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4 - ANTROPOLOGIA CULTURAL ISEPRO

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0 
 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
1 
 
CLÁUDIA MARIA DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÁGUA BRANCA-PI 
2017 
Fonte: http://cultura.culturamix.com/historia/cultura-antropologia 
 
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Diretor Geral 
Eloan Coimbra Lima 
 
Diretora Acadêmica 
Eloane Coimbra Lima 
 
Secretária Acadêmica 
Ginoã das Graças Coimbra Lima 
 
Coordenação do Curso 
Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira 
 
Coordenação do Nead 
Tiago Soares da Silva 
 
SANTOS, Cláudia Maria da Silva. 
 Antropologia Cultural. 1ª ed. Água Branca; ISEPRO – Cursos de Graduação. 99p. 
 
Bibliografia 
 
1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. 
 
Ficha Catalográfica 
Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à ISEPRO. 
Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. 
Todos os direitos de Copyright deste material didático são à ISEPRO. 
 
 
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5 
 
 
A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à 
distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade 
quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, 
propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico-
cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção 
de um currículo integrador. 
As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para 
uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação 
teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as 
necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no 
processo educativo. 
É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia do ISEPRO na modalidade à 
distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de 
ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma 
ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da 
sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas 
educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas 
formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. 
O ISEPRO tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como 
apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente 
sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido 
salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes 
e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. 
Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver 
a capacidade de intervenção científica e técnica assegurando a reflexão critica 
permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente 
contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu 
projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e 
profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 
 
6 
 
 
A experiência de trabalhar a disciplina de Antropologia Cultural é realmente 
intrigante, portanto é imprescindível que obtenhamos conhecimentos específicos 
para desenvolver nossas atividades, mas sem ficarmos restritos a estes 
conhecimentos. 
Diante disso, a disciplina de Antropologia Cultural visa possibilitar a 
construção de um estudo antropológico básico, fundamentado em uma aproximação 
das abordagens teóricas e metodológicas de pesquisa que ofereça ao acadêmico 
autonomia na análise de questões ligadas a cultura, identidade e alteridade, além de 
permitir uma compreensão de conceitos da Antropologia para a prática docente, 
estimulando leituras sobre a escola e a educação. 
Portanto, fique atento ao material e siga a sequência proposta para seus 
estudos, acompanhe as atividades sugeridas, de forma a aprimorar e aprofundar seu 
aprendizado. Os conteúdos serão divididos em temas que serão trabalhados ao 
longo do semestre entre eles a Pré Historia da Antropologia, Cultura: Conceitos 
Básicos e Perspectivas Principais, Cultura na Construção dos Indivíduos (as 
identidades) Cultura Estruturante, Abordagem Antropológica da Educação: 
Contribuições para as Análises Sociais, Diversidade Cultural no Mercado de 
Trabalho, Dimensão simbólica do conceito de cultura, dentre outros. 
Para que o aluno tenha um melhor aproveitamento da disciplina, optamos 
trabalhar desta maneira, pois acreditamos que essa organização irá proporcionar um 
maior entendimento do conteúdo, fornecendo as bases necessárias para o 
entendimento da realidade brasileira e mundial. 
Esperamos com isso, que o aluno faça boas reflexões, consiga aprimorar seu 
conhecimento com qualidade e eficiência e ao mesmo tempo aplicar em seu 
cotidiano esses conhecimentos adquiridos. 
 
Organizadora: Profª Ma: Cláudia Maria da Silva Santos 
 
7 
 
 
8 
 
 
UNIDADE 01 
Pré – História da 
Antropologia 
 
Fonte: https://pt.slideshare.net/pedromaat/histria-da-antropologia-cultural 
9 
 
Antropologia Cultural 
 
1. Pré-história da Antropologia 
 
O Renascimento explora espaços ainda desconhecidos e inicia discursos 
sobre habitantes que povoam aqueles lugares. A grande questão colocada é a 
seguinte: aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem à humanidade? 
O selvagem tem uma alma? O pecado original também lhe diz respeito? 
Percebemos que, se no século XIV a questão é colocada, não chega a ser 
solucionada. Ela será definitivamente resolvida apenas dois séculos depois. 
Nessa época é que se inicia um esboço sobre as duas ideologias 
concorrentes: a recusa do estranho, apreendido a partir de uma falta, e cujo 
corolário é a boa consciência que se tem sobre si e sua sociedade; e a fascinação 
pelo estranho, cujo corolário é a má consciência que se tem sobre si e sua 
sociedade. 
Desde a metade do século XIV, no debate que se torna uma controvérsia 
pública entre o dominicano Las Casas e o jurista Sepulvera, estão 
colocados os próprios termos dessa dupla posição. Las Casas cita que 
“Àqueles que pretendem que os índios sejam bárbaros, responderemos que 
essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem 
política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa”. LAPLATINE (1988, 
p.38), 
 
Sepulvera relata que “Aqueles que superam os outros em prudência e razão, 
mesmo que não sejam superiores em força física, são, por natureza, os senhores; 
ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as 
forças físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos” 
As ideologias que estão por trás desse duplo discurso, permanecem vivas 
hoje, quatro séculos depois da polêmica que opunha Las Casas a Sepulvera 
(LAPLATINE, 1988, p.39). 
 
1.1 A figura do mal selvagem e do bom civilizado 
 
A antiguidade grega designava sob o nome de bárbaro tudo o que não 
participava da helenidade (em referência à inarticulação do canto dos pássaros 
opostos à significação da linguagem humana), o Renascimento, dos séculos XVII e 
XVIII falavam de naturais ou de selvagens, opondo assim a animalidade à 
10 
 
Antropologia Cultural 
 
humanidade. Para Laplatine (1988, p.40) o termo primitivo é que triunfará no século 
XIX, enquanto na época atual optamos por subdesenvolvidos. 
Entre os critérios utilizados a partir do século XIV pelos europeus para julgar 
se convém conferir aos índios um estatuto humano, além do critério religioso, 
citaremos: 
 A aparênciafísica: eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”; 
 Os comportamentos alimentares: eles “comem carne crua”, e é todo o 
imaginário do canibalismo que irá aqui se elaborar; 
 A inteligência tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles falam 
“uma língua ininteligível”. 
Assim, não tendo alma, não acreditando em Deus, sendo assustadoramente 
feio, não tendo acesso à linguagem e alimentando-se como um animal, o selvagem 
é apreendido nos modos de um bestiário. E esse discurso sobre a alteridade, que 
recorre constantemente à metáfora zoológica, abre o grande leque das ausências: 
sem arte, sem objetivo, sem moral, sem religião, sem razão, sem consciência, sem 
lei, sem escrita, sem Estado, sem passado, sem futuro. De acordo com Laplatine 
(1988, p.41), Cornelius de Pauw acrescentará até, no século XVIII: “sem barba”, 
“sem sobrancelhas”, “sem pelos”, “sem espírito”, “sem ardor para com sua fêmea”. 
Para o autor Laplatine (1988, p.43), existem os seguintes aspectos: 
1. De Pauw nos propõe suas reflexões sobre os índios da América do 
Norte. Sua convicção é a de que sobre estes últimos a influência da 
natureza é total, ou mais precisamente negativa. Se essa raça inferior 
não tem história e está para sempre condenada por seu estado 
“degenerado”, a permanecer fora do movimento da História, a razão 
deve ser atribuída ao clima de uma extrema umidade. Eles têm, 
prossegue Pauw, um “temperamento tão úmido quanto o ar e a terra 
onde vegetam” e que explica que eles não tenham nenhum desejo 
sexual. Em suma, são “infelizes que suportam todo o peso da vida 
agreste na escuridão das florestas, parecem mais animais do que 
vegetais”. 
2. Ideias que serão retomadas e expressas nos mesmos termos em 1830 
por Hegel, o qual, em sua Introdução à Filosofia da História, nos expõe o 
horror que ele ressente frente ao estado de natureza, que é o desses 
povos que jamais ascenderão à “história” e à “consciência de si”. 
11 
 
Antropologia Cultural 
 
Na leitura dessa Introdução, a África, e, em especial, a África profunda do 
interior, onde a civilização nessa época ainda não penetrou que representa para o 
filósofo a forma mais nitidamente inferior entre todas nessa infra-humanidade. 
Tudo, na África, é nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” 
não respeitam nada, nem mesmo eles próprios, já que comem carne humana e 
fazem comércio da “carne” de seus próximos. Vivendo em uma ferocidade bestial 
inconsciente de si mesma, em uma selvageria em estado bruto, ele não tem moral, 
nem instituições sociais, religião ou Estado. Petrificados, em uma desordem 
inexorável, nada, nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preencher o 
fosso que os separa da história universal da humanidade. 
 
