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Indaial – 2020 Fundações e Obra de Terra Profª. Thamires Ferreira Schubert 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Thamires Ferreira Schubert Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S384f Schubert, Thamires Ferreira Fundações e obra de terra. / Thamires Ferreira Schubert. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 257 p.; il. ISBN 978-65-5663-067-0 1. Fundações (Engenharia). – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 624.15 apresenTaçãO Olá, acadêmico e futuro engenheiro! Seja bem-vindo a esta etapa do seu curso na disciplina de Fundações e Obras de Terra. Este livro didático foi escrito para servir de base para a disciplina que tem como objetivo explorar e conhecer os tipos de fundações mais comuns utilizados na construção civil e algumas obras de terra como taludes e barragens. Vamos começar a imaginar que você iniciou um trabalho num escritório de projetos para fundações. A ideia é que esse livro sirva de base para algumas situações que você encontraria no cotidiano, mesmo que certas dúvidas sejam sanadas apenas na prática. A leitura dos conceitos e resolução de exercícios ajudará a entender as situações básicas que você encontrará e incentivará você a buscar mais conhecimentos, pois o aprendizado deve ser uma prática constante. Você verá que fundações são estruturas que seguram as construções, ou seja, são a base que aguenta os esforços de uma obra e transmite para o solo. Por sua vez, quando se trata de obras de terra, o solo é considerado um material de construção e não mais apenas um apoio. O livro didático está dividido em três unidades separadas da seguinte forma: A Unidade 1 traz conceitos iniciais de fundações e seus tipos, bem como uma breve revisão de mecânica dos solos. É preciso relembrar algumas definições sobre solos que serão utilizadas para esse material. A Unidade 2 apresenta o dimensionamento de fundações rasas e profundas e a explicação sobre recalques e a Unidade 3 aborda as obras de terra como taludes, estradas e aeroportos e barragens. Em todas as unidades, você encontrará indicações de leituras complementares e sugestões vídeos para estimular a busca por mais conhecimentos. Ao fim de cada tópico você terá uma lista de exercícios para fixar o conteúdo. Aproveite todos os recursos que o livro oferece e bons estudos! Profª. Thamires Ferreira Schubert Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumáriO UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES .............................................. 1 TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 TIPOS DE FUNDAÇÃO .................................................................................................................... 5 3 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES ................................................................................................ 11 3.1 USO DE FATOR DE SEGURANÇA GLOBAL OU MÉTODO DE VALORES ADMISSÍVEIS ................................................................................................................................ 14 3.2 USO DE FATOR DE SEGURANÇA PARCIAL OU MÉTODO DE VALORES ADMISSÍVEIS ................................................................................................................................ 15 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS .............................. 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ................................................................................................... 22 3 PERMEABILIDADE E ÁGUA NO SOLO ..................................................................................... 43 4 TENSÕES NO SOLO ....................................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 56 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 57 TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA............................................................................ 59 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59 2 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO ...................................................................................................... 61 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 73 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 75 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 76 UNIDADE 2 —FUNDAÇÕES ............................................................................................................ 79 TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS ................................................................................................ 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................81 2 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA .................................................................................... 82 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 115 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 116 TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS .................................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 TIPOS DE FUNDAÇÃO PROFUNDA ........................................................................................ 119 3 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA .................................................................................. 123 4 DIMENSIONAMENTO ................................................................................................................. 137 4.1 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS .................................................................................... 138 4.2 DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO PARA FUNDAÇÕES PROFUNDAS .............................................................................................................................. 143 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 153 TÓPICO 3 — RECALQUE ................................................................................................................. 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 TIPOS DE RECALQUE ................................................................................................................... 156 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 170 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 172 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173 UNIDADE 3 —OBRAS DE TERRA ................................................................................................ 175 TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES .............................................................................. 177 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 177 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS .................................................................................. 179 2.1 DESPRENDIMENTO DE TERRA OU ROCHA ..................................................................... 179 2.2 ESCORREGAMENTO (LANDSLIDE) ..................................................................................... 181 2.3 RASTEJO (CREEP) ...................................................................................................................... 182 2.3.1 Causas dos movimentos ................................................................................................... 183 3 ANÁLISE DA ESTABILIDADE .................................................................................................... 184 3.1 FATOR DE SEGURANÇA (FS) ................................................................................................. 186 3.2 RUPTURA COM SUPERFÍCIE PLANAR ............................................................................... 187 3.2.1 Taludes em solos não coesivos e secos............................................................................ 187 3.2.2 Taludes em solos não coesivos e completamente submersos ...................................... 188 3.2.3 Taludes em solo não coesivos com presença de nível d’água ..................................... 189 3.2.4 Taludes em solo coesivo e com fluxo de água paralelo à superfície .......................... 189 3.2.5 Taludes em solo coesivo e com fluxo de água horizontal ............................................ 190 3.2.6 Taludes com ruptura não drenada .................................................................................. 191 3.3 RUPTURA COM SUPERFÍCIE CIRCULAR ........................................................................... 191 3.3.1 Método de Hoek e Bray .................................................................................................... 191 3.3.2 Ábacos de Taylor ................................................................................................................ 198 3.3.3 Método de equilíbrio-limite ............................................................................................. 201 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 209 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 210 TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA ........................................................................................ 