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HOMESCHOOLING: QUAIS PROBLEMAS ESCOLARES IDENTIFICADOS PELOS PAIS

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Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL LUIZ REID 
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ – FAFIMA 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA 
 
 
 
 
JHENIFFER NOVAES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
HOMESCHOOLING: QUAIS PROBLEMAS ESCOLARES SÃO IDENTIFICADOS 
AO ANALISAR AS MOTIVAÇÕES DOS PAIS PARA ESTA ESCOLHA? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MACAÉ 
AGOSTO/2020 
JHENIFFER NOVAES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
HOMESCHOOLING: QUAIS PROBLEMAS ESCOLARES SÃO IDENTIFICADOS 
AO ANALISAR AS MOTIVAÇÕES DOS PAIS PARA ESTA ESCOLHA? 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à FAFIMA como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
licenciado. 
 
 
 
ORIENTADOR: Prof. Esp. Eliane Salgado Costa dos Santos 
 
 
 
 
 
Macaé 
Agosto/2020 
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL LUIZ REID 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé 
 Reconhecida pelo Decreto Federal no 81.904 - D.O.U. 11/7/78 
 
 
 Parecer de Monografia 
 
 O Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “HOMESCHOOLING: QUAIS 
PROBLEMAS ESCOLARES SÃO IDENTIFICADOS AO ANALISAR AS 
MOTIVAÇÕES DOS PAIS PARA ESTA ESCOLHA?”, apresentado como requisito 
parcial para a conclusão do curso de Pedagogia realizado pela FAFIMA ( Faculdade 
de Filosofia , Ciências e Letras de Macaé), elaborado pela aluna JHENIFFER 
NOVAES DE OLIVEIRA,, matrícula 171113., destaca questões relevantes para 
estudos dos profissionais que atuam na Educação, com destaque para os 
profissionais da Gestão Escolar. 
 Este trabalho foi estruturado de forma que apresentasse a problemática que deu 
origem a pesquisa e gradativamente seus capítulos apontaram questões relevantes 
para compreensão e aplicabilidade do tema no âmbito educacional. 
 A aluna JHENIFFER NOVAES DE OLIVEIRA, durante o processo de pesquisa, 
envolveu-se em busca de material bibliográfico que a embasasse em suas 
conclusões, cumpriu com responsabilidade cada etapa proposta do trabalho, 
demonstrando compromisso e empenho. Eu, Professora Especialista Eliane Salgado 
Costa dos Santos, informo a esta coordenadoria que avaliei este trabalho quanto a 
originalidade e fundamentação teórica, organização dos capítulos, a temática central 
proposta e sua relevância para o exercício dos profissionais da Educação. Diante do 
resultado obtido, o meu parecer é favorável e atribuo a esta monografia a nota 9.5. 
 
 
 
 
 
Macaé, 10 de agosto de 2020. 
 
 
 
Eliane Salgado Costa dos Santos. 
Assinatura do Orientador 
RESUMO 
 
A presente pesquisa busca entender quais os principais argumentos que levam os 
pais a se interessarem e quererem a regulamentação do Homeschooling, a Educação 
Domiciliar no Brasil. O objetivo é verificar quais problemas estes pais podem apontar 
da escola e levantar reflexões acerca destes problemas. Entender essas questões de 
diferentes perspectivas pode auxiliar para que haja soluções diversas, possibilitando, 
também, o acerto. Para a coleta de informações necessárias para a pesquisa aqui 
descrita, foram contatados pais de diferentes lugares do sudeste brasileiro através da 
rede social Facebook. Os resultados da pesquisa se mostraram surpreendentes e 
levantam questionamentos pouco ou quase nada notáveis até então. 
 
Palavras-chave: Homeschooling; problemas escolares; metodologia; 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research seeks to understand the main arguments that lead parents to be 
interested and want the regulation of Homeschooling in Brazil. The objective is to verify 
the concerns about the subject and raise reflections. Understanding the issue from 
different perspectives can help to achieve different solutions, enabling a deeper 
knowledge and correctnesses as well. To reach the necessary information for the 
following research, parents from different places in southeastern Brazil were contacted 
using Facebook. 
 
Keywords: Homeschooling; School problems; methodology; 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................05 
1. HOME... O QUÊ? ENTENDENDO O PORQUÊ DESSAS DE ESTUDAR EM 
CASA...................................................................................................................07 
1.1 JUSTIFICATIVA.........................................................................................07 
1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS........................................................09 
1.3 METODOLOGIA.........................................................................................09 
1.4 REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................10 
2. CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DOS HOMESCHOLERS............................18 
2.1 CONCEITUANDO ESSE TAL DE HOMESCHOOLING.............................18 
2.2 EDUCAÇÃO DOMICILIAR E A ESCOLA ATRAVÉS DO TEMPO: 
PRÁTICA ANTIGA VERSUS MODERNIDADE..........................................22 
2.3 A AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA E A REVÉS TENTATIVA 
DE REGULAMENTAÇÃO DO ENSINO DOMICILIAR NO BRASIL...........27 
3. HOMESCHOOLING: QUAIS AS MOTIVAÇÕES DOS PAIS PARA ESSA 
ESCOLHA?......................................................................................................32 
3.1 FUGIR DE UM PROBLEMA, SÓ AUMENTA A DISTÂNCIA DA SOLUÇÃO: 
OS PROBLEMAS ESCOLARES IDENTIFICADOS PELOS 
PAIS...........................................................................................................33 
3.2 “QUANDO PEDRO FALA DE PAULO, SEI MAIS DE PEDRO DO QUE DE 
PAULO”: O QUE OS RESULTADOS DEMONSTRAM?............................40 
3.3 IMPORTÂNCIA DO PEDAGOGO.............................................................43 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................45 
5. REFERÊNCIAS...............................................................................................47
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
A educação domiciliar (homeschooling) é uma opção de educação em que os 
pais/responsáveis ficam a cargo da formação integral do indivíduo, podendo eles 
mesmos ministrar os conteúdos aos filhos/pupilos ou terceirizar esse ensino 
contratando um professor particular. Atualmente, a formação da criança e do 
adolescente, por lei, é dividida em educação de valores, hábitos, costumes, moral e 
crença incumbida aos pais e/ou responsáveis; e a formação acadêmica, aquisição de 
conteúdos científicos socialmente construídos e a educação formal ficam a cargo das 
instituições pedagógicas autorizadas. Algumas famílias brasileiras conseguiram na 
justiça, dependendo da interpretação do juiz, a autorização para praticar este tipo de 
formação, porém, desde 2018, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu que as 
crianças/adolescentes não podem ser tiradas das escolas para serem ensinadas em 
casa. Desta forma, nenhuma outra família pôde ter este tipo de autorização. 
Com este assunto sendo pensado pelos governantes, nos dias atuais, como 
possível alternativa de educação, vários debates, a favor e contra, surgem no cenário 
educacional e político. A problemática deste trabalho é investigar se a realidade dos 
brasileiros é propícia para este tipo de abertura, se há preparo e meios para isto 
ocorrer. Economistas e políticos acreditam que é uma alternativa (facultativa) 
admissível; educadores, sociólogos e antropólogos refletem esta possibilidade como 
fadada ao fracasso social. O presente estudo busca investigar quais problemas 
exprimem da escola a partir da compreensão das motivações dos pais em retirarem 
seus filhos da escola. Será feito esta investigação através de análise de dados, 
documentos, pesquisas e reportagens a fim de entender quais os efeitos previstos. 
A estrutura desta investigação será organizada em três capítulos. No primeiro 
capítulo será ampliada a abordagem teórica sobre o homeschooling, confrontando 
ideias favoráveis e contra, buscandoa imparcialidade na apresentação dos 
questionamentos e reflexões. No desenvolvimento do capítulo procura-se buscar 
argumentos fundamentalmente relevantes ao tema e que melhor propicia ângulos 
distintos para um levantamento crítico analítico. 
No mesmo capítulo também será conceituado o termo homeschooling, 
buscando esclarecer inicialmente a origem do termo, sua tradução e definição. Para 
buscar a origem do termo serão pesquisadas bibliografias, artigos e reportagens 
pertinentes ao objetivo de entender o porquê desta palavra (homeschool); ainda no 
6 
 
campo de esclarecimento inicial, será entendida sua tradução literal para o português 
com auxílio de um dicionário, sua tradução interpretativa, segundo teóricos e 
especialistas, e sua tradução investigativa, através de pesquisas em diversas fontes. 
Sabendo-se que ao se tratar de tradução literal, interpretativa ou investigativa 
(SCHÜTZ, 2007), há diferenças para haver a plena compreensão e 
consequentemente influencia para que se possa entender de fato o contexto do termo; 
estando absolutamente claro em relação ao termo utilizado para o tipo de educação e 
sua tradução não só literal, será definido o que de fato é a educação doméstica, o que 
a caracteriza, se é somente o aluno não estar dentro de uma instituição de ensino 
convencional que já há prática do homeschool? Ou se for contrato um professor 
particular, ainda sim é considerado? Este tipo de questionamento e definição acredita-
se, fornecerá elementos essenciais para prosseguir com a pesquisa. 
No segundo capítulo fará presente uma abordagem história em relação ao 
homeschool. As escolas são relativamente recentes comparadas à educação 
doméstica, vindo as primeiras no estilo conhecido hoje a partir do século XIX 
(FOUCAMBERT, 2010). Através da localização histórica do ensino domiciliar, sendo 
catalogado à partir de teóricos e pesquisas, procurara-se investigar de forma 
documental que, embora o termo pouco popular até recentemente, na verdade é 
praticado desde o início da humanidade. Além disse, neste capítulo busca-se as 
variantes oscilações do homeschool dependendo da cultura inserida, do ano, dos 
objetivos formadores da humanidade que influenciam o tipo de educação, etc. 
Ademais, neste capítulo, também terá um breve resumo do funcionamento deste tipo 
de ensino em países que o regulamentam e como se dá seu funcionamento. Essa 
parte da pesquisa será embasada através de levantamento de legislação e discussão 
teórica. 
No Terceiro Capítulo serão apresentados os resultados e a reflexão acerca dos 
mesmos. A opinião dos pais será demonstrada a fragilidade do trabalho educacional 
e proporcionarão possibilidades de se repensar qual a raiz, ou ao menos entender, 
das causas dos problemas apresentados pelos pais homeschoolers. 
Surpreendentemente a pesquisa apresentou resultados interessantes para a análise, 
conferindo apreciação positiva em relação à busca de entender os problemas. Este 
capítulo encaminha para a conclusão da presente pesquisa, agregando bastante valor 
à conclusão do curso. 
 
