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Indaial – 2020 Teorias da Globalização Prof. Márcio José Rosa de Carvalho 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Márcio José Rosa de Carvalho Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C331t Carvalho, Márcio José Rosa de Teorias da globalização. / Márcio José Rosa de Carvalho. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 244 p.; il. ISBN 978-65-5663-171-4 ISBN Digital 978-65-5663-166-0 1. Relações globais. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 303.4 apresenTação Olá, acadêmico! As relações mundiais entre Estados nacionais, empresas, instituições e pessoas passaram por grandes mudanças nos últimos cinquenta a cem anos. Basta pensarmos em termos de comunicação: da mensagem à carta, da carta ao telégrafo, do telégrafo ao telefone, do telefone à internet: e-mail, depois chat; depois redes sociais e, agora, mensagens instantâneas pelo smartphone. O mesmo é válido para as comunicações de massa: dos panfletos ao jornal impresso, depois veio o rádio, o cinema, a televisão e a internet. Com seus sites de notícias, blogs, social mídia, youtubers e influencers, a internet encurtou o tempo de distribuição de informação, chegando mesmo a ultrapassá-lo, quando as fake news são mais rápidas que a informação real, por exemplo. Não é de surpreender que estas mudanças tragam profundas alterações na forma com que experimentamos o mundo. E olha que citamos apenas fatos ligados à comunicação. De quantas dimensões ou camadas o mundo social é composto? Muitas! Neste material que ora chega as suas mãos, vamos nos concentrar principalmente em quatro dimensões da vida social: a política, a econômica, a cultural e o mundo social em si. Estas separações são puramente disciplinares, pois as quatro dimensões se relacionam e estão imbricadas. E elas são indispensáveis para entender o tema que será abordado aqui: as Teorias da Globalização. Os esforços e mudanças de integração geográfica e cultural não são um fenômeno novo. Mas, apenas na modernidade, ele se consolida em escala global e com comunicação em tempo real. Instantaneamente, podemos nos comunicar com qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta. Estas mudanças trazem uma nova dinâmica na forma com que olhamos para outras culturas, organizamos, nossas carreiras, conhecemos uma música estrangeira, elegemos governantes, escolhemos nosso “look do dia”, fechamos negócios, optamos por um país para passar as férias ou tratamos uma nação como “amiga” ou “inimiga”. Isso significa que tanto ações simples e diretas quanto escolher uma roupa ou uma ação complexa e institucional, como o tratamento diplomático que damos a outros povos, passam por uma série de filtros ajustados todos os dias, a partir das nossas conexões e da interpenetração que as próprias culturas alcançam no cenário global. Toda essa dinâmica de relações vem sendo estudada desde o século passado, sendo chamada de “globalização”, a partir dos anos da década de 1980. Apesar de a dinâmica da globalização como conhecemos hoje ser um fenômeno novo e muito dependente das transformações tecnológicas dos nossos tempos, suas raízes remetem aos tempos das navegações, com as grandes expedições mercantis. Não se trata, portanto, de um fenômeno totalmente novo, se o pensarmos em tempos históricos. Contudo, não há registro na história humana de uma interação global com tamanha capacidade de encurtar tempo e espaço, comunicar e integrar, agir e reagir. Por outro lado, as relações globais não são sempre harmoniosas. Culturas locais colocam em questão o excesso de interpenetração global; sistemas econômicos entram em conflito; relações comerciais podem ser mais vantajosas para um lado do que para o outro; indivíduos de uma determinada nação, cultura ou etnia podem não ser bem-vindos em um território diferente daquele de suas origens; catástrofes ambientais podem atravessar barreiras geopolíticas; e os conflitos internacionais e as guerras ainda fazem parte do repertório cultural humano. Ao longo deste material, passaremos por muitos temas, sempre os colocando em relação direta, tanto com as proposições teóricas, quanto com a própria materialidade que permeia o mundo real. Conforme você avançar em suas leituras, perceberá que cada conceito visto anteriormente estará em conexão com o novo conceito aprendido e a cada abordagem teórica vista, correlações serão estabelecidas com o nosso mundo do dia a dia. Esperamos que você aprecie a experiência! Na Unidade 1, você terá acesso às Perspectivas sociológicas relativas à globalização. Nela, serão abordadas a contextualização histórica das origens e das dinâmicas ligadas aos processos sociais de globalização e algumas das principais teorias sociais que analisam este fenômeno, como os aspectos analíticos das dimensões “macro-micro” e o impacto do entrecruzamento das dimensões “local” x “global”. Na Unidade 2, colocaremos em perspectiva a ideia de Globalização, globalizações. Será que só existe uma dinâmica global? Será que os processos de globalização que ocorrem no Ocidente são os mesmos no Oriente, no Norte e no Sul? Será que esses processos se desenvolvem a partir dos mesmos mecanismos e sistemas nas dimensões econômicas, culturais e políticas da globalização? Estas são algumas das perguntas que nortearão nossos estudos na Unidade 2. Na Unidade 3, abordaremos os grandes Temas da globalização. O Estado nacional moderno, as instituições políticas em um cenário transnacional, o impacto da globalização nas identidades individuais e coletivas, protecionismo, multiculturalismo, apropriação cultural, relações pós-coloniais e circulação de pessoas. Estes são alguns dos temas que abordaremos na Unidade 3. A maioria deles exploram a tensão gerada entre o cruzamento de diferentes formas de ser e estar no mundo a partir da interpenetração das dimensões locais e globais. Cada uma das unidades também apresenta uma bateria de exercícios de aplicação e autoavaliação (autoatividades) dos conhecimentos que você mobilizou neste livro. Encare-os como um momento de continuidade de aprendizado, no qual você poderá aprimorar, ainda mais, suas experiências. Esperamos que este material contribua com sua jornada acadêmica e que, a partir dele, você encontre novas inspirações para analisar e explicar os fenômenos do mundo globalizado. Bons estudos! Márcio J. R. de Carvalho Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenhode Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO ........ 1 TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO ........................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 PERSPECTIVAS GLOBAIS NA VIRADA DO MILÊNIO E A IDEIA DE “GLOBALIZAÇÃO” .............................................................................................................................. 4 2.1 GLOBALIZAÇÃO: UM CONCEITO CONTROVERSO E EM DISPUTA .............................. 6 3 FATORES FUNDAMENTAIS DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA ................................... 10 3.1 A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA E SEUS PRINCIPAIS ATORES ................................... 13 3.2 A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA PELOS SEUS PRINCÍPIOS E DETERMINANTES .. 16 3.3 OS INTERESSES EM JOGO EM UM CENÁRIO DE GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA .. 17 4 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA GLOBALIZAÇÃO .......................................... 21 4.1 GLOBALIZAÇÃO: DA DIMENSÃO ECONÔMICA ÀS OUTRAS DIMENSÕES ............ 21 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 27 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 — SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO ........................................................................ 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: PERSPECTIVAS ............................................................. 30 3 OS ASPECTOS “MICRO-MACRO” DA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA .......................... 35 3.1 A SOCIOLOGIA HOJE: SÍNTESES ENTRE AS SUBJETIVIDADES E AS OBJETIVIDADES ....................................................................................................................... 37 3.2 O MUNDO SOCIAL DINÂMICO .............................................................................................. 40 4 O LOCAL E O GLOBAL ................................................................................................................... 40 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 — TEORIAS SOCIAIS DA GLOBALIZAÇÃO .......................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 49 2 GLOBALIZAÇÃO E RISCO SOCIAL ........................................................................................... 49 3 O NORTE E O SUL DO MUNDO .................................................................................................. 56 3.1 DA TEORIA DO LESTE-OESTE À TEORIA DO NORTE-SUL ............................................. 57 4 PÓS-COLONIALISMO, CENTRO E PERIFERIA DO MUNDO E CIRCULAÇÃO DE CONHECIMENTOS ......................................................................................... 