muito pequeno, “em franca decadência”, O Frigorífico Pioneiro, “muito mal instalado” que foi comprado “para não precipitar [seu] fechamento” devido à edificação de um novo. (FONTANA, 1980, p.235). Fontana justificou a instalação de um empreendimento na região devido à mesma possuir “grande produção de suínos”. Sua caracterização mais impressionista foi chamar o frigorífico de açougue. Na imagem 1, a planta do frigorífico em 1959, recém construída, não poderia ser considerada um açougue, não de um ponto de vista técnico. A produção diária, modesta e descriminada anteriormente, se igualava ou ficava abaixo de frigoríficos do estado de São Paulo e 25 de Minas Gerais nos anos 50. O tamanho da planta também excedia com sobras as medidas de um açougue ou de um matadouro, descontando as metragens dos currais. Além disso, o frigorífico oferecia cerca de 10 casas para trabalhadores e suas famílias, provavelmente os mais especializados. Diante disso, a afirmação de Fontana feita 16 anos depois da compra do frigorífico teve objetivo de reforçar o papel positivo da Sadia associado a história de Toledo e a sua própria importância. O período de atuação do Frigorífico Pioneiro foi relativamente curto, cinco anos. A quantidade de documentos disponíveis sobre o mesmo é escassa, o que dificulta, uma analise mais segura sobre o período de funcionamento do frigorífico. No entanto, a partir dos fragmentos disponíveis, podem-se estabelecer algumas considerações sobre a criação do mesmo. A forma como se estabeleceu a ocupação econômica da região, pautada em uma policultura em pequenas propriedades, foi fundamental para a criação desse tipo de indústria. A região oeste foi marcada pelo surgimento de pequenos frigoríficos, semelhantes ao Pioneiro em Toledo. Sobre perspectivas distintas, analisando, de um ponto de vista histórico, o surgimento e as relações com a história da região,diferentes produções acadêmicas trabalharam com esse assunto.13 A criação do Frigorífico Pioneiro resultou do desenvolvimento de uma demanda econômica da região de Toledo. A forma como foi estruturado o processo de colonização permitiu um desenvolvimento acelerado da economia. Com o abastecimento interno suprido pela produção de uma policultura, sendo alguns poucos destinados à exportação, como o porco e o milho. O aumento da produção desses itens, aliado ao interesse dos produtores de suínos, em aumentar seu capital, gestou o projeto do Frigorífico Pioneiro. Seu funcionamento não conseguiu assimilar a demanda de matéria prima da região. Em processo de decadência é adquirido pela Sadia em 1964, após um curto período de atuação, marcado por uma produção irregular. Deste modo, cabe agora, analisar o funcionamento do frigorífico da Sadia em Toledo. A que se estabelecerem algumas questões para nortear essa analise. Em um primeiro, pensar, como foi organizado o fornecimento de matéria prima? De que 13 Sobre essa questão pode-se analisar os trabalhos de Guilherme Dotti Grando; Luta de Classes, trabalhadores e frigoríficos em Cascavel-PR (1980-2015). Fagner Guglielmi Pereira; Trabalhadores de Frigorífico: trabalho lazer e moradia (1960-1980). Sobre o frigorífico da SADIA em Toledo o trabalho de Maria Cristina Castro Pereira; Trabalhadores da Sadia de Toledo: Relações de Trabalho e Sindicalismo (Décadas de 1960 a 1980). 26 forma a SADIA se utiliza da estrutura econômica, presente na região, para consolidar seu empreendimento? 1.3 A SADIA CHEGA À REGIÃO Ao adquirir a planta produtiva do Frigorífico Pioneiro a Sadia teve de resolver alguns problemas para funcionar. Em 1964 iniciou uma serie de reformas para aumentar a capacidade de produção do frigorífico. Para além, das modificações a Sadia buscou ajustar o fornecimento de matéria-prima. Foi criado um sistema de assistência técnica, com objetivo de padronizar a produção de suínos. A experiência com que contava em seus frigoríficos, em Santa Catarina e São Paulo, favoreceu essa empreitada. Ao mesmo tempo, durante a década de 1960 a Sadia buscou construir uma imagem de progresso, relacionada à sua atuação em Toledo. Não há muitas fontes disponíveis sobre a Sadia na década de 1960. No entanto, essas são em quantidade suficiente para discutir a construção da imagem que a Sadia buscou sedimentar. Em um primeiro momento, será analisada a forma como ele foi organizado o fornecimento de matéria-prima para o frigorífico. Para tanto, foram selecionadas algumas matérias do jornal A Voz do Oeste, pequeno período de circulação regional. A que se considerar, que jornais pequenos, dependiam financeiramente de anúncios, ou matérias pagas, de empresas como a Sadia. Muitas vezes essa relação era mais uma cortesia do que acordo comercial. Entretanto, a mensagem que foi vinculada na matéria expressa os interesses da empresa. A partir de um anúncio, comprado do jornal A Voz do Oeste a Sadia pode-se observar a tentativa da Sadia padronizar a produção de suínos na região. A edição número 17 de 27 de outubro de 1968 na pagina 12 apresenta as características de um bom suíno e traz uma orientação para a criação racional. A página foi dividida em duas partes, para a melhor visualizar seu conteúdo. A matéria foi publicada em uma página que apresenta informações diversas, com informações de cinema, campanha para um candidato a vereador e um anúncio (3). A matéria ocupa a parte inferior da página e possui uma imagem de um suíno e uma legenda indicando características ideias para o animal. A direita existe uma tabela onde estão descritos algumas orientações para a criação de porcas e reprodutores. 