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Apostila 4 - Produção de texto - Discurso Narrativo cad4_ al_pr indd

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Prévia do material em texto

ENSINO 
MÉDIO
PRODUÇÃO 
DE TEXTO 4
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O Discurso Narrativo I
 O DISCURSO NARRATIVO I
1 Estrutura narrativa I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
 Definindo narração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4
2 Estrutura narrativa II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
 Compreendendo a narrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
PRODUÇÃO
DE TEXTO
Emiliana Abade
2137779 (PR)
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Contos de fadas ou contos maravilhosos povoam o 
nosso imaginário e fazem parte do nosso repertório cul-
tural. Conhecido como pai da literatura infantojuvenil, 
Charles Perrault (1628-1703) recolheu e deu acabamen-
to literário às histórias populares que circulavam oral-
mente desde a Idade Média. Essas narrativas serviam 
para transmitir valores morais dos adultos às crianças e 
valorizavam a inovação da produção artística local e de 
sua época. Hoje em dia, seus contos são ainda editados, 
traduzidos e adaptados para as mais diversas formas de 
expressão, como os desenhos animados da televisão, as 
histórias em quadrinhos, o teatro, o cinema, atingindo 
tanto o público infantil como o público adulto.
MÓDULO
O Discurso Narrativo I
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REFLETINDO SOBRE A IMAGEM
www.sesieducacao.com.br
1 Você identifica as imagens ilustradas nestas 
páginas? Quais personagens você reconhece?
2 Essas imagens representam quais histórias? 
Como você teve acesso a esses contos?
3 Na sua opinião, por que essas narrativas são 
tão conhecidas?
4 Nos últimos anos, a indústria cinematográfi-
ca tem produzido inúmeras adaptações de 
contos de fadas voltadas para o público ju-
venil ou adulto. Você assistiu recentemente a 
alguma dessas adaptações?
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Objetivos:
c Compreender as 
características 
composicionais 
do texto narrativo: 
transformação, 
figuratividade, relação 
temporal e verbos no 
pretérito.
c Produzir textos 
narrativos em 
diferentes gêneros 
textuais, aplicando 
as características 
composicionais desse 
tipo de texto.
4 O Discurso Narrativo I
CAPÍTULO
1 Estrutura narrativa I
 DEFININDO NARRAÇÃO
Leia este trecho do conto “A ceia”, de Lygia Fagundes Telles.
[…] Sentaram-se numa mesa próxima ao muro e que parecia a menos favorecida pela 
iluminação. […]
— Também não enxergo os nomes dos pratos. Paciência, acho que quero um bife. Você 
me acompanha? […]
— Meu bem, você ainda não mandou fazer esses óculos!
— A verdade é que não me fazem muita falta. […]
Ele ofereceu-lhe cigarro.
— Acho que esqueci o fósforo… Trouxe também o isqueiro, mas sumiu tudo… Ah, está 
aqui. Imagine que ganhei este isqueiro numa aposta, foi de um marinheiro…
— Detesto isqueiro, você sabe disso.
— Mas este tem uma chama tão bonita. Pude ver que seu penteado também é novo.
— Cortei o cabelo. Remoça, não é mesmo? […] mas, querido, não precisa � car com essa 
cara, prometo que desta vez não vou quebrar nenhum copo […] imagine, quebrar o copo na 
mão aquela coisa dramática do vinho ir escorrendo misturado com o sangue… Você contou, 
Eduardo […] e a raposinha foi fazendo mais perguntas ainda. […] Ela já sabe de tudo a meu 
respeito, não? Até a minha idade.
Aproximou-se o garçom. Colocou na mesa a cesta de pão, dois copos e � cou limpando 
com o guardanapo uma garrafa de vinho.
— Acho que a cozinha já está fechada, cavalheiro. Queriam jantar?
— Muito tarde mesmo — disse o homem. Ao menos dois bifes, seria possível? […]
— Meu amor, meu amor, se ao menos você prometesse que vai me ver de vez 
em quando, como um amigo, um simples amigo. […]
— Só sei que não tenho culpa, que não pretendia 
romper, mas aconteceu, aconteceu.
Ele lançou-lhe um rápido olhar. Apanhou o 
isqueiro para acender o cigarro e no meio do 
gesto arrependeu-se.
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O Discurso Narrativo I
— Acenda o seu cigarro, Eduardo.
— O isqueiro, você não gosta…
— Ora, não exagere, não gosto mesmo, mas se tem que ser…
[…]
— Eduardo, apague isso… Não vou fumar, apague! Eduardo, eu queria que você fosse 
embora.
— Vou te levar, Alice.
— Você não entendeu, eu queria � car só, vou indo daqui a pouco, mas queria que você 
saísse na frente, queria que você saísse já…
— Mas Alice, como vou te deixar assim?
— Estou pedindo, Eduardo, me ajude, por favor, me ajude!
— Mas você vai conseguir táxi?
— Justamente, queria andar um pouco, vai me fazer bem. […]
Ele se afastou a passos largos. Prosseguiu mais rápido, sem olhar para trás.
— A madama deseja ainda alguma coisa? Vamos fechar… — avisou o garçom, acen-
dendo o abajur.
— Ah, sim, já vou. Quanto é?
— O cavalheiro já pagou, madama. A madama está se sentindo mal?
— Estou bem, é que tivemos uma discussão. […]
—Também discuto com minha velha, mas depois � co chateado à beça. Mãe sempre tem 
razão. […]
— A senhora esqueceu isto.
— Ah, o isqueiro — disse ela. Guardou-o na bolsa.
Lygia Fagundes Telles. Antes do baile verde.
No texto lido, você pode observar que acontecem algumas transformações.
Uma ceia reúne um casal que chega ao fim de um relacionamento: Alice e Eduardo.
A causa da separação foi o surgimento de outra mulher na história, “a raposinha”, alguém mais 
jovem que a personagem feminina central do conto.
No início, Alice tenta o não rompimento total, quer a presença de Eduardo como amigo.
No � nal, Eduardo deixa claro: “Só sei que não tenho culpa, que não pretendia romper, mas 
aconteceu, aconteceu.”
A partir desse momento, outra transformação acontece: consciente da inevitabilidade do 
rompimento, Alice é que solicita a saída de Eduardo para � car sozinha.
No conto, o isqueiro é simbólico; ele é uma luz, em ambiente escuro, que mostra o novo corte 
de cabelo de Alice. Entretanto, é um objeto indesejado por ela: “detesto isqueiro”.
Depois, quando Eduardo suspende o gesto de acender o isqueiro, Alice o surpreende: “… não 
gosto mesmo, mas se tem que ser…” (isto é, se preciso enxergar a realidade, sem ilusão…) No 
� nal, Alice sai do restaurante levando o isqueiro na bolsa, sugerindo que o que era indesejado 
passa a ser tolerável.
Características principais do texto narrativo
Para se caracterizar um texto como uma narração, é preciso que nele se identi� quem os ele-
mentos a seguir.
Transformação
Trata-se da mudança de uma situação.
No trecho lido, se surgiu o con� ito (primeira transformação), é porque antes havia uma situa-
ção de estabilidade. Se houve solução para o con� ito, é porque aconteceu a conscientização da 
perda (segunda transformação).
A primeira transformação foi causada pelo surgimento de “raposinha”. A segunda transforma-
ção, pela conscientização de Alice. 1
 DEFINIÇÃ0
 A partir dessas informações, já é pos-
sível defi nir que narrativa é um tipo 
de texto no qual ocorrem mudanças 
de estado operadas pela ação de uma 
personagem.
 ATENÇÃO!
 1 Existem dois tipos de mudanças em um 
texto narrativo, segundo os professores 
Francisco Platão Savioli e José Luiz Fiorin, 
autores de Para entender o texto — leitura 
e redação:
 alguém passa a ter alguma coisa 
que não tinha antes (cargos, objetos, 
estados de alma: amor, ciúme etc.)
 alguém deixa de ter alguma coisa que 
possuía: fi car pobre depois de ser rico, 
terminar um relacionamento afetivo 
ou profi ssional, perder a razão etc.
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6 O Discurso Narrativo I
Figuratividade
Trata-se da apresentação de elementos concretos do mundo. (No conto citado: mesa, isqueiro, 
pão, vinho por exemplo.)
Relação temporal
Trata-se da progressão entre acontecimentos relatados, isto é, ações anteriores, posteriores 
ou concomitantes. (No conto de Lygia Fagundes Telles, não poderia haver separação entre Alice e 
Eduardo, se, anteriormente, não houvesseo envolvimento amoroso deles.)
Verbos no pretérito
A fala de quem conta a história é sempre posterior à história contada, por isso os verbos estão, 
preferencialmente, no pretérito imperfeito, pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e futu-
ro do pretérito. Exemplos: “Sentaram-se numa mesa próxima ao muro”; “Aproximou-se o garçom. 
Colocou na mesa a cesta de pão, dois copos e � cou limpando com o guardanapo uma garrafa de 
vinho”. 1 1
Leia os dois pequenos trechos a seguir.
Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante. Ve-
ri� co também que estava a� ito e que havia um fundo de mágoa ou desespero em minha 
impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar 
a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado…
Osman Lins. “A partida”. In: Os cem melhores contos brasileiros do século.
O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um impor-
tante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele o era. 
Obedecendo à intimação recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia.
Fernando Sabino. “A mulher do vizinho”. In: Os cem melhores contos brasileiros do século.
Nos dois fragmentos narrativos que você acabou de ler, aparecem narradores diferentes.
Em “A partida”, o narrador escreve usando a primeira pessoa: “(eu) estava a� ito”; “eu queria 
deixar minha casa”; “reconheço que (eu) mudei bastante…”.
Nesse caso, o narrador está presente na narrativa e é caracterizado como narrador-persona-
gem. A narração em primeira pessoa é mais subjetiva.
