Buscar

TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS DECADA DE 1960 A 1990

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE 
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL 
CURSO DE HISTÓRIA 
 
 
 
GUSTAVO GUILHERME SCHNEIDER 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS 
DÉCADAS DE 1960 A 1980. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARECHAL CÂNDIDO RONDON 
2018 
GUSTAVO GUILHERME SCHNEIDER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA SADIA EM TOLEDO-PR, NAS 
DÉCADAS DE 1960 A 1980. 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito básico para obtenção do título de 
licenciado em História, pela Universidade Estadual 
do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido 
Rondon. Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pádua 
Bosi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARECHAL CÂNDIDO RONDON 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A meus pais, e meu irmão o meu mais sincero obrigado. 
AGRADECIMENTOS 
 
A conclusão deste trabalho se deve ao apoio de inúmeras pessoas que 
contribuíram para que esse momento acontecesse. Primeiramente, agradeço aos 
meus pais Dalvo e Elena, por todo apoio e dedicação prestados durante todas as 
fases da minha vida, principalmente durante o período da graduação. Agradeço 
também meu irmão Eduardo, pelo apoio e amizade. Sem eles essa etapa não 
estaria se concretizando. Amo vocês. 
A Ana Paula minha companheira agradeço pelo carinho e apoio e 
principalmente pela paciência que teve comigo durante essa etapa. Seus elogios e 
incentivos foram fundamentais para seguir em frente. Obrigado por tudo. 
Agradeço a Francisco, amigo desde o primeiro ano da graduação, isso lá em 
2013. Obrigado Chico pelo apoio, criticas e pelas conversas no bar. Tudo que 
vivemos, estudamos, discutimos juntos foi de suma importância para minha 
formação acadêmica. 
Gaspar, Fano e Eloísa, obrigado por toda ajuda no período da iniciação 
cientifica e durante a produção do TCC. 
A todos os colegas que acompanharam minha trajetória na universidade 
muito obrigado. Em especial a Alana, Gabriel, Marcelo e Jana o pessoal que dividia 
a carona diária (Hermanoteu Tur) de Toledo a Marechal, foi muito divertido conviver 
com vocês. Obrigado pelas sugestões e paciência ao me ouvir falar sobre o TCC. 
E o agradecimento mais especial dedico aqui, ao meu professor e orientador 
Antonio de Pádua Bosi. Obrigado pela oportunidade de aprender com você. Sua 
paciência e atenção, desde a iniciação cientifica, me ajudaram a crescer enquanto 
profissional e pessoa. Muito obrigado mesmo professor. 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRIÇÕES: 
 
IMAGEM 1 - “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR 
 
IMAGEM 2 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. 
Parte 1 
 
IMAGEM 3 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. 
Parte 2 
 
IMAGEM 4 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 
11. Parte 1 
 
IMAGEM 5 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 
11. Parte 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
SCHNEIDER, Gustavo Guilherme. TRABALHADORES NO FRIGORÍFICO DA 
SADIA EM TOLEDO-PR, NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980. Trabalho de Conclusão 
de Curso (TCC) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido 
Rondon, 2018. 
 
O presente trabalho buscou analisar a experiência dos trabalhadores do frigorífico 
da Sadia no município de Toledo-PR durante as décadas de 1960 a 1980. O 
frigorífico da Sadia buscou consolidar uma imagem de progresso associado ao 
desenvolvimento da própria cidade. E que esta utiliza desse discurso, além de 
algumas estratégias como facilitar a compra da casa própria para recrutar 
trabalhadores, que se dirigiram para a região durante os anos 1960, 1970, 1980 em 
busca de emprego. Esses sujeitos, narraram suas trajetórias na Sadia como 
vitoriosas, apesar do serviço pesado, com o trabalho no frigorífico conseguiram 
melhorar de vida. 
Palavras-chave: Frigorífico; Trabalho; Sadia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAS......................................................................... 
 
12 
CAPITULO 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO ECONÔMICA DE 
TOLEDO-PR E A CONTRUÇÃO DE UM FRIGORÍFICO............................. 
 
 
14 
 
1.1 SÍNTESE HISTÓRICA DA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO 
OESTE DO PARANÁ................................................................... 
 
 
 
 
15 
1.2 O FRIGORÍFICO PIONEIRO................................................. 
 
20 
1.3 A SADIA CHEGA À REGIÃO................................................. 
 
25 
1.4 A RECRUTAGEM DE TRABALHADORES............................ 
 
33 
 
CAPÍTULO 2: OS TRABALHADORES........................................................ 
 
 
35 
2.1 TRABALHAR NO FRIGORÍFICO........................................... 
 
38 
2.2 “VINHA DE FORA PRA TRABALHAR”................................ 
 
45 
2.3 TRABALHAR E MORAR NA VILA OPERÁRIA...................... 
 
48 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 
 
55 
FONTES........................................................................................................ 57 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 
 
58 
 
12 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
Este trabalho de conclusão de curso (TCC) tem como origem um projeto de 
iniciação cientifica desenvolvido entre 2016 e 20171. Desta pesquisa inicial emergiu 
uma questão que resultou na elaboração dessa pesquisa, que tem como objetivo, 
em um primeiro momento, perceber como é construída uma demanda de matéria-
prima necessária ao funcionamento de um frigorífico em Toledo, no final da década 
de 1950. Pensar de que forma a Sadia se instala na região na década de 1960 e 
organiza o processo produtivo, ampliando a produção de porcos, mobilizando 
trabalhadores e construindo uma imagem de progresso associada ao seu 
funcionamento em Toledo. 
Para tanto o trabalho foi dividido em dois capítulos. No primeiro capítulo será 
analisado o processo de formação econômica da região de Toledo. No segundo 
capítulo será analisada a atuação da Sadia em Toledo. A forma como ela organiza e 
dinamiza o fornecimento de matéria prima, como ela buscou construir uma imagem 
de progresso associando sua atuação ao desenvolvimento da cidade e como se 
davam as relações de trabalho no ambiente da fábrica. 
Antes disso, tentei mostrar como a região foi organizada economicamente e 
como esta organização facilitou a instalação do frigorífico. A forma como a Maripá 
promoveu esse processo foi baseada na pequena propriedade, lotes de 25 hectares, 
onde se praticava uma agricultura diversificada. Os sujeitos selecionados como 
compradores provinham, principalmente, dos estados de Santa Catarina e Rio 
Grande do Sul, eram sujeitos com certa experiência no trabalho em pequenas 
propriedades. (GREGORY, 2002). 
Esse tipo de econômica, pautada na pequena propriedade de policultura, 
possibilitou a criação de uma demanda de matéria-prima. Na região eram criados 
porcos, que serviram para o consumo interno na região, sendo o pouco excedente 
comercializado. A partir da década de 1950 houve um significativo aumento na 
produção de porcos da região. Para atender os interesses de produtores de agregar 
valor a carne comercializada, foi proposta a criação de um frigorífico que seria criado 
com capital local. Em 1959 é criado o Frigorífico Pioneiro, que teve dificuldades 
 
1
 PIBIC/CNPq/ Unioeste. “Trabalhadores e vila operária: Um estudo de caso sobre o frigorífico da 
Sadia, Toledo-PR, 1960-1980.” Sob orientação do Professor Antonio de Pádua Bosi. 
13 
 
durante seu funcionamento para assimilar a produção de
suínos da região, sendo 
comprado pela SADIA em 1964. A compra do Frigorífico Pioneiro foi justificada por 
seu diretor, Atillio Fontana devido a grande produção de suínos da região. 
Os registros sobre esse processo foram levantados em trabalho de campo no 
ano de 2016 e 1917. Basicamente são entrevistas, materiais consultados no Museu 
histórico Wily Barth de Toledo-PR e visitas ao lugar onde era a vila operária ligada à 
Sadia. 
Ao comprar o Frigorífico Pioneiro, em 1964, a SADIA iniciou uma série de 
reformas que terminariam em 1971. Durante esse período a mesma buscou 
organizar o fornecimento de porcos, com a atuação do Fomento SADIA, buscou 
disseminar práticas para um bom manejo na criação de suínos. Uma vez organizado 
o fornecimento de matéria prima o frigorífico encontrava-se pressionado por uma 
falta de trabalhadores, que a mão de obra da cidade não conseguiu suprir. Nesse 
sentido a SADIA buscou trabalhadores de outras regiões. Neste período, sujeitos de 
diferentes regiões do Brasil se dirigiram para a região de Toledo em busca de 
emprego, fugindo de condições precárias em suas cidades. A SADIA buscou 
construir uma serie de estratégias para assegurar a manutenção da mão de obra. 
Eram ofertados além do salário “benefícios” como vale transporte, assistência 
odontológica e durante a década de 1970 a possibilidade de adquiri a casa própria. 
Para realizar a análise sobra a atuação da SADIA foram utilizados dois 
recortes de periódico com circulação regional, dos anos de 1968 e 1970. A partir da 
análise desses documentos foram construídas algumas questões acerca de como a 
SADIA cria uma imagem de empresa que trouxe o “progresso” a região. Foram 
realizadas oito entrevistas no ano de 2017, destas quatro são utilizadas nessa 
pesquisa. Trata-se da fala de três homens que entraram no frigorífico durante as 
décadas de 1960 e 1970 e se aposentaram na SADIA e de uma mulher que 
começou a trabalhar no frigorífico no inicio dos anos 1970, saindo após seu 
casamento com outro funcionário. Trata-se de analisar como esses sujeitos 
enxergam sua trajetória de vida, que foi marcada pelo trabalho na SADIA. 
 