27 IMAGEM 2.- A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 1 IMAGEM 3 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 2 A matéria é ilustrativa, permite visualizar as características de suíno tipo carne que seria ideal a comercialização. Os agricultores costumavam criar porcos do tipo banha, que serviam a suas necessidades de consumo. Eram produzidos para 28 consumo próprio o torresmo, salame, carne de lata e a banha, e o excedente era vendido. No entanto esse tipo de suíno possuía um valor menor para a venda. As instruções para uma “criação racional” proposta pela Sadia com objetivo padronizar a produção dos porcos, reprimindo determinadas praticas de pequenos produtores, consideradas arcaicas. Pequenos proprietários que vendiam seus suínos a Sadia, em muitos casos, não tinham condições de se adequar as exigências para entregar sua produção no o frigorífico. O método empírico utilizado por esses na lida não agregaria valor para ao produto entregue a Sadia. Portanto, o fomento do frigorífico buscou estabelecer uma padronização para os suínos, eliminando praticas, consideradas obsoletas, dos produtores. Na edição numero 42, ano III, de 09 de agosto de 1970 é apresentada uma matéria “Especial aos suinocultores”. IMAGEM 4 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 1 29 IMAGEM 5 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 2 O método utilizado para análise desse documento consiste em dois pontos específicos. Em um primeiro momento buscar-se-á identificar criticamente a configuração externa do documento. Após caracterizar a natureza dessa fonte (temporalidade, espacialidade, suporte físico e intencionalidade), será analisado a logica da narrativa e os pontos abordados. (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946) De modo geral a matéria foi construída para passar uma imagem positiva sobre a atuação da Sadia na região. Os argumentos, que ajudam a construir essa imagem são pautados em uma pesquisa que aponta um relativo progresso na região. São ressaltados os números da produção agrícola na região. O trabalho do fomento da Sadia contribuiu para o desenvolvimento da suinocultura. A rentabilidade que a criação de porcos propicia. Ao enaltecer esse processo, tem-se não fica evidente as contradições e resistências por parte de pequenos criadores a imposição desta “criação racional” que trouxe resultados positivos para o frigorífico e alguns produtores. A Sadia buscou estabelecer uma imagem de si, que está associada ao desenvolvimento e aumento da produção na região. Durante todo final dos anos de 1960, e durante a década de 1970, através jornais, rádios, o frigorífico buscou apresentar-se como uma grande empresa, “que trouxe o progresso a região”. Em uma edição do jornal a Voz do Oeste de 1970 é ressaltada os resultados da politica 30 de fomento da Sadia. A matéria apresenta levantamento realizado em quatro municípios da região, Toledo, Marechal Candido Rondon, Santa Helena e Palotina. A matéria apresenta dados referentes à venda anual de suínos, que teve como base a pesquisa em 1475 criadores. Esses possuem uma média de venda, de 52 cabeças anuais. A padronização do tipo de suíno também é ressaltada. Quanto às raças criadas a Duroc, tipo mais comum, e a Landrace constituem mais de 90% do rebanho suíno. A reportagem destaca que isso “evidencia o alto padrão imposto à nossa suinocultura pelos criadores da região”. Ocorre nesse sentido uma reorganização da produção, que ignora substancialmente os modos de vida dos pequenos proprietários e da parcela mais pobre de produtores. É direcionada pela agroindústria a promoção de mudanças nas relações de produção, onde o porco consumido no dia a dia para atender as necessidades básicas, passa a ser o suíno, lucrativo comercialmente e que permite aos produtores aumentar seu capital. A matéria enfatiza a forma como o fomento buscou padronizar o tipo de criação, desvalorizando práticas exercidas por criadores da região. A matéria buscou retratar as mudanças na criação, expondo as rendas obtidas pelos produtores suínos. Os dados apresentados buscam legitimar a atuação do fomento, com a utilização de informações que saltam os olhos do leitor. Em uma amostra de 300, 10 recebiam renda superior a Cr$ 15.000,00. 31 criadores possuíam renda superior a Cr$ 10.000,00. 19 possuem renda superior a Cr$ 8.000,00. 