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ESTÉTICA I CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Estética I – Prof. Dr. Artur Matuck, Prof.ª Ms. Caroline Cabral Rocha Bertol e Prof.ª Ms. Maria Gabriela Mielzynska Meu nome é Artur Matuck, sou pesquisador, escritor, artista plásti- co e, desde 1984, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Atualmente, sou livre-docente e ministro disciplinas de Comu- nicação Digital nos Departamentos de Relações Públicas, Propagan- da e Turismo da USP. Atuo ainda como professor-orientador nos programas de pós-graduação em Ciências da Comunicação e em Estética e História da Arte, ambos da USP. Minha produção artística tem sido exibida nas Bienais de São Paulo em 1983, 1987, 1989, 1991, 2002 e na Off-Bienal de 2008. E-mail: arturmatuck@gmail.com Meu nome é Caroline Cabral Rocha Bertol, sou mestre pelo Progra- ma de Estética e História da Arte pela USP, especialista em Estudos de Museus de Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da USP e gradu- ada em arquitetura pela Unesp de Bauru-SP e pela ENSAPLV - École Nationale Supérieure d'Architecture de Paris La Villette, em Paris. Minha experiência profissional abrange as áreas de arquitetura, cine- ma, cenografia e indumentária teatral, museografia e curadoria, além da atuação como professora de arte, arquitetura e estética. E-mail: carolinerocha@hotmail.fr Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação Meu nome é Maria Gabriela Mielzynska. Sou mestre em Comuni- cação e Semiótica pela PUC de São Paulo e Bacharel em História da Arte pela Universidade de Londres (Inglaterra). Fui coordenadora do curso de pós-graduação em História da Arte da Fundação Ar- mando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, de 1990 a 1999. Atualmente, sou professora de História da Arte em cursos livres em escolas e faculdades e dirijo a Associação Artensino - Organização Não Governamental voltada ao ensino da História da Arte. E-mail: artensino@yahoo.com.br Os autores agradecem a exímia contribuição de Luiz Venâncio Aiello. Com formação universitária em Cinema pela Fundação Ar- mando Álvares Penteado (FAAP) é também redator e pesquisador. E-mail: luvenancio@hotmail.com Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação Claretiano - Centro Universitário ESTÉTICA I Caderno de Referência de Conteúdo Artur Matuck Caroline Cabral Rocha Bertol Maria Gabriela Mielzynska Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP) Versão: dez./2013 111.85 M397e Matuck, Artur Estética I / Artur Matuck, Caroline Cabral Rocha Bertol, Maria Gabriela Mielzynska – Batatais, SP : Claretiano – Rede de Educação, 2013. 160 p. ISBN: 978-85-67425-42-9 1. Princípios filosóficos que fundamentaram o objeto e a percepção estética. 2. Influência dos teóricos, historiadores, filósofos e autores na construção do conceito do belo e dos fundamentos da arte, com enfoque nas artes visuais, desde a Grécia Antiga até o Renascimento.I. Bertol, Caroline Cabral Rocha. II. Mielzynska, Maria Gabriela. III. Estética I. CDD 111.85 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERnO DE REfERênCIA DE COnTEúDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 10 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO à ESTÉTICA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 21 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 21 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 22 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 22 5 O qUE É ESTÉTICA? .......................................................................................... 25 6 O qUE É ARTE? ................................................................................................. 29 7 ANÁLISE ESTÉTICA............................................................................................ 34 8 A ESTÉTICA COMO DISCIPLINA ....................................................................... 47 9 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 48 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 49 11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 52 UNIDADE 2 – ARTE E CONHECIMENTO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 53 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 53 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 54 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 54 5 CONCEITOS GERAIS .......................................................................................... 55 6 FILóSOFOS GREGOS ......................................................................................... 56 7 FILóSOFOS CHINESES ...................................................................................... 76 8 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 83 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 84 10 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 84 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 88 12 REFERÊNCIA VIDEOGRÁFICA ........................................................................... 88 UNIDADE 3 – ESTÉTICA CRISTÃ NA IDADE MÉDIA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................89 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 89 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 90 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 90 5 O FINAL DO IMPÉRIO ROMANO E A IDADE MÉDIA ....................................... 91 6 ASPECTOS DO PENSAMENTO FILOSóFICO CRISTÃO ..................................... 95 7 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 121 8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 122 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 122 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 126 UNIDADE 4 – ESTÉTICA E SOCIEDADE: NOVOS OLHARES PARA A ARTE 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 129 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 129 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 130 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 130 5 RENASCIMENTO NA ARTE E NA FILOSOFIA ................................................... 132 6 SÉCULOS 16 E 17 ............................................................................................... 145 7 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 156 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 157 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 157 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 160 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Princípios filosóficos que fundamentaram o objeto e a percepção estética. Influ- ência dos teóricos, historiadores, filósofos e autores na construção do conceito do belo e dos fundamentos da arte, com enfoque nas artes visuais, desde a Grécia Antiga até o Renascimento. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. InTRODUÇÃO Para facilitar o estudo de Estética I, dividimos o seu conteúdo em quatro unidades, as quais serão brevemente apresentadas a seguir. Na Unidade 1, conheceremos alguns dos fundamentos da Estética, identificaremos a importância de seu estudo, abordare- mos o processo de criação e recepção estética e as metodologias da análise crítica. Dando continuidade aos nossos estudos, na Unidade 2, co- nheceremos os principais filósofos da Antiguidade que contribuí- ram para a análise da Arte e tomaremos contato com algumas das obras que modificaram a maneira de analisar o universo artístico. © Estética I10 Já na Unidade 3, identificaremos algumas das teorias vol- tadas para o campo da Arte que colocam em xeque todo o pen- samento da Antiguidade Clássica. Por fim, na Unidade 4, aborda- remos o período de revolução do conhecimento, ocorrido com o Renascimento e com o Iluminismo, a retomada do pensamento clássico e o impacto gerado no campo da Arte. Bons estudos! 2. ORIEnTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Caroline Cabral Rocha Bertol Mestre em Estética e História da Arte Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu- dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis- são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi- lidade social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este Caderno de Referência de Conteúdo. Apresenta-se aqui um panorama geral da Estética I. Nele, você poderá entrar em contato com os principais temas tratados e a maneira como eles serão abordados. Inicialmente, é necessário sabermos o que distingue a Estética como disciplina da palavra – estética – segundo a acepção do senso comum. Todos nós sabemos que estética é algo que se liga ao julgamento do que é belo e do que é feio; porém, 11 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo principalmente nos últimos tempos, a palavra vem sendo tão banalizada que, muitas vezes, acaba perdendo seu sentido inicial. Veremos que, para estudar a Estética, convém adotar uma metodologia, que pode ser construída segundo a observação restrita de algumas regras, que visam conferir às investigações a respeito dos temas tratados o rigor necessário para uma abordagem panorâmica, porém sólida. Também para a boa estruturação da nossa abordagem, devemos ter em mente alguns conceitos básicos, que serão relacionados mais adiante, no Glossário de Conceitos. Nosso estudo, depois de delimitar e definir o campo de atuação, passará às visões filosóficas sobre a arte surgidas desde a Antiguidade. Saberemos quem foram e o que pensaram os pitagóricos, principalmente no que concerne às suas ideias de harmonia e equilíbrio (que de certa forma fazem parte das investigações estéticas até hoje). Em seguida, conheceremos o pensamento dos mais famosos filósofos gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Isso tudo sem nos esquecermos de que não apenas no Ocidente existiu pensamento filosófico sobre a Arte, mas também no Oriente, onde teve grande aprofundamento, mas de maneira diferente. Na sequência, chegaremos à Idade Média, marcada especialmente pelo Feudalismo e pelo domínio das doutrinas cristãs, principalmente as da religião católica, sobre quaisquer manifestações artísticas ocidentais. O período foi favorável a um fenômeno interessante. Mesmo representando uma ruptura com seu passado clássico greco-romano, a Idade Média representou uma continuidade: a filosofia cristã da época encontra-se parcialmente integrada à Filosofia Clássica para originar a Filosofia Medieval, o que também incluiu, evidentemente, a Estética. Surgiu, então, a Filosofia conhecida como Neoplatonismo, representando exatamente a união de ideias clássicas (baseadas, como o próprio nome diz, na filosofia de Platão) com o Cristianismo. Diversos pensadores serão citados, entre eles nomes fundamentais para toda a história da Filosofia, como Santo Agostinho. © Estética I12 Alguns séculos depois de Santo Agostinho, nasceu a corrente filosófica conhecida como Escolástica, cujo principal nome é São Tomás de Aquino. Enquanto isso, já se formavam as condições históricas que dariam ensejo a grandes transformações não apenas na Estética, mas em toda a civilização ocidental. Tais condições, representadas pelo Renascimento comercial e urbano, pela ascensão da burguesia e, consequentemente, pelo fim do Feudalismo, teriam reflexos profundos tanto na Arte quanto na Filosofia da Arte. Nos séculos 15 e 16, surgiu e se desenvolveu o Renascimento, a partir principalmente das cidades-estado italianas e também de algumas localidades do norte da Europa. Começa, então, a mudar a visão acerca do homem e do mundo: ao mesmo tempo em que vamos percebendo não ser mais a Terra o centro do Universo, ocorre uma revalorização do papel do homem enquanto agente de seu destino e de sua história. Cresce a concepção filosófica humanista. Assim, atingiremos o amadurecimento dessa nova visão de mundo delineada em movimentos artísticos como o Maneirismo e o Barroco,que também produziram material filosófico significativo sobre a Arte, e ao final do estudo de Estética I, compreenderemos o campo de pesquisa da Estética e o panorama geral de sua história até aproximadamente o século 17. Desse modo, podemos dizer que, ao concluir o estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo, você será capaz de assimilar os conceitos necessários para a formação de uma base sólida a respeito de estética enquanto ramo da Filosofia e conhecer a metodologia para a abordagem estética dos fenômenos artísticos, além de ter um panorama do que representaram os estudos desse tema ao longo de vários séculos. Apresentamos a seguir a definição dos principais conceitos utilizados como instrumentos fundamentais para esta caminhada. Mãos à obra! 13 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos: Apreensão: ato ou efeito de apreender, ou seja, de assimilar intelectualmente imagens a conceitos. 1) Bidimensional: aquilo que tem duas dimensões, ou seja, uma superfície plana, como um quadro ou uma fotogra- fia, por exemplo. 2) Cânone: regra artística fortemente calcada na tradição, aceita de maneira quase indiscutível por muito tempo. 3) Criatividade: capacidade de criar, inventar ou re-inven- tar, geralmente relacionada às linguagens artísticas. 4) Expressão: qualquer manifestação criativa que conte com a subjetividade de quem a produz como um de seus elementos indispensáveis. 5) Imitação: tentativa de reprodução artística de deter- minadas formas ou conteúdos; surge a partir do termo grego mimesis, relacionado à visão clássica sobre a arte (aquela que atrela a arte a uma "imitação" de aspectos do mundo). 6) Materialidade: condição material de um objeto, sua fisi- calidade enquanto matéria. 7) Mecenato: patrocínio às atividades artísticas, realizado desde a Antiguidade, fundamental à produção da arte; é muitas vezes o que possibilita o sustento do artista. 8) naturalismo: linguagem formal intimamente atrelada à realidade, imitação realista. Por exemplo, uma escultu- ra é naturalista quando busca representar algo (pessoa, animal, objeto etc.) com extrema fidelidade. 9) Objetividade: qualidade ou capacidade de realização de uma atividade sem interferência das emoções ou da vi- são pessoal de quem a realiza. 10) Paradigma: modelo, padrão ou "protótipo" a ser segui- do, copiado ou pelo menos tomado como referência. © Estética I14 11) Percepção: ato ou capacidade de perceber, geralmente por meio dos sentidos. 12) Reprodutibilidade: capacidade ou condição relativa à reprodução, ou seja, à produção de várias cópias segun- do um mesmo modelo, ou de vários eventos com base em uma mesma matriz (o cinema, por exemplo, que pro- duz várias exibições do mesmo filme). 13) Recepção: qualidade do receptor, daquele que recebe o que quer que seja, principalmente informações. 14) Repertório: conjunto de conhecimentos e experiências acumulados por alguém, que passam a servir de referência para a absorção de novos conhecimentos e experiências. 15) Representação: produção de determinada forma ou conteúdo essencialmente atrelados a um modelo ori- ginal. Por exemplo, a representação de Hamlet quando se vê um ator colocando em prática o papel escrito por Shakespeare; ou uma "representação" de Dom Pedro I quando se vê uma estátua deste personagem histórico. 16) Sensorial: aquilo que se liga aos sentidos (visão, audi- ção, tato, olfato e paladar). 17) Símbolo: forma ou conteúdo usado para representar outra forma ou conteúdo. Por exemplo, a cruz, na cul- tura cristã, é um símbolo de Cristo. Pode-se dizer que o símbolo apresenta, de forma concentrada, uma série de elementos que remetem a algo exterior a ele. 18) Subjetividade: qualidade ou capacidade ligada e indis- sociável à visão de mundo do sujeito. 19) Tridimensional: aquilo que tem três dimensões, como uma construção arquitetônica ou uma escultura, por exemplo. Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave deste Caderno de Referência de Conteúdo. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu es- quema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, res- significando as informações a partir de suas próprias percepções. 