 
 
14 
 
CAPÍTULO 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO ECONÔMICA DE TOLEDO-PR E A 
CONTRUÇÃO DE UM FRIGORÍFICO 
 
Este capítulo tem por objetivo discutir as estruturas econômicas, presentes 
formação econômica de Toledo-PR durante as décadas de 1950 e 1960. Trata-se de 
analisar como esse processo, baseado na pequena propriedade e na policultura, 
gera uma demanda de matéria-prima, um rebanho suíno considerável. A criação de 
porcos contribuirá com a constituição de um frigorífico em Toledo no final dos anos 
1950. E posteriormente, durante a década de 1960, esse frigorífico servirá como 
estrutura para a constituição da SADIA no município. 
 Para tanto, em um primeiro momento, faz-se necessário dissertar acerca da 
formação econômica do município de Toledo. Logo, pode-se colocar como 
referência a ocupação organizada do Oeste do Paraná a década 1940.2 Há que se 
ressaltar que, durante o início da década de 1930, ocorre um processo de ocupação 
de terras onde se estabelecem famílias que migraram dos estados do Rio Grande do 
Sul e Santa Catarina. Esse período pode ser considerado intermediário entre a 
ocupação esporádica e definitiva desse espaço. Esses primeiros proprietários, 
chamados de “colonos”, dedicavam-se ao cultivo de subsistência e a o extrativismo 
de madeira e erva-mate. Também, no período anterior as décadas de 1930, 
empresas, em sua grande maioria estrangeiras, dirigiram a exploração econômica 
da madeira e erva-mate. 
Portanto, a ocupação econômica efetiva da região Oeste do Paraná vem a ser 
realizada em meados dos anos 1940 e 1950, essa ocupação é favorecida no 
contexto da Primeira Guerra Mundial. Foram estipulados legislações e 
direcionamentos políticos que, em grande medida, criaram dificuldades para a 
operação e manutenção das empresas estrangeiras que atuavam na região. As 
dificuldades para a manutenção dessas empresas favoreceram a instalação de 
empreendimentos, de capital nacional, que exploraram o comércio de madeira e 
colonização. 
 
2
 No Período Vargas, as ações oficiais do governo, baseadas no nacionalismo e assentadas sobre 
um estado fortalecido e centralizador, objetivavam buscar a integração. No que tange à ocupação do 
território, foi promovida uma ação administrativa agressiva através do programa “Marcha para o 
Oeste”. (GREGORY, 2002, p.65) 
15 
 
Durante a década de 1940, diferentes empresas de capital nacional, iniciaram 
atividades de colonização e extração de madeira na região Oeste e Sudoeste do 
Paraná. O recorte desse trabalho irá analisar a atuação da Companhia Colonizadora 
do Rio Paraná S/A – Maripá na região de Toledo. A colonizadora organizou a 
ocupação econômica da região, orientada por um projeto de colonização, o que 
permitiu o desenvolvimento de uma economia pautada em uma policultura de 
subsistência. Portanto, há que se considerar, como a Maripá estrutura o processo 
produtivo da região? De que forma a criação de uma demanda de produção permitiu 
a criação de um frigorífico? Como se organizaram os frigoríficos, primeiro o Pioneiro 
e depois a SADIA, no município de Toledo? 
 
1.1 SÍNTESE HISTÓRICA DA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO OESTE DO PARANÁ. 
 
A Maripá, empresa constituída no Rio Grande do Sul no ano de 1946 adquiriu, 
em setembro do mesmo ano, 290.000 hectares com a compra da Fazenda Britânia 
da empresa Maderas del Alto Paraná, companhia inglesa com matriz na Argentina. 
Essa companhia utilizava a fazenda para a extração de madeira e erva-mate. Em 
um primeiro momento, antes de a ocupação ser estruturada, a Maripá valeu-se 
principalmente da extração e comércio de madeira para gerar fundos. Esse processo 
foi facilitado pela estrutura organizada pelo dono anterior da fazenda Britânia, onde 
se encontrava em funcionamento um porto equipado para facilitar o escoamento de 
toras pelo Rio Paraná. Quanto a ocupação organizada, foi estruturado um projeto 
que priorizou alguns pontos principais. A presença humana, tamanho das 
propriedades rurais, tipo de agricultura e a industrialização foram os elementos 
priorizados na ocupação econômica. Isso permitia a organização do comércio de 
terras e a exploração de outras fontes de renda. (GREGORY, 2002) 
A empresa definiu que o tamanho dos lotes seria de, aproximadamente, 25 
hectares. Isso estruturou a ocupação da terra por agricultores em pequenas 
propriedades. A divisão desses lotes levou em consideração inicialmente o 
fornecimento de água, sendo os cursos d‟água utilizados para balizar a divisão das 
propriedades. Kalervo Oberg3 em levantamento realizado no ano de 1956 discorre 
 
3
 Kalervo Oberg, antropólogo norte americano, produziu relatório socioeconômico na região de Toledo 
no ano de 1956. Esse relatório faz parte do Projeto de Desenvolvimento Regional da Zona Fronteiriça 
do Oeste do Paraná. Foi publicado sob o titulo de “Toledo, um município da fronteira Oeste do 
16 
 
sobre a formação econômica na região Oeste. Com base em seu relatório pode-se 
analisar a atuação da colonizadora em Toledo. 
Quanto à escolha dos compradores a Maripá priorizou a venda de terras para 
um elemento humano especifico. Os descendentes de imigrantes alemães e 
italianos radicados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina foram considerados 
ideais, pois seriam uma “uma população provada e testada para a experiência de 
uma vida pioneira da nova área” (OBERG; JABINE, 1980, p.28). A escolha desse 
perfil foi justificada pelo fato de esses indivíduos serem pequenos proprietários 
rurais, agricultores do tipo familiar com a tradição do trabalho árduo. 
Há que se ressaltar que as vendas de terras realizadas pela Maripá excluíam 
a possibilidade de determinados sujeitos adquirirem
propriedades, sendo que uma 
campanha de publicidade em grande escala descartada. Esperava-se que esta 
campanha pudesse atrair sujeitos considerados aventureiros. 
 O caboclo foi descartado como possível comprador. Foi levada em 
consideração duas percepções da empresa. Primeiramente, por possuírem uma 
agricultura que a empresa considerava primitiva. Além disso, os caboclos não 
dispunham de dinheiro suficiente para adquirir uma parcela de terra. No entanto, a 
companhia, utilizou-se da mão de obra desses sujeitos na derrubada de mata, 
construção civil e na abertura de estradas. O caboclo foi contratado para trabalhar, 
em algumas ocasiões, em trabalhos de empreita. Sua posição subalterna foi 
reforçada pela empresa e pelas famílias compradoras das terras. 
 Com intuito de selecionar trabalhadores aptos ao seu projeto de lotear e 
vender o Oeste do Paraná, a Maripá estabeleceu contato com agricultores de 
projeção dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses indivíduos 
serviriam de intermediários da empresa com pequenos agricultores da região Sul, 
cooperando para a vinda das primeiras levas de agricultores para Toledo. Parte das 
levas de “colonos” que vieram para Toledo nesse período teve sua vinda 
intermediada por agentes contratados. Kalervo Oberg registra que “O que esses 
homens contavam a seus amigos a respeito de Toledo era acreditado, sendo muito 
de mais eficácia para conseguir bons „colonos‟ do que anúncios em jornais.” 
(OBERG; JABINE, 1980, p.31). 
 
Paraná” em primeira edição no ano de 1960 e é publicado novamente em 1980. O levantamento que 
o pesquisador realizou serve para observarmos alguns processos implantados pela Maripá para o 
desenvolvimento da colonização na região. 
17 
 
Antes de a Maripá começar a venda das fazendas, realizou-se, no ano de 
1949, um levantamento topográfico de modo a determinar áreas e elaborar mapas 
da região. O processo de aferição das áreas destinadas a fazendas acabou sendo 
mais moroso, o que retardou a vinda de alguns agricultores do sul. De qualquer 
modo, a Maripá construiu uma estrutura de casas que serviu para alojar “colonos” de 
forma gratuita logo que chegados à região. 
A partir desse levantamento e da analise das condições climáticas da região 
foi estipulado o tipo de agricultura a ser praticada. Com temperaturas mais baixas e 
sujeitas a geadas, o cultivo de grãos era a opção ideal, pois não acarretariam 
grandes perdas por conta das condições climáticas. A região também foi 
considerada adequada para a criação de gado e de porcos. Esses tipos de 
propriedade, com cultura mista, consolidaram uma economia estável na região. 
Segundo Oberg,4 no ano de 1956, já haviam sido vendidas 9.618 propriedades, com 
o preço por alqueire de terra cultivável, sendo o alqueire equivalente a 2,42 
hectares5, variava entre 7.000 e 9.000 cruzeiros, o que custaria, atualmente, algo em 
torno de R$ 3.272.00 por alqueire. 
A agricultura começou a se desenvolver em dimensões maiores a partir de 
1951. Ainda que, referente à utilização do território da colônia, em 1956 apenas 18,4 
por cento, 44.150 hectares estavam sendo explorados como lavouras. As demais 
propriedades, já vendidas a agricultores que ainda não haviam começado o 
processo de derrubada da mata, que em media demorava 1 ano. Dados presentes 
na pesquisa de Oberg indicam que em 1956, 71% da terra ainda estavam cobertas 
por mata, 20% eram utilizadas em cultivos temporários, 5% em lavouras 
permanentes e 2% considerava-se terra inapropriada a cultivos. 
Os 20 por cento em culturas temporárias, em 1956, estavam 
distribuídas da seguinte maneira: milho, 62 por cento; aipim ou 
mandioca doce, 14 por cento; arroz, 8 por cento; soja, 5 por cento; 
trigo, 4 por cento; outras culturas, três por cento. (OBERG; JABINE 
p.68, 1980) 
 
4
 A fim de contextualizarmos os valores tanto de tamanho quanto de valor monetário serão feitas 
algumas conversões nos dados apresentados. O tamanho das propriedades será convertido de 
hectare para alqueire. A que se ressaltar que o alqueire não possui um valor exato, podendo variar de 
estado para estado do Brasil, deste modo será utilizado o alqueire paulista. A conversão monetária se 
fara do Cruzeiro (Cr$) para o Real (R$), sem utilizarmos as correções de inflação, para 
determinarmos o preço dos lotes comercializados na época. 
5
 Conversão: Sendo que 1 hectare (ha) é igual a 10.000 m², um alqueire paulista é igual a 24.000 m² 
de modo que 1 alqueire = 2,42 ha. E que Cr$ 1,00 é igual a R$ 2,75, Logo 1 alqueire = Cr$ 
9.000,00/2,75 = R$3.272,00 que seria o preço do alqueire de terras cultiváveis. 
18 
 
