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ANEXO V, DO EDITAL Nº 002/2020 DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PROIC, DA UNICENTRO RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA NOME DO ALUNO: Júlia Mielczarski Pacheco da Silva ORIENTADOR: Edson Roberto Macohon REFERENTE AO PERÍODO: 01/08/2019 até 31/07/2020. TÍTULO: Diagnóstico organizacional para utilização de sistemas integrados da contabilidade gerencial. PALAVRAS-CHAVE: Enterprise Resource Planning. Agronegócio. Implementação. RESUMO: O objetivo desta pesquisa é desenvolver um diagnóstico organizacional para utilização de sistemas integrados na contabilidade gerencial. Quanto aos aspectos metodológicos, se caracteriza como qualitativa, por meio de realização de entrevistas e pesquisa documental. A análise dos dados se deu pela triangulação das entrevistas com os documentos, informações dos controles gerenciais, disponibilizados pela organização em estudo. Conclui-se que o envolvimento do proprietário e da gestora na familiarização dos colaboradores com a gestão tecnológica nas práticas diárias é um fator que agrega valor e sustenta a implementação do sistema. A organização utiliza planilhas do Excel, as quais são postadas no Google Drive para compartilhamento das informações dos controles gerenciais. A visão do proprietário e da gestora está pautada no risco de implementação do sistema. A fornecedora de software propôs a implementação apenas do módulo financeiro. Desta forma, o objetivo central do ERP não seria alcançado, o qual se traduz na integração organizacional. A sugestão da fornecedora é a customização do sistema, os altos custos e insegurança da arquitetura tecnológica comprometem substantivamente o projeto. A presente pesquisa levantou e apresentou a organização uma gama de fornecedores de softwares ERP especializados na área rural. A etapa seguinte será a negociação da melhor proposta às particularidades da organização. 01 – INTRODUÇÃO O Brasil tem investido em desenvolvimento e uso de tecnologias que aprimoram os meios de produção. A exportação de commodities agrícolas representa uma parcela significativa da balança comercial brasileira (CARLI, 2016). O agronegócio contribui significativamente na geração de empregos e renda, contribuição que reflete na representatividade de 21% do Produto Interno Bruto (PIB) (CEPEA, 2020). Vasconcelos e Brito (2004) destacam que este cenário se dá pela implementação de novos métodos de produtividade que proporcionam maior qualidade no processo. A economia do país se consolida a partir do aperfeiçoamento da qualidade e produtividade da atividade rural. No meio rural a eficiência na produção não está relacionada a um único fator. A gestão da propriedade como um todo pode condicionar o desenvolvimento econômico e financeiro (MARQUES, 2010). A gestão rural eficiente envolve os fatores internos e externos, ou seja, o equilíbrio econômico e financeiro, bem como, as estratégias de mercado. A gerência de uma fazenda é uma tarefa heterogênea de atividades, são fatores complexos e diversificados, que fazem o gestor precisar de muita atenção e admitir meios de controle e planejamento mais efetivos. Por intermédio dos sistemas de gestão, a força competitiva se acentua, acarretando em agilidade e inovação (MELO, 2003). Empresas do ramo do agronegócio, cada vez mais buscam segurança nos seus processos. Em vista da crescente representatividade que o Brasil tem apresentado nas exportações agrícola e pecuária é necessário ampliar a competitividade dessas organizações. Portanto, fazendas aprimoram seu modo de trabalho e instalam sistemas integrados de informação mais eficientes, como o Enterprise Resource Planning (ERP), que viabiliza o controle e planejamento dos gerentes sobre a empresa. Para algumas empresas é inviável a adoção desses sistemas integrados devido ao alto custo de investimento. O capital será aplicado em todas as etapas do processo de troca de sistema de informação, desde a escolha do sistema ERP à capacitação do seu pessoal e a manutenção. Se implementado sem um correto planejamento, incorrerá em prejuízos à entidade. Para que haja sucesso na adaptação da empresa é necessária uma boa avaliação, uma equipe voltada para a