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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL - UEMS CURSO DE DIREITO JEFERSON CÁSSIO DIAS DIREITO PENAL Redução da Maioridade Penal PARANAÍBA 2018 1 JEFERSON CÁSSIO DIAS DIREITO PENAL Maioridade Penal Trabalho apresentado ao Curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Unidade de Paranaíba, como requisito para o fechamento das notas da disciplina de Direito Penal do ano de 2018. Orientadora: Profª Dra. Lidia Maria Garcia Gomes Tiago de Souza. PARANAÍBA 2018 2 RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem por finalidade, analisar um dos temas mais importantes e polêmicos da sociedade, o qual seja, a maioridade penal. Nesse sentido, serão expostos argumentos tanto favoráveis quanto contrários à redução da maioridade penal. Desse modo, os argumentos acima mencionados terão por objetivo esclarecer alguns conceitos, bem como analisar os benefícios da diminuição da faixa etária para cumprimento de pena para a sociedade de bem. Ao final, espera-se que este trabalho tenha alcançado o seu objetivo, ou seja, deixar de ter uma visão apenas do senso comum embasando-se em doutrinas e leis relevantes ao assunto. Palavras-Chave: Maioridade Penal. Cumprimento de Pena. Menor Infrator. 3 ABSTRACT The purpose of this work is to analyze one of the most important and controversial topics of the society, which is, the criminal majority. In this sense, arguments will be presented both favorable and contrary to the reduction of the penal age. Thus, the arguments mentioned above will aim to clarify some concepts, as well as analyze the benefits of the reduction of the age range for compliance of sentence for the society of good. In the end, this work is expected to have achieved its goal, that is, to stop having a common-sense view based on doctrines and laws relevant to the subject. Keyword: Criminal Age. Penalty Sentence. Minor Offender. 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO………………………………………………………….…..……... 5 2 CONCEITOS….……………………………………………..………………...…… 7 2.1 MAIORIDADE ……….………………………………………....………………….. 7 2.2 IMPUTABILIDADE PENAL………………………...…………………………….. 7 2.3 IMPUTABILIDADE PENAL X RESPONSABILIDADE PENAL……………….... 7 3 LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS………….…………………………………....… 9 3.1 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE …………………………….. 10 4 O MENOR INFRATOR………………………………………………………...... 13 5 REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL…………………………………….…. 14 6 POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL……………... 16 6.1 PROPOSTAS LEGISLATIVAS……………………………………………………. 17 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………….…. 18 REFERÊNCIAS ……………………...……………………………………….….. 18 5 1 INTRODUÇÃO Muito se sabe que a criminalidade é uma doença que aterroriza a sociedade há muitos anos. Nesse sentido, essas atividades delituosas vêm aumentando numa velocidade assustadora, onde os infratores utilizam-se dessas práticas como meio de sobrevivência. Com esse aumento dos crimes, aumenta-se também a população carcerária. No entanto, as estruturas físicas para alojar detentos não aumentam nas mesmas proporções em que se prendem os criminosos, fazendo com que o judiciário mantém presos apenas aqueles que têm uma periculosidade elevada em face da sociedade. Com isso, infratores que deveriam estar presos, acabam por responder seu processo em liberdade, causando, assim uma verdadeira sensação de impunidade. Entretanto, a população carcerária poderia estar ainda maior, visto que, grande parte dos infratores são menores de idade influenciados pelos criminosos passíveis de punição, pois, eles sabem que os menores não podem sofrer sanção do atual Código Penal brasileiro. Nesse caso, eles são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sendo assim, muitos defendem que, como não é possível se falar em ressocialização dos condenados diante do atual sistema prisional brasileiro, os adolescentes iriam sair ainda mais prejudicados caso fossem cumprir penas privativas de liberdade junto com os adultos. Contudo, não se pode negar que as medidas