 
O tamanho médio das propriedades, minifúndios que mediam 256 hectares, 
ou aproximadamente 10,4 alqueires, com um custo de R$ 34.028,80. Esses tipos 
de lotes determinaram um tipo de agricultura de pequenas lavouras com cultivos 
diversos. A economia na região assentada nessa forma de agricultura alternava a 
produção para o mercado e para o consumo interno. 
Quanto a grande quantidade de terras cobertas com mata nativa essas foram 
gradativamente dando lugar a pastagens. Isso se deve a ausência de pastagens 
naturais na região e o problema da falta de carne. A região era abastecida com 
carne trazida em boiadas do Mato Grosso. Para aumentar a quantidade de cabeças 
de gado, tanto o leiteiro quanto o de corte, na região a floresta foi transformada em 
pastagens. 
A criação de porcos era comum nas propriedades da região, quase todas as 
propriedades possuíam suas pocilgas no período, diferindo apenas no tamanho e 
tipo. Os porcos eram criados soltos pela propriedade, o chamado porco de 
invernada, ou eram criado dentro de chiqueiros que variavam quanto ao tamanho.7 A 
alimentação desses animais era à base de milho e de mandioca, produzida pelos 
próprios agricultores. No regime de engorda eram utilizadas duas rações compostas 
de fubá de milho, farelo de trigo, mandioca, batata doce, soja e sais minerais. Os 
suínos eram vendidos quando chegavam a oito ou nove meses com o preço girando 
em torno de 18 a 20 cruzeiros8 o quilo do suíno vivo. (OBERG; JABINE, 1980) 
 A criação e comercialização de porcos constituiu um dos elementos que 
possibilitaram aos agricultores a acumulação de capital, nos anos 50 e 60. No 
período de 1950 em torno de 70% da produção de suínos eram direcionados ao 
comercio. No ano de 1956 foi feito levantamento onde foi estimado que existissem 
no município aproximadamente 45.000 cabeças. 
 O Empório, serviu como intermediário a venda de porcos para o frigorífico 
Wilson em Ponta Grossa. A partir de dados levantados por Oberg pode-se observar 
 
6
 Conversão: 1 colônia = 25 ha, sendo que 25/2,42 = 10,4 alqueire. Tendo em vista que o preço do 
alqueire era de R$3.272,00 * 10,4 alqueire por colônia. O custo da propriedade seria algo em torno 
de R$ 34.028,00. 
7
 O chiqueiro seria construído com medidas de 6 metros de cada lado do corredor central, era uma 
construção quadrada. Os compartimentos destinados aos suínos possuíam 6 metros quadrados e 
comportavam cerca de 50 suínos. Cada compartimento possuía um comedouro com 30 centímetros 
de largura e 15 de profundidade e um cocho com água corrente. (OBERG; JABINE, 1960) 
8
 Eram pagos R$ 7,50 o quilo do suíno vivo. 
19 
 
o aumento significativo da produção de suínos na região. Foram comercializados 
3.000 porcos no ano de 1955 e no ano seguinte o numero de exportados do 
município foi de 5.000. Até o final da década de 1950 o numero de suínos 
comercializados chegaram a perfazer números superiores a 50.000 mil 
cabeças.(OBERG; JABINE, 1980) 
A comercialização de suínos com o frigorífico
Wilson dependia do transporte 
elemento que de certo modo rebaixava o preço recebido pelo produtor na venda. Era 
utilizada um taxa de frete que custava em torno de 1,70 cruzeiros para Curitiba e 
1,50 para Ponta Grossa. Nos anos de 1950 aproximadamente 70 por cento da 
produção de suínos destinava-se ao comércio e a partir dos anos 60 quase a 
totalidade desses animais era comercializado com frigoríficos de Ponta Grossa e 
São Paulo. (BOSI, 2016) 
Para além do porco os principais produtos que se destinavam ao comercio 
eram o fumo e o feijão preto. Dados de metade dos anos 50 dão conta do volume de 
venda desses produtos, que os configura como as principais culturas comerciais da 
colônia no período. No ano de 1955 foram exportados em torno de 8.000 arrobas de 
fumo e 4.000 sacas de feijão. O fumo era vendido a Companhia Souza Cruz que 
possuía instalação destinada à secagem de Fumo em Toledo. Quanto ao feijão, o 
mesmo era vendido e transportado até Ponta Grossa, local onde existia a ferrovia 
mais próxima. O custo para o transporte de produtos ensacados, cereais em geral, 
custava em media 1 cruzeiro o quilo. (OBERG; JABINE, 1980) 
Dos três produtos mais exportados em Toledo o suíno é o que veio a ter mais 
relevância. Quanto ao abastecimento interno esse era suprido pelo que se produzia 
nas lavouras da região. Consumia-se uma grande quantidade de arroz, manteiga, 
batatas, milho, frango e ovos. O milho em geral era direcionado quase todo a 
produção de ração para os porcos. 
Existia em Toledo uma infraestrutura que permitia o beneficiamento de 
produtos necessários ao abastecimento interno. A empresa procurou estabelecer, 
manter e estimular a construção de indústrias que favorecessem o desenvolvimento 
na região. Inicialmente esses estabelecimentos atendiam as necessidades mais 
imediatas desses proprietários. 
De modo geral, foram construídas oficinas mecânicas, para reparos rápidos 
em maquinários, um moinho para o beneficiamento de cerais e um armazém onde 
20 
 
se realizava as compras básicas e eram vendidos produtos como porcos. Além de 
uma série de empresas ligadas a extração e ao beneficiamento de madeira. 
A forma como a Maripá organizou esse processo, pautado em uma policultura 
em minifúndios permitiu a região conhecer um desenvolvimento acelerado. Com a 
implantação de tecnologias e a mecanização do campo, a produção de produtos 
como o milho, base da alimentação dos suínos cresceu também. O dinamismo 
dessa economia permitiu que se gestassem condições para a criação de empresas 
do tipo agroindustrial que beneficiavam produtos, do tipo primário, produzidos na 
região. 
A ideia da construção de um abatedouro-frigorífico em Toledo remonta ao ano 
de 1956. O discurso de Ondy Niederaurer9, um dos diretores da Maripá, apresenta o 
projeto de construção de um frigorífico em Toledo: 
Nada os intimidou [colonos], nem os que o seguiram. A custa de 
seus esforços em 1946, 1947 e 1948, foi-nos possível a construção 
de algumas estradas, serrarias e as primeiras casas. Depois seguiu-
se a exportação de madeira que trouxe algum dinheiro.(...) Em 1949 
e 1950, vieram os primeiros compradores de terra. Alguns indivíduos 
fracos logo desistiram mas os mais ousados resolveram tentar a 
sorte, comprando uma ou duas colônias. Em 1951 os „colonos‟ 
vieram de avalancha. (OBERG; JABINE, 1980, p.37) 
 
Ao destacar a história da região, os esforços realizados e as conquistas 
alcançadas. Niederauer interpreta esse trajeto como um sucesso. O projeto do 
frigorífico que seria construído com participação dos agricultores, com intuito de 
obter melhores preços com a venda de pedaços processados dos animais seria 
outro empreendimento “bem sucedido da colonizadora”. 
 
1.2 O FRIGORÍFICO PIONEIRO 
 
O frigorífico funcionaria para adicionar valor a atividade de suinocultura em 
Toledo, uma vez que permitiria a comercialização de produtos industrializados. 
Quando processada a carne suína, o tempo para chegar ao mercado consumidor e 
o tipo de estrada seriam problemas secundários. De fato os fundadores do frigorífico 
não se preocuparam com a logística da distribuição. Pelo menos não se 
preocuparam no início. Niederauer descreve como deveria ser tal empreendimento: 
 
9
 Esse discurso foi proferido em um radio local em 1956 e transcrito para o relatório de Kalervo Oberg. 
21 
 
O frigorífico projetado deverá ser grande, mas não demais. 
Considerando a atual e a futura produção de porcos, deve ter a 
capacidade para 200 a 250 porcos por dia, além de 10 a 25 cabeças 
de gado. O frigorífico deve ser construído de forma a permitir a 
expansão futura. Outra consideração de grande importância na 
formação da nova Companhia é a continua solidariedade do povo, 
nesta área. Se cada um de nós procurasse se tornar independente e 
trabalhar por si só, estaríamos trabalhando para trás. Devemos nos 
unir e trabalhar juntos, pois só unidos venceremos. (OBERG; 
JABINE, 1980, p.38) 
 
É importante salientar que Niederauer necessitava reunir capital para o 
empreendimento. Não sabemos se houve aporte de recursos emprestados de 
bancos. Fato é que a participação de capital local, captado entre os agricultores, foi 
alvo dos apelos inicias. O final do texto acima indica isso. A união referida por ele 
dizia respeito também à organização da oferta de porcos. A partir do relatório de 
Oberg (1960), pode-se observar que o interesse em se construir um frigorifico tinha 
como principal objetivo agregar valor ao preço do porco. Esse estava sujeito às 
crises do mercado onde ora o preço era favorável à venda, ora os preços estavam 
abaixo das expectativas dos criadores. A narrativa que Oberg construiu apresenta 
um episódio onde o preço do suíno estava baixo. Quando no ano de 1956 três 
navios com os porões carregados de banha atracaram no Rio de Janeiro. A banha 
foi comprada pela COFAP10 dos Estados Unidos e colocada à venda no mercado 
nacional a Cr$30,00 o quilo. A construção de um frigorífico permitiria aos produtores 
manterem o nível dos preços do porco, agregando valor no suíno processado. 
 A demanda de produção necessária ao funcionamento de um frigorífico 
estava se engendrando na região. Aliado ao aumento do rebanho contribuía para a 
criação, à suficiência em matéria-prima, necessária a ração dos porcos. Portanto, a 
construção de um frigorífico em Toledo foi condicionada pelo aumento da produção 
do milho e dos suínos na região. Sobre o frigorífico formulou-se duas questões: 
Como foram desenvolvidas as atividades desse primeiro frigorífico? O mesmo 
conseguiu cumprir com o que foi prometido em seu projeto? 
O frigorífico entra em funcionamento no ano de 1959, com o nome de 
Frigorífico Pioneiro, na forma de uma sociedade anônima. Sua construção é 
condicionada pela dinâmica econômica presente na região, que fornecia matéria-
 
