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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA CURSO DE MEDICINA MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA MÉDICA (MIP1033) Arthur Ribeiro Segatto – Terceiro Semestre MÓDULO 04 – HELMINTOS. Tarefa 4 – Teste seus conhecimentos respondendo as seguintes questões: 1) Como o homem pode se infectar com as seguintes doenças parasitárias? a) Fasciolose – a infecção humana é o resultado da ingestão de plantas aquáticas (ex.: agrião), que alberga a metacercária encistada da Fasciola hepatica – um parasito de herbívoros (particularmente ovelhas e bovinos) e humanos, comumente denominada trematódeo hepático da ovelha. As formas larvares do trematódeo então migram através da parede duodenal e pela cavidade peritoneal, penetram na cápsula hepática, atravessam o parênquima hepático e penetram nos ductos biliares para se tornarem vermes adultos. Aproximadamente 3 a 4 meses após a infecção inicial, os trematódeos adultos iniciam a produção de ovos operculados, que são liberados nas fezes, reiniciando o ciclo. b) Esquistossomose – a infecção é iniciada por cercárias ciliadas, que nadam livremente na água doce e penetram na pele intacta, entram na circulação e se desenvolvem na circulação porta intra-hepática (S. mansoni e S. japonicum) ou nos plexos e veias vesicais, prostáticas, retais e uterinas (S. haematobium). À medida que o verme se desenvolve na circulação portal, ele elabora uma notável defesa contra a resistência do hospedeiro, se recobrindo com substâncias que o hospedeiro reconhece como sendo próprias – este mecanismo protetor é responsável pelas infecções crônicas que podem durar de 20 a 30 anos ou mais. Após se desenvolver na veia porta, os machos e fêmeas adultos formam casais e migram para sua localização final, onde a fecundação e a produção de ovos são iniciadas. S. mansoni e S. japonicum são encontrados nas veias mesentéricas e produzem a esquistossomíase intestinal; S. haematobium ocorre nas veias ao redor da bexiga urinária e causa a esquistossomíase vesical. Ao atingir as vênulas submucosas de suas respectivas localizações, os vermes iniciam a oviposição, que pode continuar a uma taxa de 300 a 3.000 ovos diariamente, por 4 a 35 anos. Os ovos desencadeiam uma reação inflamatória intensa e, além disso, a larva no interior do ovo produz enzimas que auxiliam na destruição tecidual e permitem que os ovos atravessem a mucosa e cheguem ao lúmen do intestino e bexiga, onde são eliminados para o meio ambiente nas fezes e urina, respectivamente. Os ovos eclodem rapidamente ao atingirem água doce e liberam miracídios móveis, que, então, invadem o hospedeiro caramujo apropriado, onde se desenvolvem em milhares de cercárias infectantes. As cercárias com capacidade de nadar livremente são liberadas na água, onde são imediatamente infectantes para humanos e outros mamíferos. c) Equinostomose – Echinostoma spp. infecta uma grande variedade de aves e mamíferos. O ser humano pode se contaminar pela ingestão de molusco, peixe ou carne de anfíbios crus ou malcozidos, contendo cercárias encistadas, conhecidas também como metacercárias. Uma vez dentro do organismo, a metacercária se desenvolve dando origem a adultos localizados em lugares específicos no tubo digestivo do hospedeiro. Os ovos não embrionados são liberados junto com as fezes e entram em contato com a água. Após um período médio de dez dias, o ovo libera um miracídeo que nada e penetra ativamente em alguma parte mole do corpo do caramujo (primeiro hospedeiro intermediário). Uma vez dentro do hospedeiro intermediário, geralmente no local da penetração, o miracídeo se transforma em esporocisto, que migra para a cavidade cardíaca ou aorta, onde irá se desenvolver. Depois de cerca de uma semana o esporocisto produz a primeira geração de rédia. Esta, por sua vez, irá produzir novas gerações de rédia (que podem ser várias). A primeira geração de rédia produz apenas rédia, mas da segunda geração em diante pode-se observar tanto produção de rédia como cercária. Após migrarem para várias partes do corpo do hospedeiro, as cercárias aumentam de tamanho e são liberadas na água. O encistamento das cercárias ocorre na superfície ou dentro do segundo hospedeiro intermediário, que pode ser caramujo ou outro invertebrado, e ainda alguns anfíbios e peixes. 2) No Brasil, qual das três doenças anteriores apresenta maior importância na saúde pública? Esquistossomose, conhecida como uma doença prevalente em áreas tropicais e subtropicais, apresenta grande importância na saúde pública do país pois atinge principalmente comunidades carentes, sem acesso a água potável e sem o saneamento adequado. 