15 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Con- ceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque- mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen- to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor- nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe- cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele- cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon- ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). © Estética I16 nova Ideias Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave – Estética I. 17 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito deste Caderno de Referência de Conteúdo e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino- aprendizagem. Por exemplo, ao analisar uma obra de arte criada na época do Renascimento, podemos avaliar como os cânones inovadores da representação pictórica foram influenciados pelas ideias da filosofia humanista. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àquelesrelacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, © Estética I18 normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares. figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos apresentados, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. 19 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. Claretiano - Centro Universitário 1 EA D Introdução à Estética 1. OBjETIVOS • Identificar e compreender a importância das bases filosó- ficas no campo da Estética para a realização de análises críticas. • Conhecer os fatores que influenciam o processo de ide- alização, construção, recepção e circulação do objeto ar- tístico. 2. COnTEúDOS • O que é Estética? Bases filosóficas. • O que é Arte? • Princípios da análise estética: Teoria da comunicação e semiologia. • Objeto artístico. • Recepção estética. © Estética I22 • Imagem e imaginário. • A Estética como disciplina. 3. ORIEnTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UnIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Leia sempre com atenção os conteúdos desta e das de- mais unidades para entender bem as ideias abordadas e poder apreciar e explicar não só as obras de arte já con- sagradas pela crítica, mas também outras que cruzarem o seu caminho no futuro. 3) As ideias apresentadas nesta unidade serão muito im- portantes para seu aperfeiçoamento, e não esgotam o tema, que é passível de questionamentos. Sugerimos, portanto, pesquisas constantes, sempre buscando o aprofundamento. 4. InTRODUÇÃO à UnIDADE Nesta unidade, conheceremos alguns dos mais importantes pensadores que contribuíram para o campo da Estética. Também veremos que a base filosófica da palavra "Estética" tem sido muito discutida, sobretudo, nos séculos 20 e 21, apesar de ter surgido na Antiguidade. Em primeiro lugar, devemos nos lembrar de que, quando se fala de Estética, muitos imaginam que se trata de estética corporal. Este é um erro bastante comum. Sem dúvida, o ideal estético está intimamente associado à ideia de beleza e, desde sempre, falar em beleza nos remete a um ideal de perfeição corporal (ideal que, como veremos, muda bastante de época para época, conforme ilustram as Figuras 1 e 2). 23 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Figura 1 Marylin Monroe – "ideal" de beleza feminina na década de 1950. Figura 2 Kate Moss – "ideal" de beleza feminina nos dias atuais. © Estética I24 De qualquer forma, devemos perceber claramente que a Estética é, antes de mais nada, um estudo filosófico que abarca fenômenos sociais, históricos e políticos, e busca discutir a Arte, seus meios de produção, suas técnicas e, principalmente, sua recepção. Trata-se, entre outras coisas, de um estudo cuja função é a reflexão sistemática sobre os valores relacionados à beleza e à feiura, características aparentemente subjetivas. A Estética busca transcender essa aparente subjetividade e avaliar, segundo sistemas filosóficos e levando em conta valores sociais, morais e éticos, o que cada época toma como sendo "belo". Sabemos que o que é belo para uma época é feio para outra. No Renascimento, por exemplo, o padrão de beleza de uma mulher apontava para formas fartas. Hoje, uma Vênus de Ticiano seria considerada simplesmente "gorda" (Figura 3). Já uma mulher que hoje tem formas de "top model" seria considerada naquele tempo completamente esquálida, provavelmente sofrendo de alguma enfermidade. Figura 3 Vênus de Urbino, Ticiano, 1538, óleo sobre tela, 119 cm x 165 cm, Gal. Uffizi, Florença. 25 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Saindo dos exemplos relacionados às formas femininas e voltando ao assunto da unidade, devemos nos lembrar de que também iremos conhecer alguns dos conceitos básicos para a realização de uma análise estética, considerando todos os fatores que influenciam a crítica de determinado objeto artístico. Por fim, compreenderemos a importância deste estudo para a educação e para o conhecimento.5. O QUE é ESTéTICA? A palavra "estética" tem origem grega. Vem da expressão aisthésis, que remete à ideia de "sensação" (impressão advinda por meio dos sentidos). Como já dissemos, a ideia de beleza tem sido discutida desde a Antiguidade. Tal discussão já aparece, por exemplo, com os estudos de Pitágoras e de seus seguidores (conhecidos como pensadores pitagóricos), no século 6º a.C. Muito pouco se sabe com precisão a respeito de Pitágoras, um dos primeiros grandes pensadores da cultura grega. Sabe- se que nasceu na cidade de Samos e que fundou na cidade de Crotona, então uma colônia grega no sul da Itália, uma escola. Tal escola teria, depois da morte de seu fundador, dado continuidade às suas atividades, provavelmente sob os auspícios de familiares de Pitágoras e de seus discípulos, que passaram a ser conhecidos como "pitagóricos". Pitágoras (Figura 4) e seus discípulos atuaram especialmente na descoberta das relações matemáticas. Por isso, foram os fundadores da geometria que, até hoje, estudamos. quem não se lembra do famoso "Teorema de Pitágoras", acerca das propriedades dos triângulos retângulos? Os estudos pitagóricos também influenciaram fundamentalmente outros campos que dependem muito da matemática, como a música, a arquitetura e outras artes. Pode-se dizer que, com os pitagóricos, se concretiza uma das pedras fundamentais da cultura grega, a que seria © Estética I26 também seu grande pressuposto estético: a ligação da ideia de beleza à noção de perfeição matemática, que traz consigo as ideias de "equilíbrio" e "harmonia". Figura 4 Busto de Pitágoras, Museu Capitolini, Roma. Os pitagóricos consideravam que regras matemáticas estavam por trás da sensação de harmonia e beleza causada por certos objetos ou cenários, como apresenta a Figura 5. Partindo desta noção, eles estudaram as maneiras pelas quais as proporções matemáticas atuavam "esteticamente" e, desses estudos, surgiram os primeiros parâmetros e sistemas para as construções arquitetônicas, as artes plásticas e a música. O conceito de belo estava intimamente relacionado, portanto, às ideias de proporção e harmonia, e, desde então, vem sendo estudado não como algo simplesmente "subjetivo", mas como algo que pode ser atingido segundo a observação de certas regras e parâmetros. 