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5 • Meio Ambiente Urbano e o Estatuto Da Cidade • Meio Ambiente Urbano X Desenvolvimento Econômico • Sustentabilidade Socioambiental e Desenvolvimento Urbano As atividades da unidade V são compostas pela leitura do material teórico e complementar, atividade de aprofundamento, que é um fórum de discussão sobre o desenvolvimento urbano e sustentabilidade, e atividade de sistematização do conhecimento, composta por seis questões de autocorreção. Não se esqueça de acompanhar os prazos para entrega das atividades. Programe-se para a leitura e anote suas dúvidas eventuais para levá-las ao professor tutor. · O objetivo desta unidade é estudar e conhecer o meio ambiente urbano, que faz parte do meio ambiente artificial. · Estudaremos principalmente o desenvolvimento das cidades e a adequada gestão urbana para preservação do meio ambiente e da qualidade de vida da comunidade. Claro que também estudaremos a legislação pertinente sobre o tema, principalmente o Estatuto da Cidade. · Ainda, vamos analisar a sustentabilidade social e econômica nas cidades, e como ela pode ser atingida plenamente. É muito importante a leitura da legislação! Meio Ambiente Urbano • Introdução - Meio Ambiente Urbano 6 Unidade: Meio Ambiente Urbano Um ambiente saudável nas cidades implica em ar puro, livre de poluentes, mobilidade, empregabilidade, dignidade, sustentabilidade. Para isso, todos - comunidade e poder público - precisam se unir em um esforço comum. • Problemas que queremos banir das nossas cidades: • Poluição do ar. • Excesso de veículos nas ruas e falta de planejamento urbano. • Pessoas vivendo em condições degradantes, convivendo com lixo, insetos e doenças. • Lixo espalhado pelas ruas. • Ocupação desordenada do solo. Os problemas urbanos são extremamente graves, mas podem ser contornados, com a participação dos vários setores da economia, do poder público, e da comunidade. A edição de leis mais severas, o adequado planejamento urbano, uma política econômica sustentável e a maior acessibilidade às informações sobre as políticas urbanas são a chave para essa mudança. Podemos chegar a um meio ambiente sadio e digno, como podemos ver nesses exemplos de sustentabilidade urbana: • Ciclovias. • Planejamento urbano. • Sistema de transporte sustentável. • Uso de energias renováveis - Energia solar. Contextualização Para Pensar É bem simples: ou poder público, empresários e população se unem em torno de um planejamento adequado para o meio ambiente urbano, ou não haverá qualidade de vida para nós, nem para as futuras gerações. E isso, com certeza, não é o que queremos. Definitivamente, queremos qualidade de vida!!! E isso só será possível com um meio ambiente urbano sustentável. Vamos pensar sobre isso? 7 A boa qualidade do meio ambiente urbano é essencial para a sadia qualidade de vida, prevista na Constituição Federal. O Direito urbanístico está intimamente ligado com o meio ambiente artificial, onde o meio ambiente urbano é estudado, e por isso também faremos algumas considerações sobre o assunto. A ocupação do solo, o zoneamento, a sustentabilidade econômica e social fazem parte da construção adequada do espaço urbano, que influenciará diretamente sobre o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente natural, artificial e cultural. Fonte: Thinkstock.com O termo “meio ambiente urbano” refere-se às cidades, sob a ótica da proteção ambiental. A forma de criação e desenvolvimento dos espaços escolhidos pelo homem para o estabelecimento das cidades é bastante complexo, e envolve questões políticas, sociais, econômicas, culturais e religiosas, que vão além das preocupações ambientais. Nesse desiderato, o Direito Ambiental deve servir de instrumento hábil para um bom planejamento para a fixação e gestão das cidades, principalmente no que se refere à qualidade de vida nos espaços implementados. Introdução - Meio Ambiente Urbano Atenção É fundamental que você leia toda a legislação tratada nesta unidade, pois essa leitura faz parte da apreensão do conhecimento e do entendimento do tema. 1. Meio Ambiente Urbano e o Estatuto Da Cidade 8 Unidade: Meio Ambiente Urbano 1.1 Urbanização A urbanização resulta principalmente da transferência de pessoas do meio rural (campo) para o meio urbano (cidade). Assim, a ideia de urbanização está diretamente ligada à concentração de