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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 5 – INTERMEDIÁRIA: TUBERCULOSE: DIAGNÓSTICO: O principal método de controle da TB é a busca ativa de pacientes com sintomas respiratórios, dada a capacidade de detectar quadros pulmonares de forma precoce. No entanto, diversos outros sintomas podem ser observados de forma a consolidar o diagnóstico clínico- epidemiológico da doença: Tuberculose pulmonar: além da tosse (produtiva ou seca), sintoma fortemente associado a esse quando, outras manifestações comuns são a febre baixa vespertina, sudorese noturna e perda de peso, principalmente na etapa secundária da TB; o Tuberculose miliar: essa manifestação grave pode inserir hepatomegalia, disfunções do SNC ou lesões cutâneas no rol de sintomas, normalmente de início agudo. Tuberculose extrapulmonar: o TB pleural: além da tríade astenia, emagrecimento e anorexia, febre e tosse seca podem estar associadas à dor pleurítica. Essa é a forma extrapulmonar mais comum em pacientes HIV-negativos, principalmente em jovens. Empiema pleural tuberculoso: corresponde à abertura de uma cavitação em direção a pleura, causando acúmulo de líquido ou ar nesse espaço. o TB ganglionar periférica: apresentação mais observada em pessoas vivendo com HIV, além de idosos e crianças, é marcada por ingurgitamento indolor e assimétrico dos linfonodos cervicais e supraclaviculares; o Meningite tuberculosa: é um quadro observado principalmente em pacientes pediátricos, podendo apresentar-se de forma subaguda (cefaleia, alterações no comportamento, sonolência, sintomas constitutivos e rigidez nucal) ou crônica (cefaleias associadas a acometimento de nervos cranianos). A doença respiratória pode ocorrer simultaneamente; Esquematização da inflamação meníngea mediada pela tuberculose o TB pericárdica: tem como principais sintomas a dor torácica, tosse e dispneia, podendo haver febre, edema e sinais de comprometimento da circulação hepática; o TB óssea: encontrada principalmente em crianças e entre adultos de 40 a 50 anos, afeta a coluna vertebral e as articulações da coxa e do joelho, sendo o primeiro sítio o foco do mal de Pott. O quadro clínico geral é de dor lombar, dor a palpação e sudorese noturna. Além da análise clínica, outros artifícios e exames são feitos de forma a comprovar o diagnóstico de tuberculose, como: Avaliações bacteriológicas: são as formas mais utilizadas tanto para o diagnóstico como para o controle do tratamento de adultos com TB. Tem como principais exames: o Baciloscopia direta: é um método simples e seguro para detecção do Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO BAAR, utilizando para tal a técnica de Ziehl-Nielsen. A modalidade mais empregada é a baciloscopia de escarro (sensibilidade de 60-80%), realizada com duas amostras, com intervalo de um dia entre as coletas, independentemente do 1º resultado. Esse exame deve ser solicitado para todo paciente com suspeita de TB, seja ela pulmonar ou extrapulmonar. Representação do processo adequado de coleta do escarro para baciloscopia o Cultura para micobactérias: esse método apresenta elevadas sensibilidade e especificidade diagnóstica, principalmente quando realizada conjuntamente à baciloscopia. Há, no entanto, que se esperar cerca de 14 a 30 dias para avaliar o crescimento bacteriano. A cultura também avalia a sensibilidade do bacilo a antimicrobianos (estreptomicina, isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida). Resultados negativo (esquerda) e positivo (demais tubos) da investigação por bacilos causadores de tuberculose Sua indicação é direcionada para pacientes com suspeita de TB e várias baciloscopias negativas ou com poucos bacilos (coleta inconclusiva ou em crianças), além de indivíduos com possível infecção por micobactérias não tuberculosas. Também podem se beneficiar dessa análise pacientes com histórico de tratamento para TB, contato com portadores de bacilos resistentes, indivíduos imunossuprimidos ou que tenham reportado falha terapêutica. Diagnóstico radiológico: a radiografia de tórax representa um exame de grande importância na avaliação da TB, devendo ser solicitada frente a toda suspeita para o quadro pulmonar (associada sempre à baciloscopia). No entanto, cerca de 15% dos pacientes não apresentam alterações, principalmente os imunossuprimidos. A realização da radiografia em pacientes com baciloscopia de escarro positiva tem como propósito identificar quadros concomitantes que também necessitem de tratamento. Os principais achados no raio-X são os focos de Ghon, linfonodomegalia hilar e paratraqueal (principalmente na fase primária), além de opacidades e cavitações, surgidas na reativação bacilar, podendo haver também derrames pleurais extensos. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Diversas formações nodulares calcificadas, junto à linfonodos hilares também calcificados após a TB primária Presença de cavitações e opacidades apicais em pulmão de paciente com TB secundária Outros métodos de obtenção de imagens como a tomografia, e a análise de estruturas ósseas, são de grande valia para a identificação de focos secundários da doença, avaliando possíveis áreas de intervenção precoce de forma a evitar complicações. Tomografia com formação de cavitações de paredes espessas (asterisco) associadas a nodulações e opacidades (seta) Prova tuberculínica (Mantoux): a inoculação intradérmica de proteínas do M. tuberculosis (PPD) corresponde à avaliação da resposta imunológica celular ao bacilo, sendo útil para o diagnóstico de infecções latentes, tanto em criança como em adultos. A análise dos resultados baseia-se na medição, após 48 a 72h, do endurado formado pelo teste, registrado em milímetros. Indivíduos vacinados com a BCG podem apresentar resultados falso-positivos, porém esse risco declina com o aumento da idade. Fluxograma para interpretação da prova tuberculínica em adultos Resultados falso-negativos também podem ocorrer, mas normalmente estão associados a problemas no armazenamento do reagente ou na execução do exame, além de quadros de imunossupressão ou de TB disseminada. Principais causas associadas a resultados falso- negativos na prova tuberculínica Diagnóstico histopatológico: é usado em quadros extrapulmonares (ou Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO pulmonares miliares), bem como em pacientes imunossuprimidos, sendo necessária a biópsia do sítio comprometido. Esse material será submetido à verificação da presença de bacilos, permitindo a confirmação diagnóstica; Testes moleculares: permitem a identificação de sequências específicas de ácidos nucleicos do M. tuberculosis (teste de amplificação de ácidos nucleicos – TAAN) ou do próprio DNA do bacilo (rtPCR), fornecendo resultados em 24-48h ou 2h, respectivamente. Esses testes apresentam grande valor preditivo, podendo detectar a TB de forma precoce em até 60% dos casos com BAAR negativo. Detecção das bandas específicas do M. tuberculosis em teste de PCR em tempo real TUBERCULOSE EM CRIANÇAS: Em crianças, o diagnóstico da tuberculose (principalmente pulmonar), difere-se do empregado em adultos, pois as manifestações sintomáticas podem ocorrer de modo distinto, principalmente na TB primária. Muitas vezes, essa etiologia só é considerada em indivíduos com pneumonias sem melhora com uso de antibióticos comuns. A realização da prova tuberculínica apresenta como ponto de corte, em crianças não vacinadas (ou que receberam a BCG há mais de dois anos) ou imunossuprimidas, o valor de 5 mm. Esse marco é de 10 mm para aquelas que receberam o imunizantea menos de dois anos. Fluxograma para interpretação da prova tuberculínica em crianças Para auxiliar no diagnóstico de TB pulmonar em pacientes pediátricos com baciloscopia, foi criado um escore próprio, que considera a presença de quadro clínico-radiológico específico, contato com adulto afetado por TB, os valores da prova tuberculínica, e o estado nutricional. Seus resultados dividem-se em: ≥ 40 pontos: diagnóstico muito provável, recomenda-se o início do tratamento; 30 a 35 pontos: diagnóstico possível, implementado o tratamento conforme critérios clínicos; ≤ 30 pontos: há necessidade de continuar a investigação clínica, realizando diagnósticos diferenciais com ATENÇÃO: casos sintomáticos sugestivos devem ser registrados em livro de eventos específicos, ao passo que todo caso diagnosticado deve ser notificado Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO outras doenças com sintomatologia pulmonar, podendo ser necessária a realização de outros exames complementares. Escore para diagnóstico de TB pulmonar em crianças e adolescentes com baciloscopia negativa TRATAMENTO: A tuberculose (TB) pode ser 100% curável em casos novos e sensíveis aos antimicrobianos utilizados, desde que, sejam seguidos os princípios básicos da terapia farmacológica (associação correta