Buscar

MATERIAL TEORICO DE DIREITO AMBIENTAL - V

Prévia do material em texto

5
•	Meio Ambiente Urbano e o Estatuto Da Cidade
•	Meio Ambiente Urbano X Desenvolvimento Econômico
•	Sustentabilidade Socioambiental e Desenvolvimento Urbano
As atividades da unidade V são compostas pela leitura do material teórico e complementar, 
atividade de aprofundamento, que é um fórum de discussão sobre o desenvolvimento 
urbano e sustentabilidade, e atividade de sistematização do conhecimento, composta por 
seis questões de autocorreção.
Não se esqueça de acompanhar os prazos para entrega das atividades. Programe-se para a 
leitura e anote suas dúvidas eventuais para levá-las ao professor tutor.
 · O objetivo desta unidade é estudar e conhecer o meio 
ambiente urbano, que faz parte do meio ambiente artificial. 
 · Estudaremos principalmente o desenvolvimento das cidades 
e a adequada gestão urbana para preservação do meio 
ambiente e da qualidade de vida da comunidade. Claro que 
também estudaremos a legislação pertinente sobre o tema, 
principalmente o Estatuto da Cidade. 
 · Ainda, vamos analisar a sustentabilidade social e econômica 
nas cidades, e como ela pode ser atingida plenamente. É 
muito importante a leitura da legislação!
Meio Ambiente Urbano
•	Introdução - Meio Ambiente Urbano
6
Unidade: Meio Ambiente Urbano
Um ambiente saudável nas cidades implica em ar puro, livre de poluentes, mobilidade, 
empregabilidade, dignidade, sustentabilidade. Para isso, todos - comunidade e poder público - 
precisam se unir em um esforço comum.
•	 Problemas que queremos banir das nossas cidades:
•	 Poluição do ar.
•	 Excesso de veículos nas ruas e falta de planejamento urbano.
•	 Pessoas vivendo em condições degradantes, convivendo com lixo, insetos e doenças.
•	 Lixo espalhado pelas ruas.
•	 Ocupação desordenada do solo.
Os problemas urbanos são extremamente graves, mas podem ser contornados, com a 
participação dos vários setores da economia, do poder público, e da comunidade. A 
edição de leis mais severas, o adequado planejamento urbano, uma política econômica 
sustentável e a maior acessibilidade às informações sobre as políticas urbanas são a chave 
para essa mudança. Podemos chegar a um meio ambiente sadio e digno, como podemos 
ver nesses exemplos de sustentabilidade urbana:
•	 Ciclovias.
•	 Planejamento urbano.
•	 Sistema de transporte sustentável.
•	 Uso de energias renováveis - Energia solar.
Contextualização
Para Pensar
É bem simples: ou poder público, empresários e população se unem em torno de um planejamento 
adequado para o meio ambiente urbano, ou não haverá qualidade de vida para nós, nem para as 
futuras gerações. E isso, com certeza, não é o que queremos.
Definitivamente, queremos qualidade de vida!!! E isso só será possível com um meio ambiente 
urbano sustentável.
Vamos pensar sobre isso?
7
A boa qualidade do meio ambiente urbano é essencial para a sadia qualidade de vida, 
prevista na Constituição Federal. O Direito urbanístico está intimamente ligado com o meio 
ambiente artificial, onde o meio ambiente urbano é estudado, e por isso também faremos 
algumas considerações sobre o assunto. 
A ocupação do solo, o zoneamento, a sustentabilidade econômica e social fazem parte da 
construção adequada do espaço urbano, que influenciará diretamente sobre o desenvolvimento 
sustentável e a proteção do meio ambiente natural, artificial e cultural. 
 Fonte: Thinkstock.com
O termo “meio ambiente urbano” refere-se às cidades, sob a ótica da proteção ambiental. 