muitas pessoas em um espaço restrito (a cidade) e na substituição das atividades primárias (agropecuária) por atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços). Entretanto, por se tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo “o aumento da população urbana em relação à população rural”, e nesse sentido só ocorre urbanização quando o percentual de aumento da população urbana é superior ao da população rural. A criação de uma urbe1 modifica de forma drástica o ambiente natural. Mas também estabelece um novo ambiente, onde são instaladas as habitações, ruas e avenidas, além do comércio, prédios públicos etc. Também se preserva ou se recupera parte do meio ambiente natural por meio dos espaços territoriais especialmente protegidos, como as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Unidades de Conservação2. O Direito Urbanístico regula a organização das cidades. É o ramo do Direito que trata da ocupação, uso e transformação do solo, englobando não apenas o território das cidades, mas o território urbano propriamente dito. O Direito Urbanístico tem por objetivo regular a atividade urbanística e disciplinar a ordenação do território, e tem por meta principal “precipuamente a ordenação das cidades, como nota Hely Lopes Meirelles, mas os seus preceitos incidem também sobre as áreas rurais, no vasto campo da ecologia e da proteção ambiental, intimamente relacionadas com as condições da vida humana em todos os núcleos populacionais, da cidade e do campo”3. 1.2 Direito Ambiental e Direito Urbanístico O ponto de partida da relação entre Direito Ambiental e Direito Urbanístico é a edição do Decreto-Lei nº 1.413/1975, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais. O art. 4º do referido Decreto estabelece o seguinte: Nas áreas críticas, será adotado esquema de zoneamento urbano, objetivando, inclusive, para situações existentes, viabilizar alternativa adequada de nova localização, nos casos mais graves, assim como, em geral, estabelecer prazos razoáveis para a instalação dos equipamentos de controle da poluição. A Lei nº 6.766/1979 introduziu regras para a implantação de loteamentos, consolidando uma tendência a considerar, no planejamento urbano, as questões ambientais, o que foi sedimentado pelo Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001. 1 Urbe significa cidade. 2 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2ª ed., São Paulo: Atlas,2011, p. 470. 3 SILVA, José Afonso. Direito urbanístico brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 31-32. Nas áreas críticas, será adotado esquema de zoneamento urbano, objetivando, inclusive, para situações existentes, viabilizar alternativa adequada de nova localização, nos casos mais graves, assim como, em geral, estabelecer prazos razoáveis para a instalação dos equipamentos de controle da poluição. 9 1.3 Estatuto da Cidade Após dez anos de tramitação no Congresso, o Senado aprovou o Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001, instrumento que passou a disciplinar, mais do que o simples uso da propriedade urbana, as principais diretrizes do que chamamos de meio ambiente artificial, com base no equilíbrio ambiental. Entre outras disposições importantes, regulamentou os arts. 182 e 183 da CF, e estabeleceu normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana, com foco no interesse da coletividade, do bem-estar dos cidadãos e do equilíbrio ambiental. O parágrafo único do art. 1º, o Estatuto da Cidade revela a preocupação com o meio ambiente e a sua defesa, pois as referênciasao bem coletivo e bem-estar dos cidadãos já são suficientes para sustentar uma afirmação no sentido de que está contemplada a proteção ao meio ambiente. É possível afirmar que o equilíbrio ambiental define efetivamente a diferença entre o antigo direito (antes da Constituição de 1988) e o direito atual. O uso da propriedade está condicionado ao meio ambiente cultural, ao meio ambiente do trabalho e ao meio ambiente natural, do mesmo modo que, diretamente, por força do Estatuto da Cidade, ao meio ambiente artificial, fundado nessa lei. O art. 2º do Estatuto descreve a política urbana a ser implementada, e estabelece as diretrizes gerais para isso. Um de seus objetivos principais é ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, fixadas por determinação constitucional (art. 182 da CF). A função social da cidade é