 
 
 
1.1.1 A figura do bom selvagem e do mau civilizado 
 
A figura de uma natureza má na qual vegeta um selvagem embrutecido é 
suscetível de se transformar em seu oposto: a da boa natureza dispensando suas 
benfeitorias a um selvagem feliz. Os termos da atribuição permanecem da mesma 
forma que o par constituído pelo sujeito do discurso (o civilizado) e seu objeto (o 
natural). O caráter privativo dessas sociedades sem escrita, sem tecnologia, sem 
economia, sem religião organizada, sem clero, sem sacerdotes, sem polícia, sem 
Fonte: http://mylivremente.blogspot.com.br/2014_04_22_archive.html 
12 
 
Antropologia Cultural 
 
leis, sem Estado não constitui uma desvantagem. O selvagem não é quem 
pensamos. 
A figura do bom selvagem só encontrará sua formulação mais sistemática e 
mais radical dois séculos após o Renascimento: no rousseauísmo do século XVIII, e, 
em seguida, no Romantismo. 
Para Laplatine (1988, p.47), toda a reflexão de Léry e de Montaigne no século 
XVI sobre os “naturais” baseia-se sobre o tema da noção de crueldade respectiva de 
uns e outros, e, pela primeira vez, instaura-se uma crítica da civilização e um elogio 
da “ingenuidade original” do estado da natureza. Léry, entre os Tupinambás, 
interroga-se sobre o que se passa “aquém”, isto é, na Europa. Ele escreve, a 
respeito de “nossos grandes usuários”: “Eles são mais cruéis do que os selvagens 
dos quais estou falando”. E Montaigne, sobre esses últimos: “Podemos, portanto de 
fato chamá-los de bárbaros quanto às regras da razão, mas não quanto a nós 
mesmos que os superamos em toda sorte de barbárie”. 
O selvagem ingressa progressivamente na filosofia, nos salões literários e nos 
teatros parisienses. Em 1721, é montado um espetáculo intitulado O Arlequim 
Selvagem. O personagem de um Huron trazido para Paris declama no palco: 
Vocês são loucos, pois procuram com muito empenho uma infinidade de coisas inúteis; vocês 
são pobres, pois limitam seus bens ao dinheiro, em vez de simplesmente gozar da criação, como nós, 
que não queremos nada a fim de desfrutar mais livremente de tudo (LAPLATINE, 1988, p.49). 
É o período que todos querem ver os Indes Galantes, a época em que se 
exibem nas feiras verdadeiras selvagens. Manifestações essas que constituem uma 
verdadeira acusação contra a civilização. 
 
1.2 A invenção do conceito de homem 
 
Durante o Renascimento esboçou-se a primeira interrogação sobre a 
existência múltipla do homem, essa interrogação fechou-se muito rapidamente no 
século seguinte, no qual a evidência do cogito, fundador da ordem do pensamento 
clássico, excluiu da razão o louco, a criança, o selvagem, enquanto figuras da 
anormalidade. 
No século XVIII constituiu-se o projeto de fundar uma ciência do homem, isto 
é, de um saber não mais apenas especulativo, e sim positivo sobre o homem. 
13 
 
Antropologia Cultural 
 
Apenas no século XVIII, é que se podem apreender as condições históricas, 
culturais e epistemológicas de possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia. 
 
 
O projeto antropológico supõe: 
 
1. A construção de certo número de conceitos, iniciando pelo próprio conceito de 
homem, enquanto sujeito e objeto do saber; abordagem totalmente inédita, já 
que consiste em introduzir dualidade característica das ciências exatas (o 
sujeito observante e o objeto observado) no coração do próprio homem; 
2. A constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de 
observação, isto é, de um novo modo de acesso ao homem, que passa a ser 
considerado em sua existência concreta, envolvida nas determinações de seu 
organismo, de suas relações de produção, de sua linguagem, de suas 
instituições, de seus comportamentos. Assim começa a constituição dessa 
positividade de um saber empírico sobre o homem enquanto ser vivo 
(biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala (linguística); 
3. Uma problemática essencial: a da diferença. Coloca-se pela primeira vez no 
século XVIII a questão da relação ao impensado, bem como a dos possíveis 
processos de reapropriação dos nossos condicionamentos fisiológicos, das 
nossas relações de produção, dos nossos sistemas de organização social. 
Fonte: http://www.datuopinion.com/sedentario 
 
https://www.google.com.br/search
14 
 
Antropologia Cultural 
 
Assim, inicia-se uma ruptura com o pensamento do mesmo, e a constituição 
da ideia de que a linguagem nos precede, pois somos antes exteriores a ela. 
Tais reflexões sobre os limites do prazer, assim como sobre as relações de 
sentido e poder eram inimagináveis antes. A sociedade do século XVIII vive 
uma crise da identidade do humanismo e da consciência europeia; 
4. Um método de observação e análise: o método indutivo. Os grupos sociais 
podem ser considerados como sistemas “naturais” que devem ser estudados 
empiricamente, a partir da observação de fatos, a fim de extrair princípios 
gerais, que hoje chamaríamos de leis. Esse naturalismo, que consiste numa 
emancipação definitiva em relação ao pensamento teológico, impõe-se em 
especial na Inglaterra, com Adam Smith e, antes dele, David Hume, que 
escreve em 1739 seu Tratado sobre a Natureza Humana.Os filósofos 
ingleses colocam as premissas de todas as pesquisas que procurarão fundar, 
no século XVIII, uma “moral natural”, um “direito natural”, ou ainda uma 
“religião natural”. 
 
Esse projeto de um conhecimento positivo do homem, isto é, de um estudo de 
sua existência empírica considerada por sua vez como objeto do saber, constitui um 
evento considerável na história da humanidade. Um evento que se deu no Ocidente 
no século XVIII, que terminou impondo-se já que se tornou definitivamente 
constitutivo da modernidade. A fim de avaliar melhor a natureza dessa verdadeira 
revolução do pensamento – que instaura uma ruptura tanto com o “humanismo” do 
Renascimento como com o “racionalismo” do século clássico - examinaremos mais 
de perto o que mudou radicalmente desde o século XVI. 
 
1. Trata-se em primeiro lugar da natureza dos objetos observados. Os relatos 
dos viajantes dos séculos XVI e XVII eram mais uma busca cosmográfica do 
que uma pesquisa etnográfica. O objeto de observação, nessa época, era 
mais o céu, a terra, a fauna e a flora, do que o homem em si, e, quando se 
tratava deste, era essencialmente o homem físico que era tomado em 
consideração. No século XVIII é traçado o primeiro esboço daquilo que se 
tornará uma antropologia social e cultural, constituindo-se inclusive, ao 
mesmo tempo, tomando como modelo a antropologia física, e instaurando 
uma ruptura do monopólio desta. 
15 
 
Antropologia Cultural 
 
2. Simultaneamente, o destaque se desloca pouco a pouco do objeto de estudo 
para a atividade epistemológica, que se torna cada vez mais organizada. No 
século XVIII, a questão é: como coletar? E como dominar em seguida o que 
foi coletado? Não basta mais observar, é preciso processar a observação. 
Não basta mais interpretar o que é observado, é preciso interpretar 
interpretações. E é desse desdobramento, isto é, desse discurso, que vai 
justamente brotar uma atividade de organização e elaboração. O primeiro 
dará a essa atividade um nome. Ele chamará: a etnologia. 
 
1.3 Os pesquisadores-eruditos do século XIX 
 
O século XVI descobre e explora espaços até então desconhecidos e tem um 
discurso selvagem sobre os habitantes que povoavam esses lugares. Após um 
parêntese no século XVII, esse discurso se organiza no século XVIII: ele é 
“iluminado” à luz dos filósofos, e a viagem se torna “viagem filosófica”. Mas a 
primeira tentativa de unificação, isto é, de instauração de redes entre esses lugares, 
e de reconstituição de temporalidades é incontestavelmente obra do século XIX. 
O século XIX é a época durante a qual se constitui verdadeiramente a 
antropologia enquanto disciplina autônoma: a ciência das sociedades primitivas em 
todas as suas dimensões (biológica, técnica, econômica, política, religiosa, 
linguística, psicológica...). 
Com a revolução industrial inglesa e a revolução política francesa, percebe-se 
que a sociedade mudou e nunca mais voltará a ser o que era. A Europa se vê 
confrontada a uma conjuntura inédita. 
No século XIX, o contexto geopolítico é totalmente novo: é o período da 
conquista colonial, que desembocará em especial na assinatura, em 1885, do 
Tratado de Berlim, que rege a partilha da África entre as potências europeias e põe 
um fim às soberanias africanas. 
É no movimento dessa conquista que se constitui a antropologia moderna, o 
antropólogo acompanhando de perto os passos do colono. Nessa época, a África, a 
Índia, a Austrália, a Nova Zelândia passam a ser povoadas de um número 
considerável de emigrantes europeus. Uma rede de informações se instala; são os 
questionários enviados por pesquisadores das metrópoles para os quatro cantos do 
16 
 
