Buscar

ARBITRAGEM - A CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA E AUTONOMIA NEGOCIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA E AUTONOMIA NEGOCIAL
Revista de Arbitragem e Mediação | vol. 43/2014 | p. 129 - 153 | Out - Dez / 2014
DTR\2014\21096
Roberto G. La Laina
Mestre em Direito Civil pela PUC-SP. Advogado.
Área do Direito: Constitucional; Civil; Arbitragem
Resumo: Na condição de negócio jurídico bilateral ou plurilateral, a cláusula compromissória
deve ser assimilada em conformidade com os preceitos e teorias aplicáveis pela doutrina
civil na atualidade. Realizando retrospectiva em momento histórico relevante e explorando
teorias desenvolvidas por autores contemporâneos, busca-se distinguir autonomia da
vontade e autonomia privada e assimilar a concepção de autonomia negocial. Explorando-se
a evolução da doutrina contratual, o progresso do direito civil-constitucional e a participação
do Estado nas relações contratuais de natureza privada, revela-se a cláusula
compromissória como efetiva manifestação de autonomia negocial.
Palavras-chave: Cláusula compromissória - Compromisso arbitral - Convenção de
arbitragem - Autonomia da vontade - Autonomia privada - Autonomia negocial.
Abstract: The arbitration clause shall be analyzed under the Legal Transaction Theory in
accordance with the principles and concepts exposed by civil law scholars. By performing a
retrospective study in a noteworthy moment in history, taking into account postmodern
theories developed by scholars, it is possible to recognize the distinction between party's
internal will and party's will duly expressed and to learn the conception and evolution of
party autonomy as well. By exploring the improvement of the contractual doctrine, the
development of the Brazilian Civil and Constitutional Law and the participation of public and
governmental entities in certain contracts, it is possible to sustain the arbitration clause as
an expression of advanced party autonomy.
Keywords: Arbitration clause - Legal transaction theory - Party autonomy - Advanced party
Autonomy.
Sumário:
1. Introdução - 2. A cláusula compromissória: evolução e algumas particularidades - 3.
Natureza jurídica da cláusula compromissória. Breves ponderações - 4. Autonomia da
vontade vs. autonomia privada - 5. Aspectos históricos e esclarecimento de conceitos - 6. A
evolução da concepção de autonomia privada - 7. A cláusula compromissória como
expressão de autonomia negocial - 8. Bibliografia
1. Introdução
Pode-se definir cláusula compromissória (ou cláusula arbitral) como a convenção
contemplada entre duas ou mais pessoas, por meio da qual se comprometem a levar
futuras controvérsias decorrentes de determinado negócio jurídico para serem solucionadas
por arbitragem; ou, simplesmente, como a convenção mediante a qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato.1
No contexto internacional, Fouchard, Gaillard e Goldman a definem como “an agreement by
which the parties to a contract undertake to submit to arbitration the dispute which may
arise in relation to that contract”.2
Diversas são as concepções empregadas pela doutrina arbitral para definir a cláusula
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 1
compromissória, as quais se completam em sentido valioso. Todavia, apesar dessa
convergência, certos conceitos vêm se disseminando nos meios jurídicos em dissonância
com valores e preceitos consagrados pela doutrina civil na atualidade.
Exemplo pontual disso é o tratamento que parte dos arbitralistas confere à cláusula
compromissória, ao considerá-la expressão de autonomia da vontade.
Trata-se de equívoco técnico que vem se alastrando de forma praticamente instintiva nos
meios jurídicos e que deve ser esclarecido a serviço do direito e em benefício do instituto da
arbitragem – que não se trata de uma espécie de moda jurídica, sem relação com as
necessidades reais do país; mas, ao contrário, de um verdadeiro imperativo vinculado ao
seu desenvolvimento.3
2. A cláusula compromissória: evolução e algumas particularidades
A cláusula compromissória encontra-se acolhida pelo direito positivo.
A Lei 9.307/1996 (“Lei de Arbitragem”) a recepciona, com propriedade, no art. 4.º, caput.4
Encontra-se também prevista no art. 853 do CC/2002 brasileiro.5
Nos termos do art. 3.º da Lei de Arbitragem, a cláusula compromissória e o compromisso
arbitral são espécies do gênero convenção de arbitragem6 – e por compromisso arbitral
entende-se a convenção pela qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou
mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
Em épocas passadas, a cláusula compromissória era assimilada pela doutrina nacional como
um contrato preliminar (pacto de compromittendo), cujo objeto era justamente a realização
do compromisso7 (o compromisso8 arbitral).
Generalizou-se o entendimento de que o pacto de compromittendo não possuía efeito
vinculativo, o que o caracterizava como verdadeiro pactum nudum (ou nudum pactum),
passível de indenização somente.9 A jurisprudência, de forma pacífica, corroborava tal
pensamento10 e não conferia ao pacto de compromisso o efeito necessário para instauração
do procedimento arbitral.
Conforme relata Carlos Alberto Carmona, até o advento da Lei de Arbitragem, a cláusula
compromissória foi totalmente desprestigiada no direito interno brasileiro, de tal sorte que o
Código de Processo Civil não permitia a instauração do juízo arbitral a não ser na presença
do compromisso arbitral; entendiam os tribunais pátrios que o desrespeito à cláusula
arbitral não permitia a execução específica de obrigação de fazer, resolvendo-se o
inadimplemento em perdas e danos, reconhecidamente de difícil liquidação.11
Esses entendimentos encontram-se superados em razão dos avanços promovidos no direito
positivo, apesar de resistências ainda existirem por parte de alguns autores quanto à
assimilação de determinados conceitos.
Ao considerar a cláusula compromissória como “um contrato dentro de outro”,12 Sílvio de
Salvo Venosa assinala que:
“Por essas cláusulas ou pacto compromissório (termo que deriva de compromissum do
direito romano, conhecido na língua inglesa como submission agreement), as partes
comprometem-se a submeter-se a um futuro julgamento arbitral. Não se trata ainda de
estabelecer compromisso; cuida-se de contratação preliminar, promessa de contratar. A
relação contratual que se sujeita à arbitragem pode ser denominada contrato-base”.13
Interpretar a cláusula compromissória ainda como contrato preliminar não corrobora a
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 2
efetividade que a lei lhe confere como mecanismo concreto à instauração do procedimento
arbitral – efetividade essa que há décadas era almejada pelos defensores da arbitragem.
Com a previsibilidade de se instaurar o juízo arbitral por meio de execução específica,
quando a cláusula compromissória é desrespeitada por uma das partes, rechaça-se a
possibilidade de assimilá-la como contrato preliminar.
Trata-se de negócio jurídico autônomo, embora atrelado a outro.
Influenciado por instigações doutrinárias e legislações estrangeiras, o legislador brasileiro foi
diligente e, ao mesmo tempo, arrojado. Diligente, ao retirar da cláusula compromissória o
sentido de instrumento acessório, transformando-a em negócio jurídico autônomo e
independente, e conferindo jurisdição ao árbitro para decidir sobre sua própria competência
– para inclusive apreciar e julgar a validade da cláusula compromissória, assim como do
instrumento ao qual está atrelada.14 Arrojado, no sentido de romper paradigmas clássicos
que a qualificavam como pacto preliminar, conferindo-lhe força necessária para servir de
mecanismo concreto e efetivo à instauração do procedimento arbitral.15
O caráter “autônomo” da cláusula compromissória é a ela inerente. Reforça sua eficácia.16
A autonomia da cláusula compromissória é considerada princípio geral do instituto da
arbitragem. É, inclusive, consubstanciada mediante emprego de outros preceitos legais,
inclusive a boa-fé e o Kompetenz-Kompetenz (competência-competência17)– outro princípio
geral do instituto da arbitragem. Ambos se complementam. Trata-se, na prática, de uma
relação de coexistência, pois exercem, conjuntamente, funções agregadoras e benéficas à
cláusula compromissória e à arbitragem.
Afirma Pedro A. Batista Martins que:
“A Kompetenz-Kompetenz complementa o pressuposto da autonomia e com ele convive,
como siameses, pois a eficácia da autonomia alia-se à adoção do princípio da
competência-competência. Este, ao operacionalizar o preceito da autonomia, lhe assegura
efeito práticos, conferindo-lhe atuação concreta no mundo jurídico”.18
Com o advento da Lei de Arbitragem, a cláusula compromissória deixou de possuir o sentido
de pactum de compromittendo. Não acolhe mais o formato de pré-contrato, tampouco de
promessa de contratar.
Conforme ressalta Giovanni Ettore Nanni, deixou de ser mera promessa de comprometer-se.