sócio-educativas previstas no ECA, são tão ineficazes quanto às penas privativas de liberdade aplicadas aos maiores de 18 anos, pois, não há uma uma política educacional efetiva que caminhe lado-a-lado com as medidas sócio-educativas. Sendo assim, é necessário uma reavaliação quanto à maioridade penal no ordenamento jurídico nacional. Nesse sentido, uma vez que as penas se tornarem mais severas em determinados crimes cometidos por adolescentes, como por exemplo os crimes hediondos (latrocínio, estupro, etc.) muito provavelmente eles não mais cometer-se-ão tantos delitos assim. Quanto a essa questão, foi realizada uma Proposta de Emenda à Constituição, para discutir esse assunto, junto ao Legislativo, a PEC 171/1993. O texto original é de autoria do 6 ex-deputado Benedito Domingos (PP-DF), e altera a redação do artigo 228 da Constituição Federal, com o objetivo de reduzir de 18 para 16 anos a idade mínima para a responsabilização penal. Além da PEC acima mencionada existem outros projetos que visam a análise desse tema, pois, a sociedade fica refém dos adolescentes que cometem delitos e ficam impunes. Por isso que esses debates acerca desse tema são tão calorosos e dividem a opinião dos juristas, legisladores e sociedade em geral. 2 CONCEITOS 2.1 CONCEITO DE MAIORIDADE Segundo o dicionário on-line Dicio, maioridade é a “Idade estabelecida pela lei em que uma pessoa é responsável por seus atos. Nesse sentido, a maioridade é um conceito amplo que pode ser dividido em três áreas de atuação: maioridade penal; maioridade civil; e maioridade política. Desse modo, o termo maioridade penal, segundo o Dicio, pode ser assim definida: “ Idade em que, legalmente, uma pessoa deve se responsabilizar criminalmente por seus atos. Segundo a lei brasileira, aos 18 anos” Outra divisão do termo maioridade é no ramo do direito civil e tem-se a seguinte definição: maioridade civil é a idade legal em que alguém pode exercer seus direitos civis. O antigo Código Civil, de 1916, trazia que a maioridade civil era de 21 anos. No entanto, segundo a atual lei brasileira, a maioridade civil também é aos 18 anos. Por fim, tem-se a maioridade política,que nada mais é que a idade em que, segundo a lei, uma pessoa deve se responsabilizar por suas obrigações eleitorais. Nesse caso, segundo a lei brasileira, aos 16 anos. 7 Após analisar esses conceitos, partindo do ponto de vista da maioridade penal, que é o objeto de estudo deste trabalho, observa-se que os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis. 2.2 CONCEITO DE IMPUTABILIDADE PENAL Sobre esse tema, Fernando Capez, Procurador de Justiça, Mestre em Direito Penal pela USP e Doutor em Direito pela PUC, além de professor e palestrante também é Deputado Estadual pelo Estado de São Paulo diz que: A imputabilidade penal é a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. O agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal. Mas não é só. Além dessa capacidade plena de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. Em outras palavras, 332 imputável é não apenas aquele que tem capacidade de intelecção sobre o significado de sua conduta, mas também de comando da própria vontade, de acordo com esse entendimento.(CAPEZ, p.331, 2011) Capez deixa claro que para ser responsabilizado penalmente, é necessário que o agente infrator tenha o discernimento para saber o que é certo e o que é errado, além de saber que a conduta ora praticada é de caráter ilícito. 2.3 IMPUTABILIDADE PENAL X RESPONSABILIDADE PENAL É de suma importância saber que há uma diferença entre os termos maioridade penal e responsabilidade penal. Apesar de termos bem semelhantes, eles são muito distintos na hora de responsabilizar o agente infrator após a realização de determinado delito. Segundo a Politize a seguinte existea seguinte diferenciação: A maioridade penal se refere à idade em que a pessoa passa a ter responder criminalmente como um adulto, ou seja, quando ele passa a responder ao Código Penal. Já a responsabilidade penal pode ser atribuída a jovens com idade inferior à da maioridade penal. Para essa responsabilidade, muitos países também costumam atribuir uma idade mínima. Assim, um menor de idade pode ter responsabilidade penal, mesmo sofrendo penas diferenciadas. São criados dois sistemas:um para 8 jovens, baseado na responsabilidade penal juvenil; e outro para adultos, baseado na responsabilidade penal de adultos.