27 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Figura 5 O Parthenon de Atenas, obra arquitetônica construída segundo as regras de harmonia e beleza estudadas pelos pitagóricos e outros pensadores. Depois de ser pensada pelos pitagóricos, a ideia de beleza continuou a ser objeto de estudo de filósofos como Platão e Aristóteles, que abordaremos na próxima unidade. Com estes pensadores, a ideia de beleza é ainda mais fortemente unida aos conceitos do que é "bom" e "verdadeiro". Ou seja, para os gregos, beleza, bondade e verdade eram valores que estavam sempre associados um ao outro, manifestando-se por meio da harmonia e do equilíbrio. Tal visão de mundo é aquela que se consolida aproximada- mente no século 6º a.C., com o crescimento das pólis, como eram conhecidas as cidades-estado gregas, o desenvolvimento da eco- nomia, da filosofia e das artes, especialmente em Atenas, hoje ca- pital da Grécia, que foi o principal centro econômico, político e cultural da Grécia Antiga. Durante o chamado "Período Clássico" (séculos 6º a 4º a.C.), surgiram em Atenas importantes trabalhos © Estética I28 nos campos da filosofia, das artes plásticas, do teatro, da arquite- tura e mesmo da política, vindo daí, por exemplo, a ideia de "de- mocracia ateniense". Com a incorporação da Grécia ao Império Romano, ocorrida no século 2º a.C., a visão de mundo grega concernente à Estética foi, em grande parte, incorporada por Roma. É por isso, principal- mente, que a cultura grega tanto nos influencia, sendo conside- rada o alicerce da cultura ocidental. Difundida pelos romanos no mundo ocidental, essa cultura foi incorporada (com várias modi- ficações) pelo Cristianismo, espalhando-se pelo mundo todo e se fazendo presente até hoje. Na Idade Média, por exemplo, teve continuidade o estudo acerca das ideias de "imitação" e beleza. Ele foi levado à frente por grandes pensadores como Santo Agostinho e São Tomás de Aqui- no, que veremos detalhadamente na terceira unidade. Porém, é apenas em meados do século 18 que a Estética ganha autonomia definitiva enquanto disciplina e ramo da Filosofia. Isso ocorreu com a publicação, em 1750 e 1758, dos dois volumes da obra Aes- thetica, escrita pelo filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgar- ten (1714-1762). Nesta obra, Baumgarten desenvolve como uma de suas te- ses a ideia, hoje tão óbvia para nós, de que os artistas modificam aquilo que representam por meio de suas emoções e sentimentos. Para o filósofo, a criatividade estaria, portanto, implícita no pro- cesso artístico. E apesar da já citada obviedade de tal ideia nos dias de hoje, devemos nos lembrar de que a visão de Baumgarten, em sua época, ainda aparecia como uma relativa "novidade", já que se contrapunha ao paradigma clássico grego, que entendia a arte essencialmente como uma mera "mimesis" ("imitação") da reali- dade. Atualmente, a Estética está consolidada como disciplina. Atua, porém, no sentido não de "ditar regras" do que seria e do que não seria belo ou artístico, mas refletindo sobre as causas e 29 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética significados culturais, sociais e políticos da Arte. Ou seja, mais do que nunca podemos refutar o ditado que diz que "gosto não se discute". Há, hoje, grandes pensadores da Estética com importantes trabalhos publicados recentemente. Entre eles podemos citar o filósofo e escritor alemão Max Bense (1910-1990), cujos estudos situam-se na interconexão entre a Arte, a Estética e as teorias da percepção e da informação. Max Bense influenciou, especialmente, os estudos sobre Estética e Semiótica e foi o fundador da estética moderna teórico-informacional, baseada também na matemática moderna. O seu livro Pequena estética apresenta a variedade de interesses do filósofo em analisar as artes, o design, a pintura e a escultura. 6. O QUE é ARTE? Muitas pessoas, quando perguntadas sobre o que é a Arte, logo pensam em obras de grandes artistas como Michelangelo. Talvez se possa dizer que o florentino Michelangelo Buonarroti (1475-1564) constituiu a própria encarnação do gênio, e que representou, com seu talento para a escultura, a pintura e a arquitetura, um dos mais altos exemplos da universalidade que guiava os grandes nomes da Renascença. Suas obras ficaram para a posteridade como grandes marcos estéticos da História da humanidade. Entre elas, podemos citar a "Pietà", o "Davi", o projeto arquitetônico da cúpula da Basílica de São Pedro no Vaticano e, principalmente, os afrescos da Capela Sistina, também no Vaticano. Também Leonardo da Vinci (1452-1519) é considerado um dos grandes gênios da Renascença italiana e, mais do que isso, um visionário que, transitando por diversos campos do saber humano, se imortalizou por sua arte, pela sua engenhosidade e curiosidade científica. Na pintura, desenvolveu soluções pictóricas através da © Estética I30 luz, sombra e efeitos de "sfumato", que dão a ilusão de volume e de atmosfera. Tais soluções podem ser encontradas em obras como a Mona Lisa (ou La Gioconda, de 1515), uma das obras de arte mais famosas – senão, a mais famosa – de todos os tempos. Há ainda outras pessoas que se arriscam a listar diferentes expressões artísticas, como a dança, o teatro, o cinema e a música, quando perguntadas sobre o que é Arte. Entretanto, se nos aprofundarmos na investigação de uma resposta mais "científica", realizando considerações complexas, raciocínios que abranjam várias disciplinas e pontos de vista diversos, tendemos a reconhecer que não há uma resposta definitiva e permanente. Isso porque, antes de tudo, a Arte e seus significados mudaram muito ao longoda história. Assim, durante o período pré- histórico, muitos dos desenhos hoje chamados de "arte rupestre" tinham, na realidade, uma função mágico-religiosa, ligada a rituais voltados principalmente para o sucesso nas caçadas. Depois, na Antiguidade, a Arte continuou tendo função ligada a religiões instituídas e hierarquizadas (como no Egito Antigo, na Grécia e em Roma, por exemplo). Veja as Figuras 6 e 7. Figura 6 Pintura rupestre (pré-histórica) na caverna de Lascaux (França). 31 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Figura 7 Arte Egípcia – Capela Funerária de Tutmés III. Com a expansão do Cristianismo, a função religiosa da Arte continuou e até se ampliou, passando a servir como poderoso instrumento de difusão da fé cristã. É importante relembrar que o Cristianismo se resume no conjunto de ensinamentos e preceitos pregados por Jesus Cristo, que formam o corpo filosófico das religiões cristãs (ou seja, originadas em Cristo). Trazendo muito da base filosófica da religião judaica (porém com algumas modificações doutrinárias fundamentais), o Cristianismo teve início com o próprio Cristo na região da Palestina e daí espalhou-se por todo o Império Romano (do qual, na época da vida de Jesus, a Palestina fazia parte), constituindo então a base religiosa de toda a Europa e, consequentemente, de grande parte do Ocidente nos dias de hoje. A partir do Renascimento, porém, iniciou-se um processo de contínua laicização, isto é, desvinculação da religião que, no século 20, desembocou na possibilidade de a Arte ser vista como © Estética I32 um conjunto de manifestações criativas, bastante livres de regras e cânones, no qual os artistas tinham de constantemente reinventar seus procedimentos, técnicas e estratégias de comunicação, como mostra a Figura 8. Figura 8 L. H. O. O. Q., Marcel Duchamp, 1919. O Renascimento, (ou "Renascença"), movimento cultural e artístico que teve origem nas cidades-estado italianas do século 15, dava voz a uma nova confiança no poder e na dignidade do homem e inspirava-se num estudo cada vez mais intenso dos artistas e pensadores da Antiguidade Clássica (greco-romana). Entre os fatores que constituíram as bases para esse momento da cultura ocidental, estavam, entre outros, a estabilidade mercantil, a crescente importância da burguesia e um mecenato secular de nobres. Como consequência desses fatores, ocorreu o desenvolvimento da Arte, da Filosofia, da Matemática, da Anatomia e da curiosidade científica, além da invenção da imprensa móvel e da formulação das leis da perspectiva. 