19 É mecanismo efetivo de viabilização do procedimento arbitral. Não mais se trata de
simples obrigação de fazer, cujo inadimplemento deva ser resolvido mediante reivindicação
de perdas e danos. Não tem por objeto outro “ato jurídico” mas uma obrigação de fazer
específica, i.e. a obrigação de instaurar o procedimento arbitral, ainda que as partes
venham, quando do surgimento da controvérsia, firmar o compromisso arbitral. A obrigação
de fazer nela estipulada é dar início ao procedimento arbitral.
José Emilio Nunes Pinto enfatiza que:
“(…) o quadro se modificou de forma substancial. Além de outorgar à cláusula
compromissória execução específica (art. 7.º), atribui-se a ela, desde que possa
interpretá-la como cláusula completa ou, ainda, na terminologia arbitral, ‘cláusula cheia’, o
condão de ser suficiente e bastante para instituir a arbitragem. Por essa razão e nessas
circunstâncias, o compromisso passa a desempenhar um papel secundário, já que por força
do art. 5.º da Lei, proceder-se-á da forma prevista nas regras escolhidas”.20
Note-se que, apesar de ter perdido a condição de “convenção preliminar” após a vigência da
Lei de Arbitragem, a cláusula compromissória não perdeu seu caráter genérico. E nem
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 3
poderia. A cláusula compromissória acolhe número indeterminado de controvérsias futuras
em relação ao negócio jurídico ao qual está atrelada.21
Em meados do século passado, Roberto de Ruggiero já observava essa particularidade com
precisão, ainda que numa percepção desenvolvida na conjuntura de convenção preliminar:
“o que há de especial na cláusula é que nela as controvérsias, como eventuais e futuras, são
indeterminadas (…)”.22
Não obstante, apesar dos avanços promovidos no direito positivo, especialmente quanto à
previsibilidade da cláusula compromissória ser objeto de execução específica, parte da
doutrina especializada ainda não assimilou determinadas concepções e teorias, as quais
devem ser exploradas para o aperfeiçoamento técnico da cláusula compromissória e,
principalmente, para um propósito mais abrangente: contribuir para o desenvolvimento da
arbitragem no direito brasileiro.
A doutrina arbitral, salvo algumas exceções,23 vem qualificando a cláusula compromissória
como manifestação de autonomia da vontade. A disseminação imperfeita desta expressão
nos meios jurídicos é aspecto crítico e deve ser esclarecida. Não se trata de discussão
puramente terminológica e de contributos linguísticos superficiais. É questão técnica que
deve ser explorada justamente para o desenvolvimento da arbitragem no Brasil.
3. Natureza jurídica da cláusula compromissória. Breves ponderações
No universo em que está inserida, a cláusula compromissória não acolhe apenas uma mera
relação intersubjetiva.
A cláusula compromissória gera consequentes obrigações correlativas: uma imediata, que
se estabelece entre os próprios signatários; outra que se projeta para o futuro e abrange os
signatários e o árbitro ou corpo de árbitros; e, no caso de árbitros múltiplos, mais uma, que
também se projeta para momento futuro e se estabelece entre os integrantes que formarão
o tribunal arbitral.
A cláusula compromissória não abriga elementos essencialmente patrimonialistas, como
aparentemente se idealiza, já que nos contratos há sempre um sentido patrimonial
enraizado, na medida em que se impõe uma função própria e que é inerente à sua
natureza.
Segundo Judith Martins-Costa,
“O âmbito precípuo dos contratos é, portanto, o campo das relações patrimoniais, sendo sua
função própria formalizar operações econômicas de circulação de riquezas, isto é, operações
de circulação de bens entre um patrimônio e outro – tanto assim é que o contrato é
considerado, de per si, justa causa para a circulação de riquezas entre patrimônios,
configurando a estrutura jurídica par excellence para justificar atribuições patrimoniais”.24
A cláusula compromissória não promove a circulação de riquezas, nem a constituição de
riquezas. Ainda que o instituto da arbitragem possa ser assimilado como mecanismo capaz
de assegurar tais atributos, estes não se encontram estabelecidos na essência da cláusula
compromissória.
Possui, assim, natureza distinta, com características muito mais negociais do que
meramente contratuais.
É negócio jurídico. Deve ser assimilada em conformidade com os preceitos que abalizam a
teoria do negócio jurídico, especialmente por meio de uma percepção estrutural,25 como
fato jurídico que, por causa de suas circunstâncias, é visto socialmente como declaração de
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 4
vontade.
Conforme leciona Antônio Junqueira de Azevedo:
“Uma concepção estrutural do negócio jurídico, sem repudiar inteiramente as concepções
voluntaristas, dela se afasta, porque não se trata mais de entender por negócio um ato de
vontade do agente, mas sim um ato que socialmente é visto como ato de vontade destinado
a produzir efeitos jurídicos. A perspectiva muda inteiramente, já que de psicológica passa a
social. O negócio não é o que o agente quer, mas sim o que a sociedade vê como a
declaração de vontade do agente. Deixa-se, pois, de examinar o negócio através da ótica
estreita do seu autor e, alargando-se extraordinariamente o campo de visão, passa-se a
fazer o exame pelo prisma social e mais propriamente jurídico”.26
Em apertada síntese: o negócio jurídico existe independentemente da vontade, a qual é
apenas um meio de correção do negócio, no sentido de evitar efeitos não queridos pelo
agente.27
É nesse contexto que a cláusula compromissória deve ser compreendida e assimilada.
4. Autonomia da vontade vs. autonomia privada
A doutrina clássica, representada por renomados civilistas, conferia à autonomia da vontade
sentido que atualmente pode ser atribuído à autonomia privada.
Para San Thiago F. Dantas, por exemplo, o princípio da autonomia da vontade, “se traduz,
em primeiro lugar, na liberdade reconhecida às partes de estipularem o que lhes convier,
fazendo de sua convenção uma verdadeira norma jurídica, que entre elas opera como lei”.28
Trata-se, entretanto, de acepção equivocada que se amolda muito mais à concepção de
autonomia privada.
Na mesma linha são os entendimentos de Limongi França: “é o princípio por força do qual
as partes têm ampla liberdade para contratar, sendo de se assinalar que se caracteriza por
dominar as estruturas individualistas”.29
Esses pensamentos encontram-se superados. Não condizem mais com os conceitos
atualmente empregados neste campo do direito.
Influenciada pela doutrina clássica, parte dos arbitralistas e operadores do direito ainda não
assimilou adequadamente a distinção entre autonomia da vontade e autonomia privada,
tampouco a acepção de autonomia negocial, e vem considerando inadequadamente a
cláusula compromissória como expressão do princípio da autonomia da vontade.
Deve-se corrigir essas interpretações equivocadas, as quais se justificam muito mais em
função de fatores atinentes à formação acadêmica dos juristas e operadores do direito do
que por motivos ideológicos, puramente conceituais ou de qualquer outra natureza.
Formados num períodoem que a autonomia da vontade era lecionada e assimilada sem que
se levassem em conta certos aspectos atinentes à distinção entre vontade interna e a
respectiva exteriorização, i.e. a manifestação da vontade qualificada, ou seja, a declaração
da vontade, muitos autores ainda cultivam a expressão autonomia da vontade em sentido
que se encontra superado.
Por esse motivo, parcela da doutrina ainda não apreendeu os ensaios desenvolvidos pelos
civilistas contemporâneos, que convergem no sentido de atribuir significado adequado à
autonomia da vontade e percepções semelhantes relativamente às concepções de
autonomia privada e de autonomia negocial.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 5
Segundo Menezes Cordeiro, “a autonomia privada é um instituto geral de todo o Direito
privado. Ela pode ser apresentada como liberdade ou autonomia contratual ou como
liberdade ou autonomia negocial, quando se tenha em vista a celebração de contratos ou de
negócios”.30
Já Eduardo Silva da Silva sustenta que “a autonomia negocial enquanto autonomia para
efetuar negócios jurídicos é concebida como derivação e especificação da autonomia
privada”.31
Atualmente, os civilistas se alinham na medida em que conferem à autonomia da vontade
sentido preciso, assimilando o elemento liberdade de acordo com o caráter estritamente
subjetivo que a ela é inerente. Esses entendimentos devem ser absorvidos pela doutrina
arbitral, para que os arbitralistas possam assimilar com propriedade a distinção entre
autonomia da vontade e autonomia privada e conferir à cláusula compromissória o
tratamento apropriado.