Em “A mulher do vizinho”, o narrador usa a terceira pessoa: “O sueco era tímido”; “(ele) não 
parecia ser dono de grande fábrica, que realmente ele o era”; “(ele) compareceu em companhia 
da mulher…”
Quando o narrador emprega a terceira pessoa para se referir aos fatos e às personagens, ele é 
denominado narrador-observador; entretanto, se observa e conhece também os pensamentos 
e sentimentos dessas personagens, é denominado narrador-onisciente. A narração em terceira 
pessoa é mais objetiva. 2 1
Leia um pequeno trecho de “Ismália”, do poeta brasileiro Alphonsus de Guimaraens.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
[…]
As asas que Deus lhe deu
Ru� aram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
O poema foi escrito em terceira pessoa, portanto o eu poético é onisciente e conta a transfor-
mação sofrida por Ismália — se ela enlouqueceu, antes era sadia, lúcida; houve, portanto, pro-
 ATENÇÃO!
 1 Um texto que contenha só uma dessas 
características não é uma narração.
 2 Não confunda narrador com autor. O 
autor é a pessoa de carne e osso, que 
possui identidade, endereço, é aquele 
que escreveu os fatos. O narrador é um 
elemento fi ccional, criado pelo autor, que 
apresenta os fatos da narrativa, podendo 
ou não participar deles.
 CURIOSIDADE
 1 Geralmente, as narrativas são apresenta-
das em prosa, mas podemos encontrar 
narrativas em forma de poema, isto é, 
em versos.
 OBSERVAÇÃO
 1 A narrativa é um simulacro, isto é, 
uma representação, uma imitação 
das ações do homem no mundo.
 A narrativa, isto é, aquilo que foi escrito, 
chama-se enunciado.
 O apresentador da narrativa é chamado 
narrador.
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O Discurso Narrativo I
gressão temporal.
Além disso, o poema é � gurativo, isto é, apresenta elementos concretos do mundo: lua, céu, 
mar, corpo.
Os verbos estão no pretérito perfeito, revelando que a fala, presente no texto, é posterior ao 
acontecimento narrado. Revelam, também, as transformações na narrativa.
Leia ainda um pequeno trecho de São Bernardo, romance narrado em primeira pessoa por 
Paulo Honório, que conta sua vida de vendedor de doces, guia de cegos, trabalhador rural, até 
chegar a proprietário da fazenda São Bernardo. Depois de sua ascensão social, casa-se com Ma-
dalena, moça simples e generosa, de quem tinha um ciúme doentio. Esse seu comportamento 
egoísta leva Madalena ao suicídio.
Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se. Não tenho sono.
[…] A lembrança de Madalena persegue-me. […]
Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os 
propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo. […]
E a descon� ança terrível que me aponta inimigos em toda a parte! […] Devo ter um 
coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos de outros homens. 
E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes […].
A vela está quase a extinguir-se.
O texto é escrito em primeira pessoa; logo, o narrador está presente na narrativa — ele é uma 
personagem, um elemento dessa estrutura textual. O narrador lembra-se da esposa, estabelecendo 
progressão temporal — antes da morte, ela possuía bons sentimentos e bons propósitos.
O texto é � gurativo, pois possui elementos concretos do mundo: vela, coração, nariz, boca… 
Nele, estão incluídos ainda elementos abstratos: sentimentos, propósitos, brutalidade, egoísmo, 
descon� ança…
Os verbos no pretérito descrevem as ações de Madalena, marcando sua presença de forma 
viva: “Madalena entrou”; “os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade”. 
(ações já concluídas)
As lembranças de Paulo Honório estão no presente, pois o narrador interfere no � uxo da nar-
rativa para tecer comentários sobre o que está sendo contado. O tempo dessas re� exões dura en-
quanto a chama da vela permanece acesa: “E a descon� ança terrível que me aponta inimigos em 
toda a parte!”; “Devo ter um coração miúdo”.
A narratividade pode ser encontrada ainda em reportagens. Leia o fragmento a seguir.
A descoberta de uma enorme tumba no Norte da Grécia, que data do tempo de Alexandre, 
o Grande, da Macedônia, entusiasmou os moradores do país no Mediterrâneo, distraindo-os 
da terrível crise que a economia local enfrenta há anos. Gregos, assim como arqueólogos do 
mundo todo, agora se perguntam que estaria enterrado em um túmulo tão imponente.
[...] uma equipe de arqueólogos gregos liderados por Katerina Peristeri desenterrou o que, 
dizem as autoridades, seria o maior cemitério já descoberto no país. O achado está num 
monte na Anf ípolis antiga, uma grande cidade do reino da Macedônia, 100 km a leste de 
� essaloniki, segunda maior cidade da Grécia.
Disponível em: http://oglobo.globo.com (acesso em 01 dez. 2016)
No trecho lido, podemos dizer que existe narratividade porque, entre as ideias, aparecem 
transformações.
Observe: se foi descoberto um cemitério no norte da Grécia, é porque alguém foi enterrado 
lá anteriormente. Com a descoberta, outra transformação: o entusiasmo distraiu o povo grego da 
crise econômica.
Além disso, a marca do tempo está bem presente — aconteceu no início de agosto.
Como já se a� rmou anteriormente, para representar essas mudanças, o narrador emprega 
predominantemente verbos no pretérito: entusiasmou, aconteceu, desenterrou, sugerindo que a 
enunciação dos fatos, no texto, é posterior ao acontecimento narrado. O tempo presente é usado 
para questionar o que ainda não se sabe sobre o fato. 2
 CURIOSIDADE
 2 Se, hoje em dia, é difícil pensar em exem-
plos de narrativas em versos, houve um 
tempo em que elas eram muito comuns, 
mais frequentes até do que os textos 
narrativos em prosa. Essas narrativas em 
versos eram as epopeias, longas histórias 
em versos escritas séculos atrás e que são 
lidas e estudadas até hoje, como a Ilíada 
e a Odisseia, por exemplo.
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8 O Discurso Narrativo I
ATIVIDADES
 1 Sobre o texto narrativo só não é correto a� rmar que:
a) apresenta uma mudança de estado operada pela ação de 
uma personagem.
b) os elementos do mundo real que aparecem compõem o 
texto � gurativo.
c) não apresenta narrador, pois as personagens usam o diálogo 
para se expressar e assim vão compondo a narrativa.
d) há progressãotemporal entre um e outro fato narrado na 
história.
e) é escrito, geralmente, com verbos no pretérito, pois a fala 
do narrador é posterior à ação narrada.
 2 (Mackenzie-SP)
O tigre tinha-se voltado ameaçador e terrível, aguçando os 
dentes uns nos outros, rugindo de fúria e vingança: de dois 
saltos aproximou-se novamente.
Era uma luta de morte a que ia se travar; o índio o sabia, e 
esperou tranquilamente, como da primeira vez; a inquieta-
ção que sentira um momento de que a presa lhe escapasse, 
desaparecera: estava satisfeito. Assim esses dois selvagens 
das matas do Brasil, cada um com as suas armas, cada um 
com a consciência de sua força e de sua coragem, conside-
ravam-se mutuamente como vítimas que iam ser imoladas.
José de Alencar. O guarani.
Assinale a alternativa que apresenta provas textuais da onis-
ciência do narrador.
a) (l. 1) “tinha-se voltado ameaçador e terrível”; (l. 7) “estava 
satisfeito”.
b) (l. 1 e 2) “aguçando os dentes uns nos outros”; (l. 2 e 3) 
“rugindo de fúria e vingança”.
c) ( l . 3) “de dois saltos aproximou-se novamente”;
(l. 7) “estava satisfeito”.
d) (l. 4 e 5) “o índio o sabia”; (l. 7) “estava satisfeito”.
e) (l. 8) “esses dois selvagens das matas do Brasil”; (l. 8 e 9) “cada 
um com as suas armas”.
 3 (U. E. Londrina-PR, adaptada) Leia o fragmento a seguir. 
O marido reclamão comeu cinco pedaços de torresmo, be-
beu mais três doses de traçado, uma cerveja para lavar o 
estômago e caminhou cambaleante para casa. Abriu o por-
tão com certa di� culdade, a vontade de urinar era sincera, 
apertou o passo para o banheiro, mas a urina desceu calça 
abaixo molhando o tapete da sala. Tomou banho sem tirar a 
roupa, estranhando a esposa quieta na cozinha. Pensou em 
falar alguma coisa, preferiu não puxar conversa para não 
desencadear uma briga, arrancou e entulhou a roupa suja 
e encharcada sob a pia do banheiro e deitou-se, depois de 
vestir uma cueca. Em poucos minutos roncava alto. A mu-
lher arrastou-o para a cozinha e despejou a água fervendo 
sobre a sua cabeça.
Foi presa por homicídio premeditado e não recebeu a quan-
tia que esperava do seguro.
LINS, P. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Com base na leitura do fragmento, considere as a� rmativas a 
seguir.
 I. Os verbos de ação provocam o efeito dinâmico e ampliam 
a tensão narrativa.
 II. O fragmento retrata uma história de tragédia familiar.
 III. O crime � ca subentendido pela caracterização do marido e 
suas ações agressivas.
 IV. A escolha do foco narrativo centrado na esposa antecipa 
seus planos de matar o marido.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as a� rmativas I e II são corretas.
b) Somente as a� rmativas I e IV são corretas.
c) Somente as a� rmativas III e IV são corretas.
d) Somente as a� rmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as a� rmativas II, III e IV são corretas.
 4 (Unimep-SP) Leia os textos seguintes. 
Texto I
Carmello Paoletti (1929-2012) — 
pioneiro dos atomatados no Brasil
Ficar dentro da fábrica era um dos maiores prazeres de Car-
mello Paoletti, como conta sua família. Ele foi um dos pio-
neiros da indústria de atomatados e vegetais no Brasil.
Neto de italianos, nasceu na capital paulista. Os pais tinham 
um negócio no mercado municipal, e foi lá que Carmello 
começou a trabalhar. Numa banquinha, vendia de azeitona 
e ameixa a frios.
Sua atividade industrial iniciou-se nos anos 1950, com uma 
fábrica de processamento de azeitonas em Várzea Paulis-
ta. Depois, montou em Cajamar a Companhia Industrial e 
Mercantil Paoletti, que � cou conhecida pela marca Etti (as 
quatro últimas letras de seu sobrenome italiano).