74 produtores receberiam renda superior a Cr$ 4.000,00. Os dados apresentados enfatizam o numero de produtores e a renda, no entanto quando feita a soma os números não fecham. Os números apresentados, dizem respeito a 134 produtores, aproximadamente 44% do total. Os dados referentes ao rendimento dos 166 produtores restantes, correspondendo a 56% dos criadores não é apresentada pela matéria. Entregar a produção de suínos ao frigorífico seria lucrativo aos produtores, os dados apresentados buscam legitimar essa afirmação. A matéria ainda destaca que a suinocultura ainda possui mercado a ser conquistado. De 27.000 propriedades, apenas 19.000 se dedicam a criação de suínos. As 8.000 propriedades restantes são inexploradas ou são dedicadas à plantação de cereais. O levantamento que a reportagem apresenta da conta da penetração da suinocultura na região, com o crescimento gradativo do número de 31 propriedades com criação e comercialização de porcos. No entanto, destaca que existe a possibilidade de ampliação da quantidade de produtores. Outro ponto a ser ressaltado são os números referentes à produção de grãos, que são base da alimentação dos suínos. A soma das regiões de Toledo, Marechal Cândido Rondon, Palotina e Santa Helena apresenta um crescimento considerável de produtos como milho, soja e trigo, no ano de 1969. Contabilizado em sacas de 60 kg, 6.984.700 sacas de milho, 1.110.300 sacas de soja e 329.700 sacas de trigo. A reportagem buscou apresentar dados que demostrassem um relativo aumento na produção. O papel do fomento da Sadia estaria além da assistência ao produtor de suínos, sendo importante para a produção grãos no município, parte da qual seria destinada a produção de ração para os porcos. A criação racional de suínos também está evidenciada na reportagem, destacando o trabalho do Fomento da Sadia. Ao ressaltar que 85% dos produtores possuem de 1 a 10 criadeiras, uma das orientações do fomento, como ilustrada no primeiro recorte. Quanto à produção de porcos os totais apresentados são consideráveis. O tamanho do rebanho de porcos na região, em 1969, era de 1.201.700 cabeças, considerando dados de Toledo, Marechal Candido Rondon, Palotina e Santa Helena. Foram comercializadas, nesse mesmo ano, 989.650 cabeças, totalizando quase 83% dos suínos produzidos. Quanto ao número de suínos comercializados, o 17% foi destinado ao mercado interno, com a produção de torresmo, salame e banha, o restante foi destinando ao mercado externo com a comercialização do suíno vivo, que deveria compor a maior parte da comércio, nesse período a produção de porcos destinados ao frigorífico seria modesta, comparada ao comércio do suíno vivo. No entanto, ao expor esses dados a matéria buscou realçar a importância da existência da Sadia em Toledo. Os produtores que decidissem produzir porcos em Toledo teriam a quem entregar sua produção e obter lucros consideráveis. O “Especial aos suinocultores” buscou demostrar a importância do Fomento Sadia na região. A matéria constrói uma imagem positiva do frigorífico. Os dados utilizados demostram o progresso da região no final dos anos 1960. Em suma, o trabalho do Fomento Sadia contribuiu para “modernizar” a produção de suínos, garantido uma produção maior e mais lucros aos produtores. Neste ponto tem que se considerar a influencia que a matéria exerce sobre os leitores. O que leva em 32 conta as atitudes que os moradores de Toledo deveriam ter com base na inegável presença do frigorífico e seus impactos na cidade. Deste modo, trata-se menos do conteúdo e mais da projeção de sentimentos e valores que poderiam se conectar com os leitores, seu universo cultural e suas expectativas pessoais. Por meio da publicidade, o frigorífico buscou estabelecer um contato sensível com a cidade, esperando que os moradores se identificassem com o frigorífico. Em 1969 foram abatidas 173.199 cabeças, em torno de 474 cabeças por dia, um aumento significativo da produção de quatro anos atrás, aproximadamente 374 cabeças a mais. (CARAVALHO et al., 2016). O desempenho do frigorífico em 1969 foi responsável por sozinho por 43% da produção de todo o Paraná, onde a região Sul possuía metade de todo o rebanho nacional. (AMADOR, et al., 1999) Sob o controle da Sadia desde 1963, o frigorífico passou por uma série de mudanças estruturais relevantes ao seu funcionamento. Foram substituídos maquinários antigos, já obsoletos para o abate e preparo de carcaças. Paredes e telhados foram reformados e instalaram câmeras frias adequadas a demanda de produção. O período de 1963 a 1975, da compra do Frigorífico Pioneiro (1963) até a consolidação do frigorífico para o abate de aves (1975), ocorre o assentamento da Sadia em Toledo. Ao estabelecer uma forma de organização do fornecimento de matéria-prima a Sadia, consegue o que o Frigorífico Pioneiro não o fez, assimilando a produção de suínos da região. No entanto, um dos percalços enfrentados pela Sadia diz respeito à mão de obra. Em uma região com poucos operários, o recrutamento de sujeitos de outras regiões foi uma das alternativas ao frigorífico. Deste modo a Sadia encontrava-se pressionada por uma demanda de produção e por uma carência de trabalhadores. Para suprir essa necessidade foram deslocados trabalhadores especializados de outros frigoríficos (Sadia de Concordia-SC). Esses sujeitos já possuíam um domínio do trabalho em frigorífico e ocupavam cargos que exigiam certa especialização. Eram esses operários que ocupavam postos de chefia em diferentes setores. 