Para tanto, é oportuno observar através da história do Direito, ainda que de forma sintética,
certos aspectos, para esclarecer conceitos acerca da vontade, especialmente a partir do final
da Idade Moderna, muito embora a autonomia privada já se apresentasse nas relações
desenvolvidas na Idade Média e, inclusive, em períodos precedentes.32
5. Aspectos históricos e esclarecimento de conceitos
Regressando ao período pré-Revolução Francesa, caracterizado pelo surgimento de
pensamentos revolucionários, contrários aos privilégios até então assegurados à nobreza e
ao clero, e que posteriormente viriam a alimentar a consumação da própria Revolução e a
servir como embasamento à criação de institutos e ordenamentos jurídicos,33 destacam-se
dois importantíssimos filósofos que prestaram valiosos serviços não apenas à história e à
filosofia, mas, principalmente, ao Direito.
É a partir de Jean Jacques Rousseau e Immanuel Kant que surgiram diversas correntes que
revolucionaram a sociedade e o próprio ambiente jurídico dos séculos seguintes.
Independentemente de qualquer julgamento ou crítica aos respectivos pensamentos,
Rousseau e Kant foram responsáveis pelo desenvolvimento de teorias e conceitos que são
até hoje utilizados no meio jurídico,34 ainda que de maneira parcial, relativizada ou
adaptada.
Em Rousseau, encontra-se o início do individualismo jurídico, notadamente ao basear o
direito no consenso de vontades, aprimorando a teoria do consensualismo jurídico que,
apesar de não ter sido por ele lançada, é nele que atinge seu sentido pleno e, com isso,
ganha notoriedade. O direito era para Rousseau uma livre criação da vontade dos
indivíduos,35 e a vontade geral – designação essa atribuída pelo próprio Rousseau – seria
sempre a vontade da sociedade.36
Por seu turno, Kant aprimora o individualismo jurídico, que passou a se manifestar pelo
predomínio absoluto da razão subjetiva como única norma do direito, e não no arbítrio
individual.
A liberdade passa a ser o único direito inato do homem. Direito e moral assim se dividem,
conforme regulam a liberdade externa ou interna. Legalidade e moralidade dirigem
respectivamente os atos exteriores e interiores do homem. O direito natural repousa sobre o
conceito de liberdade individual e está, como a moral, subordinado à sua concepção geral
da autonomia da razão e da vontade, independentes de qualquer finalidade.37
Através da obra Fundamentos da metafísica dos costumes,38Kant propôs a autonomia como
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 6
constituição da vontade.
Assinala Eros Grau alguns dos pensamentos de Kant da seguinte maneira:
“Em Kant opera-se a sistematização da independência do direito em relação à moral: a
moralidade encontra seu fundamento na liberdade interna da vontade, que porta em si a
regra moral e é autônoma, independendo de qualquer lei (…); o direito, ao contrário,
respeita a liberdade externa da vontade, submetida ao império da lei, à coação exterior (…)
as leis não impõem nenhuma obrigação moral, pois o direito não é dotado de conteúdo
moral; para o direito basta a legalidade (…), sem nenhum atendimento a motivos éticos; ao
direito é inerente a coatividade, como condição da coexistência das liberdades de todos
(…)”.39
A racionalização do direito representava uma forma de individualismo voluntarista e
indicava, por outro lado, a exteriorização do direito, uma redução a um simples corpo de
regras, capazes de conter as liberdades individuais em choque na sociedade.40
Embora tenham origem previamente ao individualismo jurídico, os princípios da autonomia
da vontade e da autonomia privada começam a se aprimorar a partir deste movimento,
atrelando-se na expressão de liberdade, ainda que a distinção conceitual entre ambos fosse
desenvolvida muitos anos depois.
Desvendou-se, a partir daquele momento, que a vontade, assimilada como razão subjetiva
do indivíduo, necessitava ser integralmente transportada ao plano externo para sua
revelação. Somente através da efetiva vinculação dos elementos interiores com os
exteriores, a transmissão dos anseios internos ao campo externo, é que esse animus
kantiano se revelaria. E uma vez coerentemente revelado, manifestada a vontade estaria.
A teoria da autonomia da vontade, embora não tenha sido formulada por Kant em sua
gênese, é em Kant que se aprimora, ao considerar a liberdade como o único direito inato do
homem. Por seu turno, a autonomia privada – também relacionada ao conceito de liberdade
– possui, da mesma forma, componentes derivados dos pensamentos de Kant, em função
da necessidade de se transmitir a vontade interior ao plano externo para a respectiva
revelação.
Não obstante as proposições de Rousseau e, principalmente, Kant, as distinções entre
autonomia da vontade e autonomia privada somente viriam a ser desvendadas e
aprimoradas pela doutrina a partir da segunda metade do século passado.
Exalta-se, nesse sentido, a contribuição prestada por Luigi Ferri, ao definir, com primazia,
autonomia da vontade e autonomia privada e apontar a existência de diferenças cruciais
entre tais concepções.41
Ainda que Emilio Betti tenha, da mesma forma que Luigi Ferri, contribuído (e de fato
contribuiu) para desenvolver a concepção de autonomia privada, ao conferir à autonomia
sentido naturalístico (qualificando-a, em apertada síntese, como fato natural, existente nas
relações humanas previamente ao respectivo acolhimento pelo direito positivo42), é em Ferri
que a teoria da autonomia privada encontra sua base sólida.
Alimentada principalmente pelos ensinamentos de Luigi Ferri, parcela da doutrina aderiu às
suas convicções e conseguiu enxergar a distinção entre aludidos princípios e, inclusive,
desenvolvê-los com propriedade.
Através das percepções de Ferri, foi possível identificar que a autonomia da vontade
apresenta conteúdo voluntarista e psicológico, que envolvem os anseios interiores do
indivíduo.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 7
Trata-se da liberdade conferida naturalmente às pessoas para atuarem de acordo com seus
anseios; a liberdade que as pessoas possuem para agir ou se manifestar a respeito de
determinada situação, de acordo com suas vontades.
Por seu turno, a autonomia privada aplica-se como prerrogativa assegurada aos sujeitos de
direito, munidos de capacidade para criarem regras específicas para suas relações
contratuais e, deste modo, sujeitarem-se aos respectivosefeitos.
Confere-se “poder” aos sujeitos de direito para assentarem aquilo que lhes seja conveniente
e atribui-se, à correspondente convenção, força de norma jurídica.
Segundo Rosa Maria de Andrade Nery:
“Pode-se afirmar que a ideia da autonomia da vontade liga-se à vontade real ou psicológica
dos sujeitos no exercício pleno da liberdade própria de sua dignidade humana, que é a
liberdade de agir, ou seja, a raiz ou a causa de efeitos jurídicos. Respeita, portanto, a
relação entre vontade e declaração e é um desdobramento do princípio da dignidade da
pessoa humana, porque destaca a liberdade de agir da pessoa, sujeito de direitos. A
autonomia privada é outra coisa. É princípio de direito privado. Situa-se em outro plano,
ligada à ideia de poder o sujeito de direito criar normas jurídicas particulares que regerão
seus atos (…) A autonomia privada, como fonte normativa, é fenômeno que permite que o
sujeito celebre negócios jurídicos (principalmente negócios jurídicos bilaterais, ou seja,
contratos), que são extraordinários mecanismos de realização de direito, na medida em que
o negócio jurídico é um modo de manifestação de normas jurídicas (ainda que
particulares)”.43
Diogo Leonardo Machado de Melo, utilizando-se dos ensinamentos de Luigi Ferri, sustenta
que a autonomia privada se caracteriza como poder normativo e o negócio como fonte
normativa. Assinala, ainda, que a concepção do direito como vontade objetiva não exclui a
ideia de que a norma pode ser criada por sujeitos.44
Em suma, é através do princípio da autonomia privada que se assegura às partes o direito
de estipular aquilo que anseiam e, com isso, atribuir o valor de norma à correspondente
convenção. É a prerrogativa que confere às partes a liberdade de celebrar negócios
jurídicos, de convencionar, fazendo dessa convenção a força de norma jurídica que
governará a relação intersubjetiva.
Com efeito, torna-se perceptível que a cláusula compromissória não é manifestação de
autonomia da vontade.
Porém, tal constatação ainda é insuficiente para revelar sua verdadeira expressão. É preciso
assimilar a evolução da concepção de autonomia privada.
6. A evolução da concepção de autonomia privada
A concepção de autonomia privada ingressou numa fase de profunda transformação no final
do século passado, absorvendo novos valores que se tornaram exigíveis pelo direito ao seu
tempo.