A forma de criação e desenvolvimento dos espaços escolhidos pelo homem para o estabelecimento 
das cidades é bastante complexo, e envolve questões políticas, sociais, econômicas, culturais e 
religiosas, que vão além das preocupações ambientais. Nesse desiderato, o Direito Ambiental 
deve servir de instrumento hábil para um bom planejamento para a fixação e gestão das cidades, 
principalmente no que se refere à qualidade de vida nos espaços implementados.
Introdução - Meio Ambiente Urbano
 
 Atenção
É fundamental que você leia toda a legislação tratada nesta unidade, pois essa leitura faz parte da 
apreensão do conhecimento e do entendimento do tema.
1. Meio Ambiente Urbano e o Estatuto Da Cidade
8
Unidade: Meio Ambiente Urbano
1.1 Urbanização
A urbanização resulta principalmente da transferência de pessoas do meio rural (campo) para 
o meio urbano (cidade). Assim, a ideia de urbanização está diretamente ligada à concentração 
de muitas pessoas em um espaço restrito (a cidade) e na substituição das atividades primárias 
(agropecuária) por atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços). Entretanto, por 
se tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo “o aumento da 
população urbana em relação à população rural”, e nesse sentido só ocorre urbanização quando 
o percentual de aumento da população urbana é superior ao da população rural.
A criação de uma urbe1 modifica de forma drástica o ambiente natural. Mas também 
estabelece um novo ambiente, onde são instaladas as habitações, ruas e avenidas, além do 
comércio, prédios públicos etc. 
Também se preserva ou se recupera parte do meio ambiente natural por meio dos espaços 
territoriais especialmente protegidos, como as Áreas de Preservação Permanente (APP) e 
Unidades de Conservação2.
O Direito Urbanístico regula a organização das cidades. É o ramo do Direito que trata da ocupação, 
uso e transformação do solo, englobando não apenas o território das cidades, mas o território urbano 
propriamente dito. O Direito Urbanístico tem por objetivo regular a atividade urbanística e disciplinar 
a ordenação do território, e tem por meta principal “precipuamente a ordenação das cidades, como 
nota Hely Lopes Meirelles, mas os seus preceitos incidem também sobre as áreas rurais, no vasto 
campo da ecologia e da proteção ambiental, intimamente relacionadas com as condições da vida 
humana em todos os núcleos populacionais, da cidade e do campo”3.
1.2 Direito Ambiental e Direito Urbanístico
O ponto de partida da relação entre Direito Ambiental e Direito Urbanístico é a edição 
do Decreto-Lei nº 1.413/1975, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente 
provocada por atividades industriais. O art. 4º do referido Decreto estabelece o seguinte:
Nas áreas críticas, será adotado esquema de zoneamento urbano, objetivando, inclusive, 
para situações existentes, viabilizar alternativa adequada de nova localização, nos casos mais 
graves, assim como, em geral, estabelecer prazos razoáveis para a instalação dos equipamentos 
de controle da poluição.
A Lei nº 6.766/1979 introduziu regras para a implantação de loteamentos, consolidando uma 
tendência a considerar, no planejamento urbano, as questões ambientais, o que foi sedimentado 
pelo Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001.
1 Urbe significa cidade.
2 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2ª ed., São Paulo: Atlas,2011, p. 470.
3 SILVA, José Afonso. Direito urbanístico brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 31-32.
Nas áreas críticas, será adotado esquema de zoneamento urbano, 
objetivando, inclusive, para situações existentes, viabilizar alternativa 
adequada de nova localização, nos casos mais graves, assim como, em 
geral, estabelecer prazos razoáveis para a instalação dos equipamentos 
de controle da poluição.
9
1.3 Estatuto da Cidade
Após dez anos de tramitação no Congresso, o Senado aprovou o Estatuto da Cidade, Lei nº 
10.257/2001, instrumento que passou a disciplinar, mais do que o simples uso da propriedade 
urbana, as principais diretrizes do que chamamos de meio ambiente artificial, com base no 
equilíbrio ambiental. Entre outras disposições importantes, regulamentou os arts. 182 e 183 da 
CF, e estabeleceu normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade 
urbana, com foco no interesse da coletividade, do bem-estar dos cidadãos e do equilíbrio ambiental.