de medicamentos, dose adequada e uso por tempo suficiente). O não cumprimento desses preceitos aumenta o risco de desenvolvimento de resistência medicamentosa e a proliferação de novos bacilos. Os principais objetivos do processo de tratamento são: Eliminação bacteriana precoce: a morte de bacilos permite reduzir a infectividade individual logo no início do esquema. Os medicamentos cm maior ação nesse segmento são a Isoniazida, a Rifampicina, e a Estreptomicina; Evitar a seleção de bacilos resistentes: a redução da capacidade de proliferação de organismos resistentes é diminuída pelo uso combinado de antimicrobianos distintos, garantindo a efetividade do tratamento; Gerar quadro esterilizante: representa a eliminação de todas as bactérias de um foco lesivo, impedindo a recidiva da doença. A Isoniazida e a Rifampicina são os fármacos mais bactericidas, agindo tanto em organismos intracelulares quanto em granulomas, porém a última é mais esterilizante. Características bacilares e sensibilidade medicamentosa Quando iniciada, a terapia não deve ser interrompida, e para tanto, é necessário que o sistema de saúde se atente à necessidade de acolhimento efetivo e ao fornecimento de informações adequadas ao paciente. Em pacientes virgens de tratamento, pode-se considerar que após 15 dias de tratamento já não é mais possível transmitir a doença. No entanto, a ferramenta mais confiável para estabelecer esse marco é a negativação da baciloscopia. O tratamento de infecções ativas é a atividade com maior prioridade para o controle da cadeia de transmissão da doença. A condução do tratamento deve se dar em ambiente ambulatorial, sobre regime diretamente observado (TDO), porém a admissão hospitalar pode ser indicada em casos de vulnerabilidade socioeconômica, Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO complicações no quadro clínico e resistência medicamentosa. Esquemas terapêuticos e local de manejo da TB em casos específicos O esquema básico de tratamento para a TB é composto por duas fases: a primeira, de ataque (ou intensiva), que se vale de quatro fármacos distintos, e a segunda, de manutenção, na qual são usadas apenas duas medicações. Os antimicrobianos utilizados são rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E), encontrados em apresentações combinadas 4 em 1 (RHZE) ou 2 em 1 (RH). Esquema terapêutico básico em adultos e adolescentes O tratamento de crianças (< 10 anos) difere um pouco daquele utilizado na população adulta, pois faz uso de apenas três fármacos na fase intensiva (RHZ), com a fase de manutenção sendo similar a dos adultos (RH). Posologia do esquema básico de tratamento por peso em crianças de até 10 anos Esse tipo de tratamento pode ser empregado tanto em casos novos de TB como no retratamento, seja por falha terapêutica ou recidiva. Todas as manifestações, pulmonares ou extrapulmonares, exceto as formas osteoarticulares e meningoecefálicas, são passíveis de manejo por esse método. Na meningite tuberculosa e nos acometimentos ósseos, a fase de manutenção se estende por 10 meses. O tempo total de tratamento é de seis meses, que pode ser prolongado, na segunda fase, em mais três meses frente à evolução clínica insatisfatória, expressa por: Presença de achados cínicos e radiológicos discrepantes com a baciloscopia negativa; Manutenção da baciloscopia positiva no 5º ou 6º mês de tratamento; Múltiplas cavitações radiológicas presentes, principalmente se associadas a baciloscopia positiva no 2º mês de tratamento. Efeitos adversos às medicações do esquema básico abrangem mudança de cor da urina (universal), distúrbios gástricos, alterações cutâneas, icterícia e dores articulares, ainda que a maioria dos pacientes não vivencie alterações significativas. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Não há necessidade de trocas medicamentosas frente a esse tipo de reação. Principais efeitos adversos menores provocados pelos medicamentos utilizados no tratamento da TB Reações graves, como hipersensibilidade e disfunções neurológicas, são pouco comuns, ocorrendo principalmente em pacientes com idade > 50 anos, etilistas, portadores de hepatopatias, indivíduos desnutridos e na coinfecção TB-HIV. O medicamento indutor da reação não deverá ser reintroduzido após quadros adversos graves, devendo haver sua substituição. O seguimento do tratamento da TB deve ser realizado em todos os pacientes, de forma a detectar precocemente recidivas e falhas