Dois enfoques podem ser conferidos à evolução da concepção de autonomia privada a partir
das últimas décadas do século passado: (i) um que se relaciona com o desenvolvimento da
doutrina do contrato e do próprio direito positivo; (ii) outro que envolve a participação do
Estado, de empresas públicas e sociedades de economia-mista nas relações contratuais de
natureza privada, assim como a participação de particulares e entidades privadas que
tutelam interesses coletivos ou difusos.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 8
6.1 A nova doutrina contratual e o desenvolvimento do direito positivo
Em razão de fatores históricos e socioeconômicos decorrentes do desenvolvimento do
liberalismo econômico, o instituto do contrato – expressão jurídica máxima da liberdade
contratual45 e que havia se tornado fundamental ao progresso das mais diversas economias
e mercados – passou a receber inspirações não apenas de preceitos do Direito Público, mas,
principalmente, de ideais sociológicos.
Além do princípio da supremacia da ordem pública, que se apresentava como instrumento
de equilíbrio entre os interesses individuais e os sociais e, portanto, predominante sobre
ideais clássicos do individualismo, outros valores passaram a ser considerados com vistas a
evitar os excessos do preceito de liberdade que o individualismo havia expandido – preceito
este que, em determinadas circunstâncias, era antagônico ao próprio direito que a liberdade
expressava.
Fatores ético-sociais começaram a interferir na esfera privada com o objetivo de “balancear”
as relações econômicas, proteger as partes contra os excessos e abusos que as próprias
relações passaram a permitir, zelar pelos desequilíbrios injustamente desenvolvidos na
vigência contratual, assim como garantir a segurança indispensável ao próprio direito.
Com efeito, amadureceu-se a necessidade de ajustar o instituto do contrato à evolução das
relações socioeconômicas. Desenvolveram-se novos preceitos, os quais se inserem na
denominada nova teoria contratual.
Sinteticamente, entende-se por nova teoria contratual a percepção evoluída da doutrina do
contrato, por meio da qual se valoriza o indivíduo como pessoa humana e integrante da
sociedade, se promove a humanização do direito contratual em prol do interesse social e se
enaltecem aspectos ético-sociais.46
Encontra motivação em três princípios, basicamente: o princípio geral da boa-fé;47 o
princípio da função social do contrato;48 e o princípio do equilíbrio econômico.49
Aludidos princípios, que possuem fundamentação legal não apenas em normas postas, mas
inclusive no direito pressuposto,50 passam a conviver e a harmonicamente se relacionar
com os princípios clássicos do contrato,51 inclusive o princípio da autonomia privada,52 o
princípio da intangibilidade do conteúdo do contrato53 e o princípio da relatividade dos
efeitos do contrato.54
Por meio da nova teoria contratual, a autonomia privada passa a ser ponderada em
conjugação com outros preceitos,55 com vistas a evitar abusos, injustiças e inseguranças às
contrapartes, a terceiros e à coletividade.
A intangibilidade do conteúdo do contrato passa a ser interpretada de forma mais flexível,
sem perder, contudo, seu caráter normativo-disciplinador.
A relatividade dos efeitos do contrato é remodelada para evitar injustiças a terceiros de
boa-fé que, embora alheios à relação contratual, possuem com ela algum interesse ou
vínculo indireto, como o terceiro prejudicado pelo descumprimento de obrigação contratual
e o credor prejudicado pelo comportamento de terceiro.56
Promove-se, desta forma, uma nova dimensão axiológica aos princípios contratuais
clássicos. Impõem-se limites e restrições ao brocardo pacta sunt servanda, visando garantir
equilíbrio entre as vontades dos contratantes e os interesses da coletividade. Busca-se
restringir os excessos que a liberdade de convencionar tolera. Busca-se assegurar que
terceiros, e a própria coletividade, não sejam injustamente afetados por situações
decorrentes de relações intersubjetivas das quais não participam diretamente.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 9
Com efeito, as mudanças conceituais pregadas pela doutrina transmitiram-se e refletiram-se
no direito posto, encontrando fundamento concreto na norma positiva.57
Assinala Renan Lotufo que:
“Os valores não foram feitos para serem simplesmente admirados como inatingíveis, hão
que ser realidade conquistada pela atividade dos que creem no Direito e têm sede de
Justiça. A Teoria Geral dos Contratos tem de servir para a boa aplicação das regras relativas
a este instrumento excepcional que o direito pôs à disposição da vida em sociedade”.58
A nova doutrina contratual passa a ser acolhida pela legislação brasileira, tanto na esfera
constitucional quanto infraconstitucional, inclusive e especialmente o Código Civil.
Os novos princípios contratuais, que se encontram abalizados em preceitos e dispositivos
constitucionais, assim como na eticidade59 e na socialidade60 – dois dos princípios
norteadores do diploma civil – fixaram-se na esfera privada e reforçaram valores
fundamentais à concepção de direito na contemporaneidade, como a dignidade da pessoa
humana,61 a solidariedade,62 o bem-estar, a paz, a segurança e a liberdade (ética e
socialmente reta), além de atuarem como expressões do princípio neminem laedere.63
Embora o Código de Defesa do Consumidor e a própria Constituição Federal tenham
colaborado para que a autonomia privada ingressasse no século XXI influenciada pelos
ideais presentes em um direito muito mais social do que individual, valiosa contribuição foi
prestada pelo Código Civil.
A cláusulageral da função social do contrato (art.421 do CC/2002), consagra-se como fator
limitador aos excessos que a liberdade de convencionar tolera, deixando a autonomia
privada de ser soberana na composição do vínculo contratual.
A cláusula geral de boa-fé (art. 422 do CC/2002), traz à esfera privada os deveres laterais
da boa-fé objetiva, exigindo-se das partes, no decorrer de todas as etapas da relação
obrigacional, padrões de comportamento e conduta fundados principalmente na lealdade e
na confiança.
Trata-se da consagração expressa do princípio segundo o qual as relações contratuais se
devem pautar não apenas pela autonomia e liberdade das partes, mas igualmente pela
lealdade e pela confiança.64
O princípio do equilíbrio do contrato encontra-se refletido nos arts. 423 e 424 do CC/2002,
os quais asseguram que nos contratos de adesão deve prevalecer a interpretação mais
favorável ao contratante aderente.
Encontra-se também inserido nos arts. 478, 479 e 480 do diploma civil, que disciplinam a
onerosidade excessiva,65 e está diretamente atrelado ao princípio da igualdade substancial,
66 inserido no art. 3.º, III, da CF/1988, assim como ao princípio da justiça social,67 também
encravado no texto constitucional, nos arts. 3.º, 170 e 193.
Absorvendo as influências dos valores ético-sociais e transpondo o formalismo exasperado e
os aspectos puramente patrimonialistas que prevaleceram no Direito Civil do século
passado, a autonomia privada se consolida através do direito positivo.
A liberdade de convencionar passa a ser considerada em conjugação com outros preceitos,
a fim de evitar abusos, injustiças, inseguranças às contrapartes, a terceiros e à sociedade.
Conforme aponta Rosa Maria de Andrade Nery:
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 10
“O contrato, expressão jurídica máxima da liberdade contratual, deve ser estudado não
apenas sob o ponto de vista de sua base subjetiva, ou seja, da manifestação da liberdade
negocial das partes, mas também, e principalmente, sob o ponto de vista de sua base
objetiva e, por que não dizer, de sua função social”.68
Passa-se a operar à autonomia privada limites e restrições, com embasamento nessas
atualizadas concepções “jurídico-sociológicas”69 e influências de dispositivos constitucionais,
assim como de fatores socioeconômicos e outros elementos, inclusive normas pressupostas,
sem que isso possa representar transgressão ao brocardo pacta sunt servanda.
Com isto, a intangibilidade contratual passa a ser interpretada de maneira mais flexível,
sem perder, contudo, seu caráter “normativo”.
Os preceitos que alimentaram (e alimentam) a denominada nova doutrina do contrato, ao
contribuírem para o aperfeiçoamento da autonomia privada, inserem-se,
consequentemente, no contexto da cláusula compromissória.
Inegavelmente, não haveria como ignorar todo esse processo e o consequente impacto no
ordenamento jurídico brasileiro, ao se promover uma avaliação incisiva da cláusula
compromissória através da dogmática70 civil contemporânea.
6.2 O estado nas relações privadas e a autonomia negocial
Concomitantemente a esse processo de evolução da concepção de autonomia privada e,
inclusive nele inserindo-se, resolve-se a superação de conceitos rígidos que
tradicionalmente distinguem direito público e direito privado.
