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Leonan José – T5 FISIOLOGIA – BBPM III Dinâmica da ventilação pulmonar – Marcelo CAIXA TORÁCICA A figura ao lado mostra o gradil costal, o esterno e a coluna vertebral – são os ossos que compõem a caixa torácica. Ao falar em parede torácica referimo-nos em todos os tecidos que participam da ventilação, ou seja, ao falar em abdômen, ele também participa da ventilação, logo, os músculos abdominais fazem parte da parede torácica. Quaisquer alterações no parênquima pulmonar pode haver alterações na ventilação. Do mesmo modo, alterações da caixa torácica também resultarão em alterações na ventilação pulmonar. Por exemplo, uma escoliose vai impedir a incursão correta do diafragma ou dos outros músculos da ventilação. Quando nos referimos à ventilação, fazemos referência a um ato motor. Para que esse ato ocorra, os músculos de controle somático são de extrema importância. Esses músculos vão promover a inspiração e, em alguns momentos, a expiração. O principal deles é o diafragma, ele é tido como um músculo inspiratório. O diafragma é um músculo em forma de cúpula que separa toda a cavidade abdominal da caixa torácica. Quando contraído, ele promove o relaxamento da sua cúpula, fazendo com que o pulmão seja tracionado e, dessa forma, enchido de ar. Na expiração, o diafragma se mantem com a cúpula elevada (assim como na imagem ao lado). Na inspiração, essa cúpula se abaixa e traciona todo o parênquima pulmonar, fazendo com que o ar entre e atinja os alvéolos. A musculatura inspiratória pode ser chamada de acessória. Porém, alguns estudos de eletromiografia tem demonstrado ação dessa musculatura inspiratória mesmo na respiração calma e tranquila. Além do diafragma, existe também, na musculatura inspiratória, os escalenos anterior, médio e posterior. Eles possuem a função de elevar as primeiras costelas. Os músculos intercostais externos, juntamente com os escalenos, participam de um movimento importante chamado de alça de balde. A elevação do gradil costal feita pela musculatura intercostal externa e a elevação das primeiras costelas realizado pelos escalenos é conhecida como movimento de alça de balde. Esse movimento aumenta o diâmetro anteroposterior da caixa torácica, assim, aumentando nossa capacidade respiratória. Além desses, existe também a musculatura inspiratória acessória. O primeiro deles é o esternocleidomastóideo. Essa musculatura possui como principal função a elevação do esterno, que atua em conjunto com o movimento de alça de balde. Esse movimento de elevação do esterno é conhecido como braço de bomba. Outro músculo acessório é o serrátil anterior, que promove a função de abertura das escápulas, permitindo o movimento do gradil costal e aumentar o diâmetro anteroposterior da caixa torácica. Além deles, temos trapézio, peitoral maior e latíssimo do dorso atuando na musculatura acessória inspiratória. Na nossa respiração calma e tranquila, eles não estarão ativos, apenas em momentos de esforço ventilatório, seja ele devido alguma patologia ou durante uma atividade física. Além da musculatura inspiratória, temos a musculatura expiratória. A inspiração é um processo ativo de contração muscular, enquanto a expiração é um processo passivo devido ao relaxamento dos músculos da inspiração. Porém, alguns estudos de eletromiografia tem demonstrado a ação de algumas musculaturas na expiração, principalmente dos músculos abdominais (reto abdominal e obliquo do abdômen). Quando contraídos, eles empurram o conteúdo abdominal, que comprime o diafragma e eleva sua cúpula, fazendo então um movimento expiratório. Temos também os intercostais internos. Porém, ao contrário dos intercostais externos, os internos participam do movimento expiratório, promovendo a diminuição do gradil costal – eles fecham a caixa torácica, diminuindo o diâmetro anteroposterior. VENTILAÇÃO A ação em conjunto da