atingida quando esta proporciona aos seus habitantes o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como quando garante a todos o chamado piso vital mínimo, formado pelos direitos à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados, todos direitos materiais constitucionais previstos no art. 6º da CF. Pela importância de seus dispositivos, vejamos o texto do art. 2º do Estatuto da Cidade: Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais; 10 Unidade: Meio Ambiente Urbano VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental; h) a exposição da população a riscos de desastres. (Redação dada pela Lei nº 12.608, de 2012) VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência; VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência; IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais; 11 XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social. XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais. (Incluído pela Lei nº 12.836, de 2013) O Estatuto da Cidade aplica-se em todo o território nacional, e os municípios deverão buscar obrigatoriamente o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, de acordo com o que for definido no Plano Diretor e outras normas municipais. As diretrizes de Política Urbana dispostas na lei, que relacionam normas urbanísticas e proteção ambiental, atribuem uma função ambiental à propriedade urbana, assim como apresentam os instrumentos para a efetivação dessa função. Assim, o objetivo do Estatuto da Cidade é implementar uma adequada Política Urbana, associada ao equilíbrio ambiental, com vistas a uma sadia qualidade de vida, tentado minimizar a incidência de degradação ambiental e o aumento da poluição nos centros urbanos. 1.4 Plano Diretor A Constituição Federal coloca o Plano Diretor como o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, devendo o seu conteúdo contemplar as exigências a serem atendidas pela propriedade urbana, a fim de cumprir a sua função social4. O Estatuto da Cidade confirma os princípios básicos estabelecidos pela Constituição Federal, preservando o caráter municipalista, a centralidade do plano diretor como instrumento básico da política urbana e a ênfase na gestão democrática. Nessa perspectiva, o Estatuto da Cidade, ao regulamentar preceitos constitucionais estabelecidos no contexto das discussões sobre o papel do Estado nos anos 1980, retoma a centralidade da função do poder público na regulação das relações sociais em matéria urbana. Os institutos jurídicos e urbanísticos regulamentados são as condições institucionais necessárias, oferecidas ao poder público municipal, para a produção de bens públicos e o cumprimento de suas funções sociais. O Estatuto da Cidade mantém a divisão de competências entre os três níveis de governo, concentrando na esfera municipal as atribuições de legislar em matéria urbana. A permanência desse formato significa que o tratamento e a proposição de soluções às questões urbanas ficarão nos limites do território municipal, porque compete aos poderes executivo e legislativo municipais equacioná-las. Sem perder o caráter municipalista, o Estatuto da Cidade amplia a obrigatoriedade do plano diretor, estabelecida genericamente na Constituição de 1988, aos municípios com população superior a 20 mil habitantes. 4 Art. 39 do Estatuto da Cidade e art. 182da CF. 12 Unidade: Meio Ambiente Urbano Dentre outros instrumentos, a implementação do plano diretor deverá conter os instrumentos legais de: – apropriação do solo, referente a ocupações de terra, usucapião, desapropriação de áreas que garantam a apropriação do solo para moradia de classes de renda mais baixa; – parcelamento do solo, referente à integração na malha urbana, previsão de diretrizes viárias, reserva de áreas para uso público e garantia de preservação e do meio ambiente da identidade cultural e histórica da cidade; – zoneamento, referente às normas e padrões de ocupação e utilização do solo urbano, em conformidade com atividades desenvolvidas e previstas, controlando usos nocivos ou efeitos prejudiciais ao bem-estar da população. A implementação do Plano Diretor deverá ser fiscalizada, devendo os poderes legislativo e executivo garantir a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; e o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos. O Estudo de Impacto Ambiental aponta também, entre outros