Conforme destaca Pietro Perlingieri, se em uma sociedade com uma nítida distinção entre
liberdade do privado e autoridade do Estado é possível distinguir a esfera do interesse dos
particulares daquela do interesse público, em uma sociedade como a atual, torna-se árdua,
se não impossível, individuar um interesse privado que seja completamente autônomo,
independente, isolado do interesse chamado público.71
Os interesses privados e os interesses públicos ganham um significado histórico que não
permitem uma classificação rígida e dogmática que reproduza experiências já superadas,
passando o Direito Civil a ser assimilado, não como antagonista do direito público, mas
como aspecto do ordenamento na sua unidade funcional.72
No alerta do civilista italiano, resta individuar uma nova sistematização do direito para
superar a mentalidade segundo a qual o direito privado é liberdade dos particulares de
cuidar, por vezes, arbitrariamente, dos próprios interesses, enquanto o direito público,
manifestação de autoridade e soberania, oferece as estruturas e os serviços sociais a fim de
permitir ao interesse privado a sua livre e efetiva realização.73
Nesse sentido, é interessante ressaltar as lições de Selma M. Ferreira Lemes relativamente
ao “novo” papel exercido pelo Estado na economia brasileira, ao observar as mudanças
sucessivamente efetuadas na Constituição Federal da República do Brasil de 1988, por meio
de Emendas Constitucionais, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento do País e
rever o papel do Estado na economia, que deixou de ser “empresário” para se tornar
“agente regulador e fomentador” das atividades realizadas pelo setor privado.74
Desenvolve-se o conceito de autonomia negocial, remodelando e ampliando-se a acepção de
autonomia. E, mais uma vez, não se trata de discussão de conteúdo puramente
terminológico.
Assimala Pietro Perlingieri que:
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 11
“A locução autonomia privada pode induzir em erro: qualquer que seja o sentido que se
queira dar ao atributo ‘privada’ corre-se o risco de gerar sérios equívocos (…) de modo que
a locução mais idônea a acolher a vasta gama das exteriorizações da autonomia é aquela de
‘autonomia negocial’, enquanto capaz também de se referir às hipóteses dos negócios com
estrutura unilateral e dos negócios com conteúdo não patrimonial. Querendo, pois, propor
um conceito de autonomia (não privada ou contratual, porém) negocial mais aderente à
dinâmica das hodiernas relações jurídicas, pode-se descrever o referido conceito como o
poder reconhecido ou atribuído pelo ordenamento ao sujeito de direito público ou privado de
regular com próprias manifestações de vontade, interesses privados ou públicos, ainda que
não necessariamente próprios.75
Para Heloísa Helena Barboza, a autonomia negocial aproveita uma vasta gama de
exteriorizações da autonomia, que se refere não só a negócios bi ou plurilaterais de
conteúdo suscetível de apreciação econômica, como também, e não menos significativa, de
negócios unilaterais de conteúdo não patrimonial.76
A autonomia negocial não é apenas um princípio jurídico do Direito Privado ou um
poder-faculdade; trata-se de uma órbita de autorregulação dos interesses privados, posta
ao lado de outras esferas de juridicidade, tais como a órbita pública ou social.77
Ao contemplar negócios jurídicos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis, o Estado –
assimilado não apenas como ente governamental e soberano, mas como sujeito de direito
capaz de firmar negócios jurídicos bi ou plurilaterais, inclusive instrumentos contratuais
atípicos e inominados, com pessoas físicas ou jurídicas e entes públicos ou privados –
contribui para com o aprimoramento da liberdade de convencionar ou, em outros termos,
para a liberdade de negociar, conferindo a esta convenção ou negociação a força de norma
jurídica que governará relação intersubjetiva.
Em outros termos, a participação do Estado e de seus entes organizados e personalizados
em negócios jurídicos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis colaborou para a
readequação conceitual de autonomia negocial.
Materializa-se, deste modo, a acepção de autonomia negocial.
7. A cláusula compromissória como expressão de autonomia negocial
Assimilada a evolução da autonomia privada e o surgimento da concepção de autonomia
negocial, deduz-se que a cláusula compromissória deve ser decifrada como expressão de
autonomia negocial.
Esclarece-se, deste modo, em benefício da arbitragem e do direito, o equívoco teórico que
vem se alastrando de forma praticamente espontânea.
A cláusula compromissória pode ser livremente contemplada nas relações negociais
envolvendo direitos patrimoniais disponíveis, tanto naesfera privada, seja por pessoas
físicas ou jurídicas, quanto na esfera pública, por empresas, instituições e entes públicos,
sociedades de economia mista e, até mesmo, pelo próprio Estado.
Não é demasiado, contudo, ressalvar que a autonomia negocial deve ser exercida de acordo
com o ordenamento jurídico,78 sem rupturas a preceitos inerentes ao significado de justiça
que nele encontram o suporte necessário à respectiva concretização. Caso contrário,
estar-se-ia, de certo modo, regressando a períodos passados através de ideais
exacerbadamente liberais ou, até mesmo, reinventando, dentro da órbita negocial,
pensamentos puramente normativistas,79 os quais são incompatíveis com os preceitos que
regem o instituto da arbitragem e, sobretudo, com a concepção de direito na atualidade.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 12
A autonomia negocial consiste em uma esfera própria de atribuição de juridicidade às
disposições dos particulares, através da categoria geral do negócio jurídico, que tem como
escopo a instrumentalização do direito constitucional à livre-iniciativa econômica. Trata-se
de uma órbita de regulação própria dos interesses privados, posta ao lado de outras esferas
de juridicidade, tais como a órbita pública ou social.80
A cláusula compromissória insere-se neste contexto.
É expressão de autonomia negocial.
8. Bibliografia
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito civil, teoria geral – Relações e situações jurídicas. vol.
II. Coimbra: Ed. Coimbra, 2002.
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico. Existência, validade e eficácia. 4. ed. 8.
tir. 2010. São Paulo: Saraiva, 2002.
_______. Princípios do novo direito contratual e desregulamentação do mercado, direito de
exclusividade nas relações contratuais de fornecimento, função social do contrato e
responsabilidade aquiliana do terceiro, que contribui para o inadimplemento contratual.
Revista dos Tribunais, n. 750. São Paulo: Ed. RT, abr. 1998.
BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercial e internacional. São Paulo: Lex Magister, 2011.
BARBOZA, Heloísa Helena. Reflexões sobre a autonomia negocial. In: TEPEDINO, Gustavo
José Mendes; FACHIN, Luiz Edson (coords.). O direito e o tempo: Embates jurídicos e
utopias contemporâneas. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
BETTI, Emilio. Teoria geral do negócio jurídico. Trad. Fernando de Miranda. Coimbra: Ed.
Coimbra, 1969.
BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Função social dos contratos – Interpretação à luz do código
civil. São Paulo: Saraiva, 2009.
_______. O culturalismo de Miguel Reale e sua expressão no novo código civil. In:
MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz Carlos (coords.). Diretrizes teóricas do novo
código civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002.
CAHALI, Francisco José. Curso de arbitragem: Resolução CNJ 125/2010 (e respectiva
emenda de 31 de janeiro de 2013): mediação e conciliação. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013.
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei n. 9.307/96. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2009.
CORDEIRO, António Menezes. Tratado de direito civil português. Parte geral. 3. ed. t. I.
Coimbra: Almedina, 2005.
CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Manual de direito romano e textos em
correspondência com os artigos do código civil brasileiro. 4. ed. vol. 1. São Paulo: Saraiva,
1961.
DANTAS, Francisco San Thiago. Problemas de direito positivo, estudos e pareceres. 2. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2004.
DE CICCO, Cláudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 13
DONNINI, Rogério Feraz. Prevenção de danos e a extensão do princípio “neminem laedere”.
In: NERY, Rosa Maria de Andrade; DONNINI, Rogério Ferraz. (coords.). Responsabilidade
civil – Estudos em homenagem ao professor Rui Geraldo Camargo Viana. São Paulo: Ed. RT,
2009.
FERRI, Luigi. La autonomia privada. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1969.
FONSECA, Rodrigo Garcia da. A função social do contrato e o alcance do artigo 421 do
Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
_______. O princípio competência-competência na arbitragem. Revista de arbitragem e
mediação. vol. 9, abr.-jun. 2006. p. 277-303.São Paulo: Ed. RT, 2006.
FOUCHARD, Philippe; GAILLARD, Emmanuel; GOLDMAN, Berthold. Fouchard, Gaillard and
Goldman on international commercial arbitration. Edited by GAILLARD, Emmanuel and
SAVAGE, John. Kluwer Law International: Netherlands, 1999.
GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. atual. por AZEVEDO, Antonio Junqueira de; MARINO,
Francisco Paulo de Crescenzo. BRITO, Edvaldo (coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2007.
_______. Introdução ao direito civil. 15. ed. atual. por THEODORO JÚNIOR, Humberto. Rio
de Janeiro: Forense, 2000.
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 8. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2011.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Antônio Pinto de
Carvalho, Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964.
LEMES, Selma M. Ferreira. Arbitragem na administração pública – Fundamentos jurídicos e
eficiência econômica. São Paulo: Quatier Latin, 2007.
LIMA, Alceu Amoroso. Introdução ao direito moderno. 4. ed. São Paulo: PUC-Rio, Edições
Loyola, 2001.
LOTUFO, Renan. Teoria geral do contratos. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore.
(coords.). Teoria geral dos contratos. p. 224-294. São Paulo: Atlas, 2011.
MARTINS, Pedro A. Batista. Arbitragem no direito societário. São Paulo: Quartier Latin,
2012.
_______. Autonomia da cláusula compromissória. Disponível em [www.batistamartins.com].
Acessado em: 14.09.2014.
MARTINS-COSTA, Judith. Os avatares do abuso de direito e o rumo indicado pela boa-fé. In:
DELGADO, Mário Luiz; ALVES, Jones Figueirêdo (coords.). Novo código civil: Questões
controversas: parte geral do código civil: Série grandes temas de direito privado. vol. 6. São
Paulo: Método, 2007.
_______. Contratos. Conceito e evolução. In: LOTUFO, Renan; e NANNI, Giovanni Ettore
(coords.). Teoria geral dos contratos. p. 23-66. São Paulo: Atlas, 2011.
MELO, Diogo Leonardo Machado de. Princípios do direito contratual: autonomia privada,
relatividade, força obrigatória, consensualismo. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore
(coords.). Teoria geral do contratos. p. 67-96. São Paulo: Atlas, 2011.
MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil. t. XV. (arts. 1046 a 1.102).
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 14
Rio de Janeiro: Forense, 1977.
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana – Uma leitura civil-constitucional
dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
_______. O princípio da dignidade humana. In: MORAES, Maria Celina Bodin de (org.).
Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
NANNI, Giovanni Ettore. Cláusula compromissória como negócio jurídico: Análise de sua
existência, validade e eficácia. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore; MARTINS,
Fernando Rodrigues (coords.). Temas relevantes do direito civil contemporâneo: Reflexões
sobre 10 anos do código civil. p. 502-556. São Paulo: Atlas, 2012.
NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato – Novos paradigmas. 2. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006.
_______. O princípio da boa-fé contratual. In: MORAES, Maria Celina Bodin de (coord.).
Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Introdução ao pensamento jurídico e à teoria geral do direito
privado. São Paulo: Ed. RT, 2008.
PERLINGIERI, Pietro. O direito civil na legalidade constitucional. Trad. DE CICCO, Maria
Cristina. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria geral do direito civil. 4. ed. 7. reimp. Coimbra: Ed.
Coimbra, 1992.
PINTO, José Emilio Nunes. A cláusula compromissória à luz do código civil. In: _______.
Separata da obra – II congresso do centro de arbitragem da câmara de comércio e indústria
portuguesa (centro de arbitragem comercial). Coimbra: Almedina, 2009.
REALE, Miguel. Estrutura e espírito do novo código civil brasileiro.In: MARTINS-COSTA,
Judith; REALE, Miguel. História do novo código civil. São Paulo: Ed. RT, 2005.
_______. Função social do contrato. In: MARTINS-COSTA, Judith; REALE, Miguel. História
do novo código civil. São Paulo: Ed. RT, 2005.
_______. Horizontes do direito e da história. 3. ed. rev. e aum. São Paulo: Saraiva, 1999.
_______. Lições preliminares de direito. 20. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1993.
RIBEIRO, Joaquim de Sousa. Direito dos contratos – Estudos. Coimbra: Ed. Coimbra, 2007.
_______. O problema do contrato. As cláusulas contratuais gerais e o princípio da liberdade
contratual. Coimbra: Almedina, 2003.
ROPPO, Enzo. Il contratto (‘O contrato’). Trad. , Ana Coimbra; M. Januário C Gomes.
Coimbra: Almedina, 2009.
ROUSSEAU, J. J. O contrato social – du contract social: principles de droit polittique. Trad.
Antonio de Pádua Danesi. Rev. Edison Darci Heldt. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. vol. III. Direito das obrigações, direito
hereditário. Trad. (da 6. ed. italiana, com notas remissivas aos códigos civis brasileiro e
português) Ary dos Santos. São Paulo: Saraiva, 1958.
Silva, Eduardo Silva da. Arbitragem e direito da empresa: dogmática e implementação da
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 15
cláusula compromissória. São Paulo: Ed. RT, 2003.
TEPEDINO, Gustavo, A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro. In: _______. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
VENOSA, Sílvio de Salvo Direito Civil. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 3. ed. vol. 2. São Paulo: Atlas, 2003.
WALD, Arnoldo. Maturidade e originalidade da arbitragem no direito brasileiro. In:
VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc (org.). Aspectos da arbitragem institucional -12 anos
da Lei 9.307/1996. p. 33-43. São Paulo: Malheiros, 2008.
WIEACKER, Franz. História do direito privado moderno – privatrechtsgeschichte der neuzeit
unter besonderer berücksichtigung der deutschen entwicklung. Trad. por HESPANHA, A. M.
Botelho de. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1967.
1 Cf. (I) LEMES, Selma M. Ferreira. Arbitragem na administração pública – fundamentos
jurídicos e eficiência econômica. São Paulo: Quatier Latin, 2007. p. 60; e (II) CAHALI,
Francisco José. Curso de arbitragem: resolução CNJ 125/2010 (e respectiva emenda de 31
de janeiro de 2013): Mediação e conciliação. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 120-121.
2 FOUCHARD, Philippe; GAILLARD, Emmanuel; GOLDMAN, Berthold. Fouchard, Gaillard and
Goldman on international commercial arbitration. Edited by GAILLARD, Emmanuel and
SAVAGE, John. Kluwer Law International: Netherlands, 1999. p. 193.
3 WALD, Arnoldo. Maturidade e originalidade da arbitragem no direito brasileiro. In:
VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc (org.). Aspectos da arbitragem institucional – 12 anos
da Lei 9.307/1996. p. 33-43. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 34.
4 “Art. 4.º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato.” Lei de Arbitragem.
5 “Art. 853 Admite-se nos contratos cláusula compromissória, para ‘resolver divergências
mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial’.” Código Civil.
6 “Art. 3.º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo
arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.” Lei de Arbitragem.
7 Historicamente, sabe-se que o compromisso – a convenção em virtude da qual duas ou
mais pessoas se obrigavam a louvar-se em árbitros, no concernente ao esclarecimento de
uma lide surgida entre elas – era utilizado com frequência entre os romanos. Foi se
aperfeiçoando durante o Baixo Império e Justiniano, atualizando o que a praxe pós-clássica
havia paulatinamente realizado, concedeu uma actio in factum contra a parte que não
executasse o laudo. Cf. CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Manual de direito romano
e textos em correspondência com os artigos do código civil brasileiro. 4. ed. vol. 1. São
Paulo: Saraiva, 1961. p. 307-308.
8 “Chama-se compromisso o contrato pelo qual os figurantes se submetem, a respeito de
direito, pretensão, ação ou exceção, sobre que há controvérsia, à decisão de árbitro. Entra
na classe dos contratos que têm por fim a eliminação de incerteza jurídica (…)
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 16
compromete-se, em sentido técnico, quem se submete a juízo arbitral. Qualquer outro
sentido que se dê a ‘compromisso’ é extensão devida à linguagem vulgar e imprópria de
juristas. No fundo, teste para se saber até onde vão os conhecimentos de quem escreve
sobre direito.” MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil. t. XV. (arts.
1046 a 1.102). Rio de Janeiro: Forense, 1977. p. 225.
9 Cf. (I) MENDONÇA, Manuel Inácio Carvalho de. Doutrina e prática das obrigações ou
tratado geral dos direitos de crédito. 4. ed. aum. e atual. por José de Aguiar Dias. t. I. 4 Rio
de Janeiro: Forense, 1956. p. 670; (II) BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos estados unidos
do Brasil commentado. vol. IV. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946. p. 191; (III)
MIRANDA, Pontes de. Op. cit., p. 225.
10 Cf. julgado inserto in RJTJSP 87:247, bem como os acórdãos RJTJESP 78:235, RT
558:80, 512:170, 568:11, 564:227, 434:159 e 472:128. CARMONA, Carlos Alberto.
Arbitragem e processo: um comentário à Lei n. 9.307/96. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.
100.
11 CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 4-5.
12 VENOSA, Sílvio de Salvo Direito Civil. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 3. ed. vol. 2. São Paulo: Atlas, 2003. p. 590.
13 Idem, p. 318.
14 “Art. 8.º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver
inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da
cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por
provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção
de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória”. Lei de Arbitragem.