Após décadas no comando da empresa, decidiu negociá-la 
em1979 com o grupo Fenícia. A Etti — que produz caldo de 
carne, extrato de tomate e vegetais enlatados — pertenceu 
ainda à Parmalat e à Hyper marcas até ser vendida, no ano 
passado, à Bunge.
Em 1983, na função de diretor industrial, foi montar a fá-
brica da Arisco em Goiânia, como lembra o � lho, Salvador 
Paoletti Neto. Nesse período, o próprio Salvador começou, 
em 1985, um negócio, a Coniexpress (Quero Alimentos).
Sempre ajudou o � lho, mas só se transferiu para a Quero 
em1996. A marca acabaria disputando mercado com a Etti.
Segundo Salvador, o pai se destacava pelo otimismo entu-
O texto narrativo apresenta narrador, que participa 
ou não dos acontecimentos. Alternativa c
3. O crime está explícito no fragmento, não � ca suben-
tendido, como se a� rma em III. O fragmento é narrado 
em terceira pessoa, portanto a esposa não é o narrador do 
trecho, além disso, o trecho centra nas ações do marido, 
invalidando IV. 
2. A alternativa mostra que o narrador tudo sabe, tudo conhe-
ce, até mesmo os sentimentos e pensamentos das personagens. 
As demais alternativas mostram um conhecimento mais objetivo 
do narrador sobre as personagens, como mero observador. 
Alternativa d
Alternativa a 
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O Discurso Narrativo I
siasmo com o trabalho. Esteve na empresa até 2004. No ano 
passado, parte da Quero foi vendida à Heinz.
Morreu na terça (11), aos 82, de câncer de próstata. Teve 
dois � lhos e quatro netos. A missa do sétimo dia será hoje, 
às 12h45, na igreja Nossa Sra. do Brasil, em São Paulo.
Estêvão Bertoni. In: Folha de S.Paulo, 18 set. 2012.
Texto II
Mortes
Celso Assis — Aos 48. Cemitério Congonhas.
Giovani Miraglia — Aos 86, casado com Pietra Biondo Mi-
raglia. Deixa três � lhos. Cemitério e Crematório Metropo-
litano Primaveras.
Katsumi Yamamoto — Aos 79, casado com Sachiko 
Yamamoto. Deixa quatro � lhos. Cemitério Congonhas.
Maria do Carmo Ferreira — Aos 84, viúva de Severino Tei-
xeira de Oliveira. Deixa três � lhos. Cemitério e Crematório 
Metropolitano Primaveras.
Marília Carneiro de Mendonça Fernandes — Aos 87, casa-
da. Deixa duas irmãs e dois � lhos. Cemitério Araçá.
Romana Petrocelli — Aos 84, viúva. Deixa um � lho e uma 
neta. Cemitério Gethsêmani.
Folha de S.Paulo, 14 set. 2012. 
Disponível em: www1.folha.uol.com.br 
Texto III
Rainha da televisão brasileira, 
Hebe Camargo morre aos 83 anos
A apresentadora Hebe Camargo, considerada a “rainha da 
televisão brasileira”, morreu neste sábado em São Paulo, aos 
83 anos, vítima de uma parada cardíaca e após luta contra 
um câncer no peritônio, informou o canal “SBT”.
Hebe, que na última quinta-feira tinha assinado um con-
trato para retornar à emissora de Silvio Santos após uma 
passagem pela “Rede TV!”, morreu de madrugada em sua 
residência no bairro do Morumbi.
Em uma nota de pêsames, a presidente Dilma Rousse� ex-
pressou que recebeu com muita “tristeza” o falecimento “de 
uma das mais importantes personalidades da televisão bra-
sileira”, a qual foi de� nida como sua “querida amiga”. […]
Folha de S.Paulo, 29 set. 2012. 
Disponível em: http://noticias.uol.com.br 
Pode-se a� rmar a partir da leitura dos textos que:
a) os três textos têm como tema a morte, apresentando-a como 
notícias importantes em jornal diário de grande circulação.
b) os três textos constituem-se como possibilidades de re� exão 
sobre o limite da morte para o ser humano.
c) os três textos constituem exemplos de obituários com des-
taque para importantes pessoas da sociedade brasileira.
d) os três textos são exemplos em que todos os elementos da 
tipologia narrativa estão presentes.
e) os três textos têm como tema a morte. Somente nos textos 
I e III encontram-se elementos da tipologia narrativa. Tais 
textos podem ser identi� cados como obituário e notícia, 
respectivamente.
 5 +Enem [H18] Leia o seguinte texto.
Garcia, em pé, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na ca-
deira de balanço, olha para o tecto; Maria Luísa, perto da 
janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco mi-
nutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, 
que estivera excelente, — de Catumbi, onde morava o casal 
Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. 
Como os três personagens aqui presentes estão agora mor-
tos eenterrados, tempo é de contar a história sem rebuço.
Tinham falado também de outra cousa, além daquelas três, 
cousa tão feia e grave, que não lhes deixou muito gosto para 
tratar do dia, do bairro e da casa de saúde. Toda a conversa-
ção a este respeito foi constrangida. Agora mesmo, os dedos 
de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo que há no 
rosto de Garcia uma expressão de severidade, que lhe não é 
habitual. Em verdade, o que se passou foi de tal natureza, que 
para fazê-lo entender é preciso remontar à origem da situa-
ção.
[…]
ASSIS, Machado de. “A causa secreta”. In: Várias histórias. São Paulo: 
Escala Educacional, 2008.
Rebuço: disfarce, dissimulação.
Alguns aspectos são de importante relevância na trajetória lite-
rária de Machado de Assis. Nesse fragmento, nota-se um desses 
aspectos porque o narrador:
a) revela uma visão encantada da vida e do homem.
b) prima pelo uso exacerbado de adjetivos e advérbios.
c) apresenta ao leitor uma situação muito grave que ocorrera 
com as três personagens.
d) comenta com o leitor a própria escritura do conto, prepa-
rando-o para o episódio que será narrado.
e) oculta por completo sua própria � gura ao narrar o conto.
Acesse o Material Complementar disponível no 
Portal e aprofunde-se no assunto.
Roteiro de Estudos
PARA PRATICARCOMPLEMENTARES
As questões 6 e 7 estão relacionadas ao texto seguinte.
O menino sentado à minha frente é meu irmão, assim me 
disseram; e bem pode ser verdade, ele regula pelos dezessete 
anos, justamente o tempo em que estive solto no mundo, sem 
contato nem notícia.
A princípio quero tratá-lo como intruso, mostrar-lhe a minha 
hostilidade, não abertamente para não chocá-lo, mas de ma-
neira a não lhe deixar dúvida, como se lhe perguntasse com 
Nos textos I e III acontecem transformações, ambos apresentam relações tempo-
rais, verbos no pretérito e � guratividade (fábrica, família, empresa em I; contrato, 
câncer, emissora em III).
Alternativa e 
5. Nesse fragmento, observa-se que o narrador comenta sobre a própria escritura do conto em “tempo é de contar a história sem rebuço” e “para fazê-lo 
entender é preciso remontar à origem da situação”. O narrador machadiano revela visão desencantada da vida e do homem, portanto a alternativa a é 
incorreta. Machado é moderado ao fazer uso de adjetivos e advérbios, o contrário, portanto, do que se a� rma em b. A situação muito grave ainda não foi 
apresentada ao leitor, portanto, c é incorreta. O narrador intromete-se na narrativa, fazendo com que o leitor identi� que sua existência, portanto, e é incorreta. 
Alternativa d 
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10 O Discurso Narrativo I
todas as letras: que direito tem você de estar aqui na intimi-
dade de minha família, entrando nos nossos segredos mais 
íntimos, dormindo na cama onde eu dormi, lendo meus ve-
lhos livros, talvez sorrindo das minhas anotações à margem, 
tratando meu pai com intimidade, talvez discutindo a minha 
conduta, talvez até criticando-a? Mas depois vou notando 
que ele não é totalmente estranho. De repente fere-me a ideia 
de que o intruso talvez seja eu, que ele tenha mais direito de 
hostilizar-me do que eu a ele, que vive nesta casa há dezesse-
te anos. O intruso sou eu, não ele.
Ao pensar nisso, vem-me o desejo urgente de entendê-lo e 
de � car amigo. Faço-lhe perguntas e noto a sua avidez em 
respondê-las, mas logo vejo a inutilidade de prosseguir nesse 
caminho, as perguntas parecem-me formais e as respostas 
forçadas e complacentes.
Tenho tanta coisa a dizer, mas não sei como começar, até a 
minha voz parece ter perdido a naturalidade. Ele me olha, e 
vejo que está me examinando, procurando decidir se devo 
ser tratado como irmão ou como estranho, e imagino que as 
suas di� culdades não devem ser menores do que as minhas. 
Ele me pergunta se eu moro em uma casa grande, com mui-
tos quartos, e antes de responder procuro descobrir o motivo 
da pergunta. Por que falar em casa? E qual a importância de 
muitos quartos? Causar inveja nele se responder que sim? 
Não, não tenho casa, há muitos anos que tenho morado em 
hotel. Ele me olha, parece que fascinado, diz que deve ser 
bom viver em hotel, e conta que, toda vez que faz reparos 
à comida, mamãe diz que ele deve ir para um hotel, onde 
pode reclamar e exigir. De repente o fascínio se transforma 
em alarme, ele observa que se eu vivo em hotel não posso ter 
um cão em minha companhia, o jornal disse uma vez que 
um homem foi processado por ter um cão em um quarto de 
hotel. Con� rmo a proibição. Ele suspira e diz que então não 
viveria em um hotel nem de graça.
Adaptado de VEIGA, José J. “Entre irmãos”. 
In: MORICONI, Ítalo M. Os cem melhores contos 
brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
 6 (UFRS) Assinale a alternativa que expressa, adequadamente, o 
sentido global do texto.
a) O narrador-personagem retorna para casa, porque deseja 
estar com a sua família e se aproximar do irmão.
b) O narrador-personagem sai do quarto do hotel, porque não 
pôde ter um cão como companhia.
c) O irmão do narrador-personagem, por ter aproximadamente 
dezessete anos, vive em casa com os pais.
d) O narrador-personagem, ao conhecer seu irmão, vive um 
con� ito relacionado à falta de intimidade e à busca de 
proximidade com ele.
e) O narrador-personagem distancia-se de sua casa, porque 
considera seu irmão um estranho e um intruso na família.