Antropologia Cultural 
 
mundo, e cujas respostas constituem os materiais de reflexão das primeiras grandes 
obras de antropologia que se sucederá em ritmo regular durante toda a segunda 
metade do século. 
Algumas obras publicadas neste século tem uma ambição considerável – seu 
objetivo não é nada menos que o estabelecimento de um verdadeiro corpus 
etnográfico da humanidade – caracterizam-se por uma mudança radical de 
perspectiva em relação à época das “luzes”: o indígena das sociedades 
extraeuropeias não é mais o selvagem do século XVIII, tornou-se o primitivo, isto é, 
o ancestral do civilizado, destinado a reencontrá-lo. A colonização atuará nesse 
sentido. Assim a antropologia, conhecimento do primitivo, fica indissociavelmente 
ligada ao conhecimento da nossa origem, isto é, das formas simples de organização 
social e de mentalidade que evoluíram para as formas mais complexas das nossas 
sociedades. 
Observaremos mais em que consiste o pensamento teórico dessa 
antropologia que se qualifica de evolucionista. Existe uma espécie humana idêntica, 
mas que se desenvolve em ritmos desiguais, de acordo com as populações, 
passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final que é o da “civilização”. 
A partir disso, convém procurar determinar cientificamente a sequência dos estágios 
dessas transformações. 
Para Laplatine (1988 p. 65-66), o evolucionismo encontrará sua formulação 
mais sistemática e mais elaborada na obra de Morgan, e particularmente em Ancient 
Society, que se tornará o documento de referência adotado pela imensa maioria dos 
antropólogos do final do século XIX. Enquanto para Pauw ou Hegel as populações 
“não civilizadas” são populações que, além de se situarem enquanto espécies fora 
da História, não têm historia em sua existência individual, Haeckel afirma 
rigorosamente o contrario: a ontogênese reproduz a filogênese; ou seja, o individuo 
atravessa as mesmas fases que a historia das espécies. Disso decorre a 
identificação dos povos primitivos aos vestígios da infância da humanidade. 
A antropologia do século XIX, que pretende ser cientifica, é a considerável 
atenção dada: 
1. A essas populações que aparecem como sendo as mais “arcaicas” do mundo: 
os aborígines australianos, 
2. Ao estudo do “parentesco”, 
17 
 
Antropologia Cultural 
 
3. Ao da religião. Parentesco e religião são, nessa época, as duas grandes 
áreas da antropologia, ou, mais especificamente, as duas vias de acesso 
privilegiadas ao conhecimento das sociedades não ocidentais; elas 
permanecem ainda, os dois números resistentes da pesquisa dos 
antropólogos contemporâneos. 
 
1.4 Fundadores da Etnografia 
 
No final do século XIX se existiam homens que possuíam um excelente 
conhecimento das populações no meio das quais viviam a etnografia propriamente 
dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador 
deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de 
observação direta é parte integrante da pesquisa. 
Segundo Laplatine (1988, p. 77), com Boas (1858-1942) assistimos a uma 
verdadeira virada da prática antropológica. Ele era antes de tudo um homem de 
campo. Suas pesquisas totalmente pioneiras foram iniciadas a partir dos últimos 
anos do século XIX. No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado 
detalhadamente. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da 
retranscrição mais fiel. 
Para Laplatine (1988,p.77-78), o primeiro a formular com seus colaboradores 
(em particular Lowie, 1971) a crítica mais radical e mais elaborada das noções de 
origem e de reconstituição dos estágios, Boas mostra que um costume só tem 
significação se for relacionado ao contexto particular no qual se inscreve. Morgan e 
Montesquieu tinham aberto o caminho a essa pesquisa cujo objeto é a totalidade 
das relações sociais e dos elementos que a constituem. Mas a diferença é que, a 
partir de Boas, estima-se que, para compreender o lugar particular ocupado por esse 
costume, não se pode mais confiar nos investigadores e, muito menos nos que, da 
“metrópole”, confiam neles. 
 
Apenas o antropólogo pode dar conta cientificamente de uma 
microssociedade, apreendida em sua totalidade e considerada em sua 
autonomia teórica.Assim, o teórico e o observador estão finalmente 
reunidos pela primeira vez. Assistimos ao nascimento de uma verdadeira 
etnografia profissional que não se contenta mais em coletar materiais a 
maneira dos antiquários, mas procura detectar o que faz a unidade da 
cultura que se expressa através desses diferentes matérias. (LAPLATINE, 
1988, p. 77-78). 
18 
 
Antropologia Cultural 
 
Ele foi um dos primeiros a nos mostrar a importância e a necessidade para o 
etnólogo, do acesso à língua da cultura na qual trabalha. A sua preocupação de 
precisão na descrição dos fatos observados, acrescentava-se a de conservação 
metódica do patrimônio recolhido. 
Finalmente, foi, enquanto professor, o grande pedagogo que formou a 
primeira geração de antropólogos americanos e permanece sendo o mestre 
incontestado da antropologia americana na primeira metade do século XX. 
Malinowski (1884-1942) dominou incontestavelmente a cena antropológica de 
1922, ano de publicação de sua primeira obra, Os Argonautas do Pacífico Ocidental, 
ate sua morte, em 1942. 
Ele não foi o primeiro a conduzir cientificamente uma experiência etnográfica, 
isto é, em primeiro lugar, a viver com as populações que estudava e a recolher seus 
materiais de seus idiomas, mas radicalizou essa compreensão por dentro, e para 
isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu (LAPLATINE, 
1988, p.79-80). 
Ninguém antes dele tinha se esforçado a fundo na mentalidade dos outros, e 
em compreender por dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que 
sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa. 
De acordo com Laplatine (1988, p.80) instaurando uma ruptura com a história 
conjetural (a reconstituição especulativa dos estágios), e também com a geografia 
especulativa (a teoria difusionista, que tende, no inicio do século, a ocupar o lugar do 
evolucionismo), Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada 
enquanto uma totalidade. 
Nesta época, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as 
costas ao empreendimento evolucionista de constituição das origens da civilização, 
e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. O que 
o leitor aprende ao ler Os Argonautas é que os costumes dos Trobriandeses, tão 
profundamente diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. 
A fim de pensar essa coerência interna, é elaborada uma teoria (o 
funcionalismo) que tira o modelo das ciências da natureza: o individuo sente um 
certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função a de 
satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais. Cada uma realiza isso 
elaborando instituições (economias, políticas, jurídicas, educativas...), fornecendo 
19 
 
Antropologia Cultural 
 
respostas coletivas organizadas, que constituem cada uma a seu modo, soluções 
originais que permitem atender a essas necessidades. 
Segundo Laplatine (1988, p. 82), para Malinowski há uma preocupação em 
abrir as fronteiras disciplinares, devendo o homem ser estudado através da tripla 
articulação do social, do psicológico e do biológico, mas para ele, convém em 
primeiro lugar, localizar a relação estreita do social e do biológico, já que, para ele, 
uma sociedade funcionando como um organismo, as relações biológicas devem ser 
consideradas não apenas como o modelo epistemológico que permite pensar as 
relações sócias, e sim como o seu próprio fundamento. Além disso, uma verdadeira 
ciência da sociedade inclui o estudo das motivações psicológicas, dos 
comportamentos, o estudo dos sonhos e dos desejos do individuo. 
E Malinowski, quanto a esse aspecto, vai muito além da análise da afetividade 
de seus interlocutores. Ele procura reviver nele próprio os sentimentos dos outros, 
fazendo da observação participante uma participação psicológica do pesquisador, 
que deve “compreender e compartilhar os sentimentos” destes últimos 
“interiorizando suas reações emotivas” (LAPLATINE, 1988, p.82). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Apresente a trajetória dos pesquisadores-eruditos do século XIX. 
2. Caracterize a figura do mal selvagem e do bom civilizado. 
3. Caracterize a figura do bom selvagem e do mau civilizado. 
4. Como foi conceituada a Antropologia no século XX? 
5. Em que se baseia a reflexão de Laplatine (1988) Léry e de Montaigne no século 
XVI sobre os “naturais”? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em sua opinião, a Antropologia se constitui como 
ciência? Justifique. 
21 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 02 
 
Cultura – Conceitos Básicos 
e Perspectivas Principais 
Fonte: http://www.diariorespuesta.com.mx/cuantos-tipos-de-culturas-conoces/ 
22 
 
Antropologia Cultural 
 
2. Homens, cultura e sociedade 
 
Desde muito cedo percebemos as diferenças existentes entre o ser humano e 
os demais seres vivos, sobretudo os animais. Os animais constroem moradia como, 
por exemplo, os pássaros, buscando assim nova adaptação quando os recursos 
utilizados deixaram de existir, diferentemente de nós seres humanos que utilizamos 
várias formas de materiais para construir nossas habitações. 
Nos tempos primitivos, ou seja, das cavernas, ao longo de milênios, o homem 
passou a empregar variedade de formas e materiais sempre almejando a melhor 
proteção contra o frio, calor, os animais selvagens, entre outros. As comunidades 
foram tornando-se mais complexas com a descoberta do fogo, da fabricação de 
metais, utilização da argila, da madeira, e começaram a construir casas mais bem 
elaboradas, conforme a organização social e o estágio de desenvolvimento 
tecnológico em que se encontravam e se encontram atualmente. 
À medida que a linguagem, pensamento e uso de ferramentas possibilitaram 
às comunidades alterar suas estratégias de sobrevivência - modos de produção 
agrícola, armazenamento e comercialização de seus produtos - começa a surgir a 
cultura, ou seja, o homem começa a criar cultura. 
Segundo Vannucchi (1999, p.23) “a cultura é tudo que não é natureza. Por 
sua vez, é toda ação humana na natureza e com a natureza”. Contudo pode-se dizer 
que a terra é natureza, mas o plantio é cultura. O mar é natureza, mas a navegação 
é cultura. 
A sociologia preocupa-se em entender a cultura, mas é na antropologia que o 
seu estudo é aprimorado, pois é a ciência que estuda o homem e as suas obras, ou 
seja, a cultura. Estuda também as semelhanças e diferenças humanas. No século 
XIX, quando iniciaram estudos sobre comunidades, os etnólogos conceituaram 
essas comunidades sob a ótica etnocêntrica, contribuindo para instituir as posições 
preconceituosas sobre suas culturas, inserido-as em estágios inferiores a nossa 
sociedade dita civilizada, a partir da abordagem positivista e funcionalista. 
É por esta ótica que os colonizadores, quando chegaram nas Américas e na 
África, designaram as comunidades de “selvagens”, “primitivas”, “sem cultura”, 
portanto inferiores, podendo ser subjugadas, utilizando-os como subalternos, 
serviçais e escravos. 
23 
 