33 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética No decorrer dos estudos deste Caderno de Referência de Conteúdo, veremos como a definição de Arte e o conceito de belo se modificam em cada período histórico. A busca humana pela expressão do belo sempre existiu, mas de maneiras diferentes em cada época e lugar. Portanto, de acordo com o período histórico, o local e o contexto social em que se encontra uma obra de arte, mudam as técnicas segundo as quais ela é produzida e, principalmente, suas funções e maneiras de apreciá-la. Em relação à produção artística, os artesãos, pintores, arquitetos e escultores representaram papéis diferentes dentro de seus contextos sociais em cada período histórico. Com isso, puderam desenvolver sua atividade com maior ou menor facilidade, assim como mudavam também os fatores que influenciavam na análise das obras. Mas, então, como definir a Arte e refletir sobre ela, sendo uma atividade com características tão variadas? Basta que não deixemos de lado os diversos fatores que compõem o panorama que deve ser levado em conta, ou seja, história, técnicas, contexto social etc. Isso porque a obra de arte, além de manifestar a expressão de um artista, carrega em si toda a história e a bagagem cultural que esse artista traz da comunidade que o gerou. Tendo isso em mente, podemos tomar como obra de arte tanto uma joia quanto um cesto de vime ou uma pintura, por exemplo. De uma maneira ou de outra, mais ou menos explicitamente, mais ou menos propositalmente, o contexto histórico e social sempre estará presente em qualquer obra. De acordo com Read (1968, p. 16): [...] toda e qualquer teoria geral da arte tem de começar por esta suposição: que o homem reage perante as formas, superfícies e massas dos objetos presentes aos seus sentidos, e que certos arranjos nas proporções dessas formas, superfícies e massas dão origem a sensações agradáveis, enquanto a ausência de tais arranjos conduz a reações de indiferença ou até real desconforto e repulsa. É correto afirmarmos que a arte tem passado, recentemente, por uma fase de grande transformação. No entanto, cabe ressaltar que ela sempre esteve como em uma metamorfose conceitual, técnica e estética, por estar em ressonância com o seu tempo. © Estética I34 7. AnÁLISE ESTéTICA Vamos, agora, abordar a análise estética. Inicialmente, devemos ter claro que o ato de realizar uma análise estética não se guia única e exclusivamente por padrões objetivos, pois se trata, antes de mais nada, de uma operação realizada no âmbito das ciências humanas. Não se traduz, portanto, em algo como uma equação matemática, por exemplo. Por outro lado, também não devemos nos guiar simplesmente por parâmetros subjetivos, ligados à percepção individual e ao gosto pessoal. Tudo deve ser analisado segundo parâmetros muito bem definidos e ter cada etapa da análise comprovada por dados teóricos bem fundamentados. Devem ser considerados como elementos de ordem objetiva: o objeto em si, a estrutura, a forma, a matéria ou suporte (o material em que é realizado), a origem, a história e a destinação. Posteriormente, o objeto pode ser avaliado como um signo, sendo, portanto, submetido a interpretações de ordem subjetiva, mas que devem sempre ser fundamentadas e relacionar-se aos contextos social, cultural e histórico específicos da obra. Signo é uma designação que foi inicialmente difundida no campo das ciências humanas pelo linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857- 1913), considerado o "pai" da Linguística moderna e o fundador de um tipo de metodologia chamado Estruturalismo, que acabou migrando da Linguística para diversos outros campos do saber. Para Saussure, um signo traz em si, unidos, um significante (uma forma) e um significado (um "sentido"). Assim, grosso modo, pode-se dizer que uma palavra como "casa", por exemplo, tem como significante a própria forma da palavra (as letras c, a, s, a, unidas em determinada ordem) e, como significado, a ideia que cada um de nós faz do que é uma casa. Depois da morte de Saussure, em meados do século 20, o conceito de signo e diversos postulados da Linguística e de outros 35 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética ramos das ciências humanas formaram um novo campo do saber, conhecido como "semiótica" ou "semiologia". Trata-se do ramo do conhecimento dedicado à decodificação e interpretação dos fenômenos, especialmente os artísticos, enquanto "sistemas de signos". Assim, quando interpretamos uma obra de arte, por exemplo, mesmo sem perceber já estamos aplicando semiótica. Antes de realizar a interpretação de um sistema de signos como obra de arte, por exemplo, devemos distinguir a "análise". Apenas realizando esta etapa, ou seja, o levantamento de todos os elementos que podem influir no sentido total do que está sendo analisado, é que podemos passar à interpretação, na qual, aí sim, podem ser usados critérios mais subjetivos (desde que fundamentados na relativa objetividade da análise). De qualquer forma, devemos ter claro que uma análise estética pode adotar mais de um caminho. Pode, por exemplo, enfocar aspectos formais e, neste caso, seria chamada de análise formalista; a ênfase aos aspectos históricos constitui o método histórico; a ênfase em critérios sociológicos caracterizaria o método sociológico; e há, ainda, a possibilidadede analisar uma imagem de maneira mais isolada, levando em conta quase que exclusivamente seus aspectos plásticos, o que constituiria uma análise iconográfica. Há outros métodos, mas deve-se ressaltar, entretanto, que raramente as análises se restringem a um método, e que recentemente novas perspectivas têm sido utilizadas. Vários métodos podem ser utilizados e, em geral, não isoladamente, para uma análise estética. Independentemente da escolha (formalista, histórico, sociológico, iconográfico etc.), deve-se fundamentar a análise em dados teóricos consistentes e buscar, a princípio, ser o mais objetivo possível. Objeto artístico Chamamos de objeto artístico uma obra de arte, ou seja, algo que visa qualidade estética e não simplesmente ser funcional ou utilitário. De qualquer forma, como já foi visto, é bastante difí- © Estética I36 cil definir o que é Arte, sendo, também, difícil definir o que é um objeto artístico. O objeto artístico pode ser um quadro, uma escultura, uma instalação, um filme, um ato performático ou a conjunção e mes- mo a anulação de todas essas possibilidades. É bastante conheci- da, por exemplo, a ocasião em que o genial artista francês Mar- cel Duchamp decidiu, ao participar de uma exposição, apresentar como "obra de arte" um urinol (que hoje chamaríamos de "mic- tório"), como ilustrado na Figura 9. Marcel Duchamp (1887-1968) mostrou-se ao mundo por volta de 1911-1912. O marco inicial da sua brilhante carreira artística internacional foi uma exposição em Nova York em 1913. Depois, na Europa e nos Estados Unidos, tornou-se um dos maiores nomes da corrente artística conhecida como Dadaísmo, e um dos artistas mais importantes do século 20. fonte: Ferrier e Pichon (1988, p. 129). Figura 9 Fonte (a peça de 1917 foi destruída e esta cópia foi realizada na década de 1960), Marcel Duchamp. Duchamp visava, com o ato inusitado, questionar a validade da arte "instituída" da época (falamos da década de 1910) como uma arte que perdera valor diante das mudanças e revoluções do 37 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética mundo moderno; visava também questionar os próprios critérios para a escolha do que é e do que não é artístico no novo mundo industrial, em que há a reprodutibilidade infinita dos objetos. Para Duchamp, portanto, o que caracteriza o "ato estético" de realizar uma obra de arte é, antes de mais nada, escolher um objeto mesmo que seja um objeto banal do mundo industrial, tendo este, às vezes, mais valor e significação na sociedade moderna do que uma escultura ou uma pintura. A esses objetos já prontos e escolhidos para serem chamados de obras de arte, Duchamp deu o nome de ready-mades (já prontos). Para analisar um objeto artístico, devemos atentar à sua forma, à maneira como se apresenta no espaço, no papel, na tela de pintura ou mesmo na tela de televisão, computador ou cinema. Deve-se, de qualquer maneira, "presenciar" o objeto, ou seja, ter contato direto com ele. É então que o observador, por meio da sua mente, faz do objeto artístico um objeto de reflexão (Figura 10). Depois do encontro entre observador e objeto, este mantém sua potencialidade estética, podendo ser lembrado, citado, questionado, analisado ou mesmo revisitado. © Estética I38 Figura 10 Observadores "presenciando" um objeto artístico (pintura de Jackson Pollock) em museu de Nova York. No campo das artes plásticas, é possível encontrar objetos fí- sicos tridimensionais (como, por exemplo, esculturas) ou bidimen- sionais (como telas de pintura), mas também objetos que não pos- suem "materialidade", como vídeos, registros cinematográficos ou mesmo holográficos, imagens geradas eletronicamente que, em vez de ter duas dimensões, como no vídeo, têm três, ou seja, projeta-se no espaço tridimensional e não apenas em planos (Fi- gura 11). Esses objetos são chamados "imateriais" porque existem apenas quando reproduzidos no tempo e por algum equipamento, sem a materialidade de uma escultura, por exemplo. 