15 “Art. 7.º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da
arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer
em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal
fim. § 1.º – O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com
o documento que contiver a cláusula compromissória. § 2.º – Comparecendo as partes à
audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso,
tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.
§ 3.º – Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após
ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas
as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2.º,
desta Lei. § 4.º. Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros,
caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a
solução do litígio. § 5.º – A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada
para a lavratura do compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento
de mérito. § 6.º – Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor,
estatuir a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único. § 7.º – A
sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral”. Lei de
Arbitragem.
16 Cf. MARTINS, Pedro A. Batista. Autonomia da cláusula compromissória. Disponível em:
[www.batistamartins.com]. Acessado em: 14.09.2014.
17 “É o princípio competência-competência que assegura de modo efetivo a resolução do
conflito pelo árbitro, com eventual cooperação, mas sem intromissão,dos juízes togados. Se
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 17
o direito constitucional de ação garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, o princípio
competência-competência garante aos contratantes que tenham firmado uma convenção de
arbitragem o acesso ao juízo arbitral.” FONSECA, Rodrigo Garcia da. O princípio
competência-competência na arbitragem. Revista de arbitragem e mediação, vol. 9,
abr.-jun, 2006. p. 277-303. São Paulo: Ed. RT, 2006. p. 279.
18 MARTINS, Pedro A. Batista. Op. cit.
19 NANNI, Giovanni Ettore. Cláusula compromissória como negócio jurídico: análise de sua
existência, validade e eficácia. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore; MARTINS,
Fernando Rodrigues (coords.). Temas relevantes do direito civil contemporâneo: Reflexões
sobre 10 anos do código civil. p. 502-556. São Paulo: Atlas, 2012. p. 507.
20 PINTO, José Emilio Nunes. A cláusula compromissória à luz do código civil. In: _______.
Separata da obra – II congresso do centro de arbitragem da câmara de comércio e indústria
portuguesa (centro de arbitragem comercial). Coimbra: Almedina, 2009. p. 34.
21 Cf. BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercial e internacional. São Paulo: Lex Magister,
2011. p. 95.
22 RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. vol. III. Direito das obrigações,
direito hereditário. Trad. (da 6. ed. italiana, com notas remissivas aos códigos civis
brasileiro e português) Ary dos Santos. São Paulo: Saraiva, 1958. p. 465.
23 Cf., e.g.: (I) MARTINS, Pedro A. Batista. Arbitragem no direito societário. São Paulo:
Quartier Latin, 2012. p. 34-35; (II) NANNI, Giovanni Ettore. Op. cit.; (III) SILVA, Eduardo
Silva da. Arbitragem e direito da empresa: Dogmática e implementação da cláusula
compromissória. São Paulo: Ed. RT, 2003. p. 57 a 100.
24 MARTINS-COSTA, Judith. Contratos. Conceito e evolução. In: LOTUFO, Renan; e NANNI,
Giovanni Ettore (coords.). Teoria geral dos contratos. p. 23-66. São Paulo: Atlas, 2011. p.
50.
25 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico. Existência, validade e eficácia. 4. ed.
8. tir. 2010. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 21 a 22.
26 Idem, p. 21.
27 Idem, p. 22.
28 DANTAS, Francisco San Thiago. Problemas de direito positivo, estudos e pareceres. 2.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 4-5.
29 FRANÇA, R. Limongi. Instituições de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 648.
30 CORDEIRO, António Menezes. Tratado de direito civil português. Parte geral. 3. ed. t. I.
Coimbra: Almedina, 2005. p. 393.
31 SILVA, Eduardo Silva da. Op. cit., p. 74.
32 Cf. CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Op. cit., p. 274-309.
33 Cf. DE CICCO, Cláudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012. p. 193-216.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 18
34 Cf. REALE, Miguel. Horizontes do direito e da história. 3. ed. rev. e aum. São Paulo:
Saraiva, 1999. p. 128-153.
35 ROUSSEAU, J. J. O contrato social – du contract social: principles de droit polittique.
Trad. Antonio de Pádua Danesi. Rev. Edison Darci Heldt. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
36 LIMA, Alceu Amoroso. Introdução ao direito moderno. 4. ed. São Paulo: PUC-Rio, Edições
Loyola, 2001. p. 188-197.
37 Idem, ibidem.
38 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Antônio Pinto de
Carvalho, Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964.
39 GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 8. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2011. p. 96.
40 LIMA, Alceu Amoroso. Op. cit., p. 188-197.
41 FERRI, Luigi. La autonomia privada. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1969.
42 BETTI, Emilio. Teoria geral do negócio jurídico. Trad. Fernando de Miranda. Coimbra: Ed.
Coimbra, 1969.
43 NERY, Rosa Maria de Andrade. Introdução ao pensamento jurídico e à teoria geral do
direito privado. São Paulo: Ed. RT, 2008. p. 238.
44 MELO, Diogo Leonardo Machado de. Princípios do direito contratual: autonomia privada,
relatividade, força obrigatória, consensualismo. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore
(coords.). Teoria geral do contratos. p. 67-96. São Paulo: Atlas, 2011. p. 82.
45 NERY, Rosa Maria de Andrade. Op. cit., p. 238.
46 Cf: (I) NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato – Novos paradigmas. 2. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006; (II) RIBEIRO, Joaquim de Sousa. Direito dos contratos – Estudos.
Coimbra: Ed. Coimbra, 2007; (III) ROPPO, Enzo. Il contratto (‘O contrato’). Trad. Ana
Coimbra; M. Januário C Gomes. Coimbra: Almedina, 2009.; (IV) RIBEIRO, Joaquim de
Sousa. O problema do contrato. As cláusulas contratuais gerais e o princípio da liberdade
contratual. Coimbra: Almedina, 2003; (V) Princípios do novo direito contratual e
desregulamentação do mercado, direito de exclusividade nas relações contratuais de
fornecimento, função social do contrato e responsabilidade aquiliana do terceiro, que
contribui para o inadimplemento contratual. Revista dos Tribunais, n. 750. São Paulo: Ed.
RT, abr.-1998.
47 “Compreende-se o preceito fundamental que exprime a preocupação da ordem jurídica
pelos valores ‘ético-jurídicos’ da comunidade, pelas ‘particularidades’ da situação ‘concreta’
a regular e por uma ‘juridicidade social’ e ‘materialmente fundada’, cuja consagração
corresponde à ‘superação’ de uma perspectiva ‘positivista’ do direito, pela “abertura” a
preceitos e valores extralegais e pela ‘dimensão concreto-social’ e ‘material’ do jurídico que
perfilha.” PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria geral do direito civil. 4. ed. 7. reimp.
Coimbra: Ed. Coimbra, 1992. p. 124.
48 (I) “Diligencia e intenta equacionar a liberdade de convencionar (intrínseca à concepção
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 19
clássica de contrato) com valores sociais, de modo a assegurar a necessária convergência e
simetria que devem existir entre vontades individuais e interesses sociais.” BRANCO, Gerson
Luiz Carlos. Função social dos contratos – Interpretação à luz do código civil. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 62. (II) “A função social do contrato restringe o tradicional princípio da
relatividade dos efeitos do contrato e consagra a ampla oponibilidade do contrato a
terceiros.” FONSECA, Rodrigo Garcia da. A função social do contrato e o alcance do artigo
421 do Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 253.
49 Franz Wieacker utiliza a expressão “princípio da equivalência material”, como
proveniente da ética contratual aristotélica, tomística e jusracionalista (Cf. WIEACKER,
Franz. História do direito privado moderno – privatrechtsgeschichte der neuzeit unter
besonderer berücksichtigung der deutschen entwicklung. Trad. A. M. Botelho de Hespanha.
2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1967. p. 552).
50 Cf. obra completa – GRAU, Eros Roberto. Op. cit.
51 Cf. NEGREIROS, Teresa. Op. cit., p. 105-275.
52 “A autonomia percorre todos os domínios da atividade humana e não apenas o domínio
econômico. Neste desempenha um papel essencial; mas está sujeita à conciliação com
outras finalidades coletivas igualmente essenciais, que os negócios privados devem servir e
não prejudicar. Por outro lado, em toda a garantia constitucional de um setor privado da
economia está implícita a garantia institucional da autonomia privada, que é instrumento
indispensável para a vida daquele setor.” ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito civil, teoria
geral – Relações e situações jurídicas. vol. II. Coimbra: Ed. Coimbra, 2002.