Antropologia Cultural 
 
A etnologia, ciência que estuda o conjunto das características de cada etnia, 
foi questionada pelos antropólogos na segunda metade do século XX, pois as 
abordagens serão inseridas na noção de que culturas diferentes não implicam 
desigualdade e inferioridade. Portanto, a “cultura” é foco central para o campo da 
antropologia, ou seja, para essa ciência, a definição de cultura diz respeito a várias 
áreas do saber humano, tais como a agronomia, biologia, artes, literatura, história 
etc. 
No sentido amplo, a palavra cultural é toda atividade humana que altera a 
natureza, constrói valores em todas as áreas. Cultura é tudo o que os seres 
humanos constroem. Com base nesse sentido, o autor Paulo Freire contribui com 
significativas práticas sociais e educacionais ao estimularos adultos analfabetos a 
se perceberem sujeitos ativos da cultura, pelas atividades que executam 
socialmente. Exemplo disso é quando é construído um poço para armazenar água, 
ou plantar uma roça, só com a sabedoria prática. 
Contudo as variações culturais entre os seres humanos são ligadas aos 
diferentes tipos de sociedades, em níveis regionais e locais. A discussão sobre 
cultura geralmente é colocada separadamente da sociedade como se estas fossem 
dissociáveis, mas observa-se que elas são até muito mais unidas do que deveriam 
ser. A mudança social é um fator que leva ao desenvolvimento humano. É preciso 
perceber que a cultura é transmitida de geração a geração, muitas vezes 
formalmente pela escrita e outras vezes pela oralidade. Em ambos os casos a 
cultura é herdada e recriada. E a aprendizagem cultural se dá quando elementos 
culturais são compartilhados por membros da sociedade e tornam possível a 
cooperação e a comunicação. 
24 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://oduafunmi.wordpress.com/2018/01/06/la-letra-del-ano-2018-agricultura-name-y-lluvia/ 
Fonte: https://www.educamundo.com.br/cursos-online/cultura-indigena 
25 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
2.1 Componentes da cultura 
 
A cultura de uma sociedade é expressa por valores tais como: crenças, 
ideias, símbolos, como objetos, e todo o conjunto construído operacionalmente a 
partir da experiência, de técnicas, tecnologias e teorias, em cada época histórica. 
Em Giddens (2005, p.38), “a cultura refere-se às formas de vida dos membros de 
uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade”, pois sempre que pensamos no 
termo cultura imaginamos que são coisas mais distantes do nosso cotidiano como a 
arte, a literatura, pintura, música erudita, mas a cultura é tão presente no nosso dia a 
dia que a todo o momento a estamos compartilhando com o próximo. 
 Segundo Marconi (2005, p.46), a cultura pode ser classificada por diversas 
maneiras como: 
 Material - coisas materiais, bens produzidos, incluindo instrumentos, artefatos 
e outros objetos materiais, frutos da criação humana e resultante de 
determinada tecnologia. 
 Imaterial – elementos da cultura que não tem substância material como 
valores espirituais, morais, crenças, normas, hábitos, cujos significados são 
adotados e praticados pelo conjunto de grupos sociais. 
Fonte: http://meioambiente.culturamix.com/noticias/indios-do-xingu/attachment/indios-do-xingu 
26 
 
Antropologia Cultural 
 
 Real – todos os membros da sociedade praticam ou pensam em suas 
atividades cotidianas. 
 Ideal – comportamentos expressos verbalmente como bens, perfeitos, para o 
grupo, mas que nem sempre são praticados. 
 
Percebe-se que esses valores são transmitidos de uma geração para outra, 
levando a uma determinada cultura, que pode ser também interpretado como a 
tradição de um povo, e essas tradições é transformada ao longo do tempo pela 
economia, tecnologia, saber científico entre outros fatores. 
Existem dois aspectos importantes que devem ser trabalhados para abordar o 
conceito de difusão cultural, essenciais para se compreender a dinâmica cultural 
existente. Dentre estes fatores estão a “aculturação”, ou seja, a fusão de duas 
culturas que, entrando em contato contínuo, origina mudança nos padrões da cultura 
de ambos os grupos, e a “endoculturação”, que é o processo de aprendizagem e 
educação em uma cultura desde a infância, cada indivíduo adquire as crenças, o 
comportamento, os modos de vida da sociedade a que pertence. É o processo de 
socialização. De acordo com Marconi (1998, p.64) “a difusão cultural é o processo 
na dinâmica cultural, em que os elementos ou complexos culturais se difundem de 
uma sociedade a outra”. 
O traço cultural que é copiado de outra cultura geralmente é reinventado pela 
sociedade que o copiou, e não permanece do mesmo jeito, podendo mudar de 
significado, forma e função. Isso assegura o caráter dinâmico da cultura, pois ela 
não é estática. 
 
2.2 Cultura e construção social 
 
A cultura é feita pelo homem para satisfazer suas necessidades, pois é 
através da cultura que ele constrói a si mesmo e a sociedade. Todos somos frutos 
da cultura, seja ele de um determinado lugar ou tempo. É através dela que criamos 
os meios necessários para nossa sobrevivência, com o nosso jeito de ser, nossa 
visão de mundo, com valores, crenças, princípios, normas, regras e leis. 
O homem está em uma posição diferenciada dos outros seres, pois ele se 
relaciona no seu desenvolvimento, não somente com o ambiente natural, mas 
27 
 
Antropologia Cultural 
 
também com uma ordem eventual e social específica. A humanização é variável no 
sentido sociocultural, pois não existe natureza humana no sentido substrato 
biologicamente fixa que determine a variabilidade das formações, embora seja 
possível dizer que o homem tem uma natureza mais significativa, pois constrói sua 
própria natureza. 
Para compreendermos a realidade pessoal e social de alguém, é preciso 
entender o seu contexto social e histórico, pois os elementos culturais podem ser 
vistos de maneiras diferentes pela representação que os mesmos possuem em uma 
determinada circunstância. É através destas maneiras que se tem a ordem social, e 
ela existe como produto da atividade humana, já que isolado o homem não produz 
um ambiente humano; a ordem social, como produto humano, é interiorizada no 
processo de socialização. 
A cultura é um aspecto essencial e presente na vida do homem, pois define 
todo nosso jeito de ser, sendo a nossa própria maneira de pensar e viver. Mas 
entende-se que existem culturais diferentes, na sociedade, aprender a conviver com 
essas diferenças se torna essencial e necessário, tendo em vista que estamos em 
um mundo formado por diversas culturas, que muito se relacionam constantemente 
pela facilidade do transporte e tecnologias criadas. 
Os valores e costumes entre as culturas podem ser vistos no exemplo citado 
por Giddens (2005, p.39) quando cita que “os judeus não comem porco, enquanto os 
indianos comem porco, mas evitam carne de gado”. Todos esses diversos aspectos 
de comportamento são considerados como exemplos de amplas diferenças culturais 
que distinguem as sociedades umas das outras. 
Para muitos estudiosos sociólogos, as sociedades podem ser monoculturais e 
multiculturais, entretanto alguns antropólogos consideram que todas as sociedades 
formam-se com o entrosamento e a miscigenação de vários povos, desde os 
primitivos. 
O autor Giddens retrata que a sociedade japonesa é um exemplo de 
monocultura, mas é possível perceber que, embora o Japão tenha traços fortíssimos 
de uma sociedade tradicional, ela não pode ser considerada monocultural, porque 
vem sofrendo intensas modificações em todas as áreas de sua cultura sejam pela 
difusão da cultura ocidental, ou por outros aspectos. 
28 
 
Antropologia Cultural 
 
No Brasil, pode-se afirmar que acontece a mesma coisa. Observa-se que ter 
uma identidade cultural que diferencia um povo de outro, não implica considerar 
determinado país como sendo exemplo de monocultura. 
A identidade cultural vai forjando novas identidades para as sociedades, Com 
a passagem do tempo, têm transformações sociais que levam a outras maneiras de 
viver e perceber o mundo. Este assunto será mais bem trabalhado no decorrer desta 
apostila. 
Segundo alguns antropólogos, as diferenças culturais nos emitem em dois 
conceitos importantes, e que não podem ser deixados de lado como: o 
etnocentrismo (tendência a privilegiar a cultura de sua própria sociedade para 
analisar outras sociedades) e o relativismo (os indivíduos são condicionados a um 
modo de vida específico e particular por meio do processo de endoculturação). 
Através do relativismo, o ser humano adquire seus próprios valores e sua 
integridade cultural; já o etnocentrismo significa a supervalorizaçãoda própria 
cultura em detrimento das demais. Neste contexto Giddens (2005, p.40) relata: 
 
Toda cultura tem seus próprios padrões de comportamento, os quais 
parecem estranhos as pessoas de outras formações culturais. Se você já 
viajou para o exterior, provavelmente está familiarizado com a sensação 
que pode resultar quando você se encontra em uma nova cultura. Aspectos 
da vida cotidiana que você inconscientemente toma como comuns em sua 
própria cultura podem não ser parte da vida diária em outras partes do 
mundo. Mesmo em países que compartilham a mesma língua, hábitos 
cotidianos, costumes e comportamentos podem ser diferentes. A expressão 
choque cultural é realmente apropriada! Frequentemente as pessoas se 
sentem desorientadas quando ficam imersas em uma nova cultura. Isso 
acontece por que elas perderam pontos de referencia familiares que as 
ajudavam a entender o mundo ao seu redor e ainda não aprenderam como 
navegar em uma nova cultura. 
 