64 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 69 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 75 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77 UNIDADE 2 — GLOBALIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÕES .............................................................. 81 TÓPICO 1 — GLOBALIZAÇÃO, MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE ..................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 A MODERNIDADE COMO UM FENÔMENO OCIDENTAL ................................................ 83 3 MODERNIDADES MÚLTIPLAS E UM FUNDAMENTO NA TEORIA SOCIOLÓGICA CLÁSSICA ............................................................................................. 87 4 PÓS-MODERNIDADE .................................................................................................................... 91 4.1 A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA ............................................................................................... 92 5 MODERNIDADE “LÍQUIDA” E MODERNIDADE “TARDIA” ............................................ 95 5.1 MODERNIDADE “LÍQUIDA” .................................................................................................. 96 5.2 A MODERNIDADE “TARDIA”, OU “REFLEXIVA” ............................................................... 98 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 101 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103 TÓPICO 2 — AS DIMENSÕES DA GLOBALIZAÇÃO: ECONÔMICA, CULTURAL E POLÍTICA ............................................................................................................................................. 105 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105 2 DIMENSÕES ECONÔMICAS DA GLOBALIZAÇÃO ............................................................ 105 2.1 UMA PEQUENA REVISÃO DO QUE JÁ SABEMOS ........................................................... 106 2.2 COMÉRCIO MUNDIAL E MERCADO INTERNACIONAL .............................................. 107 3 DIMENSÕES CULTURAIS DA GLOBALIZAÇÃO ................................................................. 112 3.1 OCIDENTALIZAÇÃO E HOMOGENEIZAÇÃO CULTURAL ........................................... 114 3.2 TRANSCULTURAÇÃO ............................................................................................................ 117 3.3 IDENTIDADES E O PARADOXO DAS IDENTIDADES CULTURAIS EM CONTEXTO DE GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................................ 119 4 DIMENSÕES POLÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO .................................................................. 120 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 128 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 130 TÓPICO 3 — AS DINÂMICAS DA GLOBALIZAÇÃO: SOCIEDADE GLOBAL, CAPITALISMO E EXCLUSÃO SOCIAL ........................................................................................ 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A EMPRESA TRANSNACIONAL ..................... 131 3 DESIGUALDADE SOCIAL E ECONÔMICA E O TRABALHO PRECÁRIO E FLEXÍVEL ...................................................................................................................137 4 PRECARIZAÇÃO INTERNA ........................................................................................................ 142 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 149 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 153 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 155 UNIDADE 3 — TEMAS DA GLOBALIZAÇÃO .......................................................................... 157 TÓPICO 1 — GLOBALIZAÇÃO E ESTADO NACIONAL ........................................................ 159 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159 2 CONCEITUANDO OS ESTADOS MODERNOS ..................................................................... 159 2.1 AGRUPAMENTOS POLÍTICOS E O ESTADO MODERNO ............................................... 160 3 NAÇÃO E ESTADOS NACIONAIS ........................................................................................... 165 3.1 NAÇÃO COMO IDEAL ............................................................................................................. 165 3.2 ESTADO NACIONAL CONTEMPORÂNEO ........................................................................ 167 4 GLOBALIZAÇÃO E ESTADOS NACIONAIS: PRÁTICAS PROTETORAS INTERNAS ............................................................................................................. 173 4.1 NACIONALISMO, CONSERVADORISMO E PROTECIONISMO CONTRA O GLOBALISMO ............................................................................................................................. 173 4.2 O CONSERVADORISMO NACIONALISTA COMO FORMA DE RESISTÊNCIA AOS VALORES OCIDENTAIS: UM POSICIONAMENTO NO RUSSO ...................................... 173 4.3 ESTADO-NAÇÃO, PROTEÇÃO ECONÔMICA E GLOBALISMO: UM POSICIONAMENTO NO CASO BRASILEIRO ..................................................................... 176 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 183 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 TÓPICO 2 — GLOBALIZAÇÃO, IDENTIDADE E CULTURA ................................................ 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 187 2 IDENTIDADE E CULTURA EM UMA SOCIEDADE GLOBALIZADA .............................. 187 2.1 CULTURA IDENTITÁRIA E IDENTIDADE CULTURAL ................................................... 188 2.2 IDENTIDADE E DIVERSIDADE .............................................................................................. 190 3 MULTICULTURALISMO .............................................................................................................. 192 4 APROPRIAÇÃO CULTURAL ....................................................................................................... 197 4.1 CONTEXTO TEÓRICO DO CONCEITO DE “APROPRIAÇÃO CULTURAL” ................ 198 4.2 CONTEXTO EMPÍRICO DO CONCEITO DE “APROPRIAÇÃO CULTURAL” .............. 201 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 205 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 207 TÓPICO 3 — GLOBALIZAÇÃO: MOVIMENTOS TEÓRICOS E SOCIABILIDADES GLOBAIS .............................................................................................................................................. 211 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 211 2 TEORIAS PÓS-COLONIAIS ........................................................................................................ 211 2.1 O PÓS-COLONIALISMO .......................................................................................................... 214 3 ESTUDOS CULTURAIS, “ESTUDOS SUBALTERNOS” E DECOLONIALISMO LATINO- AMERICANO ...................................................................................................................................... 216 3.1 OS “ESTUDOS SUBALTERNOS” ............................................................................................. 217 3.2 O DECOLONIALISMO LATINO-AMERICANO .................................................................. 218 4 GLOBALIZAÇÃO E O TERCEIRO SETOR ............................................................................... 221 4.1 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ........................................................................... 221 4.2 INTEGRAÇÃO REGIONAL: BLOCOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS............................. 222 5 MOBILIDADES GLOBAIS ............................................................................................................ 224 5.1 MOBILIDADES GLOBAIS: CIRCULAÇÃO DE PESSOAS .................................................. 225 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 229 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 232 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 234 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 235 1 UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar o conceito de “globalização” a partir da contextualização de suas origens históricas; • discutir as dinâmicas ligadas ao processo de globalização a partir da perspectiva sociológica; • refletir sobre as tensões colocadas sobre o conceito de “globalização” e seus principais mecanismos; • introduzir as principais teorias sociais, que analisam o fenômeno da glo- balização. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO TÓPICO 2 – SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO TÓPICO 3 – TEORIAS SOCIAIS DA GLOBALIZAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Boas-vindas, acadêmico! Nos últimos três séculos, o mundo tem passado por uma transformação espetacular. A cultura da civilização ocidental, por exemplo, testemunhou dramáticas mudanças na maneira de se organizar política, produtiva e intelectualmente. Basta observarmos as grandes revoluções na Europa que os séculos XVIII e XIX testemunharam: i) a Revolução Francesa (1789-1799), o grande marco de ruptura e reorganização política da sociedade; ii) a Revolução Industrial (1760-1840), que transformou os meios de produção, ampliando as organizações industriais e comerciais; iii) e o Iluminismo – sobretudo no século XVIII, um movimento intelectual que foi o clímax da Revolução Científica que teve início no século XVI, estabelecendo uma série de novos códigos culturais relativos à compreensão, validação e divulgação do conhecimento. Diante desta era de transformações, que muitos chamam modernidade, surgiu um conjunto de técnicas e métodos de observação científica queprestava atenção, exatamente, na reorganização do mundo social. Esta ciência, posteriormente, seria chamada Sociologia. Nesta unidade, você lidará com um tema fascinante que tem intrigado pesquisadores de diversas áreas do conhecimento humano, assim como ocorreu na época das grandes revoluções da Europa. Este fenômeno é parte do nosso dia a dia, ainda que nem sempre a gente consiga perceber e, embora nos afete de maneira próxima, esse fenômeno não é apenas regional. Ele alcança os locais mais remotos da Terra, como as florestas do Camboja, o Deserto do Saara, os laboratórios de pesquisa instalados no gelo da Antártida e, até mesmo, a Estação Espacial Internacional (EEI – International Space Station, ISS). Vamos tratar de globalização! Neste tópico, a partir das perspectivas da Sociologia, você conhecerá o conceito de “globalização”, sua história e fundamentos. Também terá uma boa introdução aos meios de funcionamento, às principais características, e às dinâmicas deste fenômeno, bem como às principais teorias sociais que colocam questões relativas ao entendimento deste assunto. Esperamos que você aproveite ao máximo este material e que ao final de seus estudos, possa ser capaz de discorrer sobre este tema com tranquilidade e confiança. Bons estudos! UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 4 2 PERSPECTIVAS GLOBAIS NA VIRADA DO MILÊNIO E A IDEIA DE “GLOBALIZAÇÃO” “Antes mundo era pequeno Porque Terra era grande Hoje mundo é muito grande Porque Terra é pequena” Gilberto Gil, “Parabolicamará” (Gege Edições / Preta Music). Acadêmico! Você já se perguntou como era o mundo antes de estar quase totalmente conectado pela internet e pelas redes sociais? Podemos fazer um exercício imaginando uma “engenharia reversa” do tempo. Se hoje o planeta parece menor, como sugere a canção de Gilberto Gil, será que ele parecia maior em outros tempos? Ao mesmo tempo, o artista sugere que o “mundo era pequeno porque a Terra era grande”, certo? O que as distâncias físicas e a forma com as quais as imaginamos têm a ver com o intenso processo que chamamos “globalização”? Vamos descobrir? A dinâmica comumente chamada “globalização”, como você perceberá, não é apenas um processo geográfico, mas um fenômeno de várias dimensões: econômica, social, cultural e política, para ficarmos, por hora, apenas com as esferas mais influentes deste fenômeno, que foi conceituado em um tempo relativamente recente, na década de 1980, mas tem suas bases históricas em épocas mais antigas, nos alicerces da era moderna, remontando às expansões mercantis marítimas do século XVI. Alegoricamente, quanto a sua dinâmica, esse fenômeno pode ser recortado em dois eixos (Figura 1): um eixo (Y), que compreende seu avanço temporal (vertical, azul), marcado por grandes eventos históricos (ciclo de navegações, era dos descobrimentos, mercantilismo, era colonial, novas repúblicas americanas, as grandes guerras, o new deal, a formação de uma economia de mercado, as agendas neoliberais, a era digital etc.); e um eixo (X) que compreende sua dilatação espacial (horizontal, laranja), caracterizando um “encolhimento” das distâncias no mundo físico (das caravanas comerciais do oriente às expedições marítimas; dos barcos a vela ao navio a vapor; das mulas de carga dos antigos tropeiros às locomotivas; dos navios transatlânticos aos voos extracontinentais, por exemplo) e do mundo simbólico e linguístico, alterando radicalmente a forma com a qual nos comunicamos (da carta ao telégrafo, deste ao telefone e ao fax e, depois, chegaram à internet, o e-mail, as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas dos smartphones). Como você já deve ter percebido, estes eixos se cruzam em vários momentos da história, encurtando distâncias e acelerando exponencialmente as formas de comunicação. Vamos ilustrar bem o fato: imagine que, no século XIX, antes da criação das formas de comunicação hodiernas, uma mensagem enviada por carta de Portugal para o Brasil demoraria três meses em viagem por navio para encontrar o seu destinatário, demandando urgência na resposta que TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 5 demoraria mais três meses para retornar à Europa. Portanto, as grandes decisões de caráter imediato precisariam ser tomadas de maneira mais centralizada, já que a comunicação entre pares distantes era quase impraticável. Em nosso tempo, nós estamos a um enter de distância com quase qualquer parte do planeta. Fato que facilita tanto a comunicação interpessoal, quanto a dinâmica entre instituições de todo tipo. Neste sentido, podemos pensar um terceiro eixo (T), que representaria a aceleração das comunicações (transversal, vermelho) nas formas em que se dão as relações sociais entre os mais variados campos da cultura humana (Figura 1). FIGURA 1 – UMA ALEGORIA PARA A DINÂMICA “TEMPO, ESPAÇO E COMUNICAÇÃO” FONTE: O autor Partindo dessa percepção, ficou mais fácil entender o que o artista (GIL, 1994) quis dizer com seus versos? A experiência de “mundo”, que conhecíamos, fazia com que ele parecesse pequeno, pois o alcance de nossas experiências era, quase sempre, territorial. De modo que a Terra (em proporções físicas) parecia imensa! Hoje, você pode tomar café da manhã enquanto conversa por vídeo- chamada com aquele colega que está em intercâmbio pela Europa, e, pelo celular, pode investir na bolsa de Tóquio no caminho do trabalho, no almoço, pode importar um livro de uma autora africana direto no site da editora e, à noite, ir até o cinema assistir àquele filme Blockbuster, lançado no mundo inteiro no mesmo dia. A Terra que, geograficamente, parecia enorme, encolheu e o mundo que podemos alcançar e conhecer parece que ficou enorme e cheio de possibilidades. Pois bem, acadêmico, já que percebemos que a Terra ficou “pequena” e o mundo simbólico (aquele ao alcance das nossas experiências e imaginação) ficou “grande”, vamos assumir a ideia de que todo esse processo descrito anteriormente “encurta” as distâncias (e, em alguns casos, pode até eliminá-las), desta maneira, UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 6 já demos um passo para entendermos as dinâmicas da globalização como um movimento originalmente ocidental, fundamentado, em suas origens, nas relações econômicas e expandido para outros campos do saber, e um conceito que tanto descreve quanto impulsiona as vias formação e de integração de uma sociedade interdependente e mundial, ou “global”. Agora, vamos definir os limites do conceito de “globalização”, e conhecer as ideias que o fundamentam. Primeiramente, vamos demarcar este conceito tomando como referência O Dicionário do Pensamento Social do Século XX (ALBROW, 1996), que traz uma definição muito precisa dessa perspectiva da abordagem que apresentamos anteriormente, vamos conhecê-la? A palavra [“globalização”] só entrou em uso nos anos 1980. As mudanças a que ela se refere têm alta carga política e o conceito é controvertido, pois indica que a criação de uma sociedade mundial já não é o projeto de um estado-nação hegemônico, e sim o resultado não direcionado (sic) da interação social em escala global (ALBROW, 1996, p. 340). Pela definição de Abrow (1996), podemos deduzir que há um forte elemento de espontaneidade nas relações sociais, uma vez que elas “não são o projeto de um estado-nação hegemônico”, mas são resultados de um processo que não é gerenciado ou regulado por qualquer agência supervisora. O contrário é derivado da interação e intercâmbio entre indivíduos, instituições, e culturas, um processo “não-direcionado (sic)” de “interação social em escala global” (ALBROW, 1996, p. 340), de modo a acontecer, supostamente, com a mínima intervenção de agentes de Estado, em ambientes de relativa privacidade. 