39 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Figura 11 Exemplo de imagem (imaterial) holográfica. Os objetos imateriais podem ser de natureza analógica, quando gerados por um sistema de codificação analógico, como o cinema, por exemplo; ou digitais, quando criados a partir de pro- cessos digitais ou computadorizados, como exemplifica a Figura 12. Tanto os analógicos quanto os digitais podem permanecer em estado "latente" por bastante tempo, manifestando-se apenas quando reproduzidos pelos equipamentos capazes de fazê-lo. © Estética I40 Figura 12 Imagem de vídeo (objeto artístico imaterial) do norte-americano Bill Viola. Recepção estética A recepção estética depende de diversos fatores, ligados em sua maioria ao contexto sociocultural em que acontece e ao repertório e contexto de onde provém o receptor. A recepção começa, de qualquer maneira, com uma simples e rápida apreensão do objeto artístico (um breve olhar, por exemplo). Em seguida, o indivíduo se utiliza de toda a sua bagagem cultural, travando com o objeto e com o espaço relações que são absorvidas de acordo com as próprias referências que o indivíduo tiver. Assim, conjugam-se informações visuais, sonoras, táteis e de outras ordens sensíveis e conceituais para atingir o observador da arte, de tal forma que este possa ordenar tais informações e criar os parâmetros mentais adequados para a assimilação do fenômeno estético a que está exposto. Tal assimilação ocorre, evidentemente, a partir dos limites pessoais do gosto e do 41 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética repertório de quem se depara com a obra de arte. Deve-se ressaltar que a conjugação de tantos elementos compondo os fenômenos estéticos contemporâneos permite infinitas leituras por meio dos espectadores. Imagem e imaginário A palavra "imagem" vem de imago, do latim. O prefixo "im", proveniente do latim in, é um elemento que se refere ao objeto inserido em determinado espaço ou contexto. Podemos tomar como exemplo as palavras "incorporar", "infiltrar" e "inspecionar". Na psicanálise, a palavra "imagem" tem uma relação íntima com "imaginário", o conjunto de imagens mentais criado a partir dos nossos desejos, medos, realizações e relações interpessoais. Já para a física ótica, "imagem" é uma reprodução invertida que uma superfície polida revela de determinado objeto que reflete. Assim, os raios luminosos penetram nos olhos, são desviados pela córnea e pelo cristalino, que os faz convergir para a retina. As células nervosas da retina transformam a luminosidade captada em impulso nervoso, e este segue para o cérebro por meio dos nervos óticos (Figura 13). Ou seja: a imagem, na física, pode ser considerada como um conjunto de pontos luminosos provindos de diversos pontos de um dado objeto. Figura 13 O olho humano e as imagens. © Estética I42 Esta imagem pode ser considerada real ou virtual. A imagem real é aquela registrada em uma superfície. Já a virtual é aquela que não tem existência real no espaço. O exemplo mais utilizado na física é a imagem vista em um espelho plano: esta seria formada apenas enquanto fenômeno na consciência do receptor. Podemos, portanto, afirmar que a palavra "imagem" sintetiza um conjunto de diferentes definições, de acordo com as várias disciplinas do conhecimento. Se forem colocados lado a lado os muitos conceitos, podemos chegar à ideia geral de que a imagem seria um protótipo gerado a partir da interpretação cerebral, aproximando o indivíduo da percepção do lugar e do contexto. A concepção da física está subordinada à ideia de olhar, mas é sabido que o impulso nervoso pode ser gerado por diferentes órgãos dos sentidos, ou mesmo pelo estímulo não programado do nosso imaginário, como acontece nos sonhos. Não é apenas dos sentidos, portanto, que provém a nossa capacidade de ver imagens, mas também dos sentimentos, da memória e de todos os elementos que,conjugados, nos asseguram a percepção visual. Assim, quando se tem uma alucinação, por exemplo, há a produção de imagens. O mesmo ocorre, como já foi dito, quando sonhamos. E este campo do imaginário, que abre a possibilidade de surgimento de imagens vindas do inconsciente ou mesmo deliberada e conscientemente produzidas, é um dos terrenos mais férteis para a produção artística. que o digam os surrealistas, que tiveram como viga mestra da sua escola artística a capacidade humana de sonhar, delirar ou mesmo imaginar sem que essa capacidade seja, necessariamente, atrelada à parte consciente da mente. É interessante relembrar que o Surrealismo teve início como um movimento literário, caminhando depois para a esfera das artes plásticas. Seu principal líder e "fundador" foi o poeta francês André Breton, (1896-1966), um dos responsáveis pela organização e pela edificação teórica da corrente. Em 1919, fundou a revista Littérature 43 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética e pouco depois começou, com o auxílio de outros artistas, a desenvolver o princípio do automatismo, que se traduzia na defesa da criação "automática", rápida, direta, com o mínimo de interferência do lado consciente da mente. Para desenvolver algumas das bases da estética surrealista, Breton partiu de seus conhecimentos em psiquiatria, literatura e pintura. A aplicação "prática" dessa bagagem aconteceu em 1922, quando ele iniciou seus experimentos com o automatismo em escrita e desenho, mas o Surrealismo atingiu seu ápice na década de 1930. Veja a Figura 14. fonte: Lucie-Smith (1982, p. 62). Figura 14 Exemplo de obra de arte surrealista: Seis aparições de Lênin sobre um piano, Salvador Dalí, 1933, 114 x 146 cm. O movimento defendia a criação artística que fugisse ao controle do consciente, isto é, que fosse voltada às imagens (poéticas ou plásticas) que dessem asas aos sonhos, medos e delírios que temos represados dentro de nós. Por isso, o Surrealismo foi bastante atrelado à Psicanálise, desenvolvida pelo médico tcheco – que cresceu em Viena – Sigmund Freud (1856-1939). © Estética I44 Pode-se dizer que, grosso modo, os dois pontos-chave da psicanálise são: o inconsciente e o sexo. A Psicanálise coloca o sexo não apenas na esfera do orgânico, mas também no domínio do psíquico. O que Freud propôs foi principalmente a ideia de que os fenômenos histéricos têm um sentido, surgindo a partir do inconsciente, que funcionaria como uma espécie de depósito de todos os nossos desejos e frustrações, algo que evidentemente torna inconsciente e sexo elementos praticamente inseparáveis. O estudo das neuroses, dos sonhos, dos atos falhos e dos ditos espirituosos seria um meio de se chegar ao inconsciente (e de se tratar as neuroses e seus sintomas) e às teorias de Sigmund Freud, não com sentido rigoroso, mas utilizando-as como um dos pontos de partida para um novo tipo de criação artística. quando utilizada como instrumento da economia capitalista, especialmente por meio da publicidade, a imagem torna-se uma verdadeira ferramenta de sedução, estimulando o consumo de determinado produto ou favorecendo a absorção de determinada ideia. Uma vez assimilada, a imagem passa a fazer sentido para o receptor servindo de parâmetro para novas sinapses mentais. Por isso, a imagem sedutora, aquela que "induz", não é necessariamente a imagem clara e explícita, a que mostra tudo e explica tudo; ao contrário, a imagem mais apta a "seduzir" é a que deixa um bom espaço para ser preenchido com a imaginação do próprio receptor. Isso porque o homem possui a necessidade de avançar cada vez mais em sua curiosidade e busca do conhecimento, caminhada que é alimentada pelo desejo, segundo o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), um dos mais importantes filósofos do século 19, responsável pelo desenvolvimento moderno do processo dialético de busca do conhecimento. Suas teorias foram alguns dos grandes pilares do pensamento filosófico do final dos anos 1800 e início dos anos 1900, sendo que uma das áreas da Filosofia em que Hegel mais atuou foi, justamente, a Estética. 