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LEISHMANIOSES É um grupo de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania, que vão infectar células do sistema fagocitário mononuclear e produzir lesões na pele e mucosa- leishmaniose tegumentar e em órgãos internos-leishmaniose visceral. ❖ É causada por cerca de 20 diferentes espécies de Leishmania. Mas vamos falar das espécies mais comuns no continente americano, já já. ❖ A expansão da leishmaniose tegumentar está relacionada com intervenções do homem no meio ambiente para a criação de novos espaços habitacionais ou para a expansão da atividade econômica, que implicam desmatamentos e exploração de florestas primárias. Tais ações terminam por aumentar a exposição do homem ao vetor e por adaptar ciclos de transmissão a ambientes peridomésticos. ❖ As manifestações clínicas da LTA vão depender da espécie do parasito e da resposta imunitária do paciente. ❖ Nas pessoas capazes de “montar” uma resposta efetora mediada por linfócitos T, que é considerado o polo responsivo (reativo, hiperérgico) a doença se manifesta como leishmaniose cutânea (LC) ou leishmaniose mucocutânea (LMC). No Brasil, essas infecções predominam pelo L. braziliensis, mas claro, tem outros também ação! Já nas pessoas incapazes de montar resposta imunitária celular do tipo Th1(anergia) com produção de IFN-y, a infecção por L.amazonensis resulta na leishmaniose cutânea difusa(LCD). ❖ Esses 2 polos da doença que falei, o hiperérgico e o anérgico se diferem tanto nos aspectos clínicos e histopatológicos, quanto na resposta a terapêutica que vamos aprender. LEISHMANIOSE CUTÂNEA Leishmaniose cutânea localizada ❖ O tempo de incubação varia de duas semanas a seis meses. ❖ O local da picada se forma uma pápula que se transforma em nódulo e depois em úlcera. A formação de úlceras únicas ou múltiplas de forma confinada na derme, com a epiderme ulcerada tendem a aumentar de tamanho nas primeiras semanas e se torna crônica. Nas fases iniciais da infecção, há uma densidade de parasitos nas bordas da úlcera, com uma tendência a escassez nas úlceras crônicas. ❖ O comprometimento dos linfonodos ocorre em cerca de 75 a 95% dos casos ❖ Há uma forma de apresentação clínica peculiar, a forma bubônica, descrita em indivíduos infectados com L. braziliensis no estado do Ceará, caracterizada por grande linfonodomegalia. ➔ A leishmaniose cutâneo-disseminada é uma variação da forma cutânea e está relacionado com pacientes imunossuprimidos (AIDS) geralmente. Leishmaniose cutânea disseminada L. braziliensis -Provoca lesões conhecidas como úlcera-de-Bauru. As lesões primárias são ou únicas ou em pequena quantidade, mas elas têm uma dimensão grande, e por LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA Leishmaniose Patogenia Lembra da hanseníase? Bogliolo fala que o espectro de LTA é semelhante ao que vimos na hanseníase, ou seja, as lesões se correlacionam com a resposta imunitária. vezes tem presença de úlceras em forma de cratera. São mais frequentes em MMII.(em torno de 60% dos casos). -É a forma cutânea mais destrutiva entre as conhecidas. L. guyanensis -Se apresentam como úlceras únicas, tipo “cratera de lua” e se disseminam e dão origem a outras desse tipo no corpo, com úlceras múltiplas. -Causa também linfagite e linfadenopatia -Em alguns casos tem úlceras múltiplas, por causa de múltiplas picadas do inseto vetor. L. amazonenses -Produz lesões ulceradas simples e limitadas, com inúmeros parasitos na borda da lesão. L. laisonsi -É uma espécie recente, que produz úlceras cutâneas únicas, e não há evidência até então de um acometimento nasofaríngeo. LEISHMANIOSE CUTANEOMUCOSA/ MUCOCUTÂNEA Leishmaniose mucocutânea. ❖ Ela também é conhecida como nariz de tapir ou de anta. O agente etiológico é o L.braziliensis. ❖ Ocorre em até 4% dos indivíduos com lesão cutânea infectados com L.braziliensis. ❖ Em estudo feito em área endêmica no estado da Bahia, encontrou-se concomitância de lesões cutânea e mucosa em 2,7% de 220 pacientes sistematicamente examinados. ❖ As infecções nas fases iniciais ocorrem da forma que falei sobre a cutânea. ❖ Um dos aspectos típicos da doença causada por esse agente etiológico é a frequência que o parasito produz lesões destrutivas envolvendo mucosas e cartilagens, mesmo meses ou anos após as lesões iniciais. Esse processo é lento e de curso crônico. ❖ Essas lesões secundárias decorrem da extensão da lesão primária ou por disseminação hematogênica. ❖ As regiões mais afetadas