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DIREITOS POLÍTICOS A Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “constituição cidadã” pois foi a partir dela que a democracia foi plenamente restaurada no Brasil após a ditadura militar. Nesse sentido, os direitos políticos são importantes direitos trazidos pela norma constitucional, e perfazem o conjunto de regras destinadas a regulamentar o exercício da soberania popular, ou seja, é o conjunto de normas que disciplinam a intervenção, direta ou indireta, da população no poder do Estado, desse modo dispõe o artigo 14 da Constituição Federal: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. Nesse prisma é importante ressaltar do que se trata cada um destes direitos elencados pela Constituição Federal. Logo de início o artigo 14 da CF cita o sufrágio e o voto, como meios de exercício da soberania popular. O sufrágio pode ser conceituado como direito do indivíduo de participar do processo eleitoral, o que se perfaz por meio do voto, assim o sufrágio e o voto estão diretamente ligados, pois o sufrágio é o direito em si e o voto é o meio pela qual o direito é exercido. Nesse contexto o doutrinador Alexandre de Moraes (2003, p. 178) leciona: O direito de sufrágio é a essência do direito político, expressando-se pela capacidade de eleger e de ser eleito. Assim, o direito de sufrágio apresenta-se em seus dois aspectos: capacidade eleitoral ativa (direito de votar - alistabilidade) capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado - elegibilidade). [...] O direito de sufrágio, no tocante ao direito de eleger (capacidade eleitoral ativa) é exercido por meio do direito de voto, ou seja, o direito de voto é o instrumento de exercício do direito de sufrágio. O direito ao voto também pode ser percebido além das eleições dos governantes, como é o caso do referendo e do plebiscito, conforme traz o artigo 14 da CF. Essas duas formas de participação popular são bem parecidas e por muitas vezes acabam sendo confundidas, mas possuem uma diferença básica que se dá em virtude do momento de suas realizações. Enquanto o plebiscito é uma consulta prévia que se faz aos cidadãos no gozo de seus direitos políticos, sobre determinada matéria a ser, posteriormente, discutida pelo Congresso, o referendo consiste em uma consulta posterior sobre determinado ato governamental para ratificá-lo, ou no sentido de conceder-lhe eficácia (condição suspensiva), ou, ainda, para retirar-lhe a eficácia (condição resolutiva). Pedro Lenza (2019, p.2108) destaca as semelhanças e diferenças entre os dois institutos: A semelhança entre eles reside no fato de ambos serem formas de consulta ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. A diferença está no momento da consulta: a) no plebiscito, a consulta é prévia, sendo convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, por meio do voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido à apreciação. Ou seja, primeiro consulta-se o povo, para depois, só então, a decisão política ser tomada, ficando o governante condicionado ao que for deliberado pelo povo; b) por outro lado, no referendum, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do povo, que o ratifica (confirma) ou o rejeita (afasta). Já no campo da capacidade de voto passiva, ou seja, a capacidade de ser votado, há de se ressaltar sobre o que se chama de elegibilidade e inelegibilidade, que são conceitos acerca das condições para ser candidato à cargos políticos. São elegíveis aqueles que preenchem as seguintes condições fixadas pelas Norma Constitucional em seu artigo 14, § 3º: § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. Já no campo das inelegibilidades, estas se tratam de direitos políticos negativos pois são previsões constitucionais que restringem o acesso do cidadão à participação nos órgãos governamentais, por meio de impedimentos às candidaturas. As inelegibilidades podem ser absolutas e relativas., conforme Alexandre de Moraes (2003, p.) Inalistáveis: a elegibilidade tem como pressuposto a alistabilidade (capacidade eleitoral ativa); assim, todos aqueles que não podem ser eleitores, não poderão ser candidatos. Analfabetos: apesar da possibilidade de alistamento eleitoral e do exercício do direito do voto, o analfabeto não possui capacidade eleitoral passiva. [...] As inelegibilidades relativas, diferentemente das anteriores, não estão relacionadas com A inelegibilidade absoluta é excepcional e somente pode ser estabelecida, taxativamente, pela própria Constituição Federal. São os seguintes casos: determinada característica pessoal daquele que pretende candidatar-se, mas constituem restrições à elegibilidade para certos pleitos eleitorais e determinados mandatos, em razão de situações especiais existentes, no momento da eleição, em relação ao cidadão. [...] A inelegibilidade relativa pode ser dividida em: por motivos funcionais; por motivos de casamento, parentesco ou afinidade; dos militares; previsões de ordem legal. Por fim, é importante lembrar que os direitos políticos são passiveis de restrições, e podem ser perdidos ou suspensos, conforme dispõe o artigo 15 da CF: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Denominam-se suspensão os casos de afastamento temporário dos direitos políticos. Sua perda implica a ideia de afastamento definitivo, privação terminante. Contudo, a Constituição de 1988, ao contrário da tradição constitucional anterior, não apartou os casos de perda dos de suspensão, adotando a técnica reprovável de enunciá-los conjuntamente.