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Economia Brasileira Contemporânea Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Júlio Cesar Gomes Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan A Era Vargas (1930-1945) • O Estado Novo • As Políticas Econômicas Liberais · Analisar as políticas cambiais e de comércio exterior de combate à inflação e ao déficit público de 1930 a 1945; · Caracterizar as medidas de fomento à industrialização nacional. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Era Vargas (1930-1945) Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) Contextualização As políticas econômicas determinadas pelo Estado brasileiro têm influenciado de forma considerável o mercado e o comportamento dos agentes econômicos. As discussões em torno dos acertos e erros das políticas econômicas se difundiram nas instituições econômicas, universitárias e na mídia, exigindo que sejam compreendidos seus pontos principais, como base de um julgamento consistente. Assista à reportagem exibida por meio do link abaixo e veja um caso de debate sobre medidas adequadas a serem estabelecidas por uma política econômica atual: Fiz compra em site estrangeiro há cinco meses e não recebi o produto. O que faço? https://youtu.be/WLil7yiJqHIEx pl or Alguns aspectos da política econômica da era Vargas são discutidos ainda hoje, e alguns estudiosos apontam que medidas semelhantes às adotadas neste período histórico ainda são defendidas e implantadas ainda hoje. 8 9 O Estado Novo O Estado Novo, instaurado por Getúlio Vargas, foi caracterizado por um governo autoritário e por um sistemático processo de industrialização do País, baseando-se em duas medidas: · Intenso processo de intervenção econômica do Estado na economia; · Substituição gradual de importações. Fonte: commons.wikimedia.org A industrialização precisava de um grande esforço de investimento de capitais, que foi proporcionado pelo Estado, que se encarregou de promover a acumulação capitalista no Brasil, necessária ao esforço industrial. Para tal, o Estado brasileiro estabeleceu uma política cujas características principais eram: · O planejamento centralizado; · A coordenação nacional de sua execução. 9 UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) Importante! O modelo de política econômica adotado por Getúlio Vargas se espelhava na organização econômica dos países de orientação nazifascista e na URSS, apesar de não ter ocorrido no Brasil a abolição da propriedade privada. Economia no Estado Novo de Vargas https://goo.gl/waiO85 Você Sabia? Fonte: fgv.br Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) https://goo.gl/PsBufm Fonte: fgv.br Ex pl or Na política externa, Vargas seguiu uma linha de neutralidade e pragmatismo, negociando com quem oferecesse melhores condições econômicas para o País. Assinou acordos comerciais com a Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha. 10 11 No início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo brasileiro mante- ve-se neutro, apesar das afinidades de muitos integrantes do governo com os países de Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Fonte: commons.wikimedia.org A contribuição brasileira na luta contra o nazismo fascismo ocorreu por meio do fornecimento de matérias-primas como borracha e minério de ferro. Em contrapartida, o governo Vargas recebeu créditos para a recuperação das jazidas de ferro de Minas e da ferrovia do Vale do Rio Doce e para a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda. Extraído do Artigo: https://goo.gl/0iubsX Ex pl or Neste contexto de expansão industrial e de política externa capitaneado pelo Estado, desenvolveu-se o Trabalhismo brasileiro - uma ideologia que se difundiu a partir da ação das leis de controle sobre os sindicatos e do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) após 1930. Na ideologia do trabalhismo, a resolução dos conflitos entre as classes so- ciais se assemelhava ao corporativismo fascista italiano. O Estado atuava como árbitro por meio da institucionalização dos sindicatos de trabalhadores e das associações empresariais. Ideologia do Trabalhismo https://goo.gl/PPxJNwE xp lo r O trabalhismo brasileiro surgiu depois de um período inicial de latência do movimento operário desde 1922, até o seu breve processo de reorganização nos primeiros anos da década de 1930. Foram anos marcados, sobretudo, pelo Estado de Sítio (1922–1927), no governo de Artur Bernardes e pela repressão política. A questão social era uma questão de polícia. Havia a preocupação do Estado e das elites dirigentes em conter os diversos surtos grevistas que marcaram as três primeiras décadas do século (BOITO JÚNIOR, 1991). 