213 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 213 2 TIPOS DE BARRAGENS ............................................................................................................... 215 2.1 BARRAGENS DE CONCRETO ................................................................................................ 219 2.1.1 Barragens de peso .............................................................................................................. 219 2.1.2 Barragens de arco-gravidade ........................................................................................... 220 2.1.3 Barragens de contraforte ................................................................................................... 221 2.2 BARRAGENS DE ATERRO ...................................................................................................... 222 2.2.1 Barragens de terra .............................................................................................................. 223 2.2.2 Barragens de enrocamento ............................................................................................... 224 3 ESTABILIDADE DE BARRAGENS ............................................................................................. 225 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 232 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 233 TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES.......................................................................... 235 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 235 2 CAUSAS DE PATOLOGIAS EM FUNDAÇÕES ....................................................................... 237 2.1 RECUPERAÇÃO DE FUNDAÇÕES ....................................................................................... 241 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 246 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 249 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 250 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................251 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender a importância do estudo de fundações na engenharia; • conhecer os tipos de fundações; • compreender as etapas de um projeto de fundações; • identificar os critérios de segurança das fundações. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS TÓPICO 2 – REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1 INTRODUÇÃO A história das fundações vem acompanhando o crescimento da sociedade desde que o homem deixou de ser nômade e precisou elaborar algum abrigo que servisse como moradia: o local precisava permanecer de pé como um local para descanso, provavelmente entre a era paleolítica e neolítica, conforme afirmam Hachich et al. (1998). Entre muitas experiências de erros e acertos, construções foram erguidas e os estudos de solos e fundações foram se aprimorando. Muitos pesquisadores colaboraram para os conhecimentos que temos atualmente, como J. H. Lambert (1772), Coulomb (1773), entre outros até chegar em Therzaghi (1943), conhecido como o pai da mecânica dos solos e da engenharia geotécnica (HACHICH et al., 1998). A engenharia geotécnica é uma área da engenharia civil que aborda os conceitos de mecânica dos solos e das rochas aplicados aos projetos de obras de terra, como estruturas de contenção e para fundações (DAS BRAJA, 2007). Este livro didático tem como foco principal o estudo de fundações, seus conceitos iniciais, utilização e dimensionamento. De acordo com o dicionário Michaelis (2019), a palavra fundação significa fundar ou erigir e no contexto da construção, quer dizer um conjunto de obras que sustenta e assenta os fundamentos de uma edificação. É a fundação que transmite as cargas aplicadas pela construção para o solo. O projeto de fundações compõe o dimensionamento das fundações e é uma etapa que deve ser feita com muito cuidado para que a base seja executada de forma que sustente a obra que virá a ser construída. Fundações com projetos mal elaborados ou mal executados podem acarretar em problemas nas edificações como inclinações, afundamento ou, em casos mais graves, em colapso de toda a estrutura. Um dos exemplos mais conhecidos de problemas com fundações é a Torre de Pisa. Segundo matéria da revista Mundo Estranho (2011), a resposta para a inclinação desse caso histórico é o grande recalque que a edificação sofreu. De forma resumida, um recalque é um assentamento de um solo, ou seja, um rebaixamento do terreno que pode levar a alguma movimentação da estrutura que está apoiada nessa região. O terreno em que a Torre foi construída era predominantemente de argila e areia e a fundação não foi profunda suficiente para evitar o afundamento da obra. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 4 Outro caso (HYPESCIENCE, 2015) com problema de fundação ocorreu em 2009, em Xangai, na China, quando um prédio de 13 andares tombou inteiro. O relatório apontou que a escavação para construção de um subsolo no prédio e chuvas excessivas foram as prováveis causas principais do tombamento. Por conta da estrutura do prédio ser mais resistente do que a fundação, a edificação caiu sem danos (ESTRUTURANDO, 2015). Na Figura 1 é possível verificar a fundação exposta e o prédio tombado inteiro. FIGURA 1 – PRÉDIO TOMBADO EM XANGAI FONTE: <http://estruturandocivil.blogspot.com/2015/08/em-2009-um-predio-desabou-inteiro- -mas.html>. Acesso em: 14 set. 2019. Isso nos lembra de outro estudo muito importante na etapa inicial de uma construção: o estudo do terreno. Além de conhecer as cargas que a edificação transmitirá para a fundação e essa, por sua vez, ao solo, é preciso avaliar em qual tipo de terreno a obra estará assentada para dimensionar se o solo vai suportar todas as cargas. Nesse momento, o solo é visto como um apoio para a construção. Essa ideia muda quando o solo é tratado como um material de construção, para as obras de terra como aterros, barragens, aeroportos etc. Por isso, este livro didático que tem como nome, Fundações e Obras de Terra, apresentará os assuntos na ordem do título. Assim, Caputo (2017) estabelece duas etapas iniciais do estudo de fundação, são elas: cálculo das cargas atuantes sobre a fundação e estudo do terreno. O autor define alguns critérios para a escolha do tipo de fundação que veremos nas seções seguintes, bem como análise do solo, com uma breve revisão de conceitos de mecânica dos solos e investigação geotécnica. Para as obras de terra, voltaremos a tratar de algumas características dos solos e falaremos sobre medidas de estabilização para aumentar a segurança e reduzir a movimentação de terra. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 5 2 TIPOS DE FUNDAÇÃO As fundações têm o objetivo de transmitir a carga gerada pela estrutura da construção para o terreno. Contudo, existem vários tipos de fundações que devem ser escolhidos com base em alguns critérios. São dois grandes grupos de fundações: as superficiais e as profundas. As fundações superficiais, também conhecidas como diretas ou rasas, são utilizadas quando o solo logo abaixo da construção suporta suas cargas. As fundações profundas, por sua vez, são aquelas que estão localizadas no solo mais distante da construção. Velloso e Lopes (2010, p. 11) diferenciam os dois tipos de fundação de acordo com o critério “de que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura de base não surgisse na superfície do terreno”, ou seja, está afastada suficiente da superfície de modo que se houver alguma alteração na sua estrutura, não aparecerá. A NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1996), relativa ao projeto e execução de fundações, define uma fundação superficial quando se tem profundidade de assentamento menor do que duas vezes a menor dimensão da fundação. Enquanto a fundação profunda apresenta essa distância maior do que o dobro de sua menor dimensão e com valor mínimo de três metros. Segundo Hachich et al. (1998), se um prédio possui dois subsolos, uma fundação assentada a 7 metros abaixo do nível da rua, pode ser considerada uma fundação rasa, conforme indicado na Figura 2. FIGURA 2 – RELAÇÃO ENTRE DIMENSÃO DA FUNDAÇÃO E PROFUNDIDADE FONTE: Hachich et al. (1998, p. 227) Os tipos de fundações estão apresentados a seguir e a forma de dimensionamento será apresentada na Unidade 2. A Figura 3 indica um desenho esquemático dos tipos de fundações. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 6 FIGURA 3 – TIPOS DE FUNDAÇÕES FONTE: De Brito (2014, p. 24) • Fundações rasas: entre as fundações rasas, a NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1996) indica os seguintes tipos: sapatas, blocos, radier, sapatas associadas, vigas de fundação e sapatas corridas. O Quadro 1 resume os tipos de fundações conforme Caputo (2017) as classifica. QUADRO 1 – TIPOS DE FUNDAÇÕES RASAS Fundações rasas Isolada Excêntrica Corrida Sapata Viga de equilíbrio Sapata corrida Bloco Viga de fundação Radier Fonte: A autora Caputo (2017) define fundações isoladas como estruturas que suportam a carga de um pilar somente, sendo essa estrutura um bloco ou uma sapata. A pressão (p) que o solo recebe é estabelecida pela equação p= P/S, em que P é a carga do pilar e S é a área da base da fundação. A sapata é um elemento de concreto armado, “dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas não sejam resistidas pelo concreto, mas sim pelo emprego da armadura” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1996, p. 2). Geralmente são menoresque os blocos e trabalham à flexão. Podem ter como formato da base um quadrado, retângulo, círculo ou octógono, como ilustrado na Figura 4. Para um quadrado, deve-se respeitar a relação L=B e para um retângulo L >B. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 7 As sapatas associadas são aquelas utilizadas para pilares que estão localizados muito perto, que não estejam em um mesmo alinhamento, situação na qual uma sapata pode atender a dois ou mais pilares. FIGURA 4 – TIPOS DE SAPATA Quadrada Retangular Circular Poligonal Sapata isolada de concreto armado FONTE: Silva Filho e Gurjão (2016, p. 24) Você se lembra do conceito de flexão? É o esforço que tende a dobrar uma estrutura, causando uma “barriga”. Se você colocar muitos livros no meio de uma prateleira e essa carga for maior do que sua resistência, a prateleira vai ceder nesse ponto. IMPORTANT E O bloco é uma estrutura com grande altura, normalmente de concreto simples (material composto por cimento, areia, brita e água, com baixa resistência à tração) que suportará os esforços de compressão. Pode ter o formato de bloco escalonado ou de tronco de cone, como ilustrado na Figura 5. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 8 FIGURA 5 – BLOCOS DE FUNDAÇÕES a) Bloco Tronco-cônico b) Bloco Escalonado FONTE: Hachich et al. (1998, p. 227) A fundação excêntrica é utilizada quando a resultante das cargas não está atuando no centro de gravidade da base, como acontece em divisas de terrenos ou alinhamentos de calçadas (CAPUTO, 2017). Aplica-se uma viga de equilíbrio para corrigir a falta de excentricidade dessa carga. As fundações corridas são estruturas que transmitem uma carga distribuída linearmente, como a sapata corrida, a viga de fundação e o radier. A sapata corrida tem definição semelhante à sapata como fundação isolada, com a diferença da carga ser distribuída linear e não pontualmente. A viga de fundação suporta a carga de vários pilares que tenham centros em um mesmo alinhamento, oposto ao caso das sapatas associadas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1996). Por fim, o radier é uma laje de concreto armado que compreende todos os pilares ou carregamentos da edificação. A Figura 6 apresenta os principais tipos de fundações superficiais. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 9 FIGURA 6 – PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS Bloco Viga de fundação ou sapata corrida Sapata Vista lateral Seção tipo bloco Seção tipo sapata Radier FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 12) Uma carga distribuída linearmente atua sobre uma peça ao longo de seu comprimento. Uma carga pontual atua em uma área tão pequena, que pode ser considerada apenas um ponto. NOTA FONTE: <https://engenheirocaicara.com/querido-monstrinho-rm-carga-pontual-e-distribuida- -momento-fletor-e-esforco-cortante/>. Acesso em: 15 out. 2019. Carregamento pontual Car reg am ent o d istr ibu ido lin ear men te • Fundações profundas: as principais fundações profundas são estacas, tubulões e caixões. As estacas, também chamadas de estacas de sustentação, são peças longas na forma de um cilindro ou prisma. Como será visto no cálculo de UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 10 dimensionamento na Unidade 2, a estaca apresenta uma parcela de resistência lateral do solo. Os tubulões têm formato cilíndrico, geralmente com base alargada, e diferentemente da estaca, são estruturas que necessitam da descida de trabalhadores na área escavada para limpar corretamente a base onde serão inseridas. Os caixões têm formato retangular na sua seção transversal e normalmente, tem dimensões maiores que as fundações do tipo tubulão. A Figura 7 mostra os principais tipos de fundações profundas, começando pela estaca mais à esquerda, tubulão e caixão. FIGURA 7 – PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 13) A NBR6122, em sua atualização de 2010, redefiniu os conceitos de viga de fundação e radier. A viga de fundação tinha como diferença da sapata corrida o tipo de carga que recebia. A partir de 2010, as fundações que recebem cargas de pilares num mesmo alinhamento ou cargas linearmente distribuídas, podem ser chamadas de sapatas associadas. O termo radier, pela norma antiga, era utilizado para a fundação que suportava as cargas de todos os pilares de uma estrutura, enquanto a sapata corrida era denominada para as situações em que a fundação suportasse a carga de parte dos pilares. A norma 6122/2010 aceita o termo radier para ambos os casos. Velloso e Lopes (2010, p. 12) sugerem “adotar as expressões utilizadas na Franca (país onde se originou a expressão radier): radier parcial, para o caso de receber parte dos pilares e radier geral, para o caso de receber todos os pilares da obra”. Para o estudo das fundações e dimensionamentos, utilizaremos as terminologias da norma 6122 de 1996, sem comprometimento ao conteúdo. IMPORTANT E TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 11 Caputo (2017) lista outros tipos de fundações profundas como as fundações flutuante, sobre aterro compactado, em blocos arrumados, em concreto submerso, por congelamento do terreno e melhoramento de solo. Para aprofundamento no assunto, sugere-se a leitura do livro Mecânica dos solos e suas aplicações, volume 2 (CAPUTO, 2017). DICAS 3 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES As fundações precisam ser dimensionadas corretamente e com muita atenção, considerando todos os critérios que a NBR 6122 recomenda. Os elementos de projeto não se restringem apenas ao cálculo da fundação em si, mas em diversas etapas que avaliam desde a área de interesse para a obra, até os dados da estrutura que será construída, bem como de construções vizinhas. Velloso e Lopes (2010) separam o processo para desenvolver um projeto de fundações em quatro etapas: 1. Topografia da área: a região que receberá a construção precisa ser estudada por meio de levantamento planialtimétrico (dimensões do terreno e diferenças e níveis). Se a vizinhança apresentar elementos que possam interferir no terreno em estudo, como taludes e encostas, esses elementos também devem ser avaliados. 2. Dados geológico-geotécnicos: o solo que está abaixo do terreno (subsolo) deve ser investigado. Podem ser analisadas pesquisas feitas anteriormente sobre a região. 3. Dados sobre construções vizinhas: as estruturas que estão próximas ao terreno devem ser avaliadas para entender quais impactos podem ocorrer com a movimentação de terra no lote de interesse. Realiza-se levantamento das construções como: número de pavimentos, carga média por pavimento e tipos de fundações. 4. Dados da estrutura a ser construída: é preciso conhecer tipo e uso da edificação, bem como seu sistema construtivo, para saber a quantidade de carga que o solo deverá suportar. Observando as etapas de um projeto de fundações, percebe-se que se inicia pela camada superior do solo, para conhecer seu interior e, por fim, conhecer os dados da obra que será construída no local. Um estudo desse porte envolve vários profissionais realizando um trabalho em conjunto. De acordo com as informações de cada fase do projeto, o engenheiro poderá escolher a fundação que melhor atenda às condições, lembrando também do fator econômico. Velloso e Lopes (2010) trazem alguns exemplos de fundações que exigem mais atenção, como as fundações de pontes, que precisam ainda avaliar o regime dos rios e erosões que possam ocorrer. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 12 No caso de construções em centros urbanos, em áreas densamente edificadas, a avaliação da vizinhança é fundamental para definir o tipo de fundação e método construtivo, pois é preciso minimizar o impacto nas construções já existentes. Você já imaginou bater uma estaca no centro de uma cidade, com um hospital como construção vizinha? Nesse caso, podem existir muitas restrições, como de acesso até o local, pois muitas vezes os equipamentos são grandes e pode ser necessária uma mobilização do fluxo de carros para chegar atéo terreno. Além disso, um hospital exige diminuição de barulho no seu entorno, você consegue imaginar se a execução de uma estaca cravada no solo emite muito ou pouco barulho? Além da segurança e economia, essa questão pode limitar as opções para escolher a fundação dessa obra. Em se tratando de segurança, como definir que uma fundação foi dimensionada corretamente e é segura? Hachich et al. (1998) afirmam que uma fundação é classificada como segura quando consegue suportar as cargas que nela são transmitidas ao longo de toda a sua vida útil. Essas cargas são ações que podem afetar a estrutura classificadas de acordo com a NBR 6122, como: • Ações permanentes: valores constantes ou que alteram pouco ao longo de praticamente toda a vida útil da obra. • Ações variáveis: valores tem variações que não põem ser desprezadas, como o vento, correnteza etc. • Ações excepcionais: duram pouco e acontecem poucas vezes, como explosões, incêndios, enchentes. A NBR 6122 aponta que o projeto de fundações deve apresentar segurança em relação ao estado-limite último e ao estado-limite de serviço par a combinação dessas ações. Hachich et al. (1998, p. 197) definem o conceito de estado-limite como “qualquer condição que impeça a estrutura de desempenhar essas funções”. Se a fundação alcançar essa condição, ocorrerá a ruína da estrutura. O estado-limite último (ELU) indica o esgotamento da capacidade da fundação, podendo ocasionar colapsos parciais e/ou totais. Já o estado-limite de serviço (ELS) (também conhecido como estado-limite de utilização) está relacionado às situações em que acontecem deformações. Com relação aos critérios para o projeto de fundações, o ELS está ligado a deformação aceitável quando a estrutura estiver submetida às cargas. ELS corresponde a segurança ao colapso do solo e dos elementos estruturais da fundação (VELLOSO; LOPES, 2010). A Figura 8 apresenta alguns problemas que podem ocorrer nas fundações devido a projetos deficientes: (a) deformações excessivas, (b) colapso do solo, (c) tombamento, (d) deslizamento, (e) colapso estrutural. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 13 FIGURA 8 – PROBLEMAS NAS FUNDAÇÕES FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 16) Muitas vezes, na engenharia, utilizamos dados aproximados para estimar o cálculo numa situação ideal. No caso das fundações, precisamos pensar num dimensionamento que minimize as incertezas que podem ocorrer na execução. Para isso, utilizam-se coeficientes de segurança (ou fatores de segurança) que consideram as resistências do solo e da estrutura menores e aumentam as cargas solicitantes para dar uma “folga” ao projeto. Assim, projeta-se pensando que o solo é mais fraco do que realmente é, e as cargas que atuarão na fundação são maiores, prevendo que as cargas mudem ou garantindo que a carga real (que é menor) será suportada. Velloso e Lopes (2010) abordam a segurança de fundações, indicando os métodos e coeficientes que podem ser utilizados no projeto. A seguir, resumiremos as informações que servirão de consulta para o dimensionamento das fundações rasas e profundas. Um projeto de fundações, em teoria, deveria levar em consideração todos os aspectos do solo, das cargas e das estruturas da própria fundação. Contudo, existem muitas incertezas que não podem ser levantadas, como características UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 14 do solo não identificadas na investigação geotécnica, simplificações nos métodos para dimensionamento ou execução da fundação. Por isso, é preciso considerar uma margem de segurança. São dois tipos de coeficientes de segurança, global e parcial. O coeficiente de segurança global considera as incertezas nas investigações geotécnicas, nos parâmetros dos materiais, nos métodos de cálculos nas ações e execuções e é utilizado no Método de Valores Admissíveis. Para o coeficiente de segurança parcial, as incertezas são analisadas com coeficientes de ponderação e utiliza-se o Método de Valores de Projeto. 3.1 USO DE FATOR DE SEGURANÇA GLOBAL OU MÉTODO DE VALORES ADMISSÍVEIS No caso de utilizar o coeficiente global, e, por consequência, o Método de Valores Admissíveis, as tensões que vêm das ações características σk devem ser menores que as tensões admissíveis dos materiais do solo, σadm. Essa tensão admissível é a relação entre as tensões de ruptura (ou escoamento, também conhecidas como últimas), σrup, e o coeficiente (ou fator) de segurança global, FS. Indicando pelas fórmulas, temos: A tensão admissível de um solo significa a capacidade de carga desse solo dividido pelo fator de segurança. Espera-se que a tensão que o solo sofrerá seja menor do que a admissível, para não ocorrer deformação. Estima-se que o solo resistirá a um valor menor do que ele suporta na realidade. NOTA A Tabela 1 apresenta os valores dos coeficientes de segurança globais mínimos de acordo com NBR 6122. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 15 TABELA 1 – FATORES DE SEGURANÇA GLOBAIS MÍNIMOS Condição Fatores de Segurança Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0 Capacidade de carga de estacas ou tubulões, sem prova de carga 2,0 Capacidade de carga de estacas ou tubulões, com prova de carga 1,6 FONTE: NBR 6122 (2010, p. 6) 3.2 USO DE FATOR DE SEGURANÇA PARCIAL OU MÉTODO DE VALORES ADMISSÍVEIS Para esse caso, pretende-se avaliar as incertezas de forma separada, uma vez que são variáveis independentes. As tensões que vem das ações características σk são multiplicadas pelos coeficientes de segurança parciais (também conhecidos como fatores de majoração de cargas) γf, resultando na ação de projeto, que devem ser menores que as resistências de projeto, σd, que são tensões de rupturas dos materiais já reduzidas pelos coeficientes de segurança (fatores parciais de minoração das resistências, γm). Acompanhando pelas equações: Precisamos saber quanto a estrutura da fundação suporta. Para isso, calcula-se o valor da tensão de ruptura σrup (também conhecida como capacidade de carga) por meio de três métodos: • por provas de carga; • métodos semiempíricos ou empíricos; • métodos teóricos. Esses métodos serão explicados na Unidade 2, quando falarmos sobre dimensionamento da fundação. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 16 Vimos que um projeto de fundações requer o conhecimento tanto do solo no local da obra, quanto das edificações vizinhas. Além disso, o projeto precisa ser dimensionado de forma segura e economicamente viável. Com todas essas informações, na prática, ainda precisamos escolher entre os diversos tipos de fundação apresentados, seja fundação rasa ou profunda. A escolha do tipo de fundação pode fazer um paralelo com as etapas do projeto de fundação mencionadas anteriormente. Rebello (2008) descreve uma série de atividades que devem ser avaliadas para a escolha da fundação. Alguns termos ainda serão desconhecidos para você, mas é interessante que você se acostume com eles e perceba sua importância ao estudá-los mais adiante. A seguir, veremos algumas dicas para auxiliar na escolha da fundação mais adequada para o projeto (REBELLO, 2008): a) Ter alguns conhecimentos prévios: saber as cargas que serão transmitidas ao solo pela obra que deverá ser construída no local e ter o relatório de sondagem do solo. A sondagem é uma investigação geotécnica que será abordada no Tópico 3 dessa Unidade. b) Definir se a fundação será rasa ou profunda: pode ser usado o critério da sondagem SPT que investiga a resistência a penetração do solo e pela profundidade. Quanto mais difícil de “furar” um solo, mais resistente ele é e, por isso, mais N golpes serão necessários para a penetração. Sugere-se que uma fundação direta é econômica para um valor de N maior ou igual a 8 e profundidade até 2 metros. Senão, utiliza-se a fundação profunda. c) A fundação rasa alcança profundidades menores e tem custo menor do que a profunda. A análise econômica deve ser levada em consideração na execução da fundação,mantendo a qualidade técnica. d) Entre as sapatas isolada e corrida, no caso de escolher utilizar uma fundação rasa, é preciso ter claro o uso de cada uma. A sapata isolada serve para cargas concentradas (pilares) e a sapata corrida para cargas distribuídas linearmente (alvenarias). e) Se a fundação profunda foi a escolhida, primeiro deve-se tentar utilizar a opção mais barata entre elas (broca), estudando se ocorre o atendimento aos critérios de segurança. A broca deve ir até a profundidade do solo que apresente valor N maior que 12 no SPT e deve ter comprimento menor que 6 metros. Além disso, não deve ser executada abaixo do lençol freático. Nesse caso, a carga por pilar deve ser menor do que 40 toneladas-força. f) Caso haja impossibilidade de utilizar a broca ou se a carga no pilar for maior do que o limite (40 toneladas-força) e até 160 toneladas-força, sugere-se o estudo da estaca Strauss ou estaca de forma mecânica com trado espiral. Ambos os tipos não podem ser executados abaixo do nível freático. g) A estaca seguinte que deve ser estudada, caso não tenha sido possível usar as anteriores, é a estaca pré-moldada de concreto. Que é mais cara do que as opções de estaca Strauss ou estaca com trado espiral, mas permite a execução abaixo do nível de água. TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS 17 h) As próximas opções que podem ser avaliadas são as estacas hélice contínua, estacas Franki e o tubulão. A estaca Franki suporta cargas de pilar acima de 500 toneladas-força e o tubulão aguenta pequenas cargas, mas pode ser utilizado em locais que não permitam o acesso a grandes equipamentos para a execução de outras estacas. Todos esses tipos de fundação podem ser feitos abaixo do nível de água. De forma genérica, Caputo (2017) indica alguns aspectos que devem ser avaliados para a escolha da fundação: • Carga a que se deve suportar. • Tempo disponível para execução do serviço. • Características do solo que o elemento de fundação atravessará. Bem como as dos estratos onde ela se apoiará. • Disponibilidade de equipamento e facilidade de transportá-lo até a obra. • Disponibilidade de material para o elemento de fundação. • Condições das estruturas vizinhas. O Quadro 2 indica algumas sugestões para a escolha da fundação conforme as condições do subsolo. QUADRO 2 – SUGESTÕES PARA ESCOLHA DA FUNDAÇÃO Condições do subsolo Possibilidades de fundação Estruturas leves, flexíveis Estruturas pesadas, rígidas Camada