3) Qual a localização desses parasitos no hospedeiro definitivo? a) Fasciolose – ductos biliares e parênquima hepático. b) Esquistossomose – veias mesentéricas, hepáticas e sistema porta. c) Equinostomose – reto e ceco intestinais. 4) De sua opinião, como profissional da saúde, sobre a propaganda abaixo: Apesar de apresentar-se como uma “solução fácil” para a perda de peso, nessa propaganda, os parasitos humanos predispõem à patogênese de uma ampla gama de doenças infecto parasitárias. Dessa forma, muitos fatores importantes devem ser considerados na discussão sobre a patogenicidade desses vermes, uma vez que, realizada a invasão, estes aderem-se a células ou órgãos específicos do hospedeiro, podendo evitar a detecção imune, replicarem-se (a maioria dos protozoários e alguns helmintos), produzirem substâncias tóxicas que destroem tecidos e provocarem doenças secundárias à própria resposta imunológica do hospedeiro ou ainda, causarem obstrução física e danos a órgãos e tecidos graças unicamente ao seu tamanho. Por essa razão, a ideia de se utilizar vermes como um método de emagrecimento, por exemplo, revela-se não apenas um perigo à saúde do indivíduo, mas também um perigo à saúde pública, uma vez que o impacto global das infecções parasitárias e o número de mortes associadas a parasitos são estarrecedores e devem ser motivo de preocupação. 5) O que é cisticercose e como podemos nos infectar? A cisticercose envolve a infecção de pessoas pelo estágio larvário de Taenia solium, o cisticerco, que normalmente infecta suínos. A ingestão pelo homem de água ou vegetação contaminada por ovos de T. solium, a partir de fezes humanas, inicia a infecção. A autoinfecção pode ocorrer quando ovos, provenientes de uma pessoa infectada pelo verme adulto, são transferidos da área perianal para a boca pelos dedos contaminados. Ingeridos, os ovos eclodem no estômago do hospedeiro intermediário, liberando o embrião hexacanto ou oncosfera. A oncosfera penetra na parede intestinal e migra pela circulação para os tecidos, onde se desenvolve em cisticerco em 3 a 4 meses. Os cisticercos podem se desenvolver na musculatura, tecido conjuntivo, cérebro, pulmões e olhos e permanecer viáveis por até 5 anos. 6) Quais as consequências da ruptura de um cisto hidático no transoperatório? A ruptura dos cistos pode ocorrer em 20% dos casos, produzindo febre, urticária e ocasionalmente choque anafilático e morte – que são causados pela liberação de conteúdo antigênico do cisto –, bem como pode levar à disseminação da infecção, resultante da liberação de milhares de protoescólices. O derramamento e o escape de protoescólices podem levar ao desenvolvimento de cistos em outros locais, pois os protoescólices apresentam o potencial germinativo para formar novos cistos. 7) Qual o sinal clínico patognomônico da hidatidose no homem? Em humanos, o sinal clínico patognomônico da hidatiose se dá pela larva que forma um cisto hidático unilocular, uma estrutura semelhante a um tumor, de crescimento lento e ocupante de espaço, e que está envolta por uma membrana germinativa laminada (que produz estruturas em sua parede, denominadas cápsulasprolígeras, onde se desenvolvem as protoescólices). Os cistos e os cistos-filhos acumulam um fluido potencialmente tóxico à medida que crescem e, eventualmente, as cápsulas prolígeras e os cistos-filhos desintegram-se no interior do cisto-mãe, liberando os protoescólices acumulados (areia hidática). O cisto unilocular possui geralmente 5 cm de diâmetro, mas já foram relatados cistos tão grandes quanto com 20 cm, contendo cerca de 2 litros de fluido cístico. O cisto pode morrer e se tornar calcificado após longos períodos. 8) Como posso adquirir difilobotríase? Qual o sinal clínico marcante dessa doença que a diferencia dos demais cestodas? A forma larvária do verme Diphyllobothrium latum (tênia do peixe, um dos maiores cestoides, medindo aproximadamente de 600 a 900 cm de comprimento) em forma de fita, presente na carne de peixes de água doce, é denominada espargano. A ingestão deste espargano em peixes crus ou malcozidos inicia a infecção. Os vermes adultos de D. latum podem produzir ovos por meses ou anos, sendo que mais de um milhão de ovos por dia são liberados no fluxo fecal. Ao alcançarem a água doce, os ovos operculados e não embrionados necessitam de um período de 2 a 4 semanas para desenvolverem uma forma larvária ciliada e que