7 
 
1. HOME... O QUÊ? ENTENDENDO O PORQUÊ DESSA DE ESTUDAR EM 
CASA. 
Neste capítulo será apresentada a linha de pensamento utilizada para nortear 
a pesquisa, assim como as motivações que levaram ao interesse sobre o tema, prática 
tão antiga dentro das civilizações, vista hoje como incabível na atual realidade (será?). 
Serão expostos, para reflexão e esclarecimento, pontos de vista de diferentes 
pensadores para entender melhor os principais argumentos. Na busca de elucidar 
todos os aspectos básicos do homeschooling, o capítulo tratará da definição literal, 
interpretativa e investigativa do termo, o que caracteriza ser homeschooler e suas 
diferentes vertentes para compor variação de educação. 
 
 
1.1 JUSTIFICATIVA 
O tema visto até pouco tempo como fora da realidade pela maioria das famílias 
brasileiras hoje, ressurge como promessa de campanha no atual governo e em 
declarações a favor como a da Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 
Damares Alves. Com isso, emergem debates em relação às vertentes que motivam 
os pais/responsáveis a apresentarem interesse e buscarem apoio para que seja 
regulamentado o homeschooling como direito de escolha da família. 
Após declarações tão influentes num cenário de tanta audiência na política, as 
pessoas que são a favor da legalização e regulamentação da educação domiciliar 
chamaram a atenção. Afinal, quais são os problemas na escola de hoje que fizeram 
alguns pais optarem pelo homeschooling? Embora alguns pais aleguem que a escola 
em si não influenciara sua escolha, que para eles há o entendimento de que ela 
cumpre com seu papel de formar cidadãos e “vinculá-los ao mercado de trabalho” 
(LDB, 1996), eles apenas não querem esses objetivos desenvolvidos nos seus filhos. 
Especialistas e profissionais da área levantam críticas bastante relevantes 
sobre a real eficácia da educação domiciliar e sobre seus possíveis prejuízos ao aluno. 
Para Boto (2018) “[o homeschooling] corresponde a uma prática que supõe que a 
formação letrada será ministrada pelos pais ou por especialistas por eles escolhidos, 
retomando aquilo que, tempos atrás, era chamado de preceptoria”. Ou seja, o 
professor, aqui no caso, os pais, seriam um instrutor dos filhos, não um mediador, 
8 
 
como buscam as escolas convencionais contemporâneas. Outra preocupação de 
estudiosos do assunto é sobre a socialização, para Habermas (1999): 
[...] as pessoas, enquanto sujeitos dotados da capacidade de linguagem e de 
ação, só se individualizam por via da socialização. Transformam-se em 
indivíduos na medida em que crescem no seio de uma comunidade linguística 
e, por conseguinte, num universo partilhado intersubjetivamente [...] A pessoa 
só forma, por isso, um centro de interioridade, na medida em que, há um 
mesmo tempo, se expõe às relações interpessoais estabelecidas no nível da 
comunicação. (HABERMAS, 1999, p. 69-70). 
Defendendo que para se construir de forma individual o sujeito, segundo o 
autor, é necessário que este esteja em contato com mundo, conhecendo diferentes 
personalidades e realidades, proporcionando contato com pessoas distintas entre si. 
Mas afinal, a escola é a única a promover esta socialização? Cumpre este papel de 
forma eficaz? 
Para os pais que consideram o homeschool mais eficaz do que as demais 
instituições convencionais, têm objetivos e valores que consideram para tal. O 
principal argumento utilizado para a justificativa para a prática é de que o Estado não 
deve impor o que é ou não o melhor para cada indivíduo, havendo uma rejeição à 
compulsoriedade da matrícula em rede regular de ensino (ANDRADE, 2017). Para 
eles, a boa formação e desenvolvimento independem do local e sim está atrelado com 
o desempenho e dedicação de quem educa. Além disso, levantam críticas às escolas 
realmente pertinentes em relação ao tema. Para os pais, o Brasil estar na 68º posição 
no ranking do PISA (Programa internacional de Avaliação de Alunos) de 2015, dentre 
um total de 70 países, evidencia a deficiência do ensino questionado por eles. 
Contudo, a pesquisa visa verificar quais as características similares possuem 
em comum essas famílias, agregando mais informação nesse campo que se encontra 
tão pouco explorada. E principalmente, busca-se entender quais os problemas das 
escolas, segundo os pais aqui levantados, para que agregue conhecimento do que se 
pode melhorar como futura pedagoga dentro das instituições, elucidando de 
problemas trazidos pela oposição, com perspectiva de quem está mais próximo do 
aluno, a família. A identificação dos problemas possibilita mobilizar conhecimentos e 
desenvolver a capacidade para gerenciar as informações que estão ao alcance. O 
problema manifestado é um conjunto importante da manutenção do equilíbrio do 
sistema inteiro. É o que explica [...] a pouca eficácia das medidas que tendem a fazerdesaparecer o problema ao focar-se no indivíduo que o manifesta (CURONICI E 
9 
 
MCCULLOCH 1999, p.37), ou seja, criticar a escolha e os porquês dos pais buscarem 
a educação domiciliar dos filhos, só camufla para a verdadeira vertente preocupante: 
qual o problema da escola? 
 
1.2 OBJETIVOS 
OBJETIVO GERAL: 
O objetivo da presente pesquisa é investigar as motivações que levam os 
pais/responsáveis em almejar a educação doméstica. Em paralelo às conclusões 
obtidas, buscar esclarecer quais as principais críticas às instituições de ensino padrão. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
• Definir o que significa homeschooling (educação domiciliar); 
• Pesquisar quais os principais objetivos que levam os pais/responsáveis em 
almejar esse modelo de ensino; 
• Explorar quais características negativas das escolas são evidenciadas, a partir 
dos dados da pesquisa. 
 
1.3 METODOLOGIA 
A metodologia terá como finalidade buscar conhecimentos pré-existentes, 
opiniões de pais que almejam a educação domiciliar como reconhecida pelo 
Estado e fazer uma sistematização de ideias para identificar quais os problemas 
esses pais vêem nas escolas. A presente pesquisa buscará manter uma 
abordagem qualitativa, fazendo interpretações em diferentes bibliografias e 
estudos para analisar os dados. 
De objetivo descritiva exploratória, inicialmente, buscar-se-á descrever o 
conceito de homeschooling, sendo utilizado dicionários para tradução literal, assim 
como livros, trabalhos acadêmicos, sites, blogs, artigos científicos e documentos 
para tradução interpretativa e investigativa. No desenvolvimento do segundo 
capítulo, uma abordagem histórica da educação domiciliar será apresentada, 
organizando de forma cronológica essas informações, retiradas de sites como o 
10 
 
da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) e trabalhos acadêmicos 
que investigam esta contextualização; ainda neste capítulo, serão verificadas, de 
forma breve, as principais características dessa educação alternativa em outros 
países que a regulamentam. 
Os procedimentos para a realização da pesquisa vão ser de caráter 
bibliográfico e documental, tendo como base referencial o livro “Educação: livre e 
obrigatória” de Murray N. Rothbard (2013). Além disso, serão levantadas opiniões 
contra e favoráveis de teóricos e especialistas que debatem acerca do 
homeschooling, para possibilitar uma visão mais ampla e clara do que se diz sobre 
o tema. 
Por fim, para explorar o problema que norteia este trabalho, será aplicado 
uma questão para diversos pais da região sudeste do país. Estes país serão 
selecionados através de grupos da rede social Facebook (Homeschooling: 
Educação Domiciliar – 5.062 membros; Estimulando Nossos Filhos – 10.838 
membros; Homeschooling Clássico Brasil – 3.677 membros), buscando entender 
deles qual o, se não os, principais motivos que os levam a retirar os filhos da 
escola, propondo uma educação em casa. 
As respostas e depoimentos obtidos terão papel fundamental para o objetivo 
central do trabalho: entender quais problemas são identificados na escola por 
esses pais. Para isso, serão organizados os dados, identificando os principais 
pontos e, através disso, compreender as carências, aquilo que não os atende, para 
a compreensão do que realmente seria um problema da escola convencional. 
Estes problemas serão dialogados com dados científicos e opiniões de 
especialistas, buscando, em segundo plano, verificar se são problemas 
exclusivamente das escolas ou se outros fatores corroboram para os problemas 
identificados. 
 