tarefa, além de que é fundamental assumir um roteiro de prudências (PADILHA E MARINS, 2005). Sendo assim, o sistema escolhido deve ser compatível com as necessidades da empresa, sob as perspectivas tecnológicas e ramo de atividade. Há roteiros de implementação destinados às empresas de vários ramos. Nesta pesquisa é apresentado um diagnóstico voltado à adoção do Enterprise Resource Planning para organizações rurais. Sob esse pressuposto surge o seguinte questionamento: Quais os fatores condicionantes para a implementação de sistemas Enterprise Resource Planning em organizações rurais? Neste cenário, Marques (2010) discorre sobre a realização de diagnósticos em cada propriedade, como uma estratégia competitiva, avalia os pontos fracos e fortes da organização. A tecnologia da informação vem favorecer os agricultores na gestão das propriedades. No entanto, os agricultores precisam estar preparados para assimilar todos os recursos tecnológicos disponibilizados (KALSING, 2015). Meira et al. (1996) propõem que esses sistemas informatizados podem trazer maior sustentabilidade, flexibilidade e qualidade para os meios de produção. Na agricultura familiar, representada por pequenas e médias propriedades, trabalho e gestão estão intimamente relacionados. A direção do processo produtivo é assegurada diretamente pelos proprietários, com ênfase na diversificação das atividades, na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida (MEIRA ET. AL, 1996, p. 177). O uso de um sistema de gerenciamento permite à empresa rural integrar e otimizar suas atividades, auxilia os gestores no processo de tomada de decisão e operacionaliza as atividades. Estes sistemas permitem reações rápidas a situações do ambiente externo (OLIVEIRA et. al, 2017). No que tange as funções do sistema ERP, o gestor pode planejar, controlar e organizar as atividades agropecuárias, agrícolas, financeiras, custos, clientes, fornecedores, estoque e logística. No entanto, a poucos estudos que se reportam a implementação de sistemas ERP’s em organizações rurais. Isto se explica ao fato de uma parcela pequena destas organizações que implementaram tal artefato. Os altos investimentos, capacitação de mão de obra, aspectos culturais, entre outros fatores acabam interferindo na adesão deste meio ao ERP. De acordo com isso, Oliveira (2002) destaca que independente do porte ou setor da empresa, todos os processos de implementação do sistema ERP apresentam dificuldades. A contribuição social deste estudo se revela na utilização de sistemas integrados, os quais permitem maior eficiência produtiva e consequentemente maior capacidade de geração de riquezas, inclusive sociais, refletindo um ambiente econômico mais justo e equilibrado. A contribuição prática se reporta ao aspecto do sistema ERP no controle da organização rural, os desperdícios e perdas têm substancial redução a partir da utilização do referido artefato. A abordagem teórica se manifesta ao fato que as investigações até o momento, ainda não esclareceram os fatores preponderantes para a utilização de ERP’s no meio rural. 02 – OBJETIVOS O objetivo da pesquisa é desenvolver diagnóstico organizacional para utilização de sistemas integrados na contabilidade gerencial. 03 – METODOLOGIA O estudo de caso único, conjunto de fazendas, denotou-se apropriado ao objetivo proposto dessa pesquisa. Esta organização rural em estudo pretende implementar o sistema ERP. A análise dos dados tem como base informações, os depoimentos de dois respondentes, a gestora das fazendas e responsável pelo suporte técnico de um sistema ERP para organizações rurais; bem como, informações advindas de documentos gerenciais das fazendas. Assim, estainvestigação se caracteriza como qualitativa, por meio de realização de roteiro de entrevistas e pesquisa documental. A análise dos dados se deu pela triangulação das entrevistas com os documentos disponibilizados pela organização em estudo. A presente pesquisa é do gênero descritivo, de natureza qualitativa. Além de, estar embasada em artigos científicos, livros, e demais publicações sobre o sistema ERP no agronegócio, portanto, adota o método de pesquisa bibliográfico. Conforme Gil (2002), essa metodologia proporciona uma gama de fenômenos mais abundante ao pesquisador, por ser elaborada a partir de dados consumados. A partir dos fichamentos, conteúdo das entrevistas realizadas e documentos da organização em estudo, analisou-se possíveis fatores de sucesso e complicações na implementação do sistema ERP. Mencionou-se as situações que podem condicionar o sucesso ou insucesso da implementação do sistema na organização em estudo. 