O parágrafo único do art. 1º, o Estatuto da Cidade revela a preocupação com o meio ambiente 
e a sua defesa, pois as referênciasao bem coletivo e bem-estar dos cidadãos já são suficientes para 
sustentar uma afirmação no sentido de que está contemplada a proteção ao meio ambiente.
É possível afirmar que o equilíbrio ambiental define efetivamente a diferença entre o antigo 
direito (antes da Constituição de 1988) e o direito atual. O uso da propriedade está condicionado 
ao meio ambiente cultural, ao meio ambiente do trabalho e ao meio ambiente natural, do 
mesmo modo que, diretamente, por força do Estatuto da Cidade, ao meio ambiente artificial, 
fundado nessa lei.
 O art. 2º do Estatuto descreve a política urbana a ser implementada, e estabelece as diretrizes 
gerais para isso. Um de seus objetivos principais é ordenar o pleno desenvolvimento das funções 
sociais da cidade, fixadas por determinação constitucional (art. 182 da CF). 
A função social da cidade é atingida quando esta proporciona aos seus habitantes o direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como quando garante a todos 
o chamado piso vital mínimo, formado pelos direitos à educação, à saúde, à alimentação, ao 
trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à 
infância, à assistência aos desamparados, todos direitos materiais constitucionais previstos no art. 
6º da CF. Pela importância de seus dispositivos, vejamos o texto do art. 2º do Estatuto da Cidade:
Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções 
sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, 
à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos 
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;
II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações 
representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e 
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;
III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade 
no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;
IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da 
população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de 
influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus 
efeitos negativos sobre o meio ambiente;
V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos 
adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais;
10
Unidade: Meio Ambiente Urbano
VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;
b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;
c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação 
à infra-estrutura urbana;
d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos 
geradores de tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente;
e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;
f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental;
 h) a exposição da população a riscos de desastres. (Redação dada pela Lei nº 12.608, de 2012)
VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista 
o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;
VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão 
urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica 
do Município e do território sob sua área de influência;
IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;
X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos 
gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os 
investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes 
segmentos sociais;
XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a 
valorização de imóveis urbanos;
XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do 
patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;
XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos 
de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos 
sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;
XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de 
baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e 
ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população 
e as normas ambientais;
XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas 
edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e 
unidades habitacionais;
11
XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção 
de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, 
atendido o interesse social.
XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de 
sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a 
redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais. (Incluído pela 
Lei nº 12.836, de 2013)
O Estatuto da Cidade aplica-se em todo o território nacional, e os municípios deverão buscar 
obrigatoriamente o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, de acordo com o que 
for definido no Plano Diretor e outras normas municipais.
As diretrizes de Política Urbana dispostas na lei, que relacionam normas urbanísticas e proteção 
ambiental, atribuem uma função ambiental à propriedade urbana, assim como apresentam os 
instrumentos para a efetivação dessa função.
Assim, o objetivo do Estatuto da Cidade é implementar uma adequada Política Urbana, 
associada ao equilíbrio ambiental, com vistas a uma sadia qualidade de vida, tentado minimizar 
a incidência de degradação ambiental e o aumento da poluição nos centros urbanos.
1.4 Plano Diretor
A Constituição Federal coloca o Plano Diretor como o instrumento básico da política de 
desenvolvimento e expansão urbana, devendo o seu conteúdo contemplar as exigências a 
serem atendidas pela propriedade urbana, a fim de cumprir a sua função social4.
