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1 Equipe técnica do curso “Pesquisar na Escola: a investigação científica na Educação Básica” Coordenação Danielle Nicolodelli Tenfen – UFFS Elsa Maria Antonia Franco Rios – PTI Paraguai Élsio José Corá – UFFS Fabiano Pavoni Nogueira – PTI Brasil Miguel Ángel Lopes – UNAM Rossanna Britez – PTI Paraguai Silvia Carla Conceição Massagli – UFFS Professores Pesquisadores Bernardo Sant’anna Médice Firme – UFES Jaqueline Mohl – UFRGS Luís Eduardo Alvorado Prada – UNILA Wagner Tenfen – UFFS Professores Formadores Adriano Machado – UNICENTRO Alexandre Manoel dos Santos – UFFS Aline Portella Biscaino – UFFS Anisio Lasievicz – Parque da Ciência/SEED-PR Débora Gonçales Sant’Ana – UEM Eliana Aparecida Silicz Bueno - UEL Jaime da Costa Cedran – UTFPR Jesus Henrique Segatini – PTI Brasil Larissa Renata de Oliveira Bianchi – UEM Marcelo Alves de Carvalho - UEL Marcos Rocha – Parque da Ciência/SEED-PR Roberta Paulert – UFPR Sandro Aparecido Santos – UNICENTRO Silvia Alves dos Santos – UEL Tutores Adriane Elisa Glasser Aline Cristina da Silva Oliveira Aline Rosa Trevisan André Luiz Schmidt da Silva Bernardete Kerniski Carme Bertosso de Camargo Carolina Werneck Bortolanza Claudia Gonçalves Machado Delton Adriano Gomes Dennis Donato Piasecki Elisabete de Lima Endiamara Magda Segala Shigemori Érica Dias de Jesus Fábio José Bianchi Flávia Roberta de Oliveira Gabriela Kaiana Ferreira Gracieli Marhet Seferin Hugo Andrés Ruiz Flóres Irene Rodrigues Dantas Ivan Lucas Borghezan Faust Ivonete Terezinha Tremea Plein João Ricardo Ferrer Juliane Maria Bergamin Bocardi Leidi Cecilia Friedrich Lillian Vieira Leonel Luciane Ribeiro Luiz Cesar Cichoski Maiara Cristina Marafon Marco Antonio Sant’Ana Nathalia Cristina Gonzales Ribeiro Regiane Sceziwdrovski Bucher Rosangela Alda Rosemari Pilati Silvia Zaros Lessa Suelen Aparecida Felicetti Vera Maria Rossignol Wilson Carvalho Apoio técnico Joel Bavaresco Kácia Pavlak Wagner Tenfen Danielle Nicolodelli Tenfen Elsio José Corá (Organizadores) Tubarão-SC 2018 © 2018 by Wagner Tenfen, Danielle Nicolodelli Tenfen e Elsio José Corá © Gráfica e Editora Copiart Equipe Técnica sob Coordenação da Gráfica e Editora Copiart Revisão ortográfica e normativa Michela Silva Moreira Diagramação e capa Rita Motta Impressão Gráfica e Editora Copiart 1ª Edição – 2018 – Tubarão-SC Tradução e reprodução proibidas, total ou parcialmente, conforme a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Impresso no Brasil / Printed in Brazil APRESENTAÇÃO Caros leitores, Desde 2012 acontece, no Estado do Paraná, na cidade de Foz do Iguaçu, a chamada “Feira de Inovação das Ciências e Engenharias” – tam- bém conhecida como FICIENCIAS. Desta, participam professores e estu- dantes de escolas Brasileiras, Paraguaias e Argentinas, por meio da submis- são de trabalhos de pesquisa inovadores desenvolvidos na Educação Básica. Por intermédio da Fundação Parque Tecnológico Itaipu, integram-se à organização do evento professores, técnicos e pesquisadores de diversas instituições públicas estaduais e federais, quais sejam: Universidade Fede- ral da Fronteira Sul (UFFS), Fundação Parque Tecnológico Itaipu – Brasil, Fundação Parque Tecnológico Itaipu – Paraguai, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Estadual do Cen- tro-Oeste (UNICENTRO), Universidade Nacional de Missiones (UNAM) – Argentina, Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Secretaria do Esta- do da Educação do Paraná (SEED-PR). Ao analisar os trabalhos apresentados na FICIENCIAS em 2012, 2013 e 2014, notou-se que professores orientadores e estudantes encontravam difi- culdades na operacionaliação da escrita, na definição precisa de problemas de pesquisa, sua fundamentação em referenciais teóricos atuais, e, em especial, desconhecimento das metodologias de investigação científica. Diante desse cenário, comum aos três países, entendeu-se como in- dispensável organizar e ofertar um curso de formação continuada para os professores, com ênfase na temática da iniciação científica. O curso, inti- tulado “Pesquisar na Escola: a investigação científica na Educação Básica”, abordou conhecimentos acerca da pesquisa tais como seus fundamentos, objetos, métodos e formas de divulgação, no intuito de contribuir com a autonomia desses professores na orientação de práticas de Iniciação Cien- tífica nas escolas. O curso foi oferecido a professores dos três países envolvidos na fei- ra e aberto a redes públicas e privadas. Sua execução somente foi possível com o apoio de todas as instituições envolvidas bem como do Ministério da Educação (MEC) por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Edu- cacional (FNDE). “Pesquisar na Escola” contou com 1.077 cursistas brasileiros, 203 argentinos e 55 paraguaios distribuídos em 33 turmas, dentre as quais 10 bilíngues. As atividades foram desenvolvidas em um ambiente virtual de ensino e aprendizagem (Moodle), o qual foi disponibilizado pela Fundação Parque Tecnológico Itaipu, peça fundamental do projeto. O curso contou com um total de 34 tutores, 12 formadores, além de uma equipe de coorde- nação, uma equipe técnica responsável pelo ambiente virtual e tradutores dos materiais didáticos para o espanhol. Este livro consiste em um compêndio dos materiais didáticos que ser- viram de base para o curso, cujos autores são relacionados no início de cada capítulo. São cinco textos, cada um correspondente a um dos módulos de en- sino do curso. O papel deste livro consiste em apresentar para o público geral estes materiais como fonte de inspiração para o desenvolvimento de outras atividades que enfatizem a investigação científica na Educação Básica, des- lumbrando o preparo de uma possível futura comunidade científica. Os organizadores Sumário Módulo 1 – Ciência e os tipos de conhecimento 1.1 A Ciência .....................................................................................................11 1.2 Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS(A)) ............................................12 1.3 Natureza da Ciência e método científico ................................................15 1.4 Tipos de Conhecimento ............................................................................20 Referências ........................................................................................................22 Módulo 2 – a pesquisa científica 2.1 Introdução ...................................................................................................27 2.2 O que é pesquisa? .......................................................................................28 2.3 Classificação das pesquisas .......................................................................30 Referências ........................................................................................................37 Módulo 3 – O trabalho com projetos de pesquisa científica 3.1 Como montar seu projeto de pesquisa? ..................................................41 3.2 O passo a passo do projeto de pesquisa ..................................................42 3.3 Fontes de pesquisa e gênero textual .........................................................48 3.4 Execução do trabalho (caderno de pesquisa) .........................................58 3.5 Análise e interpretação de dados .............................................................60 3.6 Elaboração de relatório final (artigos, monografias entre outros) .......72 Referências ........................................................................................................97 Módulo 4 – Divulgação do Conhecimento Científico 4.1 Apresentação .............................................................................................103 4.2 Divulgação do trabalho científico ..........................................................105 4.3 Divulgação científica na escola ...............................................................111 Referências......................................................................................................117 Módulo 5 – Aplicação de Conhecimentos – Prática 5.1 Como estimular estudantes para a formação de grupos de pesquisa na escola de tempo integral .....................................................................121 5.2 Orientação de como criar os grupos de pesquisa ................................123 5.3 Relatório sobre a orientação do grupo de pesquisa .............................125 Referências ......................................................................................................139 Currículo resumido dos autores e organizadores ......................................143 A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 9 MóDulO 1 CiênCia e os tipos de ConheCimento aline portella BisCaíno alexandre manoel dos santos 10 Pesquisar na Escola A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 11 1.1 A Ciência A palavra Ciência tem sua origem no latim, “scientia”, que significa conhecimento, e, por algum tempo, esteve relacionada ao poder, como na frase “Scientia potentia est” que pode ser traduzida como “Conhecimento é poder”. Atualmente entende-se que, quando se fala em “Ciência” ou mesmo em “conhecimento” são inúmeras as definições possíveis, as quais variam de acordo com o contexto histórico, cultural, filosófico, social etc. Logo, nossa primeira questão é o que é Ciência? O que é necessário para que um conhe- cimento seja considerado científico? Podemos estabelecer regras gerais que classifiquem o conhecimento em científico ou não? A Ciência, de modo geral, pode ser considerada construção do Homem, para o Homem, desde os tempos mais remotos da Civilização Hu- mana: assim, ela é história e influencia continuamente a sua própria histó- ria e a História Humana. Genericamente, toma-se a significação do termo “Ciência” como sendo aquela relativa a uma descrição de uma coleção com- pleta, de um corpo dinâmico, complexo e amplamente constituído, de todos os conhecimentos produzidos e adquiridos ao longo dos tempos. Mais do que dar respostas completas e estáticas, pretendemos refle- tir e discutir algumas questões inerentes ao trabalho científico e que possi- bilitam uma visão mais adequada não só da Ciência em si mas também da sua relação com a Tecnologia e a Sociedade. 