(POLITIZE, 2016, p.2) Diante das explicações da Politize, fica evidenciado que tanto os adultos quanto os jovens são responsabilizados por seus atos, sendo que, os adultos responde diante do Código Penal, e os jovens respondem diante do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo que este estatuto será estudado mais adiante no momento oportuno. 3 LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS Existem diversas leis que regem a situação das crianças no Brasil. Nesse sentido, a principal e inviolável Lei do Ordenamento jurídico brasileiro é a Constituição Federal. No entanto, antes dela ser mencionada, serão analisadas algumas convenções internacionais em que a CF se baseou para positivar seus artigos. Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, proclamada em 20 de novembro de 1959, emitiu uma orientação, por meio dos seu texto, de como os países que fossem seus signatários deveriam tratar as crianças. Desse modo, ela trouxe, dentre outros assuntos, o direito à liberdade, ao convívio social, brincar, etc. Além dessa declaração, surgiu, no ano de 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança como a Carta Magna de proteção à criança. No entanto, somente no ano de 1990 em que a Convenção foi oficializada como lei internacional. Como consequência da sua oficialização internacional, vários países decidiram se tornar adeptos a ela. No Brasil não foi diferente, assim, em setembro de 1990, este país aprovou e ratificou a referida convenção e, por meio do Decreto n. 99710 de 21 de novembro de 1990, estabeleceu a Convenção dos Direitos da Criança. Dentre os vários artigos estipulados nela, destaca-se o artº 1º: “Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.”(DECRETO No 99.710, art 1) Como mencionado anteriormente, a Constituição Federal de 1988 é a Lei Maior do ordenamento jurídico brasileiro. Nela, estão dispostos todos os direitos e garantias fundamentais, individuais ou coletivos, onde nenhuma lei que surgir abaixo dela poderá dispor contra seus mandamentos. No caso de alguma lei contrariar a CF, esta será considerada inconstitucional. 9 Sob o ponto de vista Constitucional, a maioridade penal está disposta no artº 228, “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Nesse caso, na segunda parte do artº 228, a Constituição traz que os menores de dezoito anos "estão sujeitos às normas da legislação especial”, o qual seja o Estatuto da Criança e do Adolescente. Sob o aspecto do Código Penal Brasileiro, ele traz em seu artº 27 um texto semelhante ao disposto na CF 88: “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial” (2018, p.19 ). Por fim, tem-se o Estatuto da Criança e do Adolescente como legislação específica que trata sobre esse assunto. Desse modo, sobre a maioridade penal, o ECA traz em seu artº 104, caput: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei”. Observa-se, portanto, que tanto a Constituição Federal, o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, tratam basicamente do mesmo assunto em seus textos que falam sobre a maioridade penal, sendo que o último é a legislação específica em que os outros Códigos trazem. 3.1 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente foi publicado em 13 de julho de 1990, através da Lei 8.069. Nesse sentido, segundo o ECA, considera-se criança a pessoa até doze anos de idade e o adolescente é considerado a pessoa que tenha a idade entre doze e dezoito anos. É considerado e reconhecido internacionalmente como um dos mais avançados Diplomas Legais dedicados à garantia dos direitos da população infanto-juvenil. Sua principal finalidade, dentre outras coisas, é a proteção da criança e do adolescente, ou seja, sempre que alguém nessa faixa etária tiver violado seus direitos, bem como tiver cometido algum ato infracional, este deverá ser adotado para que a autoridade policial e judiciária possam se basear diante do caso concreto. Essa proteção se dá pelo fato de que, segundo o Eca, o menor é incapaz de perceber a diferença entre as condutas tidas como certas ou erradas. Condutas estas que somente os maiores de idade podem ser capazes de diferenciar, pois acredita que esses menores não possuem o desenvolvimento mental para entenderem os atos criminosos que possam vir a cometer. 