11 UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) A ascensão de Vargas favoreceu o declínio da hegemonia agrário-exportadora e o começo da predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial, que ensejou um processo significativo de industrialização. Deste modo, Vargas tinha que ponderar os interesses do operariado urbano, sua situação de penúria material e potencial político explosivo. Vargas estruturou, então, um modelo de organização sindical tutelado pelo Estado que iria sobreviver à transição democrática de 1945 a 1964, à ditadura militar e, em certa medida, à reabertura política realizada na década de 1980 até hoje. O modelo sindical de Vargas se relacionava a um projeto autoritário-corporativo, gestado a partir da década de 1920 por um grupo de intelectuais: Azevedo Amaral, Oliveira Vianna, Francisco Campos. Participaram também alguns militares vinculados ao movimento tenentista. Movimento Tenentista https://goo.gl/PsBufmE xp lo r Em linhas gerais, o projeto autoritário-corporativo defendia um governo nacio- nalista, centralizado, com menor autonomia para os estados e municípios, o fim da representação parlamentar e sua substituição por um modelo de representação téc- nica, de tipo classista, além de um sindicalismo organizado nos moldes corporativos. Para tal, o Decreto nº 19.770, de 1931, estabeleceu a unicidade sindical e a necessidade de reconhecimento do sindicato pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Desta forma, iniciava-se o controle das atividades sindicais pelo Estado através do envio de regulares relatórios de acontecimentossociais. Surgiu também a figura dos delegados sindicais do Ministério do Trabalho, a possibilidade de imposição de multas, de destituição da diretoria e fechamento ou dissolução do sindicato pelo Ministério (CAMPINHO, 2006). Ou seja, alçava-se o sindicato à condição de órgão de colaboração com o poder público e facultava-se, pela primeira vez, a realização de convenções e acordos coletivos, que deveriam ser posteriormente ratificados pelo Ministério do Trabalho. Este decreto representava uma verdadeira ameaça à ação direta dos chamados sindicatos livres, pois introduzia um regime tutelar na qual a proposta dos trabalhadores de regulação do mercado de trabalho era substituída pela proposta dos burocratas vinculados ao Ministério do Trabalho. Porém, a estratégia governamental não utilizava somente a coerção. Foi através do binômio de repressão e inclusão que se estruturou o controle dos sindicatos. Ofereciam- se também uma série de vantagens aos sindicatos oficiais e seus filiados, tais como a concessão de férias somente aos filiados ao sindicato (Decreto nº 23.103 de 1933). Em 1935, o sindicalismo corporativo já estava implantado na maioria dos estados e nas cidades maiores. As principais categorias de trabalhadores, dentre as quais algumas com tradição anterior de luta e organização já tinham substituído suas uniões e sindicatos autônomos por sindicatos oficiais. 12 13 Com a formação da ANL (Aliança Nacional Libertadora) e da Intentona Comunista, terminou-se por destruir por absoluto as organizações autônomas da classe operária, consolidando-se um tipo de sindicalismo corporativista. Ministério do Trabalho https://goo.gl/HLYz0RE xp lo r ‘’A impressão mais difundida acerca do primeiro governo Vargas dá a ideia de um líder carismático, de índole populista e, portanto, capaz de um contato direto com as massas. Trata-se da fi gura paterna (o pai dos pobres), ovacionado pela classe trabalhadora a quem concedeu apenas por liberalidade uma gama imensa de direitos sociais. Porém, este aparato ideológico, consubstanciado na ideia de outorga não nasceu acabado, mas foi construído. O mesmo ocorreu com a estrutura sindical corporativa. Para que esta pudesse se impor, tornar-se aceitável, foi necessária a utilização de diversos expedientes. Não se tratou somente de repressão, pois, como foi visto aqui, havia entre o movimento operário setores (sindicalismo amarelo) que aderiram espontaneamente. Mas foi também, e isso não pode ser ocultado, repressão. Foi preciso aniquilar, não só fi sicamente, mas também simbolicamente os sindicatos livres, pois, além de destruídos eles haviam perdido o direito de ter história. As opções, entretanto, estiveram longe de se resumir à oposição entre livre adesão e repressão. O controle dava-se através desse jogo complexo entre positividade (garantia de direitos sociais) e negatividade (tutela estatal), consolidando o que se pode denominar “inclusão subordinada”. Só no inicio da década de 40, com as campanhas de sindicalização em massa, com a instituição do imposto sindical e com a consolidação de um aparato propagandístico do governo, que os