resistente à pequena profundidade 1) Sapatas ou blocos 1) Sapatas ou blocos 2) “Radier” raso Camada compressível de grande espessura 1) Sapatas em solo não coesivo previamente compactado 2) “Radier” raso 3) Estacas flutuantes 1) “Radier” profundo com eventual estrutura de enrijecimento 2) Estacas de grande comprimento 3) Estacas flutuantes Camadas fracas sobrejacentes a uma camada resistente 1) Estacas de ponta 2) Sapatas ou blocos em solo não coesivo previamente compactado ou em solo pré-carregado 3) “Radier” raso 1) Estacas de ponta ou tubulões 2) “Radier” profundo Camada resistente sobrejacente à camada fraca 1) Sapatas ou blocos 2)“Radier” raso 1) “Radier” profundo (fundação flutuante) 2) Estacas de grande comprimento ou tubulões, atravessando a camada fraca Camadas fracas e resistentes alternadas 1) Sapatas ou blocos 2) “Radier” raso 1) “Radier” profundo 2) Estacas ou tubulões apoiados numa camada resistente FONTE: Caputo (2017, p. 208) UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES 18 É interessante perceber como as informações de Rebello (2008) e Caputo (2017) se complementam, pois, no início, a inexperiência pode nos forçar a escolher a fundação com maior custo ou exagerar nos coeficientes de segurança. Ao compreendermos os critérios de escolha, poderemos optar pela fundação que melhor atenda o projeto de interesse. Ficou evidente a quantidade de critérios para a escolha de uma fundação que atenda aos critérios da obra e, principalmente, de segurança. Apesar de todo esse cuidado, não é raro que ocorra alguma deformação na estrutura que está apoiada na fundação. Entre vários exemplos, Caputo (2017, p. 550) apresenta o caso da ponte sobre o Rio da Prata na rodovia Belo-Horizonte-Brasília, ocorrido em 1962. Tratava-se de uma ponte em concreto armado, com 190 metros de extensão e fundações em estacas pré-moldadas de 40x40cm, o seu comprimento entre 7 e 14 metros. O terreno é constituído superficialmente por camadas de areia fofa, capeando (ou seja, encapando, ocultando) uma alteração de rocha (calcário totalmente decomposto) de alta resistência à penetração. As estacas foram cravadas com auxílio de jato d’água até atingirem a camada resistente, embora possivelmente não alcançando profundidade suficiente. Por ocasião das enchentes de dezembro de 1962 a ponte ruiu, tendo sido a causa, provavelmente, o solapamento das pontas das estacas, o que exemplifica, dentre muitos casos estudados na literatura técnica, que as fundações profundas também estão sujeitas ao problema de erosão (CAPUTO, 2017, p. 550). Solapamento significa queda das encostas causadas pelo aumento da profundidade das calhas dos rios e erosões das margens dos cursos d’água, pode ser entendido como a destruição da base de alguma estrutura. NOTA Deseja ler um pouco mais sobre a importância de um bom projeto para evitar problema nas fundações? Acesse o site e leia o texto Fundação mal projetada é “raiz” de problemas: https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/fundacao-mal-projetada-e-raiz-de- problemas_7942_10_0. DICAS 19 Neste tópico, você aprendeu que: • É fundamental considerar a importância desse tipo de obra no momento de elaborar um bom projeto de fundações. • Existem alguns tipos de fundações, separadas entre fundações rasas e profundas • Devem-se verificar alguns critérios de segurança para o dimensionamento de fundações. • A escolha de uma fundação está relacionada a diversas variáveis e é preciso analisar essas condições com bastante cuidado para elaborar um bom projeto de fundações. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Quais são os tipos de fundações mais comuns para uma obra? Organize em formato de tabela, indicando as características principais de cada tipo e sua utilidade. 2 Como uma fundação é definida como uma estrutura segura? 3 Quais são as etapas de um projeto de fundações? 4 A NBR 6122 define as cargas que podem afetar a estrutura de uma fundação. Descreva cada uma delas. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 1 INTRODUÇÃO Um dos conhecimentos que o engenheiro civil deve ter na realização do projeto de uma estrutura é sobre o local em que a estrutura vai descarregar os esforços atuantes sobre ela. Esses esforços serão transferidos por meio da fundação até o solo. De acordo com o tipo de solo reconhecido é que se definirá o tipo de fundação da estrutura, o dimensionamento da fundação e a profundidade dela. Para saber sobre o solo em que se está trabalhando é necessário fazer uma investigação geotécnica, tema que será abordado no próximo tópico. Porém, antes disso, abordaremos alguns conceitos de mecânica dos solos que devem ser relembrados para melhor entendimento das próximas seções. De acordo com Pinto (2006), o conhecimento deste material da natureza (o solo), heterogêneo e de complicado comportamento se deve aos estudos de Karl Terzagui, engenheiro civil, conhecido internacionalmente como fundador da mecânica dos solos. O solo é dito como um material de difícil compreensão de seu comportamento devido a sua heterogeneidade, ou seja, por ser constituído por um conjunto de partículas com água ou outro líquido e mais o ar em espaços intermediários, como ilustrado na Figura 9. FIGURA 9 - CONSTITUIÇÃO COMUM DOS SOLOS FONTE: Massocco (2019, p. 40) 22 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Ainda, segundo Pinto (2006), a origem dos solos se deu devido à decomposição das rochas que constituíam inicialmente a crostaterrestre. Essa decomposição se dá por meio de agentes físicos e químicos. Essas decomposições fazem com que diferentes partículas se misturem, com diferentes tamanhos e diferentes composições químicas. O solo acaba sendo a atuação simultânea de processos físicos e químicos sobre a rocha de origem. 2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS Os solos podem ser divididos em três classes, de acordo com Maciel Filho e Nummer (2011): • Solos residuais: aqueles que permanecem no local da rocha de origem. observando-se uma gradual transição da superfície até a rocha. Para que ocorram os solos residuais, é necessário que a velocidade de decomposição de rocha seja maior que a velocidade de remoção pelos agentes externos. • Solos sedimentares: aqueles que sofrem a ação de agentes transportadores, e podem ser classificados de acordo com o agente transportador. Os aluvionares são aqueles transportados pela água, os eólicos transportados pelo vento, os coluvionares transportados pela gravidade e os glaciares pelas geleiras. • Solos de formação orgânica: aqueles de origem essencialmente orgânica, pode ser de natureza vegetal (plantas, raízes) ou animal (ex.: conchas). Diante disso, cada solo apresenta uma composição química e mineralógica. Os minerais que se encontram nas rochas são os derivados da rocha de origem (minerais primários) e mais outros minerais que foram formados durante a decomposição (minerais secundários). Pinto (2006) afirma que é muito comum, entretanto que as partículas sejam constituídas de um único mineral e que o quartzo é um mineral presente na maioria das rochas. O quartzo é resistente à degradação e forma grãos de siltes e areias. Já os argilominerais são originados pelo feldspato. O feldspato é o mineral mais atacado pela natureza, pois forma frações mais finas de solo. O comportamento deste tipo de solo (argilominerais) é extremamente diferenciado dos siltes e areia, essa diferença é devido ao tamanho reduzido das partículas e principalmente pela constituição mineralógica. O detalhamento dessas estruturas mineralógicas não será abordado neste livro didático, mas podem ser encontrados de forma mais detalhada em livros como o de Homero Pinto Caputo – Mecânica dos Solos e suas Aplicações – Fundamentos – Volume 1. DICAS TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 23 Uma das características que faz os solos serem diferenciados é o tamanho da partícula que os compõe. Para termos uma ideia: um grão de areia tem dimensões entre 1 a 2 mm, porém, existem partículas de argila com espessura na ordem de 10 Angstron que é 0,000001 mm (PINTO, 2006). A Figura 10 mostra a proporção do tamanho entre os grãos de areia e argila. Ou seja, a diversidade do tamanho dos grãos que se pode encontrar nos solos é enorme e consequentemente o comportamento de um solo com grãos maiores é diferente daquele com grãos menores, e nós como engenheiros civis devemos saber diferenciá-los. Além disso, nos solos convivem partículas de tamanhos diversos e visualmente ou pelo simples manuseio é difícil de identificar o tamanho das partículas. FIGURA 10 - RELAÇÃO ENTRE GRÃO DE AREIA E GRÃO DE ARGILA FONTE: Massocco (2019, p. 11) A denominação específica do solo pelo tamanho dos grãos é determinada pelos limites das frações de solo. Os limites variam conforme os sistemas de classificação adotados pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, conforme a Tabela 2. TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEGUNDO A NBR6502 Solo Dimensão (mm) Matacão Φ <250 Pedra de mão 60<Φ<250 Pedregulho grosso 20<Φ<60 Pedregulho médio 6<Φ<20 Pedregulho fino 2<Φ<6 Areia grossa 0,6<Φ<2 Areia média 0,2<Φ<0,6 Areia fina 0,06<Φ<0,2 Silte 0,002<Φ<0,06 Argila Φ<0,002 FONTE: Adaptado de NBR 6502 (1995) 24 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Podemos dividir os tipos