12 Pesquisar na Escola 1.2 Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS(A)) Quando falamos em CTS, referimo-nos a um movimento que co- meçou, principalmente, nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970, mas que também possui uma segunda vertente, europeia, e que busca es- tudar e ampliar a relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Duas obras foram fundamentais para um olhar mais crítico sobre a relação en- tre Ciência e Tecnologia, a saber: A estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn, e Silent Spring, de Rachel Carsons (AULER; BAZZO, 2001). Nesse contexto, no qual algumas pessoas começaram a questio- nar se necessariamente mais Ciência e mais Tecnologia resultavam em bem-estar social, surge a necessidade de repensar a participação da socie- dade nas decisões relativas à Ciência e à Tecnologia. Todo conhecimento científico é produzido para o bem da sociedade? Tudo que é cientifica- mente comprovado nos faz bem? A reivindicação da participação da sociedade nas decisões relativas à Ciência e uma democratização do conhecimento resultou em uma mudan- ça curricular que iniciou por países como EUA, Inglaterra e Países Baixos (AULER; BAZZO, 2001). Em estudos como de Luján Lopes et al. (1996), foi possível identifi- car o que se pode chamar de uma visão linear dessa relação CTS, destacada também por outros autores como “Modelo Tradicional”. De acordo com A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 13 essa visão: desenvolvimento científico gera desenvolvimento tecnológico que gera desenvolvimento econômico que gera, por último, desenvolvi- mento social. Neste modelo, a Ciência possui um caráter salvacionista, ou seja, é entendida como capaz de responder às necessidades e problemas da sociedade sem implicações negativas. A Tecnologia, por sua vez, consiste pura e simplesmente na aplicação da Ciência, e permite o desenvolvimento econômico ao possibilitar a construção de máquinas para indústria, de ins- trumentos que facilitam o trabalho do homem, aumentam a produtividade, reduzem os custos etc. Contudo, essa visão linear ignora, por exemplo, a di- mensão ambiental representada por alguns pesquisadores pelo “A” na sigla CTSAe por outros, implícita no contexto da Sociedade e no qual o homem atuou desde os primórdios da vida na Terra. Porém, com sinais claros de que os recursos ambientais estão se es- gotando, com a emissão de gases poluentes, com o aquecimento global, o olhar humano está se voltando mais para a Natureza, e a relação CTS(A) torna-se uma discussão cada vez mais necessária e urgente. No “Modelo Tradicional” de se pensar o desenvolvimento científico, tecnológico e a im- plicação destes na sociedade e no ambiente, o papel do cientista é de um sujeito objetivo, imparcial e que se mobiliza em função do bem da hu- manidade (AULER; DELIZOICOV, 2006). O esquema seguinte apresenta o Modelo tradicional/linear de progresso da Ciência, no qual DC repre- senta Desenvolvimento da Ciência; DT, Desenvolvimento Tecnológico; DE, Desenvolvimento Econômico e DS, Desenvolvimento Social. DC → DT → DE → DS No Brasil, a pesquisa de Amorim (1995), fixando-se na parte da Sociedade (S), destacou que professores entendem a Sociedade como o que ocorre fora do ambiente acadêmico e escolar. Nessa visão, a prática social não adentra a escola e o aluno passa a atuar (prática) na Sociedade 14 Pesquisar na Escola após adquirir um conjunto de conhecimentos (teorias) no ambiente escolar. Portanto, não existe uma troca entre teoria e prática, mas uma via de mão única, da teoria estudada na escola para a prática na vida cotidiana. A partir das restrições e limitações da relação CTS descrita (visão linear) e pela necessidade de repensar a democratização do conhecimento, da tecnologia e a preservação do ser humano e do ambiente como focos de múltiplas correntes ideológicas, o estudo CTS corresponde a um campo bem consolidado, heterogêneo e interdisciplinar. Além disso, “Ciência” e “Sociedade” mantêm entre si uma relação sistêmica, orgânica, indissociável, de dualidade, de mútua influência, no espaço e no tempo, de tal forma que ao se descrever a primeira também se faz referência à segunda, e vice-versa. Logo, pensar a Ciência é pensar a Sociedade, e a relação destas com o am- biente e com a Tecnologia. Em uma visão crítica, portanto, o CTS busca compreender a di- mensão social da Ciência e da Tecnologia, considerando desde os aspec- tos que dão origem ao desenvolvimento científico e tecnológico (interes- se econômico, valores morais, pressões políticas etc.) até as suas conse- quências sociais e ambientais (cultura, política, economia etc.). No âm- bito do Ensino ainda representa um desafio para professores e alunos, pois tem como base a interdisciplinaridade e ocorre, muitas vezes, de maneira isolada e em projetos específicos. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 15 1.3 Natureza da Ciência e método científico Considerando como pano de fundo a discussão sobre a relação entre C-T-S, voltemos às indagações iniciais para pensar a respeito da Ciência e de sua Natureza. Durante o século XVII, como consequência da Revolução Cientí- fica ficou popular o pensamento de que o conhecimento científico é um conhecimento provado e a Ciência tem suas leis e teorias baseadas em ob- servações e experimentos, ou seja, possui um aspecto puramente objeti- vo, no qual não há espaço para suposições e opiniões (CHALMERS, 1993). O conhecimento, em linhas gerais, vinha da natureza e aos cientistas cabia a função de interpretá-los através da observação e experimentação. Essa era a metodologia científica defendida por Francis Bacon e muitosde seus contemporâneos. A respeito dessa visão de Ciência e de método científico, foram construídas algumas críticas que acabaram por enfraquecê-la, dentre elas: a) a de que o princípio da indução – segundo o qual se parte de situações mais específicas e, desde que certas condições sejam sa- tisfeitas, são feitas generalizações – não pode ser justificado mera- mente por lógica; e 16 Pesquisar na Escola b) a observação não é completamente livre de uma teoria como se su- punha até então – para exemplificar isso, pode-se pensar em figuras de “Gestalt”1. Esta área da psicologia prevê que pessoas observem ima- gens diferentes a partir de uma mesma figura apresentada (INSTITU- TO GESTALT DE SãO PAULO, 2001). Não iremos discutir aqui os aspectos psicológicos envolvidos, mas utilizamo-nos deste fato para exemplificar a possibilidade de observações diferentes por indivíduos diferentes dentro de um mesmo contexto científico e que corresponde a uma fraqueza do método defendido por Francis Bacon2. Um segundo método científico difundido e apoiado, principalmen- te, na lógica foi o chamado “Falsificacionismo”, cujo principal defensor foi Karl Popper. Neste, admite-se que a observação é orientada pela teoria e, uma vez encontrada, esta é entendida como uma representação espe- culativa criada pelos sujeitos a fim de dar respostas aos problemas que se apresentam; porém, não ganha o mérito de verdade ou provavelmen- te verdade por se tratar de formulação baseada em observações e experi- mentos. Em um segundo momento, essas “criações” devem ser testadas e, se resistirem aos mais variados experimentos sendo úteis como respostas aos problemas que forem se desenvolvendo, ganham o mérito de teorias (CHALMERS, 1993). Para o falsificacionista, uma boa lei ou teoria cien- tífica é melhor quanto mais falsificável ela for. A seguir, listamos algumas proposições que são consideradas “falsificáveis” (CHALMERS, 1993, p. 66): 1. Nunca chove às quartas-feiras. 2. Todas as substâncias se expandem quando aquecidas. 3. Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da super- fície da Terra, caem diretamente para baixo se não forem impedidos. 4. Quando um raio de luz é refletido de um espelho plano, o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. 1 Obtenha mais acessando estes links: <http://www.gestaltsp.com.br>; <https://www. youtube.com/watch?v=kDaE3I3S8qY>. 2 Veja este vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=JMJXvsCLu6>. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 17 Da mesma forma que no modelo anterior, o Falsificacionismo tam- bém possui suas limitações. Segundo Chalmers (1993, p. 90), “as afirmações do falsificacionista são seriamente solapadas pelo fato de que as proposi- ções de observação dependem da teoria e são falíveis”. Isto pode ser visto imediatamente quando se lembra da particularidade lógica invocada pelo falsificacionista em apoio à sua afirmação. Se são dadas proposições de ob- servação verdadeiras, então é possível deduzir logicamente a falsidade de certas proposições de observação, enquanto não é possível deduzir a verda- de de qualquer proposição de observação. Esta não é uma questão excep- cional, mas está baseada na suposição de que proposições de observação perfeitamente seguras estão disponíveis. Mas elas não estão [...]