 7 (UFRS) Na coluna da direita, abaixo, estão presentes ideias que 
resumem o sentido de parágrafos do texto; na da esquerda, 
indicações desses parágrafos.
Associe adequadamente a coluna da direita à da esquerda.
( ) Desejo do narrador-perso-
nagem de aproximar-se do 
irmão.
( ) Contato inicial entre os irmãos.
( ) Momento de aproximação dos 
irmãos por meio do diálogo.
( ) Momento em que o narrador-
-personagem depara-se com 
o con� ito entre o distante e o 
familiar.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima 
para baixo, é:
a) 2 – 1 – 4 – 3
b) 2 – 1 – 3 – 4
c) 3 – 1 – 4 – 2
d) 1 – 3 – 4 – 2
e) 3 – 1 – 2 – 4 
 8 (U. E. Londrina-PR, adaptada) Leia o fragmento a seguir, retira-
do do romance O planalto e a estepe, de Pepetela, que marca o 
reencontro entre Júlio e Sarangerel em Cuba, após trinta e cinco 
anos de separação. 
Eram novos tempos e se notava perfeitamente a pequena 
câmara de vigilância insistentemente apontada para mim. 
Por isso não dei uns passos para a direita e para a esquerda, 
o que normalmente se faz nessas ocasiões para disfarçar a 
ansiedade. Doíam-me as tripas, um frio se espalhava a partir 
da barriga para a garganta, o coração galopava a ritmo infer-
nal. Talvez naquele preciso momento estivesse Sarangerel 
a olhar para os ecrãs, tentando descobrir, antes de se apre-
sentar na porta, quem era o desconhecido querendo falar 
com ela. Não, até podia estar a olhar, mas não para um des-
conhecido. Tinha o meu cartão entre os dedos trementes, 
não tinha esquecido o meu nome que um mês antes pro-
nunciara à frente de Esmeralda, apenas tentava controlar a 
respiração, tão desregulada quanto a minha. Eis a razão pela 
qual eu estoicamente � tava directamente a câmara, para ela 
ver a minha determinação, a coragem de enfrentar qualquer 
coisa, por ela. Por ela, já não fechara a vida antes?
PEPETELA. O planalto e a estepe. São Paulo: Leya, 2009.
Identi� que o foco narrativo no trecho e discorra sobre seus 
efeitos de sentido no romance.
1. Primeiro parágrafo 
(l. 1 – 4)
2. Segundo parágrafo 
(l. 5 – 19)
3. Terceiro parágrafo 
(l. 20 – 24)
4. Quarto parágrafo 
(l. 25 –45)
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O Discurso Narrativo I
TAREFA PROPOSTA
 1 Identi� que o tipo de narrador dos textos seguintes.
(I) Narrador-personagem
(II) Narrador-observador
a) Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e � xo. 
Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam 
de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a 
melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a;disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela 
podia sabê-lo, e depois... 
Machado de Assis. “A cartomante”. 
b) Outro dia eu estava distraído, chupando um caju na varan-
da, e � quei com a castanha na mão, sem saber onde botar. 
Perto de mim havia um vaso de antúrio; pus a castanha 
ali, calcando-a um pouco para entrar na terra, sem se quer 
me dar conta do que fazia. 
Rubem Braga. 
Quem sabe Deus está ouvindo. 
c) A úmida vereda ziguezagueava como as da minha infância. 
Chegamos a uma biblioteca de livros orientais e ocidentais. 
Reconheci, encadernados em seda amarela, alguns tomos 
manuscritos da Enciclopédia Perdida que o Terceiro Impe-
rador da Dinastia Luminosa coordenou e que nunca foram 
impressos. 
Jorge Luis Borges. O jardim de veredas que se bifurcam. 
d) Duas horas da tarde. Ali no início do Morro da Viúva 
� zeram sinal: duas senhoras, ambas de cabelos brancos, 
preparavam-se para entrar no lotação, quando o motorista 
gritou: “Um lugar só”. A velhinha mais velha, já com o pé 
colocado no carro com imensa di� culdade, conseguiu 
retirar a perna comprometida, com di� culdade ainda 
maior, sob os protestos persuasivos da velha mais moça, 
que dizia: 
Paulo Mendes Campos. Coração materno. 
Leia o texto para responder às questões de 2 a 4.
Sentaram-se. O próprio Rei embaralhou as cartas e chamou 
dois ajudantes para formar as duplas. Ora a sorte correu 
para o lado de uns, ora para o lado de outros, até que num 
momento o Rei deu um violento tapa na mesa e gritou para 
o Diplomata: 
— Truco! 
— Vossa Majestade me assusta com esses gritos. 
— Tens ouvidos muito sensíveis. 
— Bem, eu retruco.
— Grite! 
— Não preciso gritar, apenas retruco. 
— Os gritos fazem parte deste jogo. Grite!
— Retruco. 
— Mais alto!
— Retruco!
— Aceito! Mostra o teu jogo, patife!
O Rei ganhou. Tinha o naipe mais alto. Ele passou a lín-
gua na carta, grudou-a na própria testa, deu socos na 
mesa, um piparote na orelha do Diplomata e ficou dan-
çando ao redor da mesa. Não é fácil divertir um monarca. 
Desde pequenos têm tudo e cedo lhes vem o tédio. Al-
guns consolam-se com possuir coisas, outros deliciam-se 
com intrigas, mas o mais comum é alegrarem-se humi-
lhando os súditos, como era o caso do Rei. Quanto mais 
paciente o homem, mais ele se deleitava em provocá-lo. 
O Diplomata era um dos seus alvos preferidos, mas como 
um bom homem do Norte, jamais perdia a compostura. 
O Rei, após vencer três jogos, perguntou:
— E então, imbecil, não se cansou de perder?
— Quer que eu seja franco?
— Seja, saia da rotina.
— Vossos gritos me desagradam mais que as derrotas.
— Se gritasses também, entenderias o espírito do jogo.
— Então há espírito neste jogo?
— O espírito da ira, meu caro.
José Roberto Torero. Ira — xadrez, truco e outras guerras.
 2 Identi� que o narrador do texto lido, caracterizando-o. Retire 
trechos do texto que comprovem sua resposta.
 3 De que forma ocorre a alternância dos tempos verbais usados 
pelo narrador no texto?
 4 Assinale o que for correto sobre as transformações que podem 
ser observadas no texto.
a) O Diplomata, que não gostava dos gritos do Rei, durante a 
partida de truco, passou a gostar.
b) O Rei, que não tinha sorte para o jogo, passou a vencer todas 
as partidas.
c) O Diplomata, incomodado com os gritos do Rei, passou a 
conhecer o sentimento do monarca que motivava tais gritos.
d) O Rei deu socos na mesa, após perder a partida.
e) O monarca, que tinha o hábito de humilhar seus súditos, 
mudou de comportamento no � m do texto.
 5 (Imes-SP)
É tempo!
Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tar-
de clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da 
rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da 
minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e 
vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender 
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.
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12 O Discurso Narrativo I
das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia… Agora é que eu 
ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um 
velho tenor italiano que aqui viveu e morreu… E explicou-me 
um dia a de� nição, em tal maneira que me fez crer nela. Tal-
vez valha a pena dá-la; é só um capítulo.
Machado de Assis. Dom Casmurro.
Neste excerto do romance machadiano, que corresponde ao 
capítulo VIII, evidencia-se:
a) uma digressão, por meio da qual o narrador assinala que 
tudo que narrou até então é um passado que condena e que 
pretende realmente esquecer.
b) um metadiscurso, por meio do qual o narrador, além de 
fazer re� exões sobre sua vida, sinaliza ao leitor os encami-
nhamentos da construção da narrativa.
c) um elogio, por meio do qual o narrador faz apologia a um 
estilo de vida assemelhado a uma ópera, como um grande 
evento de arte e realização pessoal.
d) um ensinamento, por meio do qual o narrador recomenda 
ao leitor que passe a viver a vida intensamente, em especial 
no que ela oferece de melhor.
e) uma autocrítica, por meio da qual o narrador se revela 
ressentido com a falta de coisas de seus tempos pretéritos, 
como a casa em que morava.
 6 (UFTO) Leia o poema para responder à questão.
Cabeça
Quando eu sofria dos nervos,
não passava debaixo de � o elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter de lavar minha boca com cinza.
Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje, que sarei, tenho uma vida e tanto:
já seguro nos � os com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com ela.
Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou de manga,
eu não intervo, quem quiser que se cuide.
Abastam as placas de ATENÇÃO! que eu escrevo
e ponho perto. Um bispo, quando tem zelo
apostólico, é uma coisa charmosa.
Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e � ca falando: ‘minha � lha, minha � lha’,
ele pensa que é woman’sLib, pensa
que a fé tá lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim,
ninguém entende. Gritava até parar,
quando eu sofria dos nervos.
PRADO, Adélia. “Bagagem”. In: Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Dentre as características da obra de Adélia Prado, destaca-se 
a mistura dos gêneros literários, sendo possível identi� car a 
presença de elementos da narrativa no gênero lírico e traços do 
lirismo no gênero narrativo. Considerando a leitura do poema, 
é correto a� rmar.
a) O tom melancólico e pessimista reforça os sentimentos do eu 
lírico, tornando sem valor literário os recursos da narrativa 
dentro do poema.
b) A presença de alguns elementos do gênero narrativo faz com 
que o texto perca todas as características do gênero lírico.
c) A presença dos gêneros literários lírico e narrativo faz com 
que seja classi� cado como um texto descritivo-argumenta-
tivo da confusão mental do narrador.
d) O discurso contraditório e irônico é próprio do texto narra-
tivo, sendo assim, o fato de estar escrito em forma de verso 
não signi� ca que pertença ao gênero lírico.
e) A poeticidade do texto faz-se presente através da construção 
de imagens que estabelecem uma comparação entre o passa-
do e o presente do eu lírico, contradizendo suas a� rmações 
de mudança.
