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Estratégias Econômicas das Potências Globais

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Colégio Pedro II
Departamento de Geografia
Campus São Cristóvão III/Realengo II
2ª Série do Ensino Médio
Geografia - Material #11
Estratégias das potências globais frente ao
atual ordenamento geopolítico mundial
 
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Colégio Pedro II - Departamento de Geografia - Campus São Cristóvão III/Realengo II - 2021
Estratégias das potências globais frente ao atual ordenamento
geopolítico mundial
 
Quais são as estratégias econômicas adotadas por países centrais?
 EUA e o protecionismo de Trump
 As duas maiores economias mundiais travam, desde 2006, uma guerra
comercial que se acirrou com a chegada do ex-presidente Donald Trump ao
poder, chegando a ameaçar a taxação em 30% a todos os produtos chineses
durante as eleições, em 2016.
 No material anterior trabalhamos como a teoria de sistema mundo,
proposta de regionalização do espaço geográfico mundial, foi construída. A
partir dessa regionalização os países foram classificados como centro,
periferia e semi-periferia de acordo com as características econômicas,
políticas e culturais e, também, identificamos quais são as principais
instituições econômicas globais e o seu funcionamento.
 Mas, afinal, já que as políticas neoliberais fazem parte de um acordo entre
os países, é possível diferenciar sua adoção em cada um deles? Ou as
características serão similares? Neste material atravessaremos alguns
estudos de caso que tensionam a proposta em questão e facilitam a
compreensão sobre a posição de cada país na rede da geopolítica mundial.
Vamos lá?
 A taxação de produtos importados com objetivo de proteger as indústrias dos
EUA começou em 2018: US$ 50 bilhões em tarifas foram aplicadas sobre 1,3 mil
produtos chineses com a alegação de violação de propriedade intelectual. Em
resposta, a China impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos estadunidenses como
soja, carros, aviões, carne e produtos químicos e recorreu à OMC contra as tarifas
sobre o aço e alumínio.
 Esse foi apenas o início de uma longa jornada de ameaças, imposições de
tarifas pelos dois países chegando ao “ordenamento”, por parte de Trump, de
retirada das empresas estadunidenses da China após nova taxação de produtos
pela 2ª maior economia do mundo.
 O quadro abaixo, retirado de uma reportagem de 2018, mostra os países
envolvidos diretamente nas ações protecionistas propostas pelo governo
estadunidense, note que o Brasil, que exporta grande volume de produtos
primários para os EUA, é um dos que sofre as consequências dessa medida. 
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geopolítico mundial
 
Fonte:https://g1.globo.com/economia/noticia/china-diz-que-reagira-apos-nova-ameaca-de-tarifas-dos-eua-sobre-
us-200-bilhoes.ghtml
 No início de 2020, porém, EUA e
China assinaram a 1ª fase do acordo
comercial que tem como objetivo 
 apaziguar a guerra comercial entre
as duas maiores potências mundiais.
Inicialmente o mercado chinês
estará mais aberto a empresas,
especialmente do setor financeiro, e
aos produtos agrícolas
estadunidenses e também se
comprometeu em respeitar acordos
de propriedade intelectual das
empresas estadunidenses, além de
permanecer com as taxações dos
seus produtos. 
 A Política Agrícola Comum (PAC) é mais um exemplo de integração regional no
continente europeu. Foi criada em 1962 para garantir a produção e a segurança
alimentar da Europa, sem que os países europeus dependam de outros para
abastecer seu mercado. Restringe a entrada de produtos primários de países fora do
bloco, mantendo fortes subsídios, que são investimentos que o Estado precisa fazer
para que os agricultores europeus tenham estímulos para produzir, mesmo com
preços altos. Esse fato gera reclamações de outros países que têm sua economia
baseada em produtos primários, como Austrália e Nova Zelândia, e mesmo dos
Estados Unidos, grande exportador de grãos. Esse fato também tem efeitos sobre
países subdesenvolvidos, como os da América Latina, que têm em sua balança
comercial a exportação de produtos agrícolas. 
 Dentro da União Europeia, a PAC
também gera alguns desequilíbrios
porque privilegia alguns estados-
membros e garante altos níveis de renda
para grandes produtores rurais, em
detrimento dos médios e pequenos. Por
isso, há muitas pressões para mudanças
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geopolítico mundial
 