. Todas as proposições de obser- vação são falíveis. Consequentemente, se uma afirma- ção universal ou um complexo de afirmações universais constituindo uma teoria, ou parte de uma teoria, entra em choque com alguma proposição de observação, ela pode estar errada. [...] Uma proposição de observação falível pode ser rejeitada e a teoria falível com a qual ela se choca ser mantida (CHALMERS, 1993, p. 90). Nas Ciências, temos exemplos múltiplos que refletem as limitações do Falsificacionismo que foi explicado. E, mesmo que Popper conhecesse tais limitações e propusesse defesas, isso não foi suficiente para que sua fi- losofia se mantivesse forte. A partir das críticas feitas ao Falsificacionismo começa-se a pensar a Ciência como uma estrutura mais complexa, inicialmente com Lakatos e em um segundo momento com Thomas Kuhn. Chalmers (1993, p. 109), ao se referir ao indutivismo e ao falsifica- cionismo, afirma: Ao se concentrarem nas relações entre teorias e nas pro- posições de observações individuais ou de conjuntos, 18 Pesquisar na Escola eles deixam de levar em conta as complexidades das principais teorias científicas. Nem a ênfase indutivista ingênua na derivação indutiva das teorias da observa- ção, nem o esquema falsificacionista de conjecturas e falsificações são capazes de produzir uma caracterização adequada da gênese e crescimento de teorias realistica- mente complexas. Thomas Kuhn, então em 1962, publica o seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, ao qual já nos referimos anteriormente neste texto. Kuhn, fundamentalmente apresenta um aspecto revolucionário ao desen- volvimento da Ciência, ou seja, o progresso científico ocorre a partir da ruptura, do abandono de uma estrutura teórica e a sua substituição por outra, incompatível com a primeira (CHALMERS, 1993). Para Kuhn, a Ciência possui momentos de “Ciência Normal” no qual um “paradigma” impera sobre os demais e responde de eficaz a maioria dos problemas tratados pelas Ciências. As perguntas ou problemas que são res- pondidos por este paradigma são entendidos como “anomalias”. Uma crise dentro do desenvolvimento científico ocorre quando um novo paradigma aparece e em oposição ao primeiro começa a conquistar mais adeptos. Está instalado o momento que Thomas Kuhn relata como “Crise” ou “Revolução Científica” e na qual os cientistas abandonam um paradigma e o substituem por outro até que se estabeleça um novo período de “Ciência Normal”. Figura 1 – Esquema do desenvolvimento científico defendido por T. Kuhn Fonte: Elaborada pelos autores. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 19 Além dos epistemólogos citados, podemos elencar outros, como Hume, Lakatos, Fleck, Bachelard, e ainda alguns que podem ser conside- rados mais radicais, como é o caso de Paul Feyerabend que criticava a exis- tência de um método científico que viesse a definir um conhecimento como Ciência e outro não. Após a publicação de seu livro Contra o Método, pas- sou a ser considerado por muitos como um “anarquista espistemológico” (FEYERABEND, 1977). Diante do exposto, podemos entender que o método científico pos- sui um caráter plural, ou seja, não há um único método científico cor- reto e infalível para produzir conhecimento científico. Isso não significa que não existam métodos para se fazer ciência. Muito pelo contrário, temos de admitir uma diversidade de métodos válida e importante de acordo com o contexto e objetivo da investigação científica que se propõe. Aspectos relacionados à pesquisa científica e à metodologia serão discutidos em um módulo seguinte. 20 Pesquisar na Escola 1.4 Tipos de Conhecimento Diariamente convivemos com conhecimentos variados, criados e le- gitimados das mais diferentes formas e que são utilizados, muitas vezes, de modo inconsciente pela sociedade. Por exemplo, não é difícil encontrarmos pessoas que, a partir de aspectos relacionados ao pôr do sol ou ao número de estrelas aparentes, suponham a previsão do tempo para o dia seguinte. Também, é comum a indicação de ervas naturais para chás quando surge alguma dor ou outro sintoma sem a necessidade de uma prescrição médi- ca ou de outro profissional da área da saúde. Esse tipo de conhecimento, construído e repassado no âmbito das experiências diárias e a partir das gerações, tem tanto valor quanto o conhecimento construído e legitimado nas universidades, nos centros científicos e no meio acadêmico. O conhecimento científico carrega ainda hoje uma postura de auto- ridade não só frente aos demais conhecimentos mas também na sua própria construção, na qual ainda vemos resquícios de uma visão puramente empi- rista e que ressalta a questão da experimentaçãoe da observação como foco para o desenvolvimento científico. Assim, lemos e ouvimos diariamente ex- pressões como “comprovado cientificamente” como garantia de qualidade de um produto, assim como no meio acadêmico alguns acreditam que a A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 21 natureza se manifesta e cabe aos cientistas, possuidores de uma capacidade diferenciada dos demais cidadãos, ler os sinais indicados. Contudo, não podemos afirmar qual conhecimento tem mais valor ou é melhor, pois são produzidos em contextos diferentes, possuem carac- terísticas específicas quanto à forma de divulgação e principalmente, o “co- nhecimento científico” (produzido no âmbito acadêmico) tem um caráter de sistematização, o qual não é necessário ao conhecimento construído nas experiências cotidianas. Este último, referenciado como “conhecimen- to de senso comum” pode ser utilizado no contexto correto e produzir resposta esperada para o problema enfrentado tanto quanto o conheci- mento científico. Por exemplo, muitos agricultores sabem o momento certo de preparar a terra, plantar, colher, sem que necessariamente tenham um conhecimento sistemático e letrado (MARCONI; LAKATOS, 2008). São também apontados como tipos de conhecimentos: conhecimen- to filosófico e conhecimento religioso. Este último, como todo conheci- mento, nasce na necessidade natural de buscar explicações para nossas dú- vidas; porém, apoia-se em aspectos sobrenaturais. São exemplos clássicos desse tipo de conhecimento a Mitologia e as religiões monoteístas como Islamismo, Cristianismo e Judaísmo. O conhecimento filosófico nasce nas indagações dos Gregos a partir do que é “verdade” (CHAUÍ, 2005), o “bem e o mal”, a “ética”, entre outras reflexões. Surgem nomes e escolas que se dividem em: antes de Sócrates e depois de Sócrates. Entre os pré-socráticos, temos: Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito, Anaxágora, Zenão, Demócrito, entre outros. Os posteriores a Sócrates são: Platão, Sócrates e Aristóteles (CHASSOT, 2004). Os conhecimentos podem ser sistematizados no quadro a seguir: 22 Pesquisar na Escola Quadro 1 – Caracterização dos conhecimentos Conhecimento popular ou de senso comum Conhecimento Científico Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso - Valorativo - Reflexivo - Assistemático - Verificável - Falível - Inexato - Real (factual) - Contingente - Sistemático - Verificável - Falível - Aprox. exato - Valorativo - Racional - Sistemático - Não verificável - Infalível - Exato - Valorativo - Inspiracional - Sistemático - Não verificável - Infalível - Exato Fonte: Adaptado de Trujillo Ferrari (1974, p. 1). Referências AMORIM, A. C. O ensino de Biologia e as relações entre Ciência/Tec- nologia/Sociedade: o que dizem os professores e o currículo do Ensino Médio?. 1995. 197 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995. AULER, D.; DELIZOICOV, D. Ciência, Tecnologia, Sociedade: relações es- tabelecidas por professores de ciências. Revista electrónica de enseñanza de las ciencias, v. 5, n. 2, p. 337-355, 2006. ______.; BAZZO, W. A. Reflexões para implementação do movimento CTS no contexto educacional brasileiro. Ciência & Educação, v. 7, n. 1, p. 1-13, 2001. BIRDBOX STUDIO. Wildebeest from Birdbox Studio. 2012. 1 post (59 s). Postado em: 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=JMJXvsCLu6s>. Acesso em: 11 mar. 2015.CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal?. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 23 CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. 2. ed. São Paulo: Editora Mo- derna, 2004. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005. FEYERABEND, P. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves Edi- tora, 1977. GESTALT. 2012. 1 post (5 min 52 s). Postado em: 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kDaE3I3S8qY>. Acesso em: 26 mar. 2015. INSTITUTO GESTALT DE SãO PAULO. [s. d.]. Disponível em: <http:// www.gestaltsp.com.br>. Acesso em: 26 mar. 2015. ______. [s. d.]. Disponível em: <http://www.gestaltsp.com.br/o-que-e-ges- talt>. Acesso em: 24 fev. 2015. LUJÁN LOPES, J. L. et al. Ciencia, Tecnologia y Sociedad: uma introduc- ción al estúdio social de la ciência y la tecnologia. Madrid: TECNOS, 1996. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia cien- tífica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. OLIVEIRA, J. C. “Vocês sabem porque vocês viram!”: reflexão sobre modos de autoridade do conhecimento. Revista Antropologia, São Paulo v. 55, n. 1, p. 51-74, 2012. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/ra/article/ view/46959/66694>. Acesso em: 24 fev. 2015.TRUJILLO FERRARI, A. Me- todologia da ciência. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 25 MóDulO 2 a pesquisa CientífiCa Jaime da Costa Cedran A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 27 2.1 Introdução No módulo anterior, fizemos uma reflexão mais ampla sobre o que é a Ciência, sobre a diversidade de métodos científicos, e os diferentes tipos de conhecimento. Discutimos a relação entre Ciência, Tecnologia, Socie- dade. Reconhecemos uma visão linear, segundo a qual mais ciência leva a mais desenvolvimento tecnológico, sempre tendo em vista o bem-estar social. Deparamo-nos com as limitações dessa visão; por isso, construímos uma nova, mais complexa, a qual considera as consequências sociais e am- bientais da produção de conhecimentos científicos e tecnológicos, e busca fragilizar a visão salvacionista. Neste módulo, discutiremos de maneira mais específica o que é a pesquisa científica, quais são as classificações possíveis, e como elas impac- tam nos métodos escolhidos para resolver problemas científicos. 