sindicatos passarão a constituir uma espécie de “reserva de mobilização” de apoio a Vargas. São, portanto, momentos distintos, que se confundidos levam a equivocada conclusão de que o populismo articula- se só através do carisma, ocultando-se o período repressivo que o antecedeu. (CAMPINHO, Fábio. Sindicalismo de Estado: controle e repressão na Era Vargas (1930-1935), Revista Eletrônica do CEJUR, v. 1, n. 1, ago./dez. 2006, p.133). Ex pl or GOMES, Ângela de Castro. A invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2010. Ex pl or Para viabilizar a política econômica, foram criados alguns institutos de ramos econômicos: · O Instituto do Café; · O Instituto do Açúcar e do Álcool; · Órgãos de coordenação que funcionavam como vetores da execução e planejamento da política econômica: a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (1937), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1938), o Conselho Nacional do Petróleo (1938), a Comissão de Planejamento Econômico (1944). 13 UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) Para criar as condições favoráveis ao processo de industrialização, o Estado investiu grandes somas de capitais em empresas estatais em diversos setores da atividade econômica, enfatizando as obras de infraestrutura que eram excessivamente dispendiosas para os capitais privados nas áreas de energia elétrica, transformação de metais, elementos químicos, rodovias e ferrovias, entre outras vias de transporte. Importante! Durante o Estado Novo, foram criadas várias estatais destinadas a apoiar o processo de substituição de importações: • Siderurgia (Companhia Siderúrgica Nacional – Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em 1940); mineração (Companhia Vale do Rio Doce – Minas Gerais, 1942); • Mecânica pesada (Fábrica Nacional de Motores – Rio de Janeiro; 1943); • Química (Fábrica Nacional de Álcalis – Cabo Frio, no Rio de Janeiro, 1943); • Hidrelétrica (Companhia Hidrelétrica do Vale do Rio São Francisco – Pernambuco (sede), 1945). Você Sabia? Depois de 1945, em razão da prioridade estabelecida de contribuir na recons- trução europeia, os EUA secundarizaram a América Latina. O Brasil teve que buscar influxos de capitais privados para financiar o seu próprio desenvolvimento econômico e industrial. Sem o apoio externo, o processo de industrialização nos primeiros anos após a Segunda Guerra foi um efeito indireto dos controles cambiais e de importação adotados como resposta aos déficits do balanço de pagamentos (GIAMBIAGI, 2011). A industrialização foi favorecida pelas seguintes medidas: · Foi mantida a taxa de câmbio sobrevalorizada; · Foram impostas progressivamente medidas discriminatórias à importação de bens de consumo não essenciais, semelhantes ao produto nacional; · O crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5%, respectivamente, nos anos de 1947 a 1950. Deste modo, a produção real da indústria de transformação aumentou em pouco mais de 42% (9% a.a.), entre 1946 e 1950, com destaque para os setores de Material Elétrico (28% a.a.), Material de Transporte (25% a.a.) e Metalurgia (22% a.a.) Ainda assim, esses três setores respondiam, conjuntamente, por menos de 10% do valor adicionado industrial no início da década de 1950. A seguir, alguns fatores externos conjunturais iriam acelerar o processo de indus- trialização do País. 14 15 No plano doméstico, a volta de Vargas em 1951 favoreceu a industrialização. Seu projeto de governo que se desenvolveu em duas fases: · Primeira fase: buscava-se a estabilização da economia, através do equi- líbrio das finanças públicas a fim de permitir a adoção de uma política monetária restritiva, reduzindo-se a inflação; · Segunda fase: buscava-se realizar empreendimentos e obras públicas na área de infraestrutura. Durante a primeira fase, as despesas do setor público em 1951 foram efetivamente reduzidas. Essa orientação fiscal foi mantida em 1952, quando o superávit no orçamento da União foi praticamente igual ao do ano anterior. A combinação de contenção de despesas da União (acompanhada pelos Estados e o Distrito Federal) e de um grande aumento da receita levou ao primeiro superávit global da União e estados desde 1926. Durante a segunda fase, foram criadas duas empresas estatais, cuja importância só ficaria mais nítida alguns anos depois - o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras). Importante! Fonte: iStock/Getty Images Durante o Estado Novo, foram criadas várias estatais destinadas a apoiar o processo de A criação do BNDE foi prece- dida de um longo período de debates e estudos sobre a natureza dos problemas econômicos brasileiros, analisando-se as transformações estruturais por que deveria passar