são nariz, faringe, boca e laringe. O primeiro sinal do acometimento mucoso é causado por um eritema e discreto infiltrado inflamatório no septo nasal, que causa coriza constante e daí um processo ulcerativo. Depois atinge o vestíbulo, asas do nariz, assoalho da fossa nasal, palato mole e a úvula, e depois desce para faringe, e então pode comprometer a laringe e a traquéia. A destruição do septo nasal provoca uma mudança anatômica e aumento do órgão, e por isso forma esse nariz de anta que foi citado inicialmente. ❖ É interessante saber também que esse processo pode atingir os lábios e se propagar pela face. Isso tudo gera no paciente o seguinte quadro: dificuldade de respirar, falar e de comer. Nessa fase também são comuns complicações respiratórias devido infecções secundárias, podendo levar o paciente a óbito. ❖ Comprometimento da laringe pode causar disfonia, disfagia e mesmo morte por obstrução respiratória alta. LEISMANIOSE CUTÂNEA DIFUSA(LCD) Leishmaniose difusa ❖ É rara. Forma lesões difusas não ulceradas por toda a pele, com grande número de amastigotas. Essa forma clínica no Brasil é provocada pelo agente etiológico L. amazonensis. ❖ As lesões possuem alta multiplicidade de lesões, resultado de metástases do parasito de um sítio para outro através de vasos linfáticos ou pela migração de macrófagos parasitados. LEISHMANIOSE TEGUMENTAR DO VELHO MUNDO ❖ As lesões iniciais são semelhantes as da forma cutânea localizada, mas não ulceram e, em geral, começam na infância. As lesões completamente desenvolvidas apresentam-se eritematosas, como pápulas, nódulos, tubérculos, placas infiltradas ou infiltrações difusas no corpo; surgem na face, predominando em orelhas, regiões malares e nariz, mas podem aparecer também em membros inferiores e tronco, com tendência a distribuição simétrica. ❖ Essa leishmaniose esta relacionada a deficiência imunológica do paciente, com resposta imune celular deprimida. LEISHMANIA MAJOR ❖ Provoca a formação de úlceras indolores, como nas outras formas, quando as lesões não se complicam. ❖ As lesões evoluem rapidamente para uma úlcera úmida, e com frequências são múltiplas, especialmente em imigrantes não- imunes. LEISHMANIA AETHIOPICA ❖ Provoca lesões cutâneas simples e com menor frequência a leishmaniose oronasal. Mas, pode produzir a leishmaniose cutânea difusa. A maior parte da evolução das lesões é lenta, e a úlcera é tardia ou inexistente. ❖ Na forma LCD, há formação de pápulas ou nódulos múltiplos que se disseminam pela pele, especialmente na face e áreas expostas dos membros, que muitas vezes se assemelham a forma virchoviana da hanseníase. Não há ulceração e não afetam mucosas. A úlcera não cicatriza espontaneamente e tende a haver recaídas depois do tratamento. LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA ❖ É endêmica de áreas tropicais, causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida por meio de insetos hematófagos. ❖ É um grave problema de saúde pública, estando entre as 7 endemias de prioridade da OMS. IMAGINEM? Além disso, é uma doença muito negligenciada. ❖ Os reservatórios silvestres conhecidos para a L. (L.) chagasi são raposa (Lycalopox vetulus), no Nordeste do Brasil, e Cerdocion thous, na regiãoamazônica; para a L. (L.) infantum, lobo (Canis lupus), a raposa (Vulpis vulpis), chacal (Canisaureus) e cão-do-mato (Nyctereutis procyonoides). Nenhum reservatório silvestre foi identificado para a L. (L.) donovani. O cão doméstico (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção para os vetores. Os parasitos adotam diferentes estratégias para estabelecer a infecção, podendo gerar três tipos de resposta do hospedeiro: (1) destruição local e eliminação dos parasitos, com resolução do processo infeccioso; (2) resposta tecidual inflamatória com fagocitose dos parasitos e/ou persistência deles em forma latente; (3) disseminação dos parasitos para órgãos ricos em células do sistema fagocitário mononuclear (SFM), sendo fatores de risco estado imunitário, associação com outras doenças, infecções respiratórias, desnutrição etc. ❖ A multiplicação dos parasitos dentro dos macrófagos depende de mecanismo imune regulatórios, como a capacidade da célula prevenir apoptose, e estimular o complexo maior de histocompatilidade II(MHCII). ❖ Quando não tratada, é geralmente letal, mas nos doentes tratados a letalidade é cerca de 6%. ❖ Ela é caracterizada pela incapacidade do macrófago destruir o amastigotas. Observa-se níveis altos de IL-10. Alterações esplênicas: são alterações no baço. É o achado mais importante e frequente. Alterações hepáticas: a Hepatomegalia é marcante também. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer Alterações dos linfonodos: geralmente estão aumentados Alterações pulmonares: pneumotite intersticial, com espessamento dos septos pulmonares, devido a proliferação das células septais, muitas vezes com fibrose septal, e de linfócitos e células plasmáticas. Alguns pacientes apresentam principal sintoma a tosse seca. Alterações aparelho digestivo: excessiva proliferação de células, especialmente no jejuno e íleo, com presença de amastigotas. Também tem edema nas vilosidades, mas a presença de mucosa e vasos linfático sem alterações. QUADRO CLÍNICO Se desenvolve abruptamente ou gradualmente. Os sinais sistêmicos típicos são febre intermitente, mucosas pálidas... Pacientes portadores de HIV: o óbito pode ocorrer antes dos sintomas. Os mais frequentes são hemorragia gástrica e icterícia. ❖ Forma assintomática • Paciente pode apresentar cura espontânea ou manter o parasito, sem evolução clínica. • Febre baixa recorrente • Tosse seca • Diarréia • Sudorese • Prostração ❖ Forma aguda • Duração inferior a dois meses em geral, são os sintomas iniciais. • Febre alta • Palidez de mucosas • Anticorpos IgM e IgG específicos ❖ Forma sintomática crônica ou Calazar clássico • Período de incubação de dois a seis meses. • É uma forma de evolução prolongada, e se caracteriza por febre irregular, associada ao agravo dos sintomas de forma contínua. O paciente emagrece progressivamente, gerando uma desnutrição proteica-calórico. Também tem o aumento do abdome. É comum reclamações sobre edema generalizado, dispnéia, cefaléia, dores musculares, retardo da puberdade. • Surge em indivíduos com coinfecção LV/HIV (a LV é infecção oportunista), transplantados ou imunossuprimidos em virtude de tratamento por neoplasias. Nesses casos, as manifestações clínicas são atípicas, como ausência de esplenomegalia, comprometimento dos pulmões com intenso parasitismo e falta de resposta ao tratamento. ❖ Lesões em órgãos e tecidos • Moléculas de superficie de leishmanias como LPG, gp63 e glicoproteínas do glicocálix são as primeiras que estimulam a imunidade inata. O hospedeiro reconhece a agressão por meio de receptores Toll e após isso há produção de TNF-a. Há também resposta das células NK que produzem IFN-y. Esta citocina é padrão ouro para combate da leishmaniose pois ativa macrófagos a produzirem radicais livres de O2 e NO que matam parasitas internalizados. • A imunidade adaptativa vai agir com respostas do tipo Th1 através de IL1, IL-18 e IL-23 e TNF-a para destruição das formas amastigotas. Haverá também resposta tipo Th2 com liberação de IL-3 que reduz a expressão de IFN-y e reduz ativação de macrófagos o que tem relação com suscetibilidade a infecção. O interstício dos diferentes órgãos participa também no processo, com modificações de seus componentes celulares, fibrilares e da matriz extracelular, que se associam a infiltrado inflamatório e reatividade vascular. Fígado Pode ocorrer de diferentes formas como: a) Padrão típico: Ocorre na forma disseminada sintomática e grave da LV. O órgão está aumentado de volume e ocupa grande parte da cavidade abdominal, deslocando outras vísceras. Nos lóbulos haverão macrófagos fagocitando o parasito e os hepatócitos mostram esteatose difusa (gordura excessiva). Há também expansão dos espaços porta e hipertrofia das células de Kupffer. b) Padrão nodular: há formação de agregados de células mononucleadas com pequenos números de amastigotas fagocitados que antes estavam distribuídos aleatoriamente nos lóbulos. c) Padrão fibrinogênico: focos múltiplos de fibrose intralobular, onde há IgM, igG, IgA e material antigênico de leishmanias. Baço A esplenomegalia resulta da reatividade do sistema fagocitário mononuclear e de uma congestão dos sinusoides esplênicos com muitos macrófagos densamente parasitados por amastigotas. O baço vai ter um aumento acentuado de volume e espessamento da cápsula de revestimento. A polpa vermelha fica congestionada. Medula óssea Hipocelularidade da série granulocítica e bloqueio de maturação de granulócitos da linhagem neutrofílica, correlacionando-se com a neutropenia periférica. A anemia resulta de bloqueio da produção medular, de sequestro esplênico e de hemólise imunitária. ❖ Forma plenamente manifesta em pacientes imunocomprometidos:
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