2.1 GLOBALIZAÇÃO: UM CONCEITO CONTROVERSO E EM DISPUTA Como você descobrirá, os estudos das transformações globais do mundo contemporâneo se espalham pelos mais variados campos dasciências sociais, como Sociologia, Ciências Políticas e Antropologia, mas é disputado, também, por profissionais de outras disciplinas acadêmicas, como Geografia, Administração, Marketing, Comunicações, Tecnologia, Comércio Exterior, Direito Internacional, Educação e Estudos Pós-coloniais e Decoloniais, entre outros tantos campos de saberes. O conceito de “globalização”, como nós conhecemos hoje, foi elaborado a partir da década de 1990, do século passado, e foi fortemente apropriado por estes campos que passaram a utilizá-lo para lidar com problemas mais diversos, do fim da Guerra Fria ao “aquecimento global”, dos sucessos internacionais de vendas de música pop ao recorde de espectadores em transmissão de megaeventos como a Copa do Mundo e as Olímpiadas, dos refugiados políticos na Europa à invasão TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 7 militar do Iraque pelos EUA. Esse conceito encontrou o seu auge entre o final dos anos 1990 do século passado e meados dos anos 10 deste século, passando por largas abordagens, tanto otimistas quanto pessimistas, que abrangem desde o relacionamento entre seres humanos e o meio ambiente, até as relações de flexibilização e precarização de trabalho em corporações de redes transnacionais, a apropriação cultural, a livre circulação de mercadorias, pessoas e serviços, a circulação internacional de ideias intelectuais, as correntes migratórias, o asilo político e os acordos internacionais de todo tipo entre nações e mercados. Por outro lado, as teorias contemporâneas que trabalham o conceito de “globalização” como processos de integração e interdependências entre nações lidam com o tema contemplando outros aspectos para além dos econômicos. Se tratarmos de política, por exemplo, você perceberá a transição de um cenário político internacional em que as nações preferiam um comportamento autocentrado e autodirigido modificado para um modelo mais integrado às questões externas e acordos diplomáticos com vantagens bilaterais. Se tratarmos de cultura, percebemos que essa integração global ocorre intensamente também no âmbito de nossas experiências pessoais. Você se lembrará de redes sociais digitais de experiências de trocas culturais nunca imaginadas em tempos pré- internet. Você gosta de literatura estrangeira? Com um clique, nas redes sociais, você se torna “amigo” dos escritores e escritoras que você mais gosta, estejam eles na Argentina ou na Inglaterra! Gosta de comida japonesa? Com outro clique, em um site de vídeos, você acessa um canal de brasileiros que moram no Japão (Figura 2) e ensinam receitas da culinária local. Você gosta de cinema alternativo? Existem milhares de fóruns na internet, nos mais variados idiomas discutindo o assunto. É claro que a integração intercultural depende, ainda, de algumas barreiras, como o domínio de idiomas, interesses próprios, qualidade das relações etc., mas essas possibilidades pessoais de aprendizado, de integração e de trocas com outros indivíduos em contextos culturais diferentes existem e aparecem em nosso cotidiano digital como algo quase “natural”. UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 8 FIGURA 2 – CAPA DO CANAL DE VÍDEOS “COZINHANDO COMIGO NO JAPÃO” FONTE: Adaptado de Cozinhando Comigo no Japão-Domingo (2016) E quando falamos nesse tipo de integração, percebemos que ela não ocorre só em âmbito internacional, nós também percebemos sua influência interna, afinal, o Brasil é um país com proporções continentais, e o câmbio cultural entre estados e regiões também foi enriquecido com essa integração digital. Todas estas questões sobre o que é “local” e o que é “global”, “próximo” e “distante”, “interno” e “externo” e “interdependência” estão colocadas ao mundo das teorias (você irá conhecer melhor algumas delas no Tópico 3 desta unidade). Nos anos da década de 1970, as teorias indicavam o risco de uma escalada da homogeneização das culturas em uma única cultura global, ou seja, as práticas culturais locais absorveriam a cultura global até que suas peculiaridades desaparecessem, contudo, as teorias contemporâneas apontam para o fortalecimento e o “resgate” das práticas culturais, tanto como forma de resistência aos prejuízos causados pela Era Colonial, quanto pela valorização das formas “locais” frente ao avanço da influência global. Torna-se perceptível que fatos que ocorrem distantes da nossa realidade mais próxima e imediata passam a ter impacto em nossas vidas de alguma forma e em grau maior ou menor, dependendo de cada pessoa. Se pensarmos que as instituições (como o Estado, o mercado financeiro, a indústria da moda, a Constituição Federal etc.) são feitas por pessoas e para pessoas, chegaremos à conclusão de que os processos que decorrem da globalização também impactam significativamente as instituições. TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 9 Em resumo, há uma dupla dimensão de influência e impacto: uma dimensão macro, que mobiliza atores institucionais, eles próprios com algum tipo de protagonismo global, como os Estados e as empresas transnacionais, e uma dimensão micro, mais ligada à ação de indivíduos ou pequenos grupos de indivíduos, como as comunidades de pescadores artesanais costeiros de Santa Catariana. Em ambos os casos, estes atores terão algum papel a desempenhar no esquema global das coisas e, simultaneamente, também estarão sujeitos às influências destes mesmos esquemas, seja de forma mínima ou máxima. Dentro do exemplo sugerido, uma comunidade de pescadores artesanais costeiros de Santa Catariana pôde sentir o impacto direto da concorrência do preço baixo do peixe importado, mais barato, pescado em larga escala em processo de pesca industrial, por outro lado, os indivíduos participantes desta comunidade, usam de tecnologias modernas importadas em outros países: suas redes de pesca (tarrafas) são confeccionadas com nylon importado da china, suas botas de borracha são feitas com látex indiano, seus celulares são coreanos, o aplicativo de conversas instantâneas que eles usam em seus celulares quando estão no mar foi desenvolvido nos EUA é usado em mais de 180 países. Embora as relações com cada um destes processos sejam totalmente diferentes em relação aos outros, inclusive em termos de perdas ou ganhos, é possível dizer que, de algum modo, estes pescadores também sentem e projetam impactos reais na dinâmica da globalização. Na mesma medida em que sentem o peso da escala macro, também impactam, mesmo que minimamente, a dimensão micro. É possível pensar criticamente sobre o exemplo citado, observando que há uma relação econômica por trás destas dinâmicas que estão ligadas pelo consumo. Seja a comercialização e concorrência entre os pescados, sejam os produtos importados utilizados, linha, celular etc. Pensar os processos de globalização a partir das relações econômicas é uma ideia que esteve presente desde o início dos estudos do tema, e o retorno às bases dos estudos econômicos é o que defende o economista Reinaldo Gonçalves, contra a pluralidade de interpretações dadas ao conceito de “globalização”. Gonçalves (2002) demonstrou como o conceito de “globalização”, em seu auge (final da década de 1990 e início da década de 2000), sofria bastante da carência de rigor científico no seu tratamento. O que isso significa? Implica o que Gonçalves chamou de um “uso abusivo” (GONÇALVES, 2002). Isto é, o conceito acabou caindo na simpatia de autores de diversas áreas do conhecimento, gerando grande variedade de interpretações que derivavam destas áreas. Para este pesquisador, essa apropriação difusa do conceito, colocou-o em uma situação delicada, pois ele passou a ser disputado por estes campos tornando-o indefinível e usado para justificar e para “explicar tudo ou quase tudo” (GONÇALVES, 2002, p. 2). Por outro lado, demonstra Gonçalves (2002), existem autores que se colocam em oposição total ao fenômeno, sustentando como as bases de dos movimentos de internacionalizaçãoou mundialização já podiam ser observados desde o final do século XIX. UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 10 É o caso de Hirst e Thompson: pesquisadores que comparam indicadores de integração econômica em dois períodos: o primeiro corresponde às décadas finais do século XIX, já o segundo grupo de dados está relacionado com indicadores do período final do século XX. Encontrando semelhanças entre os indicadores de cada período, o ponto em questão para Hirst e Thompson (1996, p. 16 apud GONÇALVES, 2002) é que de que se a globalização é um sistema econômico com predominância das relações internacionais permeadas e transformadas pela interdependência, não poderíamos chamar os fenômenos contemporâneos por este nome, já que, na conclusão destes autores no sistema atual “as principais entidades são as economias nacionais” (HIRST; THOMPSON 1996, p. 16 apud GONÇALVES, 2002, p. 3). Na próxima seção, você irá tomar contato com abordagem econômica da globalização e irá conhecer fatores fundamentais e os principais atores da globalização econômica, segundo esta abordagem, vamos lá! 3 FATORES FUNDAMENTAIS DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA O que sabemos até aqui? Que tal uma síntese? Toda esta nova dinâmica – fundamentalmente, aplicada aos processos econômicos – intensificou a aceleração das interações entre nações estrangeiras de uma forma nunca antes experimentada na história. Nesta seção, você identificará o conceito de globalização econômica e alguns dos seus principais fundamentos, mas tenha em mente que apesar desse conceito ter sido formulado no interior das teorias econômicas contemporâneas, O Cantor Gilberto Gil faz uma magnífica explicação do conceito por trás da canção “Parabolicamará”, que citamos neste tópico, com referências a “interações de mundos” e “encurtamento do espaço-tempo” pela aceleração das comunicações. Veja: "Eu queria fazer uma canção falando dos contrastes entre o rural e o urbano, o artesanal e o industrial, usando um linguajar simples, típico de comunidades rudimentares, e uma cadência de roda de capoeira [...] Uma verdadeira invenção concretista; uma concreção perfeita em som, sentido e imagem. Nela, como um símbolo, vinham-me reveladas todas as interações de mundos que eu queria fazer [...] Em Parabolicamará, pus o tempo existencial, psíquico, em contraposição ao tempo cronológico – a eternidade, a encarnação e a saudade [em oposição] à jangada e ao saveiro – e estes dois [em oposição] ao avião -, para insinuar o encurtamento do tempo-espaço provocado pelo aumento