instrumentos relativos à gestão urbana, alguns que se referem direta ou indiretamente à proteção ambiental: a) Servidões e limitações administrativas; b) Tombamento de imóveis ou mobiliário urbano; c) Instituição de Unidades de Conservação Municipais e de zonas especiais de interesse social; d) Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA); e) Zoneamento ambiental e Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança. 1.4.1 Uso e Ocupação do solo Alguns instrumentos da gestão urbana devem ser destacados. É o caso do uso e ocupação do solo. A ocupação desordenada dos terrenos nas cidades causam todo tipo de problema, não apenas administrativos, mas efetivos, tanto para o meio ambiente natural quanto o artificial. Vejam a imagem a seguir: 13 Favela da Rocinha - Fonte: Thinkstock.com A imagem mostra o que nós conhecemos como favela, ou mais politicamente correto, “comunidade”. Mas “favela” é mesmo o nome mais adequado, pois significa “Aglomeração de casebres em certos pontos dos grandes centros urbanos, construídos toscamente e desprovidos de recursos higiênicos; morada da parte mais pobre da população”5. Significa que são moradias inadequadas, construídas irregularmente, e que mostram o quanto uma ocupação desordenada do solo pode ser negativa para a sociedade e para o meio ambiente. Não são poucos os casos de desabamentos e deslizamentos de terra, que causam tragédias pessoais e ambientais, como o conhecido caso da zona serrana do Rio de Janeiro, que, com as fortes chuvas de Janeiro, sofreu com deslizamentos de terra e desabamentos. O ocorrido revela a falta de planejamento do espaço urbano, que deveria respeitar a topografia do local e as questões ambientais, além do bem-estar da população. Essa é uma das finalidades do plano diretor. 1.4.2. Gestão Democrática da cidade O art. 43 do Estatuto da Cidade prevê os instrumentos para que haja uma gestão democrática das cidades. Essa previsão foi inovadora e muito importante, pois permite dar efetividade à tutela do meio ambiente artificial através da participação direta de brasileiros e estrangeiros residentes em nosso país, o que será feito não apenas no âmbito institucional (art. 43, I do Estatuto da Cidade), mas também através de iniciativa popular de projeto de lei. Vejamos o teor do artigo: 5 http://www.dicio.com.br/favela/ http://www.dicio.com.br/favela/ 14 Unidade: Meio Ambiente Urbano “Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; II – debates, audiências e consultas públicas; III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; V – (VETADO)” A aplicação do artigo 43 do Estatuto não impede a utilização de outros instrumentos de controle ambiental, a exemplo das ações coletivas que visam a proteção do meio ambiente artificial ecologicamente equilibrado, que podem ser propostas pela população. Os debates, as audiências e consultas públicas, atestam, sob o ponto de vista jurídico, a vontade do legislador de submeter ao próprio povo, a gestão democrática da cidade. 1.5 Estudo de Impacto de Vizinhança O Estatuto da Cidade fez previsão de um novo instrumento para que se faça a mediação entre os interesses privados dos empreendedores e o direito à qualidade de vida urbana daqueles que moram ou transitam em seu entorno: o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). É o mais importante instrumento de atuação no meio ambiente artificial na perspectiva de assegurar a dignidade da pessoa humana. O objetivo do EIV é democratizar o sistema para a tomada de decisões sobre os grandes empreendimentos a serem realizados na cidade, permitindo que as comunidades que estejam expostas aos impactos dos grandes empreendimentos possam manifestar-se a respeito, de acordo com o que determina o princípio da participação e da informação. O art. 36 do Estatuto da Cidade estabelece que uma lei municipal conterá critérios definindo quais empreendimentos dependerão de um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança como condição para sua aprovação. Esses critérios variam de acordo com as características e a infraestrutura urbana do município, e podem basear-se, por exemplo, no impacto de tráfego gerado, sobrecarga de infraestrutura, adensamento populacional, sombreamento sobre imóveis vizinhos, poluição sonora, etc. De acordo com o art. 37, o Estudo de Impacto de Vizinhança “será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento”. Deve