10 Outro ponto de vista observado em face do Estatuto da Criança e do adolescente, são as medidas de proteção previstas nele. Nesse sentido, podem ser divididos ainda em duas vertentes: a primeira diz respeito às falhas em que os pais, o Estado, e até mesmo a sociedade em geral cometem em face da criança e do adolescente; e a segunda vertente, deve ser considerada a partir do momento em que o menor comete algum ato infracional. Com relação à primeira hipótese, os incisos I e II, do art 98 do ECA, traz que, tanto por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, ou por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável, os agentes omissos serão passíveis de punição. Isso se dá pelo fato de que TODOS são responsáveis por garantir o bem estar das crianças e adolescentes, bem como garantir a sua proteção. Assim dispõe o art 4º do presente estatuto: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Diante da matéria expressa no artº acima mencionado observa-se que, até mesmo aquele cidadão que não tem nenhum vínculo familiar ou parentesco com uma determinada criança, por exemplo, e tiver conhecimento de alguma violação de seu direitos e não realizar a denúncia às autoridades competentes, será considerado omisso e será responsabilizado por isso. Em se tratando das infrações cometidas pelos menores, estes também serão responsabilizados por seus atos. Entretanto, diferentemente de quem está submetido às sanções do Código Penal, os menores não são penalizados e sim recebem medidas socioeducativas, onde estes devem primar pela educação e recuperação dos menores, inclui-se nessas medidas atividades esportivas e pedagógicas. Nesse contexto, a Politize traz as seguintes informações: Quando um menor de idade é pego participando de qualquer tipo de crime, ele fica detido por no máximo 45 dias, que é o tempo que o Juiz da Infância e da Juventude tem para se posicionar sobre o caso. As medidas são aplicadas de acordo com a gravidade do crime cometido. Na hipótese de internação, os menores infratores ficam no máximo por três anos em centros de recuperação. Caso seja julgado culpado, o menor pode ser submetido a seis tipos diferentes de medidas socioeducativas, segundo o ECA: advertência; obrigação de reparar o dano causado; prestação de 11 serviços à comunidade; liberdade assistida; semiliberdade; e internação.(POLITIZE, 2016. p.5) Note-se que no exposto acima, a Politize fala em “crime” cometido por menores, no entanto, hoje em dia utiliza-se a expressão ato infracional,justamente para diferenciar os delitos cometidos pelas crianças em vista dos cometidos por adultos. Entretanto, as informações quanto à forma da aplicação das medidas de reeducação são trazidas com simplismo e objetividade. 4 O MENOR INFRATOR O aumento do número de delitos cometidos por menores de idade vem se tornando um dos maiores problemas sociais enfrentados pela população nos dias atuais. Isso ocorre, pois, principalmente nas comunidades das favelas, as crianças vêm sendo recrutadas para o mundo do crime cada vez mais novas. Nesse sentido, os aliciadores de menores se aproveitam da situação de impunidade dos menores de idade em face da atual legislação penal do Brasil. No entanto, é nítido a insatisfação popular frente a esse assunto. Com isso, muitos clamam pela redução da maioridade penal, a fim de reduzir esses índices infracionais cometidos pelos jovens. É exatamente isso que Rogério Greco explica, apontando também as principais infrações cometidas por essa massa jovem: Também não é incomum que, além do tráfico de drogas, outros tipos de infrações penais sejam praticadas por adolescentes, como, por exemplo, o crime de roubo. É importante ressaltar, nesta oportunidade que, se, por exemplo, duas pessoas praticam o crime de roubo, e ambas conseguem ser descobertas, costuma ser uma “regra interna” da criminalidade atribuir o fato somente ao agente inimputável, tendo em vista que a legislação, como regra, o beneficiará, fazendo com que, se for o caso, permaneça somente por um tempo curto em regime de internação (no máximo de três anos, no Brasil), ao contrário do que ocorreria com o agente imputável, cujas penas são severas para esse tipo de comportamento.