Os estudiosos de sociologia querem evitar o etnocentrismo, que como já foi 
visto, é a pratica de julgar outras culturas. Uma vez que as culturas variam tanto, é 
reluzente que as pessoas vindas de uma cultura amena, achem difícil simpatizar 
com as ideias ou comportamentos daqueles de uma cultura diferente. 
Portanto, o relativismo pode ser repleto de incertezas e desafios, uma vez que 
suspender suas próprias crenças culturais sustentadas e examinar uma situação de 
acordo com os padrões de outra cultura, é ter uma visão completamente diferente e 
levantar questões preocupantes. 
29 
 
Antropologia Cultural 
 
É importante destacar que existem as mais variadas formas de expressão da 
cultura, assim como cada localidade constrói seu universo cultural; portanto, é 
preciso compreender as diferenças entre as diversas sociedades e como, ao longo 
da história, as sociedades valorizam seu universo cultural diante das outras 
sociedades. Uma vez que este tema é bastante presente em nosso cotidiano, pois 
todos nós temos cultura e a nossa convivência diária cria e recria os valores 
culturais constantemente, é preciso compreender o ser humano como produtor de 
cultura desde o princípio da sua história em sociedade, assim como os vários 
artifícios por ele produzidos. A antropologia vem para nos ajudar a compreender as 
diversas correntes de pensamento e conceitos que descrevem o universo cultural do 
homem e seu espaço social. 
A cultura pode ser classificada de duas formas: cultura erudita, ou seja, é o 
plano da escrita e da leitura, do saber universitário, dos debates, da teoria e do 
pensamento científico e cultura popular, que é a produção espontânea de um povo 
na sua vivência cotidiana, assim como as expressões, conforme a área produzida, 
transmitidas pela oralidade. 
Entretanto, não existe uma dicotomia pura entre práticas populares e práticas 
eruditas. As produções se influenciam mutuamente, no processo histórico. Por 
exemplo, os processos de intercâmbio e influências nas escolas de samba. Vejamos 
que a raiz do samba remonta aos povos africanos que para aqui vieram. No Brasil, 
ao longo dos séculos, foram criadas formas próprias de composição musical e 
temática, como o samba de quintal carioca, e outras variações conforme os estados. 
Os desfiles das escolas de samba nos anos 30 do século XX seguiam normas 
estabelecidas pela ditadura de Vargas, e, quanto aos temas, deveriam ser históricos 
e nacionais. 
Entretanto, não existe uma dicotomia pura entre práticas populares e práticas 
eruditas. As produções se influenciam mutuamente, no processo histórico. Por 
exemplo, os processos de intercâmbio e influências nas escolas de samba. Vejamos 
que a raiz do samba remonta aos povos africanos que para aqui vieram. No Brasil, 
ao longo dos séculos, foram criadas formas próprias de composição musical e 
temática, como o samba de quintal carioca, e outras variações conforme os estados. 
Os desfiles das escolas de samba nos anos 30 do século XX seguiam normas 
estabelecidas pela ditadura de Vargas, e, quanto aos temas, deveriam ser históricos 
e nacionais. 
30 
 
Antropologia Cultural 
 
Hoje são contratados pelas escolas, estilistas e coreógrafos consagrados pela 
mídia, alem de modelos, artistas famosos de TV que desfilam como papeis de 
destaque nas escolas de samba. Quando pensamos em cultura popular, logo nos 
lembramos do carnaval, folias de reis, São João e bumba meu boi. Agora é preciso 
nos indagar ao tentar compreender a cultura. Será que a cultura brasileira é isso 
tudo? Será que é só isto? É preciso entender por que e por quem ela é produzida, e 
como, quando e por quem é consumida. 
A cultura popular existe também nos países mais industrializados, embora 
tenha um significado especial nas sociedades chamadas de Terceiro Mundo, pelo 
fato de compreender um grande número de subculturas das quais participa uma 
parcela significativa da população. 
 
2.3 Culturas de massa: Industrialização cultural 
 
Além destas duas formas culturais estudadas podemos falar também da 
cultura de massa, nesse tipo de cultura temos uma produção industrial da cultura 
que vende mercadorias; mais do que isso, vende imagens do mundo e faz 
propaganda, para assim permanecer. 
A industrialização de cultura visa exclusivamente o consumo, buscando a 
integração dos consumidores, as mercadorias culturais, agindo como uma ponte 
nociva entre a cultura erudita e a popular; ela é nociva porque retira a seriedade da 
primeira e a autenticidade da segunda. 
Os meios de comunicação exercem um papel significativo nesse processo de 
industrialização da cultura. É através destes meios tecnológicos, mais precisamente 
o rádio e a televisão, que a cultura é dizimada. Um exemplo disso são alguns 
cantores que ao se tornarem produtos conhecidos nacionalmente vão se afastando 
de suas origens pela necessidade de se manterem no mercado, atingindo grandes 
massas, demonstrando isso no modo de se vestirem, falarem e na linguagem das 
composições. Isso é perceptível principalmente nas duplas sertanejas na nossa 
atualidade. 
A cultura erudita tem forte ligação com a classe burguesa e o período do 
surgimento do Renascimento é um marco dessa relação. Desde sua origem, a 
burguesia preocupou-se com a transmissão de seus conhecimentos aos seus pares, 
31 
 
Antropologia Cultural 
 
a partir de instituições como as universidades, as academias e as ordens 
profissionais. Com o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a 
cultura dessa elite burguesa tomou corpo, desenvolveu-se e requintou-se com a 
tecnologia. Essa cultura erudita ou superior, também designada “cultura de elite”, foi 
se distanciando da maioria da população, pois era feita pela burguesia. Sobre a 
influência da tecnologia na cultura, Oliveira (2001, p. 158) cita: 
 
A partir do final do século XIX, a industrialização em larga escala atingiu 
também os elementos da cultura erudita e da popular, dando início à 
indústria cultural. O incessante desenvolvimento da tecnologia, tornando-se 
cada vez mais sofisticada, principalmente nos meios de comunicação, 
passou atingir um grande número de pessoas, dando origem à cultura de 
massa. Ao contrário das culturas eruditas e populares, a cultura de massa 
não esta ligada a nenhum grupo social especifico, pois é transmitida de 
maneira industrializada para um público generalizado, de diferentes 
camadas socioeconômicas. O que temos então é a formação de um enorme 
mercado de consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos 
pela indústria cultural. 
 
A cultura de massa possui significativa relação com a sociedade de consumo, 
por seguirem a mesma lógica que é a da indústria com a produção em série. 
Contudo, é possível perceber que, ao produzir para as massas, ou seja, em grandes 
quantidades, cria-se a necessidade daquele produto apelando para o seu valor 
artístico. 
Por conseguinte, há estudiosos que consideram importante a difusão da 
culturapela mídia para a sociedade em todos os seus aspectos, pois visa à 
democratização e a socialização das informações; para eles não se pode radicalizar 
nem a análise posta em termos de separação absoluta das duas culturas, nem em 
relação ao papel da mídia como divulgadora de uma cultura de massa, o que só 
traria prejuízos para os dois tipos de cultura. 
Entende-se que a realidade é muito diversificada, cada lugar e cada época 
tem os seus produtos culturais, aquilo que é importante num período da historia 
pode não ser no outro. 
 
2.4 Representações Simbólicas 
 
Existem alguns processos simbólicos presentes na nossa sociedade, como a 
religião, com destaque a religião católica, as influências do candomblé, da magia e 
32 
 
Antropologia Cultural 
 
suas formas de representações simbólicas construídas historicamente no Brasil, 
também a expansão das igrejas evangélicas na sociedade brasileira contemporânea 
e as consequências para o imaginário social. 
Toda religião cria uma série de símbolos e ritos que devem ser praticados 
pelos fieis nos seus templos ou fora deles, para manter os laços e vínculos com os 
fieis. O maior ou menor grau de poder político, social e cultural de uma instituição 
religiosa varia conforme a época histórica. 
A partir de cristo no mundo ocidental instituíram-se religiões diferenciadas 
como a católica romana, a ortodoxa oriental, a igreja anglicana, o protestantismo 
com suas várias igrejas, hoje denominadas evangélicas. 
Surgem também as religiões espíritas. É com a cumplicidade da religião que 
impérios foram erguidos e destruídos ao longo dos séculos, como também propiciou 
o desenvolvimento das relações materiais das sociedades, contribuindo para a 
construção do conhecimento filosófico, cientifico e tecnológico da humanidade. 
Nesse sentido podemos afirmar que a religião é muito visível no cotidiano dos 
indivíduos, essa busca pela religiosidade das populações mapeou e remapeou as 
sociedades tanto do lado ocidental como oriental nesse final do século. Neste 
momento em que as sociedades estão se globalizando, as religiões almejam ser 
aquela que tenha primazia sobre as demais e assim se torne uma religião global. 
Essa situação que vive a sociedade globalizada é relatada após um período em que 
a religião perde sua hegemonia no poder decisório das nações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
Antropologia Cultural 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
 AS COTAS PARA NEGROS E A DESIGUALDADE BRASILEIRA 
 