O Estatuto da Cidade confirma os princípios básicos estabelecidos pela Constituição Federal, 
preservando o caráter municipalista, a centralidade do plano diretor como instrumento básico 
da política urbana e a ênfase na gestão democrática. Nessa perspectiva, o Estatuto da Cidade, 
ao regulamentar preceitos constitucionais estabelecidos no contexto das discussões sobre o papel 
do Estado nos anos 1980, retoma a centralidade da função do poder público na regulação das 
relações sociais em matéria urbana. Os institutos jurídicos e urbanísticos regulamentados são as 
condições institucionais necessárias, oferecidas ao poder público municipal, para a produção de 
bens públicos e o cumprimento de suas funções sociais.
O Estatuto da Cidade mantém a divisão de competências entre os três níveis de governo, 
concentrando na esfera municipal as atribuições de legislar em matéria urbana. A permanência 
desse formato significa que o tratamento e a proposição de soluções às questões urbanas 
ficarão nos limites do território municipal, porque compete aos poderes executivo e legislativo 
municipais equacioná-las. 
Sem perder o caráter municipalista, o Estatuto da Cidade amplia a obrigatoriedade do plano 
diretor, estabelecida genericamente na Constituição de 1988, aos municípios com população 
superior a 20 mil habitantes.
4 Art. 39 do Estatuto da Cidade e art. 182da CF.
12
Unidade: Meio Ambiente Urbano
Dentre outros instrumentos, a implementação do plano diretor deverá conter os 
instrumentos legais de:
 – apropriação do solo, referente a ocupações de terra, usucapião, desapropriação de áreas 
que garantam a apropriação do solo para moradia de classes de renda mais baixa;
 – parcelamento do solo, referente à integração na malha urbana, previsão de diretrizes 
viárias, reserva de áreas para uso público e garantia de preservação e do meio ambiente 
da identidade cultural e histórica da cidade;
 – zoneamento, referente às normas e padrões de ocupação e utilização do solo urbano, em 
conformidade com atividades desenvolvidas e previstas, controlando usos nocivos ou 
efeitos prejudiciais ao bem-estar da população.
A implementação do Plano Diretor deverá ser fiscalizada, devendo os poderes legislativo e 
executivo garantir a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população 
e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; a publicidade quanto 
aos documentos e informações produzidos; e o acesso de qualquer interessado aos documentos 
e informações produzidos.
O Estudo de Impacto Ambiental aponta também, entre outros instrumentos relativos à gestão 
urbana, alguns que se referem direta ou indiretamente à proteção ambiental:
a) Servidões e limitações administrativas;
b) Tombamento de imóveis ou mobiliário urbano;
c) Instituição de Unidades de Conservação Municipais e de zonas especiais de 
interesse social; 
d) Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA);
e) Zoneamento ambiental e Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança.
1.4.1 Uso e Ocupação do solo
Alguns instrumentos da gestão urbana devem ser destacados. É o caso do uso e ocupação 
do solo. A ocupação desordenada dos terrenos nas cidades causam todo tipo de problema, não 
apenas administrativos, mas efetivos, tanto para o meio ambiente natural quanto o artificial. 
Vejam a imagem a seguir:
 
13
 Favela da Rocinha - Fonte: Thinkstock.com
A imagem mostra o que nós conhecemos como favela, ou mais politicamente correto, 
“comunidade”. Mas “favela” é mesmo o nome mais adequado, pois significa “Aglomeração de 
casebres em certos pontos dos grandes centros urbanos, construídos toscamente e desprovidos 
de recursos higiênicos; morada da parte mais pobre da população”5. Significa que são moradias 
inadequadas, construídas irregularmente, e que mostram o quanto uma ocupação desordenada 
do solo pode ser negativa para a sociedade e para o meio ambiente. 
Não são poucos os casos de desabamentos e deslizamentos de terra, que causam tragédias 
pessoais e ambientais, como o conhecido caso da zona serrana do Rio de Janeiro, que, com as 
fortes chuvas de Janeiro, sofreu com deslizamentos de terra e desabamentos. O ocorrido revela a 
falta de planejamento do espaço urbano, que deveria respeitar a topografia do local e as questões 
ambientais, além do bem-estar da população. Essa é uma das finalidades do plano diretor.