10
 Sigla aparece no relatório de Oberg, possivelmente seria uma entidade ligada ao agronegócio 
durante a década de 1950. 
22 
 
prima necessária ao seu funcionamento. O funcionamento do Frigorífico Pioneiro se 
estendeu de 1959 a 1963, quando é comprado pela Sadia. 
Existem poucos registros sobre o funcionamento do Frigorífico. O que 
apresenta algumas dificuldades para analisarmos o seu funcionamento. As atas do 
conselho fiscal, uma fotografia do frigorífico de 1959, constituem a documentação 
encontrada. Em um primeiro momento, apresentarei a análise das atas do conselho 
fiscal. Na pesquisa de campo, realizada nos arquivos do Museu Histórico Wily Barth 
de Toledo-PR no ano de 2017, foram encontrados, registros dessa documentação 
do ano de 1960 até 1965, totalizando 13 atas11. 
O Frigorífico Pioneiro foi constituído como uma sociedade anônima, o que 
deveria permitir a participação de um número considerável dos agricultores da 
região. No ano de sua fundação, em 1959,
possuía o capital social de Cr$ 
10.000.000,00, algo em torno de 3.5 milhões de reais. Esse capital social foi dividido 
em 10 mil ações no valor de Cr$ 1.000,00 cada, aproximadamente 360 reais. No 
entanto, essas ações, estavam circunscritas a uma pequena quantidade de sujeitos. 
Fato que difere da proposta do frigorífico, presente no discurso de Ondy Niederauer. 
A família Baudisch possuía 69 % do capital, sendo o restante dividido entre 6 
indivíduos, os quais possuíam uma ligação direta, ou indireta com administração da 
Maripá. 
 A partir da análise das atas do conselho fiscal pode-se inferir algumas 
questões sobre o funcionamento do mesmo. A partir de 1960 foram deliberadas 
sucessivos aumentos do capital do frigorífico. Consta que, na ata nº2 de 1960 do 
Conselho Fiscal aprovou o aumento de Cr$ 6.000.000,00 do capital. Ata nº 4 de 
1961 aprovou o aumento de Cr$ 20.000.000,00 do capital. Ata nº 5 de 1961 aprovou 
o aumento de Cr$ 24.000.000,00 de capital. Em 1964, ano da compra do frigorífico 
pela Sadia o conselho fiscal apreciou somente as contas do exercício fiscal dando o 
parecer favorável. 
Os sucessivos aumentos de capital social, anterior à compra do frigorífico 
pela Sadia, podem expressar de ajustamento de condições estruturais e logísticas 
necessárias ao funcionamento do frigorífico. Será utilizada uma fotografia para 
analisarmos dimensão do frigorífico e tentar inferir algumas questões sobre sua 
atividade. Datada do ano de 1959, esse registro apresenta as dimensões do 
 
11
 Dados de catalogação 
23 
 
Frigorífico Pioneiro quando do inicio de seu funcionamento12. Quanto ao método 
para a análise desse registro fotográfico levou-se em consideração alguns 
elementos, ou estágios que compõe um método sugerido por Boris Kossoy. 
Segundo ele: 
Houve uma intenção para que ela [a fotografia] existisse; esta pode 
ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a registrar 
determinado tema do real ou de um terceiro que o incumbiu para a 
tarefa. Em decorrência desta intenção teve lugar o segundo estágio: 
o ato do registro que deu origem à materialização da fotografia. 
Finalmente, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta 
fotografia, as vicissitudes por que passou, as mãos que a dedicaram, 
os olhos que a viram, as emoções que despertou, os porta-retratos 
que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os porões e sótãos 
que a enterraram, as mãos que a salvaram. (KOSSOY, 2001, p.45) 
 
O registro fotográfico encontra-se disponível no acervo do Museu Histórico 
Wily Barth de Toledo-PR. Está nomeada como “Primitivo Frigorífico Pioneiro, em 
1959, Toledo”. A imagem registrada no ano de inauguração Frigorífico, 
possivelmente, foi encomendada pela direção do frigorífico. Ela possibilita observar 
as dimensões da planta produtiva desse empreendimento feito com o capital local. 
Esse registro, supostamente, entraria no livro de registros do frigorífico. A fotografia 
foi doada ao museu pela Editora Finkler no ano de 1996. Não foi possível identificar 
o autor do registro. Quanto à composição da fotografia pode se observar o seguinte: 
 
Imagem 1 – “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR 
 
12
 Essa fotografia foi localizada em trabalho de campo. 
24 
 
A planta produtiva (1) do frigorífico está em evidência quanto a outros 
elementos que compõe a fotografia. É uma estrutura relativamente grande, levando 
em consideração a nomeação da fotografia de “primitivo frigorífico”, este possuía 
dimensões consideráveis, que podem ser comparados a outros frigoríficos do país. 
Observa-se presença de uma série de casas construídas em madeira (2), nove no 
total, muito próximas ao frigorífico, essas possivelmente seriam utilizadas por 
funcionários, requeridos ao funcionamento do frigorífico em casos de manutenção, 
por exemplo. A estrada de acesso (3) delimita o espaço entre o frigorífico e as 
casas, sendo um acesso de terra por onde eram transportadas a matéria-prima a ser 
processada e era escoada a produção. Existia ainda a presença de uma casa, que 
está fora do espaço do frigorífico, uma propriedade rural (4). 
A partir da análise dessa fotografia podemos construir algumas afirmações. 
Primeiro, o frigorífico estava localizado longe do centro urbano de Toledo. Segundo, 
as casas (2) seriam uteis ao frigorífico, uma vez que os sujeitos que ali residiam 
estariam a disposição da fabrica em eventuais problemas. Terceiro, os acessos (3) 
ao frigorífico são feitos por estradas de chão, o que trouxe certos problemas de 
logística, tanto para o abastecimento, quanto para o escoamento da produção, que 
deveria estar entre 200 a 250 suínos abatidos por dia. No período de chuvas o 
transporte para o frigorífico seria precário, devido as condições que as estradas 
ficavam. Não foram estabelecidas as razões que levaram o Frigorífico Pioneiro a 
decadência. Possivelmente, isso ocorreu devido as dificuldades para o escoamento 
da produção, que deveria ficar retida pelas condições de transporte. 
A decadência do frigorífico é apresentada por Attilio Fontana em sua 
autobiografia. Ao discorrer sobre os motivos que levaram a compra do Frigorífico 
Pioneiro o mesmo esclarece que se tratava de um frigorífico muito pequeno, “em 
franca decadência”, O Frigorífico Pioneiro, “muito mal instalado” que foi comprado 
“para não precipitar [seu] fechamento” devido à edificação de um novo. (FONTANA, 
1980, p.235). Fontana justificou a instalação de um empreendimento na região 
devido à mesma possuir “grande produção de suínos”. Sua caracterização mais 
impressionista foi chamar o frigorífico de açougue. Na imagem 1, a planta do 
frigorífico em 1959, recém construída, não poderia ser considerada um açougue, 
não de um ponto de vista técnico. A produção diária, modesta e descriminada 
anteriormente, se igualava ou ficava abaixo de frigoríficos do estado de São Paulo e 
25 
 
de Minas Gerais nos anos 50. O tamanho da planta também excedia com sobras as 
medidas de um açougue ou de um matadouro, descontando as metragens dos 
currais. Além disso, o frigorífico oferecia cerca de 10 casas para trabalhadores e 
suas famílias, provavelmente os mais especializados. Diante disso, a afirmação de 
Fontana feita 16 anos depois da compra do frigorífico teve objetivo de reforçar o 
papel positivo da Sadia associado a história de Toledo e a sua própria importância. 
O período de atuação do Frigorífico Pioneiro foi relativamente curto, cinco 
anos. A quantidade de documentos disponíveis sobre o mesmo é escassa, o que 
dificulta, uma analise mais segura sobre o período de funcionamento do frigorífico. 
No entanto, a partir dos fragmentos disponíveis, podem-se estabelecer algumas 
considerações sobre a criação do mesmo. 
A forma como se estabeleceu a ocupação econômica da região, pautada em 
uma policultura em pequenas propriedades, foi fundamental para a criação desse 
tipo de indústria. A região oeste foi marcada pelo surgimento de pequenos 
frigoríficos, semelhantes ao Pioneiro em Toledo. Sobre perspectivas distintas, 
analisando, de um ponto de vista histórico, o surgimento e as relações com a história 
da região,diferentes produções acadêmicas trabalharam com esse assunto.13 
A criação do Frigorífico Pioneiro resultou do desenvolvimento de uma 
demanda econômica da região de Toledo. A forma como foi estruturado o processo 
de colonização permitiu um desenvolvimento acelerado da economia. Com o 
abastecimento interno suprido pela produção de uma policultura, sendo alguns 
poucos destinados à exportação, como o porco e o milho. O aumento da produção 
desses itens, aliado ao interesse dos produtores de suínos, em aumentar seu 
capital, gestou o projeto do Frigorífico Pioneiro. Seu funcionamento não conseguiu 
assimilar a demanda de matéria prima da região. Em processo de decadência
é 
adquirido pela Sadia em 1964, após um curto período de atuação, marcado por uma 
produção irregular. 
Deste modo, cabe agora, analisar o funcionamento do frigorífico da Sadia em 
Toledo. A que se estabelecerem algumas questões para nortear essa analise. Em 
um primeiro, pensar, como foi organizado o fornecimento de matéria prima? De que 
 
13
 Sobre essa questão pode-se analisar os trabalhos de Guilherme Dotti Grando; Luta de Classes, 
trabalhadores e frigoríficos em Cascavel-PR (1980-2015). Fagner Guglielmi Pereira; Trabalhadores 
de Frigorífico: trabalho lazer e moradia (1960-1980). Sobre o frigorífico da SADIA em Toledo o 
trabalho de Maria Cristina Castro Pereira; Trabalhadores da Sadia de Toledo: Relações de Trabalho e 
Sindicalismo (Décadas de 1960 a 1980). 
26 
 
forma a SADIA se utiliza da estrutura econômica, presente na região, para 
consolidar seu empreendimento? 
 