33 1.4 A RECRUTAGEM DE TRABALHADORES O recrutamento de trabalhadores durante os anos 1960 e 1970 não possui muitos registros materiais a respeito. A que se considerar, que em um primeiro momento a Sadia utilizou-se da mão de obra local. Trabalhadores com experiência no trabalho do campo e que moravam nas proximidades do frigorífico teriam sido empregados no mesmo. Esses não possuíam o domínio do trabalho na fábrica e eram empregados em funções diversas. Por outro lado, eles sabiam como manejar porcos, fato que ajudava no abate e no esquartejamento do animal. Mas, de modo geral, os trabalhadores que a administração do frigorífico trouxe de Concordia-SC ensinaram parte do processo produtivo aos locais. Quanto a essa questão formula-se a hipótese que o recrutamento da Sadia foi por muitas vezes intermediado por seus próprios trabalhadores. Uma propaganda onde as famílias que vieram para Toledo para trabalhar no frigorífico, depois de algum, entravam em contato com familiares e amigos que ficaram, e relatavam a existência de emprego, de moradia, etc. A vinda dessas pessoas em busca de empregos no frigorífico, para além desse tipo de convite familiar pode-se associar as condições muito ruins das cidades de onde estes saem. Muitos trabalhadores que se deslocaram para Toledo nas décadas de 1950 a 1980 moravam no campo, vivendo de um cultivo que por vezes não supria as necessidades. Esse processo de migração levou diferentes sujeitos irem para Toledo, alguns se estabeleceram, outros foram embora. “A migração de camponeses não era apenas consequência da inviabilidade de suas condições de existência, mas parte integrante de suas próprias práticas de reprodução social”. (MENEZES, 2012, p.22) O processo de pauperização do pequeno produtor, com a mecanização do campo e a perda de terras é um motivo. Situações pessoais, a vivência em Concordia onde já se conhecia o frigorifica, por exemplo. A possibilidade de recomeçar de vida em outra cidade também motivou a vinda dessas pessoas para o município de Toledo, em grande medida devido a propaganda familiar. Para além do pessoal que vinha da região sul, com parentes ou conhecidos que já trabalhavam no frigorifico. Pessoas de regiões como Minas, Bahia e interior do São Paulo, aparentemente sem contatos específicos com pessoas em Toledo, rumaram para a cidade em busca de emprego. 34 A publicidade feita pela Sadia foi veiculada em jornais e rádios de alcance regional.14 Essa publicidade, não só em forma de anúncios de emprego, tratou de construir uma imagem de “progresso” em Toledo, associada ao frigorífico. Em 1979, a SADIA patrocinou, no jornal Tribuna d‟Oeste, uma página de publicidade em homenagem ao aniversário de Toledo. Em parte da matéria oferecia-se oportunidades de emprego. Para homens anunciavam-se empregos para auxiliar de frigorífico, auxiliar de fábrica de ração e servente de pedreiro. Como requisitos para essas funções pedia-se idade entre 18 e 35 anos, ótima constituição física e altura mínima de 1,60 metros. Para mulheres havia vagas de auxiliar de frigorífico com os requisitos de idade entre 18 e 35, solteira e altura mínima de 1,50 metros. Essas vagas destinavam-se a ocupações manuais, na linha de produção, o que demanda pouca experiência. Outras funções como a de pintor exigiam experiência e idade igual ou superior a 18 anos. As vagas para auxiliar de granja possuíam como requisitos ser solteiro, com idade entre 18 e 35 anos e possuir acima de 1,60 metros. A necessidade de estarem 24 horas disponíveis para a manutenção das aves requisitou o estado civil solteiro aos trabalhadores. A cobrança por altura e constituição física especifica era determinada pela ergonomia da planta produtiva e das granjas. Quanto a exclusão de mulheres casadas tentava-se livrar do risco de gravidas e os diretos trabalhistas que as retiravam do trabalho um tempo. (FINKLER, 2007) Anexo às vagas o anúncio apresenta uma série de benefícios ofertados pela Sadia. Assistência médica, assistência odontológica, refeitório a Cr$ 10,00 a por refeição, seguro de vida, convênio com farmácia, associação esportiva e recreativa, complementação de aposentadoria, convênio com a Transtol (transporte público). Em um contexto onde o aumento da informalidade era considerável, os benefícios oferecidos pela Sadia não eram poucos. Ainda que se leve em consideração a existência de conflitos trabalhistas por conta do pagamento de horas extras, por exemplo.15 Outros benefícios foram oferecidos antes de 1979, como a facilidade para a compra de casa própria por meio de um programa de financiamento da Caixa Econômica. Para evitar a rotatividade e o absenteísmo a Sadia ofereceu essas 14 A esse respeito pode-se consultar o acervo da Frente Ampla de Noticias (FAN) da Radio Difusora de Marechal Candido Rondon. Disponível para consulta no CEPEDAL-UNIOESTE. 15 Jornal Tribuna d‟Oeste, 14-12-1979. 