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ENSINO DE QUÍMICA. Extração e processamento do minério ou reciclagem. Objetivo: Refletir sobre os custos do processo de obtenção do alumínio pelos processos Bayer e Hall-Héroult e compará-lo com a sua reciclagem. Extração e transformação do minério ou reciclagem. Por exemplo, na pirometalurgia do ferro a utilização ininterrupta do alto-forno consome uma quantidade muito grande de energia, mesmo considerando que uma boa parte do calor gerado nas reações é utilizada no processo. Além disso, formam-se produtos indesejáveis, escória, e uma quantidade muito grande de gás carbônico, que é um dos gases do efeito estufa. A hidrometalurgia do cobre é um processo menos danoso ao meio ambiente e economicamente mais viável, uma vez que não utiliza altas temperaturas no processo, entretanto tem-se a necessidade de aplicar um potencial para realizar a eletrólise. Outro metal largamente utilizado que ainda não falamos é o alumínio, metal mais comum na crosta terrestre, mas o elemento foi descoberto tardiamente. É ligado tão firmemente em seu óxido que não há possibilidade de obter o metal livre pelos meios habituais de redução com carbono (pirometalurgia). Berzelius e Humphrey Davy tentaram isolá-lo por meio de eletrólise de sal fundido usando uma pilha voltaica. Mas eles falharam! O metal foi isolado pela primeira vez na Dinamarca no ano de 1825 e o homem que fez isso foi Hans Cristian Oersted. Ele misturou cuidadosamente carvão e óxido de alumínio e aqueceu-os ao calor de em um forno tubular. Na entrada de gás cloro, formou-se cloreto de alumínio vaporizado, o qual foi condensado em amálgama de potássio fora do forno e formou-se uma amálgama de alumínio-mercúrio. Quando o mercúrio foi destilado, na ausência de ar, um metal, semelhante ao estanho, permaneceu. O alumínio havia sido isolado! Friedrich Wöhler questionou Oersted se ele realmente tinha obtido alumínio após a destilação de mercúrio. E por isso, Whöler continuou o trabalho com o alumínio sem misturar mercúrio. Mas só conseguiu obter o alumínio puro depois de 20 anos do trabalho de Oersted. A grande disponibilidade do alumínio hoje em dia é resultado de uma colaboração entre ciência básica e ciência aplicada. No século XIX, o alumínio era considerado um metal raro e precioso, tanto que Napoleão impressionava seus convidados com o uso de talheres de alumínio. Mas no final desse século com a queda do custo da eletricidade e a descoberta de um método de redução eletrolítica pelo químico francês Henri Sainte-Claire contribuíram para que o preço do alumínio metálico se tornasse acessível. No entanto, a produção do metal em grande escala exigia um método que utilizasse fonte de alumínio facilmente disponível e barata. Esse minério é a bauxita que é composta por Al2O3. Esse novo método foi encontrado independentemente em 1886 por dois jovens cientistas: um francês chamado Paul Héroult, e o americano Charles Hall. Portanto, o processo ficou conhecido por Processo Hall-Héroult. A primeira etapa do processo de extração consiste na purificação da bauxita e pode ser realizada pela digestão (aquecimento e dissolução) do minério moído em presença de hidróxido de sódio: Os materiais insolúveis como óxido de ferro(III) são filtrados e geram uma lama vermelha. Ao esfriar, o óxido de alumínio branco tri-hidratado precipita, deixando o que ainda restar de impurezas solúveis na solução. Então o hidrato é aquecido fortemente em forno rotativo (semelhante ao utilizado na produção de cimento) resultando em óxido de alumínio anidro. Como seus íons possuem carga elevada, o Al2O3 possui uma energia de rede muito grande e, portanto, um alto ponto de fusão (2040 oC). Então para eletrolisar o óxido fundido era necessário encontrar um composto de alumínio com ponto de fusão muito mais baixo. E foi isso que os dois cientistas fizeram anunciando, simultaneamente, que esse composto era o mineral criolita (Na3AlF6 – hexafluoroaluminato de sódio). Entretanto, há poucos depósitos de ocorrência natural desse mineral e por isso a criolita precisa ser manufaturada. A química detalhada que ocorre na célula eletrolítica ainda é pouco entendida, mas o que se sabe é que a criolita deve agir como eletrólito e o óxido é dissolvido em criolita fundida a cerca de 950 oC. Assim, o metal fundido é produzido no cátodo e o oxigênio produzido no anodo oxida o carbono a monóxido de carbono e parte a dióxido de carbono. A produção do