28 Pesquisar na Escola 2.2 O que é pesquisa? O termo pesquisa é bastante amplo e polissêmico para que possa ser definido de maneira definitiva. Entretanto para que nosso objetivo seja alcançado, apresentamos a seguir uma possível definição. Segundo Gil (2010, p. 1) pesquisa é o “[...] procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos”. Assim, a pesquisa, é desenvolvida através de métodos e técnicas de investigação científica, objetivando solucionar os problemas propostos. Cabe, nesse instante, refletir sobre o que seria um problema a ser investigado no âmbito da escola. No decorrer do texto, discutiremos possíveis métodos que podem nos conduzir a respostas. Para a realização de uma pesquisa é necessário confrontar os da- dos, as informações coletadas e conhecimento teórico sobre determinado assunto. O êxito da pesquisa depende do pesquisador, de sua curiosidade, criatividade, atitude autocorretiva, sensibilidade social, perseverança, paciência, confiança, dentre outros aspectos (GIL, 2002, p. 18). Se en- tendemos ser possível produzir pesquisa científica na Educação Básica, A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 29 então precisamos, inicialmente, promover em nossos estudantes habili- dades como essas. Toda pesquisa inicia-se com a elaboração de um projeto de pesqui- sa que irá mapear, de forma sistemática, como realizar a pesquisa, ou seja, o caminho a ser percorrido durante a pesquisa, a fim de que as ações sejam planejadas, evitando assim, que se perca tempo realizando ações des- necessárias para o êxito da investigação. 30 Pesquisar na Escola 2.3 Classificação das pesquisas As pesquisas podem ser classificadas de diferentes maneiras, e, para ser coerente, é necessário definir previamente o critério adotado para a clas- sificação. Segundo Gil (2010, p. 26) “[...] é possível estabelecer múltiplos sistemas de classificação e defini-las (as pesquisas) segundo a área do co- nhecimento, a finalidade, o nível de explicação e os métodos adotados”. 2.3.1 Classificação das Pesquisas Segundo Área do Conhecimento De acordo com o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, citadopor Gil (2010, p. 26): “[...] as pesquisas são classificadas em sete grandes áreas: 1. Ciências Exatas e da Terra; 2. Ciências Biológicas; 3. Engenharias; 4. Ciências da Saúde; 5. Ciências Agrárias; 6. Ciências Sociais Aplicadas; e 7. Ciências Humanas”. Cada uma dessas áreas, por sua vez, é subdividida em subáreas, que são estabelecidas em função dos objetos de estudos e dos procedimentos metodológicos. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 31 2.3.2 Classificação das Pesquisas Segundo sua Finalidade ou Natureza Segundo Gil (2010, p. 26), “[...] uma das maneiras mais tradicionais de classificação das pesquisas é a que estabelece duas grandes categorias, denominadas de pesquisa básica e pesquisa aplicada”. Pesquisa Básica: reúne estudos que tem como propósito preencher uma lacuna no conhecimento. Ou seja, objetiva gerar conhecimen- tos novos úteis para o avanço da ciência sem, necessariamente, apli- cação prática prevista. Pesquisa Aplicada: abrange estudos elaborados com a finalidade de resolver problemas identificados no âmbito das sociedades em que os pesquisadores vivem. Ou seja, objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos. Em decorrência da ampliação da quantidade de pesquisas, tanto bá- sicas quanto aplicadas, vem surgindo novos sistemas de classificação. Um desses sistemas é proposto pela Adelaide University (2008), o qual, confor- me Gil (2010, p. 26), assim se subdivide: Pesquisa básica pura: pesquisas destinadas unicamente à ampliação do conhecimento, sem qualquer preocupação com suas consequências. Pesquisa básica estratégica: pesquisas voltadas à aquisição de no- vos conhecimentos a amplas áreas com vistas à solução de reconhe- cidos problemas práticos. Pesquisa aplicada: Pesquisas voltadas à aquisição de conhecimentos com vistas à aplicação em uma situação específica. 32 Pesquisar na Escola Desenvolvimento experimental: Trabalho sistemático, que utiliza conhecimentos derivados da pesquisa ou experiência prática com vistas à produção de novos materiais, equipamentos, políticas e comportamentos, ou à instalação ou melhoria de novos sistemas de serviços. 2.3.3 Classificação das Pesquisas Quanto aos Objetivos Toda pesquisa tem seus propósitos, e, para cada uma delas, são tra- çados objetivos particulares, que tendem a ser diferentes dos objetivos de qualquer outra pesquisa. Gil (2010, p. 27) explica que, em relação aos ob- jetivos mais gerais, as pesquisas classificam-se em: pesquisa exploratória, descritiva e explicativa. Pesquisa exploratória: visa a proporcionar maior familiaridade com o problema estudado, a fim de torná-lo explícito ou a construir hipó- teses; tendo, portanto, como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou descobertas. Envolve levantamento bibliográfico, estudo de caso, “[...] entrevistas com pessoas que possuem experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão” (SELLTIZ et al., 1967 apud GIL, 2002, p. 41). Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de caso. Pesquisa descritiva: objetiva descrever as características de deter- minada situação, população, podendo ser utilizada para identifi- car relações entre variáveis. Assume, em geral, a forma de pesquisa etnográfica e levantamento. Envolvem o uso de técnicas padroniza- das de coleta de dados: questionário e observação sistemática (GIL, 2002, p. 42). A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 33 Pesquisa explicativa: visa à identificação de fatores que determi- nam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Dessa forma, estuda e descreve características ou relações existentes na comuni- dade, grupo ou realidade estudada. Esse tipo de pesquisa é a que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois explica a razão, “o porquê” das coisas. Sendo assim, é complexa e delicada, já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente. Quando realizada em pesquisas na área das Ciências Sociais, requer o uso do método obser- vacional e em pesquisas na área de Ciências Naturais requer o uso do método experimental. Utiliza-se de técnicas padronizadas para coleta de dados, como questionário e observação. Assume a forma de pes- quisa experimental e ou quase experimental (GIL, 2002, p. 43). 2.3.4 Quanto aos Procedimentos Técnicos ou Métodos Empregados Gil (2010, p. 28) destaca que “[...] para avaliar a qualidade dos re- sultados de uma pesquisa, torna-se necessário saber como os dados foram obtidos, bem como os procedimentos adotados em sua análise e interpreta- ção”. Justifica-se, então, o surgimento de sistemas que classificam as pesqui- sas segundo a natureza dos dados em pesquisa quantitativa e qualitativa, em relação ao ambiente em que estes dados foram coletados em pesquisa de campo ou de laboratório, em relação ao grau de controle das variáveis em pesquisa experimental e não experimental etc. A seguir apresenta-se uma síntese de cada um dos tipos de pesqui- sas, segundo seus procedimentos técnicos, a qual é extraída de Gil (2010): Pesquisa bibliográfica: é elaborada a partir de toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Constituído princi- palmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com artigos 34 Pesquisar na Escola e periódicos disponibilizados na Internet. Esse tipo de pesquisa é comum em qualquer área de conhecimento. Pesquisa documental: Quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico. A análise documental difere-se da pesquisa bibliográfica devido à natureza das fontes. Os documen- tos são fontes ricas e estáveis de dados, não exigindo o contato com os sujeitos da pesquisa. Dessa forma, consideram-se documentos, rela- tórios de pesquisa, tabelas estatísticas, autobiografias, regulamentos, leis, documentos cartoriais, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais etc. Um exemplo de pesquisa documental poderia ser uma análise literária de uma obra ou um estudo histórico de documentos de um museu. Pesquisa experimental: descreve o que ocorrerá ou poderá ocorrer por meio de experimentos. Nessa pesquisa, determina-se um objeto de estudo, verificam-se e selecionam-se as variáveis, definem-se as formas de controle e observam-se os efeitos produzidos pela variável no objeto. O pesquisador é agente ativo durante a pesquisa. Levantamento: As informações são obtidas com um grupo signifi- cativo de pessoas acerca do problema estudado mediante a interro- gação direta às pessoas (por exemplo: levantamento de dados através de questionários). Após a coleta das informações, faz-se uma análise quantitativa dos dados para obter os resultados. Estudo de caso: é o estudo de um caso, seja simples ou específico. Deve ser bem delimitado, com contornos claros e definidos. O es- tudo de caso pode ser similar a outros; porém, é ao mesmo tempo distinto, pois possui como foco interesses próprios e singulares. Visa A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 35 à descoberta, enfatiza a interpretação em contexto, retrata a reali- dade de forma completa e profunda, usa uma variedade de fontes de informação, representa os diferentes ou conflitantes pontos de vista presentes em uma situação social e deve apresentar linguagem e forma acessível. Pesquisa de campo: assemelha-se ao levantamento, no entanto, apresenta maior aprofundamento das questões propostas. Essa pes- quisa estuda um único grupo ou comunidade, ressaltando a intera- ção dos participantes. Dessa forma, exige maior flexibilidade e em- prega técnicas de observação. O pesquisador tem experiência direta com a situação estudada, devendo permanecer o maior tempo pos- sível na comunidade, a fim de entender as regras e os costumes que regem o grupo estudado. Pesquisa ex-post-facto: o “experimento” é realizado depois dos fatos. São tomadas situações que se desenvolveram naturalmente, traba- lhando nelas como se estivessem submetidas a controle. Seus estudosenvolvem a sociedade global, em que são investigados determinantes econômicos e sociais. Por exemplo: existem duas cidades, aproxima- damente com o mesmo tamanho, tendo características socioculturais parecidas e com o mesmo tempo de fundação. Em uma delas, instala-se um fábrica e as mudanças dessa cidade são atribuídas a esse fato, pois a fábrica é o único fator relevante a ser observado. Pesquisa-ação: requer o envolvimento ativo do pesquisador e ação por parte dos grupos envolvidos na pesquisa de modo cooperativo ou participativo. Essa pesquisa é vista, muitas vezes, como desprovi- da da objetividade que deve caracterizar os procedimentos científi- cos. No entanto, é considerada muito útil nas pesquisas identificadas por ideologias “reformistas” e “participativas”. 