musculatura inspiratória e expiratória damos o nome de ventilação. A entrada e saída de ar dos pulmões é o ato de ventilar, não de respirar como comumente utilizamos. A ventilação é a troca gasosa entre os alvéolos e o ambiente externo, ou Leonan José – T5 FISIOLOGIA – BBPM III seja, é o processo pelo qual o oxigênio da atmosfera é levado ao interior dos pulmões e o dióxido de carbono é expelido do organismo. ESPIRÔMETRO Na imagem abaixo vemos um aparelho chamado espirômetro (bem antigo, hoje em dia todo o sistema é informatizado). Ele consiste em uma cânula ligada à boca do indivíduo, que está usando um clipe nasal, ligado a uma campânula preenchida com água no seu interior, enquanto outra campânula vem por cima da primeira. O interior do equipamento pode ser visto ao lado. Acoplado a isso está um sistema de registo. Toda vez que o indivíduo ventila, a campanula sobe ou desce. Se ele inspira, ela desce (pois ele está removendo parte do ar em seu interior). Se ele expira, ela sobre. Ao pensar no movimento da pena que faz a marcação, se a campânula sobe, o movimento da pena é para baixo, se a campânula desce, o movimento da pena é para cima. Dessa forma foram feitos diversos registos e descobertos alguns volumes e capacidades importantes para algumas patologias. VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES → Volumes: quantidades de ar envolvidas na inspiração ou expiração → Capacidades: quantidade de ar que compreende de 2 ou mais volumes. O gráfico a seguir representa o registro da espirometria coletada pelo espirômetro antigo (hoje bem mais modernizado). Observamos uma escala de volume e também o registro de inspirações e expirações. Os primeiros registros (os menores) representam o volume corrente (VC), que é aquele que ocorre quando estamos calmos e tranquilos. Esse volume corrente possui aproximadamente 500ml, mas pode variar muito dependendo da condição do indivíduo – tabagistas, pessoas com restrições pulmonares, etc. Esse volume pode variar até mesmo com o sexo. Ao executarmos uma inspiração a partir da expiração máxima, temos o chamado volume de reserva inspiratória (VRI), que é o volume máximo de ar que consigo inspirar voluntariamente após uma inspiração corrente, ou seja, é o volume que ainda consigo inspirar após uma inspiração calma e tranquila. Possui em torno de 2 litros, mas vale ressaltar que esses valores podem se alterar. Existe também o volume de reserva expiratória (VRE), que é o volume máximo de ar que pode ser expirado voluntariamente após uma expiração espontânea (ou seja, calma e tranquila). Possui em torno de 1,1 litro. Leonan José – T5 FISIOLOGIA – BBPM III Além disso, temos o volume residual (VR), que é o volume de ar que permanece no interior dos pulmões mesmo após uma expiração forçada/máxima. Isso é dado pela tração da pleura impedindo que os alvéolos se colabem. Falando agora sobre as capacidades, a primeira delas é a capacidade inspiratória (CI), que é a soma do volume corrente + volume de reserva inspiratória, ou seja, o volume máximo de ar que consigo colocar nos pulmões após uma expiração corrente (calma e tranquila). Tem aproximadamente 2,5 litros. Já a capacidade vital (CV) é o volume de ar que consigo mobilizar entre uma inspiração e uma expiração máxima. Ou seja, é a soma do volume de reserva expiratória com o volume corrente e com o volume de reserva inspiratória. É essa capacidade vital que é usada no exame de espirometria. Em outras palavras, pode-se dizer também que é a quantidade máxima de ar que pode ser expirada após uma inspiração máxima. Possui em torno de 4,8 litros. Além dessas, temos a capacidade residual funcional (CRF) que é quantidade de ar nos pulmões no final de uma expiração espontânea. Corresponde também à soma dos volumes de reserva expiratória com o volume residual e possui em torno de 2,4 litros. Somando todos os volumes, temos a capacidade pulmonar total (CPT), que