1.3 A SADIA CHEGA À REGIÃO 
 
 Ao adquirir a planta produtiva do Frigorífico Pioneiro a Sadia teve de resolver 
alguns problemas para funcionar. Em 1964 iniciou uma serie de reformas para 
aumentar a capacidade de produção do frigorífico. Para além, das modificações a 
Sadia buscou ajustar o fornecimento de matéria-prima. Foi criado um sistema de 
assistência técnica, com objetivo de padronizar a produção de suínos. A experiência 
com que contava em seus frigoríficos, em Santa Catarina e São Paulo, favoreceu 
essa empreitada. Ao mesmo tempo, durante a década de 1960 a Sadia buscou 
construir uma imagem de progresso, relacionada à sua atuação em Toledo. 
 Não há muitas fontes disponíveis sobre a Sadia na década de 1960. No 
entanto, essas são em quantidade suficiente para discutir a construção da imagem 
que a Sadia buscou sedimentar. Em um primeiro momento, será analisada a forma 
como ele foi organizado o fornecimento de matéria-prima para o frigorífico. Para 
tanto, foram selecionadas algumas matérias do jornal A Voz do Oeste, pequeno 
período de circulação regional. A que se considerar, que jornais pequenos, 
dependiam financeiramente de anúncios, ou matérias pagas, de empresas como a 
Sadia. Muitas vezes essa relação era mais uma cortesia do que acordo comercial. 
Entretanto, a mensagem que foi vinculada na matéria expressa os interesses da 
empresa. 
 A partir de um anúncio, comprado do jornal A Voz do Oeste a Sadia pode-se 
observar a tentativa da Sadia padronizar a produção de suínos na região. A edição 
número 17 de 27 de outubro de 1968 na pagina 12 apresenta as características de 
um bom suíno e traz uma orientação para a criação racional. A página foi dividida 
em duas partes, para a melhor visualizar seu conteúdo. A matéria foi publicada em 
uma página que apresenta informações diversas, com informações de cinema, 
campanha para um candidato a vereador e um anúncio (3). A matéria ocupa a parte 
inferior da página e possui uma imagem de um suíno e uma legenda indicando 
características ideias para o animal. A direita existe uma tabela onde estão descritos 
algumas orientações para a criação de porcas e reprodutores. 
27 
 
 
 IMAGEM 2.- A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 1 
 
 
IMAGEM 3 - A VOZ DO OESTE - ANO I - TOLEDO, 27-10 -1968 - Nº 17 - PG.12. Parte 2 
 
A matéria é ilustrativa, permite visualizar as características de suíno tipo carne 
que seria ideal a comercialização. Os agricultores costumavam criar porcos do tipo 
banha, que serviam a suas necessidades de consumo. Eram produzidos para 
28 
 
consumo próprio o torresmo, salame, carne de lata e a banha, e o excedente era 
vendido. No entanto esse tipo de suíno possuía um valor menor para a venda. As 
instruções para uma “criação racional” proposta pela Sadia com objetivo padronizar 
a produção dos porcos, reprimindo determinadas praticas de pequenos produtores, 
consideradas arcaicas. Pequenos proprietários que vendiam seus suínos a Sadia, 
em muitos casos, não tinham condições de se adequar as exigências para entregar 
sua produção no o frigorífico. O método empírico utilizado por esses na lida não 
agregaria valor para ao produto entregue a Sadia. Portanto, o fomento do frigorífico 
buscou estabelecer uma padronização para os suínos, eliminando praticas, 
consideradas obsoletas, dos produtores. Na edição numero 42, ano III, de 09 de 
agosto de 1970 é apresentada uma matéria “Especial aos suinocultores”. 
 
 
IMAGEM 4 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 1 
29 
 
 
IMAGEM 5 - A VOZ DO OESTE - ANO III - TOLEDO, 09 -08 -1970 - Nº 42 - PG. 11. Parte 2 
 
O método utilizado para análise desse documento consiste em dois pontos 
específicos. Em um primeiro momento buscar-se-á identificar criticamente a 
configuração externa do documento. Após caracterizar a natureza dessa fonte 
(temporalidade, espacialidade, suporte físico e intencionalidade), será analisado a 
logica da narrativa e os pontos abordados. (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946) 
De modo geral a matéria foi construída para passar uma imagem positiva 
sobre a atuação da Sadia na região. Os argumentos, que ajudam a construir essa 
imagem são pautados em uma pesquisa que aponta um relativo progresso na 
região. São ressaltados os números da produção agrícola na região. O trabalho do 
fomento da Sadia contribuiu para o desenvolvimento da suinocultura. A rentabilidade 
que a criação de porcos propicia. Ao enaltecer esse processo, tem-se não fica 
evidente as contradições e resistências por parte de pequenos criadores a 
imposição desta “criação racional” que trouxe resultados positivos para o frigorífico e 
alguns produtores. 
A Sadia buscou estabelecer uma imagem de si, que está associada ao 
desenvolvimento e aumento da produção na região. Durante todo final dos anos de 
1960, e durante a década de 1970, através jornais, rádios, o frigorífico buscou 
apresentar-se como uma grande empresa, “que trouxe o progresso a região”. Em 
uma edição do jornal a Voz do Oeste de 1970 é ressaltada os resultados da politica 
30 
 
de fomento da Sadia. A matéria apresenta levantamento realizado em quatro 
municípios da região, Toledo, Marechal Candido Rondon, Santa Helena e Palotina. 
A matéria apresenta dados referentes à venda anual de suínos, que teve 
como base a pesquisa em 1475 criadores. Esses possuem uma média de venda, de 
52 cabeças anuais. A padronização do tipo de suíno também é ressaltada. Quanto 
às raças criadas a Duroc, tipo mais comum, e a Landrace constituem mais de 90% 
do rebanho suíno. A reportagem destaca que isso “evidencia o alto padrão imposto à 
nossa suinocultura pelos criadores da região”. Ocorre nesse sentido uma 
reorganização da produção, que ignora substancialmente os modos de vida dos 
pequenos proprietários e da parcela mais pobre de produtores. É direcionada pela 
agroindústria a promoção de mudanças nas relações de produção, onde o porco 
consumido no dia a dia para atender as necessidades básicas, passa a ser o suíno, 
lucrativo comercialmente e que permite aos produtores aumentar seu capital. 
A matéria enfatiza a forma como o fomento buscou padronizar o tipo de 
criação, desvalorizando práticas exercidas por criadores da região. A matéria buscou 
retratar as mudanças na criação, expondo as rendas obtidas pelos produtores 
suínos. Os dados apresentados buscam legitimar a atuação do fomento, com a 
utilização de informações que saltam os olhos do leitor. Em uma amostra de 300, 10 
recebiam renda superior a Cr$ 15.000,00. 31 criadores possuíam renda superior a 
Cr$ 10.000,00. 19 possuem renda superior a Cr$ 8.000,00. 74 produtores 
receberiam renda superior a Cr$ 4.000,00. Os dados apresentados enfatizam o 
numero de produtores e a renda, no entanto quando feita a soma os números não 
fecham. Os números apresentados, dizem respeito a 134 produtores, 
aproximadamente 44% do total. Os dados referentes ao rendimento dos
166 
produtores restantes, correspondendo a 56% dos criadores não é apresentada pela 
matéria. Entregar a produção de suínos ao frigorífico seria lucrativo aos produtores, 
os dados apresentados buscam legitimar essa afirmação. 
A matéria ainda destaca que a suinocultura ainda possui mercado a ser 
conquistado. De 27.000 propriedades, apenas 19.000 se dedicam a criação de 
suínos. As 8.000 propriedades restantes são inexploradas ou são dedicadas à 
plantação de cereais. O levantamento que a reportagem apresenta da conta da 
penetração da suinocultura na região, com o crescimento gradativo do número de 
31 
 
propriedades com criação e comercialização de porcos. No entanto, destaca que 
existe a possibilidade de ampliação da quantidade de produtores. 
Outro ponto a ser ressaltado são os números referentes à produção de grãos, 
que são base da alimentação dos suínos. A soma das regiões de Toledo, Marechal 
Cândido Rondon, Palotina e Santa Helena apresenta um crescimento considerável 
de produtos como milho, soja e trigo, no ano de 1969. Contabilizado em sacas de 60 
kg, 6.984.700 sacas de milho, 1.110.300 sacas de soja e 329.700 sacas de trigo. A 
reportagem buscou apresentar dados que demostrassem um relativo aumento na 
produção. O papel do fomento da Sadia estaria além da assistência ao produtor de 
suínos, sendo importante para a produção grãos no município, parte da qual seria 
destinada a produção de ração para os porcos. 
A criação racional de suínos também está evidenciada na reportagem, 
destacando o trabalho do Fomento da Sadia. Ao ressaltar que 85% dos produtores 
possuem de 1 a 10 criadeiras, uma das orientações do fomento, como ilustrada no 
primeiro recorte. Quanto à produção de porcos os totais apresentados são 
consideráveis. O tamanho do rebanho de porcos na região, em 1969, era de 
1.201.700 cabeças, considerando dados de Toledo, Marechal Candido Rondon, 
Palotina e Santa Helena. Foram comercializadas, nesse mesmo ano, 989.650 
cabeças, totalizando quase 83% dos suínos produzidos. Quanto ao número de 
suínos comercializados, o 17% foi destinado ao mercado interno, com a produção de 
torresmo, salame e banha, o restante foi destinando ao mercado externo com a 
comercialização do suíno vivo, que deveria compor a maior parte da comércio, 
nesse período a produção de porcos destinados ao frigorífico seria modesta, 
comparada ao comércio do suíno vivo. No entanto, ao expor esses dados a matéria 
buscou realçar a importância da existência da Sadia em Toledo. Os produtores que 
decidissem produzir porcos em Toledo teriam a quem entregar sua produção e obter 
lucros consideráveis. 
O “Especial aos suinocultores” buscou demostrar a importância do Fomento 
Sadia na região. A matéria constrói uma imagem positiva do frigorífico. Os dados 
utilizados demostram o progresso da região no final dos anos 1960. Em suma, o 
trabalho do Fomento Sadia contribuiu para “modernizar” a produção de suínos, 
garantido uma produção maior e mais lucros aos produtores. Neste ponto tem que 
se considerar a influencia que a matéria exerce sobre os leitores. O que leva em 
32 
 