04 - RESULTADOS E DISCUSSÃO A organização rural em estudo é uma propriedade produtora de gado de corte, soja, milho, aveia, feijão, e azevém. As seis fazendas estão localizadas nos estados do Rio Grande do Sul e Mato Grosso. A produção é totalmente comercializada no Brasil com destino ao mercado externo. 4.1 FATORES CONDICIONANTES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ENTERPRISE RESOURCE PLANNING EM ORGANIZAÇÕES RURAIS A gestora da organização, filha do proprietário, graduada em administração de empresas tem experiência na área rural. Durante a entrevista percebe-se claramente que a organização dos controles gerenciais se dá por meio de recursos tecnológicos básicos. A cultura organizacional é uma herança familiar, a centralização por parte do pai é uma realidade. No entanto, a flexibilização tem prevalecido no decorrer da atuação de novas gerações. O trecho da entrevista a seguir, representa a conduta do proprietário: “no topo da pirâmide é meu pai, ele que decide tudo, financeiro, operacional” (RESPONDENTE 1). No entanto, anteriormente às decisões do pai, as questões operacionais são decididas por colaboradores responsáveis de cada setor. Para a Respondente 1, as decisões finais e estratégicas são de responsabilidade mútua do pai e dela. Cada uma das propriedades possui seu escritório, somente as duas propriedades gaúchas que dividem o mesmo ambiente administrativo, o qual está localizado na cidade. No Mato Grosso as propriedades tem um escritório que centraliza as informações de todas fazendas. A empresa faz a própria contabilidade através de um sistema contábil, o qual não fornece os relatórios necessários para tomada de decisão. O lançamento das notas fiscais eletrônicas (NF-E) é realizado por outro sistema, de forma que repercute em retrabalho aos colaboradores. O controle de estoque é realizado de forma manual. Além desses lançamentos, precisam encaminhar para uma empresa de consultoria de contabilidade. Assim, há conferências e correções do trabalho manual realizado. Neste contexto, o Respondente 2, consultor de sistema ERP, afirma que esse problema é contornado pelo sistema. Em um ambiente integrado a venda é confirmada, contabilizada e a informação é encaminhada simultaneamente ao setor financeiro. Neste tempo, há a baixa no estoque e emissão da NF-E. O sistema ERP concebe maior confiabilidade nas informações. A solução do ERP proporciona credibilidade aos processos, todas as áreas interagem em um único banco de dados. É um modelo de sistema que aborda todos os processos de uma organização, mas que não deve ser considerado como meramente tecnológico (CAJARAVILLE; 2001). Um sistema ERP facilita e aprimora a forma de gestão das organizações, integra fornecedores, clientes, acionistas, funcionários, e todos os sistemas que interligam a empresa em um único banco de dados. A realidade atual da organização se dá por meio de controles de custos, estoques, gado e demais apontamentos ocorrem de forma manual por meio de planilhas de excel. Para facilitar o acesso à esses documentos, a Respondente 1 utiliza o google drive. Assim otimiza o tempo com acesso pelo celular ou computador em qualquer lugar. A CIGAM (2019), empresa de software de gestão, destaca que a frustração no planejamento agrícola é um dos fatores que mais preocupam gerentes de empresas do ramo. O orçamento do agronegócio é planejado por meio de planilhas que não se comunicam, perdendo cruzamentos de dados que seriam eficientes para uma boa gestão operacional. Torna-se complicado e trabalhoso para os gestores unirem os dados de cada planilha, analisá-los e entendê-los, ademais despende muito tempo. O controle gerencial é realizado de forma manual pelos escritórios e gestora, nem todos os colaboradores das fazendas conseguem se familiarizar com recursos tecnológicos. Há resistência organizacional, as novas gerações