35 vantagens anexas ao salário. Isso tornava o emprego no frigorífico mais atraente, conquanto deixasse os trabalhadores da Sadia ligeiramente à frente dos demais. Ser empregado no frigorífico em determinado período foi considerado como um status elevado. Portanto, a utilização de publicidade por meio dos jornais da região, como a Voz do Oeste e a Tribuna do Oeste, contribuí para a criação de uma imagem da Sadia. Esteve presente em diferentes edições do jornal A Voz do Oeste, um suplemento próprio, onde a Sadia patrocinava ações de fomento para os produtores da região. E em diferentes jornais foram publicadas matérias, possivelmente pagas, que ajudavam a construir uma imagem positiva do frigorífico, associada ao desenvolvimento econômico de Toledo e região. Este capítulo buscou caracterizar alguns aspectos do processo de formação de um frigorífico em Toledo. Em um primeiro momento foram analisados os “antecedentes” históricos, pensando em como o processo de ocupação econômica empreendido pelo Maripá gestou uma demanda de matéria prima. O projeto de criação de um frigorífico que atenderia os interesses dos produtores locais. E por fim, a atuação do Frigorífico Pioneiro e da Sadia na região. No próximo capítulo serão analisados os trabalhadores do frigorífico da Sadia, levando em consideração o papel que o Frigorífico ocupa na narrativa da experiência dos mesmos, articulando a forma como narram suas memórias. 36 CAPÍTULO 2: OS TRABALHADORES O frigorífico da SADIA iniciou suas atividades em 1964, após adquirir a planta produtiva de um abatedouro local o Pioneiro. A implantação da SADIA levou em conta a grande produção de suínos na região. Com experiência no processamento de carne a SADIA dinamiza o fornecimento de matéria prima. Impõe aos produtores uma padronização de suínos a serem entregues e sedimenta uma imagem de si como uma empresa que leva o progresso a Toledo. Essa atrai para região indivíduos de diferentes locais, durante a década de 1970, em busca de uma oportunidade para melhorar sua condição de vida. Quanto ao período anterior a 1970 existem poucos registros materiais. Muitos trabalhadores desse período faleceram ou não moram mais em Toledo. Neste período o frigorífico buscou empregar sujeitos advindos de um processo de migração anterior, muitos vindos como compradores de terras da Maripá. Deste modo, interessa compreender os sentimentos que motivam esse movimento. O elemento comum no relato desses trabalhadores que migraram é a procura por melhores condições de vida, o que representa explicitamente a busca de trabalho. O conceito que abarca esses sujeitos como suscetíveis a um processo de desenvolvimento que ora empurra, ora expulsa para diferentes locais. No entanto, deve-se considerar que os trabalhadores também escolhem para onde migrar. (VARUSSA, 2010) Durante a década de 1970 uma grande quantidade de sujeitos dirigiu-se a Toledo em busca de trabalho. Existia uma ideia amplamente propagada que Toledo seria a “Capital do trabalho” da região oeste do Paraná. Foram entrevistados 8 trabalhadores que atuaram no frigorífico durante o ano 1960 a 1980. Destas entrevistas foram selecionadas quatro, de sujeitos possuem trajetórias distintas, um gaúcho, um mineiro, um baiano e um paranaense. Que ingressaram no frigorífico em situações distintas. Lorenzo, filho de pequenos agricultores vindos do Rio Grande do Sul, que compraram terras em Toledo, sendo estas de tamanho diferente das colônias de 25 hectares. “(...) foram projetados mais 13 locais para cidade, com um total de 7.098 lotes urbanos. Em torno desses lotes foram localizadas as chácaras de 2,5 hectares.” (OBERG, JABINE, 1980, p.30). Esses lotes menores foram adquiridos por 37 pequenos proprietários que não tinham condições de comprar uma colônia de 25 hectares. Lorenzo começou a trabalhar em 1963 no Frigorífico Pioneiro e vivenciou a transição para a Sadia. Josué depois de ter trabalhado em ocupações distintas, construindo barragens na Bahia, trabalhando como agregado no Mato Grosso do Sul, colhendo algodão no norte do Paraná, ingressou no frigorífico em 1966. Edeluz trabalhava na roça com os pais em Guarapuava – PR, ela vem para Toledo no final dos anos 60 com os irmãos, entra no frigorífico nesse período e trabalha por 5 anos, até se casar. Francisco trabalhava na lavoura no interior de Minas Gerais. Deixou esse trabalho e se mudou para a região de Toledo no inicio dos anos 70 onde trabalhou por um período como pedreiro, e mais tarde entrou no frigorífico na mesma função nesse período. Diferentes trajetórias de vida. No entanto suas narrativas apresentam alguns pontos em comum. Todos os entrevistados contaram que o trabalho na Sadia ajudou a melhorar seus padrões de vida. Suas narrativas de vida foram estruturadas com base nesse trabalho, que apesar de algumas adversidades, significou uma melhora em suas vidas. Para tanto, serão analisados de que forma os trabalhadores vivenciaram o dia a dia, como se preparam para o trabalho no frigorífico. Convém salientar a forma como era organizado o processo produtivo a fim de compreender como as relações de trabalho no frigorífico foram construídas e não existiam desde o inicio. Deste modo, esse capítulo será organizado buscando evidenciar quais eram as condições de trabalho no começo da Sadia em Toledo. Para tanto, este capítulo será estruturado no sentido de expor as trajetórias dos trabalhadores que migraram para Toledo e se empregaram