(GRECO, 2014) Nota-se que, é muito nítida a diferença das sanções para o mesmo crime, em comparação com o ECA e o CP. Nesse caso, os criminosos fazem um acordo, onde o menor de idade confessa o crime, no caso de serem detidos em flagrante delito, para pegar a pena mais branda e deixar impune o cidadão maior de idade, pois, assim ele poderá voltar a cometer o crime e fazer o mesmo acordo com outro adolescente. 12 Como já citado anteriormente, no Brasil, a maioridade penal está estabelecida para 18 anos. No entanto, em vários outros países pelo mundo afora essa idade é bem mais reduzida. Cita-se, a título de exemplo, alguns casos onde a maioridade penal é abaixo dos 18 anos: Nova Zelândia, 16 anos; Argentina e Espanha, 15 anos; Egito, Iraque e Índia, 14 anos. Enfim, são várias idades diferentes de maioridade penal por todo o mundo. 5 REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL As discussões em relação à redução, manutenção ou aumento da idade penal em que o cidadão é passível de sanção perante o Código Penal são sempre calorosas, onde diversos pontos de vista são expostos a fim de serem defendidos. Com isso, surgem os argumentos a favor da redução da maioridade penal e os argumentos que são contra à redução da maioridade penal. Com relação aos que são contra à impunidade de jovens e crianças, estes utilizam-se o argumento de que, a imputabilidade de crimes à menores vai contra as orientações dos Direitos Humanos, onde estes dizem que os menores de 18 anos ainda não estão com suas capacidades físicas e psicológicas plenamente desenvolvidas. Na maioria das vezes, o adolescente pratica fato típico em decorrência de seu próprio processo de amadurecimento, de forma que o ato infracional por ele praticado configura nada mais do que um desvio comportamental previsível e esperado pela comunidade. Praticar delitos leves, nesta etapa da vida, é uma forma de o indivíduo conhecer a si próprio, aprender com seus próprios erros e definir as limitações sociais impostas à sua conduta. Em determinadas situações, contudo, eventualmente influenciado por uma condição social desfavorável ou pelas más companhias, pratica infrações porque encontra na criminalidade um caminho mais fácil para alcançar os seus anseios.(BARBOSA, SOUZA 2013 p.84) Nesse caso, como disseram Danielle Barbosa e Thiago Santos, os adolescentes podem cometerem delitos pois, segundo eles, estão na fase de conhecimento pessoal onde eles podem até aprender com seus próprios erros. Contrário aos argumentos acima expostos e totalmente favorável à redução da maioridade penal, temos, por exemplo, Guilherme Nucci, e este afirma ainda que, os adolescentes de hoje, obviamente, não são os mesmos da época em que o legislador confeccionou o Código Penal, ou seja, em 1940. 13 Apesar de se observar que, na prática, menores com 16 ou 17 anos, por exemplo, têm plenas condições de compreender o caráter ilícito do que praticam, tendo em vista que o desenvolvimento mental acompanha, como é natural, a evolução dos tempos, tornando a pessoa mais precocemente preparada para a compreensão integral dos fatos da vida, o Brasil ainda mantém a fronteira fixada nos 18 anos. (2014, p.246) Nesse sentido, a necessidade da redução da maioridade penal é algo imprescindível, pois, com o desenvolvimento da sociedade a criminalidade também se aperfeiçoa e se oportuniza essa situação para cometer mais delitos por menores de idade. 