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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 5 – ABERTURA: FALHA TERAPÊUTICA NA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL (TARV): PAPEL E OBJETIVOS DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL: A terapia para manejo do HIV sofreu diversas alterações com a evolução do conhecimento científico acerca do vírus, partindo de uma abordagem restrita a diminuição da ocorrência de infecções oportunistas para intervenções diretas ao ciclo de vida celular, por meio do uso de antirretrovirais. Atualmente, 5 classes de medicações antirretrovirais são empregadas no tratamento contra o HIV-AIDS, a saber: Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo ou nucleotídeo (ITRNs): correspondem a análogos de nucleotídeos de ribose que são fosforilados de forma a serem incorporados ao DNA do HIV. A estrutura desses compostos não contém o grupo 31-hidroxila, o que impede a formação da ligação 3’-5’ e cessa o alongamento do DNA viral. Inibidores da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo (ITRNNs): esses fármacos são altamente seletivos para a transcriptase-reversa do HIV, ligando-se a ela num sítio próximo ao polo de ação, o que promove a alteração conformacional da proteína, que se torna inativa. Há elevado risco para o desenvolvimento de resistência cruzada com outros compostos de mesma classe, e também de reações de hipersensibilidade; Inibidores de protease (IP): esses compostos têm como alvo a supressão reversível da retropepsina HIV, enzima que promove a maturação das proteínas virais (transcriptase reversa, protease e integrase), bem como de componentes intrínsecos à sua estrutura. Com o uso desses medicamentos, os vírions de HIV produzidos pelas células sequestradas são não infectantes; Inibidores de entrada: o papel desses fármacos consiste em impedir a adesão e a fusão do HIV em células susceptíveis, o que acontece por meio de mudanças conformacionais em glicoproteínas ou bloqueio de receptores; Inibidores da integrase: tais fármacos agem de forma a evitar a inserção de segmentos do DNA do HIV no genoma celular, o que acontece por meio da inibição por competição da enzima, que apresenta maior afinidade pelos medicamentos. Classes e representantes dos principais medicamentos antivirais utilizados no tratamento para o HIV A escolha para o tratamento da infecção por HIV em pacientes “virgens” (ainda não tratados anteriormente) consiste no uso de dois ITRNs com um IPs OU ITRNNs OU inibidor da integrase Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Os fármacos específicos a serem empregados em associação irão ser selecionados de forma a impedir o uso simultâneo de fármacos com o mesmo mecanismo de ação, evitar o acúmulo de toxicidades, a adequação ao estado clínico do paciente, e facilitar a adesão à terapia. Sítios de ação dos principais fármacos contra o HIV, evidenciando seu papel de inibidor da replicação viral Os objetivos principais da terapia antirretroviral são: Reduzir a replicação do HIV de forma sustentada e duradoura; Recuperar e manter a capacidade imunológica do indivíduo; Melhorar a qualidade de vida individual; Diminuir os índices de morbimortalidade associados à infecção. Gráfico que indica a alteração no padrão de continuidade da evolução da infecção por HIV a partir do início da TARV No Brasil, o enfrentamento à epidemia de HIV tinha como objetivo cumprir a meta 90- 90-90, que postulava que até 2020, 90% das pessoas com HIV seriam diagnosticadas e, destas, 90% estariam inseridas na TARV, com 90% deste grupo apresentando carga viral indetectável. DETECÇÃO E CONDUTA DE FALHAS NA TARV: A elevação do acesso à TARV e o desenvolvimento de fármacos cada vez mais modernos resulta na maioria dos pacientes apresentando carga viral para o HIV inferior a 50 cópias/mm³ no primeiro ano de tratamento. Alguns indivíduos, no entanto, relatam falha na terapêutica inicial, fazendo uso de novos medicamentos, consolidando uma estratégia de resgate. O reconhecimento precoce do estado de falha terapêutica é fundamental para o sucesso do processo de recuperação subsequente, utilizando como principal parâmetro de avaliação a falha virológica, representada por manutenção de carga viral detectável (> 500 cópias/mL) após 6 meses do início do tratamento (ou rebote Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO após a conquista da supressão viral). Esse estado deve ser confirmado por coletas positivas consecutivas, com intervalo de 4 semanas da dosagem anterior. Em algumas situações, é possível identificar falhas terapêuticas com carga viral inferior a 500 cópias por mL, que se inserem como desafios no tratamento adequado do indivíduo com HIV. Por vezes, quadros de viremia < 200 cópias/mL indicam a replicação viral a partir de células contaminadas latentes, fenômeno que, quando isolado, é denominado um blip viral. O aparecimento ocasional desse achado não representa necessariamente falha virológica, mas que, caso seja persistente, pode indicar estado de emergência da resistência viral, que anuncia a rejeição da TARV. Normalmente, quadros com viremia persistente e superior a 200 cópias/mL já indicam falha virológica. Progressão da diminuição da carga viral frente à TARV e as possíveis alterações em sua evolução Um dos fatores que justifica a urgência para detecção de incorreções no tratamento é a necessidade de reajuste adequado das medicações, de forma a impedir acúmulos de variantes virais resistentes aos antirretrovirais e a progressão da doença. Mesmo em pacientes que tenham atingido carga viral indetectável com a TARV, ainda é possível identificar o grupo dos não- respondedores imunológicos, que