da rapidez dos meios de comunicação física e mental do mundo-tempo moderno e das velocidades transformadoras em que vivemos [...]” (GIL, 1994). DICAS TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 11 há uma série de outras abordagens teóricas para o assunto, como você irá conferir ao longo deste livro. Entender as bases econômicas do conceito irá preparar você para compreender o uso que outras áreas fazem dele. Parte deste processo de interação em escala global que descrevemos anteriormente foi disparada pela modernização dos meios de comunicação via satélite desde a segunda metade do século passado, como indicado pelo sociólogo inglês Anthony Giddens (2008). Entre outras coisas, uma comunicação expressa, quase que instantânea, permitiu a abertura e a liberalização dos mercados e bolsas de valores para efetivar grandes negociações em escala global. A partir desta mudança, os pregões das bolsas de valores e os mercados financeiros no mundo continuavam funcionando ao longo de todo o dia. Se a Bolsa de Nova Iorque fechava às 17 horas, aqui no ocidente, no oriente, a bolsa de Tóquio abriria na sequência, por volta das 20 horas (horário local, 8 horas, no horário de Tóquio), já que os fuso-horários de Nova Iorque e Tóquio têm uma diferença de exatas 12 horas. FIGURA 3 – OS FUSO-HORÁRIOS, O HORÁRIO MUNDIAL EM 24 DIVISÕES FONTE: <https://www.apolo11.com/tictoc/imagens/mapas/fuso_horario_mundial.jpg>. Acesso em: 26 maio 2020. Para ilustrar a situação, imagine o seguinte: enquanto escrevemos este livro, o relógio da nossa mesa de trabalho marca 20:05 h (horário de Brasília), de uma noite de segunda-feira. Uma rápida consulta na internet indica que, neste exato momento, já é terça-feira na Inglaterra (00:05 h, pelo horário de Londres) e, pense nisto, já são, exatamente, 08:05 h da manhã de terça-feira no Japão (pelo horário de Tóquio). Neste exato momento, você poderia comprar ações na abertura do mercado de Tóquio e, oito horas depois, no mesmo dia, vendê-las na abertura da Bolsa de Valores de Londres! UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 12 Essa alteração não afetou apenas o mercado de valores. O “mercado aberto” também sentiu as facilidades da inovação tecnológica. Qualquer importador começou a ter possibilidades de efetuar pedidos a qualquer momento, a partir da internet. Fosse o pedido de uma caixa de vinhos da Itália, fosse um navio cargueiro lotado de óleo refinado do Oriente Médio. Isso significa que a economia mundial se tornou, praticamente, um bloco com dinâmica ininterrupta, já que os mercados passaram a funcionar em continuidade, em uma lógica global de negociações frequentes, e acionistas, corretores e agentes financeiros começaram a acompanhar o funcionamento dos mercados globais em tempo real. Além destas operações importantes, de natureza financeira e comercial, outros impactos podem ser sentidos no campo da produção econômica, como a reorganização do mundo do trabalho (que iremos abordar detalhadamente na Unidade 2), e a aglomeração de grandes blocos mundiais de capital. Sobre isso, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos faz uma ótima descrição do que ele chamou os “traços principais desta nova economia mundial”. Vejamos quais são estes “traços”: [...] economia dominada pelo sistema financeiro e pelo investimento à escala global; processos de produção flexíveis e multilocais, baixos custos de transporte, revolução nas tecnologias de informação e de comunicação, desregulação das economias nacionais, preeminência das agências financeiras multilaterais, emergência de três grandes capitalismos transnacionais: o americano, baseado nos EUA e nas relações privilegiadas deste país com o Canadá, o México e a América Latina; o japonês, baseado no Japão e nas suas relações privilegiadas com os quatro pequenos tigres [Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan] e com o resto da Ásia; e o europeu, baseado na União Europeia e nas relações privilegiadas desta com a Europa de Leste e com o Norte de África (SANTOS, 2002, p. 29). Para Santos (2002), estas transformações têm atravessado todo o sistema econômico mundial, ainda que seja necessário consideramos que a intensidade das relações ocorra de modo desigual de acordo com a posição dos países dentro deste sistema mundial. O sociólogo lista algumas “implicações” que derivam destas transformações para as políticas econômicas nacionais que participam deste sistema econômico mundial, isto é, um quadro de orientações ou exigências que as nações precisam seguir para serem consideradas economias de mercado global. Vamos ver algumas destas orientações a seguir (Quadro 1). TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 13 QUADRO 1 – ORIENTAÇÕES OU EXIGÊNCIAS PARA AS NAÇÕES PARTICIPAREM DO MERCADO GLOBAL FONTE: Adaptado de Santos (2002, p. 30) 3.1 A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA E SEUS PRINCIPAIS ATORES Pensando a ideia de “globalização” como um nome dado a um fenômeno estritamente econômico, Gonçalves (2002) pondera que, independentemente dos usos gerais ou específicos e das posições favoráveis ou contrárias ao conceito, existem fenômenos particulares dentro do contexto de aceleração dinâmica das relações na economia mundial que merecem destaque e uma “palavra nova” para diferenciá-los no momento em que vivemos. Com essa definição em mente, o economista caracteriza os fluxos da globalização como a ocorrência de três processossimultâneos: i) o crescimento incomum da circulação dos fluxos internacionais de produtos e capital (financeiro); ii) o aumento da competitividade internacional; e iii) o crescimento da interdependência entre empresas e economias internacionais (GONÇALVES, 2002). De acordo com Gonçalves (2002), desde o final do século passado, há um clima de relativo enfraquecimento dos conflitos internacionais, por conta da imposição da hegemonia dos Estados Unidos como uma potência política, econômica e militar. Ainda assim, esta rivalidade ainda persiste em defesa dos interesses das nações, sobretudo, no plano econômico. Essa rivalidade se manifesta simultaneamente no plano da concorrência entre empresas nacionais e nas relações comerciais exteriores entre estados-nacionais que participam do mercado mundial. Abertura das economias nacionais ao mercado mundial e os preços domésticos devem tendencialmente adequar-se aos preços internacionais. Deve ser dada prioridade à economia de exportação. Orientação das políticas monetárias e fiscais para a redução da inflação e dívida pública. Os direitos de propriedade privada devem ser claros e invioláveis. A tomada de decisão privada, apoiada por preços estáveis, deve ditar os padrões nacionais de especialização. A mobilidade dos recursos dos investimentos e dos lucros. A regulação estatal da economia deve ser mínima. Redução do peso das políticas sociais no orçamento do Estado, reduzindo o montante das transferências sociais, eliminando a sua universalidade. UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 14 Assim, tanto o poder do Estado-nacional quanto o poder das empresas transnacionais são – dentro da perspectiva econômica de Gonçalves (2002) – as duas grandes forças que emergem no início do século XXI. O primeiro é o lugar do poder político, e o segundo é o lugar do poder econômico. Nesta via, Gonçalves (2002) avisa que é um equívoco considerar apenas o lado econômico (o mercado, a empresa transnacional) desta relação e chama a atenção ao fato de que o poder político (Estado-nacional) está sujeito às mais diversas formas de pressão interna e externa, incluindo as próprias transformações políticas dentro dos países com que se relaciona comercialmente. Para ilustrar o jogo de forças entre os Estados-nacionais, vejamos o seguinte exemplo: o valor do combustível e dos derivados de petróleo (gasolina, diesel etc.) flutua dentro dos países das Américas do Norte e Latina de acordo com a flutuação da produção e comercialização entre estes países, mas também está sujeito à flutuação dos valores em países do Oriente Médio pelos mesmos motivos. Você irá perceber que estas relações de “produção”, “compra” e “venda” são apenas dimensões econômicas, mas, e as dimensões políticas, onde ficam? Se um país que não extrai ou refina petróleo depende da compra desta matéria- prima de nações parceiras, ele precisa estabelecer certas relações diplomáticas (alinhamentos de interesses) com este outro país. No caso de não haver um alinhamento, ou o país fornecedor irá cortar o fornecimento do produto, ou o país dependente passará comprar de outro fornecedor. Os motivos para as relações comerciais entre países fracassarem são muitos e, em geral, os motivos para elas terem sucesso é o estabelecimento de relações de interdependência. Dentro do nosso exemplo sobre petróleo, podemos citar o caso dos Estados Unidos, que não mantém relações diplomáticas com a Venezuela por conta de divergências políticas (ainda que a Venezuela seja o maior reservatório de petróleo da América Latina). O principal argumento dos EUA para impor sanções internas e embargos externos ao país latino é de que a Venezuela é um país totalitário e antidemocrático, contudo, eles negociam petróleo com outras nações do Oriente Médio, que não têm regimes democráticos, como a Arábia Saudita (que é uma monarquia totalitária e teocrática). O