que trabalham nas fazendas e colaboradores dos escritórios têm maior aceitação a mudanças. Na visão da Respondente 1, colaboradores com maior tempo de serviço, especialmente àqueles da pecuária e veterinários, têm resistência a mudanças. O planejamento da organização rural em estudo tem como objetivo a implantação do sistema ERP nos escritórios e gerência. Outro fator que dificulta a implementação do sistema é a falta de confiança na tecnologia. Um exemplo, é o receio de vazamento de dados ou travamento do sistema. Estas circunstâncias acarretariam em problemas nas operações de carregamento de soja. Desde a década de 90, estudos são apresentados indicando a necessidade da informática nos meios de produção e gerenciamento das atividades rurais. As empresas do agronegócio carecem se adequar ao novo mercado de competição global. Para Fernandes et al. (2017) o intensivo avanço tecnológico no modo de gestão dos negócios agrícolas no século XXI obriga as fazendas a se adaptar ao novo modelo de gerenciamento. Segundo a Respondente 1, exemplo de uso da tecnologia é visto nas fazendas do Mato Grosso onde as operações comerciais são online. A pesagem é digital, portanto a gestora afirma que a internet é boa, pois sem a internet não seria possível a pesagem digital e geração de NF-E. De acordo com a Respondente 1, as fazendas gaúchas estão aderindo ao mesmo sistema online. Percebe-se que a Respondente 1 está atenta as nuances tecnológicas, avalia a relação custo x benefício dos projetos e acredita no potencial dos sistemas ERP para administração das fazendas. Denota-se que investimentos em novos meios de gerenciamento proporcionam às organizações rurais vantagens competitivas e segurança de mercado. Segundo Hypolito (1999) a melhora na previsão de demandas e comportamento dos preços, em conjunto com o suporte às decisões, minimiza erros e atrai os clientes (externos e internos). A Respondente 1 relata: “primeiro estou adaptando o pessoal a fazer controle de custos com as planilhas”. No entanto, mesmo com a preparação da equipe é necessário um treinamento com o novo sistema. Este treinamento deverá ser, preferencialmente, online para facilitar a difusão das informações a todos os usuários. Para Albertin (1996), Hammer (1999) e Cajaraville (2001) apud Oliveira e Ramos (2002) um fator que interfere na aceitação dos usuários das empresas é a falta de liderança na equipe. Uma pessoa da diretoria presente no desenvolvimento do processo facilita a aceitação dos usuários, que nem sempre é ligada a problemas de adaptação quanto a tecnologia. É um ponto positivo a gestora, Respondente 1, ter a iniciativa de tomar frente no projeto de implementação do sistema ERP. A liderança é sempre aconselhável à partir de um membro que represente a cultura da empresa. Assim, há motivação dos funcionários e consequente integração das equipes. 4.2 DIAGNÓSTICO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ENTERPRISE RESOURCE PLANNING EM ORGANIZAÇÕES RURAIS. O roteiro de prudências é pertinente à implementação, compreende uma ampla gama de fatores. Os fatores positivos naimplementação de ERP’s em empresas do ramo do agronegócio são semelhantes às demais atividades. Como as fazendas são registradas em diferentes pessoas físicas (CPFs diferentes), o Respondente 2 verifica a necessidade do sistema desempenhar as atividades gerenciais de forma independente no mesmo nome de login. Isto é, com os mesmos direitos de acesso, os proprietários podem trabalhar com o banco de dados, sem correr o risco de interferir informações de ativos com as informações gerenciais e operacionais. Relatórios financeiros e gerenciais são processados separadamente, por exemplo, contas a receber ou contas a pagar são controladas via e-mails para cada entidade. Além dos relatórios comuns de gerenciamento, o sistema interage com os gestores por meio de relatórios emocionais, desse modo permite aos gestores a rápida leitura do período. Esses personagens emocionais são uma forma de simplificar a compreensão do negócio para posteriormente estudar o relatório com mais profundidade (RESPONDENTE 2). Por exemplo, no módulo de estoque, o gerente pode solicitar ao sistema que classifique os produtos de acordo com a maior taxa de