45 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética Assim, retomando a ideia simplificada de imagem como fruto mental da percepção, e considerando o processo decodificador e de absorção da imagem como uma caminhada movida pelo desejo, chegamos a um terceiro elemento: o homem contemporâneo. Nós, homens contemporâneos, vivemos em uma sociedade que transformou as individualidades em números e códigos de barra. Trata-se, metaforicamente falando, de uma sociedade de formigas, massificada e comandada pelas grandes corporações por meio da tecnologia. Nesta sociedade, o sujeito é submetido ao enquadramento de uma racionalidade niveladora. Passamos a ser, portanto, não homens "qualificados", mas "quantificados". A Figura 15 ilustra o homem contemporâneo. Figura 15 Imagem metafórica do homem contemporâneo. Tal visão de mundo já fora prenunciada por Freud em sua obra O mal-estar na civilização, na qual o "pai da psicanálise" comenta acerca das desventuras do homem comum e das possibilidades de tratá-lo e compreendê-lo por meio do processo analítico. Opções frente a este estado de coisas são, entre outras, as propostas pelo © Estética I46 Surrealismo, que aproxima os limites da arte e da vida, e por teorias como as do pensador Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês de origem judaico-espanhola, autor de mais de trinta livros em áreas como a Filosofia, a Sociologia e a Epistemologia e um dos pensadores mais importantes do século 20. Segundo ele (2008, n.p.): [...] a arte nos fala de nós mesmos, dos problemas de nossa vida. Se tomarmos, por exemplo, a última obra de Beethoven, no final, ele quis escrever o sentido de sua música. Ele escreveu 'Mussen es seinen? Es mussen sein' (São possíveis todas as tragédias da vida, todas as dores da vida, todas as dificuldades da vida? Sim, são possíveis). A primeira frase é uma revolta contra o destino e a segunda nos diz que é preciso aceitá-lo. Beethoven nos deixa diante de suas contradições. Cada um de nós deve se revoltar contra o destino e aceitá-lo ao mesmo tempo. De qualquer maneira, não se trata de uma concepção absolutamente original da contemporaneidade. Na verdade, algo próximo já aparece no pensamento de Lao-Tzu, também conhecido como Lao Tsé. Pouco se sabe sobre esse pensador, e não há a certeza de ter-se tratado de um personagem real ou mítico. Entretanto, Lao Tzu aparece como um dos principais nomes da antiga filosofia oriental (no caso, chinesa), sendo atribuída a ele a autoria de um dos livros mais importantes desta tradição: o Tao Te Ching, utilizado na filosofia e na religião taoístas, aproximadamente 500 a.C. Para ele, a evolução do homem começa nos sentidos, passando pela inteligência e chegando ao "logos", a razão. A emoção surge do encontro entre as imagens e os valores pessoais ativados pelas imagens. Portanto, o objeto artístico comunica, mas não é o responsável por todo o percurso da apreensão estética, tornando-se um instrumento que reúne reflexão e desejo. Podemos dizer, portanto, que tudo o que é visto passa a compor o chamado "imaginário" após ser interligado à nossa rede cerebral. Vale, contudo, ressaltarmos a diferença entre "ver" e "olhar". Enquanto "ver" está ligado ao sentido da visão, "olhar" significa um pouco mais: o processo através do qual a imagem atravessa a retina e se torna imagem cerebral. 47 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética 8. A ESTéTICA COMO DISCIPLInA A Estética, enquanto ramo da Filosofia, evidentemente pode ser estudada segundo esta ou aquela corrente de pensamento, esta ou aquela escola filosófica. O que deve ficar claro em nosso contato inicial com esse tipo de conhecimento é que devemos nos armar de ferramentas que nos permitam averiguar a pertinência dos discursos críticos. Tais ferramentas partem de uma redobradaatenção conceitual que, acima de tudo, deve tentar nos livrar dos erros de análise que Edgar Morin chamou de erros mentais, da razão e paradigmáticos. Eles são causados, sobretudo, pela interferência excessiva da nossa subjetividade nas análises estéticas. Isso faz que estas sejam contaminadas demais com nossa visão de mundo, que por sua vez é construída segundo a nossa própria vivência, conhecimento e fé. Em outras palavras, nossas concepções e ideais podem, sem per- cebermos, sobrepor-se à racionalidade e meticulosidade exigidas para uma boa análise estética. Por isso, devemos estar atentos aos erros: • Mentais: causados pelos dispositivos cerebrais que nos permitem distinguir o que é imaginado e o que realmen- te se apresenta diante de nós enquanto realidade mate- rial e física. Tais erros mentais podem ser, muitas vezes, de cunho intelectual, ou seja, causados por sistemas de ideias (teorias, doutrinas, ideologias) que atuam forte e imperceptivelmente sobre nossa percepção. • Racionais: a racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão, mas traz a possibilidade de erro quando é "pervertida". Tal perversão pode ocorrer quando a racio- nalização acaba criando falsas justificativas para respon- der às questões estéticas, justificativas promovidas por crenças e paradigmas que atuam sem que possamos nos dar conta. © Estética I48 • Paradigmáticos: causados pela tomada de modelos ex- plicativos ou paradigmas falhos como pontos de partida analíticos. Assim, o próprio paradigma cartesiano, mé- todo racional do filósofo francês René Descartes (1596- 1650) baseado na dúvida e que serviu como base para os primeiros passos da ciência moderna, pode, em alguns casos, por fundamentar-se em princípios binários (como sujeito/objeto, alma/corpo, espírito/matéria, qualidade/ quantidade, sentimento/razão, existência/essência, cer- to/errado etc.), estar sujeito ao erro quando é necessário considerar-se mais variáveis e fatores para uma análise estética. Por fim, podemos dizer que a evolução da 0 conduziu-a a uma conexão com a ideia de liberdade. O homem é, muitas vezes, considerado historicamente prisioneiro (de suas crenças, paradig- mas e ideias), mas tal situação pode ser revertida, ou pelo menos reconfigurada, quando o inesperado, ou seja, o novo, manifesta- -se. E não é raro que este tipo de manifestação ocorra por meio da linguagem artística. 9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Há maneiras de avaliar uma obra de arte ou qualquer manifestação estética fora dos critérios pessoais da subjetividade? Para fazê-lo, qual critério podemos utilizar? 2) As teorias e as abordagens conceituais da Arte e da Estética partiram apenas da subjetividade dos filósofos e estudiosos ou foram embasadas em critérios firmes de construção intelectual? 3) quais pensadores são exemplos de construtores de critérios objetivos para a análise estética? Cite um tipo de teoria construída por algum desses pensadores. 49 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Introdução à Estética 4) As imagens são apenas reais ou parte de um processo que inclui os sentidos, o cérebro e os sentimentos? Por quê? 5) Numa análise estética, quais são os tipos de erros metodológicos mais cometidos? Cite um exemplo. 