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Roberto Gandulfo Universidade de Brasília Instituto de Letras Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas Orações relativas livres Em alguns casos, as orações subordinadas substantivas podem ser introduzidas por outros elementos que não sejam conjunções integrantes: são os pronomes interrogativo/indefinidos (que, quem, qual/quais, quanto/quanta/quantos/quantas) e os advérbios interrogativos (como, quando, onde, por que). Bem sabemos que as orações subordinadas substantivas desempenham funções tipicamente substantivas. Vejam-se, então, exemplos com cada uma dessas funções. 1) Quem lê mais escreve melhor. [Sujeito] 2) O problema é quanto dinheiro eu tenho. [Predicativo do sujeito] 3) Não sei que dia é hoje. [Objeto direto] 4) Não gostei de como você falou comigo. [Objeto indireto] 5) Veem-se dias iguais a quando o Brasil afundou. [Complemento nominal] 6) O trabalho foi feito por quem estava na sala. [Agente da passiva] 7) Há só um que me pode ajudar: quem me cumprimentou ontem. [Aposto] Esse tipo de oração tem duas interpretações morfossintáticas possíveis. Vamos analisar sintaticamente as sete sentenças. QUEM LÊ MAIS ESCREVE MELHOR Primeira análise: A [quem lê mais]: oração subordinada substantiva subjetiva justaposta para B “quem”: sujeito simples (nesse caso, esse “quem” é um pronome interrogativo/indefinido) “lê”: verbo intransitivo “mais”: adjunto adverbial de intensidade B [escreve melhor]: oração principal para A Sujeito oracional “escreve”: verbo intransitivo “melhor”: adjunto adverbial de modo Segunda análise: A [(quem) escreve melhor]: oração principal para B “quem”: sujeito simples (nesse caso, o “quem” é um pronome relativo condensado/indefinido/sem antecedente) “escreve”: verbo intransitivo “melhor”: adjunto adverbial de modo B [quem lê mais]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “quem”: sujeito simples “lê”: verbo intransitivo Roberto Gandulfo “mais”: adjunto adverbial de intensidade Nesse caso, a análise seria interpretar “quem lê mais escreve melhor” como “aquele que lê mais escreve melhor”. O PROBLEMA É QUANTO DINHEIRO EU TENHO Primeira análise: A [o problema é]: oração principal para B “o problema”: sujeito simples “é”: verbo de ligação Predicativo do sujeito oracional B [quanto dinheiro eu tenho]: oração subordinada substantiva predicativa justaposta para A “eu”: sujeito simples “tenho”: verbo transitivo direto “quanto dinheiro”: objeto direto (“quanto”, nesse caso, é um pronome interrogativo/indefinido, com função de adjunto adnominal) Segunda análise: A [o problema é (quanto dinheiro)]: oração principal para B “o problema”: sujeito simples “é”: verbo de ligação “quanto dinheiro”: predicativo do sujeito (“quanto”, nesse caso, é um pronome relativo condensado/indefinido/sem antecedente, com função de adjunto adnominal) B [quanto dinheiro eu tenho]: oração subordinada adjetiva restritiva para B “eu”: sujeito simples “tenho”: verbo transitivo direto “quanto dinheiro”: objeto direto Nesse caso, a análise seria interpretar “o problema é quanto dinheiro eu tenho” como “o pronome é todo o dinheiro quanto eu tenho”. NÃO SEI QUE DIA É HOJE Primeira análise: A [não sei]: oração principal para B Sujeito oculto (eu) “sei”: verbo transitivo direto Objeto direto oracional “não”: adjunto adverbial de negação B [que dia é hoje]: oração subordinada substantiva objetiva direta justaposta para A Sujeito inexistente Roberto Gandulfo “é”: verbo de ligação “que dia”: predicativo do sujeito (nesse caso, “que” é pronome interrogativo/indefinido com função de adjunto adnominal) Segunda análise: A [não sei (que dia)]: oração principal para B Sujeito oculto (eu) “sei”: verbo transitivo direto “que dia”: objeto direto (nesse caso, “que” é pronome relativo condensado/indefinido/sem antecedente com função de adjunto adnominal) “não”: adjunto adverbial de negação Nesse caso, a análise seria interpretar “não sei que dia é hoje” como “não sei o dia que é hoje”. B [que dia é hoje]: oração subordinada adjetiva restritiva para A Sujeito inexistente “é”: verbo de ligação “que dia”: predicativo do sujeito NÃO GOSTEI DE COMO VOCÊ FALOU COMIGO Primeira análise: A [não gostei]: oração principal para B Sujeito oculto (eu) “gostei”: verbo transitivo indireto/relativo Objeto indireto/complemento relativo oracional “não”: adjunto adverbial de negação B [de como você falou comigo]: oração subordinada substantiva objetiva indireta/completiva relativa para A “você”: sujeito simples “falou”: verbo transitivo relativo “comigo”: objeto indireto/complemento relativo “como”: adjunto adverbial de modo (nesse caso, “como” é um advérbio interrogativo) Segunda análise: A [não gostei (de como)]: oração principal para B Sujeito oculto (eu) “gostei”: verbo transitivo indireto/relativo “de como”: objeto indireto/complemento relativo “não”: adjunto adverbial de negação B [como você falou comigo]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “você”: sujeito simples Roberto Gandulfo “falou”: verbo transitivo relativo “comigo”: objeto indireto/complemento relativo “como”: adjunto adverbial de modo (nesse caso, “como” é um pronome/advérbio relativo condensado/indefinido/sem antecedente) Nesse caso, a análise seria interpretar “não gostei de como você falou comigo” como “não gostei da maneira como você falou comigo”. VEEM-SE DIAS IGUAIS A QUANDO O BRASIL AFUNDOU Primeira análise: A [veem-se dias iguais]: oração principal para B “dias iguais”: sujeito simples Complemento nominal oracional “veem”: verbo transitivo direto “se”: partícula apassivadora Voz passiva sintética B [a quando o Brasil afundou]: oração subordinada substantiva completiva nominal justaposta para A “o Brasil”: sujeito simples “afundou”: verbo intransitivo “quando”: adjunto adverbial de tempo (nesse caso, o “quando” é um advérbio interrogativo) Segunda análise: A [veem-se dias iguais (a quando)]: oração principal para B “dias iguais a quando”: sujeito simples “a quando”: complemento nominal (nesse caso, o “quando” é um pronome/advérbio relativo condensado/indefinido/sem antecedente) “veem”: verbo transitivo direto “se”: partícula apassivadora Voz passiva sintética B [quando o Brasil afundou]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “o Brasil”: sujeito simples “afundou”: verbo intransitivo “quando”: adjunto adverbial de tempo (nesse caso, o “quando” é um advérbio interrogativo) Nesse caso, a análise é interpretar “veem-se dias iguais a quando o Brasil afundou” como “veem-se dias iguais ao momento quando o Brasil afundou”. O TRABALHO FOI FEITO POR QUEM ESTAVA NA SALA Primeira análise: A [o trabalho foi feito]: oração principal para B Roberto Gandulfo “o trabalho”: sujeito simples “foi feito”: verbo transitivo direto Agente da passiva oracional Voz passiva analítica B [por quem estava na sala]: oração subordinada substantiva agentiva da passiva justaposta para A “quem”: sujeito simples (nesse caso, o “quem” é um pronome interrogativo/indefinido) “estava”: verbo intransitivo “na sala”: adjunto adverbial de lugar Segunda análise: A [o trabalho foi feito (por quem)]: oração principal para B “o trabalho”: sujeito simples “foi feito”: locução verbal transitiva direta “por quem”: agente da passiva (nesse caso, o “quem” é um pronome relativo condensado/indefinido/sem antecedente) Voz passiva analítica B [quem estava na sala]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “quem”: sujeito simples “estava”: verbo intransitivo “na sala”: adjunto adverbial de lugar Nesse caso, a análise é interpretar “o trabalho foi feito por quem estava na sala” como “o trabalho foi feito por aquele que estava na sala”. HÁ SÓ UM QUE ME PODE AJUDAR: QUEM ME CUMPRIMENTOU ONTEM Primeira análise: A [há só um]: oração principal paraB e C Sujeito inexistente “há”: verbo transitivo direto “só um”: objeto direto (“só” é advérbio/palavra denotativa de exclusão) Aposto explicativo oracional B [que me pode ajudar]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “que”: sujeito simples “pode ajudar”: locução verbal transitiva direta “me”: objeto direto C [quem me cumprimentou ontem]: oração subordinada substantiva apositiva justaposta para A “quem”: sujeito simples (nesse caso, o “quem” é um pronome indefinido/interrogativo) Roberto Gandulfo “cumprimentou”: verbo transitivo direto “me”: objeto direto “ontem”: adjunto adverbial de tempo Segunda análise: A [há só um...(quem)]: oração principal para B e C Sujeito inexistente “há”: verbo transitivo direto “só um”: objeto direto (“só” é advérbio/palavra denotativa de exclusão) “quem”: aposto explicativo B [que me pode ajudar]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “que”: sujeito simples “pode ajudar”: locução verbal transitiva direta “me”: objeto direto C [quem me cumprimentou ontem]: oração subordinada adjetiva restritiva para A “quem”: sujeito simples (nesse caso, o “quem” é um pronome relativo condensado/indefinido/sem antecedente) “cumprimentou”: verbo transitivo direto “me”: objeto direto “ontem”: adjunto adverbial de tempo
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