o sistema produtivo e o papel que deveria caber ao Estado e à iniciativa privada. Decidiu-se pela criaçãodo BNDE em 1952, pela Lei no 1.628, ao qual foram dadas as seguintes incumbências: • Gerir o Fundo de Aparelhamento Econômico, instituído meses antes; • Administrar e garantir os créditos em moeda estrangeira comprometidos com o Programa de Reaparelhamento Econômico; • Preparar, e, se necessário, analisar e financiar projetos específicos que integravam aquele programa. Porém, em fi ns de 1952, o BNDE passou a trabalhar com uma realidade caracterizada por montante sensivelmente menor de recursos em moeda estrangeira. A posteriori, o Banco desempenharia papel importante a partir do Programa de Metas, no governo Kubitschek. Você Sabia? 15 UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) 60 anos do BNDES, um banco de história e do futuro https://youtu.be/Ub8BMYyZwfQEx pl or A Petrobrás e a campanha do Petróleo é nosso A história da Petrobras (empresa criada pela Lei n. 2.004, de 3 de outubro de 1953) remonta aos debates, ao final da Primeira República, em torno da nacionalização das jazidas de petróleo brasileiras. As dificuldades de abastecimento de petróleo e derivados reforçaram a ideia daqueles que identificavam o setor petrolífero como de caráter estratégico para a economia e soberania do País. Por esta razão, houve o envolvimento direto de setores das Forças Armadas no debate em torno da matéria, o que se refletiu na criação, ainda em 1938, do Conselho Nacional do Petróleo - CNP, tendo à frente um general, Horta Barbosa. A campanha “O petróleo é nosso” acirrou-se no imediato pós-guerra, engajando, além de políticos e militares, vários setores urbanos. Tal como o ocorrido em outros países da América Latina, a opção da sociedade brasileira foi excluir as companhias estrangeiras das etapas de exploração e refino do petróleo. Mas o consenso parava aí. Quando se tratava de decidir a quem caberiam essas tarefas, as posições políticas divergiam: • Alguns defendiam o controle estatal de todo o processo; • Outros propunham uma participação direta do capital privado nacional no setor. • O debate atravessaria o governo Dutra, até que o desenho institucional da política para o setor foi completado, com as seguintes medidas: • Foi criado o imposto único sobre derivados de petróleo, coordenado pelo CNP, cuja arrecadação forneceria recursos para a criação da Petrobras; • Foi conferido à Petrobrás o monopólio da extração do petróleo, cabendo às companhias estrangeiras, nesse desenho, o mercado distribuidor de combustíveis (DIAS, José Luciano de Mattos; QUALINO, Maria Ana. A questão do petróleo no Brasil: uma história da PETROBRAS. Rio de Janeiro: CPDOC: PETROBRAS, 1993). Ex pl or As Políticas Econômicas Liberais Entre o fim do Estado Novo (1945) e a eleição de Juscelino Kubitschek à Presidência da República (1955), tentou-se seguir os princípios liberais de Bretton Woods que envolviam, prioritariamente, a eliminação das barreiras ao livre fluxo de bens e a multilateralização do comércio internacional. História - Bretton Woods https://goo.gl/1aBb7dEx pl or 16 17 Ainda no período do Governo Dutra (1946-1951), foi realizado um diagnóstico que colocava a inflação como o principal problema a ser enfrentado, que chegara a 11% e 22% em 1945 e 1946. Dutra estabeleceu políticas cambiais e de comércio exterior, considerando as necessidades de combate à inflação, buscando atingir os seguintes objetivos: · Atender à demanda contida de matérias-primas e de bens de capital para reequipamento da indústria, desgastada durante a guerra; · Forçar a baixa dos preços industriais, mediante o aumento da oferta de pro- dutos estrangeiros, importados com uma cotação cambial sobrevalorizada; · Estimular o ingresso de capitais, com a liberalização de sua saída. Mas a expansão real do crédito do Banco do Brasil, corroborada por política monetária “frouxa”, levou a inflação anual a níveis de dois dígitos: 12,3% e 12,4%. O fracasso na política econômica liberal, contracionista, nos últimos dois anos do governo Dutra se deve a diversos fatores: · A proximidade das eleições presidenciais que provocava um forte apelo para o aumento dos gastos da União e dos estados; · O aumento dos investimentos no setor industrial de bens de consumo duráveis devido à combinação de câmbio sobrevalorizado com controle de importações. Deste modo, as sucessivas crises de balanço de pagamentos por que passaria o Brasil nos primeiros anos do Pós-Guerra terminaram por colocar em xeque o modelo liberal e deram lugar a um modelo de desenvolvimento industrial com crescente participação do Estado. Importante! A Era Vargas se caracterizou por um intenso processo de intervenção