 
1.4 REFERENCIAL TEÓRICO 
Diversos problemas burocráticos, hoje, dificultam a aplicação do ensino 
domiciliar, sobretudo pela imposição das instituições “educação” e “escola” 
11 
 
(BARBOSA, 2013), uma vez que muitos alegam o abandono intelectual, a privação do 
direito da criança ao ensino e o não cumprimento do art. 6 da Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional1. O entendimento vigente, por decisão tanto do Superior 
Tribunal de Justiça (STF) quanto do Conselho Nacional de Educação (CNE), é que a 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394 de 1996, estabelece que 
o ensino obrigatório necessariamente deva ocorrer na escola. 
A legislação torna obrigatório que o sujeito precisa estar presente fisicamente 
na escola para que se ocorra a educação (de sua competência exclusiva), não 
mencionando qualquer outra alternativa para quem não reconhece a escola como 
funcional para seus objetivos. A escola de frequência obrigatória teve sua origem a 
partir da Reforma Protestante do século XVI quando o defensor Martinho Lutero 
propõe uma educação para todos (BARBOSA, 2011). No Brasil, a partir de 1852 
surgiram leis compulsórias que exigiam a frequência escolar. As leis foram 
estabelecidas a partir de premissas unilaterais, não considerando que pudesse haver 
a disponibilidade de pais em querer educar integralmente seus filhos. Serão 
consideradas para o presente estudo as ideias principais do filósofo político, 
historiador e economista norte-americano da escola Austríaca, Murray N. Rothbard. 
O autor do livro “Educação: livre e obrigatória”, editada pelo Instituto Mises do 
Brasil (2013), não é pedagogo e não discursa sobre como se devem educar as 
crianças e jovens, entretanto, com o objetivo de explicar que a educação obrigatória 
é uma política totalitária, alavanca argumentos críticos em relação à exclusividade da 
escola para a educação formal. Para ele: 
Se comida e abrigo são providenciados, a criança irá crescer fisicamente sem 
muita instrução. Seus relacionamentos com outros – membros da família ou 
de fora – irão se desenvolver espontaneamente no curso de sua vida. Em 
todas essas questões, uma criança irá espontaneamente exercitar suas 
faculdades com estes materiais abundantes no mundo ao seu redor, os 
preceitos que são necessários podem ser transmitidos de maneira 
relativamente simples, sem precisar de estudo sistemático. (ROTHBARD, 
1972, p.15) 
Ou seja, para o autor, o ser humano já tem capacidade de se desenvolver e 
fará isso se relacionando com o mundo exterior que ela está inserida. A interação com 
o meio (Vygotsky, 1998), de forma intencional e dirigida, seja qual for o ambiente, 
 
1Art. 6º: É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a 
partir dos 4 (quatro) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). 
12 
 
mostra-se possível para educação formal não necessariamente ocorrendo no 
ambiente formal como o da escola. 
Para Rothbard (1972), qualquer um que acredita na liberdade, os direitos dos 
pais foram completamente violados, assim como o direito da criança, pois ela cresce 
em sujeição do Estado, sem efetivo respeito por sua personalidade individual. Além 
disso, para desenvolver suas faculdades ao máximo, ela precisa de liberdade para 
este desenvolvimento, entretanto, a própria existência do Estado, como visto acima, 
se baseia na limitação, não permitindo a escolha quanto ao tipo de educação que os 
pais podem proporcionar para os filhos. 
Por outro lado, a obrigatoriedade e a gratuidade da educação configuram 
grandes avanços, no sentido de garantir à população mais pobre acesso à educação 
escolar. A obrigatoriedade do ensino e o currículo mínimo para as escolas, tem como 
principal objetivo levar a mesma educação para todos, como garantia de direito, 
possibilitando, na teoria, que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades. 
Segundo Fernandes (2009), para muitos milhares de alunos, a escola constitui uma 
oportunidade única para romper com situações econômicas e sociais desfavoráveis e 
precárias. 
Além disso, outro fator que configura importância para a escola é em relação 
ao apropriar e criar cultura. Para Cury (2005): 
[...] o saber sistemático é mais do que uma importante herança cultural. Como 
parte do patrimôniocultural, o cidadão torna-se capaz de se apossar de 
padrões cognitivos e formativos pelos quais tem maiores possibilidades de 
participar dos destinos de sua sociedade e colaborar na sua transformação. 
Ter o domínio de conhecimentos sistemáticos é também um patamar sine 
qua non a fim de poder alargar o campo e o horizonte desses novos 
conhecimentos. (CURY, 2005, p.20). 
Entende-se que através da educação escolarizada é possível a manutenção de 
uma herança cultural. A cultura da sociedade é repassada e construída através do 
saber sistemático. Com isso, sendo o sujeito parte deste patrimônio cultural, torna-se 
capaz de se apossar de padrões da sociedade, obtendo maiores possibilidades de 
participar dos destinos da sua comunidade e colaborar na sua transformação. 
No que diz respeito ao Brasil, a questão da garantia de acesso às escolas tivera 
caráter de avanço ainda mais marcante devido às camadas mais pobres terem como 
direito a frequência escolar. Os rígidos padrões morais da população, as dificuldades 
13 
 
de acesso às poucas escolas existentes aliadas às limitadas expectativas e às 
necessidades de sobrevivência no país Oitocentista, essencialmente rural, faziam 
com que grande parte da população desconhecesse a escola, não alimentando 
qualquer perspectiva quanto a ela ou qualquer interesse pelo seu “saber”. 
(VASCONCELOS, 2007, p.26). 
Sem dúvida o saber sistemático, formal, considerando apenas o aspecto de 
oportunidade de melhorar a realidade do sujeito e contextualiza-lo na sociedade, se 
faz necessário. É através da educação que a pessoa se torna consciente e autônomo 
da sua vida e, consequentemente, contribui tanto para o seu próprio desenvolvimento 
quanto à comunidade que participa. 
Quanto a funcionalidade das competências citadas, não há dúvida do papel 
importante que a escola tem. Porém, muito se questiona sobre o local que se dá esse 
acesso à cultura e educação. Harris (1898) diz que: 
...[as] escolas [estão] no ano 2.000 A.C. modeladas como no século XIX. 
Tudo muda, menos as escolas... atrás de cinquenta carteiras exatamente 
semelhantes, cinquenta meninos e meninas estão sentados para recitar a 
lição preparados para todos... Mas a álgebra é uma oportunidade para o 
garoto que não sabe matemática... Na verdade, quanto mais igual é a 
oportunidade aparente, mais desigual é a realidade. Quando a mesma 
instrução, para o mesmo número de horas num dia, pelos mesmos 
professores, é provida para cinquenta meninos e meninas, a maioria não tem 
quase nenhuma oportunidade. Os estudantes brilhantes são contidos... os 
estudantes mais fracos são incapazes de acompanharam... os estudantes 
médios são desencorajados porque os alunos brilhantes realizam suas 
tarefas com mais facilidade. (HARRIS, 1898;in ROTHBARD, 2012, p. 34). 
 
As escolas, objetivando um contexto de sociedade em miniatura, parece que 
parou no tempo, em alguma sociedade que já ficou no passado, não acompanha, em 
relação ao espaço físico, a sociedade contemporânea, não há versatilidade nas 
escolas convencionais. Ao comparar duas fotos de uma sala de aula de anos distintos, 
como 1.950 e 2.000, praticamente não há diferença, avanço, a não ser, talvez apenas, 
só uma diferenciação, que em 2.000 as fotos são coloridas. Comparando o avanço do 
mundo em relação ao transporte, meios de comunicação, interação com as pessoas, 
etc., houve mudanças gritantes, completamente incoerentes com a proposta de 
sociedade da escola. 
Além de não haver modernização em relação ao espaço físico da escola, há 
questionamentos quanto a eficácia de se agrupar indivíduos nesse espaço com intuito 
14 
 
de desenvolver todos. Read (1940) critica essa ação de colocar indivíduos tão distintos 
entre si no mesmo local e horário. Para ele ocorre a ilusão de que isso seja produtivo, 
sintetizando que: 
A humanidade é diferenciada naturalmente em muitos tipos, e colocar todos 
estes tipos em um mesmo molde deve inevitavelmente levar a distorções e 
repressões. As escolas devem ser de vários tipos e seguir diferentes métodos 
e aprovisionamento para diferentes disposições. Pode-se argumentar que 
mesmo um Estado totalitário deve reconhecer este princípio, mas a verdade 
é que a diferenciação é um processo orgânico, as associações espontâneas 
e itinerantes de indivíduos para um propósito particular. Dividir e segregar não 
são o mesmo que unir e agregar. É exatamente o processo oposto. Toda a 
estrutura da educação como um processo natural que temos concebido cai 
por terra se tentarmos fazer essa estrutura... artificial (READ, 1940; in 
ROTHBARD, 1972, p.72). 
Além desse questionamento em relação ao ensino aplicado nas instituições 
com viés prático mais de igualdade do que de equidade, Rothbard (1972) diz que: 
Todos são “autodidatas”. O ambiente de uma pessoa físico ou social, não pode 
“determinar” as ideias e conhecimentos que ela terá quando adulto. É um fato 
fundamental da consciência humana que as ideias de uma pessoa são 
formadas por ela mesma; outros podem influencia-la, mas ninguém pode 
absolutamente determinar as ideias e valores que o indivíduo vai adotar ou 
manter durante a vida (ROTHIBARD, 1972, p.14) 
Para o autor, o conhecimento de uma pessoa se dá desde que ela acorda, 
aprendendo e absorvendo tudo que faz parte da sua realidade, sem necessariamente 
estar dentro da escola. Combinado este “autodidatismo” com orientação, logo, torna-
se questionável se o lugar em que a criança está é necessariamente fundamental para 
o seu aprendizado. Lembrando que um lugar por não ser especificamente na escola, 
não significa que seja de qualquer modo e sim em algum lugar de preferência. 
A partir de 1930, o Estado assumiu o papel de buscar financiamento de órgãos 
privados, que viriam a colaborar com a proteção da infância. Diversos órgãos foram 
criados voltados à assistência infantil como Ministério da Saúde; Ministério da Justiça 
e Negócios Interiores, Previdência Social e Assistência social, Ministério da Educação 
e também a iniciativa privada (DUARTE, 2012). Na década de 1990, ocorreram várias 
mudanças na educação. Em 1996 foi aprovada a proposta do governo em 1996, a Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394). Em contexto geral, 
a LDB “possibilitou um conjunto de reformas que foi se processando de forma isolada, 
mas que correspondia a um bem elaborado plano de governo, que, articulando os 
projetos para as áreas econômicas, administrativa, previdenciária e fiscal, foi dando 
forma ao novo modelo de Estado.” (KÜENZER, 1999, p.10). 
15 
 
É pertinente dizer que as leis privilegiam um enfoque quantitativo e não 
aspectos elementares para afiançar a qualidade do ensino, assim como a falta de 
rever a organização da escola e as próprias condições do efetivo ensino básico nos 
dias atuais (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 39). A educação, sendo 
ela, obrigatória nas instituições de ensino, fortalece um compromisso de democratizar 
o ensino, ou seja, “permitir a todos acesso aos bens culturais produzidos pela 
humanidade” (LAGAR et al., 2013, p. 44). Entretanto, a necessária adequação de 
métodos e conteúdos sempre atualizados para garantir a qualidade do ensino ainda 
deixa a desejar. Isso porque, a sociedade é volátil e cada indivíduo possui 
especificidades próprias, dificultando ainda mais a utopia de que a escola garantirá 
um ensino de qualidade para todos. 
Uma das principais críticas de especialistas e leigos em relação à educação 
domiciliar é a respeito da socialização das crianças. Essa crítica leva à reflexão e 
questionamentos sobre a qualidade destas interações e se de fato são de qualidade. 
Dados colhidos de Homeschooling Grows Up de uma pesquisa do Dr. Brian D. Ray 
publicada em 2003, nos Estados Unidos, intitulada de “O mito da socialização” mostra 
uma comparação feita por pessoas que fizeram a educação sistemática na escola e 
as que não, de maneira quantitativa: no gráfico retribuição à comunidade:dos que 
participam de atividades comunitárias, os que foram educados em casa, cerca de 71% 
participam, já os que foram para a escola, 37%; dos que são membros de 
organizações comunitárias ou profissional, 88,3% dos educados em casa contra 50% 
dos que foram para a escola. 
16 
 
Tabela 1 – O mito da socialização. 
Fonte: ANED (2019) 
Para a questão da socialização, também, uma pauta até mais comentada 
atualmente, e que é inerente à escola, é a questão do bullying. Embora a escola 
busque uma “boa” socialização, ainda sim, esta continua inseparável do problema em 
questão. Silva (2010) classifica que o bullyng se manifesta em: físico e material; 
psicológico e moral; sexual; verbal; e virtual. Segundo Dalosto & Alencar (2013): 
 bullying é um tipo de violência que tem crescido no ambiente escolar. Essa 
prática acontece muitas vezes de forma velada e se manifesta por meio de 
“brincadeiras”. O fenômeno tem atingido muitos alunos, trazendo 
consequências muitas vezes dramáticas para as suas vidas. Essa violência 
pode ocorrer em qualquer escola, independente das condições sociais e 
econômicas de seus alunos. (DALOSTO & ALENCAR 2013, p. 64). 
É um fenômeno social complexo que está em todo lugar, sim, entretanto, 
assume peculiaridades no ambiente escolar. Esse tipo de violência contradiz o 
argumento de que a escola consegue de fato proteger. Uma das justificativas 
levantadas pela não efetividade e até perigo do homeschool é a questão da violência 
que pode sofrer a criança. Devido à escola ter contato quase que diariamente com o 
17 
 
aluno, ao sinal de algum abuso ou violência infantil, a escola teria como uma das 
finalidades proteger e preservar o educando. Entretanto, ao verificar que a violência 
hoje é um problema presente na escola, faz refletir que essa proteção e preservação 
da criança a escola não desempenha tão bem. 
As motivações para a escolha desta modalidade também variam entre 
desilusão com o sistema educacional público e privado, refletindo no 
descontentamento com a escola em que estudaram, ou aquela pela qual os filhos 
passaram antes de optarem por homeschooling (VASCONCELOS, 2015, p.12), receio 
de um convívio nocivo nas escolas ou apenas a intenção de conduzir mais de perto a 
formação dos filhos (ANED, 2017).A decisão pela preferência ao homeschool 
representa, também, um questionamento dirigido diretamente à instituição da 
escolaridade obrigatória, nascida tumultuosamente (VIEIRA, 2012, p. 11) e elevada à 
categoria de imperativo social e ideológico universal no último século (VIEIRA, 2012, 
p. 11). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2 CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DOS HOMESCHOLERS. 
Na busca de elucidar todos os aspectos básicos do homeschooling, o capítulo 
tratará da definição literal, interpretativa e investigativa do termo, e o que caracteriza 
ser homeschooler. Neste capítulo, também, será descrito de forma os acontecimentos 
através da história, até os dias atuais, desta educação alternativa. Ademais, para 
compreensão do contexto legal que o tema se envolve, serão analisados diversos 
documentos jurídicos que embasam as principais questões da educação de 
frequência obrigatória. 
 
2.1 - Conceituando esse tal de homeschooling... 
Embora não seja um conceito novo per se2 a instrução em casa, o movimento 
de homeschooling hoje é considerado moderno. A palavra em inglês, mais 
comumente utilizado significa, em tradução literal, escolaridade em casa. Mas não é 
apenas por esse termo que se pode nomear esta educação alternativa, nem a limitar. 
É possível encontrar denominações como: homeschool (E.U.A), home education 
(Reino Unido), educação não escolar, educação domiciliar (Brasil), ensino doméstico 
etc. (VIEIRA, 2012). 
Buscando entender de uma forma menos literal, mais interpretativa e 
investigativa, a educação domiciliar significa que o aluno não está, especificamente, 
dentro de uma escola para aprender. Menos ainda necessariamente este aluno 
precisa estar dentro de casa. Esse ensino alternativo acontece sobretudo sem a 
exclusividade do Estado, fora das escolas institucionalizadas, sob a tutela dos 
pais/responsáveis, ou terceiros com mais competência, ministrando aulas individuais 
ou em grupo. A educação domiciliar é a prática de ensinar e desenvolver o filho fora 
da escola, aplicando conteúdos que, hoje, são exclusivos a ela. Rivero (2008) define 
o homeschooling, sob a interpretação do Departamento de Educação dos Estados 
Unidos, como: 
Crianças educadas em casa [...] ensinadas por um ou ambos os pais, por 
tutores que vêm até a residência, ou através de programas escolares virtuais 
conduzidos por meio da internet. Alguns pais preparam seus próprios 
materiais e projetam seus próprios programas de estudo, enquanto outros 
 
2Em si mesmo; intrinsecamente. 
19 
 
usam materiais produzidos por companhias especializadas em recursos para 
educação domiciliar. (Rivero, 2008, p.10). 
Nos Estados Unidos, onde essa prática já existe de forma normativa e 
regulamentada, é expressamente claro, neste trecho, em que se consolida o 
homeschool. Outro ponto no trecho do documento exposto pela autora diz respeito ao 
fato do “planejamento”. Para Azanha (1993, p. 71) não ter o mínimo de conhecimento 
das condições existentes de uma situação e não fazer o mínimo de esforço de 
previsão das possíveis alterações que possa ocorrer desta situação, encaminha a 
ação para nenhuma mudança eficaz. Ao verificar os termos empregados na definição 
de homeschooling a partir de um país que esse ensino é praticado, é notório que 
houve pesquisas e reflexões para sua regularização e, consequentemente, a proteção 
desses alunos homeschooler. 
Para Murphy (2014) existem algumas características básicas do 
homeschooling: 
Um estudante é educado em casa quando: (1) o financiamento para a 
educação vem da família, não do governo; (2) o serviço é fornecido pelos 
pais, não por funcionário pago pelo Estado (ou financiamento privado); e (3) 
a regulação do empreendimento é interna à família, não da responsabilidade 
do governo (ou outra entidade tal como um corpo religioso). (MURPHY, 2014, 
p.4). 
As características citadas pelo autor denotam apenas algumas 
responsabilidades que o Estado tem para com as escolas. Entretanto, vale ressaltar 
que a regulamentação do ensino doméstico não é necessariamente uma economia 
para o Estado. Isso porque as famílias que demonstram interesse em ensinar seus 
pupilos fora da escola gozam de tempo para tal e, geralmente, tem condições de 
matricular o filho em escolas particulares. E se uma família desestruturada ou 
economicamente miserável desejar fazer educação domiciliar?A experiência de 
outras nações mostra que famílias desestruturadas socialmente, vulneráveis ou em 
condição de miséria não se interessam pela educação domiciliar. Pelo contrário, 
preferem a escola em tempo integral. (ANED, 2020, n.p.). 
Já para a editora e escritora Patrícia M. Lines (2003) há duas distinções iniciais 
para a prática: a independente, sem nenhum vínculo com instituições de ensino; e a 
dependente, quando há ligação com uma escola. Segundo Lines, o homeschooling 
independente é caracterizado por aquele em que pais/responsáveis são integralmente 
20 
 