6 POSSIBILIDADE DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Rogério Greco (2017, p.533,534) menciona que é plenamente possível a redução da maioridade penal, pois, mesmo sendo um assunto Constitucional, não é uma cláusula pétrea. Nesse caso, somente fica mais difícil tal alteração, por conta que, a Constituição brasileira é rígida, quanto ao modo de alteração, no entanto não é impossível. Assim ele dispõe: Apesar da inserção no texto de nossa Constituição Federal referente à maioridade penal, tal fato não impede, caso haja vontade política para tanto, de ser levada a efeito tal redução, uma vez que o mencionado art. 228 não se encontra entre aqueles considerados irreformáveis, pois não se amolda ao rol das cláusulas pétreas elencadas nos incisos I a IV do § 4º do art. 60 da Carta Magna. 47 A única implicação prática da previsão da inimputabilidade penal no texto da Constituição Federal é que, agora, somente por meio de um procedimento qualificado de emenda, a menoridade penal poderá ser reduzida, ficando impossibilitada tal redução via lei ordinária. Da mesma forma, Fernando Capez também é defensor da redução da maioridade penal. Para ele, diante do atual cenário criminal brasileiro, onde diversos crimes bárbaro são cometidos cotidianamente por esse público, algo tem que ser feito. Seja por meio da redução propriamente dita ou por meio de uma reformulação do ECA, aumentando o tempo de internação que, atualmente, é de três anos. Observa-se esse argumento, no texto por ele publicado no site migalhas: Na atualidade, porém, temos um histórico de atos bárbaros, repugnantes, praticados por indivíduos menores de 18 anos, os quais, de acordo com a atual legislação, não são considerados penalmente imputáveis, isto é, presume-se que não possuem capacidade plena de entendimento e vontade quanto aos atos criminosos praticados. Há, no entanto, mais uma alternativa para a solução desse problema, caso haja resistência na sociedade no tocante à redução da maioridade penal. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no caso de medida de internação, o 14 adolescente é liberado compulsoriamente aos 21 anos de idade. Pois bem. Seria viável uma modificação legislativa no sentido da alteração desse limite de idade, o qual passaria a ser de 30 anos. Com isso, seria possível evitar o problema da liberação rápida do infrator e a sensação de impunidade.(CAPEZ, 2007) Com base nesses argumentos de Fernando Capez é que se reforça a opinião da maioria da sociedade que praticamente clama por alguma atitude do legislativo para pôr fim a esse assunto. 6.1 PROPOSTAS LEGISLATIVAS Três anos após a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi proposta a redução da maioridade penal. Nesse sentido, em 1993, o deputado federal Benedito Domingos elaborou a PEC 171, que propõe reduzir a maioridade penal de 18 anos para 16. A proposta veio apenas três anos apósa aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente. A Politize novamente traz algumas informações, desta vez sobre a Proposta de Emenda à Constituição 171. A PEC estabelece que os maiores de 16 anos que cometam crimes hediondos passem a ser julgados de acordo com o Código Penal (ou seja, podem ser sujeitos às mesmas penas dos adultos). Alguns exemplos de crimes hediondos são: homicídio qualificado, estupro, extorsão e latrocínio. Assim, nesses casos específicos, o adolescente perde o direito ao tratamento diferenciado do ECA, sendo julgado e condenado como um adulto. Para os demais crimes, tudo continua como antes: menores de 18 anos não estarão sujeitos ao Código Penal, e sim ao ECA. (POLITIZE, 2016, p. 7) Portanto, essa proposta não fere os direitos do adolescente, pois ela só trata dos assuntos relacionados aos crimes mais graves, sendo assim, somente serão passíveis de sanção penal, aqueles que cometerem crimes hediondos como o latrocínio, a extorsão, o estupro, entre outros. Outra proposta que tramita no Senado Federal é o Projeto de Lei 333, onde este prevê algumas situações relacionadas a esse tema. Dentre elas, uma das propostas é aumentar o tempo de internação de três para dez anos. Outra proposta prevista neste Projeto de Lei é o agravamento da pena para os adultos que aliciarem os menores, induzindo-os a cometer determinado crime. 