incluir, no mínimo, a análise dos impactos quanto ao adensamento populacional, os equipamentos urbanos e comunitários, o uso e ocupação do solo, a valorização imobiliária, a geração de tráfego, a demanda por transporte público, a paisagem urbana e o patrimônio natural e cultural. As conclusões do Estudo de Impacto de Vizinhança poderão aprovar o empreendimento ou atividade, estabelecendo condições ou contrapartidas para seu funcionamento, ou impedir a sua realização.A contrapartida a ser oferecida pelo empreendimento, em troca da possibilidade de sua realização, é variável, relacionando-se à sobrecarga que ele provocará: no caso de adensamento populacional, poderão ser exigidas áreas verdes, escolas, creches ou algum outro equipamento 15 comunitário; no caso de impacto sobre o mercado de trabalho, poderão ser exigidos postos de trabalho dentro do empreendimento, ou iniciativas de recolocação profissional para os afetados; no caso de empreendimento que sobrecarregue a infraestrutura viária, poderão ser exigidos investimentos em sinalização de tráfego e investimentos em transportes coletivos, entre outros. O Estudo de Impacto de Vizinhança poderá também exigir alterações no projeto do empreendimento, como diminuição de área construída, reserva de áreas verdes ou de uso comunitário no interior do empreendimento, alterações que garantam para o território do empreendimento parte da sobrecarga viária, aumento no número de vagas de estacionamento, medidas de isolamento acústico, recuos ou alterações na fachada, normatização de área de publicidade do empreendimento etc6. 2.1 Binômio Meio Ambiente - Economia O direito ambiental não limita ou entra em conflito com o direito econômico. A interpretação de ambas as normas deve levar em conta a complexidade do ordenamento jurídico em sua integralidade, que protege constitucionalmente ambos os direitos. Não há justaposição de valores entre normas ambientais e as demais normas do ordenamento jurídico, ou seja, as normas de direito ambiental e de direito econômico devem ser aplicadas coordenadamente.Paulo de Bessa Antunes, ao se referir à coordenação das normas de direito econômico e de direito ambiental existentes na Constituição Federal de 1988, especialmente as contidas no art. 170, dispõe o seguinte: Assim, a análise do binômio direito ambiental - direito econômico deve permear a política econômica, a qual é responsável pelas diretrizes mercadológicas que conduzem ao desenvolvimento econômico e social, e consequentemente ao desenvolvimento sustentável7. 6 CYMBALISTA, Renato. “Estudo de Impacto de Vizinhança”. Disponível em: <www.polis.org.br/publicacoes/dicas>. Acesso em: 10 ago. 2009. 7 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, 6ª Ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 15 2. Meio Ambiente Urbano X Desenvolvimento Econômico “Penso que se deve interpretar as mencionadas normas constitucionais como o estabelecimento de um sistema econômico constitucional que, reconhecendo a prevalência dos mecanismos da economia de mercado, entende que estes não podem ser absolutos e soberanos. A constituição da República Federativa do Brasil, parece-me, estabelece a necessidade de uma economia social de mercado. A própria inclusão do respeito ao meio ambiente como um dos princípios da atividade econômica e financeira demonstra que a livre iniciativa pode ser praticada quando observados determinados parâmetros constitucionais” 16 Unidade: Meio Ambiente Urbano 2.2 Sustentabilidade Socioeconômica no Desenvolvimento Urbano A Sustentabilidade econômica é bem mais real e importante do que um simples ideal ambientalista. Primeiramente, um empreendimento deve buscar a diminuição de custos e impactos para a sociedade, além de gerar frutos em um razoável espaço de tempo. Para atingir esses objetivos, é cada vez mais frequente a necessidades de medidas estatais ou políticas que sejam favoráveis a uma implantação da economia sustentável. A sustentabilidade econômica entra no âmbito socioeconômico com a finalidade de tornar não somente o futuro de todos mais próspero, mas também mudar alguns fatores da realidade em que vivemos. A definição de sustentabilidade econômica passa por fundamentos básicos como medidas que tenham em vista um desenvolvimento estável, evitando a instabilidade econômica gerada pelo aumento da inflação. Também considera