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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA ÉTICA E LEGISLAÇÃO PARA AGRONOMIA TAYNA POPPE BOURGUIGNON ASPECTOS POSITIVOS E DESAFIOS DO ESTATUTO DA TERRA ALEGRE 2019 O ESTATUTO DA TERRA Durante quatro séculos esteve o Brasil junto com a classe latifundiários, através de seus representantes e aliados no Legislativo e no Executivo, havia conseguido o direito de propriedade, só aprovando a desapropriação de terras mediante pagamento prévio em dinheiro de seu justo valor. Um latifúndio é uma propriedade agrícola de grande extensão pertencente a uma única pessoa, uma família ou empresa e que se caracteriza pela exploração extensiva de seus recursos. O latifúndio tem sido tradicionalmente uma fonte de instabilidade social, associada à existência de grandes massas de camponeses sem terra. Para resolver os problemas causados por grandes propriedades, já se tentou fórmulas diferenciadas, dependendo do tipo de governo: desde a mudança na estrutura da propriedade (reforma agrária), inclusive com expropriações, até a modernização da exploração agrícola (agricultura de mercado). No governo de João Goulart, o clima de insatisfação reinava no meio rural brasileiro e havia um receio do governo e da elite conservadora pela eclosão de uma revolução camponesa. Afinal, os espectros da Revolução Cubana (1959) e da implantação de reformas agrárias em vários países da América Latina (México, Bolívia, etc.) estavam presentes e bem vivos na memória dos governantes e das elites. As lutas camponesas no Brasil começaram a ser organizadas desde a década de 1950, com o surgimento de organizações e ligas camponesas, de sindicatos rurais e com atuação da Igreja Católica e do Partido Comunista Brasileiro. O movimento em prol de maior justiça social no campo e da reforma agrária generalizou-se no meio rural do país e assumiu grandes proporções no início da década de 1960. A criação do Estatuto da Terra e a promessa de uma reforma agrária foram a estratégia utilizada pelos governantes para apaziguar os camponeses e tranquilizar os grandes proprietários de terra. O Estatuto da Terra foi criado pela lei 4.504, de 30-11-1964, sendo, portanto, uma obra do regime militar que acabava de ser instalado no país através do golpe militar de 31-3-1964. As metas estabelecidas pelo Estatuto da Terra eram basicamente duas: a execução de uma reforma agrária e o desenvolvimento da agricultura. Três décadas depois, podemos constatar que a primeira meta ficou apenas no papel, enquanto a segunda recebeu grande atenção do governo, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento capitalista ou empresarial da agricultura. O Estatuto da Terra é um conjunto de medidas que buscam a melhor distribuição das terras rurais baseando-se na posse e no uso, ou seja, propriedades que não produzem deveriam ser disponibilizadas a trabalhadores rurais que produzem e sustentam suas famílias. O processo de redistribuição consiste, basicamente, na compra de terras improdutivas pelo governo e na partilha de lotes entre as famílias de trabalhadores rurais. Essa fiscalização e divisão são feitas pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), órgão federal que cuida de todas as questões envolvendo esse tema no país. https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_agr%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Expropria%C3%A7%C3%A3o Já a política agrícola é o conjunto de diretrizes que regem as atividades rurais e agropecuárias, fazendo com que elas funcionem de maneira ordenada e justa, tanto para os proprietários quanto para os trabalhadores. Segundo o Estatuto da Terra, uma propriedade rural cumpre seu papel social quando respeita os seguintes requisitos: ● Oferece bem-estar aos donos e trabalhadores da propriedade; ● Mantém uma produtividade em níveis razoáveis; ● Preserva recursos naturais; ● Cumpre as leis trabalhistas que amparam o trabalhador rural. Quando os tópicos acima não são cumpridos corretamente, o poder público tem o dever de intervir e tomar as atitudes previstas em lei para regularizar a situação. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é uma autarquia federal da Administração Pública brasileira. Foi criado pelo decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970, com a missão prioritária de realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Está implantado em todo o território nacional por meio de 30 Superintendências Regionais. O objetivo é implantar modelos compatíveis com as potencialidades e biomas de cada região do País e fomentar a integração espacial dos projetos. Outra tarefa importante no trabalho da autarquia é o equacionamento do passivo ambiental existente, a recuperação da infraestrutura e o desenvolvimento sustentável dos mais de oito mil assentamentos existentes no País. IMPORTÂNCIA DO ESTATUTO O estatuto da terra possui diversos aspectos positivos, dentre eles: ● O respeito à indenização de desapropriações de terra; ● A funcionalização, onde o minifúndio e o latifúndio são duas situações fundiárias consideradas impróprias; ● A utilização apropriada da terra pelo proprietário, de maneira que o usufruto das condições econômicas favorecesse os seus trabalhadores e, respectivamente, a família dos mesmos; ● Que os recursos naturais da terra fossem utilizados de maneira apropriada; ● Manutenção dos níveis satisfatórios de produtividade; ● Assegurar a legalidade nas relações trabalhistas entre os que cultivam e os donos de terra. Esse acontecimento refletiu diretamente na atual circunstância agrária em que o país se encontra. Os