conta as atitudes que os moradores de Toledo deveriam ter com base na inegável 
presença do frigorífico e seus impactos na cidade. Deste modo, trata-se menos do 
conteúdo e mais da projeção de sentimentos e valores que poderiam se conectar 
com os leitores, seu universo cultural e suas expectativas pessoais. Por meio da 
publicidade, o frigorífico buscou estabelecer um contato sensível com a cidade, 
esperando que os moradores se identificassem com o frigorífico. 
Em 1969 foram abatidas 173.199 cabeças, em torno de 474 cabeças por dia, 
um aumento significativo da produção de quatro anos atrás, aproximadamente 374 
cabeças a mais. (CARAVALHO et al., 2016). O desempenho do frigorífico em 1969 
foi responsável por sozinho por 43% da produção de todo o Paraná, onde a região 
Sul possuía metade de todo o rebanho nacional. (AMADOR, et al., 1999) 
Sob o controle da Sadia desde 1963, o frigorífico passou por uma série de 
mudanças estruturais relevantes ao seu funcionamento. Foram substituídos 
maquinários antigos, já obsoletos para o abate e preparo de carcaças. Paredes e 
telhados foram reformados e instalaram câmeras frias adequadas a demanda de 
produção. O período de 1963 a 1975, da compra do Frigorífico Pioneiro (1963) até a 
consolidação do frigorífico para o abate de aves (1975), ocorre o assentamento da 
Sadia em Toledo. 
Ao estabelecer uma forma de organização do fornecimento de matéria-prima 
a Sadia, consegue o que o Frigorífico Pioneiro não o fez, assimilando a produção de 
suínos da região. No entanto, um dos percalços enfrentados pela Sadia diz respeito 
à mão de obra. Em uma região com poucos operários, o recrutamento de sujeitos de 
outras regiões foi uma das alternativas ao frigorífico. Deste modo a Sadia 
encontrava-se pressionada por uma demanda de produção e por uma carência de 
trabalhadores. Para suprir essa necessidade foram deslocados trabalhadores 
especializados de outros frigoríficos (Sadia de Concordia-SC). Esses sujeitos já 
possuíam um domínio do trabalho em frigorífico e ocupavam cargos que exigiam 
certa especialização. Eram esses operários que ocupavam postos de chefia em 
diferentes setores. 
 
 
 
 
33 
 
1.4 A RECRUTAGEM DE TRABALHADORES 
 
O recrutamento de trabalhadores durante os anos 1960 e 1970 não possui 
muitos registros materiais a respeito. A que se considerar, que em um primeiro 
momento a Sadia utilizou-se da mão de obra local. Trabalhadores com experiência 
no trabalho do campo e que moravam nas proximidades do frigorífico teriam sido 
empregados no mesmo. Esses não possuíam o domínio do trabalho na fábrica e 
eram empregados em funções diversas. Por outro lado, eles sabiam como manejar 
porcos, fato que ajudava no abate e no esquartejamento do animal. Mas, de modo 
geral, os trabalhadores que a administração do frigorífico trouxe de Concordia-SC 
ensinaram parte do processo produtivo aos locais. 
Quanto a essa questão formula-se a hipótese que o recrutamento da Sadia foi 
por muitas vezes intermediado por seus próprios trabalhadores. Uma propaganda 
onde as famílias que vieram para Toledo para trabalhar no frigorífico, depois de 
algum, entravam em contato com familiares e amigos que ficaram, e relatavam a 
existência de emprego, de moradia, etc. A vinda dessas pessoas em busca de 
empregos no frigorífico, para além desse tipo de convite familiar pode-se associar as 
condições muito ruins das cidades de onde estes saem. Muitos trabalhadores que se 
deslocaram para Toledo nas décadas de 1950 a 1980 moravam no campo, vivendo 
de um cultivo que por vezes não supria as necessidades. Esse processo de 
migração levou diferentes sujeitos irem para Toledo, alguns se estabeleceram, 
outros foram embora. “A migração de camponeses não era apenas consequência da 
inviabilidade de suas condições de existência, mas parte integrante de suas próprias 
práticas de reprodução social”. (MENEZES, 2012, p.22) 
 O processo de pauperização do pequeno produtor, com a mecanização do 
campo e a perda de terras é um motivo. Situações pessoais, a vivência em 
Concordia onde já se conhecia o frigorifica, por exemplo. A possibilidade de 
recomeçar de vida em outra cidade também motivou a vinda dessas pessoas para o 
município de Toledo, em grande medida devido a propaganda familiar. Para além do 
pessoal que vinha da região sul, com parentes ou conhecidos que já trabalhavam no 
frigorifico. Pessoas de regiões como Minas, Bahia e interior do São Paulo, 
aparentemente sem contatos específicos com pessoas em Toledo, rumaram para a 
cidade em busca de emprego. 
34 
 
A publicidade feita pela Sadia foi veiculada em jornais e rádios de alcance 
regional.14 Essa publicidade, não só em forma de anúncios de emprego, tratou de 
construir uma imagem de “progresso” em Toledo, associada ao frigorífico. Em 1979,
a SADIA patrocinou, no jornal Tribuna d‟Oeste, uma página de publicidade em 
homenagem ao aniversário de Toledo. Em parte da matéria oferecia-se 
oportunidades de emprego. Para homens anunciavam-se empregos para auxiliar de 
frigorífico, auxiliar de fábrica de ração e servente de pedreiro. Como requisitos para 
essas funções pedia-se idade entre 18 e 35 anos, ótima constituição física e altura 
mínima de 1,60 metros. Para mulheres havia vagas de auxiliar de frigorífico com os 
requisitos de idade entre 18 e 35, solteira e altura mínima de 1,50 metros. Essas 
vagas destinavam-se a ocupações manuais, na linha de produção, o que demanda 
pouca experiência. Outras funções como a de pintor exigiam experiência e idade 
igual ou superior a 18 anos. As vagas para auxiliar de granja possuíam como 
requisitos ser solteiro, com idade entre 18 e 35 anos e possuir acima de 1,60 metros. 
A necessidade de estarem 24 horas disponíveis para a manutenção das aves 
requisitou o estado civil solteiro aos trabalhadores. A cobrança por altura e 
constituição física especifica era determinada pela ergonomia da planta produtiva e 
das granjas. Quanto a exclusão de mulheres casadas tentava-se livrar do risco de 
gravidas e os diretos trabalhistas que as retiravam do trabalho um tempo. (FINKLER, 
2007) 
Anexo às vagas o anúncio apresenta uma série de benefícios ofertados pela 
Sadia. Assistência médica, assistência odontológica, refeitório a Cr$ 10,00 a por 
refeição, seguro de vida, convênio com farmácia, associação esportiva e recreativa, 
complementação de aposentadoria, convênio com a Transtol (transporte público). 
Em um contexto onde o aumento da informalidade era considerável, os benefícios 
oferecidos pela Sadia não eram poucos. Ainda que se leve em consideração a 
existência de conflitos trabalhistas por conta do pagamento de horas extras, por 
exemplo.15 
Outros benefícios foram oferecidos antes de 1979, como a facilidade para a 
compra de casa própria por meio de um programa de financiamento da Caixa 
Econômica. Para evitar a rotatividade e o absenteísmo a Sadia ofereceu essas 
 
14
 A esse respeito pode-se consultar o acervo da Frente Ampla de Noticias (FAN) da Radio Difusora 
de Marechal Candido Rondon. Disponível para consulta no CEPEDAL-UNIOESTE. 
15
 Jornal Tribuna d‟Oeste, 14-12-1979. 
35 
 
vantagens anexas ao salário. Isso tornava o emprego no frigorífico mais atraente, 
conquanto deixasse os trabalhadores da Sadia ligeiramente à frente dos demais. Ser 
empregado no frigorífico em determinado período foi considerado como um status 
elevado. 
Portanto, a utilização de publicidade por meio dos jornais da região, como a 
Voz do Oeste e a Tribuna do Oeste, contribuí para a criação de uma imagem da 
Sadia. Esteve presente em diferentes edições do jornal A Voz do Oeste, um 
suplemento próprio, onde a Sadia patrocinava ações de fomento para os produtores 
da região. E em diferentes jornais foram publicadas matérias, possivelmente pagas, 
que ajudavam a construir uma imagem positiva do frigorífico, associada ao 
desenvolvimento econômico de Toledo e região. 
Este capítulo buscou caracterizar alguns aspectos do processo de formação 
de um frigorífico em Toledo. Em um primeiro momento foram analisados os 
“antecedentes” históricos, pensando em como o processo de ocupação econômica 
empreendido pelo Maripá gestou uma demanda de matéria prima. O projeto de 
criação de um frigorífico que atenderia os interesses dos produtores locais. E por 
fim, a atuação do Frigorífico Pioneiro e da Sadia na região. No próximo capítulo 
serão analisados os trabalhadores do frigorífico da Sadia, levando em consideração 
o papel que o Frigorífico ocupa na narrativa da experiência dos mesmos, articulando 
a forma como narram suas memórias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
CAPÍTULO 2: OS TRABALHADORES 
 