 7 (Unicamp-SP, adaptada)
[…] Virgília deixou-se estar de pé; durante algum tempo 
� camos a olhar um para o outro, sem articular palavra. 
Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões 
sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia ape-
nas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados 
dela, não sei se em igual dose, mas en� m saciados.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. 
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
Considerando o excerto, como o narrador Brás Cubas avalia sua 
vivência amorosa ao � nal do romance?
 8 +Enem [H18] Leia o texto.
Carvões para a lareira do diabo
Era uma vez um homem muito, muito pobre. Ele tinha mu-
lher e oito � lhos para criar, trabalhava de sol a sol e ganhava 
umamiséria (isso quando conseguia que alguém precisasse 
de seus serviços, o que não acontecia com muita frequên-
cia). Às vezes passavam fome e, quando a situação piorou 
de uma maneira insuportável, ele saiu de casa desesperado. 
Andou muito e não encontrou nenhuma solução, até que 
topou com o diabo.
O homem não era muito instruído, mas sabia muito bem 
reconhecer a presença do tinhoso. Aquele cheiro de en-
xofre inconfundível, a famosa capa que mal escondia os 
pés em forma de cascos voltados para trás. Era ele, o 
demo, sem dúvida nenhuma.
O outro foi chegando, com a fala aveludada, foi convidando 
para tomar um trago, dizendo que a vida não era assim tão 
complicada, que tinha jeito pra tudo neste mundo. Depois, 
sem muitos rodeios, foi logo propondo:
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— É muito simples, eu posso resolver seus proble-
mas de uma vez por todas. É claro, com uma condição. 
Se você concordar em me vender sua alma, sua vida vai � car 
uma maravilha.
Era tentação demais. Bastante oportuna, aliás, naquele mo-
mento tão dif ícil. O homem enrolou e desenrolou a barba, 
desconversou, perguntou se não tinha outro jeito, coisa e 
tal.
O diabo, na maior paciência, explicou e argumentou. O ho-
mem � cou meio ressabiado, mas a� nal acabou aceitando.
[…] 
Regina Machado. O violino cigano e 
outros contos de mulheres sábias. 
No texto, o narrador descreve a hesitação da personagem em 
aceitar o pacto. Esse sentimento contraditório � ca claramente 
expresso no trecho:
a) “Às vezes passavam fome e, quando a situação piorou de 
uma maneira insuportável, ele saiu de casa desesperado”.
b) “É claro, com uma condição”.
c) “Era tentação demais. Bastante oportuna, aliás, naquele 
momento tão difícil”.
d) “O homem enrolou e desenrolou a barba, desconversou, 
perguntou se não tinha outro jeito, coisa e tal”.
e) “O diabo, na maior paciência, explicou e argumentou”.
PARA PRATICARCONSTRUINDO O TEXTO
 1 Leia com atenção o texto de Denise Fraga sobre � m de relacio-
namento.
A evolução tecnológica dos � ns
1978. Carmem teve um amante. Uma paixão avassaladora 
que quase a fez largar marido e � lhos. Tinham encontros 
furtivos em tardes ensolaradas do meio da semana. Tudo 
foi descoberto. Pressionada pela família, Carmem rompeu a 
relação. O homem enlouqueceu e passou a persegui-la.
A história quase terminou em tragédia. Foi depois de uma 
surra dada pelos primos de Carmem que o amado desapa-
receu. Em todos os seus aniversários, ela atendia a um te-
lefonema que a deixava muda. Do outro lado da linha, ele 
assobiava a música dos dois. Nada mais.
2007. Maria teve um namorado. Uma relação tórrida, cheia 
de mentiras, tapas e beijos. Rompeu-se num � agra o último 
� lete de con� ança, dissipando de uma só vez a névoa rala 
que a cegava em nome do amor.
Terminaram. Mas ela o adorava. E isso não se dissipa num 
relâmpago. Meses de lágrimas. Começou então a sair de 
novo para rever os amigos e, numa roda dessas, falava-se de 
uma tal Adriana que tinha sido destroçada emocionalmente 
por um fulano cafajeste. Percebeu no olhar de um amigo 
que tentou conter a conversa que o cafajeste era o mesmo.
Foi pra casa e não resistiu. Jogou-se na rede atrás da cúm-
plice. Vasculhando per� s de amigos comuns chegou no de 
Adriana. Marcaram um encontro.
Choraram juntas, mesmo percebendo a interseção de seus 
romances. Se eram várias, não havia “a outra”. E o ódio se 
fez solidariedade. Adriana quis prosseguir em busca das ví-
timas do amor de fulano. Maria a dissuadiu, mas me confes-
sou � car tentada a ir atrás das atuais namoradas para privá-
-las do golpe fatal do Barbazul. Uma vingança � lantrópica. 
Não sei onde chegou.
2014. Lena tem um ex-marido. Estão separados há dois 
anos, mas não consegue desligar-se dele. Não resiste. Vigia 
suas postagens na rede e lhe envia mensagens das quais se 
arrepende depois.
Para tentar se livrar do vício, acaba de instalar em seu 
celular um aplicativo que bloqueia qualquer tentativa de 
acesso ao contato telefônico de seu ex e, se ela tenta des-
bloquear numa recaída, cinco amigos previamente indica-
dos recebem alertas para tentar dissuadi-la. Me recusei a 
ser um deles. Demais pra mim.
Disponível em: www1.folha.uol.com.br (acesso em 01 dez. 2016)
Imagine você também o � nal de um relacionamento. Crie suas 
personagens, colocando nelas características: idade, tipo físi-
co, posição social, senso de humor (bem-humorada ou mal-
-humorada) etc. Você pode ainda descrever o local ou os lo-
cais em que a história acontece. Lembre-se de que, após uma 
situação inicial de equilíbrio, acontece uma transformação — 
no caso, uma traição, uma briga séria etc. Outras transforma-
ções podem ocorrer durante o desenrolar da história. Como 
narrador, você registra as ações em primeira ou em tercei-
ra pessoa, geralmente usando verbos no pretérito. Se quiser 
inovar, poderá iniciar a narrativa pelo desfecho, isto é, como 
o término do relacionamento, como nos romances policiais, 
mas lembre-se de que as ações ocorridas precisam ser claras em 
relação à anterioridade e à posterioridade dos acontecimentos. 
Dê um título a sua história.
 2 (U. E. Londrina-PR) 
Gente venenosa: os sabotadores
Não há como afirmar que existe alguém totalmente bom 
ou totalmente mau como nas maniqueístas histórias in-
fantis. Mas em determinadas situações há pessoas de 
personalidade dif ícil, que potencializam as fragilidades 
de quem está a sua volta, semeando frustrações e deses-
truturando sonhos alheios. Atitudes que, em resumo, 
envenenam. O terapeuta familiar argentino Bernardo 
Stamateas identificou essas pessoas, cunhou o termo 
“gente tóxica” e falou sobre elas no livro Gente tóxica — 
como lidar com pessoas dif íceis e não ser dominado por 
elas. Assim como uma maçã estragada em uma fruteira 
é capaz de contaminar as outras frutas boas, as pes-
soas tóxicas, segundo Stamateas, tendem a envenenar 
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14 O Discurso Narrativo I
a vida, plantar dúvidas e colocar uma pulga atrás da 
orelha de qualquer um. A vilania da situação reside no 
fato de que gente tóxica está sempre à espera da que-
da ou da frustração de alguém próximo para, então, 
assumir o papel de protagonista. “Eles (os tóxicos) se 
sentem intocáveis e com capacidade de ver a palha no 
olho do outro e não no seu”, comenta o autor.
Adaptado de BRAVOS, M. Gazeta do Povo, 19 set. 2010.
Com base no texto e na tira, da página seguinte, redija uma 
narrativa, envolvendo personagens cujo comportamento des-
considera os sentimentos das pessoas, bem como “intoxicam” 
as relações interpessoais.
ANOTAÇÕES
Leia
Um coração ardente, de Lygia Fagundes Telles (São Paulo: Companhia das Letras, 2012). São dez contos que, de alguma maneira, 
mereceriam o título emprestado pelo primeiro deles à coletânea. São histórias de homens e mulheres, crianças e adultos � agrados em 
seus sentimentos mais secretos e em sua relação espinhosa com a vida à sua volta.
VÁ EM FRENTE
BE
N
ET
T
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Objetivos:
c Reconhecer a estrutura 
do texto narrativo, 
por meio da leitura 
de trechos de textos 
de gêneros como o 
romance, o conto, os 
quadrinhos e outros.
c Produzir textos 
narrativos que 
contemplem 
adequadamente as 
fases da estrutura 
narrativa: manipulação, 
competência, 
performance e sanção.
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O Discurso Narrativo I
CAPÍTULO
2 Estrutura narrativa II
 COMPREENDENDO A NARRATIVA
Leia este trecho adaptado de A Bela e a Fera. 
Em uma fazenda, moravam o pai e três � lhas. Quando a seca chegou, o pai foi procurar 
trabalho em outras terras. Antes de partir, suas � lhas lhe pediram:
— Papai, quero ganhar um anel.
— E eu, quero seda para um vestido.
Bela, a mais nova, falou:
— Papai, quero uma linda rosa.
O pai viajou, sem sucesso. Na volta, encontrou um palácio majestoso. Entrou, tomou 
banho, comeu e dormiu. Na manhã seguinte, quando ia saindo,viu uma exuberante rosa 
vermelha. Lembrou-se da � lha e pegou a � or.
— É assim que você me paga a hospitalidade?
A Fera, proprietária do palácio, surgiu horrível, enorme, disforme.
— Queria levar a � or para minha � lha.
— Agora, você é meu prisioneiro, mas proponho-lhe um acordo: você leva este anel para 
entregá-lo à primeira pessoa que encontrar. Eu lhe dou a liberdade, mas a pessoa que receber 
o anel precisa � car no seu lugar. E não pode demorar.
O velho pai lembrou-se de que era sempre um cachorrinho que o esperava e aceitou o 
acordo.
Quando chegou, Bela correu ao seu encontro. O pai contou-lhe a história vivida e os dois 
choraram muito. Mas Bela quis cumprir o compromisso. 