movimentos sociais como o MST, consequentemente, fomentam aí seus protestos, no intuito de consolidar a reforma agrária como uma política pública permanente, e não somente uma forma de apaziguar o conflito gerado pelos manifestantes. https://pt.wikipedia.org/wiki/Autarquia https://pt.wikipedia.org/wiki/Administra%C3%A7%C3%A3o_p%C3%BAblica_no_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_agr%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Bioma https://pt.wikipedia.org/wiki/Passivo_ambiental https://pt.wikipedia.org/wiki/Infraestrutura_(economia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1vel https://pt.wikipedia.org/wiki/Povoamento_humano POR TRÁS DO ESTATUTO DA TERRA O Estatuto da Terra possui ideologias do movimento que lhe deu origem, sendo bem menos avançado que os anteriores projetos de lei oriundos do Poder Executivo. Ele é complexo e inclui muitas normas de política agrícola cuja adoção obviamente dispensaria autorização legislativa. Aparentemente, essa ênfase na política agrícola atende à conhecida tese do conservadorismo agrário no Brasil de que ela é mais importante do que uma reforma da estrutura agrária. Em consequência, a lei está tomada de dispositivos ineficientes, determinando medidas de assistência e proteção à economia rural, assistência técnica, produção e distribuição de sementes e mudas, criação, venda, distribuição de reprodutores e uso de inseminação artificial, mecanização agrícola, cooperativismo etc. Pelo Estatuto, todo imóvel rural cuja área mínima agricultável seja explorada de forma econômica e racional, mesmo que não haja divisão alguma do trabalho e nem seja utilizada mão-de-obra assalariada, é incluído na categoria de empresa rural. O Estatuto da Terra, tão minucioso e casuístico em muitos aspectos, nenhuma referência faz à participação dos lavradores, parceiros e arrendatários, isto é, beneficiários potenciais da reforma agrária, na execução desta medida, e nenhum dispositivo vinculando a sindicalização rural à boa execução da reforma. Sem sindicatos rurais fortes, bem organizados e amparados pela Justiça Trabalhista, tornou-se inevitável o descumprimento dos dispositivos do Estatuto que afetam os interesses dos latifundiários. A experiência histórica demonstra que a reforma agrária não dá os frutos esperados se não contar com o apoio político das coletividades mais diretamente nele interessadas. O Estatuto da Terra isenta (artigo 19, parágrafo2º, alínea b) a empresa rural da desapropriação por interesse social. Como o artigo 4º, item VI, desta lei equipara as pastagens e matas naturais às áreas cultivadas, muito latifúndio inexplorado é classificado como “empresa rural”, estando assim livre de desapropriação. O Estatuto da Terra aboliu as diversas formas de exploração feudal dos parceiros e arrendatários, tais como a prestação de serviço gratuito, exclusividade de venda da colheita, pagamento em vales etc., mas não estipulou sanção alguma em caso de violação do preceito, o que o torna inoperante. O Estatuto estipula, nos contratos de venda a prazo de lotes de terra em programas de reforma agrária e colonização, o reajustamento das prestações mensais de amortização e juros, bem como dos saldos devedores, em base proporcional ao índice geral de preços. Tal disposição é desestimulante à aquisição de lotes pelos lavradores, dado o caráter aleatório da atividade agrícola, que, em caso de seca, inundação, ocorrência de pragas e aviltamento de preços no mercado, poderá levá-los à ruína e, portanto, à impossibilidade de liquidar a prestação reajustada. Ao contrário da norma invariavelmente seguida em todas as leis de reforma agrária de outros países, o Estatuto em Terra criou dois órgãos autárquicos para sua execução: o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, subordinado à Presidência da República, incumbido de promover e coordenar os programas específicos de reforma agrária, e o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário, vinculado ao Ministério da Agricultura, com a finalidade principal de promover o desenvolvimento rural nos setores da colonização, da extensão rural e do cooperativismo. O Estatuto da Terra também estabelece, em que artigo 2º, que “é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei” (BRASIL, 1964). A Constituição de 1988 definiu diversos princípios relacionados à propriedade, estabelecendo, por exemplo, o direito de propriedade e também a devida observância de sua função social. Assim como também posteriormente dispôs o texto constitucional, o Estatuto da Terra elencou os requisitos que denotam o cumprimento da função social da propriedade, requisitos estes que devem ser observados cumulativamente, sob pena de sanções quando configurado o descumprimento. A função social da propriedade é um reflexo da principiologia constitucional relacionada à dignidade da pessoa humana e à redução das desigualdades sociais. Nesse sentido, a reforma agrária acaba por se encaixar como direito fundamental a ser efetivado no ordenamento jurídico brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ERICEIRA, Cássio Marcelo Arruda. A importância da reforma agrária. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-importancia-da-reforma-agraria,488 24.html#_edn8. Acesso em: 11 dez. 2019. BRUNO, Regina. O Estatuto da Terra: entre a conciliação e o confronto. Estudos sociedade e Agricultura, 1995. JONES, Alberto da Silva; HIRANO, Sedi. Política fundiária do regime militar: legitimação privilegiada e grilagem especializada (do instituto de sesmaria ao estatuto da terra). 1997.
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