que acontece é que os EUA também dependem desta relação comercial, sobretudo para exportar produtos e serviços ao mundo árabe (com destaque para comunicações e tecnologia). Esse é um bom exemplo do jogo de interesses de mercado a partir da postura de Estados-nacionais, mas, agora, vamos dar uma olhada na seguinte matéria de fevereiro de 2009: TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 15 Mesmo com sanções, EUA importam cinco vezes mais petróleo da Venezuela em 2019. As compras de petróleo venezuelano pelas empresas norte-americanas de energia registraram um crescimento semanal de cinco vezes a partir de meados de fevereiro, quase atingindo o nível de pré-sanções, segundo os últimos dados publicados pela Agência Internacional de Energia (AIE). De acordo com a agência com sede em Paris, as importações de petróleo bruto da Venezuela para os EUA somaram 558.000 barris por dia durante a semana até 15 de fevereiro, em comparação com 117.000 barris por dia na semana anterior. A partir de 25 de janeiro, poucos dias antes de as sanções dos EUA entrarem em vigor, empresas americanas importaram 587 mil barris por dia. Washington impôs penalidades econômicas contra a gigante petrolífera estatal venezuelana PDVSA, congelando US$ 7 bilhões dos ativos da empresa. As sanções também bloqueiam pagamentos a contas da PDVSA com compradores do petróleo da Venezuela direcionados a depositar todas as transações em uma conta separada, à qual a empresa não tem acesso. O Tesouro dos EUA concedeu permissões temporárias para a compra de petróleo bruto venezuelano a empresas estrangeiras até que os atuais acordos sejam vencidos, e as empresas encontram novos fornecedores com o prazo estabelecido pela Casa Branca para expirar em 28 de abril. As últimas sanções também proíbem as vendas de nafta dos EUA para o país caribenho. A nafta é uma mistura, produzida a partir de condensados de gás natural ou destilados de petróleo, que é usada para diluir o petróleo grosso e pesado para fazê-lo fluir. As multas dos EUA forçaram Caracas a comprar nafta, assim como gasolina e diesel, da petroleira estatal russa Rosneft, do conglomerado indiano Reliance Industries, bem como dos traders de commodities holandeses Vitol e Trafigura, segundo dados da Agência Reuters. Washington e Caracas estão envolvidos em uma longa disputa diplomática há anos. Em janeiro, o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou uma ruptura das relações diplomáticas com os EUA depois que o presidente Donald Trump reconheceu o líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como presidente interino do país. FONTE: <https://br.sputniknews.com/americas/2019022213366820-importacao-petroleo- venezuela/>. Acesso em 2 set. 2019. NOTA Na matéria acima, é possível observar o jogo de forças entre estes dois agentes poderosos da globalização econômica descritos por Gonçalves (2002), o Estado-nacional e a empresa transnacional. Mesmo com as sanções econômicas impostas à Venezuela e a regulação interna da compra dos produtos daquele país por empresas privadas dos EUA, as medidas políticas não dão conta de barrar as demandas do setor privado. O aumento da compra de produtos venezuelanos mostra que o setor econômico tem sua própria agenda com demandas específicas. Contudo, notem, apesar da pressão do setor, as transações só ocorrem mediante uma autorização do Tesouro Nacional Americano. https://br.sputniknews.com/americas/2019022213366820-importacao-petroleo-venezuela/ https://br.sputniknews.com/americas/2019022213366820-importacao-petroleo-venezuela/ UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 16 Este é um ótimo exemplo de como a globalização econômica está sujeita a um jogo de delicado equilíbrio político externo e interno, corroborando com a perspectiva de econômica de Gonçalves (2002) de que estas duas grandes forças – o poder político e o poder econômico – são lideradas pelo prevalecimento do domínio do poder político, através do aparato do Estado-nacional. 3.2 A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA PELOS SEUS PRINCÍPIOS E DETERMINANTESEmbora a “causa básica da globalização econômica”, como sustenta Gonçalves (2002), seja “a necessidade das economias desenvolvidas de expandir os seus mercados” (GONÇALVES, 2002, p. 7), a ascensão dos processos da globalização da economia não é um fenômeno “natural” ou ideologicamente isento. Como vimos na seção anterior, embora este fenômeno guarde elementos de espontaneidade – como o não gerenciamento e o não direcionamento (ALBROW, 1996) –, esta dinâmica detém proximidade direta com as ideias liberais de “livre iniciativa” e se alinham perfeitamente à agenda do neoliberalismo econômico. O neoliberalismo tem como marco a ascensão de governos conservadores nas políticas econômicas nas Américas e na Europa, com destaque para a eleição de Margaret Thatcher como Primeira-ministra na Inglaterra, em 1979, e de Ronald Reagan como Presidente dos Estados Unidos, em 1980. A união da agenda destas duas potências econômicas determinou a política macroeconômica (de relação entre mercados internacionais) das suas próprias nações e influenciou, através de uma política externa austera, outros países em torno de uma série de medidas de liberalização e desregulamentação estatal de mercados e de abertura para os fluxos de capitais internacionais (GONÇALVES, 2002). Adiante, na Unidade 3, você vai conhecer alguns órgãos internacionais que, em parte, regulamentam certos acordos internacionais de modo que o jogo não se torne uma guerra comercial aberta entre as nações. Por hora, o que você precisa saber é que o processo de liberalização reduz ao máximo as barreiras para que se façam negócios dentro dos mercados nacionais. Para Gonçalves (2002), a [...] desregulamentação envolve a eliminação ou afrouxamento das normas reguladoras da atividade econômica. O que o neoliberalismo faz é a troca de sinais: intervenção estatal x iniciativa privada; regulação x mercado; barreiras comerciais x liberalização; e, controle do investimento externo x abertura (GONÇALVES, 2002, p. 8). Como vimos anteriormente, é através de mecanismos de pressão comercial e financeira externa que as nações jogam o jogo do mercado conforme seus interesses internos. Quem tem maior poder no mercado, dita as regras do acordo. Esse jogo se desenvolve com base em parcerias comerciais vantajosas (quando há vantagens maiores para uma das partes); de dependência (quando a parte que não ganha tanto precisa manter a parceria, como no caso do Brasil que é exportador de produtos primários, como aço ou grãos, mas depende de parcerias comerciais que não são tão vantajosas porque precisa TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 17 comprar produtos de inovações tecnoindustriais desenvolvidos em outros países); ou de interdependência (quando há relativo equilíbrio entre o volume de negócios entre as partes). A forte onda liberalizante pós década de 1980 afetou nações por todo o globo, algumas de maneira positiva e outras de forma negativa, levando a bandeira da desregulamentação de mercado a todos, atingindo “tanto os países desenvolvidos como em desenvolvimento”, uma das causas de a “globalização econômica” também ser chamada de “globalização neoliberal” (GONÇALVES, 2002, p. 8). 3.3 OS INTERESSES EM JOGO EM UM CENÁRIO DE GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA Ainda, seguindo o raciocínio de Gonçalves (2002), é possível conhecer alguns dos players que disputam os ganhos neste jogo da globalização econômica. Para o economista, não há dúvidas de que os maiores ganhos estão destinados aos países desenvolvidos e, dentro destes países, a maior parte dos benefícios ficam com as empresas transnacionais, os bancos internacionais e os Estados-nacionais (poder político, militar, jurídico, administrativo etc.). No caso dos países em desenvolvimento – também chamados “países emergentes”, são aqueles sem grandes complexos industriais e, em geral, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos indicadores internacionais – é a elite econômica (a parte mais rica da população) que recebe os maiores benefícios, assim como as classes dirigentes tradicionais nestes países. Se, por um lado, a globalização econômica abre as portas do acesso ao mercado internacional para que os países desenvolvidos pratiquem livremente a exportação de bens, serviços e capital, estimulando as empresas e o emprego em seus próprios territórios, aumentando o valor de mercado das empresas transnacionais, por outro lado, a capacidade dos países em desenvolvimento de comercializar no mercado internacional cai, dada a sua baixa estrutura de produção, o que os tornam mais vulneráveis e com indústrias (em desenvolvimento, lembre-se!) pouco valorizadas no mercado internacional. Com a baixa valorização das indústrias nacionais, os países em desenvolvimento atraem pouco fluxo de investimento de outros mercados, reduzindo seu poder de negociar com países desenvolvidos (GONÇALVES, 2002). O resultado, em geral, é que países em desenvolvimento ficam relativamente presos ao comércio de commodities, que são produtos primários, quase sempre de origem extrativista, que servem de matérias-primas para a produção de produtos elaborados e complexos – como o minério de ferro que é usado em outras ligas metálicas que servirão aos mais elaborados produtos, desde a construção civil à indústria robótica. O mercado de commodities é regulado mundialmente em termos de oferta e demanda, de modo que os produtos produzidos no Brasil podem rivalizar com produtos do outro lado do mundo, perdendo a concorrência em um dia e ganhando no outro, conforme a flutuação no mercado. Por estarem baseadas na oferta/demanda, as commodities tendem a ser negociadas pelo menor preço de mercado, o que faz com que o país tenha que produzir e UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 18 exportar em amplas quantidades para ter lucro significativo. Esse é um dos motivos de o Brasil bater recordes anuais na produção de grãos, como o milho, o trigo e a soja. Compare o gráfico na matéria e a notícia a seguir: FIGURA 4 – EXPORTAÇÕES DE SOJA MANTÊM RITMO RECORDE FONTE: <https://blogs.canalrural.com.br/chicagoon-line/wp-content/uploads/sites/48/2017/07/ soja.jpg>. Acesso em: 2 out. 2019. Notícia 1 Na semana passada, o Brasil exportou 1,75 milhão de toneladas de soja, em grande parte devido ao rally na CBOT. O montante foi bem acima do total exportado na mesma semana do ano passado, quando as exportações foram de 1,2 milhão de toneladas [...]