Com o anel da Fera, andou muito até chegar ao palá-
cio. Nele, encontrou a Fera agonizando:
— Você demorou tanto, quase não aguentei 
esperá-la.
Bela, delicadamente, colocou o anel no dedo 
da Fera. Imediatamente, o monstro tornou-se um 
príncipe lindo, forte, corajoso, alegre.
— Você me salvou, Bela. Uma bruxa me trans-
formou em fera e disse que eu só voltaria a ser prín-
cipe se alguém me amasse.
E os dois casaram-se e foram felizes para sem-
pre. 1
Como acontece a estrutura da narrativa 
Com certeza, você já ouviu essa história muitas vezes. Ela é bem simples, mas possui uma 
estrutura muito interessante. Para compreendê-la melhor, precisamos conhecer alguns aspectos 
que a constituem.
Primeiramente, para que a narrativa ocorra, é preciso haver um contrato. Contrato é um acor-
do feito entre pessoas.
Na história apresentada, a Fera realiza um contrato com o pai de Bela, o qual, no momento, 
 CURIOSIDADE
 1 Em 2014, A Bela e a Fera ganhou nova 
adaptação para cinema. Trata-se de uma 
produção franco-alemã em que Léa 
Seydoux interpreta Bela e Vincent Cassel, 
a Fera.
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16 O Discurso Narrativo I
era seu prisioneiro. Ele seria livre, se trocasse o seu lugar com a primeira pessoa que visse ao chegar 
à sua casa. O pai aceitou o contrato e tinha o dever de cumpri-lo. Ao encontrar sua � lha, a troca 
aconteceu: Bela passou a ser responsável pelo cumprimento do acordo.
Fases de uma estrutura narrativa 
Primeira fase: manipulação
Uma personagem induz outra personagem a fazer alguma coisa, a agir de acordo com a sua 
vontade, ou seja, com a vontade do manipulador. Essa fase da narrativa é chamada de manipula-
ção. E para que ela apresente resultados, é preciso que a personagem manipulada queira executar 
as ações propostas pelo manipulador.
A manipulação pode ser feita por meio de:
 tentação: — Se você tirar boas notas, poderá viajar com a turma no � nal do ano. (recompensa)
 intimidação: — Tire boas notas, senão vai � car sem internet. (medo do castigo)
 provocação: — Duvido que você consiga tirar uma boa nota.
 sedução: — Você é tão inteligente, tão estudioso, você vai tirar nota boa, não vai? (elogio)
Agora, observe a primeira fase na sequência da narrativa que você leu: inicialmente, o pai pri-
sioneiro é manipulado, por intimidação, pela Fera.
Ao encontrar a � lha, Bela é que passa a ser manipulada, por causa da troca de pessoa, presen-
te no contrato � rmado.
Na manipulação, o manipulado precisa querer ou dever fazer.
Bela quis, aceitou o desa� o e, além disso, pelo contrato, ela deveria cumpri-lo.
Segunda fase: competência
Após a manipulação, o sujeito do fazer adquire competência e precisa de um saber e de um 
poder para realizar sua ação.
Bela sabia o que fazer e tinha poder para realizar o que queria.
Terceira fase: performance
Como sujeito do fazer, Bela cumpre sua função: vai ao encontro da Fera e coloca o anel em seu 
dedo, livrando-a da agonia. Acontece então a performance.
Nessa fase, em geral, há uma relação de perda ou ganho — a Fera ganhou e a bruxa perdeu.
Quarta fase: sanção
No � nal, o agente do fazer recebe a sanção, isto é, o prêmio ou o castigo. Bela recebe o prêmio: 
casa-se com o príncipe. Esta ação é caracterizada como sanção positiva.
Resumindo, uma narrativa é estruturada a partir da junção destas quatro fases:
 manipulação: dever e/ou querer.
 competência: aquisição de um saber e um poder.
 performance: execução da ação.
 sanção: aprovação ou não, castigo ou recompensa.
Nem sempre o autor da narrativa segue a ordem das fases. Às vezes, a sanção acontece no iní-
cio e, depois, as outras fases vão esclarecendo a causa da perda ou do ganho. 1
Leia ainda um conto irlandês, retirado do livro O violino cigano e outros contos de mulheres 
sábias, de Regina Machado.
Carvões para a lareira do diabo
Era uma vez um homem muito, muito pobre. Ele tinha mulher e oito � lhos para criar, tra-
balhava de sol a sol e ganhava uma miséria (isso quando conseguia que alguém precisasse de 
seus serviços, o que não acontecia com muita frequência). Às vezes passavam fome e, quando 
a situação piorou de uma maneira insuportável, ele saiu de casa desesperado. Andou muito e 
não encontrou nenhuma solução, até que topou com o diabo.
 OBSERVAÇÃO
 1 Algumas narrativas focalizam mais uma 
fase do que outra. Um jornal sensacio-
nalista, na narrativa de um crime, por 
exemplo, enfoca muito mais a perfor-
mance. Em contrapartida, um romance 
policial valoriza mais a sanção porque a 
fi nalidade é a descoberta do assassino.
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O homem não era muito instruído, mas sabia muito bem reconhecer a presença do tinho-
so. Aquele cheiro de enxofre inconfundível, a famosa capa que mal escondia os pés em forma 
de cascos voltados para trás. Era ele, o demo, sem dúvida nenhuma.
O outro foi chegando, com a fala aveludada, foi convidando para tomar um trago, dizendo 
que a vida não era assim tão complicada, que tinha jeito pra tudo neste mundo. Depois, sem 
muitos rodeios, foi logo propondo:
— É muito simples, eu posso resolver seus problemas de uma vez por todas. É claro, com uma 
condição. Se você concordar em me vender sua alma, sua vida vai � car uma maravilha.
Era tentação demais. Bastante oportuna, aliás, naquele momento tão dif ícil. O homem enro-
lou e desenrolou a barba, desconversou, perguntou se não tinha outro jeito, coisa e tal.
O diabo, na maior paciência, explicou e argumentou. O homem � cou meio ressabiado, 
mas a� nal acabou aceitando.
Ele ganhou do diabo um tambor, que era para tocar quando tivesse necessidade. Era só pedir 
o que queria, e o danado providenciava no mesmo instante. O trato era que depois de vinte anos 
o diabo voltaria para buscá-lo. Enquanto isso ele podia aproveitar a vida como quisesse. Foi o que 
combinaram, e desse jeito aconteceu.
Só que o homem não contou nada para a mulher sobre seu pacto, e ela também não pergun-
tou nada quando viu a sorte deles mudar da noite para o dia. Era dinheiro que não acabava mais, 
casa nova, fartura de comidas caras, viagens, exageros de presentes para os � lhos, uma maravilha. 
O tempo foi passando, a vida danada de boa, melhor impossível.
Um dia o homem acordou com um pensamentozinho besta zumbindo na sua cabeça. Ele 
se lembrou de que no trato que tinha feito havia um prazo. E não faltava muito tempo para 
terminar. De tarde o pensamento tinha tomado conta dele todo, não parava mais de atormen-
tar. No dia seguinte e nos outros, o homem foi � cando triste, não comia direito, mal dormia, 
emagreceu, murchou. A mulher observava tudo, até que um dia falou:
— Você tem que me contar o que está acontecendo, senão acabo morrendo de desgosto.
O homem não aguentou mais guardar o segredo, contou tudo do trato com o diabo.
— Bom — disse a mulher —, nem tudo está perdido. Você não disse que tinha uma his-
tória de um tambor, que é só você tocar que o diabo aparece e faz o que você pedir? Pois eu 
tenho um plano para a gente� car livre dele. Toque o tambor e, quando ele vier, diga para ele 
construir igrejas e capelas, muitas, por toda parte.
— Que boa ideia, mulher — disse o homem animado. — Imagine se demônio que se preza 
vai se meter em negócio de igreja.
Quando ele chamou o diabo e disse o que queria, o outro não fez cara de deus me livre 
nem nada. Disse que ia começar em seguida. Não demorou nada e tinha igreja e oratório e 
capela para tudo quanto era lado.
— Bom, agora você só tem mais um último pedido antes de o prazo terminar — falou o 
demônio dando uma risadinha bem de tinhoso, mesmo. — Até breve, pense bem no que vai 
pedir.
O homem � cou desanimado e foi falar com a mulher:
— Não deu certo, ele nem se atrapalhou, olhe quanta igreja grandona ele botou em pé.
— Calma, ainda tem um plano que eu guardei para o � nal. Você toca o tambor bem alto e 
pede para ele transformar todos os governantes da nossa terra em homens honestos.
O homem não entendeu muito bem, mas assim mesmo ele fez o que a mulher falou. 
Não custava tentar, ele não tinha outra saída, estava prestes a entregar sua alma para 
o demo.
Quando ele tocou o tambor com toda força que ainda tinha, o diabo apareceu 
com cara de sono.
— Mas já? Eu nem consegui tirar uma 
soneca direito, na frente de minha lareira 
nova, quentinha, com fogo alto que estava 
uma beleza. Só vim mesmo porque agora 
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18 O Discurso Narrativo I
você volta comigo.
— Pois o meu pedido é uma coisinha à toa, não vai custar nada para você. Eu quero que 
você transforme todo o pessoal que manda aqui neste mundo: rei, presidente, deputado, se-
nador, juiz, delegado, você sabe, toda essa gente. Quero que você faça eles virarem pessoas 
honestas.
O diabo �cou mudo, depois �cou vermelho, depois espumou, depois voltou ao normal.
— Não vai me custar nada, é? Já entendi. Aposto que foi sua mulher quem teve essa 
ideia, claro que foi. Está bem, você ganhou, pode �car por aqui, com alma e tudo. Eu não 
posso realizar seu pedido, de jeito nenhum. Sabe por quê? Se todo esse 
mundo de gente for transformado em gente honesta, vou �car sem ne-
nhum carvão para o fogo da minha lareira. Ainda mais agora que estou 
com uma novinha em folha.
O homem nunca mais ouviu falar do diabo, e viveu feliz com a mulher 
e a família até quando chegou sua hora certa de partir. Para onde ele foi 
não se sabe ao certo, mas é garantido que ele não virou carvão na lareira do 
chifrudo lá de baixo.