15 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, após o estudo e confecção deste trabalho, foi possível analisar todo o contexto que motivou a discussão pela sociedade acerca da redução da maioridade penal. Desse modo, observou-se tanto os argumentos que são contrários à redução da maioridade penal, onde este não faz parte do meu pensamento, onde os seguidores dessa corrente argumentam que os adolescentes e as crianças não são capazes de discernir o que é certo e o que é errado. Sendo assim, foi exposto também, alguns doutrinadores que justificaram o cometimento de ilícito por eles, argumentando que faz parte do desenvolvimento do cidadão, pois, somente assim ele é capaz de aprender, principalmente com seu próprios erros, a diferenciar o que é penalmente lícito e aceito pela sociedade do que é penalmente ilícito e desaprovado pela sociedade. Partindo desse pressuposto acima exposto, no meu ponto de vista, é totalmente reprovável, pois, é inaceitável ter que conviver com alguém que comete um roubo, tráfico ou outra conduta ilícita somente para se “conhecer”. Dando continuidade a parte conclusiva do presente trabalho, apresentamos também, argumentos favoráveis à redução da idade em que o cidadão possa responder criminalmente por suas condutas, principalmente ao que tange os crimes hediondos. Sendo esta a posição em que eu adotei. No entanto, obviamente que o nosso sistema penitenciário não está preparado para receber esses jovens e proporcioná-los uma política de ressocialização que realmente funcione. Não obstante que, esse é apenas um dos vários problemas que não permitem que os menores sejam inseridos nesse sistema penitenciário. Por fim, foi apresentado também algumas propostas que as casas legislativas têm confeccionado, a fim de atender aos anseios sociais. Algumas com o objetivo real de redução da maioridade penal, e outras apenas com o aumento da rigidez das medidas sócio-educativas que são aplicadas aos jovens, efetivando a redução da maioridade penal. 16 REFERÊNCIAS BARBOSA, Danielle Rinaldi; SOUZA, Thiago Santos de. Direito da Criança e do Adolescente: proteção, punição e garantismo. Curitiba: Juruá, 2013 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, DE 05 Out. 1988. Planalto, 1988. BRASIL. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal: legislação Saraiva de bolso. 2 ed.. São Paulo:Saraiva Educação, 2018. BRASIL. DECRETO No 99.710, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1990. Promulga a Convenção sobre os Direitos da Criança. Planalto, 1990. BRASIL. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Planalto. 1990 CAPEZ, Fernando. A questão da diminuição da maioridade penal: Redução da maioridade penal: uma necessidade indiscutível. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI40310,91041-A+questao+da+diminuicao+da+m aioridade+penal>: Acesso em: 25 Out. 2018. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral : (arts. 1º a 120) / Fernando Capez. — 15. ed. — São Paulo: Saraiva, 2011. DICIO. Dicionário on line de português. Disponível em:<https://www.dicio.com.br/maioridade/>. Acesso em: 02 Nov. 2018. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I / Rogério Greco. – 19. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI40310,91041-A+questao+da+diminuicao+da+maioridade+penal https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI40310,91041-A+questao+da+diminuicao+da+maioridade+penal https://www.dicio.com.br/maioridade/ 17 GRECO, Rogério. Reflexões sobre a redução da maioridade penal. Disponível em: <https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/178724226/reflexoes-sobre-a-reducao-da-maior idade-penal>. Acesso em: 20. Out 2018. MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte geral. V. 1. 26ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. POLITIZE. Tudo que você precisa saber sobre a maioridade penal. 2016. https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/178724226/reflexoes-sobre-a-reducao-da-maioridade-penal https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/178724226/reflexoes-sobre-a-reducao-da-maioridade-penal
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