não apresenta elevação da concentração de linfócitos T CD4, mais observada em pacientes mais velhos e/ou naqueles que iniciaram a terapia de forma tardia. A presença de infecções oportunistas é minimizada pela TARV, mesmo que não haja recuperação imune plena (cargas virais indetectáveis já são um ótimo fator de proteção). Esse achado, de forma isolada, não representa falha terapêutica, mas sim possíveis incorreções profiláticas para esses desfechos. As principais causas para falha virológica são: Má adesão terapêutica: a interrupção ou inconstância da TARV pode ser fruto de diversos fatores, como efeitos adversos dos medicamentos, dificuldade de acesso aos insumos ou aspectos psicossociais, como depressão e abuso de substâncias; Principais grupos populacionais afetados pela dificuldade de acesso ao diagnóstico e tratamento para o HIV Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Desenvolvimento de resistência viral: a manutenção de níveis séricos baixos dos inibidores virais permite a reativação da replicação do HIV num ambiente de pressão seletiva, favorecendo a sobrevivência de populações que sejam resistentes aos mecanismos farmacológicos em uso; o Esse desfecho pode ser consequência direta da má adesão. o A transmissão de resistência é uma causa incomum de falha virológica, sendo contornada por meio da administração de INI como parte do esquema inicial (mais difícil de desenvolver mutações). Adoção de esquemas terapêuticos inadequados: o uso de medicamentos com potência insuficiente, seja por baixa barreira genética (menor capacidade de repelir mutações virais), ou por interações medicamentosas, pode estar associado à menor eficácia da TARV; o Comorbidades ou efeitos adversos de outros fármacos que resultem em vômitos ou diarreia também podem interferir na capacidade de ação desses medicamentos. Após ser identificada a falha virológica e, sempre que possível, determinada a “etiologia” da falha terapêutica, é recomendada a realização dagenotipagem do HIV, de forma a detectar variantes possivelmente resistentes do vírus, promovendo assim a otimização do esquema terapêutico. Os critérios para realização desse exame são: Falha virológica confirmada após coletas consecutivas com 1 mês de intervalo entre elas; Carga viral > 500 cópias/mL; o Esse valor favorece a eficácia da genotipagem, potencializando a chance de detectar populações mutagênicas. Uso consistente de TARV por ao menos 6 meses. A realização precoce da genotipagem deve ser recomendada sempre que possível, pois evita o acúmulo de diversas cepas multirresistentes, que pode levar à eliminação de opções de medicamentos para a TARV. Critérios de realização e observações importantes acerca da genotipagem do HIV Significado dos resultados do teste de genotipagem e seus impactos para o quadro clínico da infecção por HIV O manejo das já mencionadas falhas virológicas com viremia baixa persistente apresenta controle bastante dificultado, uma vez que a genotipagem não é capaz de Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO determinar as especificidades do vírus. A primeira estratégia a ser adotada é corrigir ou excluir a presença de falhas de adesão e, na impossibilidade de manutenção d esquema inicial, realizar a troca dos componentes da TARV junto a médicos especialistas. Conduta terapêutica aplicada à falha virológica com viremia baixa persistente A definição da estratégia da terapia de resgate, como sua complexidade e o perfil das classes farmacológicas usadas, será dependente do tipo de falha terapêutica, que pode ser inicial ou múltipla, do desenvolvimento de resistência, restrita ou ampla, e da carga viral no momento de detecção do insucesso. Apresentam menor resposta à TARV, mesmo que reajustada, os quadros com histórico de falhas múltiplas e prolongadas, com resistência genotípica variada, carga viral alta e dosagem baixa de linfócitos T CD4. Protocolo básico para o controle e reversão da falha da TARV Assim, podem ser destacadas duas vertentes principais para o resgate, a saber: Resgate de falha terapêutica inicial: o resgate inicial deverá se orientar pelo resultado da genotipagem viral e no esquema terapêutico previamente utilizado. É importante notar que não devem ser sugeridos novos ITRNN frente a falhas prévias, pois esses medicamentos apresentam barreira baixa de resistência genética, ou seja, mutações resistentes surgem facilmente, “inutilizando” esses compostos. Nos ITRN, por sua vez, mesmo na presença de cepas resistentes, ainda há preservação de certa atividade residual supressora, o que justifica a inserção, sempre que possível, desses compostos nos esquemas de resgate. A monoterapia funcional (uso de apenas uma classe de medicamentos com alta resposta) deve ser evitada, pois há risco para desenvolvimento de resistência e para menor durabilidade do controle viral. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO É recomendada a implementação de terapêuticas com dois ou três fármacos distintos, sendo 1 ou 2 ITRN e, normalmente um inibidor de protease associado a ritonavir, que promovem aumento da barreira genética. Esquemas terapêuticos de substituição medicamentosa no resgate inicial Principais medicamentos de escolha para controle de falhas terapêuticas iiniciais Resgate em falhas múltiplas da TARV: normalmente, a escolha dentre medicamentos é dificultada, pois o paciente já desenvolveu resistência viral ampla. Nessas situações, antirretrovirais de uso restrito devem ser prescritos, acompanhando o encaminhamento para um profissional especialista em genotipagem. Alternativas terapêuticas no controle de falhas terapêuticas múltiplas
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