10. COnSIDERAÇÕES Nesta unidade, você conheceu o universo de significações que circundam a Arte, sua produção e circulação. Este estudo teve por objetivo funcionar como introdução ao campo da Estética, abordando diversos autores que voltarão a ser comentados com maior profundidade nas próximas unidades. Você já começa a perceber, portanto, o quanto é importante para seus estudos a busca constante pelo conhecimento sobre a Arte, suas técnicas, seus meios e suas finalidades; pois a Arte é, sobretudo, um campo com inúmeros fatores a serem analisados, sendo este conjunto o que garantirá a potencialidade das obras. 11. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras figura 1 Marylin Monroe – "ideal" de beleza feminina na década de 1950. Disponível em: <http://fotos.imagensporfavor.com/img/pics/glitters/m/marilyn_monroe-12862.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 2 Kate Moss – "ideal" de beleza feminina nos dias atuais. Disponível em: <http:// www.entertainmentwallpaper.com/images/desktops/celebrity/kate_moss06.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 3 Vênus de Urbino, Ticiano, 1538, óleo s. tela, 119 x 165 cm, Gal. Uffizi, Florença. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/Tizian_102. jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 4 Busto de Pitágoras, Museu Capitolini, Roma. Disponível em: <http://upload. wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3d/Kapitolinischer_Pythagoras.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 5 O Parthenon de Atenas, obra arquitetônica construída segundo as regras de harmonia e beleza estudadas pelos pitagóricos e outros pensadores. Disponível em: <http://1001arabian.net/tourist/bigimages/The%20Parthenon,%20Acropolis,%20 Athens,%20Greece.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2010. © Estética I50 figura 6 Pintura rupestre (pré-histórica) na caverna de Lascaux (França). Disponível em: <http://romuald-vieux.net/wp-content/uploads/2010/01/lascaux.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 7 Arte Egípcia – Capela Funerária de Tutmés III. Disponível em: <http:// mundonanet.sites.uol.com.br/egipcia2.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 8 L. H. O. O. Q., Marcel Duchamp, 1919. Disponível em: <http://psyc.queensu. ca/~psyc382/duchamp-LHOOq.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 10 Observadores "presenciando" um objeto artístico (pintura de Jackson Pollock) em museu de Nova York. Disponível em: <http://www.moma.org/collection/object/ php?object_id=78386 Acesso em: 25 fev. 2012. figura 11 Exemplo de imagem (imaterial) holográfica. Disponível em: <http://img125. imageshack.us/img125/9172/giantnessie64ea88fl5.jpg>. Acesso em: 6 ago. 2010. figura 12 Imagem de vídeo (objeto artístico imaterial) do norte-americano Bill Viola. Disponível em: <http://farm1.static.flickr.com/150/405983261_8c5215ade9.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 13 O olho humano e as imagens. Disponível em: <http://4.bp.blogspot. com/_St3neUYE5LI/S6whu9VGazI/AAAAAAAAABq /cne6wqId3s4/s1600/ optica%2Bda%2Bvis%25C3%25A3o.gif>. Acesso em: 28 fev. 2011. figura 15 Imagem metafórica do homem contemporâneo. Disponível em: <http://www. humorbabaca.com/upload/fotos/fotos_1562_codigo%20de%20barra.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2011. Sites pesquisados 1001 ARABIAN NETWORK. Home page. Disponível em: <http://www.1001arabian.net>. Acesso em: 28 fev. 2011. ______. Attractive Travels and Tourist Deals. Disponível em: <http://1001arabian.net/ tourist/The%20Parthenon,%20Acropolis,%20Athens,%20Greece.html>. Acesso em: 28 fev. 2011. CANVAS REPLICAS. Home page. Disponível em: <http://www.canvasreplicas.com>. Acesso em: 28 fev. 2011. ______. Tiziano. 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ORIEnTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UnIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Para saber mais sobre a vida e a obra de Sócrates, assista ao filme Sócrates, produzido pela televisão italiana e dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rosselini, lançado pela Versátil Home Vídeo em 1974. 2) Para fazer e manter contato com a filosofia platônica, leia o livro de bolso lançado pela Editora L&PM, em 2009, Apologia de Sócrates, que reproduz os diálogos de Platão: Críton e Eutífron. 3) É interessante fazer a leitura de A Poética de Aristóteles e Édipo Rei, ambos com várias traduções para o português. 4. InTRODUÇÃO à UnIDADE Na Unidade 1, tivemos uma visão geral dos conceitos relacionados aos estudos de Estética. Nesta, conheceremos os principais filósofos gregos e chineses que influenciaram esses estudos, e de que maneira as reflexões desses pensadores da Antiguidade ainda ecoam nos dias de hoje. Perceber o alcance atual de ideias surgidas há tantos séculos é algo que vem se tornando recorrente. Há algum tempo, as filosofias da Antiguidade grega e oriental voltaram a ser valorizadas e compreendidas como parte de um corpo de conhecimento holístico. O holismo busca abarcar todos os aspectos do saber, vendo-o como um conjunto e não como algo divisível, que possa ser estudado em partes. Além disso, essas filosofias voltaram a integrar o conhecimento metafísico, regido pela razão pura – ou seja, abdicando de experiências empíricas em prol de proposições e deduções lógicas. Nesta unidade, embarcaremos, portanto, nesse processo de revalorização, tratando da origem dos estudos acerca da percepção 55 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Arte e Conhecimento do "belo" e do surgimento dos conceitos filosóficos aos quais hoje chamamos de componentes dos estudos estéticos. É importante perceber que o conceito de "beleza" estava diretamente relacionado à sociedade da época e a seu modo de vida. Tendo isso em mente, poderemos também perceber a diferença entre a Estética do Oriente e a do Ocidente por meio de seus grandes filósofos. A Estética (enquanto estudo) na Antiguidade teve grande influência não apenas no campo filosófico, mas sobretudo na aplicação de ideias e visões do mundo da Arte. Veremos nesta unidade como tudo isso se deu. Bons estudos! 5. COnCEITOS GERAIS A tarefa dos estudos de Estética não está propriamente em ditar regras de como deve ser uma "boa" obra de arte, nem em teorizar normativamente, ou seja, de maneira prescritiva, enumerando o que deve ser feito, a respeito da Arte. Em vez disso, os estudos estéticos analisam as obras de arte segundo critérios filosóficos bem fundamentados. Tampouco se pode dizer que a Estética determina técnicas ou materiais que devem ser empregados, mas compreende a importância deles no campo das artes, conectando-os aos estilos artísticos, à História, à Sociologia e à própria Filosofia. Pode-se dizer, então, que a Estética é o próprio conhecimento relacionado à Arte e às questões que a envolvem. Devemos salientar que a Estética, além de não ser Arte, mas sim um estudo sobre a Arte, não é um estilo artístico, tampouco é uma teoria que defenda este ou aquele estilo artístico. A Estética é um estudo especulativo e não pragmático, tendo fim em si mesma. Sua finalidade está sempre no conhecimento, no exercício filosófico e na crítica reflexiva a respeito da Arte. Os primeiros filósofos surgiram na Antiguidade. Alguns deles discutiram a essência do belo em um contexto histórico de importantes definições, sobretudo políticas e sociais. A seguir, conheceremos mais sobre alguns desses filósofos. © Estética I56 6. fILóSOfOS GREGOS Iniciaremos este tópico com uma citação na qual Platão cita Sócrates discutindo a respeito de juízos éticos ou estéticos: Então, qual seria o assunto que, por não ser passível de decisão, causaria entre nós inimizade e nos tornaria reciprocamente irritados? Pode ser que não esteja a teu alcance, mas considera, pelo fato que estou dizendo, se se trata do justo e do injusto, do belo e do feio, ou do bom e do mau. Com efeito, não é por causa disso que, justamente devido às nossas diferenças e por não poder conseguir uma decisão unânime, nos convertemos em inimigos uns dos outros, quando
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