na Sadia. As lutas e conquistas desses sujeitos no ambiente da fabrica e fora deste. Deste modo, refletir de que forma foi organizada a produção do frigorífico? Como os trabalhadores enfrentam a rotina de trabalho? Quais foram os benefícios que a SADIA ofereceu aos trabalhadores, como forma de imobilizar sua mão de obra? E eles constroem estratégias de resistência à dominação da fabrica, seja no trabalho ou fora dele? 38 2.1 TRABALHAR NO FRIGORÍFICO Ao comprar o Frigorífico Pioneiro em 1964 a SADIA tratou de organizar sua infraestrutura para suprir a produção de suínos na região. Como já apontado no capitulo anterior, foram iniciadas uma serie de reformas e a Sadia buscou padronizar o fornecimento de porcos por meio do fomento. O quadro montado até o momento permite observar a formação de uma imagem de progresso, atrelando o desenvolvimento do frigorífico ao crescimento de Toledo. Os trabalhadores, pequenos criadores, prestadores de serviço não aparecem nessa memoria. Os braços que ajudaram a construir esse frigorífico passam despercebidos na história oficial da cidade e da própria Sadia. Conforme Thompson enuncia, trata-se de “resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiro ludista, o tecelão „obsoleto‟ manual...” (THOMPSON, 1987, p.13). A SADIA incorporou além da estrutura física do Frigorífico Pioneiro, alguns de seus funcionários. No ano de sua venda, em 1964, contava com 61 funcionários, entre trabalhadores da linha de produção e do escritório.16 Desta relação de nomes foram localizados somente 2 trabalhadores, ambos trabalhavam na administração. Atualmente 1 deles é dono de uma revista que faz publicações sobre os eventos sociais do município, enquanto o outro é dono de um comercio de moda intima e ocupa um cargo politico na cidade. Ambos se recusaram a gravar entrevistas, contando de forma superficial sua trajetória no frigorífico. Isto torna a analisa da trajetória dos trabalhadores que atuaram no Frigorífico Pioneiro difícil de ser realizada. No entanto, a partir dessa lista podemos inferir algumas questões acerca das relações de trabalho, presentes no mesmo. Dos 61 funcionários havia membros da mesma família estavam listados [em 1964]. Destes, alguns deles (é difícil definir) possuíam parcela de terra e o trabalho no frigorífico constituiria uma fonte extra de renda. A SADIA ao iniciar suas atividades necessitou de mão de obra qualificada. Já possuindo experiência com a empreitada traz alguns operários de sua matriz em Concordia-SC. Para estruturar as atividades do frigorífico em Toledo está precisou de mão de obra e esses trabalhadores seriam uteis, por possuírem um certo conhecimento do trabalho em fabrica. 16 Disponível no Museu Histórico Wily Barth de Toledo-PR. A relação de funcionários está na mesma pasta que as atas do conselho fiscal. Pasta marrom – Sem número. 39 Os primeiros operários da SADIA, na década de 1960 enfrentaram uma rotina de trabalho distinta. Em primeiro lugar, a necessidade de produção levava a grande quantidade de horas extras. O trabalho era estafante e em condições insalubres. O frigorífico para além do salario buscou oferecer alguns benefícios extras como a possibilidade de moradia. Em um primeiro momento a SADIA utilizou parte da estrutura comprada do Frigorífico Pioneiro, uma serie de casas próximas à planta produtiva17. Essas moradias foram destinadas aos operários com ocupações especializadas e para cargos de chefia. Posteriormente a SADIA facilitou o acesso à compra da casa própria para seus trabalhadores, constituindo uma vila operária. Este é um ponto importante que tentarei explorar. Quanto à organização inicial do frigorífico, alguns testemunhos de trabalhadores mais antigos permitem uma analise, pautada na experiência desses sujeitos. Com trajetórias distintas trabalharam de meados da década de 1960, começo das atividades do frigorífico, até sua aposentadoria em muitos casos, em meados de 1990. Vivenciaram diferentes acontecimentos como promoções, mudanças de chefia, saída de colegas dentro da fabrica. E fora dela, com a constituição de família, a compra da casa, o nascimento do primeiro filho. Essas experiências que narram são marcadas pelo trabalhar na SADIA. Lorenzo, contava com 72 anos na data da entrevista em junho de 2017. Migrou com a família do interior do Rio Grande do Sul para Toledo no inicio dos anos 50. Antes de entrar no frigorífico trabalhou na propriedade da família. Segundo ele possuía 3 alqueires, aproximadamente 7,2 hectares, que o mesmo buscou explicar onde era. “Não tem o incubatório ali da SADIA? Que é... aqui pra cima onde que é o empanado. Ali nós tinha 3 alqueires.” Lorenzo começou a trabalhar frigorífico com 17 anos. Em 1963, um ano antes de a SADIA adquiriu o Frigorífico Pioneiro e se aposentou em 1994. No entanto seu nome não consta na relação de trabalhadores relacionados ao frigorífico Pioneiro quando de sua venda para a Sadia. Iniciou na matança do “Javaporco”, no entanto sua função não estava restrita a essa tarefa e, segundo ele, “fazia de tudo”. Não foram encontrados mais trabalhadores desse período em questão. Lorenzo 17 Imagem 1 – “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR. Pg.10. Pode-se observar a existência de 9 casas, construídas em madeira, muito próximas a planta produtiva do frigorífico. Essas seriam o inicio da vila operária da SADIA (Vila Pioneiro). 