MACHADO, Regina (Comp. e reescrita).O violino cigano e outros contos de mulheres 
sábias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004
 Fase da manipulação:
No início do conto, o diabo tenta convencer o homem a vender sua alma: “eu posso re-
solver seus problemas de uma vez por todas… com uma condição. Se você concordar em 
me vender sua alma, sua vida vai ficar uma maravilha.” — manipulação por tentação.
Na manipulação, o manipulado precisa querer ou dever fazer:
“Era tentação demais. Bastante oportuna, aliás, naquele momento tão difícil.”
“O homem �cou meio ressabiado, mas a�nal acabou aceitando.”
 Fase da competência:
Ao aceitar o contrato, o homem adquire competência para agir. “Ele ganhou do diabo um 
tambor, que era para tocar quando tivesse necessidade. Era só pedir o que queria, e o danado 
providenciava no mesmo instante.”
 Fase da performance:
Sempre que sentia necessidade, o homem tocava o tambor. “Era dinheiro que não acabava 
mais, casa nova, fartura de comidas caras, viagens, exageros de presentes para os �lhos, uma ma-
ravilha. O tempo foi passando, a vida danada de boa, melhor impossível”.
 Fase da sanção:
O homem sabia que sua sanção seria negativa, pois teria que entregar a alma ao diabo. “Ele se 
lembrou que no trato que tinha feito havia um prazo. E não faltava muito tempo para terminar. De 
tarde o pensamento tinha tomado conta dele todo, não parava mais de atormentar. No dia seguinte 
e nos outros, o homem foi �cando triste, não comia direito, mal dormia, emagreceu, murchou”.
Essa sanção provoca modi�cação na estrutura narrativa e a esposa do homem ganha des-
taque na história.
 Fase da manipulação:
A esposa, vendo o marido de�nhar, obriga-o a contar o que estava acontecendo, senão morre-
ria de desgosto — manipulação por intimidação.
O marido, naquela situação, quis contar o segredo à esposa. (“O homem não aguentou mais 
guardar o segredo, contou tudo do trato com o diabo”).
 Fase da competência:
O marido, embora não tenha entendido bem qual era o plano da mulher, adquiriu um saber 
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ATIVIDADES
 1 No gênero policial, o criminoso é o sujeito que executa a grande 
performance da narrativa, pois é a partir de seu fazer que entra 
em cena o detetive. Leia os textos e, em seguida, responda ao 
que se pede:
 I. O caso é de assassinato, e o assassino é um homem. Tem 
mais de um metro e oitenta de altura, está na � or da 
idade […], usa botas rústicas, de bico quadrado, e estava 
fumando um charuto […]. Chegou aqui com sua vítima 
numa carruagem […]. É muito provável que o assassino 
tenha rosto vermelho e que as unhas de sua mão direita 
sejam extremamente longas.
Arthur Conan Doyle 
 II. Ainda não examinei a correspondência, mas não há 
nada de interessante atualmente. Os grandes crimino-
sos, os criminosos de métodos, não existem mais. Os 
casos para os quais tenho sido contratado recentemente 
são banais ao extremo. 
Agatha Christie
Qual trecho corresponde ao percurso narrativo do criminoso e 
qual corresponde ao percurso narrativo do detetive? Justi� que 
sua resposta.
 2 Leia o texto a seguir. 
Vai ver o que aconteceu. Na noite de 24 de agosto, o coronel 
teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome 
cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato 
de mingau, que achou frio, o prato foi cair na parede, onde se 
fez em pedaços.
— Hás de pagá-lo, ladrão! Bradou ele.
Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo 
sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um 
velho romance de d’Arlincourt, tradu-zido, que lá achei, e 
pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da 
cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remé-
dio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao � m 
da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do 
coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia deli-
rar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão 
para enfrentar o diabo (“O homem não entendeu muito bem, mas assim mesmo ele fez o que a 
mulher falou.”).
 Fase da performance:
O último pedido que o homem fez, sugerido pela mulher, irritou o diabo que “� cou mudo, de-
pois � cou vermelho, depois espumou, depois voltou ao normal”. Ele não podia realizá-lo de jeito 
nenhum. Se as pessoas que mandam no mundo fossem transformadas em gente honesta, o diabo 
� caria sem nenhum carvão para o fogo de sua lareira.
 Fase da sanção:
Desta vez, o diabo saiu prejudicado e o homem, portanto, foi sancionado positivamente. Ele con-
servou sua alma “e viveu feliz com a mulher e a família até quando chegou sua hora certa de partir”.
O texto I narra o percurso narrativo do criminoso, pois apresenta sua descrição 
e revela uma ação característica (“Chegou aqui com sua vítima numa carrua-
gem”) Já o texto II apresenta o percurso do detetive: “Ainda não examinei a 
correspondência” é uma ação característica dessa personagem.
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20 O Discurso Narrativo I
da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de 
desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi 
a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as 
mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e 
dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-
-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, 
e o coronel morreu.
Machado de Assis. “O enfermeiro”.
A partirda leitura do trecho do conto “O enfermeiro”, de Ma-
chado de Assis, julgue (V ou F) os itens a seguir. 
( ) O trecho lido retrata uma ação do enfermeiro, que, ma-
nipulado por provocação, esgana o coronel.
( ) O trecho lido também retrata uma ação do próprio coronel, 
que atira uma moringa no enfermeiro.
( ) O enfermeiro cumpre seu fazer, que era acordar o coronel 
à meia-noite para lhe dar o remédio.
( ) A morte encerra o percurso narrativo do coronel.
( ) Pelo trecho lido não é possível identi� car de que forma 
foi sancionado o enfermeiro.
 3 (UFBA) Leia o texto a seguir e, depois, faça o que se pede.
— Você está sozinha, Vanda?
— Na maior solidão. Os meninos foram para o colégio e eu 
acabei de me aprontar para sair. Quero fazer umas compri-
nhas na cidade antes de ir para o Ministério.
Ela estava pronta e ninguém diria pela sua cara que a noite 
ainda tão próxima fora longa e acidentada. Lavada, pinta-
dinha de leve, blusa branca muito engomada e saia escura, 
cabelo ainda úmido, parecia uma andorinha, Vanda.
— Meu bem — disse Nando tomando-a nos braços.
— Senhor! — disse Vanda rindo. — Agora não, Nando, vou 
chegar atrasada se começarmos com isso.
Cheiro de beijoim, gosto de batom fresco, pele macia de ba-
nho, blusa cheirando a quarador.
— Você está me amassando toda — riu ela.
E depois:
— Está bem, neguinho, vem. Desmancha a roupa que eu 
acabei de vestir, desmancha a cama que eu acabei de fazer, 
desmancha tudo, meu anjo.
Melhor teria sido não ir, pois quem se desmanchou foi ele 
próprio, Nando apressado e já agora nas garras da nova an-
gústia. A prova real assim tirada, Nando sentiu, para conso-
lo seu, menos culpa no burlar seu voto de castidade. Usando 
de cautela, como Labão quando experimentava Jacó, o Se-
nhor lhe permitira acesso à mulher. Mas lhe reservara uma 
surpresa. De certa forma seu pecado só podia ser escritura-
do como meio. Entre a hora em que os meninos iam para o 
colégio e Vanda saía para o trabalho, � cou frequentador do 
pequeno apartamento do Flamengo.
CALLADO, A. Quarup. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
O fragmento apresenta uma situação vivida pela personagem 
Nando (no fragmento focalizada como padre Fernando), re-
veladora de um comportamento em que o seu fazer opõe a 
natureza (instinto) à cultura (convenções sociais). Descreva esse 
comportamento.
 4 (Unicamp-SP, adaptada) Capitães da areia, obra de Jorge Amado, 
retrata a vida de um grupo de menores abandonados que vive 
nas ruas da cidade de Salvador na década de 1930. Os meninos 
são moleques atrevidos, malandros, espertos, famintos, ladrões, 
agressivos, falsos, soltos de língua, carentes de afetos, de instru-
ção e de comida. O fragmento que você vai ler está na terceira 
e última parte dessa obra.
Agora [Pedro Bala] comanda uma brigada de choque for-
mada pelos Capitães da Areia. O destino deles mudou, tudo 
agora é diverso. Intervêm em comícios, em greves, em lutas 
obreiras. O destino deles é outro. A luta mudou seus destinos.
AMADO, Jorge. Capitães da areia. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Explique a transformação pela qual os Capitães da Areia pas-
saram.
 5 +Enem [H24] Leia o texto.
O último combate
Na terra, a luta não havia terminado. Para se tornar de� ni-
tivamente o soberano dos deuses e dos homens, Zeus ainda 
precisava combater um temível demônio, Tífon, que era o 
� lho mais moço de Gaia.
Quando esse ser monstruoso se aproximava, todo mundo 
fugia, e os próprios deuses receavam enfrentá-lo. Sua força 
inesgotável, sua estatura descomunal e sua feiura supera-
vam as de todos os outros � lhos de Gaia. Na extremidade 
de seus braços imensos, agitavam-se cabeças de dragão com 
língua preta. Cada uma delas soltava centelhas de fogo pelos 
olhos e gritos de animal selvagem.
Zeus as ouviu gemer, berrar e rugir uma após a outra. Pre-
parou-se para a luta e empunhou suas armas. O choque foi 
terrível: a terra tremeu, o céu � cou em brasa, e o mar se er-
O trecho transcrito apresenta os Capitães da Areia como brigada de choque 
numa luta política. Esse desfecho torna evidente a transformação pela qual 
passaram: de menores abandonados infratores a atuantes em cenários de 
lutas e greves. Professor(a), explique aos alunos que a luta tinha objetivo de 
instaurar o comunismo no Brasil, visto como a solução para todos os problemas 
sociais da época.
A personagem apresenta um comportamento em desacordo com as convenções 
sociais, porque, na condição de padre, deveria respeitar os votos de castidade; 
no entanto, deixa-se dominar pelo instinto, na medida em que mantém relações 
sexuais com Vanda.
V
V
V
V
F
O enfermeiro adormeceu ou de cansaço ou pela leitura sem dar o remédio ao coronel, 
que acordou aos gritos.