1.4.2. Gestão Democrática da cidade
O art. 43 do Estatuto da Cidade prevê os instrumentos para que haja uma gestão 
democrática das cidades. Essa previsão foi inovadora e muito importante, pois permite dar 
efetividade à tutela do meio ambiente artificial através da participação direta de brasileiros 
e estrangeiros residentes em nosso país, o que será feito não apenas no âmbito institucional 
(art. 43, I do Estatuto da Cidade), mas também através de iniciativa popular de projeto de 
lei. Vejamos o teor do artigo:
5 http://www.dicio.com.br/favela/
http://www.dicio.com.br/favela/
14
Unidade: Meio Ambiente Urbano
“Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre 
outros, os seguintes instrumentos:
I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;
II – debates, audiências e consultas públicas;
III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal;
IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de 
desenvolvimento urbano;
V – (VETADO)”
A aplicação do artigo 43 do Estatuto não impede a utilização de outros instrumentos de 
controle ambiental, a exemplo das ações coletivas que visam a proteção do meio ambiente 
artificial ecologicamente equilibrado, que podem ser propostas pela população. Os debates, as 
audiências e consultas públicas, atestam, sob o ponto de vista jurídico, a vontade do legislador 
de submeter ao próprio povo, a gestão democrática da cidade.
1.5 Estudo de Impacto de Vizinhança
O Estatuto da Cidade fez previsão de um novo instrumento para que se faça a mediação entre 
os interesses privados dos empreendedores e o direito à qualidade de vida urbana daqueles 
que moram ou transitam em seu entorno: o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). É o mais 
importante instrumento de atuação no meio ambiente artificial na perspectiva de assegurar a 
dignidade da pessoa humana. 
O objetivo do EIV é democratizar o sistema para a tomada de decisões sobre os grandes 
empreendimentos a serem realizados na cidade, permitindo que as comunidades que estejam 
expostas aos impactos dos grandes empreendimentos possam manifestar-se a respeito, de 
acordo com o que determina o princípio da participação e da informação.
 O art. 36 do Estatuto da Cidade estabelece que uma lei municipal conterá critérios definindo 
quais empreendimentos dependerão de um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança como 
condição para sua aprovação. Esses critérios variam de acordo com as características e a 
infraestrutura urbana do município, e podem basear-se, por exemplo, no impacto de tráfego 
gerado, sobrecarga de infraestrutura, adensamento populacional, sombreamento sobre imóveis 
vizinhos, poluição sonora, etc.
De acordo com o art. 37, o Estudo de Impacto de Vizinhança “será executado de forma 
a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento”. Deve incluir, no mínimo, 
a análise dos impactos quanto ao adensamento populacional, os equipamentos urbanos e 
comunitários, o uso e ocupação do solo, a valorização imobiliária, a geração de tráfego, a 
demanda por transporte público, a paisagem urbana e o patrimônio natural e cultural.
As conclusões do Estudo de Impacto de Vizinhança poderão aprovar o empreendimento ou 
atividade, estabelecendo condições ou contrapartidas para seu funcionamento, ou impedir a sua 
realização.A contrapartida a ser oferecida pelo empreendimento, em troca da possibilidade de sua 
realização, é variável, relacionando-se à sobrecarga que ele provocará: no caso de adensamento 
populacional, poderão ser exigidas áreas verdes, escolas, creches ou algum outro equipamento 
15
comunitário; no caso de impacto sobre o mercado de trabalho, poderão ser exigidos postos de 
trabalho dentro do empreendimento, ou iniciativas de recolocação profissional para os afetados; 
no caso de empreendimento que sobrecarregue a infraestrutura viária, poderão ser exigidos 
investimentos em sinalização de tráfego e investimentos em transportes coletivos, entre outros.