de solo em: • Solo arenoso: podem ser compostos de grãos grossos, médios e finos (visíveis a olho nu). Os seus grãos são facilmente separáveis uns dos outros quando estão secos e apresentam alta permeabilidade, que é uma grande capacidade de circulação de água por meio dele. • Solo argiloso: apresentam grãos microscópicos, de cores vivas e de grande impermeabilidade. Ao contrário da areia, o solo argiloso possui grande capacidade de aglutinação. • Solo siltoso: o silte está no intervalo entre a areia e a argila, apresenta grão de dimensões muito pequenas, mas não apresenta coesão. O terreno com solo siltoso tem pouca estabilidade a longo prazo, apresentando facilmente erosão e desagregação natural. A Figura 11 apresenta alguns exemplos de solo. FIGURA 11 - TIPOS DE SOLO (A) ARENOSO; (B) ARGILOSO; (C) SILTOSO (a) (b) (c) FONTE: <portalsaofrancisco.com.br>. Acesso em: 29 set. 2019. Como dito anteriormente, o solo é composto por água, ar e sólidos. Então, ele possui duas fases físicas, uma fluida (água/gases) e uma sólida (CAPUTO, 1988). As partículas que formam a parte sólida possuem diferentes formas: • Poligonais angulares: apresentam um contorno irregular (ex.: areia, silte e pedregulhos). • Poligonais arredondadas: têm a superfície arredondada (ex.: seixo rolado). • Lamelares: têm duas dimensões que predominam (ex.: solo argiloso). Tem como propriedade principal a compressibilidade e a plasticidade. • Fibrilares: uma das dimensões é mais predominante que as outras (ex.: solos orgânicos). A Figura 12 mostra alguns formatos de partículas sólidas presentes nos solos. TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 25 FIGURA 12 - ALGUNS FORMATOS DE PARTÍCULAS SÓLIDAS FONTE: Massocco (2019, p. 39) Análise granulométrica Como mencionado, o solo é composto por partículas diversas (de diferentes tamanhos e formas). Como podemos identificar o tipo de partículas que definem o comportamento de um determinado solo? Um exemplo básico de difícil identificação, utilizado na literatura de Caputo (2017) e Pinto (2006), é quando grãos de areia estão envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas finíssimas. Os autores dizem, que, neste caso, o solo apresenta “[...] o mesmo aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente de partículas argilosas [...]. Quando na verdade são grãos de areia envoltos pelas partículas de argila” (PINTO, 2006, p. 21). Neste caso, quando secas, as duas formações, com areia ou com argila, são difíceis de se identificar. Ou seja, não saberemos que tipo de solo estamos lidando. Porém, quando esses materiais são umedecidos eles apresentarão diferente textura e poderemos definir com mais precisão o tipo de solo. Com a umidade, as partículas argilosas se transformam em uma pasta fina enquanto a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida pelo tato. Conclui-se, então, que, na tentativa de identificar o solo de forma tátil- visual dos grãos do solo, é fundamental que eles se encontrem bastante úmidos. A análise granulométrica é uma forma de identificação do solo a partir das partículas constituintes. Essa análise consiste em duas fases, a primeira é o peneiramento e a segunda é a sedimentação, procedimentos descritos na NBR 7181/84 que trata da análise granulométrica de um solo. 26 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Peneiramento: a primeira etapa, o peneiramento tem como limitação a abertura da malha de peneiras, conforme apresentado na Figura 13, que podem não ser tão pequenas quanto ao diâmetro de interesse. O material é peneirado conforme as malhas definidas por norma em uma sequência. O material que passa por cada malha de peneira é pesado e este é chamado de peso seco da amostra e é também conhecido como a “porcentagem que passa”. A porcentagem de material que passa na sequência de cada malha de peneira é representada graficamente em função da abertura da malha de cada peneira. A abertura da malha, ou seja, o espaço permitido para os grãos passarem pela peneira é considerado como o diâmetro das partículas, porém, vale lembrar que este diâmetro é o diâmetro equivalente, não real, pois as partículasnão são esféricas, ou seja, perfeitamente arredondadas. A menor peneira utilizada é a de número 200 (que se refere a uma abertura de 0,075 mm). Essa abertura ainda é muito maior que as dimensões mais finas do solo. Quando o interesse é conhecer as distribuições granulométricas das partículas mais finas do solo, então se emprega a segunda etapa da análise granulométrica, a sedimentação (PINTO, 2006). A curva granulométrica é a representação gráfica da distribuição granulométrica do solo. • Abscissas: diâmetro dos grãos. • Ordenadas: porcentagens, em peso, dos grãos de diâmetros inferiores aos da abscissa correspondente. FIGURA 13 – PENEIRAS FONTE: Mello (2019, p. 33) A porcentagem acumulada é a soma dos percentuais retidos nas peneiras superiores, com o percentual retido na peneira em estudo. Sedimentação: então, quando se tem interesse de se conhecer distribuição granulométrica das partículas mais finas do solo, se utiliza a técnica da sedimentação (CAPUTO, 1988). Essa técnica se baseia na Lei de Stokes. O princípio é o seguinte: a velocidade de queda de partículas esféricas em um fluido atinge um valor limite que depende do peso específico do material da esfera , do peso específico do fluido , da viscosidade do fluido (μ) e do diâmetro da esfera (D), conforme a expressão a seguir. TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 27 Moura (2015) explica que se deve colocar aproximadamente 60 g de solo em suspensão em aproximadamente 1 litro de água. Em consequência, as partículas do solo cairão com uma velocidade proporcional ao quadrado do seu diâmetro. No início da mistura (água/solo), a densidade da suspensão é uniforme, conforme o tempo passa a densidade da suspensão deixa de ser uniforme, pois as partículas maiores que originalmente se encontravam na superfície caem com uma maior velocidade que as partículas menores. Quando as partículas maiores caem, a densidade na parte superior do frasco diminui. O diâmetro da maior partícula presente em cada seção pode ser obtido pela Lei de Stokes. Esse ensaio envolve vários detalhes, que são melhor compreendidos em aulas de laboratório. NOTA Como visto na Tabela 2, existem diversas faixas de tamanho de grãos e para cada faixa granulométrica uma denominação. Com a realização das etapas da análise granulométrica, então, é possível determinar a porcentagem correspondente a cada uma das faixas de tamanho de grão especificadas pela norma através da curva granulométrica, ver Figura 14. A curva granulométrica é traçada por pontos em um diagrama semilogarítmico, no qual, sobre os eixos das abscissas, são marcados os logaritmos das dimensões das partículas e sobre o eixo das ordenadas as porcentagens, em peso, de material que tem dimensão média menor que a dimensão considerada. 28 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES FIGURA 14 – E EXEMPLO DE CURVA DE DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DO SOLO FONTE: Pinto (2006, p. 21) TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 29 A Figura 15 apresenta exemplos de curvas granulométricas de alguns solos brasileiros. Segundo Pinto (2006), é de se notar que as mesmas designações usadas para expressar as frações granulométricas de um solo são as empregadas para definir o próprio solo. Um exemplo é: um solo é designado como argila quando o seu comportamento é de um solo argiloso, mesmo que em sua composição contenham partículas de diâmetro que correspondem às frações de silte e areia. FIGURA 15 – CURVA GRANULOMÉTRICA DE ALGUNS SOLOS BRASILEIROS FONTE: Pinto (2006, p. 24) 30 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Conforme a distribuição dos grãos na amostra do solo se pode determinar o Coeficiente de Uniformidade (CUN) e o Coeficiente de Curvatura (CC) Coeficiente de Uniformidade (CUN) • Cun (U) < 5 → solo uniforme (mal graduado) • 5 < Cun (U) < 15 → solo medianamente uniforme (medianamente graduado) • Cun (U) > 15 → solo desuniforme (bem graduado) FIGURA 16 – EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO DOS GRÃOS FONTE: Mello (2019, p. 34) Coeficiente de Curvatura (CC) Fornece a ideia do formato da curva permitindo detectar descontinuidades no conjunto. TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 31 Índices físicos Vamos relembrar agora os índices físicos dos solos. Como sabemos, apenas uma parte do volume do solo é ocupado por partículas sólidas, o resto do volume é ocupado por líquido e gás, os chamados vazios do solo. Esses vazios são os volumes ocupados pela água (volume líquido) e o ar (volume gasoso). O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases (sólido, água e ar) e diversas relações são utilizadas para expressar as proporções entre elas (PINTO, 2006). Na Figura 17, essas três fases são representadas, na primeira imagem as três fases são representadas separadas por volume e na terceira imagem são apresentadas em função de volume de sólidos (a relação entre cada fase e a fase sólida). As relações entre os índices físicos, indicadas a seguir, podem ser encontradas em qualquer livro de Mecânica dos Solos, como Caputo (1988) e Pinto (2006). FIGURA 17 - AS FASES DO SOLO COM RELAÇÃO À VOLUME, MASSA