é a quantidadede ar contida no pulmão ao final de uma inspiração máxima. Ou seja, é a soma dos 4 volumes: volume de reserva inspiratória, volume corrente, volume de reserva expiratória e volume residual. Possui aproximadamente 6 litros. Na imagem a seguir, observamos algumas alterações de volumes e capacidades em relação a indivíduos que tem doenças obstrutivas e restritivas. Nos doentes restritivos, as capacidades estão diminuídas, devido a diminuição dos volumes VRI, VRE e VR, apesar do volume corrente dos indivíduos permanecer praticamente o mesmo nos três casos. Porém, existe uma diminuição nos outros três volumes, pois esse pulmão perdeu sua complacência/capacidade elástica normal, então acaba tendo seus outros volumes diminuídos e, uma vez que as capacidades são as somas dos volumes, elas também estão alteradas. Nos doentes obstrutivos, temos o aumento das capacidades (o oposto do caso anterior), apenas o VRE pode ser um pouco menor do que os normais. Os volumes estão aumentados pois o paciente obstrutivo apresenta dificuldade na exalação do ar do pulmão. Percebe-se isso ao olhar o VR desses paciente obstrutivo, que é praticamente o dobro dos normais. Esse indivíduo é considerado hiperinsuflado – ao observar o raio X de um indivíduo com DPOC, por exemplo, teremos a retificação da cúpula diafragmática, pois esse indivíduo Leonan José – T5 FISIOLOGIA – BBPM III aprisiona o ar dos pulmões, não conseguindo exalar todo o ar dos pulmões, aprisionando grande parte dele. MANOBRA EXPIRATÓRIA FORÇADA Ela utiliza a Capacidade Vital Forçada (CVF), ou seja, é utilizada uma expiração máxima, mas de forma forçada, para eliminar todo o gás dos pulmões. Por meio dessa manobra, é possível observar o Volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1). Para isso, o indivíduo faz uma expiração máxima e então exala o ar com toda a força e rapidez que ele conseguir. Após essa manobra, é feita a razão do VEF1 pelo CVF, que precisa ser maior que 80% para ser considerado normal. Ou seja, em 1 segundo é preciso exalar mais de 80% da capacidade vital forçada. No paciente obstrutivo, o ar está sendo exalado com maior lentidão, acarretando na razão VEF1 por CVF reduzido (menor que 80%). O ar exalado no primeiro segundo sai de forma mais lenta, uma vez que o paciente obstrutivo tem a tendência de aprisionar o gás no interior dos pulmões. Já no paciente restritivo, o padrão de curva é o mesmo do paciente normal. Isso acontece, pois, esses pacientes possuem uma capacidade vital e os volumes menores que o normal, consequentemente, a razão VEF1 e CVF fica próxima do normal. Na verdade, tanto os volumes quanto as capacidades estão diminuídas, eles ventilam em volumes menores. No entanto, nesses indivíduos a CVF está reduzida – enquanto os pacientes normais possuem em torno de 5 de CVF, esses indivíduos vão possuir quase metade disso. ESPAÇO MORTO FISIOLÓGICO O espaço morto fisiológico são regiões pulmonares que poderiam fazer trocas gasosas, mas não estão fazendo. Pode existir no parênquima pulmonar um alvéolo que recebe o ar, mas nele não há passagem de sangue (ele não está sendo perfundido). Ou seja, nesse local poderia estar acontecendo a troca gasosa, mas não está acontecendo porque aquele alvéolo não está sendo perfundido. Também pode acontecer o contrário – o alvéolo ser perfundido, porém, por alguma obstrução de via aérea, o gás não chegar nesse alvéolo, consequentemente, ele seria perfundido e não ventilado, sendo isso também chamado de espaço morto fisiológico. ESPAÇO MORTO ANATÔMICO É a via de condução para que ocorra a troca gasosa. Esse epitélio não é especializado em troca, ele apenas conduz todo o gás até chegar ao local de troca gasosa. Os espaço morto anatômico tem aproximadamente 150ml. Ao observar a figura, temos uma via de condução (correspondente ao espaço morto anatômico: nariz, boca, traqueia, brônquios, bronquíolos), a parte