36 Pesquisar na Escola Pesquisa participante: consiste na participação, interação real do pes- quisador com a comunidade ou o grupo investigado. A pesquisa pode acontecer de duas formas: natural, quando o pesquisador pertence à mesma comunidade ou grupo investigado; artificial, quando o pes- quisador integra-se ao grupo com a finalidade de obter informações. Ensaio clínico: Constitui um tipo de pesquisa em que o investigador aplica um tratamento denominado de intervenção. Com o objetivo principal o de responder questões referentes à eficácia de novas dro- gas ou tratamentos. São estudos de caráter experimental ou quase experimental, realizados com pessoas voluntárias. Estudo de corte: Objetiva estudar um grupo de pessoas que têm al- guma característica comum, constituindo uma amostra a ser acom- panhada por certo período de tempo, utilizada para observar e ana- lisar o que acontece com elas. Estudo caso-controle: São estudos ex-post-facto, ou seja, feitos “de trás para frente”, depois que os fatos ocorrem. Em síntese: partem do consequente (a doença) para o antecedente (a exposição ao fator de risco). Neste tipo de pesquisa, o pesquisador não dispõe de con- trole sobre a variável independente, que constitui o fator presumível do fenômeno, porque este já ocorreu. Assim, o pesquisador procura identificar situações que se desenvolveram naturalmente e trabalhar sobre elas como se estivessem submetidas a controle. 2.3.5 Quanto à Forma de Abordagem ou Natureza dos Dados Pesquisa quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, traduzindo em números opiniões e informações para, dessa forma, A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 37 classificá-las e analisá-las. Utiliza recursos e técnicas estatísticas (percentagem, desvio padrão, moda, média etc.). O tema pesquisa- do é claro e familiar. Pesquisa qualitativa: A pesquisa qualitativa não pode ser traduzida em números. A interpretação dos fenômenos, dos dados coletados (textos reais, escritos ou orais, não verbais) e a atribuição de signi- ficados são elementos básicos. Não são utilizados métodos e técni- cas estatísticos, e o ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados. A pesquisa qualitativa é descritiva, podendo descrever pes- soas, situações, acontecimentos, transcrições de entrevistas e acon- tecimentos, fotografias, desenhos, documentos etc.; assim, o pesqui- sador é o instrumento-chave para a pesquisa, tendendo a analisar seus dados indutivamente. Na pesquisa qualitativa, o processo e seu significado são os focos principais. O tema não é familiar, exigin- do flexibilidade para lidar com o inesperado. A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos que são obtidos através do contato direto do pesquisador com a situação estudada, através de pesquisa exploratória, enfatizando mais o processo do que o pro- duto, e preocupando-se em retratar a perspectiva dos participantes. Referências GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ______. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 39 MóDulO 3 o traBalho Com proJetos de pesquisa CientífiCa sandro apareCido dos santos adriano maChado roBerta paulert 40 Pesquisar na Escola A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 41 3.1 Como montar seu projeto de pesquisa? A montagem do seu projeto de pesquisa deve ser feita preferencial- mente no início do ano letivo. Nessa fase, o papel do professor é funda- mental; afinal, é função deste motivar e orientar cada grupo na escolha do tema. A seguir, o docente assume o papel de catalisador, auxiliando os alunos a organizarem as suas ideias, estabelecendo uma relação de diálogo e companheirismo na qual todos compartilham o prazer de ensinar e de aprender. Na sequência, o professor assume o papel de consultor, obser- vando, ouvindo e dando dicas aos estudantes. A pesquisa inicia-se a partir da curiosidade. Essa curiosidade gera uma dúvida a respeito de algo que não conhecemos. A dúvida se expressa verbalmente por uma pergunta. Da busca pela resposta pode surgir, então, uma pesquisa científica. CuRIOSIDADE → DúvIDA → PERGunTA → PESQuISA 42 Pesquisar na Escola 3.2 O passo a passo do projeto de pesquisa 3.2.1 1o passo – Seleção das fontes de pesquisa As fontes de pesquisa constituem o referencial teórico dos seus pro- jetos e são selecionadas de acordo com as necessidades do pesquisador. São consideradas fontes de pesquisa: • livros; • monografias; • periódicos (jornais e revistas); • web (sítios, jornais e revistas eletrônicas, bibliotecas virtuais, meca- nismos de busca na web); • periódicos científicos; • catálogos bibliográficos; • outros documentos, tais como: enciclopédias, dicionários, livros, dados estatísticos, panfletos, legislação, fotografias, catálogos etc. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 43 3.2.2 2o passo – A escolha do tema Deve ser inspirada em temas oriundos da curiosidade e do seu coti- diano. Poderão ser abordados diversos temas, que foram divididos em três categorias de acordo com Mancuso (1993): • Trabalhos de montagem: descrição ou produção de artefatos. Exem- plo: construção de maquetes da escola, eletroímã, vulcão, motor elé- trico etc. • Trabalhos informativos: pretendem divulgar conhecimentos julga- dos importantes à comunidade. Podem ser divididos em duas sub- categorias: trabalhos de alerta, prevenção e trabalhos de divulgação, demonstração de conhecimentos adquiridos na escola. • Trabalhos investigatórios: abordam inúmeros assuntos em qual- quer área do conhecimento e estão divididos por temas: 1. Trabalhos com ênfase em saúde pública. 2. Trabalhos com ênfase em educação ambiental. 3. Trabalhos com ênfase em temas didático-pedagógicos. 4. Trabalhos com ênfase no saber escolar. 5. Trabalhos com ênfase em interesse econômico/produtividade. 6. Trabalhos com ênfase na pesquisa de opinião/levantamento de dados. 7. Trabalhos com ênfase na investigação descritiva e /ou classificatória. 8. Trabalhos com ênfase no ativismo tecnicista. 9. Trabalhos com ênfase em investigações do cotidiano. 10. Trabalhos com ênfase no funcionamento do corpo humano. 11. Trabalhos com ênfase em assuntos não usuais nas ciências. 44 Pesquisar na Escola Na estruturação de um projeto, é importante que você tenha em mente aonde quer chegar. Logo, é importante que seja respeitado o ní- vel de conhecimento de cada aluno e que a escolha do tema seja feita preferencialmente no início do ano letivo, levando-se em consideração os seguintes fatores, que podem interferir na escolha do tema: • Fatores Internos: 1. Afinidade ou alto grau de interesse pelo tema escolhido. 2. Capacidade de conciliar as atividades do projeto com outras ativida- des não relacionadas com o projeto. 3. Consciência do grau de conhecimento e da capacidade do pesquisador. 4. Pessoas para auxiliar e dar apoio: digitador, desenhista, entre outros. • Fatores Externos: 1. Importância e significância do tema escolhido para a comunidade em geral. 2. Tempo exigido para a execução do projeto de pesquisa. 3. Acesso a fontes de consulta, dados, pesquisa decampo. 4. Custos para a execução do projeto. 3.2.3 3o passo – Elaboração da questão problema A questão problema é uma pergunta que o aluno faz diante do tema escolhido, que será respondida por meio de hipóteses levantadas. É o cerne, a mola propulsora de todo o projeto de pesquisa. Consiste em você explicitar qual é a dificuldade e como pretende resolvê-la. Em síntese: é a pergunta para a qual a pesquisa busca encontrar res- postas prováveis. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 45 3.2.4 4o passo – Determinação dos instrumentos de coleta de dados De acordo com o tipo de informação que se deseja obter, há uma variedade de instrumentos que podem ser utilizados. São eles: • entrevista; • questionário; • formulário; • ficha; • observação; • medidas de opiniões e atitudes; • pré-testes; • pós-testes. 3.2.5 5o passo – Interpretação dos dados obtidos Depois de realizar a coleta de dados, você terá diante de si um amon- toado de informações e respostas que precisam ser ordenadas, organizadas e interpretadas. Mas como? Em um primeiro momento, você deverá fazer a ANÁLISE, CODIFI- CAÇãO E TABULAÇãO dos dados obtidos. • Análise: com os dados na mão, é necessário fazer uma análise a fim de identificar as informações falsas, confusas ou distorcidas, e verifi- car se os dados coletados estão corretos. • Codificação: consiste em agrupar os dados em categorias, atribuin- do-lhes números ou letras, ou seja, dar um significado aos dados. 46 Pesquisar na Escola • Tabulação: os dados coletados poderão ser apresentados em tabelas ou gráficos. 3.2.6 6o passo – Montando seu projeto científico O seu projeto deve ser elaborado de acordo com o seguinte roteiro: 1. Título: é o último item a ser definido, podendo no início ser escolhi- do um título provisório e depois mudado de acordo com a aborda- gem do projeto, lembrando que o título representa o menor resumo do trabalho. É o cartão de apresentação do seu estudo. 