 Fernando Abrucio 
 
“O sucesso das políticas públicas depende da definição clara dos problemas 
que elas querem combater, bem como da adoção de medidas que acertem o alvo 
correto. Essa pequena digressão técnica é necessária para tornar mais preciso um 
debate que está no centro da agenda publica: a questão das cotas para negros em 
universidade. Para que serviria essa política discutida hoje de forma tão radical? 
Com certeza ela não seria capaz de atenuar o sofrimento dos negros durante a 
escravidão.” 
Quanto a isso, o máximo que podemos fazer é lembrar sempre dessa mácula 
da historia brasileira. É importante frisar isso porque alguns revisionistas têm 
argumentado que a população negra não sofreu tanto assim, pois alguns dos 
africanos foram traficantes e outros, quando libertos, logo compravam seu 
escravinho. Há ainda a tese, arrancada a força do pensamento de Gilberto Freyre, 
de que a convivência entre brancos e negros fora pacífica. Afinal, milhares de 
estupros foram consentidos. Tais analistas produziram uma grande falácia lógica. 
A existência de alguns escravos traficantes ou compradores de outros 
indivíduos de sua cor não elimina a existência de um brutal sistema opressor contra 
milhões de pessoas. Foi contra isso que os abolicionistas se insurgiram. Creio que 
nossos intelectuais revisionistas talvez fossem a época contra a abolição, porque 
tudo estava bem no Brasil da miscigenação. Em sua argumentação, esse 
revisionismo não é diferente do praticado por historiadores que desmentem a 
existência do holocausto por encontrarem a existência de um ou outro judeu que 
apoiou o nazismo. 
Apresentar o debate da escravidão de forma completamente distorcida não 
ajuda o debate das cotas. Não que as desigualdades atuais sejam fruto apenas da 
escravidão - é bem provável que muito da situação atual se explique pela falta de 
política no pós-escravidão. Mas um fato é evidente nos estudos empíricos: há 
desigualdade entre brancos e negros com mesma situação de renda e escolaridade. 
34 
 
Antropologia Cultural 
 
Muitos estudos econométricos mostram que, em contexto social similar, os 
negros têm pior desempenho escolar que os brancos. Recentemente, coordenei um: 
a pesquisa sobre escolas públicas. Um dos pesquisadores presenciou o que só 
conhecíamos por estatística. Numa sala de aula com aluno em situação equivalente 
de pobreza, havia uma divisão na qual, de um lado, ficavam os brancos, e de outro, 
os negros. Isso se repetia no intervalo. Pior: o tratamento docente era francamente 
favorável aos brancos. Conversamos com a professora e com a diretora: nenhuma 
delas havia percebido essa discriminação. Um racismo tão invisível e enraizado é 
difícil de combater apenas com políticas iguais para todos Para questões como 
essa, deveria valer a máxima de tratar desigualmente os desiguais para alcançar a 
justiça social. 
Não pense leitor, que o problema esta resolvido, pois a forma como for feita a 
política afirmativa, termo mais correto que “cotas”, afetarão os resultados. Cotas 
muito ampla e sem nenhum critério de mérito não podem ser um desestímulo para o 
estudo dos negros? Ademais, o cotismo não poderia se transformar numa política 
racialista que geraria uma atenção inexistente em nossa sociedade? São perguntas 
fundamentadas (e não ideológicas) em termos de políticas públicas. 
Para elas, deve haver respostas, ainda no terreno das políticas afirmativas, é 
possível ter cotas mais controladas do ponto de vista do tamanho e do mérito, 
inclusive com ações de ajuda aos negros já nos ciclos escolares anteriores, uma vez 
que a maioria deles fica no meio do caminho e nunca será cotista. Quanto ao 
possível acirramento racial, ele não tem acontecido nas universidades com cotas. 
Uma legislação e um debate equilibrados poderiam conter isso. 
Há dois outros grandes benefícios que uma política cotista equilibrada 
produziria. O primeiro é aumentar a autoestima dos negros, por meio da constituição 
de novas lideranças lastreadas na escolaridade. Além disso, teríamos uma maior 
diversidade em nossas melhores universidades, onde os negros são raríssimos. Se 
tivéssemos tal diversidade no meio das elites, a discussão da escravidão não teria 
sido retomada de forma tão leviana e inconsequente. 
 
 
 
 
 
35 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/revista/995/fraudes-descaso-estatal-ameacam%20-inclusao-negros-
universidade 
36 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
1) Explique por que podemos afirmar que somente o homem possui cultura. 
2) Dê exemplos de cultura material e imaterial, real e ideal. 
3) Exemplifique os termos: Etnologia, Antropologia, Etnocentrismo. 
4) Observe no seu cotidiano e explique a importância da cultura popular. 
5) Analise a relação entre os meios de comunicação de massa e a cultura em nossa 
sociedade. 
 
 
 
 
Como as demais ciências auxiliam a Antropologia? 
 
37 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 03 
Cultura na Construção dos 
Indivíduos (as identidades) 
Cultura Estruturante 
 
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm 
38 
 
Antropologia Cultural3. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade 
 
Os relatos acerca de identidade não são recentes. A sociedade moderna 
ocidental gerada com a industrialização e o desenvolvimento das ciências teóricas e 
experimentais constrói sua identidade afirmando a prioridade da razão, que ilumina e 
é fonte de conhecimento e das ações sociais, desvinculando-se da tutela da religião. 
Defende no novo o modo de produção capitalista, o regime de liberdade individual, a 
prioridade do indivíduo sobre o coletivo e constitucionalmente, os princípios de 
liberdade, igualdade e solidariedade, alicerce dos regimes democráticos. A 
identidade cultural de início pode ser compreendida como um conjunto de 
características comuns pelas quais os grupos sociais constroem sentido de 
pertencimento. Como foi visto, a identidade é construída através das relações 
sociais, grupos humanos; ela é dinâmica neste contexto. 
Mas a cultura pode existir mesmo que não haja identidade. A cultura depende 
em grande parte de processos inconscientes, já a identidade remete a uma norma 
de vinculação, necessariamente consciente. O conceito de identidade cultural foi 
adquirido em espaço instável das ciências sociais, ela revela as mudanças de 
sentido ao longo da história, causadas pelo que se considera uma crise originada 
pela ação conjunta de um duplo deslocamento como: descentralização dos 
indivíduos, tanto no seu lugar no mundo social e cultural, quanto de si mesmos. 
Alguns estudiosos enfatizam que as discussões sobre pós-modernidade, 
entendida como lógica cultural do capitalismo pós-industrial, surge na crise cultural, 
e desencadeiam crises de conceitos fundamentais ao pensamento moderno, tais 
como verdade, razão, universalidade, sujeito, progresso, ideologia e outros. Ocorre 
uma desilusão no que refere aos nortes da modernidade, a saber: a estética, a ética 
e a ciência. 
Para Castells (1999, p.22), identidade pode ser compreendida como o 
processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou 
ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, os quais 
prevalecem sobre outras fontes de significado. Para um determinado 
indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas. 
 
Existem três formas e origens de construções de identidade, dentre estas: 
 Identidade legitimadora – introduzida pelas instituições dominantes da 
sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação 
aos atores sociais. 
39 
 
Antropologia Cultural 
 
 Identidade de resistência – criada por atores que se encontram em 
posições/condições desvalorizadas ou estigmatizadas pela lógica da 
dominação, construindo, assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com 
base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade, 
ou mesmo opostas a estes últimos. 
 Identidade de projeto – atores sociais utilizando-se qualquer tipo de 
material cultural ao seu alcance constroem uma nova identidade capaz de 
redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação 
de toda a estrutura social. 
A identidade agora mais do que nunca aparece em nossas vidas, entrando 
em nosso mundo particular, quando se levanta questionamentos os mais diversos 
sobre o sentido da vida e dos valores que tínhamos ate então como tradicionais e 
invioláveis. 
As identidades modernas, individuais e coletivas, cada vez mais estão sendo 
fragmentadas, descentradas e descontínuas, as bases sólidas sobre as quais se 
assentavam e dava sustentação a noção de identidade e aos processos de 
identificação, como nacionalidade, raça, classe, gênero, religião, língua, sexualidade 
etc., tornaram-se vulneráveis diante da nova realidade pós-moderna. 
Percebe-se que a identidades nacionais estão se desintegrando, como 
resultado do crescimento da homogeneização cultural do mundo pós–moderno, elas 
e outras identidades locais estão sendo reforçadas pela resistência à globalização. 
As identidades nacionais estão em declínio, mas nova identidade hibrida 
estão tomando seu lugar. Hibridas porque se constroem e se reconstroem 
dinamicamente nas suas práticas relacionais. Essa compreensão coloca por terra a 
ideia de identidade como algo estático. 
Na visão de Giddeans (2005), a ênfase na hibridação afasta a pretensão de 
se estabelecer identidades puras ou autênticas e evidencia o risco de se delimitar 
identidades locais autoconhecidas que se contraponham às sociedades nacionais ou 
globalizadas. Frente ao hibridismo e à diversidade, há essas fortes tentativas de se 
reconstruírem identidades purificadas para restaurar a coesão e a tradição. A 
reafirmação de raízes culturais tem sido uma das fontes de identificação em muitas 
regiões. 
 