outros fatores essenciais: a adequada gestão de recursos naturais, principalmente no que se refere a geração de energia, usando, para isso, fontes renováveis em substituição as que não são renováveis. A sustentabilidade econômica visa tanto o presente como o futuro, e nesse ponto interliga-se a medidas de outras classes, como a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento urbano. Um problema na aplicação dos conceitos da sustentabilidade econômica nas produções comerciais e financeiras em países em desenvolvimento são os cuidados com as mudanças dos usos energéticos e com investimentos, que em um primeiro momento podem apresentar algum risco econômico. Mas é fundamental que se diga que a sustentabilidade econômica é uma das bases para uma sociedade estável e mais justa, até no sentido constitucional do termo, além de contribuir efetivamente para o desenvolvimento das cidades, e possibilitar o tão almejado desenvolvimento. A associação entre a noção de sustentabilidade e o debate sobre desenvolvimento urbano tem motivação política e social. Os responsáveis pela ocupação e produção do espaço urbano procuram compatibilizar a sustentabilidade social e ambiental com a urbanização. Essas ideias tem como base os princípios da Agenda 21, resultante da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Ao mesmo tempo que verificamos uma espécie de “ambientalização” do debate sobre políticas urbanas, observamos também um movimento de sentido oposto, com a entrada crescente do discurso ambiental no tratamento das questões urbanas, seja por iniciativa dos próprios cidadãos que incorporam a temática do meio ambiente, seja pela própria trajetória de urbanização cada vez maior da carteira ambiental dos projetos do Banco Mundial. 3. Sustentabilidade Socioambiental e Desenvolvimento Urbano 17 Não se pode deixar de mencionar que a sustentabilidade urbana está diretamente ligada aos novos conceitos ambientais, e podem atrair investimentos, já que há um interesse global na proteção do meio ambiente e na sustentabilidade ambiental. Assim, levar as cidades para um futuro sustentável significa, neste caso, “promover a produtividade no uso dos recursos ambientais e fortalecer as vantagens competitivas”8. No debate atual sobre o tema, veremos várias ligações lógicas entre a reprodução das estruturas urbanas a e sua base especificamente material. Encontraremos, especialmente, três representações basicamente distintas da cidade. Vamos utilizar e reproduzir os conceitos do Prof. Henri Acselrad - Professor Adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)9. 3.1 A representação técnico-material das cidades De acordo com o Prof. Henri Acselrad, uma primeira articulação associa a transição para a sustentabilidade urbana à reprodução adaptativa das estruturas urbanas com foco no ajustamento das bases técnicas das cidades, a partir de modelos de “racionalidade eco energética” ou de “metabolismo urbano”. Em ambos os casos, a cidade será vista em sua continuidade material de estoques e fluxos. Na perspectiva de uma eficiência especificamente material, a cidade sustentável será aquela que, para uma mesma oferta de serviços, minimiza o consumo de energia fóssil e de outros recursos materiais, explorando ao máximo os fluxos locais, satisfazendo o critério de conservação de estoques e de redução do volume de resíduos Fonte: Jorge Maruta - Jornal da USP 8 E.P.Durazo, “Desarrollo Sustentable de las Ciudades”, in Ciudades n.34, abril-junio 1997, Mexico, p.51. 9 http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/viewFile/2063/2022 %20%20http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/viewFile/2063/2022 18 Unidade: Meio Ambiente Urbano A cidade fragmentada, como a da foto acima, é vista como geradora de consumo energético e de custos de reordenamento de redes técnicas (água, eletricidade, telefonia) e de serviços públicos muito elevados. A cidade fragmentada é a cidade formada de vários fragmentos (partes). As regiões da cidade são fragmentos geográficos de um todo (cidade). O ideal, então é desfragmentação da cidade, permitindo um desenvolvimento com comunidades mais próximas e interligadas no mesmo ideal de eficiência energética, desenvolvimento urbano e sustentabilidade. Essa é uma forte tendência entre os urbanistas. 