2. Introdução: esse tópico contém a questão problema, que deve ser elaborada a partir da dúvida principal a respeito do tema escolhi- do. Deverão ser também elaboradas as hipóteses, que constituem as possíveis soluções para os problemas. Hipóteses são as possíveis respostas para a questão problema. A pesquisa pode confirmar ou negar as hipóteses levantadas. 3. Fundamentos teóricos: contêm a pesquisa teórica feita. 4. Justificativa: nesse tópico, deve ficar claro porque se optou pelo tema e qual a importância deste. É aqui que você convence todos que seu projeto é importante. Na linguagem popular: é aqui que você “vende o seu peixe”. 5. Objetivos: para estabelecer os objetivos, o aluno deve questionar-se: para que fazer esta pesquisa? O que pretendo demonstrar? Divi- dem-se em: A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 47 • Objetivo geral: redigido em uma única frase. Tem relação com o problema levantado. • Objetivos específicos: visam a confirmar as hipóteses levanta- das. Para cada hipótese levantada, estabelece-se mais de um ob- jetivo específico. Na elaboração do objetivo geral e dos objetivos específicos, os verbos usados devem estar no infinitivo. 6. Metodologia: indica o caminho a ser percorrido e a forma que será utilizada para executar o projeto. 7. Recursos: relacionar os materiais que serão utilizados. 8. Referências bibliográficas ou bibliografia: citar os autores que fo- ram consultados em ordem alfabética. Existem diferenças entre usar o termo referências bibliográficas e o termo bibliografia: • Referências bibliográficas: para indicar as obras efetivamente cita- das no projeto. • Bibliografia: para indicar todas as leituras feitas durante o processo de pesquisa e obras citadas no projeto. 48 Pesquisar na Escola 3.3 Fontes de pesquisa e gênero textual 3.3.1 Fontes de pesquisa Contextualização do assunto Antes de realizarmos um trabalho científico, necessitamos ter co- nhecimento a respeito do assunto em questão. E esse conhecimento deve estar atualizado e direcionado para os detalhes que pretendemos enfocar. Quando nos propomos a desenvolver um projeto de pesquisa e escrever um artigo científico sobre um determinado assunto, afirmamos que nos dispo- mos a estudar muito sobre o tema, a identificar nele uma dúvida (problema) que precisa ser respondida. Mas nada se faz sem um conhecimento prévio ou “bagagem teórica” sobre o assunto em questão. A afirmação “só escreve quem lê”, reflete nossa preocupação com o fato de que, antes de escrever, você precisará ler muito. O conhecimento que você necessita buscar deve estar embasado em fontes de informação reconhecidamente aceitas. Segundo Medeiros (2000, p. 45), “não há como citar um texto ruim, exceto para mostrar sua precariedade”. Porém, o volume de informação produzido diariamente, na A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 49 atualidade, é incompatível com nossa condição humana de acompanha- mento. Desse modo, é fundamental que tenhamos a capacidade de direcio- nar nossas buscas e nossas escolhas para aquilo que é realmente necessário e aplicado ao nosso objetivo. Sobre este assunto, Consolaro (2000, p. 32) afirma que devemos “[...] privilegiar as boas fontes de informação, selecio- nar criteriosamente; a partir daí, utilizá-las atentamente, de forma analítica, refletindo e questionando para que a sedimentação se faça naturalmente”. A busca e leitura de textos científicos sobre o assunto a ser estudado é chamada de revisão da literatura e, para que possamos executar uma re- visão da literatura precisa e adequada, precisamos conhecer esta literatura. 3.3.1.1 literatura científica Conforme visto na unidade anterior, o conhecimento científico bus- ca encontrar uma percepção confiável da realidade. Ele é produzido por meio de atividades rigorosamente controladas, com base no método cientí- fico, que é considerado uma forma confiável de busca da verdade. Uma das premissas do conhecimento científico é que ele seja trans- mitido aos interessados – outros pesquisadores, estudantes, técnicos da área – e que, por fim, chegue à população em geral. Sem esta transmissão do conhecimento produzido, muitos seriam os pesquisadores que realizariam os mesmos estudos, e a evolução do conhecimento seria muito mais lenta. O processo de transmissão do conhecimento científico é chama- do de comunicação científica, a qual pode ser dividida em comunicação informal e formal. A comunicação informal pode ser verbal ou não ver- bal e é caracterizada pela pessoalidade, ou seja, um pesquisador repassa a informação a outro pesquisador, de forma verbal (conversas, encontros científicos, debates) ou escrita (e-mails, correspondências, jornais internos de instituições), os resultados prévios de pesquisas em andamento. Nesse tipo de comunicação, objetiva-se trocar ideias e informações sobre estudos e manter informada a comunidade mais próxima ao pesquisador do que 50 Pesquisar na Escola ele e sua equipe têm feito. Já a comunicação formal é normalmente escrita, sendo conhecidas como publicações científicas, as quais compõem a lite- ratura científica. Convém ressaltar que a literatura não científica é diferente da lite- ratura científica pelo tipo de conteúdo e forma apresentada. Na literatura científica, trata-se de uma expressão artística, que pode ter caráter histórico, documental, biográfico e, muitas vezes, é fruto de ficção. Outra característica da literatura científica é que todas as suas for- mas de publicação seguem um fluxo comum (MÜELLER, 2000). A pes- quisa é normalmente iniciada através da confecção de planos e projetos de pesquisa escritos e, após provados, posteriormente, vem a ser desenvolvi- dos. Seus resultados parciais são apresentados em reuniões científicas, con- gressos e simpósios, e seus resumos são publicados em livros de anais. Estes resultados parciais representam a primeira etapa da comunicação científica. Posteriormente, a pesquisa é concluída e os relatórios finais são apresenta- dos e, por fim, são enviadospara publicação em revistas especializadas e de cunho científico, nas quais, para êxito pleno, os trabalhos passam pelo crivo de revisores que, então, decidirão sobre a existência de qualidade para pu- blicação. Quando o artigo for publicado, passará a fazer parte de coleções de bibliotecas virtuais e bases de dados. Os resultados da pesquisa passam, por conseguinte, a fazer parte de artigos de revisão da literatura. Estes artigos são sistematizados e passam a ser citados em livros textos e livros didáticos. Em algumas áreas, o conhecimento científico evolui de forma rápi- da e, consequentemente, torna-se desatualizado em um curto intervalo de tempo. Pense nos pesquisadores da área de genética, especialmente aqueles que estudam o DNA. Há pouco mais de 50 anos, não se conhecia a estru- tura do DNA, e há pouco mais de dez anos, clones e genomas eram ainda previsões teóricas. Portanto, reflita: “se um pesquisador da área de genética estudar apenas pelos livros, quanto tempo demorará para ter acesso a infor- mações sobre os experimentos atuais?”. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 51 3.3.1.2 Classificação da literatura científica – fontes bibliográficas A literatura científica é considerada como fonte bibliográfica e pode ser dividida em três níveis: fontes primárias, secundárias e terciárias (MÜELLER, 2000). • Fontes primárias As fontes primárias são aquelas que têm a interferência do próprio autor da pesquisa (MÜELLER, 2000), também podem ser conside- radas aquelas que contêm resultados originais ou propostas inéditas apresentadas pelo autor (ABRAHAMSOHN, 2004). Há vários exem- plos, ou seja, o pesquisador escreve os relatórios parciais e finais, os resumos para congressos e os artigos para publicação original de seus dados. As fontes primárias, as mais lidas e mais fáceis de serem obtidas para leitura e pesquisa, são, sem dúvida, os artigos originais publicados em revistas. Como obter fontes primárias? As informações sobre pesquisas em andamento podem ser obtidas diretamente no Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil3, vinculado ao CNPq. Assim, por meio de buscas nos grupos de pesquisa por palavras- -chave do assunto pesquisado, você encontra, em todo o Brasil, outros pes- quisadores que estão fazendo trabalhos na mesma área de conhecimento e especialidade que você. Para você obter artigos completos, pode utilizar as bibliotecas vir- tuais que trazem artigos com texto completo. A mais importante biblio- teca virtual utilizada atualmente, no Brasil, é a Scientific Library onLine 3 Este Diretório está disponível no sítio: <www.lattes.cnpq.br>. 52 Pesquisar na Escola (SCIELO)4. Durante sua pesquisa, esta base de dados lhe proporcionará acesso à literatura de qualidade de forma rápida e gratuita. Atualmente, a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní- vel Superior (CAPES) possui um portal de Periódicos de Acesso Livre5, por meio do qual todos têm acesso a revistas que disponibilizam seus artigos para cópia ou impressão. • Fontes secundárias Fontes secundárias são aquelas que apresentam uma forma organi- zada das fontes primárias (MÜELLER, 2000). Estas informações são filtradas e organizadas de forma a facilitar a compreensão e o traba- lho do leitor. Consideram-se fontes secundárias artigos de revisão da literatura, livros textos, manuais, dicionários, enciclopédias, tabelas, entre ou- tros. Sua principal vantagem é a facilidade de obter informações de vários resultados de pesquisas em apenas uma fonte pesquisada e lida. As possíveis desvantagens são aquelas descritas anteriormente. No portal da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), há um portal de Periódicos de Acesso Li- vre6. Tabelas estatísticas que servem como fontes secundárias são também obtidas em sítios oficiais, um exemplo são as tabelas do Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)7 e o Ministério da Saúde (MS)8. 4 Esta biblioteca pode ser consultada em <www.scielo.br> ou sua versão ampliada para toda ibero-américa em <www.scielo.org>. 