O frigorífico da SADIA iniciou suas atividades em 1964, após adquirir a planta 
produtiva de um abatedouro local o Pioneiro. A implantação da SADIA levou em 
conta a grande produção de suínos na região. Com experiência no processamento 
de carne a SADIA dinamiza o fornecimento de matéria prima. Impõe aos produtores 
uma padronização de suínos a serem entregues e sedimenta uma imagem de si 
como uma empresa que leva o progresso a Toledo. Essa atrai para região indivíduos 
de diferentes locais, durante a década de 1970, em busca de uma oportunidade para 
melhorar sua condição de vida. Quanto ao período anterior a 1970 existem poucos 
registros materiais. Muitos trabalhadores desse período faleceram ou não moram 
mais em Toledo. Neste período o frigorífico buscou empregar sujeitos advindos de 
um processo de migração anterior, muitos vindos como compradores de terras da 
Maripá. 
Deste modo, interessa compreender os sentimentos que motivam esse 
movimento. O elemento comum no relato desses trabalhadores que migraram é a 
procura por melhores condições de vida, o que representa explicitamente a busca de 
trabalho. O conceito que abarca esses sujeitos como suscetíveis a um processo de 
desenvolvimento que ora empurra, ora expulsa para diferentes locais. No entanto, 
deve-se considerar que os trabalhadores também escolhem para onde migrar. 
(VARUSSA, 2010) 
Durante a década de 1970 uma grande quantidade de sujeitos dirigiu-se a 
Toledo em busca de trabalho. Existia uma ideia amplamente propagada que Toledo 
seria a “Capital do trabalho” da região oeste do Paraná. Foram entrevistados 8 
trabalhadores que atuaram no frigorífico durante o ano 1960 a 1980. Destas 
entrevistas foram selecionadas quatro, de sujeitos possuem trajetórias distintas, um 
gaúcho, um mineiro, um baiano e um paranaense. Que ingressaram no frigorífico em 
situações distintas. 
Lorenzo, filho de pequenos agricultores vindos do Rio Grande do Sul, que 
compraram terras em Toledo, sendo estas de tamanho diferente das colônias de 25 
hectares. “(...) foram projetados mais 13 locais para cidade, com um total de 7.098 
lotes urbanos. Em torno desses lotes foram localizadas as chácaras de 2,5 
hectares.” (OBERG, JABINE, 1980, p.30). Esses lotes menores foram adquiridos por 
37 
 
pequenos proprietários que não tinham condições de comprar uma colônia de 25 
hectares. Lorenzo começou a trabalhar em 1963 no Frigorífico Pioneiro e vivenciou a 
transição para a Sadia. Josué depois de ter trabalhado em ocupações distintas, 
construindo barragens na Bahia, trabalhando como agregado no Mato Grosso do 
Sul, colhendo algodão no norte do Paraná, ingressou no frigorífico em 1966. Edeluz 
trabalhava na roça com os pais em Guarapuava – PR, ela vem para Toledo no final 
dos anos 60 com os irmãos, entra no frigorífico nesse período e trabalha por 5 anos, 
até se casar. Francisco trabalhava na lavoura no interior de Minas Gerais. Deixou 
esse trabalho e se mudou para a região de Toledo no inicio dos anos 70 onde 
trabalhou por um período como pedreiro, e mais tarde entrou no frigorífico na 
mesma função nesse período. Diferentes trajetórias de vida. No entanto suas 
narrativas apresentam alguns pontos em comum. Todos os entrevistados contaram 
que o trabalho na Sadia ajudou a melhorar seus padrões de vida. Suas narrativas de 
vida foram estruturadas com base nesse trabalho, que apesar de algumas 
adversidades, significou uma melhora em suas vidas. 
Para tanto, serão analisados de que forma os trabalhadores vivenciaram o dia 
a dia, como se preparam para o trabalho no frigorífico. Convém salientar a forma 
como era organizado o processo produtivo a fim de compreender como as relações 
de trabalho no frigorífico foram construídas e não existiam desde o inicio. Deste 
modo, esse capítulo será organizado buscando evidenciar quais eram as condições 
de trabalho no começo da Sadia em Toledo. Para tanto, este capítulo será 
estruturado no sentido de expor as trajetórias dos trabalhadores que migraram para 
Toledo
e se empregaram na Sadia. As lutas e conquistas desses sujeitos no 
ambiente da fabrica e fora deste. 
Deste modo, refletir de que forma foi organizada a produção do frigorífico? 
Como os trabalhadores enfrentam a rotina de trabalho? Quais foram os benefícios 
que a SADIA ofereceu aos trabalhadores, como forma de imobilizar sua mão de 
obra? E eles constroem estratégias de resistência à dominação da fabrica, seja no 
trabalho ou fora dele? 
 
 
 
 
38 
 
2.1 TRABALHAR NO FRIGORÍFICO 
 
 Ao comprar o Frigorífico Pioneiro em 1964 a SADIA tratou de organizar sua 
infraestrutura para suprir a produção de suínos na região. Como já apontado no 
capitulo anterior, foram iniciadas uma serie de reformas e a Sadia buscou padronizar 
o fornecimento de porcos por meio do fomento. O quadro montado até o momento 
permite observar a formação de uma imagem de progresso, atrelando o 
desenvolvimento do frigorífico ao crescimento de Toledo. Os trabalhadores, 
pequenos criadores, prestadores de serviço não aparecem nessa memoria. Os 
braços que ajudaram a construir esse frigorífico passam despercebidos na história 
oficial da cidade e da própria Sadia. Conforme Thompson enuncia, trata-se de 
“resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiro ludista, o tecelão „obsoleto‟ manual...” 
(THOMPSON, 1987, p.13). 
 A SADIA incorporou além da estrutura física do Frigorífico Pioneiro, alguns de 
seus funcionários. No ano de sua venda, em 1964, contava com 61 funcionários, 
entre trabalhadores da linha de produção e do escritório.16 Desta relação de nomes 
foram localizados somente 2 trabalhadores, ambos trabalhavam na administração. 
Atualmente 1 deles é dono de uma revista que faz publicações sobre os eventos 
sociais do município, enquanto o outro é dono de um comercio de moda intima e 
ocupa um cargo politico na cidade. Ambos se recusaram a gravar entrevistas, 
contando de forma superficial sua trajetória no frigorífico. Isto torna a analisa da 
trajetória dos trabalhadores que atuaram no Frigorífico Pioneiro difícil de ser 
realizada. No entanto, a partir dessa lista podemos inferir algumas questões acerca 
das relações de trabalho, presentes no mesmo. 
 Dos 61 funcionários havia membros da mesma família estavam listados [em 
1964]. Destes, alguns deles (é difícil definir) possuíam parcela de terra e o trabalho 
no frigorífico constituiria uma fonte extra de renda. A SADIA ao iniciar suas 
atividades necessitou de mão de obra qualificada. Já possuindo experiência com a 
empreitada traz alguns operários de sua matriz em Concordia-SC. Para estruturar as 
atividades do frigorífico em Toledo está precisou de mão de obra e esses 
trabalhadores seriam uteis, por possuírem um certo conhecimento do trabalho em 
fabrica. 
 
16
 Disponível no Museu Histórico Wily Barth de Toledo-PR. A relação de funcionários está na mesma 
pasta que as atas do conselho fiscal. Pasta marrom – Sem número. 
39 
 
 Os primeiros operários da SADIA, na década de 1960 enfrentaram uma rotina 
de trabalho distinta. Em primeiro lugar, a necessidade de produção levava a grande 
quantidade de horas extras. O trabalho era estafante e em condições insalubres. O 
frigorífico para além do salario buscou oferecer alguns benefícios extras como a 
possibilidade de moradia. Em um primeiro momento a SADIA utilizou parte da 
estrutura comprada do Frigorífico Pioneiro, uma serie de casas próximas à planta 
produtiva17. Essas moradias foram destinadas aos operários com ocupações 
especializadas e para cargos de chefia. Posteriormente a SADIA facilitou o acesso à 
compra da casa própria para seus trabalhadores, constituindo uma vila operária. 
Este é um ponto importante que tentarei explorar. 
 Quanto à organização inicial do frigorífico, alguns testemunhos de 
trabalhadores mais antigos permitem uma analise, pautada na experiência desses 
sujeitos. Com trajetórias distintas trabalharam de meados da década de 1960, 
começo das atividades do frigorífico, até sua aposentadoria em muitos casos, em 
meados de 1990. Vivenciaram diferentes acontecimentos como promoções, 
mudanças de chefia, saída de colegas dentro da fabrica. E fora dela, com a 
constituição de família, a compra da casa, o nascimento do primeiro filho. Essas 
experiências que narram são marcadas pelo trabalhar na SADIA. 
 Lorenzo, contava com 72 anos na data da entrevista em junho de 2017. 
Migrou com a família do interior do Rio Grande do Sul para Toledo no inicio dos 
anos 50. Antes de entrar no frigorífico trabalhou na propriedade da família. Segundo 
ele possuía 3 alqueires, aproximadamente 7,2 hectares, que o mesmo buscou 
explicar onde era. “Não tem o incubatório ali da SADIA? Que é... aqui pra cima onde 
que é o empanado. Ali nós tinha 3 alqueires.” 
Lorenzo começou a trabalhar frigorífico com 17 anos. Em 1963, um ano antes 
de a SADIA adquiriu o Frigorífico Pioneiro e se aposentou em 1994. No entanto seu 
nome não consta na relação de trabalhadores relacionados ao frigorífico Pioneiro 
quando de sua venda para a Sadia. Iniciou na matança do “Javaporco”, no entanto 
sua função não estava restrita a essa tarefa e, segundo ele, “fazia de tudo”. Não 
foram encontrados mais trabalhadores desse período em questão. Lorenzo 
 
17
 Imagem 1 – “Primitivo Frigorífico Pioneiro”, em 1959, Toledo-PR. Pg.10. Pode-se observar a 
existência de 9 casas, construídas em madeira, muito próximas a planta produtiva do frigorífico. 
Essas seriam o inicio da vila operária da SADIA (Vila Pioneiro). 
 
40 
 
trabalhou no Frigorífico Pioneiro e vivenciou a transição para SADIA. Sobre esse 
processo ele faz menção ao acionista majoritário do Pioneiro, “Baudisch, eles eram 
de Maringá, nós trabalhava pra ele”. Aponta que houve um acordo da SADIA com os 
funcionários para que estes continuarem trabalhando. “fizemo um acordo e passamo 
pra SADIA. Aí ficamo lá, trabalhando pra SADIA até aposentar.” 
Sob a trajetória de Lorenzo, pode-se estabelecer algumas hipóteses. 
Primeiro, que o mesmo ao entrar no frigorífico continuou trabalhando na terra de sua 
família. Segundo, o trabalho no frigorífico constituía uma renda extra. Quanto à 
rotina de trabalho imposta pela fábrica, esta se apresenta “primitiva” no tempo do 
Pioneiro, sobre a qual Lorenzo referiu que 
É, tinha uns dez, doze funcionários, mais não tinha. Se trabalhava, 
você ia buscar o porco lá na casa do “colono”, matava... matava uns 
cinco, seis porco por dia e pelava tudo no muque. Aí nós matava. Ia 
buscar [mais porcos] e matava. Acabava aquele ia buscar outro. E 
era assim, não era assim que nem hoje em dia [2017]. Hoje em dia 
vem sete mil porco, dez mil porco. Ali num dia vem tudo. Tem 
chiqueiro tem tudo, lá nem chiqueiro não tinha. 
 