. UOL – 24 de julho de 2017. TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 19 Notícia 2 Por Reuters, 02/01/2019 16h07 Vendas de soja para outros países subiram 23%; exportações de café também aumentaram, enquanto as vendas de milho e açúcar recuaram. O Brasil exportou um recorde de quase 84 milhões de toneladas de soja em grão em 2018, apontou nesta quarta-feira (2) a Secretaria de Comércio Exterior, destacando aumento também nas vendas de café, mas quedas expressivas nas de açúcar e milho após safras menores. O volume de soja exportado no ano passado, de 83,8 milhões de toneladas, foi 23,1% na comparação com 2017. Em maio, os embarques totalizaram um recorde mensal de 12,35 milhões de toneladas, ou 15% de tudo o que viria a ser vendido em 2018. Sojicultores brasileiros impulsionaram as vendas no último ano na esteira do maior apetite da China, que taxou a oleaginosa norte-americana em razão de uma série de disputas comerciais e teve de se voltar ao produto sul- americano para suprir a demanda doméstica [...]. QUADRO 2 – EXPORTAÇÃO DE SOJA BRASIL ATINGE RECORDE EM 2018, COM MAIOR DEMANDA DA CHINA FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/02/exportacao-de-soja-brasil-atinge-recorde- -em-2018-com-maior-demanda-da-china.ghtml>. Acesso em 2 out. 2019. Na Notícia 1, podemos acompanhar o crescimento semanal nos compromissos de exportação de soja nas semanas do período entre 30 de dezembro e 19 de agosto. Um importante detalhe deste gráfico que acompanha a matéria é que cada uma das linhas mostra os compromissosde exportação no mesmo período, nos anos anteriores, de 2012 a 2018. Como é possível perceber, analisando a linha mais abaixo (período 2012 – 2013) em comparação com a linha mais acima (2017 – 2018), o número de compromissos de exportação de soja aumentou continuamente. Até a última semana de julho de 2012, as exportações ficaram na casa de 27 milhões de toneladas, já no mesmo período, em 2018, os compromissos de importação já tinham atingido a casa dos 54 milhões. Exatamente o dobro em relação ao mesmo período de 2012. Na Notícia 2, acompanhamos o resultado final do balanço de exportação de soja brasileira no ano de 2018, um grande recorde de “quase 84 milhões de toneladas”, um aumento significativo de margem de exportação que foi impulsionado por uma rixa comercial entre China e EUA, exatamente como vimos anteriormente – com base em Gonçalves (2002) –, uma situação de disputa econômica entre nações colocam os Estados-nacionais em campo para mediar as relações comerciais internacionais em razão de seus interesses. https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/02/exportacao-de-soja-brasil-atinge-recorde-em-2018-com-maior-demanda-da-china.ghtml https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/02/exportacao-de-soja-brasil-atinge-recorde-em-2018-com-maior-demanda-da-china.ghtml UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 20 Esse tipo de relação comercial coloca os países em desenvolvimento em uma situação assimétrica e desproporcional de negociação (inferior) tanto com os países desenvolvidos – pois aqueles que estão em vias de desenvolvimento dependem mais destas parcerias do que os desenvolvidos –, quanto com outros países em mesma situação, pois a alta concorrência externa derruba os preços das commodities. Para compensar o desequilíbrio dos gastos com produtos manufaturados vindos de fora, o país precisa priorizar o seu produto mais forte (não manufaturado) o que acaba por atrasar, ainda mais, o processo do desenvolvimento de sua indústria. Vejamos a seguinte tabela divulgada pelo Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MIDC): TABELA 1 – UM QUADRO DO MIDC COM O RESULTADO DA BALANÇA COMERCIAL PARA A SEGUNDA SEMANA DE OUTUBRO DE 2019 FONTE: <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exte- rior/balanca-comercial-brasileira-semanal>. Acesso em: 26 maio 2020. No item “Acumulado no ano”, é possível perceber que, ao longo de 198 dias, o Brasil negociou um volume de 174,7 milhões em exportação e 140,3 milhões em importações, o que gerou um saldo (balanço positivo) de 34,3 milhões. Este saldo é chamado “superávit”, enquanto, em caso negativo, o débito é chamado “déficit”. Um dos problemas que derivam do déficit é o desequilíbrio negativo da balança comercial. Isto é, o volume de valores gastos em importações é menor do que o volume de valores recebidos em exportações. Mas por que isso é um problema na prática? Porque significa que, perante no fluxo de capitais internacionais (dinheiro que circula pelos mercados do mundo), em um cenário negativo, este país estaria mandando mais dinheiro para fora (geralmente, em dólares) do que trazendo para dentro. Com a moeda estrangeira mais favorecida do que a própria http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/balanca-comercial-brasileira-semanal http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/balanca-comercial-brasileira-semanal TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 21 moeda nacional, o mercado financeiro interno tende a se desestabilizar e entrar em crise. Veremos as consequências disto na Unidade 2, quando trataremos da circulação e fluxo de capital internacional. Por hora, em síntese, é importante fixar que a política de atrair dinheiro estrangeiro (seja através de negócios ou de investimentos) é um dos grandes interesses tanto de Estados-nacionais quanto das empresas transnacionais. Conhecemos algumas das perspectivas da abordagem econômica da globalização. Como já discutimos ao longo do Tópico 1, existem outras abordagens, incluindo algumas que consideram secundária a característica econômica da globalização. A seguir, você irá conhecer outras características fundamentais dos processos de globalização, quais sejam, política, social e cultural. 4 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA GLOBALIZAÇÃO Acadêmico! Na seção anterior, você conheceu uma das características fundamentais da globalização, que é a questão econômica, da qual se originou, segundo alguns teóricos, a própria problemática da globalização por conta da abertura e integração de mercados internacionais. Santos (2002) e Giddens (2008) chamam nossa atenção para o fato de que estes processos econômicos não são os únicos que influenciam ou influenciaram a dinâmica das interações globais e “é errado pensar que as forças econômicas fazem por si só a globalização” (GIDDENS, 2008, p. 52). Há todo um amplo conjunto de fatores fundamentais que tanto influenciam quanto são influenciados pela aceleração destas interações plurinacionais. Dentre todas as possibilidades de impacto desta dinâmica global, vamos trabalhar quatro chaves principais ou dimensões fundamentais da globalização. Você já deve ter um palpite sobre quais são, pois citamos as dimensões no começo da unidade. São elas: econômica, social, cultural e política – lembrando que vamos retomar a particularidade de cada uma destas dimensões no Tópico 2, da Unidade 1. Como já fizemos uma introdução à dimensão econômica na seção anterior, “Fatores fundamentais da globalização econômica”, que tal, agora, conhecer mais das outras três? É o que faremos a seguir! 