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Prova de Literatura de Países de Língua Portuguesa Exercício do Conhecimento - Tentativa 1 de 2 Questão 1 de 7 O poema abaixo é de autoria de Almeida Garret, grande nome do Romantismo Português: “ESTE INFERNO DE AMAR Este inferno de amar - como eu amo! – Quem mo pôs aqui n’alma ... quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida - e que a vida destrói – Como é que se veio a atear, Quando - ai quando se há-de ela apagar? Eu não sei, não me lembra: o passado, A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez... - foi um sonho Em que paz tão serena a dormi! Oh!, que doce era aquele sonhar ... Quem me veio, ai de mim!, despertar? Só me lembra que um dia formoso Eu passei... dava o Sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Em seus olhos ardentes os pus. Que fez ela?, eu que fiz? –Não no sei; Mas nessa hora a viver comecei ...” Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000011.pdf. Acesso em 16 jan. 2020. A primeira e a última estrofes do poema mostram uma contradição no que o eu-lírico defende como amor. Assinale a alternativa que apresenta essa contradição: A - A primeira estrofe associa o amor ao fogo destruidor, já a última como um renascimento. B - A primeira estrofe associa o amor ao sofrimento, enquanto a última apresenta uma visão positiva. C - A primeira estrofe caracteriza o amor como algo que deve ser apagado, enquanto a última como um sentimento vago. D - A primeira estrofe caracteriza o amor como infernal, já a última como algo celestial. E - A primeira estrofe mostra o amor como algo positivo, que deve ser vivido, enquanto a última como algo negativo. Questão 2 de 7 Gil Vicente é o maior nome do teatro português medieval, bem como um dos nomes mais importantes do Humanismo português. Em suas peças, o autor costuma trazer questões morais, éticas para serem discutidas, por meio da ação de suas personagens. Uma de suas peças mais famosas é “O velho da horta”, leia o diálogo inicial do texto: “Velho — Senhora, benza-vos Deus, Moça — Deus vos mantenha, senhor. Velho — Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus. Moça — Mas no chão. Velho — Pois damas se acharão que não são vosso sapato! Moça — Ai! Como isso é tão vão, e como as lisonjas são de barato! Velho — Que buscais vós cá, donzela, senhora, meu coração? Moça — Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a panela. Velho — E a isso vinde vós, meu paraíso. Minha senhora, e não a aí? Moça — Vistes vós! Segundo isso, nenhum velho não tem siso natural. Velho — Ó meus olhinhos garridos, mina rosa, meu arminho! Moça — Onde é vosso ratinho? Não tem os cheiros colhidos? Velho — Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu amor, meu coração! Moça — Jesus! Jesus! Que coisa é essa? E que prática tão avessa da razão!” VICENTE, Gil. Velho da horta. Disponível: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00116a.pdf. Acesso 10 nov. 2019. O trecho da conversa entre o Velho e a Moça revela: A - a conduta da Moça, que lamenta o comportamento do Velho, que a associa a classes mais baixas. B - a conduta exemplar do Velho em relação à Moça, em que se destaca sua moral. C - a crítica da Moça em relação à postura do Velho, na sua maneira de conduzir sua horta. D - a crítica implícita de Gil Vicente na fala da Moça, que repreende a conduta do Velho. E - a postura do Velho em relação à Moça, que se preocupa em oferecer os produtos que ela precisa. Questão 3 de 7 O Barroco teve como característica a dualidade, sobretudo em relação aos planos espiritual e material. Isso se deve ao contexto histórico em que se desenvolveu: a partir da Reforma protestante e da contrarreforma católica. Esse contexto fez com que houvesse uma visão de mundo teocêntrica, em que o homem se via assolado diante do divino. Um dos maiores escritores barrocos de língua portuguesa foi Padre Antônio Vieira. Leia um trecho do “Sermão da Sexagésima” para responder a questão: “O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.” VIEIRA, Antônio. Sermão da Sexagésima. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000034.pdf. Acesso 10 nov. 2019. A relação que Vieira estabelece no texto: A - demonstra que a semente somente pode frutificar se Deus souber semear corretamente sua palavra. B - demonstra uma visão de mundo limitada aos ensinamentos bíblicos e sem relação com a literatura. C - demonstra uma visão de mundo que não é barroca, já que essa estética não possui relação com a religiosidade. D - demonstra uma visão de que a palavra de Deus possui vontade acima do desejo dos homens. E - demonstra uma visão em que o homem precisa estar preparado para receber a palavra de Deus (semente). Questão 4 de 7 O Barroco como estética literária possui duas correntes: o conceptismo e o cultismo que estão relacionadas com a maneira como a linguagem é trabalhada nos textos. Em ambas, há riqueza na linguagem e exageros. Enquanto o cultismo apresenta jogos de palavras, escolha vocabular rica, o conceptismo traz um raciocínio em relação ao tema escolhido pelo autor. Leia o trecho do sermão do Padre Antônio Vieira e analise suas características: De três modos - que há muitos modos de mentir - mentiram hoje estes maus ouvintes. Mentiram, porque não creram a verdade; mentiram, porque impugnaram a verdade; mentiram, porque afirmaram a mentira. Não crer a verdade é mentir com o pensamento; impugnar a verdade é mentir com a obra; afirmar a mentira é mentir com a palavra. Tudo isto lhe tinha profetizado a Cristo seu pai Davi, quando disse: In multitudine virtutis tuae mentientur tibi inimici tui (4). De muitos modos mostrareis eficazmente a verdade de vosso ser, mas vossos inimigos vos mentirão também por muitos modos; mentir-vos-ão não crendo; mentir-vos-ão impugnando; mentir-vos-ão mentindo, como hoje fizeram. Disse-lhes Cristo que era Filho de Deus verdadeiro, a quem eles chamavam Pai sem o conhecerem: disse- lhes que os que recebessem e observassem sua doutrina viveriam eternamente, e aqui mentiram não crendo a verdade: Si veritatem dico vobis, quare non creditis mihi ( 5)? Disse-lhes mais, que Abraão desejara ver o seu dia, isto é, o dia em que havia de descer do céu à terra, e nascer homem entre os homens, e que, finalmente, o vira com grande júbilo e alegria da sua alma, e aqui mentiram impugnando a verdade: Quinquaginta annos nondum habes, et Abraham vidisti (Jo 8, 57)? Tu não tens ainda cinquenta anos, e viste Abraão? (4) Por ocasião do teu grande poder se convencerão de mentira os teus inimigos (Sl 65, 3). (5) Se eu vos digo a verdade, por que me não credes (Jo 8; 46)? VIEIRA, Antônio. Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000035.pdf. Acesso 10 nov. 2019. O trecho do sermão de Vieira pode ser associado A - ao conceptismo, devido à associação entre o conceito de mentira e as referências bíblicas. B - ao conceptismo, pelo uso de expressões latinas no texto que corroboram as ideias associadas à mentira.C - ao conceptismo, pois o autor elabora uma argumentação a partir da ideia inicial da mentira. D - ao cultismo, devido à argumentação presente no trecho, a partir da ideia da mentira. E - ao cultismo, pois para a elaboração das ideias acerca da mentira há um trabalho meticuloso com a linguagem. Questão 5 de 7 O Humanismo foi um período muito rico em relação à produção literária. Obras como o Cancioneiro, as crônicas de Fernão Lopes e a obra de Gil Vicente. A obra vicentina criticou muitos aspectos da sociedade em que estava inserida. Leia um trecho da peça Auto da Índia, que tem como tema a viagem à Índia de um homem que deixa sua esposa sozinha: “LEMOS Deixai-me cantar, senhora. AMA A vizinhança que dirá, Se o meu marido aqui não está, E vos ouvirem cantar? Que razão lhe posso eu dar, Que não seja muito má? (...) MOÇA Quantas artes, quantas manhas, Que sabe fazer minha a ama! Um na rua, outro na cama! (...) AMA Mas que graça, que seria, Se este negro meu marido, Tornasse a Lisboa vivo Pera a minha a companhia! Mas isto não pode ser, Que ele havia de morrer Somente de ver o mar.” Na leitura do trecho, fica evidente A - a crítica de Gil Vicente ao comportamento de Ama, que prefere o marido longe de casa, divertindo-se com outros homens. B - a crítica de Gil Vicente ao que afirma Ama, que acredita que o marido é covarde para empreender a viagem às índias. C - que a personagem Lemos seduz Ama, que prefere ser fiel ao marido, que está em viagem. D - que a personagem Moça aconselha erradamente Ama, criticando sua postura em relação aos homens. E - que Ama preza pela honra do marido, mas que é seduzida pela personagem Lemos. Questão 6 de 7 Viagem à minha terra é o romance mais conhecido de Almeida Garret. Como o título indica, o romance narra uma viagem por Portugal