Lorenzo fala do abate. Do transporte e do abate. Mas não diz como o porco 
era esquartejado e congelado. Provavelmente esta etapa era realizada por outros 
trabalhadores. A quantidade de funcionários de trabalhadores envolvidos e porcos 
abatidos, onde as funções deveriam estar mais ou menos determinadas, nesse 
período um trabalhador poderia, além de suas atribuições, ajudar em outros 
trabalhos dentro da fabrica, conforme nos contou Lorenzo: “(...) e a matança 
acabasse às 10 horas [da manhã], nós não vinha embora não, nós ia ou pra ração, 
ou pros frango, ou puxar lenha, ou puxar porco. Não tinha esse negócio de fazer só 
uma coisa...”. Feito tudo no “muque” o serviço era demorado e pesado. O buscar os 
porcos na propriedade tornava o numero de porcos abatidos por dia bem limitado. A 
narrativa de Lorenzo estabelece ainda comparações do tempo passado com o 
tempo presente, quanto aborda a produção e a questão do chiqueiro. Sua narrativa 
denota que os processos se modificaram, o ritmo do trabalho e forma de produção 
foi alterado com o desenvolvimento do frigorífico. 
Existe certa dificuldade em analisar
o processo de transição do Frigorífico 
Pioneiro para a SADIA. Certo é que esse se constitui de forma um tanto conflituosa, 
e gerou algumas querelas entre a administração do frigorífico e uma parcela da 
41 
 
comunidade.18 Quanto às mudanças que foram sendo gradativamente feitas pela 
SADIA, Lorenzo discorre acerca da compra das propriedades próximas. 
 
Lorenzo: De todo, de tudo... a SADIA comprou todo ao redor, todo 
ao redor era só chácara. A SADIA comprou o Pioneiro, tinha, acho 
que dois alqueires, nem dois alqueire não era. Era bem 
pequenininho e era um pedaço. Pra parte de onde é a entrada da 
SADIA ali, era ali. Daí o lado de baixo lá... tinha um homem que 
tinha cinco alqueire, outro três alqueire e nós tinha 3 alqueire, o 
Lazzeri tinha cinco alqueire, daí o Pulga, já ouviu falar do Pulga? Ele 
já morreu também, já era. Ele tinha quatro alqueire. E foi vendendo e 
a SADIA foi comprando até fechar o cerco. Até o que tá hoje, que tá 
cercado. Todo mundo vendeu, todo mundo tinha três alqueire, dois 
alqueire, era chácara que comprou da Maripá. 
 
Não foram encontrados outros registros que permitam analisar o processo de 
aquisição empreendido pela SADIA. No entanto, ao narrar Lorenzo, possivelmente 
expressa um sentimento de perda. Vizinhos e amigos vindos para Toledo após 
comprar uma parcela de terra tentaram reconstruir a vida que levaram em outro 
estado. 
A narrativa de Lorenzo foi estruturada em torno de seu trabalho no frigorífico. 
A venda da propriedade familiar ou a vinda para Toledo foi citada brevemente e logo 
tratou de mudar a direção da narrativa. Esse ponto se constitui como uma das 
especificidades da história oral. A qual pressupõe que os sujeitos se sintam 
confortáveis afim de relembrar o que seria de mais relevância a ser relatado na 
entrevista. O que, segundo Portelli deve-se considerar que o entrevistado pode 
“relatar em poucas palavras experiências que duraram longo tempo ou discorrer 
minunciosamente sobre breves episódios (...)” (PORTELLI, 1997, pg.29). 
Nesse sentido a trajetória de Francisco é interessante para analise. Este 
começou a trabalhar no frigorífico em 1971. Francisco migrou da região do interior 
de Minas Gerais, da cidade de Camanducaia, para o Paraná. Ao contrário de 
Lorenzo, Francisco migrou da região do interior de Minas Gerais, da cidade de 
Camanducaia, para o Paraná. O período que a SADIA já havia adquirido o restante 
 
18
 Pode-se inferir que houve certa resistência por parte dos acionistas em vender o restante de suas ações. 
Existem ainda indícios de uma querela, entre a administração municipal e o frigorífico, envolvendo o 
fornecimento de energia. No entanto esse assunto não será abordado nessa pesquisa. Configurando um 
assunto pertinente para uma pesquisa futura. 
42 
 
das ações do Frigorífico Pioneiro e tem seu nome modificado para Frigobrás. Ao 
narrar sua trajetória de trabalho, o mesmo enfatizou a importância do trabalho na 
SADIA, sua narrativa foi balizada por isso. Começou a trabalhar muito novo com sua 
família, “trabalhava com tropa, meu pai trabalhava com tropa”. E por algum tempo 
plantaram café e sofreram com a geada. Francisco lembra que não gostava do 
trabalho na roça. 
Eu olhava assim... aquele pessoal trabalhando lá na cidade, mesmo 
aquelas casinha na beira do asfalto lá, mas o cara tinha um varal de 
roupa com roupa melhor que a minha, o cara já tinha um fusquinha 
dentro da garagem. Mas eu se matava na roça e nem roupa pra 
vestir não tinha rapaz. O meu, o que que eu tô fazendo aqui? Eu vou 
pra cidade. 
 
A vontade de ir para cidade foi frustrada pelo pai. Francisco conta que só 
depois do casamento conseguiu ir para cidade. A vinda para cidade significou para 
Francisco a possibilidade de melhorar a vida. Ao chegar em Toledo o mesmo 
arranjou emprego na construção civil “entrei na firma, de construção, uma das 
maiores aí do Waldir Becker. Trabalhei dois mês lá, eu já estava sentando tijolo já...o 
cara dava oportunidade.” O progresso de em pouco tempo sair de servente para 
sentar tijolos animou Francisco e o deixou reticente quanto a entrar na SADIA. Ainda 
sim acabou sendo incentivado a entrar pelo chefe. 
Fui lá na Sadia joguei tudo, entrei lá. Primeiro salário que eu recebi 
lá, apesar de, frio, ruído, úmido. Primeiro salário que eu recebi tirou 
a vontade de trabalhar de pedreiro [autônomo], né? Deu pra pagar 
até as contas... e assim foi, eu fui tão bem lá que era... era... noventa 
dias que tinha de experiência. Deu nem quarenta dias os cara já me 
trocaram, já me deram crachá novo já. O cara chegou falou pra mim, 
meu chefe, você não precisa mais plantar mais mandioca lá na roça 
não, se já passou na experiência, agora... agora é só manter o 
trabalho. 
 
A entrada na SADIA significou para Francisco não precisar mais voltar para o 
trabalho na roça. Aliás, a notícia dada pelo chefe foi expressão da superioridade da 
SADIA frente o trabalho no campo, embora Francisco fosse pedreiro. Aquele 
comunicado funcionou como um rito de passagem. Ou Francisco o viu assim. O 
pagamento compensava todo desgaste do trabalho. A ascensão rápida, passando a 
experiência antes do período normal foi relatada por outros entrevistados. A busca 
43 
 
pelo por trabalhadores assíduos e que não desistissem por causa das condições de 
trabalho motivava essas promoções, como o encurtamento da experiência. 
 O progresso que Francisco galgou trabalhando na SADIA aparece na forma 
como ele contou a rotina de trabalho. Começou costurando sacos “que lá ensacava 
com saco de polipropileno e depois você tinha que costurar, pra mandar pra 
estocagem.”. A partir disso, com o esforço que Francisco, que ele faz questão de 
ressaltar que era o melhor naquilo, se destacou aos olhos do patrão. Conforme 
Francisco aprendeu outras funções ascendeu dentro da hierarquia da fabrica. 
Quando parei naquilo ali, fui na desinforma. Quando eu desenvolvi 
dois serviço eu estava com três anos já... já me tomaram o crachá, 
me deram um crachá de papelão lá, ai eu não atravessei tranquilo. 
Só que eu era tão esquentado que, qualquer mudança que dava lá, 
eu ficava pensando o pior, eu não pensava em crescimento, 
pensava que os cara estava enjoado de mim. Me tomaram aquele 
crachá que eu tinha e me meteram um crachá de papel, aí não 
perguntei nada pra ninguém... ali uns trinta dias, trinta e poucos dias 
veio o crachá novo, como líder de seção. O, os cara não 
chamavam... também eu fui o primeiro preto que ganhei posição lá 
dentro, que a Sadia é de gringo é de alemão lá. Eu ganhei 
promoção, veio... o crachá escrito líder, líder de produção, já me 
deram um guarda pó, antes do guarda pó era... aí eu. Quase 
apanhei rapaz, tinha gaúcho de dez anos lá dentro, louco pra ganhar 
uma posição e neguinho veio de fora e ganhou posição, deu trabalho 
pra mim sossegar o bicho no tempo. Algum eu mandava pra outra 
seção, trocava por outro. Fui usando umas manobras lá dentro, 
chegava pra fala e digo chefe não tá bom, vamos trocar aquele um 
ali que não tá bom, vamos pegar aquele cara que ele é bom. 
Conversava com o cara. Você quer ir na minha seção? E ele, vamo, 
vamo. Outras vez tinha que mandar alguém embora, eu falava pro 
chefe, ó tá na tuas mãos aí, manda outro ai pra suprir o lugar pra cá. 
Ah, os cara jogava de volta ali, mas não eu mandei esse cara pra lá, 
porque num, não dá certo. 
 
 Ao discorrer sobre essa promoção Francisco se coloca como um trabalhador 
modelo. Que com seu trabalho árduo galgou uma hierarquia que aparentava 
intransponível. A promoção de um trabalhador com pouco mais de 3 anos pode ter 
sido mal recebida por certos sujeitos. No entanto ao progredir Francisco tratou de 
organizar estratégias para assegurar posição. Certo que ainda nesse período as 
funções na produção não eram estáticas. Como Francisco ressalta que trocava, 
mandava pra outra seção, operários que não desenvolviam

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando