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JOSÉ M. RESSANO GARCIA LAMAS MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE 5.ª Edição FUNDAÇAO CALOUSTE GULBENKIAN Serviço de Educação e Bolsas José Manuel Ressano Garcia Lamas ( 1948-2003) Nasceu em Lisboa, e licenciou-se em Arquitectura pela ESBAL em 19n. Dou- torou-se em Urbanismo pelo lnstitut Régional d'Aix en Provence em 1975. Foi Docente das cadeiras de Planeamento Urbano e Projecto de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, onde se doutorou em Planeamento Urbanís- tico, em ·1990, e onde era Professor Catedrá- tico desde 1998. Foi Director das Revistas Arquitectura (1978 a 1984) e Arquitectura Portuguesa (1986 a 1988), e membro da Associa- ção Internacional de Críticos de Arte, da Associação de Urbanistas Portugue- ses e da Ordem dos Arquitectos. Publi- cou vasta bibliografia sobre assuntos da sua especialidade, nomeadamente Manuais de Restauro e Recuperação para cidades em que interveio, Tavira, Moura e Horta. Foi Autor de numerosos pro jectos de edifí- cios, equipamentos e planos de urbanismo. Realizou vários trabalhos de investigação, tendo deixado praticamente terminado o estudo sobre a "Praça em Portugal ", poste- riormente publicado pela DGOTDU. Em 1998, com os seus trabalhos (Plano de Urbanização, Plano de Salvaguarda e Valo- rizaçãodaZonaHistóricaeprojectodeRecupe- ração do Teatro Faialense) a Câmara Municipal da Horta recebeu um Prémio Especial de Mérito - no Concurso Europeu de Urbanis- mo da C.E. Conselho Europeu de Urbanistas. Em 2003 recebeu o Prémio A Pedra na Arqui- tectura atribuído ao Projecto de valorização da cerca do Castelo de Óbidos, e M enção do Prémio Nacional de Arquitectura Alexan- dre Herculano da Associação Portuguesa de Municípios com Centro Histórico, atribuí- da ao conjunto de projectos das Piscinas Municipais de Ponte da Barca. .u - JOSÉ M. RESSANO GARCIA LAMAS MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE 5.ª Edição FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Serviço de Educação e Bo lsas UFRJ/FAU li U 111111111111 IH 1 210002780 Reservados todos os direitos <le acordo com a lei Edição de Fundação Calouste Gulbenkian Av. de Be rna 1 Lisboa 2010 Depósito Legal: 3 10214/l O ISBN: 978-972-31 -0903-0 Este livro foi redigido com base no trabalho realizado para dissertação de Doutoramento em Planeamento Urbanístico e apresentado em 1989 na Faculdade de Arquitecturo do Univer- sidade Técnica de Lisboa. ,,, . INDICE PREFÁCIO À 4!! EDICÃO NOTA INTRODUTÓRIA À 2!! EDIÇÃO PREFÁCIO - CARLOS DOS SANTOS DUARTE PARTE 1 INTRODUÇÃO PARTE li A MORFOLOGIA URBANA 11 13 15 17 35 2. 1 A MORFOLOGIA URBANA 37 2 .2 AFORMAURBANA 41 • FORMA E CONTEXTO 46 • FORMA E FUNÇÃO 48 • FORMA E FIGURA 54 2 .3 PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE E PRODUÇÃO E FORMA DO TERRITÓRIO 63 • O TERRITÓRIO COMO SUPORTE DA ARQUITECTURA 63 • ALARGAMENTO DA NOÇÃO DE FORMA URBANA 63 • A PAISAGEM COMO OBJECTO ESTÉTICO, A PAISAGEM COMO ARQUITECTURA E A ESTÉTICA DA PAISAGEM NATURAL 66 • FORMA URBANA E FORMA DO TERRITÓRIO 70 2 .4 DIMENSÕES ESPACIAIS NA MORFOLOGIA URBANA 73 • DIMENSÃO SECTORIAL - A ESCALA DA RUA 73 • DIMENSÃO URBANA - A ESCALA DO BAIRRO 74 • DIMENSÃO TERRITORIAL - A ESCALA DA CIDADE 74 2 .5 OS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO URBANO 79 • O SOLO - O PAVIMENTO 80 • OS EDIFÍCIOS - O ELEMENTO MÍNIMO 84 • O LOTE - A PARCELA FUNDIÁRIA 86 • O QUARTEIRÃO 88 • A FACHADA - O PLANO MARGINAL 94 • O LOGRADOURO 98 • O TRAÇADO, A RUA 98 • A PRAÇA 100 • O MONUMENTO 10'2 • A ÁRVORE E A VEGETAÇÃO 106 • O MOBILIÁRIO URBANO 108 2 .6 EVOLUÇÃO DO TERRITÓRIO 111 • O DOMÍNIO DAS TRANSFORMAÇÕES DO TERRITÓRIO 11 2 • MECANISMOS DAS TRANSFORMAÇÕES DO TERRITÓRIO 11 4 2. 7 NfVEIS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO 121 2 .8 URBANISMO E ARQUITECTURA 125 (O DESENHO URBANO ENTRE O PLANEAMENTO E O PROJECTO DOS EDÍFICIOS) 125 2 .9 EPÍLOGO 129 PARTE Ili FORMA DAS CIDADES E DESENHO URBANO ATÉ AO PERÍODO MbDERNO 131 3. 1 A LIÇÃO DO PASSADO 133 3. 2 A MORFOLOGIA URBANA NA GRÉCIA E EM ROMA 139 • A FORMA DAS CIDADES GREGAS 139 • O DESENHO URBANO NA ROMA ANTIGA 144 • O QUARTEIRÃO GREGO E ROMANO 148 3 .3 A FORMA URBANA MEDIEVAL 151 • AS MURALHAS 152 • AS RUAS 152 • OS ESPAÇOS PÚBLICOS - A PRAÇA E O MERCADO 154 • OS EDIFÍCIOS SINGULARES 154 • O QUARTEIRÃO MEDIEVAL l 54 3 .4 O DESENHO URBANO NO RENASCIMENTO E NO BARROCO 167 • AS FORTIFICAÇÕES 170 • A RUA 172 • O TRAÇADO RECTICULAR - A QUADRfCULA 174 • A PRAÇA 175 • A FACHADA 1 77 • OS EDIFÍCIOS SINGULARES 179 • O MONUMENTO 184 • O QUARTEIRÃO 188 • OS QUARTEIRÕES DO BAIRRO ALTO 190 • OS QUARTEIRÕES DA BAIXA POMBALINA 190 • ESPAÇOS VERDES 194 • OUTRAS TIPOLOGIAS (AS INVENÇÕES INGLESAS SO SÉCULO XVIII - O cCRESCENT• o .. oRcus. E o ..SQUARE· ) 194 3.5 DESENHO DE FORMAS URBANAS NO SÉC XIX 203 • A CONTINUIDADE DO BARROCO E O APERFEIÇOAMENTO DA CIDADE BURGUESA 203 • A DESTRUIÇÃO DAS MURALHAS E LIMITES DA CIDADE 204 • O SUBÚRBIO E A PERIFERIA 206 • A ESPECULAÇÃO FUNDIÁRIA SEM DESENHO URBANO 208 • UTOPIAS SOCIAIS 21 O • EXPERIMENTAÇÃO URBANÍSTICA 210 • PARIS DE HAUSSMANN - TRAÇADOS BARROCOS E QUARTEIRÕES 212 • BARCELONA DE CERDÁ - EXTENSÃO DA QUADRÍCULA E SUBVERSÃO DO QUARTEIRÃO 2 1 6 • AS AVENIDAS DE LISBOA DE RESSANO GARCIA - TRAÇADOS BARROCOS E QUADRÍCULAS 221 3.6 SÍNTESE - APRENDENDO NO PASSADO 227 PARTE IV A URBANÍSTICA FORMAL 229 4. 1 INTRODUÇÃO • A DISCIPLINA URBANfSTICA - DO INÍCIO AO URBANISMO FORMAL DE ENTRE AS DUAS GUERRAS 8 231 231 • SIL~NCIO SOBRE A TRADIÇÃO 4 .2 OS TRATADISTAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX E A VALORIZAÇÃO DO DESENHO URBANO • STUBBEN E CAMILLO SITIE " UNWIN - A PRÁTICA DO URBANISMO E DO DESENHO URBANO 4.3 A ESCOLA FRANCESA - URBANISMO FORMAL E TRADIÇÃO PARISIENSE • TONY GARNIER E A CIDADE INDUSTRIAL • MARCEL PO~TE E A INVESTIGAÇÃO URBANA • AGACHE E O PLANO DE RIO DE JANEIRO 4 .4 A URBANÍSTICA FORMAL PORTUGUESA • FARIA DA COSTA E OS BAIRROS DE ALVALADE E DO AREEIRO 4 .5 DA URBANÍSTICA FORMAL AO NOVO URBANISMO PARTE V CONFIGURAÇÃO E MORFOLOGIA DA CIDADE MODERNA 5 .1 INTRODUÇÃO - A CIDADE MODERNA • A QUESTÃO DO ALOJAMENTO (NOVAS TIPOLOGIAS CONSTRUTIVAS, NOVAS FORMAS URBANAS) • FUNCIONALISMO E ZONAMENTO - A SIMPLIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS • A QUESTÃO FUNDIÁRIA - PARCELAMENTO E SOLO PÚBLICO • O FASCÍNIO PELOS EDIFÍCIOS ISOLADOS • RUPTURA COM A HISTÓRIA • OS NOVOS MATERIAS E TECNOLOGIAS 5.2 A CIDADE-JARDIM, O IMPASSE E A IMPLANTAÇÃO DE RADBURN 5.3 A uUNIDADE DA VIZINHANÇA>> - A SOCIOLOGIA DESENHA A CIDADE 5.4 AS EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS HOLANDESAS - A REFORMA DO QUARTEIRÃO 5.5 EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS NA EUROPA CENTRAL - AS SIEDLUNGEN E AS HOFF 5.6 A CIDADE DOS CIAM E DA CARTA DE ATENAS • AS UNIDADES DE COMPOSIÇÃO DA CIDADE MODERNA • A CARTA DE ATENAS • OS CENTROS HISTÓRICOS E A CIDADE ANTIGA • O CONTROLO DO SOLO E A LIBERTAÇÃO MÁXIMA DO ESPAÇO LIVRE 5 .7 LE CORBUSIER - li.A UNIDADE DE HABITAÇÃO» E A • CIDADE RADIOSA» 5.8 A URBANÍSTICA OPERACIONAL - A BUROCRACIA CONSTRÓI A CIDADE • DAS IMPLANTAÇÕES RACIONAIS À PLANTA LIVRE • A ESTÉTICA DO PLAN MASSE • O PREDOMÍNIO DAS DISCIPLINAS NÃO ESPACIAIS NO PLANEAMENTO • A URBANÍSTICA OPERACIONAL E O PLANEAMENTO BUROCRÁTICO PARTE VI O «NOVO URBANISMO» 6.1 INTRODUÇÃO - DO REPÚDIO DA CIDADE MODERNA AO NOVO URBANISMO 9 238 249 249 252 259 268 270 273 281 284 293 295 297 300 303 304 307 308 310 311 317 .,.. . 323 331 337 338 344 347 348 351 361 362 370 372 376 383 385 6.2 AS CRÍTICAS TEÓRICAS À CIDADE MODERNA 391 • PIERRE FRANCASTEL E HENRI LEFEBURE 391 • JANE JACOBS - A MORTE E A VIDA NAS GRANDES CIDADES AMERICANAS 392 • ALEXANDER A CIDADE NÃO É UMA ÁRVORE 394 6 .3 (RE)LEITURA VISUAL E ESTÉTICA DO ESPAÇO URBANO 397 • GORDON CULLEN - A MORFOLOGIA E IMAGEM DA ESCALA DE RUA 397 • LYNCH E A IMAGEM DA CIDADE 398 6 .4 REALIZAÇÕES DIFERENTES E EXPERIMENTAÇÕES NOS ANOS SESSENTA 403 6.5 CRISE ECONÓMICA, GESTÃO URBANA E VANTAGENS DOS ESPAÇOSTRADICIONAIS 417 6 .6 OS CENTROS HISTÓRICOS (REVALORIZAÇÃO E DESCOBERTA DA CIDADE ANTIGA) 419 6 .7 ROSSI E A «ARQUITECTURA DA CIDADE» 423 6 .8 ROBERT KRIER E O •ESPAÇO DA CIDADE• 427 6 .9 CULOT E LA CAMBRE OE BRUXELAS - RADICALMENTE NO PASSADO 433 6 .1 O TENDENCIAS ACTUAIS 439 • O cNOVO URBANISMO,, 439 • O IBA EM BERUM 442 • UMA EXPERIÊNCIA FRANCESA: A ZAC GUILLEMINOT 446 • O cNOVO URBANISMO• EM PORTUGAL 452 6 . 11 EXPERIENCIAS E REALIZAÇÕES PESSOAIS 465 • O PLANO DA TRAFARIA-COSTA DA CAPARICA 469 • O PLANO DO MARTIM MONIZ H l • ESTUDO DO ALTO DO PARQUE EDUARDO VII 479 • PLANEAMENTO EM PONTA DELGADA - ILHA DE S. MIGUEL, AÇORES 481 • PLANEAMENTO DA CIDADE DA HORTA - ILHA DO FAIAL, AÇORES 493 • PLANOS DE CENTROS HISTÓRICOS - TAVIRA - MOURA - PONTE DA BARCA 501 • PLANO DIRECTOR DA EXPO 98 509 • PLANO DE PORMENOR DO •QUARTEIRÃO DA GARAGEM MILITAR• EM LISBOA 5 l 9 • PLANO EM PORMENOR E ORDENAMENTO DO RECINTO DA EPAl NOS OLIVAIS 523 • PROJECTO DE VALORIZAÇÃO DA CERCA DO CASTELO DE ÓBIDOS 527 PARTE VII CONCLUSÃO. DESENHO DA CIDADE 533 NOTAS À PARTE 1 542 NOTAS À PARTE li 543 NOTAS À PARTE Ili 549 NOTAS À PARTE IV 555 NOTAS À PARTE V 559 NOTAS À PARTE VI 565 INDICE BIBLIOGRÁFICO DAS FIGURAS 575 BIBLIOGRAFIA 581 10 PREFÁCIO À 4.ª EDIÇÃO A 4~ reedição desta obra do meu irmão é, como a 3 ~, uma edição póstuma - fale- ceu precocemente em 2003 - que mostra como uma grande obra perdura sempre para além do seu autor. José Lamas era um homem muito culto e viajado, um profundo conhecedor da histó- ria da arquitectura, das cidades e da vida urbana, sobretudo na Europa, e um observa- dor atento da sua evolução e do que se fazia em Portugal e pelo mundo. O presente li- vro resulta do seu trabalho sobre o desenho das cidades, iniciado como bolseiro de doutoramento em Aix-la-Provence e continuamente enriquecido pela investigação e por uma vasta experiência profissional. Mas José Lamas era sobretudo professor de Planeamento e Desenho Urbano, pelo que colocou sempre grande ênfase na d ivulgação destes temas da sua vida, ao que a Fun- dação Calouste Gulbenkian correspondeu publicando, pela primeira vez em 1990, a Morfologia Urbana e Desenho da Cidade, que é um best-seller, quer em Portugal quer no estrangeiro: José Lamas era frequentemente convidado como conferencista pelas muitas escolas, em que a sua obra era conhecida e seguida no ensino. Por exemplo, em quase todos os seus últimos anos de vida regeu cursos de pós-graduação no estrangeiro, no- meadamente no Brasil e Estados Unidos. Dava, ultimamente, especial atenção aos Planos de Recuperação e Salvaguarda como o da Cidade da Horta, para o qual preparou um magnífico Manual de apoio. Publicado postumamente pela Câmara Municipal da Horta, não teve infelizmente a devida d ivul- gação. Devo, porém, citá-lo em complemento da presente reedição onde o autor teria certamente integrado a experiência resultante e onde teria usado mais, como no Manual da Horta, e se eu pudesse tê-lo influenciado, os apontamentos desenhados à mão livre que o seu talento artístico registava e que permitiam didacticamente sublinhar vistas e pormenores construtivos como poucos arquitectos e urbanistas eram capazes. A Morfologia Urbana e Desenho da Cidade é livro de texto em muitas escolas de Ar- quitectura e Urbanismo, e entre os mais vendidos Textos Universitários de Ciências So- ciais e Humanas da Colecção Gulbenkian, mas nem por isso devo deixar de agradecer à Fundação a sua republicação, que me enche de satisfação pela homenagem, que tam- bém representa, à memória de um irmão que muito admirava. António Ressano Garcia Lamas Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico 11 NOTA INTRODUTÓRIA À 22 EDIÇÃO A 29 edição deste livro, ocorrida mais de 1 O anos após a sua escri ta, levanta algu- mas questões de oportunidade que não desejaria esconder. Em primeiro lugar, a larga procura que a primeira edição terá tido em Portugal, es- sencialmente nos meios universitários, nas Escolas de Arquitectura e Urbanismo, sem que praticamente tivessem sido feitas recensões, críticas, referências escritas ou publicidade. Os 3 .000 exemplares da primeira edição esgotaram-se em apenas 3 anos (de 1995 a 1998). O que para o autor será gratificante, é também uma inquietação pela maior res- ponsabi lidade no confronto com a opinião e formação dos leitores. Neste contexto é tam- bém de constatar o apoio bibliográfico que o trabalho tem constituído nas disciplinas de Desenho Urbano ou às d issertações de Mestrado e Doutoramento em problemas afins nas Universidades Portuguesas. Em segundo lugar, questiona-se a actualidade das ideias e reflexões expostos. 1 O anos é algum tempo! Tempo suficiente para que muita coisa se passasse no urbanismo europeu e acontecesse em Portugal. Tempo que já permite olhar paro trás, com o dis- tanciamento clarificador que esbate o pormenor e acentua o essencial. Em terceiro lugar, a procura continuada (após esgotar-se a 1.º edição) constituiria quase um dever de informação aos estudantes e estudiosos do Desenho Urbano no final do séc . XX e início de um novo milénio. Quanto mais não seja, a efeméride suscita e acende esperanças de um mundo melhor - neste tema, melhores cidades e cidades me- lhorados pelo Desenho. Por outro lodo, atrevo-me a pensar que os experiências urbanísticas da década de noventa na Europa e em Portugal não contradisseram significativamente ou anularam as reflexões e ideias do trabalho. De facto, quem desenha a cidade tem hoje um léxico vasto, eventualmente ecléctico, de formas urbanas e modelos ao seu dispor. Novas relações entre espaços construídos e espaços livres vão sendo procurados. Registo o contributo da paisagística e do dese- nho dos espaços verdes com o aparecimento de novos jardins e parques urbanos, sec- tor onde talvez mais contributos se têm feito sentir com novos conceitos e propostos de evidente inovoção e significado para a vida urbana. Generaliza-se o interesse pelo arranjo e qual ificação dos espaços públicos, quer dos cidades consolidados, quer das periferias degradadas. A salvaguarda e valorização dos centros históricos torna-se consensual na convicção dos valores espaciais e construtivos dos antigos cascos urbanos. 13 Consolidou-se em definitivo o alastramento da cidade "emergente" , diluindo-se em di- versas formas de habitar no território através de novos e melhores sistemas de transporte. Finalmente, os meios de comunicação estão mesmo de facto a revolucionar um dos ele- mentos fundamentais das sociedades, com impactos ainda difíceis de sistematizar na ocupação do território e desenho das cidades. Neste contexto, em Portugal, e com o derrame dos dinheiros europeus, poderiam co- meçar oportunidades para fazer melhores cidades e fazer melhor a cidade, questão poro a qual uma porte dos orquitectos e urbanistas se sente cada vez mais profunda- mente motivada. Contexto em que aparecem licenciaturas especializadas em urbanismo e desenho urbano e um renovado interesse pelas questões urbanas. No seu todo, este conjunto de questões justificou prosseguir com a reedição do "Mor- fologia Urbana e Desenho da Cidade". Justificou também que se imprimisse alguma revisão à porte final do trabalho, essen- cialmente no que se refere à reflexão decorrente das experiências pessoais e outras ocor- ridos nos últimos l O anos. Últimos anos nos quais se tem afirmado o amadurecimento sobre a utilização das for- mas urbanas da cidade tradicional e da cidade moderna, abrindo-se uma via eclética temperada pelas influências desconstrutivistas e um certo revivalismo do Movimento Mo- derno no Desenho Urbano. Todavia, se a influência desconstrutivista tem parecido introduzir alguma diferença nas propostas de Desenho Urbano, tem-no feito mais pela complexidade oferecida na so- breposição de sistemas geométricos do que pela introdução de verdadeiros novos con- ceitos de espaço urbano ou nos modos de o produzir. Repetindo, continua válida adicotomia entre morfologia urbana da cidade tradicio- nal , com os seus contínuos construídos e relação estreita do espaço com os edifícios, e a cidade moderna, com os seus edifícios soltos no território, maior generosidade de es- paço público e a independência entre espaço urbano, edifícios e outros sistemas de com- posição da cidade. Cor:itinua válida por essa razão também a oportunidade do conhecimento dos pro- cessos de fazer cidade e do estudo das formas urbanas como ferramenta indispensável do desenho urbano. E justifica a oportunidade de uma segunda edição. Lisboa, Abril/1999 14 PREFÁCIO A redoeção deste prefácio foi para mim ocasião de relembrar uma relação de ami- zade e colaboração profissional iá longo de anos, iniciado no Faculdade de Arquitec- tura de Lisboa, onde eu e José Lamas éramos docentes, e continuada depois no socie- dade que formámos. Os Planos da Trofario - Vila Novo - Costa do Caparica, do Martim Moniz, de Ponto Delgado e, mais recentemente, do EXPO 98, entre outros, e um número considerável de proiectos de orquitectura, cobrindo programas tão variados como os de instalações escolares e centros de cultura, habitação e turismo, foram, e são, o dia-o-dia de uma relação de trabalho que se prolongo habitualmente num discorrer sem fim sobre arquitectura, que é, de resto, o «vício» conhecido do generalidade dos arquitectos. Curiosamente, esta proximidade diário não impediu uma certa sensação de surpresa quando li este livro pela primeira vez. Surpreso misturada com familiaridade, porque muitas ideias ali expostos, e agora ordenadas num todo coerente, tinham sido obiecto de conversos e discussão ocasiono/ entre ambos. O livro surge numa altura em que se verifico um novo interesse dos arquitectos pelos problemas do Urbanismo e pelo estudo de matérias que lhe são próprias, manifestado no realização de colóquios e reuniões de vário índole e na publicação, aqui e ali, de textos e proiectos recentes . Neste renascer de interesse pela cidade e o urbanismo em Portugal, este livro é um acontecimento de relevo a assinalar. Ele trata do desenho da cidade do Ocidente euro- peu ao longo da História, e, nesse processo, José Lamas vê a cidade como lugar carre- gado de marcas, sinais e símbolos de culturas do passado e do presente que exigem conhecimento e reflexão séria por porte daqueles que hoie intervêm no suo construção. Por isso, este livro se inscreve numa linha de pensamento que tem os seus antecessores ilustres em homens como Comi/lo Sitte, Geddes, Mumford ou Marcel Poête. O que é di- zer muito. Mos, como arquitecto, o que lhe interessa prioritariamente investigar é a morfologia do cidade e a história do formo urbana, onde pretende encontrar razões e iusfificações últimas para as concepções que perfilha. «A cidade não é um produto determinista de contextos económicos, políticos e sociais», afirma, em certa altura, e , nesta perspectiva, acentua a contribuição específico dos orquitectos através do desenho urbano. E isto é feito num estilo vivo, directo, e de fácil leitura, mas não isento de paixão nos posições que assume. 15 - O livro foi amadurecido e redigido numa altura em que a prática do urbanismo ra- cionalista tinha atingido a exaustão e em que se verificavam leituras revivalistas dos modelos passados do Renascimento, do Barroco e do Neoclássico, no generalidade dos casos em termos de grande superficialidade e ligeireza. Consciente disso, José Lamas procuro explicar o porquê do actualidade de determi- nados tipologias urbanas do passado e filia a sua permanência em razões de cultura e vivência social no mundo de hoie. O que consegue com razoável êxito. Mais controversa será a sua análise da contribuição do Movimento Moderno para a forma da cidade, apesar do obiectiv1dode de que se reclamo. Mas será possível ser-se completamente ob- ;ectivo em matéria como esta? O livro dirige-se o todo o gente, mas, naturalmente, os mais interessados serão os ar- quitectos e estudantes de arquitectura, que aqui encontrarão largo matéria de infor- mação e discussão teórico. Ele contribuirá de certeza para torná-los mais conscientes do seu papel na construção do cidade. E da alta responsabilidade de que se reveste essa intervenção. 16 Carlos Duarte Prof. Arquitecto PARTE 1 1 -INTRODUÇAO 17 .Les fois de f'orchitectvre peuvent être compnses de tout /e monde.» V OL!fT .t.Ouc INTRODUÇÃO Entretiens sur l'orchitecture 1'1 Comecei este trabalho em 197 4 , no quadro d o Douto- ramento efectuado no lnstitut d 'Aménagement Régional d 'Aix-en-Provence. A tese então apresentada (7} aborda- va as mesmas questões cujo enunciado é por de mais sin- gelo: como desenhar a cidade e qual a intervenção e o papel da arquitectura (e do ar- quitecto) no desenho urbano e no processo de produção da cidade. Como é natural, o trabalho de Aix-en-Provence seria influenciado pelo ambiente cu ltural e profissional desse período. Estava-se no início da década de setenta e a insa- tisfação crescente pelos resultados da cidade moderna motivava estudantes e profissio- nai s a procurarem uma saído para a crise da urbanística e da própria arquitectura . Uma quinzena de anos passou e os trabalhos e os experiências da minha vida pro - fissional permitiram encontrar resposta para muitas interrogações, desde então. Os anos como docente de Planeamento Urbano e Projecto no Departamento de Arquitec- turo da ESBAL e na Faculdade de Arquitectura da UTL serviram também para aprofun- dar e amadurecer ideias e aprender muitas coisas sobre a cidade. Não é novidade que se aprende ensinando e que o arquitecto precisa de ultrapassar alguns anos de traba- lho para atingir as suas melhores capacidades . Também muitas experiências, realizações e acontecimentos se sucederam entretan- to, através das quais muito se aprendeu . Mas também novas questões surgiram. Assim, desde 197 4 até hoje, fui reflectindo sobre a mesma questão, ainda (e talvez sempre) em aberto - O DESENHO DA CIDADE. Fui acumulando memórias, investiga- ções, leitu ras, práticas e experiências pessoais e alheias. O tema , tão vasto quanto mo- tivante, não cansaria. Quis fazer balanço do que aprendi e reflecti. Recordo que, há mais de vinte anos, os estudantes aprendiam o desenhar a cidade dispondo vias, edifícios e manchas verdes no terreno, usando critérios de equilíbrio vo- lumétrico nos regra s abstractas do Plan Mosse. Sobre a folho de papel, troçavam vias e faziam volumes com sombras até encontrarem uma solução de bom efeito gráfico. A qualidade residia na originalidade dos formos, na inovação das soluções, através de regras um tanto obstractas, tontas vezes mais escultórias, gráficas ou até ilusórias do que urbanísticas e espaciais . . . Exagero! As coisas não eram assim tão simples ou ligeiras ... Havia regras de desenho e composição urba na para os volumes e os seus equil í- brios; havia horror à simetria e aos eixos de composição; evitavam-se as fo rmas que 19 l O 1o 2o .._,.. - ---- "'·~··· .... ...... _ .. _ .. _ .. . Plon o 10.M. 1-1. A formo humonizodo do território - assentamento megolftico de Filitosa - Córsega 1. Plano de conjunto. 2. Planto de pormenor dos monumentos este e oeste 20 l o , J. ,,. .. ~ • .. ~--.~~:-1::: ····-···················-··-··-···-····-·--···-- 1-2. Citanio de Briteiros - Portugal. Plano efectuodo segundo m escavações. Planto de cosas com vestíbulos e reconstituição ae um monumento funerário 21 evocassem qualquer cidade antiga, clássica ou barroca; exacerbava-se o imaginação para descobrir formas ainda não experimentados! Cada qual exprimia, também, o seu temperamento e estados de alma . E também se copiavam os mestres modernos, se fo- lheavam exemplos em revistos e publicações, e se estudavam as realizações da época . Hoje, no mesmo Escola, agora Faculdade, outros estudantes lançam de imediato no papel formas geométricas de grande semelhança com ruas, praçm e quarteirões, tra- çam eixos e simetrias,organizam os edifícios segundo regras da cu ltura urbana actuol, num retorno evidente às composições tradicionais . Entre estas duas práticas, processou-se uma importante mudança na maneira de entender o desenho urbano. A simples constatação destas duas atitudes implica uma profunda reflexão sobre os bases culturais que as apoiam - ou deveriam apoiar. Em ambos os casos não se troto de modas ou de virtuosismos superficiais, de feitios ou de caprichos no «pronto o vestir,, das formas urbanas. Em primeiro lugar, devo ter presente que o desenho urbano exige um domínio pro- fundo de duas áreas do conhecimento: o processo de formação da cidade, que é histó- rico e cultural e que se interligo às formas utilizadas no passado mais ou menos longín- quo, e que hoje estão disponíveis como materiais de trabalho do arquitecto urbanista; e a reflexão sobre a FORMA URBANA enquanto objectivo do urbanismo, ou melhor, en- quanto corpo ou materialização da cidade capaz de determinar a vida hL•mana em co- munidade. Sem o profundo conhecimento do morfologia urbana e da história do forma urbana, arriscam-se os arquitectos a desenhar a cidade segundo práticas superficiais, usando «feitios» sem conteúdo disciplinar. À reflexão e investigação sobre o forma urbana, pretendo dar o contributo deste trabalho. Contributo de um profissional empenhado na sua prática, riscando soluções e vivendo os problemas que hoje se colocam ao orquitecto urbanista - um profissional que interrogo e questiono a sua prática, métodos e resultados do seu trabalho. Contributo também de um docente cuja cultura e formação constitui um corpo de conhecimentos que deve transmitir no Escola, como o local da reflexão disciplinar. Mas, antes do mais, esta dissertação é um trabalho de arquitecturo, o que quer di- zer que a arquitectura é um campo disciplinar preciso, racionalmente construído e com um significado bem definido. A arquitectura sempre teve como objectivos a criação do mais propício ambiente à vida humana, e o seu contributo coloca-se a diferentes níveis - do interior de um café, às grandes composições urbanas -, sendo por isso mesmo de difícil delimitação. A arquitectura aparece na mais simples habitação rural, na ala- meda de árvores alinhadas, nas grandes infra-estruturas ou em todos os factos cons- truídos quando as necessidades espaciais do homem interpretam o sítio e procuram a harmonia ou a intenção estética. A orquitectura é a arte de construir e ultrapassa a sim- 22 l -3 . Lisboa. Gravuro de HUrbium Proecipuarum Mundi Thealrum Quintum." Georgio Braunio 1593 23 - pies assemblagem lógico de elementos construtivos para traduzir a realidade humana como forço criativo e voluntária. Nasceu com os primeiros assentamentos humanos, in- separável do vida humana e do sociedade, como obro colectiva que tem a sua pleno dimensão como facto urbano. Toda via o construção do cidade e o resolução da com- plexidade dos problemas do ambiente humano exigem actualmente numerosas quali- dades, múltiplos conhecimentos e o acção de indivíduos que, pelo seu saber e criativi- dade, se tornam executantes de uma vontade colectiva, explicitando os espaços poro essa vontade. O orquitecto foz do cidade um problema pessoal, para o qual contribui com os suas qualidades : o desenho e o sensibilidade ao sítio e ao contexto; a criatividade e imagi- nação; a capacidade de síntese, a visão global dos problemas. Contribui com um méto- do de trabalho, uma técnico de concepção e de comunicação de ideias em relação com os processos de construção. Mas o orquitecto traz também uma experiência ligada ao presente e ao passado, os quais conhece da vivência da cidade, onde o material da • História é urna fonte inesgotável de aprendizagem e de reflexão. A História ou o recur- so a ela está sempre presente no estirador e no processo de desenho, sem o rigor dos métodos históricos ou o sentido que do História tem o historiador, mas como realidade viva e campo de experiências nas quais se apoia a prática profissional. A arquitecturo à escala urbana, enquanto desenho de cidade, defronta-se hoje com todo uma série de interrogações e até de dúvidas, de que são exemplos as diferentes alternativos surgidos do pós-guerra até aos nossos dias, em que ainda não se chegou o total acordo quanto às morfologios urbanas mais adequados e a um consenso generali- zado sobre a formo do cidade. Estas dificuldades arrastam ainda os sequelas da ruptu- ra criada pelo urbanismo moderno em relação à cidade tradicional e a dificuldade ou incapacidade que os arquitectos modernos revelaram em definir formos urbanas ade- quados à sociedade a que se destinavam. A dependência maior que o urbanismo e o desenho revelam em relação aos siste- mas políticos e económicos, e o fracasso dos tentativas de controlar o cidade como ob- jecto finito - ou peça de arquitecturo - concorreram também paro a crise da urbanís- tico, em parte desmotivando os energias criativas do desenho u.rbano e dando a o objecto arquitectónico isolado um excessivo grau de autonomia e importância no deba- te profissional. O reacender do interesse pelo dimensão urbana da arquitectura, pelas relações en- tre arquitecturo e cidade, e pelo modo de formar cidades, tem sido um dos temas mais fecundos do debate arquitectónico dos últimos quinze anos. A alternativa hoje presente entre objecto arquitectónico e desenho urbano colo- ca a questão de saber se a organização do espaço urbano se pode resolver pela simples intervenção arquitectónica ou se exige um nível específico e autónomo de 24 1-4 . A infra-estruturo monumento! constrói o terrolóno: outo-eslrodo direclo Romo-florenco. Viaduto dei Paglto 25 projecto. Por outros palavras, poderá ainda existir autonomia do composição urbana? A produção da cidade não pode ser entendida como um mero processo de distribuir edifícios no te rritório, resolver proble mas funcionais, ou criar condições paro o investi- mento económico. Antes do mais, o espaço habitad o e construído pelo homem é maté- ria de competência do a rquitectura, e não de um somatório de d isciplinas, de técnicos e de outros preocupações também necessários. Assim sendo, como se poderá introduzir no urbanismo o visão orquitectónico, estética e forma l? Parto do princípio de que a forma (física) do espaço é uma rea lidade poro o qual contribuiu um conjunto de factores socioeconómicos, políticos e cultura is. Sem dúvida que a economia , ou as condições socioeconómicos de produção do espaço, se reflec- te m profundamente no suo fo rma . Isto é muito importante . Mos o formo urbano é também, ou deverá ser, o resultado da produção voluntá ria do espaço. Entendo por voluntá rio um processo que, tomando em conta os objectivos de planeamento (econó- micos, sociais, administra tivos), os organiza e resolve utilizando os conhecimentos cul- turais e orquitectónicos sobre esse mesmo espaço e material izando-os atra vés do suo FORMA. Tal objectivo é ma is a mbicioso do que o me ro funcionamento (mesmo que perfeito) da cidade e pretende criar um ambiente humanamente válido, através do expressão estético do espaço urbano. Esta a titude só pode provir do correcta intervenção da arquitectura no produção do meio urbano . Tenho implícito que o natureza do concepção orquitectónico (e urbanísti- ca) é essencia lmente formal. As noções de Formo Urbano e Forma do Território são eminentemente arquitectónicos. A orquitecturo introduz no planeamento e no urbanis- mo um ob jectivo fundamental: o construção do FORMA DO ESPAÇO HUMANIZADO. É no processo de planeamento, que deverá ser contínuo, desde os objectivos e pro- gramas a té à construção de edifícios e infra-estruturas, que importa clarificar o inter- venção do orquitecturo e, por corolário, do arquitecto que o introduz. Seria demasiado contra ditório que o disciplino sobre o qual vão desembocar desde o início todas os de- cisões de planeamento se limitasse o só intervir no final do processo para formal izar ou desenhar osprogramas e decisões anteriores. A produção do espaço não pode ser unicamente resolvido pelos níveis do planifica- ção regional e urbano e dos realizações dos construções. A etapa intermédio do dese- nho urbano é indispensável. De resto, tal etapa inicio-se nos opções de planificação e prolongo-se até à realização do edificado, constituindo um dos momentos essenciais do orquitecturo . Troto-se, antes do mais e sem qualquer prejuízo dos outros objectivos do urbanismo, de contribuir com um método e disciplino de trabalho que permitirá melho- rar e tornar esteticamente válido o produto do planeamento. Convirá ter presente o crítico sociológico e o demonstração de que nem todos os 26 1-5. Plano de Olivois Norte, 1955-1958. GEU - Gabinete Estudos de Urbanização - CML. Pormenor do Plano de Olivais Sul. Arq. º' Carlos Duarte e José Rafael Botelho - 1960. Os dois planos estão à mesmo escalo 27 formas urbanas, têm igual potencial ou simplesmente o potencial tout courl de engen- drar a vida social. As formas não têm apenas a ver com concepções estéticas, ideológicos, culturais ou orquitectónicas, mas encontram-se indissociavelmente ligados o comportamentos, à apropriação e utilização do espaço, e à vida e comunitária dos cidadãos. Esta questão coloca-se com grande acuidade na utilização das formas urbanas (se- jam estas de blocos, torres, quarteirões ou contínuos construídos) e, no medida em que qualquer dessas formas influenciará diferentemente a vida social, no comportamento e bem-estar dos cidadãos. Nos últimos quinze anos, assistimos a uma profunda reviravolta no desenho da ci- dade, modificação profunda na produção arquitectónica, modificação nas metodolo- gias de intervenção, nos temas e nos programas. As propostos desenhadas actualmente nas Escolas, nos ateliers de arquitectos mais protagonistas, nada têm a ver com o que se passava nos anos sessenta. Aparentemen- te, foi retomada a tradição da urbanística formal através da recuperação de elementos da cidade tradicional como a ruo, a praça ou .o quarteirão, que, há duas décadas, pa- reciam esquecidos e esmagados pelas proezas tecnológicas dos megoestruturos, do ur- banismo do plan mosse e da planta livre. Efectivamente, a partir do início da década de setenta, o urbanismo e o desenho ur- bano sofreram uma profunda revisão. Diga-se em boa verdade que, desde os anos ses- senta, se iniciou a agonia da «cidade moderna• com as suas perversões posteriores. A preocupação com o FORMA URBANA - tanto estrutura física como funcional - passou a constituir o elemento dominante do projecto· urbano, enquanto, paralelamen- te, novos conceitos, métodos e programas surgiram na prática urbanística. Todavia esta rejeição da cidade moderna foi tão apaixonada e emotivo quanto fora anos antes a condenação da cidade tradicional e do rue corridor feito por Le Corbusier e pelos CIAM. Quero com isto dizer que tanto num coso como no outro tais condena- ções não se apoiaram em reflexão crítico profunda. Recordo a frase de Fernando Mon- tes «Au;ourd 'hui, la seu/e forme qui nous reste d'être modernes est d'appliquer à l'ar- chitecture moderne les mêmes remedes qu'el/e appliqua à l'acodémisme» 131. Parece-me algo inconsequente a condenação sem o juízo e a investigação. Posso aderir ao novo urbanismo, mas necessito de reflectir tanto sobre as propostas moder- nos como sobre as tradicionais de cidade. Nessa ordem de ideias, longe de ter simplifi- cado os coisos, «separando o bem do mal•, ainda torno mais complexas as interroga- ções . .. Hoje, desenhar o cidade e nela intervir é também compreender e conhecer a cidade antigo e a cidade moderno, os suas morfologias e processos de formação. Assim, fala- rei de cidade antiga e de cidade moderno como modelos disponíveis na vasto gomo de 28 r=::J Via pedonal Espaços públicos 5 . Centro Cultural 10. Electricidade Naciona . l. Câmara de Deputados 6. Pi s cina e patinagem sobre gelo 11. Ajuda Familiar 2 . Complexo administrativo 7 . Cinemas e centros comer ciais 12. Correios 3. Cãmara Municipal 8. Repartição de Desenvo l v imento l J. Palácio de expos.icões ~ . Armazéns (centro comercial) 9. Repartição de Segura nc; ~l. Social 14. Parque ( )ardi.m) 1-6. Plano do centro de Cergy - Pontoise. Arredores de Paris - 1968-1970 29 j 1-7. Urbanismo operacional e o território sem forma. Cidade novo de Champigny sur Mame. Região de Paris. Visto aéreo, 1968-1970 30 -- -- hipóteses para o desenho da cidade contemporânea. Modelos que importa conhecer em profundidade, tantos nas suas características morfológicas como nos processos cul- turais e sociais da sua formação. ~ O interesse pela FORMA URBANA terá de avaliar com objectividade os conteúdos da cidade moderno e da cidade tradicional, e só dessa avaliação poderão nascer pis- tas poro o desenho do cidade contemporâneo . Tais serão alguns dos objectivos deste trabalho. t fundamentalmente a dimensão física e morfológica do cidade que me preocupa, porque é essa a dimensão arquitectónica e a que melhor permite o entendimento cultu- ral da cidade. Esta obordagern do desenho do cidade dentro da disciplina arquitectónica não invalida ~ue as formas urbanas dependam da sociedade que as produz e dos condi- ções históricas, sociais, económicas e políticas em que a sociedade gera o seu espaço e o habita, e o orquitecto o desenha. Porém nunca ser6 de mais reivindicar um determinado grau de autonomia poro a produção arquitectónica. A cidade não é um simples produto determinista dos contex- tos económicos, políticos e sociais: é também o resultado de teorias e posições culturais e estéticas dos orquitectos urbanistas. Todavia um primeiro grau de leitura da cidade é eminentemente físico-espacial e morfológico, portanto específico da arquitectura, e o único que permite evidenciar a diferença entre este e outro espaço, entre esta e aquela forma, e explicar os caracte- rísticas de cada porte da cidade. A este se juntam outros níveis de leitura que revelam diferentes conteúdos (históricos, económicos, sociais e outros) . Mos esse conjunto de leituras só é possível porque a cidade existe como facto físico e material. Todos os ins- trumentos de leitura lêem o mesmo objecto - o espaço físico, a FORMA URBANA. É esta leitura orquitectónica que me interessa e cuja validade procurarei provar, co- mo contributo poro a prática do desenho urbano. Retorno aqui o centro da polémico que nos últimos anos tem agitado o debate pro- fissional - «O cidade como lugar de arquitectura e onde esta encontra o seu pleno sig- nificado». A qualidade arquitectural da cidade não -pode ser entendida apenas pela realização de edifícios, e não basta ao arquitecto a competência na realização dos construções. A sua eficácia reside justamente na capacidade de entender e confrontar- -se com os problemas do planeamento, através do desenho urbano. Confesso também que o obrigação académica de produzir uma dissertação consti- tuiu urna oportunidade excelente de reflexão sobre este tema, ao qual tenho dado grande importância na minha vida profissional. Num país em que pouco se escreve sobre arquitectura, pareceu-me adequado que este trabalho pudesse cc..nstituir um balanço e reflexão sobre os problemas do desenho 3 1 ~ ' '- ,, . ' l . ...... ~ ... - ... ~\. . tt'' ........ ,._ .... ~, f I r ... -e-.,,, ~f"W"" , .. . , • i ... ..,_... .. ~ 1 . x :. ~ •\. ~ .. . .. a -.. .. ~ ~~ \ (, . 1-8. L•on Krier. Proposto poro o concurso de ordenamento de La Vilette, 1975 32 1-9. Plano de Renovação Urbano do Martim Moniz - l isboa. Arq. º'Carlos Duarte e Joié la- mas. 1980 33 e das morfologias urbanas . Tanto mais que sobre esta matéria são necessários estudos que ultrapassam a divulgação de opiniões pessoais ou o tratamento particular e disper- so de variadas questões. É também meu objectivo que este trabalho possa ser acessível, didáctico e orientador da aprendizagem, académica e profissional. Porque se as meto-dologias e técnicas do desenho urbano permitem traçar naturalmente quadrículas, quarteirões, ruas e praças, não parece seguro que a tal desenho corresponda o ade- quado reflexão disciplinar que a fundamente . Temos todos de saber porque riscamos e como riscamos, dentro de um campo disci- plinar comum e global, que, por ser comum e global, permita, aqui e ali, os rasgos par- ticulares da imaginação e da invenção. No mais, haverá que atingir um determinado grou de consenso, de unidade metodológica e cultural no desenho da cidade. Tarefa bem difícil, na medida em que o desenho é também espelho e produto da cultura e da visão pessoal dos seus autores. Mas, por isso mesmo, necessita de assentar em alicerces comuns. Tarefa importante, porque se trata, afinal , de reflectir sobre o meio próprio do homem, a cidade, ou seja, a maior criação da humanidade. Para finalizar, não resisto à amarga tentação de registar a enorme distância entre as preocupações deste trabalho e a prática profissional no nosso País, onde os proble- mas de urbanismo são encarados de modo disléxico e desinteressado. A urbanística portuguesa, parente pobre e distante da arquitectura (ela também não muito bem tratada) , não tem estatuto, e pouco preocupa responsáveis, autarcas ou Governos. Quanto muito, é encarada corno um mal necessário a que se recorre para organizar exigências de programas económicos, legitimar compromissos e permitir jogadas políti- cas, especulações imobiliárias ou sórdidos negócios. Assim, pareceriam desca bidoses- tas questões na triste e feia realidade portuguesa, se não fora pensar na formação dos jovens orquitectos, na inserção da cultura arquitectónica portuguesa e, finalmente, em nós, arquitectos, e em mim próprio, e na impossibilidade intelectual de escorraçar o sa- ber e a cultura. Espero sinceramente que o produto deste trabalho possa frutificar no prática urba- nística e no ensino, quanto mais não seja para permitir o debate, recordar factos, ligar hipóteses. Lisboa, Janeiro de 1990 34 PARTE II 1 A MORFOLOGIA URBANA 35 «Une succession d ' aventures d 'ôme c'est la vie de la cité. Mais le plein sens de lo vie ur- baine ne saurait s 'aquérir que si /' on distin- gue l'étre urbain, qui constitue en soi l'agré- gat social qui compose essentiellement la vil- /e, de la forme urbaine, autrement dit de l'ensemble des voies, constructions et espa· ces plantés por quoi lo vilfe s 'offre matériel- lement à nos yeux. Or, c'est à l'être qui s'appliquent les /ois biologiques. La forme n'est que la matiere inerte ou de la verdure que /' être a façonnée ou âisposée et qui, par conséquent, ne saurait se confondre avec /ui. Adéquote à ses besoins quand il la crée, elfe n'y correspond plus qu'imparfai- temenf quand ce sont les générafions sui- vantes qui utilisenf cette forme, conservée néamoins parce qu'il y a un fond permanent dons l'être. A cette forme oncienne ainsi mointenue, viennent s 'aiouter les formes nouvelles que ces générations mettent ou iour et qui sont /' expression de nouveaux besoins qui leur sont proposés. Les généra- tions successives qui composen f /' être s'écoulent: c'est la forme - qui reste - qui nous rend apparente l'ôme urbaine.• MARCEL PoHE Paris, son évolution créative (1 938) 2.1 A MORFOLOGIA URBANA O termo «morfologia » utilizo-se poro designar o estu- do do configura ção e do estruturo exte rio r de um objec- to. É o ciência que estudo os fo rmos, interligando-os com os fenómenos que lhes deram origem Pl. A morfologia urbano estudará essencialme nte os as- pectos exteriores do meio urbano e os suas relações recí- procos, definindo e explicando o paisagem urba no e o suo estruturo (2) . O conhecimento do meio urbano implico necessa ria - mente o existência de instrumentos de leitura que permi- tam organizar e estruturar os elementos apreendidos, e uma relação objecto-observodor. Estes dois aspectos defrontam-se com questões de objectividode no medido em que dependem de fenómenos culturais. Um texto de Cerosi elucido melhor esta questão: «Para descrever ou analisar a forma física de uma ci- dade ou mesmo de um edifício, pressupõe-se já a existên- cia de um instrumento de leitura que hierarquize a impor- tância dos diferentes elementos da forma. Assim, os fios de electricidade de uma rua não têm a mesma importân- cia na descrição do espaço físico dessa rua como a altura dos edifícios, etc. Portanto, o leitura, mesmo querendo-se objectiva, passa já por uma operação do cultura que selecciona os elementos, os hierarquiza e lhes atribui valo- res.» (3) O meio urbano pode ser objecto de múltiplos leituras, consoante os instrumentos ou esquemas de análise utilizados. No essencial, os instrumentos de análise vão fazer res- soltar os fenómenos implicados no produção do espaço. As inúmeros significações (4l que se encontram no meio urbano e na orquitecturo correspondem aos inúmeros fenó- menos que os originaram. A leitura disciplinar, se bem que rica de conteúdos e esclarecimentos sobre o objec- to, não o explicará totalmente, quer no suo configuração quer no seu processo de for- mação. Só o cruzamento de diferentes leituras e informações poderá explicar um ob- jecto tão complexo como o cidade. No entonto, é frequente que, na produção das for- mas urbanas, existo um fenómeno que seja determinante e , portanto que assumo ma ior 37 preponderância em qualquer análise. De igual modo, o arquitecto, a o «produzir» o seu espaço, poderá dar maior ênfase a este ou àquele aspecto, o qual se revelará mais evi- dente em análise posterior. Nos cidades octuois, certos formos apenas revelam uma total sujeição do urbanis- mo à rentabilidade do solo e à especulação fundiária. A destruição da paisagem rural e urbano portuguesa efectuada nos últimos trinta a nos revela, e bem, os condições cul- turais, políticas e sociais em que se projecta e se deixo construir em Portugal. A renova- ção imobiliário das «Avenidas• em Lisboa revelo com todo o evidência os condições de administração da capital e a ideia que do cidade e do gestão urbanístico têm os seus responsáveis técnicos e políticos . A morfologia urbano supõe a convergência e a utilização de dados habitualmente recolhidos por disciplinas diferentes - economia, sociologia, história, geografia, orqui- tectura, etc. - a fi m de explicar um facto concreto: a cidade como fenómeno ffsico e construído. Explicação essa que visa a compreensão total do forma urbana e do seu processo de formação. Com imprecisão de linguagem, no calão arquitectónico, muitas vezes as palavras morfologia e forma são usadas indistintamente e sem diferenciação de significado. Importa clarificar que a morfologia urbana é a d isciplina que estuda o objecto - a forma urbana - nas suas características exteriores, físicos, e na suo evolu- ção no tempo. ~ o justo título que a morfologia urbana se inscreve nos áreas do urbanismo, da orquitedura e do desenho urbano. Nesse sentido, poderei defini-la pelo estudo dos factos construídos considerados do ponto de visto do sua produção e na relação das partes entre si e com o conjunto urbano que definem [Sl . Esta noção levo a clarificar essencialmente três pontos: • A morfologia (urbana) é o estudo da forma do meio urbano nos suas portes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tem- po. T odavio, é necessário sublinhar que um estudo morfológico não se ocupa do pro- cesso de urbanização, quer dizer, do conjunto de fenómenos sociais, económicos e outros, motores da urbanização. Estes convergem na morfologia como explicação do produção da forma, mas não como objecto de estudo. • Um estudo de morfologia urbana ocupo-se da divisão do meio urbano em portes (elementos morfológicos) e do articulação destes entre si e com o conjunto que defi- nem - os lugares que constituem o espaço urbano (6). O que remete de imediato pa- ra a necessidades de identificação e clarificação dos elementos morfológicos, quer em ordemà feitura ou análise do espaço quer em ordem à sua concepção ou produ· ção. 38 • Um estudo morfológico deve necessariamente tomar em consideração os niveis ou momentos de produção do espaço urbano. Níveis esses que possuem, dentro do dis- ciplina urbanístico-orquitectónica, a sua lógica própria, articulada sobre estratégias político-sociais. Um estudo morfológico deve também identificar os níveis de produ- ção do forma urbana e os suas inter-relações. Ao longo da História, esses níveis foram, essencialmente, a formalização ou compo- sição urbana, a que poderei chamar cdesenho urbano•, e a realização das constru- ções. (O plano da cidade ou das suas partes e o projecto dos edifícios ou das diferentes construções.) Só mais recentemente surgiu outro nível: o da planificação e programação das quantidades, dos utilizações (organização quantitativo e funcional) e dos localizações, que, de um modo geral, precederá o desenho urbano. 39 -· i 1 - :- - .. ;;:::...,..._ -... _ .. -~ --~'---.. -- ,... __ _ cidade 2- l . FORMA URBANA: Taviro no sêc. xvt, segundo uma gravura do &poco. e planto do no sõc. xvtll 40 2 .2 A FORMA URBANA O conceito mais geral de forma de um objecto refere-se à sua aparência ou configu- ração exterior. Conceito que se pode apreender com facilidade e que faz parte da experiência quotidiana do Universo. Conhecemos os objectos e a sua formo. Mas tal conhecimento refere-se fundamentalmente a um instrumento de leitura - visual - ex- terior que não revelará certamente todos os conteúdos da forma. A descoberto de ou- tros conteúdos implico outros instrumentos de leitura. ' À morfologia urbana interessam, em primeiro lugar, os instrumentos de leitura ur- banísticos e orquitecturais - partindo do princípio de que as disciplinas de concepção do espaço têm instrumentos de leitura que lhes são próprios: a leitura da cidade como facto arquitectural. Esta posição implica aceitar que a construção do espaço físico passa necessaria- mente pela arquitectura 171. Então, a noção de cformo urbano» corresponderia ao meio urbano como orquitectura, ou seja, um conjunto de objectos arquitectónicos ligadg,s entre si por relações espaciais. A orquitectura será assim a chave da interpretação cor- recta e global da cidade como estruturo espacial. Refiro o importante contributo de Rossi, particularmente esclarecedor das relações entre arquitectura e cidade: cA forma da cidade corresponde à maneira como se organiza e se articula a suo ar- quitectura. Entendendo por 'arquitectura da cidade' dois aspectos: 'Uma monufoctura ou obro de engenharia e de arquitectura maior ou menor, mais ou menos complexo, que cresce no tempo, e igualmente os factos urbanos caracterizados por uma orquitec- tura própria e por uma forma própria'. Este é também o ponto de vista mais correcto para afrontar o probTema da forma urbano, porque é através da arquitectura da cida- de que melhor se pode definir e caracterizar o espaço urbano.» (BJ Neste contexto, o orquitectura não pode s~r compreendida senão como uma parte da cidade, como um acontecimento submerso num sistema complexo de relações (es- paciais e outras) com o resto do espaço urbanizado. A formo física é um dado real que predomino em qualquer descrição de uma cida- de: Aix-en-Provence é diferente de Paris ou de lisboa. O Cours Mirabeau é diferente dos Campos Elíseos ou do Avenida do Liberdade . A noção de cformo» aplica-se o todo o espaço construído em que o homem introduziu o suo ordem {9) e refere-se ao meio ur- bano, quer como objecto de análise quer como objectivo final de concepção orquitec- tónico. «Ü objectivo final do concepção é a formo. » ( to) O urbanismo assumirá no concepção da forma do meio urbano todos os contributos 41 ~ .. 1 i' 1 1 1 1 c.o.s •... . . . ............ . • • # ~, : -? de.~.11:.é r~u1tt.rt1tll t.- •• t !f t~I: • vof rf• ( 't d'c.cc. 4411 1-ç(J •• u •• • 1"!':. st.• t ~cPM-eeu.c. (9! <:! 1 v~. fl-. w. ,. : .11 1upu1:.s 1U1re1 (u1 r~t ... n ?, • • ~~1. t v r-f ec.e t:npr11t. rttt &c!ltl .. i:c. S, 'Z. n-<.ab r e de lc.izn&t:nt• ....... ,. ... ... "''6 OpérAt ioa •~;tlly-l' l ~!t..:t c .. o.s . .. .. .. . .. .. ... .. .. . ..... . ~.•2 dens-1 tê reat r!itntt e lle • •• 111 10&.f"~ ,,ol ::-ie. ... .. . .... . . . .. . ........ ?:":. ~t•tion~t . .. .... . ... . ..... .. r. e~pu:e~ lf.br es ('°1 n.at.i..rd ) •• J...'l. auTf&ee. 111119 r t.te reu1•sút:!!e. 1,l n<ntra de loaecie.nt1 ........ . ... 601 Opér ation L.a Cour tJHe c.o.s ... .......... . . . . .. . .. • 1,00. Ga.nsité res tdea t.f.tlle •• tYS ~~/\~ voi r1 t: re~idt-">t.1 e11 t .... ..... . 1C":. sta tionntrat:·nt . .. ........ . .. . ... 2)'"! t:spa.c e: s ltbces ( sol ts.at..-Td) • • :.n 1ur f.J:<• e1:o9rite r••! d>e. t.idh.1, l~ n cab r e d e l~ezat.nts ..... . ... . ... ,: 2 -2. DIFER ENTES FORMAS URBANAS relocionodos com os parâ me tros u rbanísticos e q uontito· ti vos 42 2-3. Diferentes o rg onizoções espacia is do mesma terreno, com diferentes densidades e ocupa- ções do solo, segundo o FULHAM STUDY. 1 e 2 - o mesmo densidade de 260 hob/ha , com dife- rente ocupação do solo. Em l , ó maio r libertaçõo de solo corresponde maior altura de edifícios. 3 e 4 - o mesmo te rreno estudado respectivomente para 380 hab/ha e 560 hab/ha 43 dos diferentes discipl inas e ciências que lhe estão ligadas. A forma urbano é o resultado final dos problemas postos às disciplinas urba nística e orquitectónica n 11. ~ necessário ter sempre presente que tonto a arquitectura como o urbanismo são disciplinas criativos cujo fim é uma intervenção no espaço, transformando-o. A concepção arquitectural é essencialmente formal 11 2i, ocupando-se não só da con- cepção dos diferentes factos construídos, mos também da definição dos ligações que podem existir entre a s edificações e os lugares por elas definidos. O seu domínio caracteriza-se fundamentalmente pela concepção do meio que o homem habita. A cforma» surge como resposta a um problema espacial (retomo Alexander}: cA formo é a solução do problema posto pelo contexto.» (l3l O u seja, a forma física torno-se o prqduto de uma acção e a solução de um problema . Chegado a este ponto, poderei definir o forma urbana como: a specto da realidade, ou modo como se organiza m os elementos morfológ icos que constituem e definem o es- paço· urbano, rela tivamente à materialização dos a spectos de organiza ção funciona l e quantitativo e dos aspectos qualitativos e figurativos. A forma, sendo o objectivo final de todo o concepção, está em conexão com o «desenho» (1 4), quer d izer, com os linhas, espaços, volumes, geometrias, planos e cores, a fim de definir um modo de utilização e de comunicação figurativa que constitui a «arquitecturo da cidade». Esta noção é mais vasta do que a que tende a reduzi r a formo apenas às caracterís- ticas dos objectos que podem ser perceptíve is; e só pode ser totalmente compreendido utilizando o arquitectura como disciplino de análise, e concepção do espaço. Antes de continuar, devo clarificar certas noções utilizadas: • Aspectos quantitativos - Todos os aspectos da realidade urbano que podem ser quantificáveis e que se referem a urna organização quantitativo : densidades, superfí- cies, fluxos, coeficientes volumétricos, dimensões perfis, etc. Todos esses dados quan- tificáveis são utilizados para controlar aspectos físicos da cidade. • Aspectos de organização funcional - Relacionam-se com os octividades humanos (habitar, instruir-se, trator-se, comerciar, trabalhar, etc.) e também com o uso de uma área, espaço ou edifício (residencial, escolar, comercial, sanitário, industrial, etc.), ou se ja, ao tipo de uso do solo. Uso a que é destinado e uso que dele se faz. • Aspectos qualitativos - Referem-se ao trotamento dos espaços, ao «conforto> e à «comodidade» do utilizador. Nos edifícios, poderão ser o insonorização, o isolamen- to térmico, o correcta insolação, etc., - e, no meio urbano poderão sercaracterísti- cas como o estado dos pavime ntos, o adaptação ao cl ima (insolação, abrigo dos ventos e dos chuvas), a acessibilidade, etc. Os aspectos qualitativos podem também ser quontific6veis através de parâmetros (os decibéis que medem a intensidade de conforto sonoro, o lux, como medido do conforto da iluminação, etc.) (lSl . 44 U +L.lC ~IGElll' 00 TECI'?<:> ~ÓMOTOR 'OL.6"'1&M-4&~ uQ.C)A.ltol1~T1C.O O. w&a1'?1a.c;.&Ô :llO<.• .à ... <: M L. /F!t~ ~>~._.~DA ~""1oa..a C1à BP.5~- LEGAL l-'LJ 2oo7 , o i... "" ~s 6 H • :1:> ... ... .36 2 4 2 PROCESSO i ~o "4 V-.I •<.. .,.._, .Z ~OOA,IC.. a •#1.A ~..,..a. """"ra.. .... .,... - .~l(à (C.'1 ,,..-.,,D}, CQCW ...... ""T'J-.Jo Jli9 ~.~ ~ Coo>#~ C-."<Af\.Án..o .~f"OC~ ..;.,,-;...,.. . ... asa~ e.a~ ~~o,~ ~~ ~1"6 Pfi. ,...f\.&IC.AJOJ • 61'14 t'\à&, ~ ~ ~ C..,,.,,JM·• ESIRUTURA URBANA ~~;,..,~~~~-.,. u.a.. a.o.,_ A.i..a~""""~ a.:..m~.......,SIO~ o.a Ui'~C.O IJ'Cl-&»60 ~ .. Ca~L ( fh.t.tri., IMIP•~. ~1"tr..~o) ~ Ãl'Lo~ fA:~:R~OT:~ FO~~: ha 1 NUMERO OE HABITANTES OEN;>IDAOE n . d! h•bit.ant.es / hal' 5 o d e fogos .. ha 6 ' NUMERO MEOIO OE PISOS 7 COEF OCUPAÇAO DO SOLO I 230 12 º ºº 46 E>oo 2To 77 B ONCICE DE CONSTRUCÁO 1 1. 2 o 9 j GRAU ~-~~~_!~!;".='_!?AO~ _ __2_ P.CESSIVEL O. 3S ~~S_!VEL ._PERCEPTl~L 1 CONSTRUIDO r-- - • .,_YISIVEI,, nào ACESSIVl I PERCEPT. nàç_ \{l.SJ..\l.E..l., _ 1 6 ,-· _ _ _ _ __Q"{ST. nS:oP!g~'t _ 17, SUP. ACESSIV_EL " HAB~T~NTE t 10 SUP. CONSTRJSU·~·~"._º_ ACES~~J 19 SUP. PRIVADA / SUP TOTAL 1 SUP nao ACESSIV -s~.;.. PRIVA 2Í ! --A~E_;--· l~~_?!_A_ - ~ l E.4& 22: DAS ~IV!A><IMA 1 '-""-231 PARCELAS l_!lllNIMA _ ___i -~ 2<l AREA de VIAS AUTOMDVEL " H"'\ 0 ,16 5~ Ai=iE_A = c;!e VIAS do! PEOES' ~~ O.~ 2s1 NUM~RC? de ESTACIONAM ':!1 o, 2. V~ TO~ & 27 SEPARAC· R EOES AUTO - e PE ..-<•4• 1-...,.--R- E- L -AC-_ --º-.~~ ~o~-_-A--~-10-~~~. ~~:_~ ~'!"~ -~-~ ~-=--_;_-_0~·~·-~--..~~-~--·~-~~...,...,~~~~~A~""6<.~~~-... _-_.-... _-_-.... _-:_-_--I , Ob•e':.::'._a_c_~e; =-· ~ ~ ~ ""~~_.. ~ c.AP~~ .»G. . .... , ..... K .:oMAM.b.J'tO -~-~~~ ~~c~~.Uc..A ~ e.:~~ ~-- L."'~·:·~ .... ~~"'-~....!'""'~""~~~~º'.__ª~-:.c~ ...... ~~..,~~~~~:='.::!:~;~~:._ _ _ __ ~----~-----~--~~~~~~~~~~-'I____ 2-4. Bairro de Alvalade, Lisboa - medição de porãmelros urbanísticos, segundo o estudo For- mas e Factores do Crescimento Urbano de lisboa, do Arq. 0 lsobel Coslo, 1978 45 • Aspectos figurativos - Os aspectos figurativos relacionam-se essencialmente com a comunicação estética. Retomarei este assunto mais tarde (1 61. Convém distinguir desde já aspectos qualitativos e estéticos, embora tenham uma área de sobreposição. Os aspectos qualitativos não são necessariamente estéticos; um ambiente com um oito grau estético não implica necessariamente uma boa comodida- de. Em formas urbanos e orquitecturas do passado, encontramos um alto grou de in- tenções estéticos, sem que o seu conforto e qualidade sejam assinaláveis. Inversamen- te, certos espaços actua is podem ser de qualidade (existência de espàços verdes, pas- seios limpos e cuidados, estacionamentos necessários, etc., mas sem que por isso mes- mo tenham grande interesse estético . ..:A octuol cidade antiga de Lisboa é um exemplo soberbo. Cidade degradado, o cair em ruínas, incómoda, cheia de passeios e vias esburacadas, sem as comodidades dos capitais europeias, e, no entanto, desprende-se dela uma intenso e perturbante beleza. Recordo A Cidade Branca, o filme de Aloin Tanner, em que Lisboa é de uma beleza trá- gica e melancólica. A beleza da ruína, o fascínio do decadência, certamente incómoda e desqualificada, mas portadora de uma mensagem estética inconfundível, ultrapas- sando o cenário e assumindo-se como protagonista. Fica uma interrogação que se aplica mais às novos produções de espaço do que à análise do passado: até que ponto se pode falar de qualidade e conforto com ausência de intenções estéticas e vice-verso? Esta questão poderia originar outra investigação. Finalmente, chamo elementos morfológicos às unidades ou portes físicas que, asso- ciados e estruturados, constituem a forma. Interesso estabelecer· quais os elementos morfológicos que são identificáveis tonto no leitura ou análise do cidade como no pro- cesso (urbanístico-arquitectónico) da sua concepção. Em primeiro lugar, os elementos morfológicos devem relacionar-se tanto com o es- calo de análise como de concepção do espaço. Quero com isto dizer que não serão os mesmos, segundo se trote de uma rua, de uma praça, de um bairro ou de uma cidade. Discutirei esse assunto mais tarde (17) . Interessará ainda acrescentar que a forma é um todo - são as leituras que o seccio- nam e dela podem extrair ou evidenciar certos aspectos ou partes da sua estrutura. E fi- co por aqui. FORMA E CONTEXTO Qualquer formo deve satisfazer um conjunto de critérios que se designo geralmente por «contexto» (18). 46 .-, ~ . numero de fogos e número de prédi~s ~~~. -- ~ - ... ~i m:m ' '· ..- 't 1' r .,7 ">0 l 2 J ' ' "º r:- 1 rJ_ ; ~ ~ ··~ ! 10 1 :· 1 : i 1 °""~ __. B - Tipologias habitacionais " v, C - Evolução dos aglomerados . D - Coeficientes de ocupação do solo nos quarteirões da Trafaria 2-5. Plano Geral de Urbanização do Trofario - Vila Novo - Costa de Caparica, 1980. Anõlise dos formos urbanos na órea do plano: A - número de fogos e número de prédios. B - Tipolo- gias habitacionais. C - Evolução dos aglomerados. D - Coeficientes de ocupação do solo nos quarteirões da T rafaria 47 -- • ' 't - '"'\ o. r~ - ~ »"' ~ :r 'f. .,, ; ..... . ; ~ ~ O contexto das formas arquitectónicas, ou urba nas, pode eng lobar tanto critérios funcionais como económicos, tecnológicos, jurídico ·administrativos (por exemplo, os relações entre o parcelamento e as formas urbanas) ou critérios de natureza estético, arquitect6nica. A multiplicidade de critérios e a suo natureza heterogénea desaconse- lham uma sistematiza ção, o qual pouco adiantaria às questões aqui abordadas. A cformo urbano• deve constituir uma solução para o co njunto de problemas que o planeamento urbanístico pretende organizar e contro lar. É a materia lização no espaço do resposta o um contexto preciso. Desde sempre o desenho da cidade teve de equa- cionar o contexto o que deveria respo nde r, e a través da a rquitedura. Ao longo do história do urbanismo, o va riação dos contextos originou diferentes propostas de desenho urbano, mesmo utiliza ndo elementos morfológicos idênticos. Entre as formos urbanas renascentista e barroca existem diferenças fundamentais que resultam de diferentes contextos históricos e culturais e das respostas fornecidas. Entre a perspectiva central, estática, da Renascença e a perspectiva dinâmica - do efeito cénico teatral - do Barroco, existem dois mundos profundamente diferentes. T oda vio os elementos morfológicos são semelhantes: ruo e praça , edifícios, facha- das e planos marginais, monumentos isolados. As diferenças resultam do modo como esses elementos se posicionam, se organizam e se articulam e ntre si poro constituir o es- paço urbano. Neste coso preciso, as diferenças são ditadas antes do mais por diferen- tes atitudes culturais. Esta será porte do explicação das formas . A mudança do contexto va i mudando os formas pelo necessidade de resposta a situações diferentes. FORMA E FUNÇÃO Entre os critérios do contexto, as funções têm um relevo particula r. Não seria senso· to negar os relações entre formo e função (1 9) que existem em toda o concepção orqui· tectónica e que se podem observar na arquitectura e na 'cidade. A forma terá de se re· !acionar com o função de modo a permitir o desenvolvimento eficaz dos octividodes que nela se processam. Neste sentido se percebe facilmente que uma fábrica seja dife- rente de uma habitação, ou um copo de uma garrafa. A discussão dos relações entre o formo e o função é muito a ntiga e tem acompanha- do o teoria do concepção orquitectónica . Ao longo da história, oimportância e o grou de determinismo dessa relação tiveram va ria ções profundos. Alberti t201, ao formular os princípios do orquitecturo, enuncia: o commoditas, rela- cionando o função liga do o um progra ma ; afirmitas, o estrutura que depende do técni- co; o voluptas, ou a qualidade formal, o u seja, o intenção estética. Posteriormente, 48 2-6. Antigos formos usados poro novos funções. OM. Ungers - Museu de Arquitecturo Frankfurt. Fachada e oxonométrico/corte. O temo do edifício dentro do edifício 49 Mies Von der Rohe define o especificidade da orquitecturo pelo «que é possível con'stru- tivamente, o que é necessário à utilização e o que é significativo como a rte• (211. Mas se os três princípios básicos do orquitecturo - a função, a construção e a arte - estão sempre presentes no orquitecturo e· no cidade, já o peso que cada um deles as- sume no processo criativo pode sofrer variações entre duas posições extremas: Uma posição «funcionolista», segundo a qual uma formo física que correspondo lo- gicamente aos problemas funcionais do contexto é belo, uma vez que o beleza é umo qualidade inerente a todo o sistema bem resolvido. No prática, o significado expressi- vo encontra-se na adequa ção do forma à função: FORM FOLLOWS FUNCTION m1- a célebre expressão de Sullivan - resume com ênfase esta posição. O «antifuncionalismo» aceita que a concepção da forma seja d itada de modo inde- pendente .por outros objectivos (nomeadamente estéticos), para criar a emoção ou o embelezamento do estrutura . Para o antifuncionalismo, as funções têm menor ou igual importância que outros cri- térios do contexto. Exacerbando esta posição, Peter Bloke escreveria FUNCTION FOL- LOWS FORM (23), ou seja, a próprio função também se adapta à forma - ou o mesmo fu nção pode coexistir e processar-se em formas diferentes. Em boa verdade, ambas as atitudes não são desprovidas de intenção estética. Mui- to pelo contrário, significam processos diversos de atingir o perfeição arquitectónico. As atitudes do funcionalismo e do antifuncionalismo poderiam parecer bizantinos, se se esquecesse que têm dominado de modo explícito ou implícito o debate arquitectó- nico e urbanístico nos últimos cinquenta anos. Até há cinquenta anos, a arquitectura e o urbanismo tinham sabido encontrar um equilíbrio sensato entre o utilitário e o artístico no relacionamento entre os formas e as funções. Todavia o Movimento Moderno contava no seu seio com muitos orquitectos funcio- na listas, para quem a função deveria assumir uma «feroz ditadura» sobre a forma. Uma tal atitude adaptava-se bem à estruturo intelectual racionalista. Fu ncionalismo e racionalismo combinavam no reacção contra os Beaux-Arts. Arte Novo e Artes Deco- rativas. Estes três períodos estéticos, admitiam não só o ornato e o decoração, mas também que a organização do edifício e da cidade fosse determinada por regras estéti- cas como a simetria, o equilíbrio, métricas, ritmos e proporções, os efeitos cénicos e vi- suais - todo um conjunto de manipulações que profanavam o despojamento ideológi- co e formal defendido pelos racionalistas e funcionalistas. Na cidade antigo, existia a mistura e a promiscuidade funcional. Haussmon, em Pa- ris, organiza os edifícios com utilizações diferentes por pisos - comércio no rés-do- chão, o casa do comerciante na sobreloja, a fam ília burguesa nos primeiro e segundo andores, e assim por diante, até aos empregados nas óguas-furtadas. O quarteirão ai- 50 2-7. Adaptação de antigas formas a novas funções. Restauro e adaptação do Colégio dos Jesuí- tas a Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada. Axonométrica do novo conjunto 5 1 bergovo habitações, pequenos indústria s, artesanato, ateliers e comércio, etc. E a com. plexidode fu ncional do cidade traduzia-se também pelo suo complexidade formal. t contra esta o rgon1zoçõo urbonistica e arquitectónica que se erguem os arquiteclos funciona listas que vão inHuir o Movimento Moderno. Um texto de Bruno T out sobre os caracteres do Movimento Moderno esclarece estas posicõ es ,7, .. Diz T out: ...... ...... ... ... .. ... ... ..... ... . .. . ... .. . ... ..... . .... ... .. .... ..... .. . .. . ..... . ......... « 1. A primeiro exigência de cedo e difício é conseguir a melhor utilização possível. « 2. Os materia is e sistema construtivos utilizados devem estar completamente subor- dinados o esta exigência primária. «3. A beleza consiste na relação directa entre o edifício e o finalidade, nos caracte- risticos adequadas dos materiais e no elegêncio do sistema construtivo. c4. A estético do nova orquitectura não reconhece qualquer separação entre fecha- do e planto, entre ruo e pátio, entre frente e traseiros. Nenhum pormenor vale por si mesmo, senão que forma parte integrante do conjunto. O que funciona bem tem uma apresentação assim mesmo boa. Já não cremos que algo tenha um as- pecto fe io, quando funcione bem. c5. Também o caso, no seu conjunto, tal como os seus elementos, perde o isolamen· to e o separação. Assim como as partes vivem na unidade dos relações recípro- cos, o casa vive em relação com os edifícios que a rodeiam. A coso é o produto de uma disposição colectiva e social. A repetição não deve já considerar-se como um inconveniente que se deve evitar, mas, pelo contrário, constitui o meio mais im- portante de expressão artística. Para exigências uniformes, edifícios uniformes, enquanto o anomalia fica reservada paro os casos de exigências singulares - quer d izer, sobretudo para os edifícios de importância geral e social.• Ma is tarde, o Carta de Atenas adepto idênticas posições. (25). O funcionalismo generaliza-se até ser facilmente adaptado, acabando numa verdadeiro obsessão que penetrou no linguagem e nas noções do quotidiano, determinando o gosto e o sentido estético o vários níveis . Os móveis são funcionais, e o vestuário, também. Qualquer equipamento, como os cinemas ou os teatros, etc., deve antes do mais, funcionar. Os critérios de avaliação dos projectos centram-se no funcion.omento do programa. A es· tético funcionalista estende-se ao desenho de interiores, à decoração, ao desenho in- dustrial, à modo e ao vestuário, e impregno a cultura pela e facilidade com que os seus conceitos e princípios puderam ser apreendidos e aplicados. O que antes foro estética de vanguarda, detentora da forço da mensagem inovadora, universaliza-se, torno·se acessível ao homem comum e como tal banaliza-se e é subvertido. O bom funcionamento torna-se por si só um item de qualidade. No vocabulário do 52 quotidiano, «moderno• é sinónimo de funcional - nada é verdadeiramente «moderno• que não seja funcional. E «funcional» é sinónimo de qualidade. Cinquenta anos depois dos palavras de B. T out, o estética funcional isto, embora já abastardado, ainda é universalmente aceite pelo consumidor comum. Qualquer dono de obro pretenderá apenas, ainda hoje, que um edifício funcione bem (seja funcional) , o que poro ele é suficiente, prescindindo da expressão de outros valores culturais do or- quitecturo. No entonto, assimilo sempre a beleza à boa resolução de um programo ou de um problema. A organização funcionalisto dos cidades anulou as considerações morfológicos. As relações quantitativas e distributivos, o zonomento e a atribuição de uma função exclu- siva o cada parcelo do território tornaram-se métodos universais do urbanismo, produ- zindo cidades monótonas e pouco estimulantes - eventualmente com tudo arrumado no seu lugar, mas sem lugar para a surpresa, a complexidade e a emoção. As teorias funcionalistas encontraram no urbanismo um campo de aplicação facili- tado. Para tal, muito contribuiu o simplismo das técnicos do zonamento, reduzindo a organização do cidade a uma distribuição lógico de zonas com programas específicos, facilitando a realização de edifícios, de preferência monofuncionais, repetitivos, fáceis de projectar e de executar. Se na cidade a aplicação e o utilização dos princípios fun- cionalistosparece ter tido forte incidência, já na arquitectura de edifícios as coisos se passaram de modo diferente. Como Peter Blake observo em FORM FOLLOWS FUNC- TION (26l, no orquitecturo moderna o forma nem sequer segue verdadeiramente a fun- ção, na medida em que muitos arquitectos continuaram a dar autonomia o outros valo- res, relações espaciais, caracteres construtivos e estruturais. Em boa verdade, raro foi o orquitecto que praticou o funcionalismo em sentido es- trito. A concepção serio dominada - e mais nos seus aspectos teóricos do que na práti- co do desenho - pelas preocupações de funcionamento. Todavia, em cada arquitecto, o formo foi tendo outros grous de autonomia. O funcionalismo foi, sem dúvida, uma teoria urbanística e arquitectónica, mas foi, antes do mais, uma estratégia do represen- tação desenhado e construído. No prática, traduziu-se mais pela imagem estética, grá- fica e espacial do que por uma correlação exceto da forma com a função. A observação da arquitectura e da cidade permite, de resto, comprovar a fragilida - de do funcionalismo dogmático, desmentindo as relações lineares de causa-efeito na relação forma-função. No seu conjunto, a cidade e a orquitectura apresentam uma di- versidade de significações e de espaços que traduzem outros critérios, mais do que uma simples organização funcional. Por outro lodo, uma mesma função pode existir convenientemente em formos distin- tos, A reutilização de antigos edifícios tem permitido obter excelentes resultados no grou de utilização, significação estética e quantidade ambiental, tontas vezes maior do 53 que em edifícios projectodos de raiz para o mesmo programa 127J. De resto, a reutilizo. çõo de edifícios é jo por si urna atitude não funcionalisto. Os espaços em que tudo se encontro programado para cada função têm-se revela- do extremamente limitadores e pouco versáteis no uti lização, e tontas vezes de grande pobreza formal. Nos cidades, o fragilidade do funcionalismo é mais evidente. A.s funções dos centros urbanos evoluíram, passando de lugares de defesa e de poder o lugares de comércio, services e trocas culturais . O s seus espaços foram recebendo essas d iferentes funções, sobrepondo-se com complexidade e d inâmico, bem permitida pelo capacidade deres· posto de troçados e formos urbanas à modificação funcional. O entendimento destas questões possa certamente por um equilíbrio de bom-senso. A função é um dos critérios do contexto, entre tantos outros, com o importância e o hierarquia própria dado pela visão cultural subiacente à concepção arquitectónico e urbanística. Tem certamente um estatuto de necessidade, mos não de suficiência, dado que também pode ser manipulada com maior ou menor liberdade. A concepção da forma não se esgota na correspondência o uma ou mais funções. Tem também motivações mais complexas e profundos - culturais e estéticas. Como Scrutton, diria que ao ideia de função de um edifício está longe de ser claro, nem está claro como é que determinada função deve ser transferido paro uma forma orquitec- tural. O que podemos dizer - declinando alguma teoria estética mais adequado - é que os edifícios têm usos e não deviam entender·se como se os não tivessem» 1781• A cidade e o espaço urbano têm usos e não deviam entender-se como se os não h· vessem - acrescento eu. FORMA E FIGURA (.,\.,f)fftos t'htético'I do urbanismo) 11.A forma orquitectónico de um fenómeno é, por um lado, a maneira como os portes ou estratos se encontram dispostos no objecto, e também o poder de explicitar e evidenciares· sa disposição. Estes dois aspectos sempre coexistiram. Todavia, se não existe objecto sem formo, esta tem poderes de comunicação estética dispostos em níveis muito diferentes. Chamaremos formo ao primeiro aspecto, e figura, ao segundo; o vOlor da figura nunca é nulo, pois que podemos reconhecê-la mesmo em níveis extremamente degradados. É unicamente através da figura que podemos descobrir o sentido do fenómeno e re· construir o totalidade, o pluralidade dos seus elementos construtivos e dos suas propos1· 54 2 .a Construcões clandestinos no perife ria de Lisboa 55 ções. A estrutura do concepção projectuol {o que caracterizo a obro orquitecturol) é de no- tureza eminentemente figurativo.» 129J G REGOm, VmoR10 li Territorio dell'architeffuro A intenção estética é inerente à humanidade, foz parte do nosso dia-o-dia, em todos os nossas acções. Do escolho do vestuá rio, em que o casaco combinoró com os sapatos, à disposição dos móveis numa habitação, à cor do automóvel, um sem-número de exemplos demonstro que a emoção e o prazer estéticos são inerentes ao quotidia no. É uma necessidade, que também se educo e se desenvolve e que tem manifestações primitivas, «selvogenS», eruditos e sofi.sticodas, ou completamente deturpadas. A estético do caso clandestina ou do emigrante, ou de edifícios projectados por de- senhadores, engenheiros, topógrafos ou simples curiosos, é exemplificativo. A amostragem de formos importados ou inventados pela s colagens dos mais deso- justodos inspirações revelo uma imaginação delirante de construção civil, sem informa- ção cultural arquitectónica. ~Sem aceitar essas manifestações pelo que significam de destruição do património orquitectónico e urbanístico, não poderei negar que procura m um sentido estético pró- prio, com regras que nodo têm que ver com a cultura orquitectónico, popular ou erudi- ta. t uma estética (ou antiestética) própria, fechada, e certamente explicável por nume. rosos fenómenos sociais, culturais, económicos, todos os que se quiser e muitos mais, excepto os arquitectónicosl Vulgarmente designadas por Kitsch, estas manifestações estética s significam no fun- do um outro gosto, ou ausência de gosto, diferente do cultura erudita e cortado de um relacionamento com a História, a sedimentação cultural e a civilização. A análise desta questão conduziria a estabelecer uma fronteira, ou zona de transi- ção, entre «construção civil» e carquitecturm>. Esta só existindo quando é ultrapassado a fase primário de simples ligação de elementos construtivos e técnicos, com vista a obter também efeitos estéticos de acordo com a cultura a rquitectónica . Chegado a este ponto, interessa-me definir os aspectos figurativos das formas urbo- nos. Entendo por «aspectos figurativos» os aspectos da forma que são comunicáveis através dos sentidos. E «figura», ao poder de comunicação estética da forma, ou seja, ao modo como se orga nizam as diferentes partes que constitue m a forma, com objecti- vos de comunicação. Nesta definição sigo de perto o texto de Vittorio Gregotti citado anteriormente. Esse texto retomo a diferença entre construção civil e arquitectura , ou entre cocupo· 56 2-9. Planto do Alhombro, Granado 57 çõo do solo» e «arte urbana». É pela o:figura• , ou através do mensagem figurativa, que a arquitectura e o arte urbano se revelam. Toda a acção que humaniza a paisage m pode conter objectivos e va lores estéticos que se comunicam através dos sentidos ou da percepção. Apesar da Forma não se resumir aos aspectos sensoriais - portanto perceptíveis-, estes são determinantes na suo compreensão. Sem querer abordar o teoria da percepção, citaria Aristóteles: e Nada existe no es- pírito que não tenho passado pelos sentidos.» O homem urbano está sujeito a sons, cheiros, calor, luz, estímulos visuais, climáticos, e outros, que actuam sobre os seus sis- temas perceptivos, através dos quais passam paro mensagens organizados e trotados pelo cérebro, produzindo o conhecimento do meio urbano. Não é objectivo aqui de- senvolver a teoria da informação (30) nem discutir as acções entre o transmissor (meio urbano) e o receptor (o homem), através de mensagens. Bosta registar o importância dos sentidos e da cultura na leitura fazer do cidade. Resumindo, direi que os valores estético5 só são comunicóveis através dos sentidos e que, apesar de as características do Forma não se resumirem aos
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