O Estudo de Impacto de Vizinhança poderá também exigir alterações no projeto do 
empreendimento, como diminuição de área construída, reserva de áreas verdes ou de uso 
comunitário no interior do empreendimento, alterações que garantam para o território do 
empreendimento parte da sobrecarga viária, aumento no número de vagas de estacionamento, 
medidas de isolamento acústico, recuos ou alterações na fachada, normatização de área de 
publicidade do empreendimento etc6.
2.1 Binômio Meio Ambiente - Economia
O direito ambiental não limita ou entra em conflito com o direito econômico. A interpretação 
de ambas as normas deve levar em conta a complexidade do ordenamento jurídico em sua 
integralidade, que protege constitucionalmente ambos os direitos.
Não há justaposição de valores entre normas ambientais e as demais normas do 
ordenamento jurídico, ou seja, as normas de direito ambiental e de direito econômico 
devem ser aplicadas coordenadamente.Paulo de Bessa Antunes, ao se referir à coordenação das normas de direito econômico e de 
direito ambiental existentes na Constituição Federal de 1988, especialmente as contidas no art. 
170, dispõe o seguinte: 
Assim, a análise do binômio direito ambiental - direito econômico deve permear a 
política econômica, a qual é responsável pelas diretrizes mercadológicas que conduzem ao 
desenvolvimento econômico e social, e consequentemente ao desenvolvimento sustentável7.
6 CYMBALISTA, Renato. “Estudo de Impacto de Vizinhança”. Disponível em: <www.polis.org.br/publicacoes/dicas>. Acesso em: 10 ago. 2009.
7 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, 6ª Ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 15
2. Meio Ambiente Urbano X Desenvolvimento Econômico
“Penso que se deve interpretar as mencionadas normas constitucionais 
como o estabelecimento de um sistema econômico constitucional que, 
reconhecendo a prevalência dos mecanismos da economia de mercado, 
entende que estes não podem ser absolutos e soberanos. A constituição 
da República Federativa do Brasil, parece-me, estabelece a necessidade 
de uma economia social de mercado. A própria inclusão do respeito 
ao meio ambiente como um dos princípios da atividade econômica e 
financeira demonstra que a livre iniciativa pode ser praticada quando 
observados determinados parâmetros constitucionais”
16
Unidade: Meio Ambiente Urbano
2.2 Sustentabilidade Socioeconômica no Desenvolvimento Urbano
A Sustentabilidade econômica é bem mais real e importante do que um simples ideal 
ambientalista. Primeiramente, um empreendimento deve buscar a diminuição de custos e 
impactos para a sociedade, além de gerar frutos em um razoável espaço de tempo. Para atingir 
esses objetivos, é cada vez mais frequente a necessidades de medidas estatais ou políticas que 
sejam favoráveis a uma implantação da economia sustentável. A sustentabilidade econômica 
entra no âmbito socioeconômico com a finalidade de tornar não somente o futuro de todos 
mais próspero, mas também mudar alguns fatores da realidade em que vivemos.
A definição de sustentabilidade econômica passa por fundamentos básicos como medidas 
que tenham em vista um desenvolvimento estável, evitando a instabilidade econômica gerada 
pelo aumento da inflação. Também considera outros fatores essenciais: a adequada gestão de 
recursos naturais, principalmente no que se refere a geração de energia, usando, para isso, 
fontes renováveis em substituição as que não são renováveis. A sustentabilidade econômica visa 
tanto o presente como o futuro, e nesse ponto interliga-se a medidas de outras classes, como a 
sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento urbano.
Um problema na aplicação dos conceitos da sustentabilidade econômica nas produções 
comerciais e financeiras em países em desenvolvimento são os cuidados com as mudanças 
dos usos energéticos e com investimentos, que em um primeiro momento podem apresentar 
algum risco econômico. Mas é fundamental que se diga que a sustentabilidade econômica é 
uma das bases para uma sociedade estável e mais justa, até no sentido constitucional do 
termo, além de contribuir efetivamente para o desenvolvimento das cidades, e possibilitar o 
tão almejado desenvolvimento.