40 trabalhou no Frigorífico Pioneiro e vivenciou a transição para SADIA. Sobre esse processo ele faz menção ao acionista majoritário do Pioneiro, “Baudisch, eles eram de Maringá, nós trabalhava pra ele”. Aponta que houve um acordo da SADIA com os funcionários para que estes continuarem trabalhando. “fizemo um acordo e passamo pra SADIA. Aí ficamo lá, trabalhando pra SADIA até aposentar.” Sob a trajetória de Lorenzo, pode-se estabelecer algumas hipóteses. Primeiro, que o mesmo ao entrar no frigorífico continuou trabalhando na terra de sua família. Segundo, o trabalho no frigorífico constituía uma renda extra. Quanto à rotina de trabalho imposta pela fábrica, esta se apresenta “primitiva” no tempo do Pioneiro, sobre a qual Lorenzo referiu que É, tinha uns dez, doze funcionários, mais não tinha. Se trabalhava, você ia buscar o porco lá na casa do “colono”, matava... matava uns cinco, seis porco por dia e pelava tudo no muque. Aí nós matava. Ia buscar [mais porcos] e matava. Acabava aquele ia buscar outro. E era assim, não era assim que nem hoje em dia [2017]. Hoje em dia vem sete mil porco, dez mil porco. Ali num dia vem tudo. Tem chiqueiro tem tudo, lá nem chiqueiro não tinha. Lorenzo fala do abate. Do transporte e do abate. Mas não diz como o porco era esquartejado e congelado. Provavelmente esta etapa era realizada por outros trabalhadores. A quantidade de funcionários de trabalhadores envolvidos e porcos abatidos, onde as funções deveriam estar mais ou menos determinadas, nesse período um trabalhador poderia, além de suas atribuições, ajudar em outros trabalhos dentro da fabrica, conforme nos contou Lorenzo: “(...) e a matança acabasse às 10 horas [da manhã], nós não vinha embora não, nós ia ou pra ração, ou pros frango, ou puxar lenha, ou puxar porco. Não tinha esse negócio de fazer só uma coisa...”. Feito tudo no “muque” o serviço era demorado e pesado. O buscar os porcos na propriedade tornava o numero de porcos abatidos por dia bem limitado. A narrativa de Lorenzo estabelece ainda comparações do tempo passado com o tempo presente, quanto aborda a produção e a questão do chiqueiro. Sua narrativa denota que os processos se modificaram, o ritmo do trabalho e forma de produção foi alterado com o desenvolvimento do frigorífico. Existe certa dificuldade em analisar o processo de transição do Frigorífico Pioneiro para a SADIA. Certo é que esse se constitui de forma um tanto conflituosa, e gerou algumas querelas entre a administração do frigorífico e uma parcela da 41 comunidade.18 Quanto às mudanças que foram sendo gradativamente feitas pela SADIA, Lorenzo discorre acerca da compra das propriedades próximas. Lorenzo: De todo, de tudo... a SADIA comprou todo ao redor, todo ao redor era só chácara. A SADIA comprou o Pioneiro, tinha, acho que dois alqueires, nem dois alqueire não era. Era bem pequenininho e era um pedaço. Pra parte de onde é a entrada da SADIA ali, era ali. Daí o lado de baixo lá... tinha um homem que tinha cinco alqueire, outro três alqueire e nós tinha 3 alqueire, o Lazzeri tinha cinco alqueire, daí o Pulga, já ouviu falar do Pulga? Ele já morreu também, já era. Ele tinha quatro alqueire. E foi vendendo e a SADIA foi comprando até fechar o cerco. Até o que tá hoje, que tá cercado. Todo mundo vendeu, todo mundo tinha três alqueire, dois alqueire, era chácara que comprou da Maripá. Não foram encontrados outros registros que permitam analisar o processo de aquisição empreendido pela SADIA. No entanto, ao narrar Lorenzo, possivelmente expressa um sentimento de perda. Vizinhos e amigos vindos para Toledo após comprar uma parcela de terra tentaram reconstruir a vida que levaram em outro estado. A narrativa de Lorenzo foi estruturada em torno de seu trabalho no frigorífico. A venda da propriedade familiar ou a vinda para Toledo foi citada brevemente e logo tratou de mudar a direção da narrativa. Esse ponto se constitui como uma das especificidades da história oral. A qual pressupõe que os sujeitos se sintam confortáveis afim de relembrar o que seria de mais relevância a ser relatado na entrevista. O que, segundo Portelli deve-se considerar que o entrevistado pode “relatar em poucas palavras experiências que duraram longo tempo ou discorrer minunciosamente sobre breves episódios (...)” (PORTELLI, 1997, pg.29). Nesse sentido a trajetória de Francisco é interessante para analise. Este começou a trabalhar no frigorífico em 1971. Francisco migrou da região do interior de Minas Gerais, da cidade de Camanducaia, para o Paraná. Ao contrário de Lorenzo, Francisco migrou da região do interior de Minas Gerais, da cidade de Camanducaia, para o Paraná. O período que a SADIA já havia adquirido o restante 18 Pode-se inferir que houve certa resistência por parte dos acionistas em vender o restante de suas ações. Existem ainda indícios de uma querela, entre a administração municipal e o frigorífico, envolvendo o fornecimento de energia. No entanto esse assunto não será abordado nessa pesquisa. Configurando um assunto pertinente para uma pesquisa futura. 