40 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
3.1 A identidade como valor 
 
As pessoas se comportam de acordo com sua realidade cultural, sendo que o 
papel desempenhado pela mídia toma um caráter fundamental em virtude da 
abrangência pela qual podemos entrar em contato com outras culturas. A partir do 
processo de globalização, a cada dia estamos vendo surgir grandes preocupações 
com a convivência entre os povos, pois a diversidade é grande, e assim passaram a 
existir influências diretas no nosso processo cultural que antes aconteciam mais 
lentamente. 
Não há identidade estática, ela é dinâmica e vai se formando a partir dos 
valores que elegemos como sendo os melhores. Nem sempre esses valores são 
aceitos por todos e assim fazemos uma negociação de sentidos, isto é, o jogo de 
identificações. 
Fonte: https://www.revistafinal.com/2014/02/14/oficinas-gratuitas-de-musica-danca-e-teatro/ 
41 
 
Antropologia Cultural 
 
Observa-se que é muito importante destacar não só as relações de poder que 
envolvem a questão da identidade, mas o julgamento de valor feito frequentemente, 
ao nos depararmos com uma realidade diferente da nossa. 
A cultura passou a ser mais importante como referência aos conflitos 
internacionais do que a ideologia ou a economia diante da realidade do mundo 
contemporâneo. O racismo começou a se modular e a crescer à sombra do 
difusionismo culturalista euro americano e do entretenimento rebarbativo oferecido 
às massas pela televisão e outros ramos industriais. 
Neste contexto, fica evidente a relação mídia X mercado na qual o valor 
cultural é contrabalançado pelo estereótipo consumista que constrói a identidade 
negra a partir dos materiais fantásticos do homem branco. 
É interessante porque já observamos no supermercado e bancas de revistas 
o surgimento de produtos voltados para as pessoas da pele escura, produtos de 
higiene, beleza e revistas especializadas para este público. É uma novidade no 
mercado que até pouco tempo atrás não existia. É um tipo de discriminação 
considerada como positiva, tendo em vista que leva a uma afirmação dos negros a 
partir dos valores próprios de sua cultura. Da mesma forma que pessoas negras que 
se destacam no cenário artístico, esportivo e em outras profissões servem como 
referências positivas. 
 
3.1.2 Raça e identidade 
 
Agora vamos tratar de raça como elemento importante para a definição de 
uma identidade, para tanto precisamos recorrer novamente ao conceito de 
identidade, desta vez com outro enfoque, ou seja, o que leva em consideração a sua 
origem e os elementos chave que a compõem. 
A globalização faz com que ressurja a discussão sobre as diferenças entre as 
culturas pela subsistência do preconceito. Nessa nova ordem mundial, o que era 
superado pela homogeneização das identidades culturais agora se torna assunto da 
maior importância na luta pela sobrevivência de grupos espalhados pelo mundo, 
através das grandes migrações de povos marginalizados em busca de sua 
sobrevivência. 
42 
 
Antropologia Cultural 
 
Na pós-modernidade, o indivíduo previamente vivido como tendo uma 
identidade unificada e estável está setornando cada vez mais fragmentado, 
composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes 
contraditórias ou não resolvidas. Esse processo produz o sujeito conceitualizado 
como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna 
se uma celebração móvel, formada e transformada continuamente em relação às 
formas as quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que 
nos rodeiam. 
Assim, para entendermos uma identidade de maneira mais completa é 
preciso enfocar outros aspectos tais como espelho, invenção e a ideologia. O 
espelho é a relação que estabelecemos com o outro, relações de alteridade- 
igualdade e diferença- parâmetros através dos quais nos definimos “outros”. A 
invenção é a forma como construímos essa identidade – a máscara, a persona. A 
ideologia é o aspecto político, que escolhemos como sentido ou causa para 
vivermos. 
A palavra raça tem vários significados, sendo aplicado em muitas situações 
diferentes. Tais como o jogador que tem “raça”, ou “raça” de um povo. Portanto, pelo 
que foi exposto, pode-se considerar a raça como atributo biológico, que definirá 
sozinho uma identidade. Esta aparecerá como mais um elemento no conjunto de 
outros que ajudarão nesse conceito, uma pessoa ou sociedade tem outras 
características importantes para a formação de sua cultura que não apenas a 
questão da cor como, por exemplo, os contatos existentes entre os povos 
provocados pela facilidade dos meios de comunicação, dos transportes, da 
tecnologia; esse fluxo constante de pessoas é muito significativo para tudo que 
podemos analisar nessa questão sobre identidades. 
A busca de identidades mostra-nos que o homem, na pós-modernidade, sente 
a necessidade dos laços que remontam a comunidade, mesmo sabendo que uma 
identidade é sempre ressignificada em outro meio. Esse fato só será possível porque 
os elementos que compõem uma identidade não são aleatórios, eles estão em 
nossa bagagem social, histórica e cultural, não se eleva tudo, mas muitos são 
escolhidos como fundamentais no novo contexto. 
É preciso que façamos uma reflexão sobre como nossa população indígena, 
negra, grupos religiosos, entre outros, em nosso país e no mundo, estão resistindo e 
reagindo à massificação da cultura. Quais as saídas para essas populações 
43 
 
Antropologia Cultural 
 
reprimidas pelo desenvolvimento tecnológico? As “minorias” sociais são 
consideradas as novas tribos na sociedade de massa. Essas “minorias”, tais como 
os homossexuais, negros, povos indígenas, mulheres, portadores de deficiência, 
etc., trazem um importante questionamento sobre o que é normalidade e maioria. 
A nova organização geopolítica mundial trouxe grandes mudanças no modo 
de vida das populações mundiais. A alta tecnologia, também conhecida pela 
automação da sociedade, é a marca deste tempo de globalização, no qual entramos 
em contato direto e constante com outras culturas. Não é fácil lidar com os valores 
novos, para isso é preciso uma avaliação constante sobre nossos objetivos pessoais 
e coletivos, levando a um forte questionamento sobre as identidades tradicionais nas 
quais já estávamos acostumados. 
 
 
 
 
3.1.3 Preconceito, estereótipos e discriminação 
 
O preconceito, os estereótipos, bem como as discriminações, estão 
relacionados com as atitudes ou comportamentos referentes aos indivíduos, aos 
Fonte: http://conceptualdelacultura.blogspot.com/2011/02/la-cola-del-dragon_15.html 
44 
 
Antropologia Cultural 
 
grupos, a cultura baseados em julgamentos que são mantidos mesmo diante de 
fatos que os contradizem; em uma sociedade capitalista a situação não poderia ser 
diferente. 
O preconceito envolve uma avaliação negativa de uma pessoa pelo simples 
fato de o identificarmos com um grupo determinado do qual temos preconceito. É 
importante entendermos que não existem apenas grupos de minorias que são alvos 
de atitudes preconceituosas, mas qualquer grupo social. Segundo alguns teóricos, o 
preconceito é resultado de frustrações pessoais e podem estar relacionados com o 
tipo de personalidade que o indivíduo apresenta. Por exemplo, uma pessoa pode ser 
autoritária, hostil, intolerante ou simplesmente por ser de um partido ou de religião. 
Considera que a base cognitiva do preconceito são os estereótipos, 
envolvidos por crenças sobre características individuais que são atribuídas a 
indivíduo ou grupo. Geralmente as crenças preconceituosas são consideradas como 
estereótipos negativos, por isso que muitas pessoas dizem que conceito de 
estereótipo é muito próximo do conceito de preconceito. Os estereótipos estão 
ligados a uma padronização rígida, cria-se um estigma em que não se vê elemento 
positivo no indivíduo sendo julgado na maioria das vezes, negativamente como se 
fossem carimbados diante de atributos dirigidos a pessoa ou grupo. 
Assim o estereótipo pode ser considerado como um comportamento funcional 
muitas vezes equivocado e condenatório, pela influência dos meios midiáticos com 
uma visão às vezes profunda ou artificial. 
É preocupante, do ponto de vista social, quando esses estereótipos são 
destrutivos e limitam o próprio indivíduo a buscar novos conhecimentos, criam a 
imagem de que o mundo é complexo demais, e diante disso levam o indivíduo a 
achar que lhe convém não gastar energias e nem tempo cognitivo para vencer a 
situação social excludente. Ao vermos uma pessoa suja, desarrumada, a imagem 
produzida é sempre a de achar que ele é mendigo, um preguiçoso, um criminoso. A 
lista é imensa. Chamamos esse ato de rotulação. A rotulação pode chegar ao 
cúmulo de dizer que alguém é menos capaz por ser mulher. 
A questão de gênero tem se tornado uma forma de estereotipar. Por exemplo, 
quando estipulamos que as atividades domésticas devem ser realizadas por 
mulheres, estamos criando um rótulo. Desta forma, se o homem fizesse tal atividade 
poderia estar apresentando traços femininos; ou quando acreditamos que os 
45 
 