E PESO. (A) FASES COM RELAÇÃO A VOLUMES; (B) FASES COM RELAÇÃO AO PESO E MASSA (a) (b) FONTE: Massocco (2019, p. 42) O volume total corresponde ao somatório do volume sólido, volume de água e volume de ar, conforme a equação a seguir: 32 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES As partículas de solo também são preenchidas de vazios, estes, por sua vez, são o somatório do volume de água e volume de ar dos constituintes do solo: O volume total também pode ser escrito como a soma do volume de sólidos com o volume de vazios: Em princípio, as quantidades de água e ar podem variar. A evaporação pode diminuir a quantidade de água, substituindo-a por ar, e a compressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o volume de vazios. O solo, no que se refere às partículas que constituem, permanece o mesmo, mas seu estado altera. As diversas propriedades do solo dependem do estado em que se encontra. Quando diminui o volume de vazios, por exemplo, a resistência aumenta (PINTO, 2006, p. 36). Os índices (relações) que se correlacionam com os pesos e os volumes das três fases são os indicados a seguir e são exemplificados na Figura 14. Umidade: relação entre o peso da água e o peso do sólido Índice de vazios: relação entre o volume de vazios e o volume das partículas sólidas Porosidade: relação entre o volume de vazios e o volume total. Indica a mesma coisa que o volume de vazios. O resultado é em percentual ou entre valores de 0 a 1 (caso não haja multiplicação por 100). TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 33 Grau de saturação: relação entre o volume de água e o volume de vazios. Varia de zero (solo seco) a 100% (solo saturado). S = 0% - solo completamente seco 0%<S<100% - solo não saturado S = 100% - solo completamente saturado Peso específico dos sólidos: relação entre o peso das partículas sólidas e o seu volume. Peso específico da água: adota-se sempre 10 kN/m³, embora possa variar um pouco com a temperatura. Peso específico natural: relação entre o peso total do solo e o seu volume total. Peso específico aparente seco: relação entre o peso dos sólidos e o volume total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se estivesse seco. Peso específico aparente saturado: peso específico do solo se ele ficasse saturado e se isso ocorresse sem variação de volume. 34 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Peso específico submerso: é o peso específico do solo quando submerso. Serve para o cálculo de tensões efetivas. Equivale ao peso específico natural menos o peso específico da água. Desses índices apresentados, três são calculados em laboratório: umidade, peso específico dos grãos e o peso específico natural. O peso específico da água já é determinado por norma. O volume adotado para os sólidosé igual a 1. Com isso, as outras relações são facilmente obtidas conforme as expressões a seguir. Para melhor entendimento das expressões se sugere voltar e entender a Figura 13. Podemos relacionar com o índice de vazios, peso específico dos sólidos, assim, conforme Figura 18, teremos relações com o índice de vazios. FIGURA 18 – CORRELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS FONTE: Adaptado de Higashi (2012) TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 35 • Limite de Atterberg: apenas a distribuição granulométrica não é capaz de caracterizar o comportamento dos solos da forma necessária para o estudo das fundações. O comportamento de partículas de minerais de argila difere devido à estrutura mineralógica. O comportamento dos solos finos dependerá de diversos fatores, tais como: sua composição química e mineralógica; sua umidade; sua estrutura e seu grau de saturação. Quanto menor a partícula de um solo, maior será sua superfície específica e, portanto, maior será sua plasticidade. A forma prática de identificar a influência das partículas argilosas é feita pela determinação dos ditos Limites de Atterberg (MELLO, 2019). A Figura 19 e a Figura 20 nos ajudam a compreender melhor o que os limites de Atterberg se referem. FIGURA 19 - RELAÇÃO DO SOLO COM A ÁGUA E OS LIMITES DE ATTERBERG FONTE: Mello (2019, p. 55) Como pode ser encontrado em diversos materiais sobre solos (CAPUTO, 1988; PINTO, 2006; ALMEIDA, 2005; MOURA, 2015), o estado líquido é caracterizado pela ausência de resistência ao cisalhamento e o solo assume a aparência de um líquido. Quando o solo começa a perder umidade, passa a apresentar o comportamento plástico, ou seja, deforma-se com variação volumétrica (sem fissurar-se ao ser trabalhado). Ao perder mais água, o material torna-se quebradiço (semissólido). No estado sólido não ocorrem mais variações volumétricas pela secagem do solo. A Figura 20 indica os limites de Atterberg, conforme a umidade aumenta indo para o lado direito. 36 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES • Limite de Liquidez (LL): teor de umidade no qual o solo começa a se comportar como um líquido, ou seja, flui. • Limite de Plasticidade (LP): teor de umidade no qual o solo começa a comportar como um material plástico. • Limite de Contração (LC ou LR): teor de umidade a partir do qual reduções da umidade não acarretam redução de volume da amostra. FIGURA 20 - LIMITES DE ATTERBERG EM FUNÇÃO DO TEOR DE UMIDADE E ESTADOS DE CONSISTÊNCIA FONTE: Almeida (2005, p. 95) Na sequência, conheceremos como se realizam os ensaios para determinar os três limites. • Ensaio de Limite de Liquidez: o ensaio consiste em colocar o solo misturado com água em uma concha, fazendo nele uma ranhura. Posteriormente, a concha é golpeada contra uma superfície dura até fechar a ranhura em um determinado comprimento. O solo tem a umidade correspondente ao limite quando as bordas inferiores da ranhura se tocam num determinado comprimento, após certo número de golpes. Como apresentado na Figura 21, o aparelho utilizado para a realização desta técnica é conhecido como Aparelho de Casagrande. Nele são colocados 70 g de solo, que passa na peneira com abertura igual a 0,42 mm, homogeneizada com água até formar uma pasta, na calota do aparelho. O limite de liquidez é então obtido como sendo a umidade correspondente a 25 golpes. Todo o procedimento de estabelecimento do limite de liquidez pode ser melhor compreendido com a leitura da Norma NBR 6459. IMPORTANT E TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 37 FIGURA 21 – ENSAIO DO LL (A) APARELHO DE CASAGRANDE, (B) CONCHA DO APARELHO DE CASAGRANDE – ETAPAS DO ENSAIO Antes do ensaio Depois do ensaio (a) (b) FONTE: Caputo (2017, p. 54) Com o ensaio se obtém pontos experimentais em um gráfico de “Teor de umidade X log (n° de golpes)”. Ajusta-se uma reta passando por esses pontos, como na Figura 22. O limite de liquidez corresponde à umidade para a qual foram necessários 25 golpes para fechar a ranhura. FIGURA 22 - GRÁFICO DE TEOR DE UMIDADE X LOG(N° DE GOLPES) FONTE: Varela (2013, p. 19) 38 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES • Ensaio de Limite de Plasticidade: esse ensaio pode ser encontrado com mais detalhes na NBR 7190. O ensaio corresponde a um teor de umidade mínimo no qual a coesão é pequena para permitir deformação, porém, suficientemente alta para garantir a manutenção da forma adquirida (ALMEIDA, 2005). Algumas etapas do ensaio são apresentadas na Figura 23. FIGURA 23 - ENSAIO DO LIMITE DE PLASTICIDADE FONTE: Mello (2019, p. 58) Conforme Mello (2018), para determinação do limite de plasticidade são usados 50,0 g de material passando na peneira com abertura igual a 0.42 mm. O material homogeneizado com água até adquirir característica plástica, toma-se cerca de 15,0 g e sobre uma placa de vidro, procura-se fazer pequenos cilindros de solo com 3 mm de diâmetro e cerca de 10 centímetros de comprimento, rolando o solo entre a mão e a placa de vidro até que o cilindro apresente as primeiras fissuras. A umidade desse material é definida com limite de plasticidade do solo ensaiado. O limite de plasticidade será o valor médio de pelo menos três valores de umidade (teores de umidade) considerados satisfatórios. Se não for possível obter o cilindro com 3 mm de diâmetro, a amostra deve ser considerada como não apresentando limite de plasticidade (NP). • Índice de plasticidade: através dos valores dos limites de consistência é comum proceder-se ao cálculo de outros dois índices, a saber: o índice de plasticidade (IP) e o índice de consistência (IC). No entanto, o IC por não acompanhar com fidelidade as variações de consistência de um solo, tem caído em desuso. O valor do IP pode ser obtido pela diferença entre o LL e o LP (ALMEIDA, 2005). TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 39 O índice de plasticidade procura medir a plasticidade do solo e, fisicamente, representa a quantidade de água necessária a acrescentar ao solo para que este passe do estado plástico para o líquido. A seguir, são apresentados alguns intervalos do IP para a classificação do solo quanto a plasticidade. IP – índice de plasticidade. Solos fracamente plásticos.......................... 1 < IP < 7. Solos medianamente plásticos..................... 7 < IP < 15. Solos altamente plásticos................................ IP > 15. Os valores típicos para solos brasileiros encontram-se na Tabela 3: TABELA 3 - VALORES TÍPICOS DE LL E IP DE SOLOS BRASILEIROS SOLOS LL IP Arenoso fino, laterítico 29 11 Arenoso fino, laterítico 44 13 Solo de basalto, laterítico 43 16 Solo saprolítico de gnaisse 48 16 Solo saprolítico de granito 48 16 Argila orgânica de várzea quaternárias 70 30 Argilas orgânicas de baixadas litorâneas 120 60 FONTE: Varela (2013, p. 22) • Sistema Unificado de classificação: o sistema unificado de classificação surgiu da necessidade da organização das diversas diferenças comportamentais dos solos para os interesses da engenharia. Segundo Pinto (2006), o objetivo da classificação sob o ponto de vista da engenharia é poder estimar o provável comportamento do solo nos programas de investigação. Esse sistema de classificação foi elaborado por Casagrande, para obras de aeroporto, e atualmente é utilizado principalmente pelos geotécnicos que trabalham com barragens de terra. Em linhas gerais, os solos são classificados, nesse sistema, em três grandes grupos, de acordo com Caputo (1988): 1. Solos grossos: aqueles cujo diâmetro da maioria absoluta dos grãos é maior que 0,074 mm (mais que 50% em peso, dos seus grãos, são retidos na peneira n. 200); Pedregulhos – areias – solos pedregulhosos ou arenosos com pouca quantidade de finos (silte e argila). 2. Solos finos: aqueles cujo diâmetro da maioria absoluta dos grãos é menor que 0,074 mm; Siltes-argilas3. Turfas: solos altamente orgânicos, geralmente fibrilares e extremamente compressíveis. 40 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES Nesse sistema, todos são identificados pelo conjunto de duas letras (ALMEIDA, 2005). A primeira letra indica o principal tipo de solo, podendo ser: G .......................... Pedregulho (do inglês Gravel). S .......................... Areia (do inglês Sand). M ......................... Silte (do sueco Mo). C ......................... Argila (do inglês Clay). O ......................... Solo orgânico (do inglês Organic). A segunda letra indica as características complementares do solo: W ........................ Bem graduado (do inglês Well graded). P .......................... Mal graduado (do inglês Poorly). H ......................... Alta compressibilidade (do inglês High compressibility). L .......................... Baixa compressibilidade (do inglês Low compressibility). Pt ......................... Turfas (do inglês Organic). Exemplos: CL – solo argiloso de baixa compressibilidade. SM – solo argiloso com certa quantidade de siltes (finos não plásticos). SW – solo arenoso, bem graduado. CH – solo argiloso, altamente compressível. As classificações a seguir estão de acordo com a literatura de Pinto (2006). • Solos de granulação grossa (pedregulhos e areias): sendo de granulação grosseira, o solo será classificado como pedregulho ou areia, dependendo de qual destas duas frações granulométricas predominar. Por exemplo, se o solo possui 30% de pedregulho, 40% de areia e 30% de finos, ele será classificado como areia – S. Após reconhecer se o solo como granulação grossa, falta saber se são “bem graduados” ou “mal graduados”. Os solos “bem graduados” são chamados assim pelo fato de que a existência de grãos com diversos diâmetros confere ao solo, em geral, melhor comportamento sob o ponto de vista de engenharia. As partículas menores ocupam os vazios correspondentes às maiores, criando um maior entrosamento, do qual resulta menor compressibilidade e maior resistência. • Solos de granulação fina (siltes e argilas): quando a fração fina é predominante, o solo será classificado em silte (M), argila (C) ou solo orgânico (O), não em função da porcentagem das frações granulométricas silte ou argila, mas pela atividade da argila. São os índices de consistência que melhor indicam o comportamento argiloso. Analisando os índices e o comportamento de solos, Casagrande notou que colocando o IP do solo em função do LL, num gráfico, os TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 41 solos de comportamento argiloso se faziam representar por um ponto acima de uma reta inclinada, denominada linha A. Solos orgânicos, ainda que argilosos, e solos siltosos, são representados por pontos abaixo da linha A que tem como equação a reta: que no seu trecho inicial é substituída por uma faixa horizontal correspondente a IP de 4 a 7. Este gráfico é denominado de Carta de Plasticidade (ver Figura 24) e para a classificação destes solos, basta localizar o ponto correspondente ao par de valores IP e LL. FIGURA 24 – GRÁFICO CARTA DE PLASTICIDADE 100806040200 0 20 40 60 ín di ce d e pl as tic id ad e Limite de liquidez CL CH ML ou OL MH ou OH Li nh a B Lin ha A FONTE: Pinto (2006, p. 56) Os solos orgânicos se distinguem dos siltes pelo seu aspecto visual, pois se apresentam com uma coloração escura típica (marrom-escuro, cinza-escuro ou preto). Como característica complementar dos solos finos, indica-se a sua compressibilidade, definindo-se como de alta compressibilidade (H) os solos possuem LL>50. Da mesma forma, define-se como de baixa compressibilidade (L) os solos que apresentam LL<50. Quando os índices indicam uma posição muito próxima às linhas, é considerado um caso intermediário e as duas classificações são apresentadas. Na Tabela 4 temos um esquema para classificação pelo Sistema Unificado. 42 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES TABELA 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DE ACORDO COM O SISTEMA UNIFICADO Classificação geral Tipos principais Símbolos SOLOS GROSSOS (Menos que 50% passando na #200) Pedregulho ou solos pedregulhosos GW, GP, GM e GC Areias ou solos arenosos SW, SP, SM e SC SOLOS FINOS (Mais que 50% passando na # 200) Siltosos ou argilosos Baixa compressibilidade (LL<50) ML, CL, e OL Alta compressibilidade (LL>50) MH, CH e OH SOLOS ALTAMENTE ORGÂNICOS Turfas Pt FONTE: Caputo (1988, p. 185) Vamos aplicar um exemplo de classificação para melhor entendimento. Imaginemos um dado solo com os seguintes índices: • Porcentagem que passa na peneira N° 4 = 100. • Porcentagem que passa na peneira N° 200 = 86. • Limite de liquidez = 55. • Índice de plasticidade = 28. Classificaremos o solo usando o Sistema Unificado de Classificação, fornecendo o símbolo de grupo. Foi dado que a porcentagem que passa na peneira N° 200 é 86 (ou seja > 50%), portanto, é um solo fino. Usando a Tabela 4 encontramos o símbolo de grupo CH. Trabalhando com solos, seja para tráfego de máquinas ou construções, é importante a caracterização dos solos para que se tenha segurança na execução dessas operações. Por exemplo, solos que apresentam, em sua forma textural, alta porcentagem de finos, são muito influenciados pela umidade, além da forma das partículas e da sua composição química e mineralógica, causando grandes variações nas suas propriedades plásticas (SOUZA; RAFULL, VIEIRA, 2000). A variação desses parâmetros físicos acaba causando diferente comportamento da fundação de uma estrutura. Por isso é muito importante fazer a caracterização/ classificação do solo que se vai trabalhar para executar uma fundação. Conhecer esse tipo de informação é imprescindível para o sucesso e segurança de uma construção, já que a classificação dos solos objetiva estimar qual será o comportamento mais provável, possibilitando que a determinação da infraestrutura da construção seja realizada da melhor forma. TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 43 3 PERMEABILIDADE E ÁGUA NO SOLO O objetivo básico deste subtópico é fornecer as informações necessárias para o entendimento físico da presença da água nos solos e para a resolução de problemas que envolvem percolação de água no solo. Com muita frequência, a água ocupa a maior parte ou a totalidade dos vazios do solo. Submetida a diferenças de potenciais, a água desloca-se no seu interior (PINTO, 2006). A permeabilidade é a propriedade que o solo apresenta de permitir o escoamento da água através dele, sendo o seu grau de permeabilidade expresso numericamente pelo “coeficiente de permeabilidade”. O conhecimento da permeabilidade de um solo é de importância em diversos problemas práticos de engenharia, tais como: drenagem, rebaixamento do nível d'água, recalques etc. A determinação do coeficiente de permeabilidade é feita tendo em vista a lei experimental de Darcy (1856), de acordo com a qual a velocidade de percolação é diretamente proporcional ao gradiente hidráulico (PINTO, 2006). O estudo da permeabilidade da água no solo é muito importante para quando o engenheiro se depara com alguns problemas práticos que o envolvem. A seguir são listados alguns problemas citados por Pinto (2006): • no cálculo das vazões, como, por exemplo, na estimativa da quantidade de água que se infiltra numa escavação; • na análise de recalques, porque, frequentemente, o recalque está relacionado à diminuição de índice de vazios, que ocorre pela expulsão de água desses vazios; • nos estudos de estabilidade, porque a tensão efetiva (que comanda a resistência do solo) depende da pressão neutra, que, por sua vez, depende das tensões provocadas pela percolação da água. A água subterrânea é originada predominantemente da infiltração das águas das chuvas, sendo esse processo de infiltração de grande importância na recarga da água no subsolo. A recarga depende do tipo de rocha, cobertura vegetal, topografia, precipitação
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