53 “O contrato obriga os contratantes, sejam quais forem as circunstâncias em que tenha
que ser cumprido. Estipulado validamente seu ‘conteúdo’ vale dizer, definidos os direitos e
obrigações de cada parte, as respectivas cláusulas têm, para os contratantes, força
obrigatória. Diz-se que é intangível, para significar a ‘irretratabilidade’ do acordo de
vontades. Nenhuma consideração de equidade justificaria a revogação unilateral do contrato
ou a alteração de suas cláusulas, que somente se permitem mediante novo concurso de
vontades. O contrato importa restrição voluntária da liberdade; cria vínculo do qual
nenhumadas partes pode desligar-se sob o fundamento de que a execução a arruinará ou
de que não teria estabelecido se houvesse previsto a alteração radical das circunstâncias
(…) O princípio da intangibilidade do conteúdo dos contratos significa impossibilidade de
revisão pelo juiz, ou de libertação por ato seu. As cláusulas contratuais não podem ser
alteradas judicialmente, seja qual for a razão invocada por uma das partes.” GOMES,
Orlando. Contratos. 26. ed. atual. por AZEVEDO, Antonio Junqueira de; MARINO, Francisco
Paulo de Crescenzo. BRITO, Edvaldo (coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 38.
54 “O princípio da relatividade dos contratos diz respeito à sua eficácia. Sua formulação
faz-se em termos claros e concisos ao dizer-se que o contrato é ‘res inter alios acta, aliis
neque nocent prodest’, o que significa que seus efeitos se produzem exclusivamente entre
as partes, não aproveitando nem prejudicando a terceiros.” GOMES, Orlando. Op. cit., p. 46.
55 Cf. AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Princípios do novo direito contratual e
desregulamentação do mercado, direito de exclusividade nas relações contratuais de
fornecimento, função social do contrato e responsabilidade aquiliana do terceiro, que
contribui para o inadimplemento contratual. Revista dos Tribunais, n. 750. São Paulo: Ed.
RT, abr. 1998. p. 116.
56 NEGREIROS, Teresa. Op. cit., p. 232-244.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 20
57 TEPEDINO, Gustavo, A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro. In: _______. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 44-45.
58 LOTUFO, Renan. Teoria geral dos contratos. IN: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni
Ettore. (coords.). Teoria geral dos contratos. p. 224-294. São Paulo: Atlas, 2011. p. 21.
59 Trata-se do reconhecimento da relação bipolar e dialética entre a realidade e o direito, a
força que a moral social, o poder social possuem e os efeitos que provocam sobre o direito.
Cf. BRANCO, Gerson Luiz Carlos. O culturalismo de Miguel Reale e sua expressão no novo
código civil. In: MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz Carlos (coords.). Diretrizes
teóricas do novo código civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 63.
60 “A socialidade se traduz no predomínio do social sobre o individual.” REALE, Miguel.
Estrutura e espírito do novo código civil brasileiro. In: MARTINS-COSTA, Judith; REALE,
Miguel. História do novo código civil. São Paulo: Ed. RT, 2005. p. 38.
61 “Significa que à tutela da dignidade da pessoa humana correspondem não apenas os
tradicionais direitos individuais mas igualmente os chamados ‘direitos sociais’, que
reordenam as relações entre o Estado e a sociedade, impondo a todos o ônus de tornar a
sociedade mais justa.” NEGREIROS, Teresa. Op. cit., p. 19 a 20.
62 “O princípio constitucional da solidariedade identifica-se com o conjunto de instrumentos
voltados para garantir a existência digna, comum a todos, em uma sociedade que se
desenvolva como livre e justa, sem excluídos ou marginalizados.” MORAES, Maria Celina
Bodin de. O princípio da dignidade humana. In: MORAES, Maria Celina Bodin de (org.).
Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 48.
63 “A ideia de não ofender a outrem, considerado elemento negativo da justiça, idealizado
muito antes do Digesto, nos dá a exata noção do princípio ‘neminem laedere’, que indica
verdadeiro limite, real empecilho à livre ação ou omissão que prejudique outrem, que
abrange não apenas a noção de reparação do dano, mas, antes de tudo, sua prevenção.”
DONNINI, Rogério Feraz. Prevenção de danos e a extensão do princípio “neminem laedere”.
In: NERY, Rosa Maria de Andrade; DONNINI, Rogério Ferraz. (coords.). Responsabilidade
civil – Estudos em homenagem ao professor Rui Geraldo Camargo Viana. São Paulo: Ed. RT,
2009. p. 487.
64 NEGREIROS, Teresa. O princípio da boa-fé contratual. In: MORAES, Maria Celina Bodin
de (coord.). Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p.
222.
65 “A onerosidade é instituto aplicável a contratos de diferentes espécies. Em princípio, e
mais ocorrente, acontece nos negócios jurídicos na modalidade de contratos bilaterais,
comutativos e onerosos, quando a prestação se torna especialmente agravada, ou a
contraprestação desvalorizada (…) é por ela existir que se modifica substancialmente a
situação das partes dentro do processo, a exigir a intervenção judicial a fim de extinguir ou
revisar o contrato.” AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Da extinção do contrato – arts. 472 a
480. t. II. vol. VI. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (coord.). Comentários ao código civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 886 a 887 e 904, respectivamente.
66 “Trata-se da formulação mais avançada da igualdade de direitos, desenvolvida,
normativamente, para suprir a insuficiência quanto aos fins não alcançados pela ‘igualdade
formal’ (assimilada no sentido de que ‘todos são iguais perante a lei’. A ‘igualdade
substancial’ deve ser compreendida como medida que prevê a necessidade de tratar as
pessoas, quando desiguais, em conformidade com a sua desigualdade.” MORAES, Maria
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 21
Celina Bodin de. Danos à pessoa humana – Uma leitura civil-constitucional dos danos
morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 86.
67 O princípio da justiça social pode ser assimilado como meio protetivo aos mais
desfavoráveis e à própria sociedade, na busca pelo equilíbrio entre as desigualdades e
diferenças sociais e econômicas. Deve ser compreendido como complemento ao princípio da
igualdade e ao princípio da solidariedade, com o fito de assegurar o desenvolvimento
econômico em harmonia com valores sociais e humanos.
68 NERY, Rosa Maria de Andrade. Op. cit., p. 249.
69 REALE, Miguel. Função social do contrato. In: MARTINS-COSTA, Judith; REALE, Miguel.
História do novo código civil cit., p. 266.
70 “A Ciência do Direito somente se revela como ciência madura quando as interpretações
dos artigos completam-se através de uma visão unitária de todo o sistema. É por essa razão
que os grandes comentaristas, como Clóvis Beviláqua, antes de entrar na apreciação
particular de cada regra de direito, cuidam dos princípios gerais que as condicionam.
Realizam, assim, um trabalho de Dogmática, que, de certa maneira, faz lembrar o da
Geometria. Dizem alguns, mesmo, que a Dogmática Jurídica é a Geometria das ciências
éticas, visto como construirmos e desdobrarmos consequências, partindo de certos textos
ou pressupostos, contidos nas regras de direito, assim como os geômetras elaboram a sua
ciência partindo de axiomas e postulados (…) porquanto é a Dogmática o momento em que
a Ciência Jurídica atinge a sua expressão culminante e própria. Sendo, portanto, momento
essencial da Ciência do Direito, a Dogmática Jurídica com ela não se confunde, assim como
uma não pode ser reduzida à outra.” REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 20. ed.
rev. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 322.
71 PERLINGIERI, Pietro. O direito civil na legalidade constitucional. Trad. Maria Cristina de
Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 143-144.
72 Idem, p. 149.
73 Idem, p. 150.
74 LEMES, Selma M. Ferreira. Op. cit., p. 50.
75 PERLINGIERI, Pietro. Op. cit., p. 338.
76 Barboza, Heloísa Helena. Reflexões sobre a autonomia negocial. In: TEPEDINO, Gustavo
José Mendes; Fachin, Luiz Edson (coords.). O direito e o tempo: Embates jurídicos e utopias
contemporâneas. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 413.
77 SILVA, Eduardo Silva da. Op. cit., p. 74-75.
78 “Assimilado como conjunto de princípios e regras polarizado por uma precisa finalidade:
ordenar a coexistência de liberdades.” MARTINS-COSTA, Judith. Os avatares do abuso de
direito e o rumo indicado pela boa-fé. In: DELGADO, Mário Luiz; ALVES, Jones Figueirêdo
(coords.). Novo código civil: Questões controversas: Parte geral do código civil: Série
grandes temas de direito privado. vol. 6. São Paulo: Método, 2007. p. 518.
79 Sobre referida escola, cf. BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA,Guilherme Assis de.
Positivismo jurídico: o normativismo de Hans Kelsen. In: _______. Curso de filosofia do
direito. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 397-412.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 22
80 Cf. SILVA, Eduardo Silva da. Op. cit., p. 57-100.
A cláusula compromissória e autonomia negocial
Página 23

Continue navegando