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Clique na imagem para saber mais
nessa política, assim como a necessidade de criar medidas de combate às mudanças
climáticas. Clique no título da reportagem para saber mais.
https://brasil.elpais.com/internacional/2020-01-15/china-e-eua-selam-a-primeira-fase-do-acordo-para-por-fim-a-guerra-comercial.html
https://brasil.elpais.com/internacional/2020-01-15/china-e-eua-selam-a-primeira-fase-do-acordo-para-por-fim-a-guerra-comercial.html
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/afp/2020/10/23/parlamento-europeu-aprova-nova-politica-agricola-comum.htm
 Fica claro que, para defender seus interesses, os países desenvolvidos se utilizam
de políticas restritivas e protecionistas, abrindo mão da prática neoliberal que
tentam impor aos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, tal como
incentivo à adoção da abertura irrestrita de mercado, privatização das empresas
públicas, cortes em benefícios sociais e em despesas com infraestrutura, dentre
outros, gerando um baixo crescimento e crescente desigualdade de renda. Não à
toa que a América Latina foi atingida, na década de 1980, pela primeira onda de
neoliberalização resultando na “década perdida” com estagnação econômica e
instabilidade política.
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Afinal, qual é a posição da América Latina e do Brasil, hoje?
 Em entrevista ao programa “Diálogos”
o professor de economia (UFSC) Helton
Ouriques realiza uma análise do
processo de transformações do papel
do Brasil e da América Latina na
economia política do sistema-mundo.
Compreende que tivemos a inserção
dos países no sistema mundo
capitalista, desde a colonização, como
exportadores de bens primários dando 
sentido à ocupação desses territórios como fornecedores de mercadorias para
as metrópoles (Portugal e Espanha). Para assistir o vídeo clique na imagem
acima.
 Esse papel começa a ser transformado a partir da década de 1930, através da
industrialização por substituições de importações (principalmente por Argentina
e México, além do Brasil), quando ocorre o desenvolvimento de um parque
industrial que se solidificou entre as décadas de 1950 e 1990 - com destaque
para a década de 1970 quando o Brasil passa a exportar mais produtos
manufaturados.
 O crescimento vertiginoso da China, principalmente a partir do final da década
de 1990 e início dos anos 2000, aumenta a demanda por produtos primários,
ocorrendo o boom das commodities que modifica o papel dos países
latinoamericanos (exceto do México - que segue com as indústrias maquiladoras
em seu parque industrial, mas que não redistribui a renda) e reprimariza a pauta
https://www.youtube.com/watch?v=BUQdlTo7ctQ
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exportadora: os preços dos produtos primários inflacionam, fazendo com que os
países lucrem, realizando uma distribuição de renda, ainda que muito incipiente.
Desta forma, os países latinoamericanos voltam ao papel no sistema-mundo
anterior aos anos 1980.
 Os ganhos a partir do boom das commodities não foram revertidos para o
aprimoramento de investimentos nos setores de ciência e tecnologia. Podemos
citar o exemplo do Brasil seguir tendo o minério de ferro, soja e petróleo bruto
(além da cana e da pecuária) como os principaisprodutos exportados de forma
in natura, ou seja, não ocorre nenhum beneficiamento industrial em nosso
território.
Mas afinal, quais seriam os problemas para as economias latino-americanas
em permanecerem dependentes da exportação de produtos primários? 
as economias ficam reféns da volatilidade do mercado externo, já que
os preços são cotados em dólar, gerando uma dependência e
fragilidade diante de oscilações do mercado.
produtos primários possuem valor agregado muito mais baixo do que
os bens tecnológicos, assim, os países precisam exportar grandes
volumes para garantir uma balança comercial positiva.
O que será da ciência e da pesquisa no Brasil? 
 Os países mais ricos do mundo são aqueles que investem mais dinheiro em
ciência e, por consequência, possuem tecnologia desenvolvida, sendo capazes de
produzir os bens e serviços mais sofisticados do mundo. Nos últimos anos o Brasil
vem sofrendo grandes reduções nos orçamentos destinados à ciência, tecnologia e
inovações e os impactos da diminuição desses recursos a curto, médio e longo
prazo serão drásticos.
Observe no gráfico abaixo o orçamento dos principais fundos de apoio à pesquisa
científica e tecnológica do país, FNDCT, CNPq e CAPES entre os anos de 2000 e
2020:
Fonte:https://www.proifes.org.br/noticias-proifes/congresso-aprova-projeto-
que-pode-liberar-r-9-bilhoes-para-a-ciencia-em-2021/
 É possível perceber que, apesar de ser um setor estratégico, não possui prioridade
de investimentos em momentos de instabilidade, como o que temos vivido desde
2015. Com a crise na ciência se agravando tem se tornado cada vez mais comum o
fenômeno conhecido como “fuga de cérebros” que é a emigração de mão de obra
especializada, atraída por oportunidades de trabalho em países desenvolvidos, tendo
melhor remuneração, benefícios e reconhecimento e, ao mesmo tempo a
oportunidade de desenvolver pesquisas e contribuir para o desenvolvimento
tecnológico do país de destino.
 Os investimentos em ciência e tecnologia não deveriam ser vistos como gastos,
assim como não são a causa da crise que enfrentamos, mas podem ser parte da
solução. É assim que elas devem ser encaradas pelo Estado, sob o risco de
perdermos gerações de cientistas e investimentos realizados até agora. Aliadas à
educação, tais investimentos permitiriam ao Brasil desenvolver produtos de alto
valor agregado, trazendo mais riqueza e bem-estar para nosso país, deixando para
trás a dependência econômica do setor primário, tão volátil e inseguro. Abrir mão
desse investimento é condenar o Brasil à irrelevância mundial.
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 Qual será a importância dos investimentos em ciência e tecnologia diante do
cenário pandêmico que estamos enfrentando? Você sabe quais são os países
produtores de vacina? Quais são as principais transnacionais farmacêuticas
envolvidas no processo? Qual a relação da velocidade da vacinação com a
recuperação econômica dos EUA? Você sabia que o Haiti não teve nenhuma
pessoa vacinada, nem em testes? E que Cuba está produzindo seu próprio
imunizante? No próximo material vamos analisar a posição de cada país em
relação à vacinação da COVID-19 que aponta para a construção de uma
geopolítica da vacina.
Para refletir...
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