A associação entre a noção de sustentabilidade e o debate sobre desenvolvimento urbano 
tem motivação política e social. Os responsáveis pela ocupação e produção do espaço urbano 
procuram compatibilizar a sustentabilidade social e ambiental com a urbanização. Essas 
ideias tem como base os princípios da Agenda 21, resultante da Conferência da ONU sobre 
Desenvolvimento e Meio Ambiente. 
Ao mesmo tempo que verificamos uma espécie de “ambientalização” do debate sobre políticas 
urbanas, observamos também um movimento de sentido oposto, com a entrada crescente do 
discurso ambiental no tratamento das questões urbanas, seja por iniciativa dos próprios cidadãos 
que incorporam a temática do meio ambiente, seja pela própria trajetória de urbanização cada 
vez maior da carteira ambiental dos projetos do Banco Mundial.
3. Sustentabilidade Socioambiental e Desenvolvimento Urbano
17
Não se pode deixar de mencionar que a sustentabilidade urbana está diretamente ligada 
aos novos conceitos ambientais, e podem atrair investimentos, já que há um interesse global 
na proteção do meio ambiente e na sustentabilidade ambiental. Assim, levar as cidades para 
um futuro sustentável significa, neste caso, “promover a produtividade no uso dos recursos 
ambientais e fortalecer as vantagens competitivas”8. 
No debate atual sobre o tema, veremos várias ligações lógicas entre a reprodução das 
estruturas urbanas a e sua base especificamente material. Encontraremos, especialmente, três 
representações basicamente distintas da cidade. Vamos utilizar e reproduzir os conceitos do 
Prof. Henri Acselrad - Professor Adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e 
Regional (IPPUR) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)9.
3.1 A representação técnico-material das cidades
De acordo com o Prof. Henri Acselrad, uma primeira articulação associa a transição para a 
sustentabilidade urbana à reprodução adaptativa das estruturas urbanas com foco no ajustamento 
das bases técnicas das cidades, a partir de modelos de “racionalidade eco energética” ou de 
“metabolismo urbano”. Em ambos os casos, a cidade será vista em sua continuidade material 
de estoques e fluxos.
Na perspectiva de uma eficiência especificamente material, a cidade sustentável será aquela 
que, para uma mesma oferta de serviços, minimiza o consumo de energia fóssil e de outros 
recursos materiais, explorando ao máximo os fluxos locais, satisfazendo o critério de conservação 
de estoques e de redução do volume de resíduos
 Fonte: Jorge Maruta - Jornal da USP
 
8 E.P.Durazo, “Desarrollo Sustentable de las Ciudades”, in Ciudades n.34, abril-junio 1997, Mexico, p.51.
9 http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/viewFile/2063/2022
%20%20http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/viewFile/2063/2022
18
Unidade: Meio Ambiente Urbano
A cidade fragmentada, como a da foto acima, é vista como geradora de consumo energético 
e de custos de reordenamento de redes técnicas (água, eletricidade, telefonia) e de serviços 
públicos muito elevados. A cidade fragmentada é a cidade formada de vários fragmentos 
(partes). As regiões da cidade são fragmentos geográficos de um todo (cidade). O ideal, 
então é desfragmentação da cidade, permitindo um desenvolvimento com comunidades mais 
próximas e interligadas no mesmo ideal de eficiência energética, desenvolvimento urbano e 
sustentabilidade. Essa é uma forte tendência entre os urbanistas.
3.2 A cidade como espaço da “qualidade de vida”
Uma nova matriz técnica das cidades é também pensada por motivos de “qualidade de 
vida” - componentes não empresariais da existência cotidiana e cidadã da população urbana, 
especialmente no que se refere às implicações sanitárias das práticas urbanas.
 São poucas as pessoas que param para pensar na estreita relação entre a vontade de ter uma 
vida de qualidade e a questão da sustentabilidade. Enquanto o termo “qualidade” não tem um 
conceito absoluto, gerando uma resposta subjetiva e pessoal, o termo “sustentabilidade”, que 
é importado da Ecologia, se refere àquilo que se sustenta ao longo do tempo e do espaço, de 
forma dinâmica e viva10.