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gueu num vagalhão fervente. Dentre os dentes dos dragões 
jorravam chamas que os relâmpagos de Zeus desviavam. 
De repente, juntando todas as suas forças, Zeus lançou um 
dardo poderoso, feito de seu raio, que in� amou de uma só 
vez as múltiplas cabeças de dragão. O monstro se consu-
miu num fogaréu gigantesco, queimando toda a vegetação 
em torno. Então, � nalmente vitorioso, o senhor supremo 
do trovão o precipitou no fundo do Tártaro. Agora Zeus 
podia reinar.
Contos e lendas da mitologia grega. Claude Pouzadoux; 
ilustrações de Frédérick Mansot; tradução de Eduardo Brandão. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Vimos, nesse capítulo, que as personagens podem ser ma-
nipuladas, de diversas maneiras, por outras personagens do 
mesmo enredo. Contudo, no texto acima, Zeus é manipulado 
pelo próprio querer, não por outra personagem. Identi� que o 
sentimento que leva Zeus a enfrentar Tífon, mesmo sabendo 
que se tratava de um temível demônio.
a) O desejo de reinar soberano.
b) O receio de enfrentar o terrível monstro.
c) A força inesgotável do inimigo.
d) A feiura do � lho de Gaia.
e) O domínio sobre as próprias armas.
Acesse o Material Complementar disponível no 
Portal e aprofunde-se no assunto.
Roteiro de Estudos
PARA PRATICARCOMPLEMENTARES
Leia o texto para responder às questões 6 e 7.
A sensível
Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter 
a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça 
tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar 
tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este 
cantava alegre — virava para o lado o rosto magoado, insu-
portável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na 
rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas —
assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a 
simpatia por si própria.
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de 
doença, escolheu um domingo em que o marido viajava 
para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma 
necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ain-
da fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passea-
va muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim 
foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu 
uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas —
aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de 
� lhos com cara de fome, o marido tuberculoso —
a bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque não gos-
tava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sen-
tia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres 
era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. 
Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escu-
recido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh 
pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a per-
plexidade diante da liberdade da bordadeira pobre. Senão 
talvez um sentimento de espera. A liberdade.
Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector.
 6 (Unifesp) A narrativa delineia entre as personagens da senhora 
e da bordadeira uma relação de:
a) cumplicidade, entendida como ajuda entre duas mulheres 
cujas vidas mostram-se tão distintas.
b) animosidade, marcadapela recusa afrontosa da segunda 
em atender ao pedido emergencial da primeira.
c) oposição, determinada pela superioridade social e econô-
mica da primeira e a liberdade da segunda.
d) sujeição, fortalecida naturalmente pelas condições econô-
micas da primeira, superiores às da segunda.
e) incompreensão, decorrente do desejo da primeira de que 
a segunda trabalhasse num dia de domingo.
 7 (Unifesp) O emprego do adjetivo “sensível” como substantivo, 
no título do texto, revela a intenção de:
a) ironizar a ideia de sentimento, então destituído de subje-
tividades e ambiguidades na expressão da senhora.
b) priorizar os aspectos relacionados aos sentimentos, como 
conteúdo temático do conto e expressão do que vive a se-
nhora.
c) explorar a ideia de liberdade em uma narrativa em que o 
efeito de objetividade limita a expressão dos sentimentos 
da senhora.
d) traduzir a expressão comedida da senhora ante a vida e os 
sentimentos mais intensos, como na relação com a bordadeira.
e) dar relevância aos aspectos subjetivos das relações huma-
nas, pondo em sintonia os pontos de vista da senhora e da 
bordadeira.
 8 Considere o trecho � nal de “O alienista”, de Machado de Assis.
Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção 
científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e 
brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, 
entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os 
cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mes-
mo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. 
Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca hou-
ve outro louco, além dele, em Itaguaí; mas esta opinião, 
fundada em um boato que correu desde que o alienista 
expirou, não tem outra prova, senão o boato; e boato du-
vidoso, pois é atribuído ao padre Lopes, que com tanto 
Zeus queria reinar soberano 
e esse desejo o manipulou a 
enfrentar Tífon.
Alternativa a 
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22 O Discurso Narrativo I
TAREFA PROPOSTA
rotar o imitador.
— Vamos os dois imitar em público a voz de um porquinho; e 
se eu não ganhar a partida, cortem-me a cabeça!
Chega o dia. Enche-se o teatro. Pedro aparece con� ante na 
vitória e imita leitão novo de modo a entusiasmar o público.
— O outro agora! O outro!… — berra a assistência.
Apareceu o outro, embrulhado num capotão. Preparou-se, 
remexeu-se e, de repente:
— Coim! Coim! Coim!
Vaia estrondosa.
— Fora! Fora! Pedro ganhou! Pedro imita melhor! Fora…
O sujeito abriu o capote e suspendeu pelas orelhas um lei-
tãozinho que trazia oculto.
— Vaiai, senhores, vaiai o verdadeiro autor dos coinchos, 
pois foi este porquinho quem berrou e não eu…
Os espectadores entreolharam-se enca� fadíssimos.
Mais vale cair em graça do que ser engraçado.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Globo, 2008.
 2 Identi� que o tipo de manipulação sofrida por Pedro Pereira Pe-
drosa quando aparece um homem que se propõe a derrotá-lo.
a) Tentação
b) Intimidação
c) Provocação
d) Sedução
e) Comoção
 3 Pedro foi sancionado positiva ou negativamente? E o seu públi-
co? Justi� que.
Leia os quadrinhos para responder às questões 4 e 5.
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http://tecnologia.uol.com.br (acesso em 1o dez. 2016)
 1 […] Quando o desembargador se casou (era promotor públi-
co e tinha uma capa espanhola forrada de seda carmesim), 
dona Hortênsia pesava cinquenta e cinco quilos. Juiz muni-
cipal: dona Hortênsia foi até sessenta e seis e meio. Juiz de 
direito: dona Hortênsia fez um esforço e alcançou setenta e 
nove. Lista de merecimento: oitenta e cinco na balança da 
Estação da Luz diante de testemunhas. Desembargador: no-
venta e quatro quilos novecentos e cinquenta gramas. E dona 
Hortênsia prometia ainda. Mais uns sete quilos (talvez nem 
tanto) o desembargador está aí feito Ministro do Supremo 
Tribunal Federal. E se depois dona Hortênsia num arranque 
supremo alargasse ainda mais as suas fronteiras nativas? La-
martine punha tudo na mão de Deus.
— Por que está olhando tanto para mim? Nunca me viu 
mais gorda?
— Verei ainda se a sorte não me for madrasta! Vou trabalhar.
[…] 
ALCÂNTARA MACHADO, Antônio de. “O lírico Lamartine”. 
In: Contos paulistanos. São Paulo: Unesp, 2012.
O texto transcrito é predominantemente:
a) dissertativo, argumentando-se sobre a relação entre o cargo 
do marido e a mudança de peso da esposa.
b) descritivo, criticando-se o comportamento de dona Hortênsia.
c) narrativo, explorando-se uma situação pitoresca do rela-
cionamento de Lamartine e sua esposa, dona Hortênsia.
d) descritivo, delineando-se o per� l de Lamartine e a forma 
como conduzia sua carreira.
e) narrativo, analisando-se a mudança de peso de dona 
Hortênsia e argumentando-se contrariamente ao seu com-
portamento.
Leia esta fábula, de Monteiro Lobato, para responder às ques-
tões 2 e 3.
O imitador dos animais
Pedro Pereira Pedrosa tinha uma habilidade rara: imitava 
na perfeição a voz dos animais. O coim-coim do porco, o 
au-au do cachorro, o bé do carneiro, o relincho do burrico, 
tudo ele reproduzia de modo a enganar todo mundo.
— É tal e qual — diziam os ouvintes maravilhados.
Um dia apareceu na cidade um homem se propondo a der-
fogo realçara as qualidades do grande homem. Seja como 
for, efetuou-se o enterro com muita e rara solenidade.
Podemos considerar que o trecho apresenta a última fase de 
uma narrativa, que é a da sanção. Nela, o ilustre médico:
a) demonstra não ter competência para encontrar a própria cura 
e morre.
b) revela a cura para a doença dos internos da Casa Verde.
c) reconhece que falhou como pro� ssional.
d) entrega-se à pesquisa cientí� ca para, em seguida, publicar 
fórmula e� caz de combate à patologia que o acometia.
e) após longo período internado na Casa Verde, é recebido na 
igreja com muita solenidade pelo padre Lopes.
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.
Lista de merecimento: lista de promoção por merecimento.
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O Discurso Narrativo I
 4 (I. Embraer de Educação e Pesquisa-SP) Os quadrinhos mostram 
que o cinema 3D foi recebido pelo público com:
a) curiosidade, frustrando, logo de início, a expectativa das 
pessoas.
b) excitação, tornando-se cada vez menos atraente ao longo 
dos anos.
c) desdém, surpreendendo a todos ao se popularizar a partir 
de 2010.
d) animação, tomando lugar do cinema tradicional, que era 
mais caro.
 5 (I. Embraer de Educação e Pesquisa-SP) No penúltimo quadrinho, 
com a frase — Por que diabos isso é mais caro? —, a persona-
gem expressa uma:
a) ironia, com a intenção de dizer que o cinema 3D é para 
poucos.
b) pergunta, pois quer saber o preço certo da entrada do cinema 
3D.
c) crítica, com a qual ela contesta o valor da entrada do cinema 
3D.
d) brincadeira, com a qual ela insinua não ter como pagar o 
cinema 3D.
Considere o texto “Apelo”, para responder às questões 6 e 7.
Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Pri-
meiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom che-
gar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausên-
cia por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na 
mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A no-
tícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no 
chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa 
era um corredor deserto, até o canário � cou mudo. […]
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito 
de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, 
na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não te-
nho botão na camisa. Calço a meia furada. Que � m levou o 
saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar 
com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, 
Senhora, por favor.
TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1996.
 6 (UEMS, adaptada) O narrador do texto é a personagem 
protagonista; esse recurso revela de forma convincente

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