giro de estoque, ou por quantidade de itens, inclusive por influência na receita do período. Ademais, indica ao gestor qual região apresenta melhor índice de sucesso, com intuito de possibilitar a tomada de decisão de investir em áreas fracas ou mudar o foco regional do seu negócio. As propriedades atualmente possuem um controle unificado e compartilhado de informações através do Google Drive. Por exemplo, o controle de peças e veículos apresenta o gasto de combustível, o consumo de cada máquina, inteirado de todas as propriedades. As formulações das rações também são atualizadas e monitoradas por planilhas conforme os colaboradores repassam seu feedback. Bem como o controle, entrada e transferência de bovinos, a Respondente 1 explica como utilizam esse modelo: Dessa forma fazendo com que o controle pecuário seja mais fácil, pois é sabido de onde a carga saiu e para onde foi, além da geração de gráficos para comparação de diversas variáveis como preço, peso, e quantidade de vendas e compras realizadas, tornando possível a visualização de problemas na produção, quais sedes se destacam e assim por diante (RESPONDENTE 1). A importância do compartilhamento dessas planilhas é denotada na padronização e avaliação de peculiaridades de forma global ou isolada. Agrega segurança em nuvem, os dados estão mais seguros e não correm o risco de perda por erro tecnológico. A Respondente 1 acrescenta que um dos motivos do Google Drive ser escolhido é a organização os controles. A possibilidade de decidir quem tem acesso as planilhas e qual o nível de interação de cada colaborador. No entanto, o Google Drive precisa de internet e conta de g- mail, o que não acarreta problemas, todas as propriedades possuem acesso à rede. O controle dos bovinos é realizado através do mapa pecuário, que permite ao gestor acompanhar a movimentação do rebanho e solucionar problemas de modo mais específico por povoação de pasto. No entanto o controle é realizado em três etapas: Rascunho do capataz, livro de controle do capataz e mapa do gado (relatório definitivo). Segundo a Respondente 1, o ideal seria as duas primeiras etapas serem diárias, mas são realizadas de forma semanal e o mapa do gado é feito mensalmente. A leitura do mapa pecuário permite antecipação de movimento de mercado e prevenção contra adversidades futuras. No controle de estoque, o Respondente 2 explica que o sistema permite o controle por baixa no estoque manual, por validade e por centro de custos. Permitindo controles de quantidades mínimas e máximas ou por lote. Os produtos são cadastrados pela NF-E ou de forma manual, mas exige a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Quando cadastrado, é feito junto o custo de embalagem, a porcentagem de lucro que o gestor almeja, e outras informações sobre aquele produto. Se for da vontade do gestor o sistema permite construção de orçamento para envio direto ao cliente tomando por base o estoque. Percebe-se que cada controle da fazenda é devidamente relatado e analisado periodicamente, para que a gestão possa tomar as decisões corretas. No entanto, o processo é moroso e despende tempo e exaustivo trabalho. Quando gerenciados pelos sistemas ERP, esses controles e relatórios são gerados de forma automática, sem empregar tanto trabalho da equipe. Os sistemas ERP interessam a organização rural com intuito de minimizar retrabalhos. O programa ERP localiza a nota pelo código, encaminha automaticamente à contabilidade e estoque, minimizando o retrabalho do escritório. O sistema ERP pode ser online ou instalado nos hardwares da empresa. Quando trata-se de um modelo por aplicativo há a necessidade de memória na máquina e um processador compatível para que o programa funcione sem travar. Nesse caso a equipe do fornecedor do sistema instala e configura o programa nos equipamentos da empresa. São sistemas que mesmo sem internet podem ser usados. Os lançamentos são permitidos no modo off-line, e quando a internet é retomada o sistema é atualizado. As organizações rurais estão localizadas em regiões geograficamente propensas ao fraco sinal ou baixa manutenção de rede de internet e elétrica. Em contrapartida, os sistemas online são modelos que não exigem espaço e memória dos computadores, celulares