Qualidade de vida, em um sentido mais amplo, envolve a saúde da pessoa, assim como a sua 
interação com o meio, as relações sociais, a vida afetiva, a situação financeira, lazer, sono, etc. 
Mas a pergunta que se impõe é: como ter uma vida plena e saudável em uma cidade cujo ar é 
de baixa qualidade? Como encontrar nutrição adequada em alimentos sem sabor, pobres em 
nutrientes e ricos em agrotóxicos? Por que morar em condomínios fechados com áreas verdes, 
enquanto as cidades se tornam cada vez mais cinzas e opacas? 
Diferentes ecossistemas tem a capacidade de se manterem ao longo do tempo, porque todasas formas de vida ali presentes usam o solo, a água, o ar e a energia, além de diferentes materiais 
que servem de alimento e abrigo, de modo a beneficiar a todos os seres vivos. A natureza não é 
cinza, pobre, desorganizada, nem desarmônica. É exatamente o oposto do que o modo de vida 
moderno faz com os ambientes naturais e, consequentemente, com as cidades.
Dentro do caos urbano, estamos conectados de uma forma ou de outra, até virtualmente, mas 
sozinhos. A ampliação da percepção das relações entre a saúde do corpo e da mente e a saúde 
do planeta determina a urgente transformação de nossa forma de viver e, por consequência, 
das inúmeras escolhas que fazemos no cotidiano, nas nossas cidades. Uma vida saudável em 
uma cidade sustentável pressupõe escolhas cotidianas dentro de um mercado que precisa ser 
radicalmente transformado para oferecer produtos e serviços sustentáveis.
3.3 A cidade como espaço de legitimação das políticas urbanas
A materialidade das cidades sendo politicamente construída, as modalidades de sua 
reprodução serão vistas também como dependentes das condições que legitimam seus 
pressupostos políticos. A ideia de sustentabilidade é assim aplicada às condições de reprodução 
da legitimidade das políticas urbanas. Fala-se da viabilidade política do crescimento urbano, ou 
seja, das condições de construção política da base material das cidades. A Insustentabilidade 
exprime, então, a incapacidade das políticas urbanas adaptarem a oferta de serviços urbanos à 
quantidade e qualidade das demandas sociais, provocando um “desequilíbrio entre necessidades 
cotidianas da população e os meios de as satisfazer, entre a demanda por serviços urbanos e os 
investimentos em redes e infraestrutura”
10 http://deborahmunhoz.wordpress.com/artigos/qualivida-sust/
http://deborahmunhoz.wordpress.com/artigos/qualivida-sust/
19
Assim, as cidades crescem, e o desenvolvimento urbano acontece sem que haja o 
correspondente investimento em infraestrutura. A falta de investimentos na manutenção dos 
equipamentos urbanos acentua o déficit na oferta de serviços, o que acarreta um descompasso 
entre a população atendida versus as não atendidas pelos serviços urbanos.Nesse sentido, a 
população pobre que vive na periferia é a que mais sofre. 
O impacto material da falta de políticas públicas na urbanização é percebido pelo desperdício, 
e pela concentração socioterritorial dos benefícios à população das cidades.
A crise de legitimidade das políticas urbanas poderá ser atribuída também à incapacidade 
de se fazer frente aos riscos tecnológicos e naturais. Na perspectiva da equidade, o risco 
culturalmente construído apontará a desigualdade intertemporal no acesso aos serviços urbanos, 
com a prevalência de riscos técnicos para as populações menos atendidas pelos benefícios dos 
investimentos públicos ou afetada pela imperícia técnica na desconsideração de especificidades 
do meio físico das cidades, tais como declividades, acidentes topográficos, sistemas naturais 
de drenagem, movimentações indevidas de terra, renovação de solo superficial, formação de 
voçorocas , erosão e assoreamento .

Continue navegando