incumbidos do desenvolvimento e educação integral da criança. Já o homeschool 
dependente, com matrícula em instituições de ensino, os pais se responsabilizam em 
passar o conteúdo e estimular a aprendizagem, enquanto as avaliações destes 
conteúdos são feitas em escolas convencionais. 
Ambas as práticas dão autonomia aos pais em relação, não do conteúdo em si 
que possui regras pré-estabelecidas, mas como encaminhar esses conteúdos 
segundo seus valores, suas concepções, crenças, ideologias, religião etc. É válido 
dizer que a maioria dos adeptos do movimento do ensino doméstico, hoje, no Brasil, 
são cristãos (VIEIRA, 2012, p. 27).Entretanto, a Associação Nacional de Educação 
Domiciliar (ANED) publica que vários estudos indicam que a educação domiciliar no 
mundo é comum entre os agnósticos, ateus, cristãos, judeus, mórmons, adeptos da 
Nova Era e católicos romanos. Já no Brasil, existe grande diversidade de famílias que 
assumem posições políticas liberais, conservadoras, de esquerda, de direita ou que 
não se assumem como parte de nenhuma delas, como as libertárias, católicas, 
protestantes, espíritas, budistas, ateístas, entre outras (ANED, 2020, n. p.) 
Muitos são os contrapontos que levam o ensino domiciliar ter cada vez mais 
adeptos hoje. E estes contrapontos, especificamente das escolas, que se busca 
compreender e identificar. Seja pela liberdade de escolha, a dinâmica pedagógica nas 
salas de aula, a violência presente nos interiores das escolas, o baixo desempenho 
do ensino ou pelos valores da família, cada dia mais, com o auxílio da propagação do 
assunto em proporção nacional, as pessoas se interessam e questionam a educação 
escolarizada obrigatória. Para Rothbard (1979): 
É claro que a escola formal, caracterizada por aulas na qual um professor 
instrui muitas crianças, é um sistema imensamente inferior. Visto que cada 
criança difere das outras em interesses e habilidades, e o professor só pode 
ensinar uma coisa de cada vez, é evidente que cada sala de aula deve 
converter toda a instrução em um molde uniforme. Independente do modo 
como o professor instrui, com qual ritmo, calendário ou variedade, ele está 
praticando um abuso com todas as crianças. (ROTHBARD 1979, p. 22). 
Para o autor, como explicitado no trecho em destaque, as escolas, em principal 
dentro das salas de aula, com a finalidade de educar todas as crianças de forma igual 
e democrática, remete para uma educação ao oposto disso. Ao ministrar conteúdos 
de uma determinada maneira e tempo resulta, na verdade, uma in/exclusão (LOPES 
& FABRIS, 2013) dos alunos. Ou seja, ao colocar o conteúdo de maneira igual para 
todos os alunos com o objetivo de promover a educação igualitária, o que acaba 
21 
 
ocorrendo, de fato, é o afastamento daqueles alunos que não estão no mesmo nível 
de interesse, o que é naturalmente normal, sendo as pessoas completamente distintas 
uma das outras e com especificidades impares, é de se esperar que justo naquele 
determinado tempo não serão todos que aprenderão de maneira igual e eficaz. 
Embora, por vezes ser um movimento difícil de compreender, já que, ao mesmo 
tempo em que se propõe repensar a escola, o movimento é para privatizá-la 
(CASANOVA & FERREIRA, 2020), vale ressaltar que a busca pela regulamentação 
da educação domiciliar não busca deslegitimar a escola, afinal ela possui importante 
função e papel social para a população em geral, democratizando o ensino e 
transmitindo cultura. A ANED, uma instituição sem fins lucrativos, fundada no ano de 
2010, por iniciativa de um grupo de famílias, que objetiva propagar o homeschooling 
e fornecer algum tipo de apoio e orientação legal aos pais homeschooler, além de 
disponibilizar cursos e materiais que auxiliam a prática, cita em seu site: 
A principal causa defendida pela ANED, é a autonomia educacional da 
família. Não nos posicionamos contra a escola, mas entendemos que, assim 
como os pais têm o dever de educar, têm também o direito de fazer a opção 
pela modalidade de educação dos filhos. Defendemos, portanto, a liberdade, 
e a prioridade da família na escolha do gênero de instrução a ser ministrado 
aos seus filhos. (ANED, 2020). 
Pode-se verificar que, segundo esta linha de pensamento, não é banalizado o 
papel das escolas para a população em geral por parte dos que apoiam o homeschool. 
Afinal, compreende-se que, com a democratização do ensino e incentivo ao seu 
acesso por todos, se faz fundamental para a grande maioria das famílias. Libâneo 
(2001) sintetiza bem este pensamento: 
A democratização da escola pública, portanto, deve ser entendida aqui como 
ampliação das oportunidades educacionais, difusão dos conhecimentos e 
sua reelaboração crítica, aprimoramento da prática educativa escolar visando 
à elevação cultural e cientifica das camadas populares, contribuindo, ao 
mesmo tempo, para responder às suas necessidades e aspirações mais 
imediatas (melhorias de vida) e à sua inserção num projeto coletivo de 
mudança de sociedade. (LIBÂNEO, 2001, p. 12). 
Sem dúvida, a escola é representada de forma positiva para a maioria da 
população. Segundo uma pesquisa realizada em novembro de 2013 pelo Datafolha, 
cerca de 66% das famílias brasileiras tem renda mensal de até R$2.034,00. 
Comparando com o estudo realizado pela ANED em 2020, já mencionado 
anteriormente,que expressa que vulneráveis socialmente e/ou em situação precária 
22 
 
tendem ao ensino até integral das crianças, pode-se concluir a representatividade de 
progresso que a instituição escola fomenta. Há pais que não têm disponibilidade de 
tempo, condições intelectuais nem financeiras e/ou não possuem interesse ou 
competência para ensinar seus filhos. Observando esses aspectos, pode-se dizer que 
a escola se faz necessária, não configurando sua extinção caso esse movimento de 
educação alternativa alcance sua regulamentação. 
Contudo, buscando entender o que é o homeschooling e sua essência, é 
possível fazer reflexões acerca dos problemas escolares. Afinal, a qualidade do 
ensino não é exclusiva apenas à vertente do interesse do aluno pelo estudo, mas sim 
da capacidade da escola de atender estes alunos e sua especificidades (CARRAHER; 
CARRAHER; SCHLIEMANN, 1982). O fracasso escolar do aluno, a evasão, o 
desinteresse, a proposta pedagógica desinteressante, dentre outros, são alguns 
exemplos que sobressaem ao investigar o que, nas escolas, desanima esta parcela 
de pais que lutam pelo direito da educação integral de seus filhos. 
 
2.2 - Educação Domiciliar e a escola através do tempo: prática antiga versus 
modernidade. 
Em um momento da história o homem percebeu que poderia transmitir 
conhecimento para outro homem. Essa transmissão ocorria através da observação e 
imitação dos mais jovens para com os mais velhos, de maneira intuitiva e natural. A 
aprendizagem da época consistia em conseguir se alimentar e se proteger, era voltada 
para a sobrevivência (FONSECA; CALDEIRA, 2008). 
A educação fora da escola ocorre desde os tempos mais primórdios das 
civilizações. Na Grécia Antiga, sinônimo de educação para formação plena do homem, 
embora a ideia de escola venha desta época, não existia instituições de ensino como 
se caracteriza hoje. Os centros acadêmicos eram de reflexão em locais abertos, sem 
rotinas ou temas pré-determinados, sendo aulas com movimento, desenvolvidas 
através de questões formuladas pelos próprios aprendizes, de acordo com sua 
curiosidade e interesse (FONSECA, 1998). 
23 
 
O que se entende hoje como escola, se apresentou de muitas outras formas na 
antiguidade. Em 387 a.c., Platão ensinava nos jardins de Academos, em Atenas 
(origem ao termo “academia”). Em 343 a.c., era comum as famílias mais ricas 
pagarem um mestre para ensinarem seus filhos, como exemplo, o rei da Macedônia, 
Alexandre, o Grande, que tinha Aristóteles como mestre. O que mostra falha nesta 
época, vale salientar, talvez não para aquele tempo, mas para hoje, é a falta de 
democratização do ensino, claro. Aranha (2012) considera que: 
Mesmo que a ampliação de oferta escolar representasse uma 
“democratização” da cultura, a educação era elitizada, atendendo 
principalmente os jovens de famílias tradicionais da antiga nobreza ou 
pertencentes das famílias de comerciantes enriquecidos (ARANHA, 2012, p. 
81) 
Além do trabalho braçal predominante na época, a educação voltada para a 
retórica e arte, por exemplo, não era prioridade das famílias mais pobres, que lutavam 
para sobreviver todos os dias na precária época que viveram (de informação, de 
recurso, instrumentos...). 
Na Idade Média, o professoré o centro do saber e a educação passa a ter forte 
influência da Igreja Católica (NUNES, 2006. P.15). Nesta época, assim como a 
anterior, o ensino não era democrático, a educação aqui ainda era para poucos, 
desenvolvida geralmente em mosteiros. Dentre os conteúdos ministrados, estava 
Latim e Ensino Religioso. Seguindo um pouco mais na história, antes do século XVI, 
a alfabetização não era para ler e escrever, mas já para uma profissão. As crianças 
observavam e aprendiam os comportamentos e habilidades de seus mestres. Elas 
aprendiam a aprender e aprendiam a fazer (DUARTE, 2001). Ensinar a aprender é 
outro ponto interessante para os dias atuais. Com tanta informação e facilidade de 
acesso, o sujeito de hoje, mais do que nunca, precisa ser preparado para saber como 
aprender. Além das informações disponíveis tão acessíveis para a maioria das 
pessoas, cerca de 75% dos brasileiros tem acesso à internet (IBGE, 2020). Fonseca 
(1998) considera essa capacidade ainda mais importante quando é pensado na 
questão do desenvolvimento da sociedade: 
[...] A capacidade de adaptação e de aprender a aprender e a reaprender, tão 
necessária para milhares de trabalhadores que terão de ser reconvertidos em 
vez de despedidos, a flexibilidade e modificabilidade para novos postos de 
trabalho vão surgir cada vez com mais veemência. Com a redução dos 
trabalhadores agrícolas e dos operários industriais, os postos de emprego 
que restam vão ser mais disputados, e tais postos de trabalho terão que ser 
24 
 
conquistados pêlos trabalhadores preparados e diferenciados em termos 
cognitivos.(FONSECA, 1998, p. 307). 
Elucidando este ponto do ensino, pensando na proposta educacional que se 
tem hoje, esta questão de ensinar o indivíduo a aprender é mais que uma ferramenta 
para a sociedade contemporânea. Esta habilidade hoje se torna estratégia 
fundamental para se manter em movimento com o mundo que se contextualiza, 
exigindo das pessoas readaptações cada vez mais frequentes. 
Ao longo do século XVIII e XIX, com o desenvolvimento do comércio nesta 
época, impulsionado pela Revolução Industrial, a necessidade de aprender a ler, 
escrever e contar se fez urgente. O aparecimento de instituições está diretamente 
ligado ao aparecimento do capitalismo, com a necessidade de mão-de-obra. A 
burguesia passa a estimular escolas com ensino prático. Para Ferreira (2014): 
Com o apogeu da sociedade industrial ocorreu uma alteração ideológica 
significativa. A educação, que antes podia ocorrerno trabalho, na família, na 
igreja ou nas escolas (lugar do ócio), agora passaria a ocorrer, 
predominantemente, nas instituições escolares. (FERREIRA, 2014, p. 124). 
Nesta época, a escola de frequência compulsória surge na Prússia: 
Foi o rei Frederico Guilherme I quem inaugurou o sistema de educação 
compulsória prussiano, o primeiro sistema nacional na Europa. Em 1717, ele 
ordenou a frequência obrigatória para todas as crianças nas escolas estatais 
e, em atos posteriores, seguiu com a disposição para a construção de mais 
escolas. (ROTHBARD, 1999, p. 51). 
Para Rothbard, a escola de frequência obrigatória teve início com o movimento 
do ideal Pietista, oriundo do luteranismo3. O Pietismo foi um movimento que valorizava 
as experiências individuais, que “propunha preencher o vazio espiritual supostamente 
deixado pela excessiva preocupação acadêmico-apologética4” (COSTA, 1999). O 
interesse por trás disso era que todos pudessem ler a Bíblia sem intermédio de 
terceiros, como ocorria no catolicismo, deixando suas crenças heréticas (CELETI, 
2012, p.30). De acordo com o autor, “Lutero foi o primeiro defensor da escolaridade 
obrigatória, e seus planos foram o modelo das primeiras escolas alemãs. Além disso, 
ele inculcou os luteranos com os ideais de obediência ao Estado” (ROTHBARD, 2013, 
 
3Conjunto das ideias e doutrinas de Martinho Lutero 1483-1546, teólogo e reformador alemão. 
4Defesa argumentativa de que a fé pode ser comprovada pela razão. 
25 
 
p.47). Entretanto, segundo Saveli (2010) a ideia de escola para todos têm sua origem 
como meio de emancipação social e individual. 
No Brasil, a escola de frequência obrigatória foi ampliada lentamente de acordo 
com a trajetória do direito à educação. No século XIX, aproximadamente 87% da 
população em idade escolar estava fora da escola, grande parte das famílias eram 
educadas em casa sem a participação do Estado. A primeira constituição a mencionar 
a obrigatoriedade do ensino é a de 1967 e apontava claramente sobre o dever da 
família, entretanto nada mencionava a respeito do dever do Estado (SAVELI; 
TENREIRO, 2011). Já na Constituição Federal de 1988, a responsabilidade do Estado 
é mais clara, marcada por um embasamento mais democrático, referindo o propósito 
de transformar cada indivíduo em cidadão. É declarada a Educação como direito de 
todos os cidadãos e dever do Estado. 
Não questionável o grande progresso para o acesso ao ensino da população 
em geral no Brasil, Dallari (1998, p.51), ressalta um porém de que “não basta dizer 
que todos têm o mesmo direito de ir à escola, é preciso também que tenham a mesma 
possibilidade”. Isso porque, ao propor o mesmo ensino a todos, levanta o 
questionamento de que ninguém é igual a ninguém e que essa educação massificada, 
ao invés de propor igualdade para a sociedade, na verdade, exprime mais as 
diferenças sociais existentes no país. 
Através do tempo, a educação foi se readaptando conforme o contexto das 
civilizações, antes uma educação voltada para a formação do Homem, passa por 
mudança de concepções e se torna uma educação voltada para a formação do 
cidadão. Muitos são os desdobramentos das escolas como importante papel social e 
sobretudo, a inquestionável avanço de direitos da população. A educação domiciliar 
de ensino formal, como apresentado, foi perdendo espaço e credibilidade em relação 
à sua eficácia e qualidade, entretanto, embora praticamente ignorada por quase toda 
a última década, a educação domiciliar está nos debates midiáticos hoje. Vasconcelos 
(2017, p. 125) corrobora expressando que “[...] o avanço acelerado, tanto de famílias 
interessadas em ensinar os filhos na casa, como da frequência com que a mídia tem 
aberto espaço para a sua divulgação”. 
26 
 
O movimento do direito de educação domiciliar tem sua origempor volta da 
década de sessenta, com John Holt, professor e escritor dos Estados Unidos. Holt 
propunha a necessidade de as escolas serem mais humanas e menos formais, que 
desenvolvessem espaços de aprendizagem variados e repletos de estímulos. Ele 
reivindicava um espaço que fomentasse o desenvolvimento dos alunos de acordo com 
suas curiosidades e com experiências que lhe fossem oferecidas de forma prática 
(CORDOBA; LEITE, 2019).Os Estados Unidos são considerados ospioneiros do 
“moderno” homeschooling, vez que neles se localizam o maior número de crianças e 
adolescentes em ensino domiciliar, cerca de 2.3 milhões de estudantes receberam 
educação domiciliar no ano letivo 2015-216(BREWER; LUBIENSKI, 2017).O 
homeschool encontra força nos EUA no prestígio que a prática gozava entre os 
foundingfathers5do país: George Washington, Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e 
Benjamin Franklin foram todos educados em casa (VIEIRA, 2012). 
Devido à secularização6 da educação, ideologias de libertação sexual e tantos 
outros fatores que iam contra os valores morais e religiosos de grande parte da 
população, líderes religiosos e pensadores cristãos da educação, também pegaram a 
bandeira do homeschooling para si, como é o caso do casal adventista Raymond e 
Dorothy Moore e do líder evangélico James Dobson (BARBOSA, 2013). Com a 
divulgação e promoção desse ensino alternativo por todo o país, todos os estados 
americanos aceitaram e regulamentaram o homeschooling. O Estado regulariza com 
regras, condições e avaliações, entretanto, são os responsáveisquem administram o 
ensino ofertado aos filhos. 
Na Europa, por sua vez, a vasta maioria dos países permitem a educação 
domiciliar, em alguma de suas modalidades: Áustria, Bélgica, República Checa, 
Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Hungria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Noruega, 
Polônia, Portugal, Romênia e Suíça. Todavia, em média apenas 0,1% da população 
em idade escolar pratique-a (KUNZMAN; GAITHER, 2013). 
No Brasil, o movimento chegou por volta da década de noventa por influência 
de pensadores e pastores americanos que transmitiam suas ideias para os fiéis 
 
5Considerados os Pais Fundadores dos Estados Unidos, são líderes políticos que assinaram a 
Declaração de Independência ou participaram da Revolução Americana. 
6transformação ou passagem de coisas, fatos, pessoas, crenças e instituições, que estavam sob o 
domínio religioso, para o regime leigo. 
27 
 
(VIERA, 2012). No país, este tipo de educação não é autorizado, o que influencia na 
carência de pesquisas a respeito. Os pais homeschooler que, por receio de sofrerem 
processos, como ocorreu com as primeiras famílias praticantes do Brasil, não se 
manifestam com receio de represálias (BARBOSA, 2013). 
Entretanto, segundo ANED, em 2018 cerca de 4.800 famílias educavam seus 
filhos em casa. Em um ambiente democraticamente pouco favorável, mesmo com o 
caráter libertador com que a educação se apresenta, o homeschooling no Brasil não 
é reconhecida pelo Estado e sofre resistência por parte de grupos pró-escola pública 
e educação centralizada. Além dos riscos legais que envolvem a prática de educar os 
filhos por conta própria, essa situação acaba por colocar a modalidade em 
clandestinidade, tornando marginalizadas, obscurecidas e passíveis de perseguição 
as famílias que optam por tal alternativa educacional (PAIVA; OLIVEIRA, 2017). 
Atualmente, os debates para a regulamentação do ensino domiciliar são ativos, 
visto que a nova promessa de regulamentação veio pelo então presidente da 
república em seu plano de governo. Para Pereira (2019) o homeschooling não é a 
salvação para a educação brasileira, mas sim, apenas o exercício do direito de 
liberdade educacional. A posição a favor do ensino em casa é reflexo de um discurso 
da precariedade do ensino, como refletido por Boudens (2002), que diz que é 
precisamente em torno da qualidade da instrução escolar que se abre um espaço 
para o questionamento da frequência escolar obrigatória. O aparelho escolar, sendo 
ele controlado pela classe que domina a sociedade, exige, como imperativo máximo, 
repensar a educação – ultrapassada – atual. 
 