ou tablets, como também não tem a necessidade de cuidados com compatibilidade de processadores. O ERP necessita treinamento do pessoal, que deve ser realizado preferencialmente online, segundo a Respondente 1. O Respondente 2 afirma que o sistema não é complexo e permite aos funcionários das empresas fácil aprendizado, mas se for de preferência da empresa, possui pacotes com número de horas de treinamento online mensal. O treinamento é online com um especialista na área da informática e sistemas voltado para orientar os funcionários sobre as funcionalidades do sistema. Reys (2013) descreve que a implementação pode implicar insatisfação dos colaboradores quanto à utilização do sistema. Para tanto, o problema é contornado com a participação da alta gerência na implementação. No quesito participação da gerência na implementação, a organização rural em estudo possui a gestora e o proprietário que acompanham diariamente a operacionalização das informações advindas dos controles gerenciais então implantados. A gestora se responsabiliza por tomar a frente do projeto desde que foi iniciado a familiarização dos colaboradores com a implementação de controles por planilhas compartilhadas. O custo de investimento em um sistema ERP aproxima-se de R$29.000,00 a R$37.500,00 anuais com 90h de implementação e treinamento para sistemas instalados nos hardwares, e R$4.200,00 anual em sistemas online, via banda larga somente para o controle de escritório. O Respondente 2 afirma que não há a necessidade de adquirir um pacote mais complexo inicialmente, por isso sugeriu o pacote que custa para o gestor entorno de R$4.200,00 anual. O fornecedor do sistema flexibiliza ao empresário adquirir maior número de notas fiscais ou usuários conforme percepção da necessidade. Ademais, completa que o sistema personalizado aumentaria muito o valor, e portanto não tem um custo/beneficio viável. A assistência técnica é um fator de preocupação para a Respondente 1. O agronegócio trabalha de segunda-feira a domingo, é impreterível a assistência técnica em tempo integral. De acordo com o Respondente 2, esse problema é contornado através de robôs de suporte online que prestam serviços 24 horas por dia, ou por meio de manuais online disponíveis no site; visto que o suporte telefônico está disponível em horário comercial (8h às 17h). Há pacotes de assistência técnica, opcionais, que permitem à empresa o suporte telefônico preferencial. A Respondente 1 relata a necessidade de excelência em assistênciatécnica e qualidade, pois tem experiências ruins com sistemas anteriores voltados a importação de NF-E. O Respondente 2 representa uma fornecedora de software ERP, o qual não está customizado para o ramo do agronegócio. Constata-se a partir da busca de empresas fornecedoras do sistema ERP desse ramo é voltado às empresas cerealistas, os quais apresentam um determinado padrão de oferta de módulos. De acordo com a Respondente 1, os principais módulos ofertados, especificamente, para esse ramo são voltados a controles de grãos, maquinário, custos operacionais, patrimônio, configurações, tesouraria, contas, estoque, financeiros, produção, manejo, máquinas, benfeitorias, comercial, integração com a balança, encerramento da safra, maneio, colheita própria, integração com a balança, ordem de serviços, aplicações de insumo, agro gestão, critérios de rateio, conhecimento de transporte eletrônico (CTE), compras de grãos, manifesto eletrônico, controle de consumo de combustíveis, controle de manutenção e reparos, conciliação de caixa e bancos, contas a pagar e receber, contratos financeiros, movimentações e transferências, notas fiscais de entrada e de saída, processo de compra, plano de contas, centro de custos, cadastro de usuários e implementos. Os módulos comumente oferecidos por empresas de sistemas ERP para o agronegócio são: QUADRO 1. MÓDULOS DISPONILIBIZADOS POR EMPRESAS DE GESTÃO DE SOFTWARE ERP PARA ORGANIZAÇÕES RURAIS Módulo Função Empresas que disponibilizam Cadastro dos produtores Controle sobre saldos dos produtores, cooperados ou arrendatários. CONSISTEM Gestão de grãos Todas as operações referentes as vendas das sementes, envolvendo o contrato com o cliente/fornecedor, orçamento, metas, logística. CONSISTEM; DELSOFT; Controle