econômica do Estado na economia e pela substituição gradual de importações. Os dez anos que se seguiram ao fi m da Segunda Guerra foram de forte expansão do PIB, mas também de fortes pressões infl acionárias. A taxa de investimento média da economia também se elevou, refl etindo o avanço do pro- cesso de industrialização e a expansão dos investimentos públicos no setor de infraestrutura. No interior da indústria de transformação foi nítida a mudança, evidenciando um estágio avançado do processo de substituição de importações no País. Por exemplo, ocorreu a queda média de 42% no valor das importações industriais entre 1952 e 1956, ao mesmo tempo em que a produção doméstica cresceu 40%. Como resultado, a participação dos importados na oferta doméstica, após atingir 16% em 1952, caiu para pouco mais de 7% em 1956. Conclui-se que o principal legado do período 1945-55 foi a política industrial baseada na substituição de importações, a persistência de um modelo de desenvolvimento econômico nacionalista, de cunho pragmático e a impopularidade do ideário econômico liberal Em Síntese 17 UNIDADE A Era Vargas (1930-1945) Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A Ordem do Progresso ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004. Classe operária, sindicatos e partido no Brasil ANTUNES, R. Classe operária, sindicatos e partido no Brasil: (um estudo sobre a consciência de classe: da Revolução de 30 até a Aliança Nacional Libertadora). São Paulo: Cortez, 1982. O sindicalismo de Estado no Brasil BOITO JÚNIOR, A. O sindicalismo de Estado no Brasil. São Paulo: UNICAMP, 1991. Sindicalismo de Estado CAMPINHO, Fábio. Sindicalismo de Estado: controle e repressão na Era Vargas (1930-1935). Revista Eletrônica do CEJUR, v. 1, n. 1, ago./dez. 2006. A Era Vargas FILHO, Hermógenes Saviani. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e sociedade. Economia e Sociedade, Campinas, v. 22, n. 3 (49), p. 855-860, dez. 2013. Síntese da economia brasileira FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 7. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2012. Economia brasileira contemporânea GIAMBIAGI, Fabio; CASTRO, Lavinia Barros De; HERMANN, Jennifer. Economia brasileira contemporânea: 1945-2010. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. A invenção do Trabalhismo GOMES, Angela de Castro. A invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2010. O Brasil sob nova ordem MARQUES, Rosa Maria; FERREIRA, Mariana Ribeiro Jansen. O Brasil sob nova ordem: a economia brasileira contemporânea: uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo: Saraiva, 2010. Economia brasileira contemporânea SOUZA, Nilson Araújo de. Economia brasileira contemporânea: de Getúlio a Lula. 2. ed., ampl. São Paulo: Atlas, 2008. Leitura Decreto nº 23.103 BRASIL. Decreto nº 23.103, de 19 de agosto de 1933. Governo de Getúlio Vargas BRAZ, Kelly Ariane Buás. Governo de Getúlio Vargas: a economia e a política. https://goo.gl/0iubsX 18 19 Referências BASTOS, Pedro Paulo Z. O Presidente Desiludido: a campanha liberal e o pêndulo da política econômica no governo Dutra (1942-1948)”. História Econômica e História de Empresas, vol. VII, n. 1, pp. 99-135, jan./jun. 2004. BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento EconômicoBrasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Ipea/Inpes, 1988. Série PNPE, n. 19. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Desenvolvimento e Crise no Brasil: história, economia e política de Getúlio Vargas a Lula. 5ª ed. São Paulo: Editora 34, 2003. __________. Financiamento para o subdesenvolvimento: o Brasil e o Segundo Consenso de Washington”. In: BNDES, Desenvolvimento em Debate, vol. 2 (livro comemorativo do Seminário “50 anos do BNDES”), 2002. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 8ª ed. São Paulo: Edusp, 2000. GIAMBIAGI, F. Economia brasileira contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2011. GREMAUD, A. P.; TONETO JUNIOR, R.; VASCONCELLOS, M. A. S. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. LACERDA, A. C. et al. Economia Brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. LEOPOLDI, Maria Antonieta P. A Economia Política do Primeiro Governo Vargas (1930-1945): a política econômica em tempos de turbulência. In: Jorge Ferreira; Lucilia A. Neves Delgado (orgs.). O Tempo do Nacional-Estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. (Coleção O Brasil Republicano, vol. 2). __________. Crescendo em Meio à Incerteza: a política econômica do Governo JK (1956-60). In: Angela Castro Gomes (org.). O Brasil de JK. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. 19
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