alumínio gera quatro subprodutos que acarretam grandes problemas de poluição: 1. Lama vermelha altamente básica 2. Fluoreto de hidrogênio gasoso, produzido quando a criolita reage com traços de humidade no óxido de alumínio 3. Óxidos de carbono produzidos no anodo 4. Fluorocarbonos, produzidos pela reação do flúor com o anodo carbono. Algumas medidas são tomadas para minimizar a ação desses subprodutos no ambiente como, por exemplo, a lama vermelha é separada por decantação em que o componente líquido composto principalmente por solução de hidróxido de sódio é neutralizada e o sólido que em sua maior parte é Fe2O3 pode ser usado no processo de extração do ferro. Mas ainda assim, há o custo energético elevado. O processo exige correntes de cerca de 3,5x104 Ampere a 6 Volts. Portanto, a produção de 1 kg de alumínio consome aproximadamente 2 kg de óxido de alumínio, 0,6 kg de carbono anódico, 0,1 kg de criolita e exige 16 kWh de eletricidade. A grande demanda de energia no processo de produção favorece países com fontes de energia de baixo custo, mas não necessariamente os países que possuem essa energia barata são produtores da bauxita. É por todos esses motivos econômicos e ambientais que a reciclagem é crucial para o aumento do uso do alumínio. O processo de reciclagem utiliza apenas uma fração da energia necessária para extrair o alumínio da bauxita. Para você ter uma ideia, a reciclagem de uma lata de refrigerante, que é de alumínio, pode poupar eletricidade suficiente par aceder uma lâmpada de 100 watts com a qual você pode preparar suas aulas por quatro horas! Segundo dados da ABAL (Associação Brasileira do Alumínio) e Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade), o Brasil é campeão de reciclagem de latas de alumínio desde 2001, reciclando 97,9% das latas vendidas (números apurados em 2015) (Fonte: http://www.latasa.ind.br/pt/institucional/processo-de-fabricacao acesso em 03 de outubro 2019). Fonte: Latasa reciclagem acesso em outubro de 2020. O Brasil também recicla outros metais. Por exemplo, cada tonelada de aço reciclado representa uma economia de 1,5 toneladas de minério de ferro + 0,65 tonelada de cal + 0,3 toneladas de calcário (Fonte: http://cempre.org.br/artigo-publicacao/ficha-tecnica/id/1/latas-de-aco acesso em 03 de outubro de 2019). Há, na verdade, dois processos diferentes de reciclagem de aço no Brasil. Um voltado apenas para o reaproveitamento das latas de aço e outra, para uso das siderúrgicas em geral. Ao chegar na usina de fundição ou siderúrgica a sucata vai para fornos elétricos ou a oxigênio, aquecidos a 1550 oC, em média. Após atingir o ponto de fusão e chegar ao estado de líquido fumegante, o material é moldado em tarugos e placas metálicas, que serão cortados na forma de chapas de aço. A sucata demora somente um dia para ser reprocessada e transformada novamente em lâminas de aço usadas por vários setores industriais - das montadoras de http://www.latasa.ind.br/pt/institucional/processo-de-fabricacao http://cempre.org.br/artigo-publicacao/ficha-tecnica/id/1/latas-de-aco automóveis às fábricas de latinhas em conserva. O material pode ser reciclado infinitas vezes, sem causar perdas ou prejudicar a qualidade. 46,7% do total das latas de aço consumidas no Brasil, em 2015, foram recicladas, incluindo 82% de latas de aço para bebidas (latas de 2 peças). Cerca de 200 mil toneladas de latas de aço pós consumo retornaram para o processo de reciclagem no país. Este índice vem aumentando graças à ampliaçãode programas de coleta seletiva e educação ambiental. Frequentemente a Química é considerada a vilã da civilização e da modernidade, nosso papel de educador em ciências, independente para qual faixa etária, é também de desmistificar esse conceito e fazermos as conexões necessárias para que o aluno entenda que a química está presente em tudo nas nossas vidas e não apenas nas situações ruins. Mais que isso, que a ação está em nossas mãos! Ou seja, nós podemos optar por reciclar e por fazer o uso consciente da água, por exemplo, mas algo muitas vezes nos impede. Por outro lado, o estudante muitas vezes enxerga a química como uma disciplina maçante em que ele precisa memorizar fórmulas e nomes sem entender para que. Referências Geoff Rayner-Canham e Tina Overton, Química inorgânica descritiva, 5ª edição, LTC, Rio de Janeiro, 2015. Per Enghag, Encyclopedia of the Elements, WILEY-VCH, Weinheim, 2004.
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