3.2 A cidade como espaço da “qualidade de vida” Uma nova matriz técnica das cidades é também pensada por motivos de “qualidade de vida” - componentes não empresariais da existência cotidiana e cidadã da população urbana, especialmente no que se refere às implicações sanitárias das práticas urbanas. São poucas as pessoas que param para pensar na estreita relação entre a vontade de ter uma vida de qualidade e a questão da sustentabilidade. Enquanto o termo “qualidade” não tem um conceito absoluto, gerando uma resposta subjetiva e pessoal, o termo “sustentabilidade”, que é importado da Ecologia, se refere àquilo que se sustenta ao longo do tempo e do espaço, de forma dinâmica e viva10. Qualidade de vida, em um sentido mais amplo, envolve a saúde da pessoa, assim como a sua interação com o meio, as relações sociais, a vida afetiva, a situação financeira, lazer, sono, etc. Mas a pergunta que se impõe é: como ter uma vida plena e saudável em uma cidade cujo ar é de baixa qualidade? Como encontrar nutrição adequada em alimentos sem sabor, pobres em nutrientes e ricos em agrotóxicos? Por que morar em condomínios fechados com áreas verdes, enquanto as cidades se tornam cada vez mais cinzas e opacas? Diferentes ecossistemas tem a capacidade de se manterem ao longo do tempo, porque todasas formas de vida ali presentes usam o solo, a água, o ar e a energia, além de diferentes materiais que servem de alimento e abrigo, de modo a beneficiar a todos os seres vivos. A natureza não é cinza, pobre, desorganizada, nem desarmônica. É exatamente o oposto do que o modo de vida moderno faz com os ambientes naturais e, consequentemente, com as cidades. Dentro do caos urbano, estamos conectados de uma forma ou de outra, até virtualmente, mas sozinhos. A ampliação da percepção das relações entre a saúde do corpo e da mente e a saúde do planeta determina a urgente transformação de nossa forma de viver e, por consequência, das inúmeras escolhas que fazemos no cotidiano, nas nossas cidades. Uma vida saudável em uma cidade sustentável pressupõe escolhas cotidianas dentro de um mercado que precisa ser radicalmente transformado para oferecer produtos e serviços sustentáveis. 3.3 A cidade como espaço de legitimação das políticas urbanas A materialidade das cidades sendo politicamente construída, as modalidades de sua reprodução serão vistas também como dependentes das condições que legitimam seus pressupostos políticos. A ideia de sustentabilidade é assim aplicada às condições de reprodução da legitimidade das políticas urbanas. Fala-se da viabilidade política do crescimento urbano, ou seja, das condições de construção política da base material das cidades. A Insustentabilidade exprime, então, a incapacidade das políticas urbanas adaptarem a oferta de serviços urbanos à quantidade e qualidade das demandas sociais, provocando um “desequilíbrio entre necessidades cotidianas da população e os meios de as satisfazer, entre a demanda por serviços urbanos e os investimentos em redes e infraestrutura” 10 http://deborahmunhoz.wordpress.com/artigos/qualivida-sust/ http://deborahmunhoz.wordpress.com/artigos/qualivida-sust/ 19 Assim, as cidades crescem, e o desenvolvimento urbano acontece sem que haja o correspondente investimento em infraestrutura. A falta de investimentos na manutenção dos equipamentos urbanos acentua o déficit na oferta de serviços, o que acarreta um descompasso entre a população atendida versus as não atendidas pelos serviços urbanos.Nesse sentido, a população pobre que vive na periferia é a que mais sofre. O impacto material da falta de políticas públicas na urbanização é percebido pelo desperdício, e pela concentração socioterritorial dos benefícios à população das cidades. A crise de legitimidade das políticas urbanas poderá ser atribuída também à incapacidade de se fazer frente aos riscos tecnológicos e naturais. Na perspectiva da equidade, o risco culturalmente construído apontará a desigualdade intertemporal no acesso aos serviços urbanos, com a prevalência de riscos técnicos para as populações menos atendidas pelos benefícios dos investimentos públicos ou afetada pela imperícia técnica na desconsideração de especificidades do meio físico das cidades, tais como declividades, acidentes topográficos, sistemas naturais de drenagem, movimentações indevidas de terra, renovação de solo superficial, formação de voçorocas , erosão e assoreamento .
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