dos saldos por safra Acompanhamento por safra, que informa variedade, produto, vistoria das unidades produtoras incluindo qualidade e rastreabilidade. CONSISTEM; DELSOFT; Produção agrícola Agricultura digital SAP; DELSOFT; Originação e negociação Originação agrícola; colaboração entre fazendeiros; comércio e gestão de riscos. SAP; Processamento de agronegócio Gestão eficiente de laticínios; Operações de produção; gestão de proteínas. SAP; Cadeia de suprimentos Gestão de demanda e insights; promessa de entrega de pedido; planejamento de suprimentos e respostas; planejamento de vendas, estoque e operações; gestão de depósitos e silos; monitoramento e rastreamento de redes de logística; gestão de transportes; logística de pátios. SAP; DELSOFT; Marketing e vendas Automação da força de vendas colaborativa; personalização do comércio; marketing baseado em consentimento; gestão de comércio omnichannel; marketing otimizado; gestão do desempenho de vendas; visão de cliente individual. SAP; CIGAM; Operações de campo Apropria recursos (pessoas, máquinas, insumos e produção). Apura e valoriza serviços realizados por terceiros. Inclui o planejamento operacional e a programação de serviços. Analise de solo e climatologia. OLIVEIRA e COIMBRA (2017) Colheita e recepção Registra estimativa de colheita, análise de qualidade e colheita real. DELSOFT; OLIVEIRA e COIMBRA (2017) Manutenção automotiva Administra, controla e regula os veículos da empresa, responsável por toda manutenção. DELSOFT; OLIVEIRA e COIMBRA (2017) Custos Operacionais Orçamento operacional, custos por processo, operação, local, e recurso. E custo de manutenção de equipamentos. DELSOFT; OLIVEIRA e COIMBRA (2017) FONTE: Dados da pesquisa (2019). No entanto a empresa não ofereceu um modelo adequado às necessidades da organização rural em estudo, não apresenta módulos voltados a pecuária e agricultura. A Respondente 1 ressalta que teve dificuldade em encontrar fornecedores de ERP para modelos pecuários, fator que a desanima a implementar esse módulo. Sendo assim, o sistema escolhido deve ser compatível com as necessidades da empresa na área tecnológica e no ramo de negócios. Pois une informações de todas as áreas da corporação em um único banco de dados, que pode ser utilizado pela gerência da empresa a qualquer momento. A forma adequada de implementar um modelo de gestão automatizada em tal porte em uma organização rural é começar com pequenos passos. Ambos respondentes das entrevistas concordam que a implementação poderá ser realizada inicialmente em uma propriedade e testado por um período para observar se cumpre com as necessidades da empresa. É importante ressaltar que existem muitos sistemas disponíveis no mercado, mas observou-se que poucos estão preparados para receber o agronegócio e auxiliá- lo de forma adequada. Uma sugestão da pesquisadora é a consultoria externa de um especialista na área, pois o tema é delicado e complexo para ser conclusivo. Cada propriedade tem sua cultura organizacional específica e deve ser respeitada no processo. O gestor tem preparado seus colaboradores há 2 anos para atualizá-los com modelos de operações mais modernas, para então, aderir ao sistema ERP. 05 - CONCLUSÕES O envolvimento do proprietário e da gestora na familiarização dos colaboradores com a gestão tecnológica nas práticas diárias é um fator que agrega valor e sustenta a implementação do sistema. O conhecimento da alta gerência nas peculiaridades práticas e culturais da organização beneficia a implementação do sistema ERP. A cautela e assertividade dos gestores sobre a necessidade de um sistema ERP é percebida no processo de adaptação dos colaboradores. Atualmente utilizam-se planilhas do excel, as quais são postadas no Google Drive para compartilhamento das informações dos controles gerenciais. Essa realidade significa que a alta gerência conhece a cultura organizacional e as potencialidades de seus colaboradores, bem como as dificuldades tecnológicas de implementação e operacionalização. Portanto, a cautela na implementação é representada pelo processo de familiarização tecnológica à todos da organização. A visão do proprietário e da gestora está pautada no risco de implementação do sistema. A