2.3 A ausência de legislação específica e a revés tentativa de 
regulamentação do ensino Domiciliar no Brasil. 
Devido o objetivo de o presente trabalho ser buscar entender quais problemas 
educacionais, emparelhados ao longo do tempo, influencia a tendência de alguns 
pais à educação domiciliar, será feito um breve levantamento das questões legais 
que envolve este ensino alternativo. 
As principais leis que regem o sistema educacional no Brasil estão: 1)na 
Constituição Federal de 1988,que destina à educação todo um capítulo, sendo este 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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composto por 10 artigos repletos de princípios;2)na Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação (LDB); e 3) no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).Além da 
legislação brasileira, o Brasil também acata as legislações internacionais, como a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos.É através da interpretação destes 
documentos que,de 1994 a 2019, nada menos que oito Projetos de Lei e uma PEC 
(Proposta de Emenda Constitucional) já tramitaram na Câmara dos Deputados, com 
vistas à regulamentação do homeschooling (ANED, 2020) e, também, alguns pais 
conseguiram, na justiça brasileira, autorização para ensinarem seus filhos em casa. 
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 205, afirma: 
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao 
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988). 
A legislação brasileira não autoriza a educação domiciliar como válida, 
compreendendo-se, como apresentado, que a educação é dever da família e do 
Estado, com colaboração da sociedade. 
Já o texto do ECA manifesta em seu artigo 55 que “os pais ou responsáveis 
têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”, 
compreendendo que não somente dever do Estado e da família promover a educação, 
como também a obrigatoriedade dos pais/responsáveis matricularem seus filhos, em 
idade escolar,nas instituições de ensino autorizadas. 
A LDB nº 9.394/96 prevê, em seu artigo 1º, que a educação deve abranger os 
processos formativos que se desenvolvem, entre outros espaços, na vida familiar, no 
§ 1º ela expõe que a educação escolar deve acontecer, predominantemente, em 
instituições próprias. Além disso, o artigo 246 do Código Penal Brasileiro considera 
como crime de abandono intelectual a não efetiva matrícula: “Deixar, sem justa causa, 
de prover à instrução primária de filho em idade escolar. Pena - detenção, de quinze 
dias a um mês, ou multa.” Podendo-se concluir, com a interpretação destes trechos, 
que a educação formal no lar se torna impossível legalmente, visto que “os filhos não 
pertencem aos pais já que, ainda que menores, são pessoas dotadas de direitos e 
deveres que devem ser respeitados” (CURY, 2006, p. 675).Ademais, com essa 
restrição jurídica é importante ressaltar, também, que qualquer pesquisa, 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
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experimentação metodológica, dados e pesquisas oficiais e desenvolvimento 
acadêmico, ficam limitados e restritos. 
Além de ser dever exclusividade do Estado a educação formal e dos 
pais/responsáveis a obrigatoriedade da matrícula, a legislação brasileira diz que a 
educação formal, acadêmica e científica fica a cargo exclusivo das instituições 
(públicas ou privadas), conforme expressa claramente na Lei nº 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996, no artigo 1º § 1º ,onde diz que “a educação escolar, que se 
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias”, não 
deixando margem para alternativa enquanto a isso. 
Mas, então, qual é a “brecha” que esses pais homeschooler encontram na lei 
que possibilitou o direito de alguns praticarem essa escolha? O Brasil é signatário7 
das legislações internacionais, o que corrobora para a ambiguidade de interpretação 
por parte dos juízes brasileiros.A DUDH, em seu artigo 26.3assegura que “os pais têm 
prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus 
filhos”; já na Convenção Americana dos Direitos Humanos, no artigo 12.4 garante que 
“os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos 
recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias 
convicções”. Entretanto, a prática foi considerada ilegal pelo Supremo Tribunal 
Federal em 2002, indeferindo (por seis votos a dois) o pedido de um pai de educar 
seus filhos em casa. Foi a primeira vez em que a modalidade foi objeto de discussão 
em um tribunal superior brasileiro (VIEIRA, 2012). 
Os Projetos de Lei, não aprovados, desenvolvidos até hoje, alteram textos 
como o do ECA e LDBM. As principais alterações dos textos dizem respeito, não a 
troca de um modelo de educação pelo outro, mas sim de forma que as duas 
alternativas sejam e estejam viáveis. Em um Projeto de Lei de 2015 (não aprovado) 
elaborado por Eduardo Bolsonaro, por exemplo, no incisoIII, do artigo 5º da Lei nº 
9.394/96, onde se lê “zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola”, 
passaria a vigorar com a seguinte redação: 
Art 5º(...) 
III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola para os 
estudantes matriculados em regime presencial e pela frequência em 
 
7que ou aquele que assina ou subscreve um texto, um documento etc. 
30 
 
cumprimento ao calendário de avaliações, para os estudantes matriculados 
em regime de ensino domiciliar. (NR) 
O projeto não levanta detalhes em relação às avaliações mencionadas, mas, 
como ocorre em outros países, o Estado não é completamente anulado da vida 
acadêmica do aluno, na verdade, ele regulariza e organiza a situação das famílias 
homeschool. A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares 
Alves, afirma, como justificativa pró educação domiciliar, no PL nº 2401 que “a 
educação dirigida pelos próprios pais é uma realidade já consolidada em muitos 
países, presente também no Brasil, embora, até o presente momento, de maneira 
informal” (2019). Essa informalidade e ilegalidade perante a lei, ao invés de proteger 
e assegurar, expõe riscos às crianças e jovens que estão sendo educados na 
modalidade de ensino domiciliar. Damares Alves completa dizendo que: 
a partir dessa premissa, não se busca regulamentar a matéria de forma 
exaustiva, mas assegurar condições, do ponto de vista jurídico, para que 
famílias praticantes da educação domiciliar em situação informal possam 
contar com o apoio solidário do Estado em sua missão de educar seus filhos 
(ALVES, 2019). 
Outro ponto importante tratado neste Projeto de Lei nº 2401 de 2019, mais 
recente (também não aprovado), diz em seu texto que: 
Art. 4º - A opção pela educação domiciliar será efetuada pelos pais ou pelos 
responsáveis legais do estudante, formalmente, por meio de plataforma 
virtual do Ministério da Educação, em que constará, no mínimo: 
(...) 
V - Plano pedagógico individual, proposto pelos pais ou pelos responsáveis 
legais; 
Não menos importante todas as outras exigências que este artigo trata, o plano 
pedagógico, entendendo-se a complexidade que remete, demonstra a tentativa de 
regularizar e organizar esta educação alternativa através do Estado. Na íntegra, os 
PL’s, em especial este de 2019, se configura um processo mais burocrático de aderir 
que as escolas convencionais atuais. Dificultando de modo estratégico para que os 
pais/responsáveis que realmente não estejam preocupados com a educação dos seus 
filhos, não disponibiliza de tempo e/ou não se preocupam com a qualidade de ensino 
dos seus não se submetam a este processo. Os Projetos de Lei desenvolvidos até o 
momento e mostram a favor de que o Ministério da Educação regulamente o 
homeschooling. A imposição de currículos e programas escolares é defendida 
explicitamente na maioria deles, embora os motivos variaram - contornar o alto valor 
31 
 
das mensalidades de escolas privadas, evitar a violência e o contato com drogas nas 
escolas, permitir uma educação individualizada e desenvolver o autodidatismo, 
assegurar aos pais o “direito de escolher”, etc. (VIEIRA, 2012). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
3. HOMESCHOOLING: QUAIS AS MOTIVAÇÕES DOS PAIS PARA ESSA 
ESCOLHA? 
Neste capítulo será tratado o assunto principal da pesquisa: afinal, quais 
problemas os pais homeschooler identificam, hoje, nas escolas para optarem pela 
educação domiciliar? Este questionamento tem como objetivo compreender os 
argumentos que essa pergunta irá alavancar nos depoimentos dos próprios e 
promover uma reflexão a respeito. Entender as críticas e motivações, trazidas na 
presente pesquisa, oportuniza, para educadores e interessados na educação, olhar 
de forma mais atenta para os pontos levantados em questão e amenizá-los, contorná-
los e/ou superá-los. Entretanto, para isso, é necessário entendermos, visto a falta de 
debate sobre o assunto. Reforçando a importância de se entender mais as questões 
das famílias no aprimoramento escolar, Sampaio e Guimarães (2009) dizem que em 
relação à influência da família no desenvolvimento do estudante, alguns aspectos 
devem ser analisados, pois a educação dos pais influencia de várias formas: tanto 
serve como exemplo, como também pode reforçar a motivação para o estudo, ampliar 
o acesso à informação e fornecer uma referência quanto às consequências de obter 
um maior nível educacional. 
Para levantar os depoimentos necessários, foram enviadas solicitações para 
participar de grupos da rede social Facebook (Homeschooling: Educação Domiciliar – 
7.138 membros; Homeschooling Rio de Janeiro – 411 membros; Estimulando Nossos 
Filhos – 11.595 membros; e Homeschooling Clássico Brasil – 4.026 membros) e 
postado a seguinte questão: Qual o principal problema (ou quais) da escola que levam 
a querer o homeschool para seu filho? Os sete pais voluntários que responderam a 
esta questão são de diferentes estados da região sudeste do Brasil e todos possuem 
formação profissional, além disso, possuem entre um e dois filhos por voluntário, 
constituindo uma família pequena. Os nomes e sobrenomes serão fictícios, 
preservando suas identidades, visto a não regulamentação legal do Ensino Domiciliar, 
embora isso de nada interfere na apreciação do material. 
 