terapêuticas. Esse processo é constituído por: Acompanhamento clínico: esse monitoramento deve ser mensal, avaliando possíveis sinais e sintomas indicativos da regressão ou agravamento da doença ou de reações adversas aos medicamentos. A adesão ao tratamento também deve ser monitorada, assim como possíveis comorbidades. O teste de HIV deve ser realizado desde o 1º mês de tratamento. Controle bacteriológico: em pacientes com TB pulmonar, a baciloscopia deve ser realizada mensalmente, de forma a avaliar a efetividade terapêutica (negativação esperada na 2ª semana). Frente a resultados positivos na baciloscopia ao final do período intensivo de tratamento, recomenda-se a realização de cultura e teste de sensibilidade, prolongando esse estágio terapêutico por mais 30 dias. A cura do quadro será confirmada após duas baciloscopias negativas, uma no curso do período de manutenção, e outra, ao final do tratamento. Controle radiológico: é implementado após o 2º mês de tratamento, visando o acompanhamento das lesões iniciais (aumento ou regressão), principalmente se a análise bacteriológica for negativa. Se essa avaliação inicial for favorável, outra consulta pode ser realizada apenas ao final do tratamento. Rotina do seguimento de pacientes adultos com tuberculose TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NA GESTAÇÃO: Dado o caráter de vulnerabilidade da gestante, o tratamento da tuberculose é Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO uma prioridade, de forma a minimizar o risco de complicações e de transmissão do quadro para o feto, ao neonato e aos demais familiares. O esquema básico será administrado nas mesmas doses fornecidas à população adulta, sendo acrescido ao rol de medicamentos a piridoxina (vitamina B6, em doses de 50 mg/dia), uma vez que a isoniazida pode gerar toxicidade neurológica ao feto.As medicações utilizadas no tratamento da TB conseguem ser liberadas em pequena quantidade no leite materno, porém não há contraindicações à amamentação (exceto se houver mastite tuberculosa). Em lactantes com baciloscopia positiva, é recomendado o uso de máscara durante o aleitamento. TUBERCULOSE DROGARRESISTENTE: A tuberculosa drogarresistente (TB DR) é um quadro de difícil manejo, principalmente quando esse comprometimento abrange a rifampicina, medicamento mais ativo dentre aqueles presentes no esquema básico. De forma geral, a terapêutica deve abranger ao menos quatro fármacos efetivos. Destes, dois devem ser medicamentos essenciais (poder bactericida e esterilizante), e os demais, acompanhantes, que minimizam a resistência adquirida. A necessidade de alterações na conduta faz com que o tratamento da TB DR seja mais extenso, com maior risco de eventos adversos. Principais linhas de tratamento para a tuberculose drogarresistente De forma geral, a resistência microbiana a medicamentos se dá de duas formas, a saber: Resistência primária: ocorre em pacientes expostos diretamente a bacilos resistentes, havendo sua presença desde os estágios iniciais da infecção; Resistência secundária/adquirida: se desenvolve durante o tratamento da TB, principalmente se houver histórico de má adesão ou administração incorreta dos medicamentos. Normalmente tem apenas um fármaco como alvo (monorresistência), o que mantém a efetividade do esquema RHZE. As principais classificações para a resistência a antimicrobianos na tuberculose são: Monorresistência: há presença de diminuição de sensibilidade para apenas um fármaco. Se o alvo for a rifampicina (R) ou a isoniazida (H), há necessidade de alterar a conduta; Polirresistência: marcada por resistência a dois ou mais medicamentos antituberculose (exceto a combinação rifampicina e isoniazida). No Brasil, é mais frequente o impacto sobre o conjunto isoniazida e estreptomicina; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Multirresistência (TB MDR): resistência a R e H; Resistência extensiva (TB XDR): há não só perda de sensibilidade à R e H, mas também a fluoroquinolonas e a medicamentos de 2ª linha (amicacina, canamicina ou capreomicina); Resistência à rifampicina (TB RR): corresponde à perda isolada de sensibilidade a tratamentos com esse fármaco, de crucial importância no controle da tuberculose. Nesses casos, o tempo total do tratamento é maior, com fase intensiva de 6 a 8 meses, e período de manutenção entre 18 a 24 meses, com ao menos três culturas negativas.
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