Buscar

DOUTRINA DE INTELIGÊNCIA I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 1 - INTRODUÇÃO À DOUTRINA DE INTELIGÊNCIA
CONCEITO DE INTELIGÊNCIA
Segundo o dicionário Michaelis (michaelis.uol.com.br), há vários significados para o termo inteligência:
1. Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto, percepção, quengo.
2. Habilidade de aproveitar a eficácia de uma situação e utilizá-la na prática de outra atividade.
3. Princípio espiritual e abstrato considerado a fonte de toda a intelectualidade.
4. Capacidade de resolver situações novas com rapidez e êxito, adaptando-se a elas por meio do conhecimento adquirido.
5. Conjunto de funções mentais que facilitam o entendimento das coisas e dos fatos.
6. Pessoa de grande esfera intelectual.
7. Compreensão recíproca.
8. Serviço de informações.
Todos os significados são profundamente relevantes, no entanto, um deles carrega em si a capacidade de despertar a curiosidade: Serviço de informações.
No mesmo dicionário, ao consultarmos o significado de serviço de informações, obteremos como resposta que é aquele que tem como principal função a obtenção de informações sigilosas; serviço secreto.
Veja só, serviço secreto! Não há como não se interessar de imediato pelo assunto, é algo sobre o que muitos já fantasiaram: ser um agente secreto, um espião.
Como veremos adiante, a Inteligência não se limita à obtenção de informações sigilosas, mas, certamente, esta é uma de suas grandes funções. Assim como seu campo de utilização não se limita à esfera pública, mas tem grande aplicação na iniciativa privada.
Resumidamente, a missão da Inteligência é a produção de conhecimento visando assessorar o tomador de decisão.
A Lei Federal nº 9883/99, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência — SISBIN, trouxe, em seu artigo 1º, um conceito de Inteligência:
“Para os efeitos de aplicação desta lei, entende-se como Inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.”
Assim, um simples conceito de Inteligência seria a reunião de dados para análise e produção de conhecimento sigiloso visando ao assessoramento ao responsável pela tomada de decisão.
Perceba se você é capaz de identificar, no esquema a seguir, como o conceito de Inteligência permeia todo o ciclo.
DOUTRINA DE INTELIGÊNCIA
Absorvido o conceito de Inteligência, passemos adiante.
Doutrina como se sabe é um conjunto de regras, princípios, normas e valores.
Desta forma, unindo o que já aprendemos, podemos afirmar que a Doutrina de Inteligência é o conjunto de regras, princípios, normas e valores que disciplinam as atividades de Inteligência.
Atividades de Inteligência, por sua vez, são as ações empregadas visando alcançar o objetivo da Inteligência, que, como já vimos, é a produção de conhecimento. No Brasil, temos instituída formalmente nossa Doutrina de Inteligência, que já se encontra em sua 4º versão, e foi aprovada pela Portaria SENASP nº 02/2016.
A Doutrina de Inteligência se espelha nos ideais e na prática da democracia, buscando orientar o exercício de uma atividade que atenda aos interesses do Estado e do cidadão. Neste caso, a Doutrina pode ser compreendida como um conjunto de regras que servem para orientar um sistema filosófico, político, religioso etc. Dessa maneira, a Doutrina consiste na base de um sistema e, portanto, estrutura as atividades de Inteligência.
Segundo o Manual de Inteligência do SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência), a Doutrina de Inteligência é definida como um conjunto de princípios, normas, técnicas, valores, que direciona e educa a atividade de Inteligência. Essa Doutrina foi desenvolvida pelo SENASP (Secretária Nacional de Segurança Pública), tendo a presença de representantes de Estados.
Como você pode observar, a doutrina visa estabelecer todos os protocolos e as metodologias a serem empregadas no desenvolvimento do serviço de Inteligência.
Então pergunto a você:
O QUE É SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA?
O Serviço de Inteligência, de Informações ou Secreto é geralmente um conjunto de órgãos públicos (há também aplicação na área privada, equivocadamente chamado de “espionagem industrial”) cuja função é a reunião de dados e informações protegidas ou sensíveis, no tocante a algum tema importante.
Tais órgãos, ao captarem estes dados ou informações, produzirão conhecimento a partir deles e submeterão ao tomador de decisão, que com base naquele conhecimento, decidirá acerca de medidas a serem adotadas.
Na esfera pública, esses dados ou essas informações recebem graus de sigilo reservado, secreto ou ultrassecreto, de acordo com a recente lei de acesso à informação pública — LAI, Lei nº 12.527 de 18/11/2011 —, que entrou em vigor em 16/05/2012. Essa nova legislação suprimiu o grau de sigilo confidencial antes existente.
Essas atividades dividem-se em ramos:
PROTEÇÃO DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA (CONTRAINTELIGÊNCIA).
A Contrainteligência, além de trabalhar na reunião de dados e informações, visa ainda evitar a ação de Serviços de Inteligência de “inimigos”. A Lei Federal nº 9.883/99, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência — SISBIN — trouxe, em seu artigo 1º, um conceito de Contra Inteligência:
“Entende-se como contrainteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa.”
PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO (INTELIGÊNCIA)
Já mencionamos que a Inteligência também tem aplicação na seara privada. Organismos privados, sobretudo empresas que organizam internamente seus serviços de Inteligência, tanto no ramo de Inteligência, quanto no de Contrainteligência, o fazem buscando obter conhecimentos acerca de novas tecnologias, bem como prevenir o vazamento de informações e tecnologias próprias.
É importante mencionar que mesmo a atividade de Inteligência é regida por normas e princípios e a violação destes preceitos, através da prática de atividades não legalizadas, é o que comumente se nomeia de espionagem.