Antropologia Cultural 
 
 
homens são sempre superiores às mulheres e assim por diante, reforçamos muitas 
vezes sem perceber os estereótipos e rótulos. 
A discriminação muitas vezes é provocada e motivada pelo preconceito, pode 
ser dada por sexo, idade, raça/etnia, social, religiosa, por portadores de 
necessidades especiais, por doença, aparência. Ela pode ocorrer no indivíduo, em 
grupo, na instituição, na sociedade em geral, é quando certas empresas deixam de 
contratar um excelente colaborador por ter tatuagem, ou por ser portador de 
necessidades especiais, entre outros. 
O preconceito está tão arraigado nas relações humanas que é difícil 
discutirmos sobre a sua natureza, visto que ele surge por diversas funções, como 
defesa pessoal, posição social ou até como mecanismo de sobrevivência, suas 
origens são profundas, ligadas à própria natureza humana. 
O preconceito é decorrente de fontes sociais, emocionais e cognitivas. Possui 
suas causas classificadas em quatro categorias: 
 Competição e conflitos econômicos- considerados um dos percursos que 
mais conduzem os indivíduos na formação de estereótipos, preconceitos e 
discriminação, por provocarem reações de hostilidade, inimizadas onde antes 
prevalecia a paz, ou pelo menos a tolerância mútua. 
 O papel do bode expiatório - o indivíduo, quando se encontra frustrado e 
infeliz, tende a transferir sua agressividade para grupos visíveis, 
aparentemente sem poder, desenvolvendo sentimentos negativos e de 
repulsa. 
 Fatores de personalidade – indivíduos com personalidade autoritária têm mais 
propensão a desenvolver atitudes preconceituosas por serem consideradas 
pessoas que geralmente apresentam rigidez nas opiniões, intolerância, 
desconfiança, entre outros, acreditando na sua superioridade, bem como na 
do grupo a que pertencem. 
 Causas sociais do preconceito – a aprendizagem social, conformidade ecategorização social: essas causas defendem a ideia de que o preconceito é 
criado e mantido por forças sociais e culturais. As normas sociais são 
aprendidas, transferidas de geração para geração. As conformidades são 
mantidas por medo de não ser aceito, por isso o indivíduo cede à pressão 
social. Muitas vezes, essas são motivadas pelos meios midiáticos e pelas 
artes, que são grandes disseminadoras de opiniões e agentes de 
46 
 
Antropologia Cultural 
 
 
socialização. Dessa forma, ocorre o que chamamos de “categorização social”, 
quando processamos psicologicamente as informações, categorizando as 
pessoas, formando estereótipos negativos com relação a elas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Preconceito é considerado uma atitude, inclusive difusa, 
que são influenciados pelos componentes: cognitivo, 
afetivo e comportamental. Etimologicamente, estereótipo é 
derivado de duas palavras gregas: “stereos” e “teípos”, que 
significam respectivamente “rígido” e “traço”. A discriminação 
é o comportamento, é a ação, é a conduta em si do indivíduo 
Fonte: https://davissenafilho.blogspot.com/2016/05/discriminacoes-preconceitos-golpe-de.html 
47 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
3.2 Identidades Socioculturais e a Realidade Brasileira 
 
A ressignificação dos movimentos intelectuais e populares tentou criar marcas 
identitárias para o povo brasileiro. 
A busca de construção da identidade nacional é uma constante ao longo da 
história da cultura brasileira. Essa busca refletiu-se nas artes, nas ciências humanas 
e na ideologia política. Os debates sempre foram complexos, com alguns pontos 
como: aspectos da criação de um mito fundador da nação, a identificação e a 
valorização de singularidade que distinguem a cultura e a civilização brasileira e o 
relacionamento com elementos estrangeiros étnico/raciais. 
Sempre foi demonstrada uma grande preocupação em discutir a identidade e 
o futuro da nação brasileira, foram propagados diferentes discursos discutindo o que 
é ou não ser brasileiro. Assim destacaram-se políticos, militares, empresários e 
especialmente artistas e intelectuais, através da literatura, das artes plásticas, da 
música e mesmo de manifestos. Os artistas e intelectuais modernistas e pós-
Fonte: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil-1/discriminacao-ou-preconceito 
48 
 
Antropologia Cultural 
 
modernistas procuram construir práticas discursivas para tentar compreender as 
identidades culturais brasileiras. 
 
3.2.1 Tentativas de se construir um caráter de identidade nacional 
brasileira 
 
Numa paisagem histórica do Brasil no início do século XX, visualiza-se a 
cidade em processo de industrialização e urbanização. Novos valores estavam se 
agregando, vindos de várias partes do mundo no processo migratório. Diante das 
grandes contradições vividas pelo Brasil, a intelectualidade procurava delinear a 
imagem cultural no Brasil. 
Inicialmente, o ser nacional do Brasil foi representado a partir do olhar 
estrangeiro, viajantes europeus que muitas vezes não conseguiam enxergar as 
construções identitárias brasileiras no século XIX, ao construírem discursos 
preconceituosos e etnocêntricos sobre os grupos indígenas e as manifestações 
culturais dos homens e mulheres negras. 
A intelectualidade brasileira se uniu no intuito de desconstruir o olhar 
estrangeiro que tentava inventar o Brasil pelas lentes eurocêntricas, em 1920. 
Sabiase que o principal problema da não construção de uma identidade nacional era 
o enfraquecimento dos traços e praticas culturais endógenas em detrimento dos 
exógenos. 
Portanto, a intelectualidade era acusada de viver de costas para a cultura 
brasileira, ou seja, viver expatriado em sua própria terra sonhando viver ou morrer 
em Paris. “Assim, a missão do intelectual era vencer a percepção de sua oralidade 
como exótica, ou seja, vencer o olhar estrangeiro que informava a visão de si 
próprio” (OLIVEIRA, 2000, P.137). 
Os modernistas procuravam trabalhar na perspectiva do nacional e não do 
regional. Em 1926 surge um movimento chamado “Manifesto Regionalista”. Esse 
movimento desenvolve dois temas: a defesa da região como unidade de 
organização nacional e a conservação dos valores regionais e tradicionais do Brasil 
em geral, e do nordeste em particular. 
49 
 
Antropologia Cultural 
 
Os regionalistas tinham a região como elemento constitutivo da nação, ao 
frisar a necessidade de uma articulação inter-regional, era preciso ser regional para 
poder construir um sentimento de pertença aos valores nacionais. 
As transformações ocorridas na sociedade brasileira pós-1930 no governo 
Vargas, e o impacto causado com a Segunda Guerra Mundial foram importantes 
para alterar a ideia de nação que se desejava. O estado novo, ao pretender ser novo 
e nacional, procurou juntar modernização e tradição. Impôs a noção de brasilidade 
ligada à questão do nacionalismo econômico e à modernização do país. 
Na década de 1950, o país se vê com influências de intelectuais, então teria 
que buscar caminhos de desenvolvimento ultrapassando todas as etapas que os 
países capitalistas desenvolvidos já tinham ultrapassado. Mais uma vez os 
intelectuais não procuram nortes para resolver os problemas brasileiros a partir das 
nossas próprias construções histórico-econômicas e culturais; queriam que 
copiassem as experiências exógenas de países como os Estados Unidos. 
Entretanto, com Juscelino Kubitschek e o governo populista o Brasil pode 
avançar 50 anos em cinco, deixando de ser essencialmente rural, expandindo-se 
uma nova classe social: a classe média, influenciada pelas oscilações internacionais 
no campo da moda e da cultura. Foi nesta década que ocorreu um movimento 
migratório interno entre regiões brasileiras, especialmente do Nordeste para o 
Sudeste do país, portanto, mão de obra barata para ampliarem a construção civil na 
região. 
Neste mesmo período ocorre um crescimento vertiginoso da indústria 
midiática, cinemas, jornais, emissoras de rádio e o surgimento da televisão; são 
criadas correntes vanguardistas estéticas como a Bossa Nova. Nessa época, o 
cinema brasileiro, sob o impacto do Neorrealismo italiano, procurou discutir não as 
marcas da nacionalidade brasileira, mas as contradições brasileiras em nível 
nacional. As produções cinematográficas procuravam mostrar as desigualdades em 
nível e tensões sociais inerentes à vida na cidade e no interior dos sertões 
brasileiros. 
Assim, no governo JK, o país despertou do sonho de desenvolvimento, por 
meio de um prenúncio de desestabilização econômica e recrudescimento do poder 
econômico da sociedade civil. Politicamente, o povo brasileiro se depara com 
governos populistas instáveis nas suas governabilidades e domínios militares, ou 
50 
 
Antropologia Cultural 
 
seja: eleição e renúncia de Jânio Quadros, governo de João Goulart e as reformas 
de base e Golpe Militar em 1964. 
No período da década de 50 e início da década de 60, organizam-se e 
crescem os movimentos sociais reivindicatórios em favor de políticas econômicas e 
sociais e educacionais dos direitos dos trabalhadores. 
No contexto cultural, os artistas e intelectuais se revestem de um caráter 
nacional-revolucionário, afirmando a singularidade da identidade cultural brasileira. 
Construía-se a chamada arte engajada, ou seja, os setores mais à esquerda passam 
rapidamente do conceito de uma arte nacionalista para o de arte como instrumento 
de transformação social. 
Foi no Cinema Novo que a manifestação artística passou a abordar os graves 
problemas sociais vivenciados pelos homens e mulheres do campo. Quando eclodiu 
o Golpe Militar em 1964, foram exatamente estes artistas/intelectuais da linha 
nacional- revolucionária que se tornaram alvos da repressão. 
Os artistas Caetano Veloso e Gilberto Gil foram os que ousaram propor 
formas e conteúdos que destoavam da MPB, de

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