nada livremente, denominada coracídio. O coracídio totalmente desenvolvido deixa o ovo através do opérculo e é ingerido por pequenos crustáceos, denominados copépodes (p. ex., espécies de Cyclops e Diaptomus); o coracídio então se desenvolve na forma larvar de procercoide. Os crustáceos albergando as formas larvárias são ingeridos por um peixe, e a larva infectante plerocercoide, ou larva espargano, se desenvolve na musculatura do peixe. Se o peixe for ingerido por outro peixe, o espargano simplesmente migra para os músculos do segundo peixe. O sinal clínico mais marcante deve-se à capacidade do parasita de absorver intensamente a vitamina B12. Em torno de 40% dos portadores de D. latum podem apresentar níveis séricos baixos de vitamina B12, presumivelmente devido à competição entre o hospedeiro e o verme por vitamina B12 da dieta. Uma pequena porcentagem (0,1% a 2%) de pessoas infectadas desenvolvem ainda sinais clínicos de deficiência de vitamina B12, incluindo anemia megaloblástica e manifestações neurológicas como entorpecimento, parestesia e perda da sensação de vibração. 9) Quais os sinais clínicos que podem ser observados em pessoas com tricuríase? (leve em conta o hospedeiro, os diferentes graus de infecção e o tempo de parasitose) As manifestações clínicas da tricuríase estão geralmente relacionadas à intensidade da carga parasitária. A maioria das infecções ocorre com pequenos números de Trichuris e é normalmente assintomática, apesar de infecções bacterianas secundárias poderem ocorrer devido à cabeça dos vermes penetrarem profundamente na mucosa intestinal. Infecções por muitas larvas podem produzir reações de hipersensibilidade aos produtos metabólicos produzidos pelo helminto (irritativo), que aumentam o peristaltismo e diminuem a reabsorção de líquidos no intestino grosso, e causam dor e distensão abdominais, diarreia crônica sanguinolenta ou mucosa, enjoos, vômitos, fraqueza e perda de peso. A apendicite pode ocorrer à medida que os vermes preencham o lúmen, e o prolapso retal é observado em crianças com infecções maciças devido à irritação e ao esforço durante a defecação. Anemia, eosinofilia, desnutrição, retardo no desenvolvimento infanto-juvenil e hipocratismo digital (alargamento das pontas dos dedos e das unhas) também são encontradas em infecções graves. 10) Ascaridíase, quais complicações pediátricas podem ocorrer? Durante a fase de invasão larval, em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração e em infecções maciças encontramos lesões hepáticas e pulmonares. No figado, podem ser vistos pequenos focos hemorrágicos e de necrose que futuramente tomam-se fibrosados. Nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos, podendo determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispnéia e eosinofilia. Há edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofilico, manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia (a este conjunto de sinais denomina-se síndrome de Loeffler). Na tosse produtiva (com muco) o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto. Essas manifestações geralmente ocorrem em crianças por estarem associadas ao estado nutricional e imunitário das mesmas. Já em infecções intestinais de baixa intensidade (três a quatro vermes) o hospedeiro não apresenta manifestação clínica, enquanto nas infecções médias (30 a 40 vermes) ou maciças (100 ou mais vermes), podemos encontrar as seguintes alterações: Ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, a subnutrição e depauperamento físico e mental; Ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, urticária, conwlsões epileptiformes etc.; Ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução, sendo esta a mais comum das complicações agudas. As crianças são mais propensas a este tipo de complicação, causada principalmente pelo menor tamanho do intestino delgado e pela intensa carga parasitária; Localização ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra alguma ação irritativa (exs.: febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados), o helminto desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não-habituais. Além disso, é muito comum entre crianças o aparecimento de uma alteração cutânea, que consiste em manchas circulares disseminadas pelo rosto, tronco e braços. Tais manchas são popularmente denominadas "pano", sendo comumente relacionadas com o parasitismo pelo A. lumbricoides, e tendem a desaparecer após a terapêutica e eliminação do verme.
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