5 Este portal de acesso livre pode ser obtido no endereço eletrônico: <www.capes.gov.br> (clicar no banner “periódicos” e, posteriormente, “periódicos de acesso livre”. 6 Acesse a aba “Área de Patentes”, “Estatísticas”, “Livros e outras Fontes”, e acesse textos completos no endereço eletrônico: <www.capes.gov.br – periódicos>. 7 Ver: <www.ibge.br>. 8 Consultar: <www.saude.gov.br>. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 53 • Fontes terciárias As fontes terciárias são os serviços que objetivam guiar o usuário para acessar fontes primárias e secundárias. Dentre estes serviços, podemos destacar as bases de dados, bibliotecas virtuais, catálo- gos de publicações. Base de dados é um sistema que pode arma- zenar grandes quantidades de informação de uma forma estrutu- rada, de modo que possibilite buscas através do nome do autor, de palavras-chave ou, ainda, de local de publicação. As bases de dados são bibliográficas quando apresentam referência de documentos (artigos, revistas, livros ou teses) com ou sem resu- mo. Por exemplo, temos na área de Ciências Naturais (Biológicas, Agrárias e Saúde) as bases MEDLINE e LILACS que podem ser pes- quisadas no site da Biblioteca Virtual da Saúde9. 3.3.1.3 Revisão da literatura Com base nos objetivos do que se pretende estudar, você deve fazer um elenco de assuntos relacionados ao seu tema, através de palavras-chave (VOLPATO, 2004), em seguida realizar buscas nas fontes terciárias, secun- dárias e primárias. Um bom início, além das bibliotecas virtuais apresenta- das a seguir nos sites relacionados. 3.3.1.4 Citação – Evitando plágios Entende-se, como citação, a menção no texto de uma informação que tenha sido extraída de outra fonte (ABNT 10.520, 2002), e representa o reconhecimento que um documento recebe de outro. Em uma revisão da literatura, sempre nos deparamos com textos, informações, dados e ideias 9 Verificar: <www.bireme.br>. Acesser “Pesquisa em bases de dados”. 54 Pesquisar na Escola que desejamos ou necessitamos utilizar para fundamentar nossos estudos, nossas posições e interpretações; porém, jamais podemos dar a impressão de que alguma informação ou ideia que foi retirada de uma fonte bibliográ- fica seja nossa, ou seja, a fonte deve sempre estar explícita, o que chamamos de citação. É completamente natural que, na atualidade, nossos textos estejam permeados de citações. Com o avanço da ciência, não é possível que rea- lizemos um trabalho científico sem a revisão da literatura e, consequente- mente, sem o uso de citações. Com a citação, fica creditado aos autores seu trabalho, autenticando as datas e situações de descobertas. Cumpre esclare- cer que, além de deselegante e antiético, é criminosa a apropriação de ideias e trechos de obras de autores sem a devida citação da autoria. Uma dica importante é que, quando você estiver lendo os textos ob- tidos durante a revisão de literatura anote imediatamente a fonte que lhe interessou de forma a facilitar a construção de um texto com as devidas citações. Nunca realize transcrições de trechos de textos sem anotar a fon- te, pois mais tarde será impossível correlacionar corretamente os autores a suas ideias e obras. Quando inadvertidamente não atentar para isso, o trabalho árduo de revisão de literatura, leitura e resumo pode ser perdido em sua totalidade. 3.3.2 Gênero textual e estilo do texto Inicialmente, vamos analisar para a definição de gênero textual pro- posta por Meurer (2002, p. 8): “[...] um tipo específico de texto de qualquer natureza, literário ou não, oral ou escrito, caracterizado e reconhecido por função retórica mais ou menos típica e pelo(s) contexto(s) no qual é utiliza- do”, ou seja, as especificidades contidas em cada gênero textual possibilitam A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 55 que ele seja reconhecido pela comunidade de usuários. No caso de textos científicos, que eles sejam aceitos por estacomunidade. Vale lembrar que, ao longo do tempo, estas formas de comunicação mudam e sofrem interfe- rências diretas do meio social em que vivemos e muitas vezes são necessárias para satisfazer uma necessidade comunicativa. Por isso, gêneros textuais tam- bém podem ser entendidos como “fenômenos históricos, os quais estão pro- fundamente vinculados à vida cultural e social” (MARCUSCHI, 2002, p. 19). Nesse sentido, é preciso que chamemos a atenção para o fato, pois o texto é uma forma de interação entre que lê e quem escreve, e os inter- locutores são sujeitos ativos que na leitura se constroem e são construídos, desenvolvendo valores, concepções e conhecimentos. Este fato nos leva a perceber que devemos usar de modo adequado todos os recursos da língua culta, permitindo ao leitor uma interação positiva com o texto, levando-o a compreender e interessar-se pelo tema estudado. Com base nessas definições e premissas, nossa preocupação passa a ser o estilo do texto10. Para Gil (2007), os projetos de pesquisa são elaborados com a fina- lidade de serem lidos por professores pesquisadores incumbidos de ana- lisar suas qualidades e limitações. Espera-se, portanto, que seu estilo seja adequado a esses propósitos. Embora cada pessoa tenha seu próprio estilo, ao se redigir o projeto, convém atentar para certas qualidades básicas da redação, que são apresentadas a seguir: • Impessoalidade • O relatório deve ser impessoal. Convém, para tanto, que seja redi- gido na terceira pessoa. Referências pessoais, como “meu projeto”, “meu estudo”, e “minha tese” devem ser evitadas. “São preferíveis ex- pressões como: “este projeto”, “o presente estudo” etc. Objetividade 10 Leituras sugeridas: Uma Análise Sociocognitiva das conceptualizações Acerca do Gênero Textual (LEITãO; SILVA, 2011); A relação entre prática social e gênero textual: questão de pesquisa e ensino (BONINI, 2009). 56 Pesquisar na Escola • O texto deve ser escrito em linguagem direta, evitando-se que a se- quência seja desviada com considerações irrelevantes. A argumen- tação deve apoiar-se em dados e provas e não em considerações e opiniões pessoais. Clareza • As ideias precisam ser apresentadas sem ambiguidade, para não originar interpretações diversas. Deve ser utilizado um vocabulário adequado, sem verbosidade, sem expressões com duplo sentido e evitar palavras supérfluas, repetições e detalhes prolixos. Precisão • Cada palavra ou expressão deve traduzir com exatidão o que se quer transmitir, em especial no que se refere a registros de observações, medições e análises. As ciências possuem nomenclatura técnica espe- cífica que possibilita conferir precisão ao texto. O redator do relatório não pode ignorá-las. Para tanto, o pesquisador deverá recorrer a di- cionários especializados e a outras obras que auxiliem a obter precisão conceitual. Deve-se evitar o uso de adjetivos que não indiquem cla- ramente a proporção dos objetos, tais como: pequeno, médio, gran- de, bem como expressões do tipo: quase todos, uma boa parte etc. Também se deve evitar advérbios que não explicitem exatamente o tempo, o modo e o lugar, por exemplo: recentemente, antigamente, lentamente, algures, alhures, e provavelmente. Deve-se preferir, sem- pre que possível, o uso de termos passíveis de quantificação, já que são estes os que conferem maior precisão do texto. Coerência • As ideias devem ser apresentadas em uma sequência lógica e orde- nada. Poderão ser utilizados tantos títulos quanto forem necessários para as partes dos capítulos; sua redação, porém, deverá ser unifor- me, iniciando com verbos ou com substantivos. O texto deve ser ela- borado de maneira harmoniosa. Para tanto, deve-se conferir espe- cial atenção à criação de parágrafos. Cada parágrafo deve referir-se a um único assunto e iniciar-se de preferência com uma frase que contenha a ideia-núcleo do parágrafo – o tópico frasal. A essa ideia A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 57 básica, associam-se pelo sentido outras ideias secundárias, mediante outras frases. Deve-se, também, evitar redigir um texto no qual os parágrafos sucedem-se uns aos outros como compartimentos estan- ques, sem nenhuma fluência entre si. Concisão • O texto deve expressar as ideias com poucas palavras. Convém, portanto, que cada período envolva no máximo duas ou três linhas. Períodos longos, abrangendo várias orações subordinadas, dificul- tam a compreensão e tornam pesada a leitura. Não se deve temer a multiplicação de frases, pois, à medida que isso ocorre, o leitor tem condições de entender o texto sem maiores dificuldades. Quando os períodos longos forem inevitáveis, convém colocar na primeira me- tade as palavras essenciais: o sujeito, o verbo e o adjetivo principal. Isso porque as palavras da primeira parte da mensagem são mais facilmente memorizáveis. Quando, porém, são feitas intercalações com muitas palavras separando o sujeito e o verbo principal, o en- tendimento torna-se mais difícil. Simplicidade • A simplicidade, paradoxalmente, constitui umas das qualidades mais difíceis de serem alcançadas na redação de um relatório ou mono- grafia. É comum as pessoas escreverem mais para impressionar do que para expressar. Também há os que julgam indesejável empregar linguagem familiar em um trabalho científico. Essas posturas são injustificáveis. Devem ser utilizadas apenas as palavras necessárias. O uso de sinônimos pelo simples prazer da variedade deve ser evita- do. Também se deve evitar o abuso dos jargões técnicos, que tornam a prosa pomposa, mas aborrecem o leitor. Convém lembrar que o excesso de palavras não confere autoridade a ninguém; muitas ve- zes, constitui um artifício para encobrir a mediocridade (GIL, 2007, p. 164-165). 