maior corresponde aos alvéolos e a parte inferior maior representa os capilares pulmonares, oferecendo a perfusão a esse tecido para que, dessa forma, o CO2 possa ser trocado pelo O2. Por exemplo, num volume corrente de 500ml e numa frequência ventilatória de 15 irpm, teremos 7.500 ml ventilados a cada minuto. Contudo, observa-se na figura a ventilação alveolar, que possui em torno de 5.250ml/min. Para entendermos isso, basta multiplicarmos o espaço morto anatômico (de 150ml) pela frequência respiratória (de 15 irpm) e, assim, teremos a diferença entre a ventilação total e a ventilação alveolar. Desse modo, o ar que está faltando na ventilação alveolar é aquele que permanece no espaço morto anatômico. Dos 7.500 ml/min, apenas 5.250 atingem a ventilação alveolar, sendo que os outros 2.250ml são perdidos no espaço morto anatômico. Mesmo assim, temos aproximadamente 3.000 ml Leonan José – T5 FISIOLOGIA – BBPM III chegando nos alvéolos, sendo isso mais do que suficiente para oxigenar os 70 ml que passam pelo capilar pulmonar. Por isso, é importante sempre lembrarmos que o ar do espaço morto não está sofrendo troca. Se, por exemplo, aumentarmos o espaço morto anatômico do indivíduo com um procedimento, teremos um aumento em ml do espaço morto anatômico, devendo oferecer mais gás para esse paciente. Espaço morto e gás alveolar A zona respiratória está representada pelo balão e o espaço morto anatômico representado pelo tubo. A cada ciclo respiratória, o indivíduo inspira 450ml (os 4 quadrados). Os primeiros 150ml que vão atingir a zona respiratória estão vindo do espaço morto anatômico. E, nessa região, tem-se uma composição muito próxima à do gás alveolar. Os outros 300ml vão apresentar a composição do ar atmosférico (umedecido). Ao fina da inspiração, a mistura dos gases já haverá ocorrido, transformando tudo em uma composição do gás alveolar. Desse modo, 450ml entraram nos alvéolos, mas 150ml de gás ficaram no espaço morto anatômico. Assim, durante nossa ventilação subsequente, os primeiros 150ml de gás que vão sair dos pulmões possuem a composição do espaço morto anatômico, enquanto que os demais 300ml vão apresentar a composição do gás alveolar. E assim sucessivamente. ALTERAÇÕES VENTILAÇÃO PULMONAR VS ALVEOLAR O espaço morto anatômico pode aumentar, mas agora vamos trabalhar apenas alterando a ventilação. Lembrando que a ventilação é volume corrente (ml) vezes a frequência ventilatória (min). Nos três casos a seguir, temos um volume de espaço morto anatômico de 150 ml e o ventilação de 8.000 ml/min. Exemplo A Indivíduo ventila num volume corrente baixo (250ml), mas numa frequência de 32 irpm, atingindo um volume de 8.000 ml/min. Nesse caso, temos um volume corrente baixo, porém, uma frequência ventilatória alta. Multiplicando o espaço morto de 150 ml pelas 32 irpm, teremos aproximadamente 4.800 ml de espaço morto. É um espaço muito grande que ocorre devido à alta frequência ventilatória. Desses 8 litros ventilados, apenas 3.200 ml/min estão atingindo a ventilação alveolar (e isso é baixo), o restante está sendo perdido no espaço morto anatômico. Exemplo B Um volume de 500ml de volume corrente com uma frequência de 16 irpm. Assim, a perda será apenas de 2.400 ml, já que a ventilação alveolar é bem maior que no primeiro exemplo. Nesse caso, 5.600 ml/min estão chegando à ventilação alveolar. Exemplo C O volume corrente é muito grande: 1 litro de volume corrente, enquanto que a frequência é de apenas 8 irpm. Desse modo, como a frequência respiratória diminuiu, o volume de espaço anatômico morto é 1.200 ml/min, estando disponível à ventilação alveolar 6.800 ml/min. Devido a um desequilíbrio entre volume corrente e frequência ventilatória, podemos atingir uma hipoventilação (como ocorreu em A). Já no caso C, como temos um volume corrente muito grande, tem-se uma hiperventilação pulmonar.
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