preocupação de ambos circunda sobre as consequências que a organização poderá enfrentar caso o sistema não corresponda com as expectativas. A fornecedora de software propôs a implementação apenas do módulo financeiro. Desta forma, o objetivo central do ERP não seria alcançado, o qual se traduz na integração organizacional. Esta proposta deve-se que a fornecedora não oferece recursos, módulos de software, específicos para organizações rurais. A sugestão da fornecedora é a customização do sistema, os altos custos e insegurança da arquitetura tecnológica comprometem substantivamente o projeto. Existem dois tipos de operacionalização de sistemas ERPs, modo online e off-line. Constatou-se nessa pesquisa que o modo off-line é mais apropriado ao ramo rural. A localização geográfica e o acesso à internet no campo são fatores que condicionam o uso off-line do sistema. A presente pesquisa levantou e apresentou a organização uma gama de fornecedores de softwares ERP especializados na área rural. A etapa seguinte é a negociação da melhor proposta às particularidades da organização. 06 - REFERÊNCIAS CAJARAVILLE, Andrea. A organização integrada. Gestión. Setembro de 2001. Disponível em <http://www.strategia.com.br/Arquivos/Organiza%E7%E3o_integrada.pdf> Acessado em outubro de 2019. CARLI. L. Aspectos das exportações do agronegócio brasileiro e a taxonomia setorial de pavitt. 93 p. Dissertação (Mestre em Agronegócios) - Programa de Pós-Graduação em Agronegócios do Centro de Estudos e Pesquisas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2016. CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. PIB Agro CEPEA-USP/CNA, mar 2020. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx. Acesso em: 30 mar. 2020 CIGAM (São Paulo).Cigam. Agronegócio: Produtividade na Gestão Agrícola: Solução em Gestão para o Agronegócio. 2019. Disponível em: <https://www.cigam.com.br/agronegocio>. Acesso em: 03 nov. 2019. FERNANDES, Alice Munz et al. Reflexos e Contribuições do Big Data nas Atividades Agrícolas. In: SIMPÓSIO DA CIÊNCIA DO AGRONEGÓCIO, 5., 2017, Porto Alegre. Anais... . Porto Alegre: Cepan, 2018. p. 24 - 31 GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa: pesquisas descritivas. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2002. 42 p. HYPOLITO. C. M. PAMPLONA. E. O. Sistemas de gestão integrada: conceitos e considerações em uma implantação. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (ENEGEP), 19, 1999, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Enegep, 1999. pdf.A0357. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1999_A0357.PDF>. Acesso em: 11 nov. 2019. KALSING. J. O uso de tecnologias de informação no processo de tomada de decisão de gestores de propriedades rurais associadas à Cooperativa Languiru, no Vale do Taquari (RS). 108 f. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) - Programa de Pós-Graduação em Agronegócios do Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios (CEPAN), Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2015. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica: Escolha do tema. 5. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2003. 45 p. MARQUES, Pedro Rocha. Avaliação da competitividade dos sistemas de produção de bovinos de corte da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. 2010. 101 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agronegócios, Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. MEIRA. C. A. A.; MANCINI. A. L.; MAXIMO. F. A.; FILETO. R.; MASSRUHÁ. S. M. F. S. Agroinfomática: qualidade e produtividade na agricultura. Cadernos da Ciência & Tecnologia. 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Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.44, n. 2, p. 51-63, abr. 2004. 07 -AVALIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O DESEMPENHO DO ORIENTADO A orientanda Júlia Mielczarski Pacheco da Silva cumpriu os objetivos propostos no projeto de pesquisa. Houve assiduidade e compromisso com a qualidade da pesquisa científica. IRATI, 01 de setembro de 2020. ____________________________ ____________________________ Assinatura do Orientador Assinatura do Aluno 03 – METODOLOGIA
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