58 Pesquisar na Escola 3.4 Execução do trabalho (caderno de pesquisa) Nessa fase, os alunos deverão buscar informações na WEB, na bi- blioteca, em jornais ou revistas, através de entrevistas com autoridades no assunto, em documentários, filmes, pesquisas de opiniões. O professor de- verá orientar seus alunos nas leituras, solicitando que periodicamente tra- gam textos referentes ao tema escolhido, que comentem suas leituras em sala de aula, tirem dúvidas e exponham opiniões. Para facilitar o trabalho de análise dos textos e o entendimento de como é feita a pesquisa, é interessante que os alunos sigam um roteiro de perguntas, buscando suas respostas e registrando-as em um diário, que será chamado de caderno de bordo. Como o projeto será desenvolvido durante um período razoável, é conveniente que cada grupo adote um caderno – o qual chamaremos de caderno de bordo –, para que sejam feitas anotações da pesquisa, registro de leituras, dúvidas, lembretes, ideias brilhantes. Será o companheiro inse- parável e essencial do grupo, e ficará sob a responsabilidade de um de seus membros do grupo, não devendo ser esquecido em casa, nas gavetas; desse modo, será utilizado pelo grupo em todas as atividades, e os estudantes poderão anotar dúvidas, questionamentos, pesquisas, sugestões, ideias etc. A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 59 Depois ter planejado e executado todo o projeto de pesquisa, é o momento de iniciar a redação da pesquisa que foi realizada, quando serão consideradas todas as informações coletadas, que deverão ser analisadas e interpretadas para que se possa estabelecer um relatório final. Mas, por onde e como começar? É possível elaborar o texto, seguindo os modelos IDC ou IRMRDC, segundo sugere Gonçalves (2005): No modelo IDC, o texto do relatório é dividido em três grandes seções: • Introdução (I) – apresentação do assunto pesquisado, objetivos, pro- blema, hipóteses, justificativa e metodologia. • Desenvolvimento (D) – efetivamente os capítulos do trabalho. • Conclusão (C) – um texto que sistematize o que foi alcançado com o estudo, comprovação ou negação das hipóteses, ou, ainda, confir- mação das respostas dadas à questão problema. Já no modelo IRMRDC, a seção Desenvolvimento(D) está especifi- cada em termos de elementos textuais próprios de um relatório: • Introdução (I) – apresentação do assunto pesquisado, objetivos, pro- blema, hipóteses, justificativa e metodologia. • Revisão da literatura (R) – capítulos teóricos da pesquisa. • Materiais e métodos (M) – descrição dos materiais, métodos, técni- cas e equipamentos da pesquisa. • Resultados (R) – resultados alcançados com a pesquisa. • Discussão (D) – discussão dos resultados anteriores com o referen- cial teórico da pesquisa. • Conclusão (C) – um texto que sistematize o que foi alcançado com o estudo, comprovação ou negação das hipóteses, ou, ainda, confir- mação das respostas dadas à questão problema. 60 Pesquisar na Escola 3.5 Análise e interpretação de dados 3.5.1 Séries estatísticas Séries estatísticas são apresentações de dados estatísticos em forma de tabelas, em função da época, do local ou da espécie dos dados. Estas sé- ries podem ser divididas em dois grupos: • Séries homógradas: São empregadas para a apresentação de dados de uma variável discreta. Uma variável é dita discreta quando o número de valores possíveis for finito ou infinito enumerável. São exemplos de variáveis discretas: números de peças produzidas por uma indústria, número de defeitos encontrados em seus produtos, número de dias em que choveu durante o mês de março em certa localidade etc. • Séries heterógradas: São empregadas para a apresentação de dados de uma variável contínua. A variável contínua é aquela que pode, ao menos teoricamente, assumir qualquer valor entre dois valores possíveis dessa variável. Alguns exemplos de variáveis contínuas são: A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 61 comprimentos de parafusos fabricados por certa máquina, tempo gasto pelos operários para realizar determinada tarefa, resistência à ruptura dos cabos produzidos por certa companhia etc. 3.5.2 Tabelas Tabela é um quadro que resume um conjunto de observações, que ajuda muito a compreender um fenômeno. Uma tabela deve seguir um con- junto de normas convencionadas pelo Conselho Nacional de Estatística. E tais normas servem como instrumento capaz de orientar todos que utili- zam dados numéricos, de modo a garantir a clareza das informações. Uma tabela deve ser clara, objetiva, concisa e autossuficiente, isto é, deve ter significado próprio, eliminando a necessidade de textos explicativos. A tabela é composta basicamente pelos seguintes elementos: a) corpo – conjunto de linhas e colunas que contém informações sobre a variável em estudo; b) cabeçalho – parte superior da tabela que especifica o conteúdo das colunas; c) coluna indicadora – parte da tabela que especifica o conteúdo das linhas; d) coluna numérica – parte da tabela que especifica a quantidade das linhas; e) linhas – informações das variáveis; f) título – conjunto de informações, as mais completas e resumidas possíveis, respondendo às perguntas: o que?, quando?, onde?, que fica localizado no topo da tabela; g) Rodapé – parte inferior da tabela, contendo a fonte e informações adicionais. 62 Pesquisar na Escola Exemplos: 1 – Tabela simples: EXPORTAÇÕES Produtos Toneladas Soja 1300 Milho 270 Arroz 320 Fonte: BB. 2 – Dupla entrada ou conjugada: nOTAS DOS ALunOS – 2008 Alunos 1º bim 2º bim A 4,5 2,3 B 7,8 8,2 C 10,0 9,5 Fonte: DIAP. 3.5.3 Distribuições de frequências Quando lidamos com poucos valores numéricos, o trabalho estatís- tico fica sensivelmente reduzido. No entanto, normalmente é utilizada uma grande quantidade de dados. Um dos objetivos da Estatística, neste caso, é obter uma significativa redução na quantidade de dados que devemos interpretar diretamente. Isso pode ser conseguido modificando-se a forma de apresentação destes dados. Suponha que observamos as notas de 30 alunos em uma prova e obtivemos os seguintes valores de X: A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 63 3,5 5 4,5 4 4,5 5 3,5 4 4 5 2 3 4,5 3,5 4 4,5 3 4 3 4 3,5 3,5 3,5 4 4 3 4 4 5 3 Se entendermos como frequência simples de um elemento o núme- ro de vezes que este elemento figura no conjunto de dados, podemos reduzir significativamente o número de elementos com os quais vamos trabalhar. 3.5.3.1 Distribuição de frequência – variável discreta É uma representação tabular de um conjunto de valores em que co- locamos, na primeira coluna, em ordem crescente, apenas os valores dis- tintos da série e, na segunda coluna, colocamos os valores das frequências simples correspondentes. Se usarmos f para representar a frequência simples, a sequência pode ser representada pela seguinte tabela: nOTAS DOS ALunOS xi fi 2 1 3 5 3,5 6 4 10 4,5 4 5 4 Fonte: Escola “X” Deve-se optar por uma variável discreta na representação de uma sé- rie de valores quando o número de elementos distintos da série for pequeno. 64 Pesquisar na Escola 3.5.3.2 Distribuição de frequências – variável contínua Suponha que a observação das notas dos 30 alunos em uma prova conduzisse aos seguintes valores: X: (pontos) 3 4 2,5 4 4,5 6 5 5,5 6,5 7 7,5 2 3,5 5 5,5 8 8,5 7,5 9 9,5 5 5,5 4,5 4 7,5 6,5 5 6 6,5 6 Fonte: Escola “X” Observando estes valores, verificamos que há um grande número de elementos distintos, o que significa que, neste caso, a variável discreta não é aconselhável na redução de dados. Utilizando-nos da noção de INTERVALO, podemos apresentar os dados da tabela anterior de modo bem mais resumido. Por exemplo, se re- unirmos as notas que vão de 2 até 4 pontos (exclusive), de 4 até 6 pontos (exclusive) e assim por diante, com intervalos de 2 pontos, obteremos uma nova tabela com o seguinte aspecto: nOTAS DOS ALunOS – 2008 Classes notas Quantidade de alunos 1 de 2 a 4 4 2 de 4 a 6 12 3 de 6 a 8 10 Fonte: Escola “X”. Costuma-se empregar o símbolo |--- (que se lê: “intervalo fecha- do à esquerda”) para indicar intervalos do tipo como o acima. Então, A Invest igação C ientíf ica na Educação Bás ica 65 representando as classes de notas por xi e a quantidade de alunos por fi, a tabela ficará desta forma: nOTAS DOS ALunOS – 2008 Classes notas Quantidade de alunos 1 2 |--- 4 4 2 4 |--- 6 12 3 6 |--- 8 10 4 8 |--- 10 4 Fonte: Escola “X”. Devemos optar por uma variável contínua na representação de uma série de valores quando o número de elementos distintos da série for grande. 3.5.4 Gráficos estatísticos O gráfico estatístico é uma forma de apresentação dos dados estatís- ticos, cujo objetivo é o de produzir, no investigador ou no público em geral uma impressão mais rápida e viva do fenômeno em estudo já que os gráfi- cos permitem mais rapidamente uma compreensão que as séries. Para tornarmos possível uma representação gráfica, estabelecemos uma correspondência entre os termos da série e determinada figura geo- métrica, de tal modo que cada elemento da série seja representado por uma figura proporcional. A representação gráfica de um fenômeno deve obedecer a certos re- quisitos fundamentais, para ser realmente útil. • Simplicidade – O gráfico deve ser destituído de detalhes de impor- tância secundária, assim como de traços desnecessários que possam levar o observador a uma análise morosa ou com erros. 66 Pesquisar na Escola • Clareza – O gráfico deve possibilitar uma correta interpretação dos valores representativos de fenômeno em estudo. • veracidade – O gráfico deve expressar a verdade sobre o fenômeno em estudo. • Um relatório final reúne quase sempre as três modalidades de apre- sentação: • gráficos: para acentuar determinados itens; • tabelas: para reunir a massa de dados observados; • palavras: para orientar a leitura, comentar as tabelas e analisar os gráficos e concluir o relatório. 3.5.4.1 Principais tipos de gráficos • Cartogramas: Um cartograma é um mapa que mostra informação quantitativa mantendo certo grau de precisão geográfica das unidades espaciais mapeadas. • Pictogramas: São gráficos que, através de figuras, simbolizam fatos estatísticos, ao mesmo tempo em que
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