em que traz várias reflexões a respeito do que vê no país: “Ora nesta minha viagem Tejo arriba está simbolizada a marcha do nosso progresso social: espero que o leitor entendesse agora. Tomarei cuidado de lho lembrar de vez em quando, porque receio muito que se esqueça. Somos chegados ao triste desembarcadouro de Vila Nova da Rainha, que é o mais feio pedaço de terra aluvial em que ainda pousei os meus pés. O sol arde como ainda não ardeu este ano. Um imenso arraial de caleças, de machinhos, de burros e arrieiros, nos espera naquele descampado africano. É forçoso optar entre os dois martírios da caleça, ou do macho. Do mal o menos... seja este. E acolá, oh, suplício de Tântalo! vejo duas possantes e nédias mulas castelhanas jungidas a um veículo que, nestas paragens aos pé daqueloutros, me parece mais esplêndido do que um landau de Hyde Park, mais elegante do que um caleche de Longchamps, mais cômodo e elástico do que o mais aéreo brislta da Princesa Helena. E contudo — oh mágico poder das soituações! — ele não é senão uma substancial e bem apessoada traquitana de cortinas.” Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000012.pdf. Acesso 16 jan. 2020. No trecho, fica evidente que o narrador A - critica a condição dos animais que o levariam na viagem. B - critica o que vê na viagem e, consequentemente, Portugal como um todo. C - descreve como triste boa parte das paisagens que presencia. D - descreve de modo romantizado o interior de Portugal. E - descreve e critica sua escolha por empreender a viagem. Questão 7 de 7 Eça de Queirós é o ícone do Realismo Português. Entre suas obras mais importantes está o romance A cidade e as serras, que tem como protagonista Jacinto: “Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, a Tabuada, o Latim entraram pôr ele tão facilmente como o sol pôr uma vidraça. Entre os camaradas, nos pátios dos colégios, erguendo a sua espada de lata e lançando um brado de comando, foi logo o vencedor, o Rei que se adula, e a quem se cede a fruta das merendas. Na idade em que se lê Balzac e Musset nunca atravessou os tormentos da sensibilidade; - nem crepúsculos quentes o retiveram na solidão duma janela, padecendo dum desejo sem forma e sem nome. Todos os seus amigos (éramos três, contando o seu velho escudeiro preto, o Grilo) lhe conservaram sempre amizades puras e certas – sem que jamais a participação do seu luxo as avivasse ou fossem desanimadas pelas evidências do seu egoísmo. Sem coração bastante forte para conceber um amor forte, e contente com esta incapacidade que o libertava, do amor só experimentou o mel – esse mel que o amor reserva aos que o recolhem, à maneira das abelhas, com ligeireza, mobilidade e cantando. Rijo, rico, indiferente ao Estado e ao Governo do Homens, nunca lhe conhecemos outra ambição além de compreender bem as Ideias Gerais; e a sua inteligência, nos anos alegres de escolas e controvérsias, circulava dentro das Filosofias mais densas como enguia lustrosa na água limpa dum tanque. O seu valor, genuíno, de fino quilate, nunca foi desconhecido, nem desaparecido; e toda a opinião, ou mera facécia que lançasse, logo encontrava uma aragem de simpatia e concordância que a erguia, a mantinha embalada e rebrilhando nas alturas. Era servido pelas coisas com docilidade e carinho; - e não recordo que jamais lhe estalasse um botão da camisa, ou que um papel maliciosamente se escondesse dos seus olhos, ou que ante a sua vivacidade e pressa uma gaveta pérfida emperrasse. Quando um dia, rindo com descrido riso da Fortuna e da sua roda, comprou a um sacristão espanhol um Décimo de Lotaria, logo a Fortuna, ligeira e ridente sobre a sua roda, correu num fulgor, para lhe trazer quatrocentas mil pesetas.” Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000081.pdf. Acesso em 16 jan. 2020. O trecho descreve um pouco a respeito da vida de Jacinto. Nesse excerto é possível verificar: A - que há muito humor na descrição, o que é característica do Realismo. B - que há predomínio da objetividade na descrição, o que é característica do Realismo. C - que há predomínio da subjetividade na descrição, o que é característica do Realismo. D - que há predomínio de memórias, recordações, o que é característica do Realismo. E - que há predomínio de opiniões pessoais da personagem, o que é característica do Realismo.
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