4.1 GLOBALIZAÇÃO: DA DIMENSÃO ECONÔMICA ÀS OUTRAS DIMENSÕES Como você verá, estes autores que citamos não negam que, em seu início, o conceito de “globalização” deriva bastante da ideia de “mercado global”, inclusive, partem dela, também! Anthony Giddens, por exemplo, demonstra como essa interação dos mercados “em tempo real” em decorrência da “interação eletrônica dos mercados financeiros” (GIDDENS, 2008, p. 52) foi um dos fatores econômicos que aceleraram o estreitamento entre economias do mundo e, de acordo com o UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 22 sociólogo outros marcadores de natureza econômica podem ser conjugados com esta interação de mercados. Citemos alguns: o desenvolvimento de meios de transportes e logística potentes (grandes aviões, navios velozes, linhas de trens transcontinentais etc.) que estreitaram barreiras físicas, facilitando a entrega de produtos de exportação por todo o globo; o aparecimento da internet, conectando pessoas e corporações públicas e privadas, facilitando as transações de troca de bens e serviços e o aumento contínuo da pluralidade destas transações nas redes de comércio internacionais; o deslocamento das linhas de produção das grandes fábricas, que passaram a produzir seus componentes de modo descentralizado (um automóvel, por exemplo, é montado com peças fabricadas em diversas partes do planeta); o aparecimento das grandes corporações transnacionais, com sedes, fábricas, funcionários e negócios em diferentes países; o deslocamento internacional, cada vez maior, do volume de valores (dinheiro, finanças) originados em transações de capitais estrangeiros; entre outros marcadores das modernas economias de mercado. Contudo, ainda que os fatores econômicos sejam essenciais para entendermos este fenômeno, e que o próprio conceito de “globalização” surja a partir da ideia de globalização econômica, o conceito acabou extrapolando o campo da produção econômica para atingir outros campos de organização da vida. Vamos adiante para entender a extrapolação? Você terá, agora, uma breve introdução a estas dimensões (que serão aprofundadas na Unidade 2). Aspectos da Dimensão Social Mesmo que a gente reconheça os avanços positivos da globalização, como a maior interação entre pessoase grupos e aproximação e troca entre culturas, é preciso contemplar uma série de questões de cunho social, inter-relacionadas com os aspectos socioeconômicos da globalização. Esta perspectiva, apesar de intrinsicamente ligada à questão da globalização econômica, trata do aspecto dos desenvolvimentos humano e social e seus impedimentos. Como visto anteriormente (Seção 3, “Fatores fundamentais da globalização econômica”), há uma relação de dupla dependência econômica entre países desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento, como o Brasil, quando o assunto é o equilíbrio de negócios entre as relações de importação e exportação. Relembrando, uma vez que o Brasil depende de compradores de seus produtos, em geral commodities, nos países desenvolvidos, também depende destes países para importar produtos manufaturados de qualidade, desde maquinários automatizados para linhas de produção industriais até tecnologia hospitalar, por exemplo. Para garantir o equilíbrio entre compra (Importação) e venda (exportação) no mercado internacional, o Brasil precisa produzir recordes cada vez maiores de commodities, pois este tipo de produto tem margem de mercado muito menor de mercado. Um desequilíbrio na balança comercial pode acarretar problemas econômicos internos e externos. Como problemas internos causados pelo desequilíbrio das contas públicas, podemos citar a TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 23 queda nos investimentos em serviços básicos, como educação (cancelamento da manutenção e reformas das escolas da rede pública, por exemplo) e saúde (cancelamento da oferta de remédios gratuitos nos postos de saúde e adiamento de obras de saneamento básico, por exemplo), e queda de investimentos em setores estratégicos, como a indústria (falta de subvenções e isenções fiscais), e infraestrutura (interrupção de obras importantes, como a construção de estradas e portos, que facilitam a distribuição de produtos). Já os problemas externos resultam na baixa atratividade do país para investidores estrangeiros, na tomada de empréstimos em bancos internacionais para compensar investimentos nos setores citados acima, aumento da dívida externa, queda da confiança do mercado internacional, entre outros problemas. E o que esses problemas têm de “social”? Esse tipo de desequilíbrio volume de capital (riqueza) que enviamos para fora e que recebemos, tende a criar um cenário interno recessivo. Em geral, o impacto é sentido com mais força pelas camadas populares (sobretudo as assalariadas), que dependem daqueles serviços públicos básicos e sentem dramaticamente o impacto da recessão econômica e da inflação (desvalorização da moeda interna e seu poder de compra). O setor produtivo também sente o impacto destas crises, cortando empregos e “encolhendo” a produção e repassando o “sofrimento” ao público consumidor, com aumento de preços. Alguma vez você deve ter ouvido alguém dizer algo parecido com – “Não acredito, no começo do ano passado, eu ia ao supermercado com R$ 200,00 e fazia minhas compras. Hoje, vou com os mesmos R$ 200,00 e o que eu compro dá para trazer em duas sacolinhas!” – ora, é disso que trata a desvalorização do poder de compra de uma moeda em relação a uma mercadoria e, mais uma vez, o maior impacto vai estar nas camadas sociais assalariadas. Existe, ainda, uma série de outros fatores que não podem ser contemplados todos de uma vez neste tópico, como a questão agrária, que valoriza a produção de commodities (sobretudo soja, milho e gado de corte), usando grandes porções de terra, em prejuízo dos pequenos agricultores e da agricultura familiar e de subsistência. Até aqui, basicamente, tratamos da relação entre países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”, contudo, a desigualdade é ainda maior em se tratando de países “subdesenvolvidos”, sendo possível, até mesmo, falar da marginalização destes países quando comparados às grandes potências econômicas. Como veremos neste livro didático (Unidade 2), há um intenso debate sobre a persistência da desigualdade econômica e diferença de acesso a bens e serviços de qualidade e sua relação direta com a globalização, tanto com relação à desigualdade entre os países mais pobres e os mais ricos quanto com relação à desigualdade interna entre as populações de cada país. Esse processo de estratificação social (divisão em camadas sociais), com base na economia, coloca em relação direta o debate sobre a distribuição global de riquezas e as ligações desta distribuição com a desigualdade e a pobreza, pois mesmo em países desenvolvidos, há a tendência de grande acumulação de riquezas nas mãos de uma pequena parte da população mais rica, enquanto, inversamente, UNIDADE 1 — PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS RELATIVAS À GLOBALIZAÇÃO 24 uma pequena porção das riquezas do país fica distribuída entre um enorme contingente de pessoas nas classes mais pobres. Aspectos da Dimensão Cultural Neste tópico, nós já demos várias indicações de como a globalização tec- nológica encurtou distâncias “mentais”, ao conectar indivíduos pelos meios di- gitais. Contudo, cabe também levar em consideração os aspectos físicos destas quebras de barreiras culturais através da circulação de produtos, serviços, pes- soas e ideias. O sociólogo inglês Anthony Giddens (2008) dá um belo exemplo destas quebras de barreiras físicas. Ao entrar em um supermercado do seu bairro, pro- vavelmente, você encontrará produtos de diversos países. Contrariando a noção de clima regional, você poderá adquirir frutas importadas de regiões vizinhas, como ameixas chilenas, ou regiões distantes, como as pitayas mexicanas ou ram- butans do Sudeste da Ásia. As modernas técnicas de importação digital, o avanço na capacidade de preservação, armazenamento e transporte de alimentos contri- buíram imensamente para a formação global de redes de produtores e distribui- dores pelo mundo inteiro. É possível encontrar produtos importados também em outras seções do mercado. Há uma característica interessante nestes produtos. Às vezes, eles têm rótulos “transnacionais”. Os ingredientes básicos do chocolate estão traduzidos em três, quatro, ou até cinco idiomas. A descrição diz que a matéria-prima dos pro- dutos vem de diversas partes do mundo. E as fábricas estão em várias partes do planeta também. Se você comprou seu chocolate na América do Sul é porque ele foi fabricado em um lugar totalmente diferente do que se você tivesse comprado o mesmo produto na Austrália. Além disso, um passeio atento pelo supermercado permitirá que você descubra que mesmo produtos do dia a dia são importados e você nem sabia! Como aquele azeite de oliva engarrafado no Brasil por uma fábrica nacional, mas, produzido na Espanha, ou a farinha de trigo que é distribuída no país por uma marca brasileira, mas é feita a partir de trigo da Argentina. Nesta “ronda pelo supermercado”, Giddens demonstra como nossas ações locais (exemplificadas, aqui, pelo simples ato de escolher um produto em uma pra- teleira) estão ligados por “laços sociais” com os contextos culturais mais variados. Este câmbio entre “gostos culturais” e “diversidade geográfica” está acontecendo agora mesmo dentro do seu supermercado preferido (GIDDENS, 2008, p. 51). E se isto acontece em um mercado, o que estará acontecendo no intercâmbio entre arte, religião, ciência... enfim, nos demais campos da cultura humana? Como você verá, nos próximos tópicos, neste momento, está ocorrendo no mundo uma intensa efervescência cultural e que assim como os produtos internacionais concorrem com os nacionais pelo espaço no supermercado, o intercâmbio de “produtos culturais” também gera um tipo de concorrência que coloca em tensão o mundo “local” em relação ao mundo “global”. TÓPICO 1 — A HISTÓRIA DA GLOBALIZAÇÃO 25 Aspectos da Dimensão Política Como indicamos acima, as relações culturais não se resumem às trocas geográficas de mercadorias. Transformações culturais mais profundas têm acontecido no mundo. Não é de
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