42 das ações do Frigorífico Pioneiro e tem seu nome modificado para Frigobrás. Ao narrar sua trajetória de trabalho, o mesmo enfatizou a importância do trabalho na SADIA, sua narrativa foi balizada por isso. Começou a trabalhar muito novo com sua família, “trabalhava com tropa, meu pai trabalhava com tropa”. E por algum tempo plantaram café e sofreram com a geada. Francisco lembra que não gostava do trabalho na roça. Eu olhava assim... aquele pessoal trabalhando lá na cidade, mesmo aquelas casinha na beira do asfalto lá, mas o cara tinha um varal de roupa com roupa melhor que a minha, o cara já tinha um fusquinha dentro da garagem. Mas eu se matava na roça e nem roupa pra vestir não tinha rapaz. O meu, o que que eu tô fazendo aqui? Eu vou pra cidade. A vontade de ir para cidade foi frustrada pelo pai. Francisco conta que só depois do casamento conseguiu ir para cidade. A vinda para cidade significou para Francisco a possibilidade de melhorar a vida. Ao chegar em Toledo o mesmo arranjou emprego na construção civil “entrei na firma, de construção, uma das maiores aí do Waldir Becker. Trabalhei dois mês lá, eu já estava sentando tijolo já...o cara dava oportunidade.” O progresso de em pouco tempo sair de servente para sentar tijolos animou Francisco e o deixou reticente quanto a entrar na SADIA. Ainda sim acabou sendo incentivado a entrar pelo chefe. Fui lá na Sadia joguei tudo, entrei lá. Primeiro salário que eu recebi lá, apesar de, frio, ruído, úmido. Primeiro salário que eu recebi tirou a vontade de trabalhar de pedreiro [autônomo], né? Deu pra pagar até as contas... e assim foi, eu fui tão bem lá que era... era... noventa dias que tinha de experiência. Deu nem quarenta dias os cara já me trocaram, já me deram crachá novo já. O cara chegou falou pra mim, meu chefe, você não precisa mais plantar mais mandioca lá na roça não, se já passou na experiência, agora... agora é só manter o trabalho. A entrada na SADIA significou para Francisco não precisar mais voltar para o trabalho na roça. Aliás, a notícia dada pelo chefe foi expressão da superioridade da SADIA frente o trabalho no campo, embora Francisco fosse pedreiro. Aquele comunicado funcionou como um rito de passagem. Ou Francisco o viu assim. O pagamento compensava todo desgaste do trabalho. A ascensão rápida, passando a experiência antes do período normal foi relatada por outros entrevistados. A busca 43 pelo por trabalhadores assíduos e que não desistissem por causa das condições de trabalho motivava essas promoções, como o encurtamento da experiência. O progresso que Francisco galgou trabalhando na SADIA aparece na forma como ele contou a rotina de trabalho. Começou costurando sacos “que lá ensacava com saco de polipropileno e depois você tinha que costurar, pra mandar pra estocagem.”. A partir disso, com o esforço que Francisco, que ele faz questão de ressaltar que era o melhor naquilo, se destacou aos olhos do patrão. Conforme Francisco aprendeu outras funções ascendeu dentro da hierarquia da fabrica. Quando parei naquilo ali, fui na desinforma. Quando eu desenvolvi dois serviço eu estava com três anos já... já me tomaram o crachá, me deram um crachá de papelão lá, ai eu não atravessei tranquilo. Só que eu era tão esquentado que, qualquer mudança que dava lá, eu ficava pensando o pior, eu não pensava em crescimento, pensava que os cara estava enjoado de mim. Me tomaram aquele crachá que eu tinha e me meteram um crachá de papel, aí não perguntei nada pra ninguém... ali uns trinta dias, trinta e poucos dias veio o crachá novo, como líder de seção. O, os cara não chamavam... também eu fui o primeiro preto que ganhei posição lá dentro, que a Sadia é de gringo é de alemão lá. Eu ganhei promoção, veio... o crachá escrito líder, líder de produção, já me deram um guarda pó, antes do guarda pó era... aí eu. Quase apanhei rapaz, tinha gaúcho de dez anos lá dentro, louco pra ganhar uma posição e neguinho veio de fora e ganhou posição, deu trabalho pra mim sossegar o bicho no tempo. Algum eu mandava pra outra seção, trocava por outro. Fui usando umas manobras lá dentro, chegava pra fala e digo chefe não tá bom, vamos trocar aquele um ali que não tá bom, vamos pegar aquele cara que ele é bom. Conversava com o cara. Você quer ir na minha seção? E ele, vamo, vamo. Outras vez tinha que mandar alguém embora, eu falava pro chefe, ó tá na tuas mãos aí, manda outro ai pra suprir o lugar pra cá. Ah, os cara jogava de volta ali, mas não eu mandei esse cara pra lá, porque num, não dá certo. Ao discorrer sobre essa promoção Francisco se coloca como um trabalhador modelo. Que com seu trabalho árduo galgou uma hierarquia que aparentava intransponível. A promoção de um trabalhador com pouco mais de 3 anos pode ter sido mal recebida por certos sujeitos. No entanto ao progredir Francisco tratou de organizar estratégias para assegurar posição. Certo que ainda nesse período as funções na produção não eram estáticas. Como Francisco ressalta que trocava, mandava pra outra seção, operários que não desenvolviam
Compartilhar