 
 
33 
 
3.1 Fugir de um problema, só aumenta a distância da solução: os problemas 
escolares identificados pelos pais. 
 
Os problemas escolares, como vistos antes, são desafios para o processo de 
ensino nas instituições. Além disso, a queixa escolar está entre os mais frequentes 
motivos de procura de atendimento psicológico para a criança (SALES, 1989; 
SANTOS, 1990; GRAMINHA & MARTINS, 1994), demonstrando que os problemas no 
ambiente escolar atingem quem mais importa na educação, os alunos. Entretanto, não 
desalinhando do objetivo da pesquisa, limita-se à opinião dos pais, que têm maior 
propriedade quando se trata de educação das crianças e jovens, para se analisar 
quais problemas escolares eles identificam em seus depoimentos. 
Foram sete pais no total, de diferentes lugares do sudeste brasileiro como 
mencionado. Os nomes, fictícios para preservar a identidade dos pais voluntários, 
serão listados com seus respectivos símbolos de identificação para a tabela 1: 
Jaqueline Alves, filósofa, uma filha (F1); Daniela Flores, cientista social, uma filha (F2); 
Jeferson Santos, policial militar, duas filhas (F3); Eloisa castro, professora, um filho 
(F4); Tatiane Lopes, formada em Letras e Design, uma filha (F5); Sueli Silva, cientista 
social, uma filha (F6); Graça Costa, neuropsicopedagoga, mãe de dois filhos (F7). 
Abaixo segue uma tabela para organizar as informações coletadas de acordo com o 
problema mencionado em cada depoimento, sendo classificado, de acordo com a 
leitura dos depoimentos, com uma marcação na coluna que corresponde ao problema 
e, posteriormente, suas interpretações segundo o objetivo da pesquisa. 
 
Tabela 1 
 Problema* 
Pais 
Qualidade 
do ensino 
Inclusão Metodologia Violência Religião/ 
Valores 
Estrutura 
Escolar 
F1 I I I I 
F2 I 
F3 I I I 
F4 I I 
F5 I I I 
34 
 
F6 I I 
F7 I 
* Problema: problema escolar que foi identificado no depoimento dos pais. 
 
Fazendo uma leitura da tabela desenvolvida de acordo com os problemas 
apontados por cada pai Homeschooler, possibilita uma visualização mais clara dos 
problemas mais citados pelos mesmos, facilitando a interpretação dos dados. Dentre 
os sete pais voluntários, podendo mencionar mais de um problema por depoimento, 
entende-se que: seis dentre os sete, apontam a metodologia como motivo para 
desejarem o homeschooling; quatro, do total dos pais, apontam a inclusão como fator 
problema da escola; dois mencionaram a qualidade do ensino, assim como o mesmo 
númeroapontou como problema a estrutura escolar; apenas um argumentou a 
respeito da violência e outro religião/valores. 
Para tornarem mais claros os problemas mais mencionados pelos pais, as 
informações obtidas serão classificadas no gráfico a seguir: 
 
Gráfico 1 
 
 
Percebe-se, através da leitura dos dados, forte preocupação em relação à 
metodologia aplicada nas escolas que, para eles, é padronizada e não leva em conta 
Qualidad
e do 
ensino
12%
Metodologia
38%
Inclusão
25%
Violência
6%
Estrutura Escolar
13%
Religião/valores
6%
Problemas da escola, segundo os pais homeschoolers.
35 
 
a especificidade do aluno, estando na frente de inclusão, que este está diretamente 
ligado à metodologia utilizada pelo professor frente às adversidades. As metodologias 
utilizadas pelos professores, que podem ser diversas para atender as necessidades 
dos alunos, segundo Morán (2015): 
... precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se queremos que os 
alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os alunos 
se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que 
tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. 
Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras 
novas possibilidades de mostrar sua iniciativa. (MORÁN, 2015). 
 
Ou seja, é através das metodologias o professor pode desenvolver o aluno de 
acordo com suas possibilidades, cabendo a ele identificar quais virtudes e quais 
dificuldades seu aluno apresenta e elaborar a metodologia mais eficaz para o mesmo. 
Quando não há essa atenção ou desempenho do professor, não entrando no contexto 
da sua formação insuficiente para a prática, em relação à elaboração de metodologias 
planejadas para seus alunos a qualidade do ensino oferecida naquele espaço, 
provavelmente, será muito prejudicada. 
As escolas têm como característica, com seu ensino obrigatório e padronizado, 
diversos problemas que assombram a educação brasileira. Os depoimentos obtidos 
salientam esse cenário dos problemas escolares na posição dos próprios, como no 
depoimento de Jaqueline Alves, de Santos-SP, formada em Filosofia, mão da Sofia 
de oito anos de idade: 
Não aceito o tipo de sistema de uma creche (acho muito cedo ficar longe da 
família) e o ensino da escola é muito fraco. É um sistema educacional que 
não é benéfico para o aluno. Fora a questão moral, ideológica e religiosa. 
O Homeshooling dá a oportunidade de ensinar e educar nossos filhos ao 
melhor que achamos (JAQUELINE ALVES, mãe da Sofia de 8 anos). 
Jaqueline aponta dentre outros problemas, a questão do “ensino fraco”. Para 
entender, o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA), que analisa o 
desempenho de estudantes com quinze anos de idade, nas áreas de leitura, 
matemática e ciência, por todo o mundo, divulga os resultados do quarto trimestre de 
2019, mostrando um cenário preocupante para o Brasil, dentre os 79 países 
envolvidos: entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 
74º em matemática. Reforçando a fala de Jaqueline, ao fazer a leitura destes dados, 
compreende-se sua preocupação. Entretanto, apesar do baixo desempenho da 
educação brasileira, vale ressaltar que comparado aos dados de 2014, o Brasil teve 
um pequeno crescimento nesses rankings. 
36 
 
Jeferson Santos, policial militar de Minas Gerais e pai de Isabel e Maria, quatro 
e um ano de idade respectivamente, também demonstra uma maior preocupação em 
relação à qualidade do ensino: 
Antes mesmo de a minha esposa ficar grávida, quando casamos, eu já estava 
pesquisando como estava o ensino e o ambiente escolar nos dias de hoje. 
Eu estudei em escolas públicas e tanto a qualidade do ensino como o 
ambiente escolar, não são bons, não é acolhedor. Comecei a pesquisar como 
e o que fazer para contornar isso, já que uma escola particular boa é cara e 
não tenho dinheiro para pagar. Então comecei a pesquisar, desde 2015, 
como educar, como funcionava a escola, como era o processo de 
alfabetização e, também, como era o homeschooling, a educação domiciliar 
(JEFERSON SANTOS, pai de Isabel e Maria). 
Reforçando a atenção com a qualidade de ensino, visto sua experiência 
anterior com escola pública, Jefferson demonstra preocupação no que é oferecido 
para as filhas. A prova Brasil de 2015, que é uma avaliação utilizada para o 
diagnóstico, em larga escala, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e 
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que tem como objetivo avaliar a 
qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes 
padronizados e questionários socioeconômicos, levanta que mais de 65% dos alunos 
brasileiros no 5º ano da escola pública não sabem reconhecer um quadrado, um 
triângulo ou um círculo. Cerca de 60% não conseguem localizar informações explícitas 
numa história de conto de fadas ou em reportagens. Entre os maiores, no 9º ano, 
cerca de 90% não aprenderam a converter uma medida dada em metros para 
centímetros, e 88% não conseguem apontar a ideia principal de uma crônica ou de 
um poema (ÉPOCA, 2015). 
Jeferson ainda aponta a questão da qualidade superior do ensino em escolas 
particulares, mas, como a maioria da população brasileira, não tem como arcar com 
os valores cobrados nestas instituições. Segundo Sampaio e Guimarães (2009) e de 
acordo com o estudo divulgado pelo INEP (2002), que avalia o desempenho de 
estudantes do ensino médio por meio de indicadores disponibilizados pelo SAEB – 
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, no Brasil, 42% dos alunos foram 
qualificados como “muito crítico” e “crítico” em língua portuguesa. Os qualificados em 
“adequados” somam apenas 5%. Ao traçar o perfil dos estudantes qualificados com 
desempenho muito crítico, 96% estudam em escolas públicas. Para o desempenho 
dos estudantes em língua portuguesa, o setor privado superou o setor público em 50 
pontos. Para matemática, a diferença foi ainda maior, chegando a 81 pontos na região 
Sudeste. Ainda, segundo os dados do PISA, a nota de escolas particulares de elite do 
37 
 
Brasil colocaria o país na 5º posição do ranking mundial de leitura, já o resultado 
isolado de escolas públicas estaria 60 posições abaixo, na 65º dentre 79 países. Esta 
comparação mostra a discrepância de ensino oferecido pelas instituições privadas, 
acentuando ainda mais as limitações de oportunidade para os alunos de escolas 
públicas, fazendo-se contestar inclusive o papel da escola em diminuir desigualdades 
sociais. 
A respeito deste mesmo ponto, da diferença de ensino de escola pública e 
particular, Tatiane Lopes do Rio de Janeiro, mãe da Camile de três anos, aponta em 
seu depoimento: 
Não sou contra a escola em si, mas vejo que há uma discrepância que 
chega a ser injusta entre escolas particulares e públicas. Respeito 
profundamente a profissão do professor, mas na escola em que minha filha 
começou a estudar, que é pública, a primeira professora ficava o dia inteiro 
no WhatsApp e passava filme pras crianças assistirem. Todo dia, eram dois 
filmes, pra "preencher" as quase 3 horas de aula. Ou seja, atividade zero, 
aprendizado nenhum [...] Falta muita coisa na escola pública. Tive a 
oportunidade de acompanhar de perto, pois lá era possível que as mães 
ficassem o dia todo no espaço escolar. O ensino é muito deficitário, como 
um todo. Muitas professoras até se esforçam, mas não há estrutura. 
Pra mim, o homeschooling seria legal na educação infantil (com o cuidado 
de garantir à minha filha a socialização adequada). Depois disso, eu 
colocaria na escola. (TATIANE LOPES, mãe da Camile). 
Para esclarecer a importância do abismo entre escola pública e particular é 
preciso entender que isso intensifica a discrepância de ensino, refletindo em anos 
posteriores, intensificando a desigualdade social. Como conseqüência desta diferença 
na qualidade do ensino, ao verificar uma pesquisa realizada de acordo

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