Sobre o assunto, a Lei Federal nº 9.883/99, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência — SISBIN, em seu artigo 3º, parágrafo único, apregoou que:
“As atividades de Inteligência serão desenvolvidas, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado.”
INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
À parte das atividades de Inteligência clássica ou de Estado, ou mesmo inserida neste contexto (dependerá do autor), vê-se o desenvolvimento expressivo daquilo que denominaremos de Inteligência de Segurança Pública ou ISP.
A ISP compreende as atividades voltadas à produção de conhecimento no âmbito dos órgãos de segurança pública. Deste modo, veremos mais adiante, que órgãos como o Ministério Público, a Polícia Militar, a Secretaria de Administração Penitenciária, a Polícia Civil e até mesmo as Secretarias de Fazenda, mantém, em suas estruturas, agências de Inteligência operando.
Este crescimento exponencial das atividades de Inteligência levou os Estados soberanos a criminalizarem a espionagem, havendo, na legislação penal dos países, previsão sobre crimes desta natureza, posto que há necessidade de que o desenvolvimento das atividades respeitem princípios estabelecidos.
É neste aspecto o papel da Contra inteligência de identificar e neutralizar as ameaças ao conhecimento produzido bem como das instalações, dos equipamentos e do pessoal envolvido na produção desse conhecimento.
AULA 2 - HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA NO MUNDO
Não há consenso entre os autores acerca do nascimento da Inteligência, e os estudos dos diversos trabalhos demonstrarão que cada um irá mencionar um determinado instante ou evento em que teria se observado o seu nascer.
No entanto, para fins didáticos e para o objetivo quedesenvolvemos neste trabalho, podemos fazer nossa a conclusão de outros doutrinadores, inclusive um dos grandes expoentes da Doutrina de Inteligência, no Brasil, Coronel do Exército Brasileiro R1 Romeu Antonio Ferreira, de que o pai da inteligência é Sun Tzu, um general do exército chinês, autor do livro A arte da guerra, escrito nos idos de 500 a.C.
Na mencionada obra, Sun Tzu (s/d-496 a. C.) dedicou-se a descrever estratégias militares através de frases que se tornaram conhecidas no mundo inteiro. Uma delas, em que é possível observar cristalinamente a alusão à atividade de inteligência, é:
Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de cem batalhas. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos, nem ao inimigo, seremos sempre derrotados.
No trecho, o general menciona o produto do trabalho de Inteligência: o conhecimento! Veja que o pouco que aprendemos até agora traz sentido à frase que todos já ouvimos: Conhecimento é poder.
Dos tempos de Sun Tzu até o final da década de 1940, pouca coisa evoluiu, quando a eclosão da Guerra Fria¹ entre Estados Unidos e União Soviética causou uma verdadeira revolução nas atividades de Inteligência.
Durante a Guerra Fria estas duas potências se valeram de suas agências de Inteligência, CIA² e KGB³, para a obtenção e proteção do conhecimento obtido sobre as nações “inimigas”. E as técnicas para desenvolvimento dessas atividades foram aprimoradas e utilizadas à exaustão, pelos que então eram chamados de espiões.
(¹ É a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991); um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear.)
(² A Central Intelligence Agency (lit. "Agência Central de Inteligência", em inglês), mais conhecida pela sigla, é uma agência de Inteligência civil do governo dos Estados Unidos responsável por investigar e fornecer informações de segurança nacional para os senadores daquele país. A CIA também se engaja em atividades secretas, a pedido do presidente dos Estados Unidos.
É a sucessora da Agência de Serviços Estratégicos (OSS, sigla em inglês), formada durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para coordenar as atividades de espionagem entre os ramos das Forças Armadas dos Estados Unidos.
A principal função da CIA é coletar informações sobre governos estrangeiros, corporações e indivíduos, e para aconselhar políticas públicas. A agência realiza operações clandestinas e ações paramilitares, e exerce influência na política externa através da sua Divisão de Atividades Especiais.)
(³ O ou a KGB foi a principal organização de serviços secretos da União Soviética, que desempenhou as suas funções entre 13 de março de 1954 e 6 de novembro de 1991. O acrônimo vem da língua russa podendo ser literalmente traduzido como "Comitê de Segurança do Estado".
O domínio de atuação do KGB, durante a Guerra Fria, era uma combinação de operações secretas, no estrangeiro, unificadas às funções de uma polícia federal. Após a dissolução da União Soviética, o serviço de Inteligência foi desmembrado em dois: o Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB), no âmbito doméstico, e o Serviço de Inteligência Estrangeiro (SVR), no plano externo.
A União Soviética teve, desde sempre, uma polícia política muito poderosa, sempre presente em todas as etapas da sua evolução social, independentemente de qual fosse o regime instituído. Em algumas épocas, a atuação era mais intensa no interior da sociedade; em outros momentos, o serviço secreto priorizava a recolha de informação e operações nos países estrangeiros, o que provocou diversas mudanças nestas instituições.
O KGB surgiu com o final da Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria, com o colapso do então serviço secreto NKVD, apesar de suas origens remontarem a antes da Revolução de 1917, quando Félix Dzerjinsky fundou o grupo paramilitar denominado Tcheka — a instituição que seria a matriz de todos os serviços secretos da URSS.
O KGB era uma polícia secreta e política que não tinha equivalente no mundo, porque se situava em um nível completamente diferente dos outros serviços secretos, pois constituía igualmente um ministério. Dispunha de trezentos mil associados, blindados, caças e barcos, sendo uma organização militar totalmente independente das Forças Armadas.)
Segundo Woloszyn¹, o mais antigo relato a evidenciar a prática de espionagem encontra-se na Bíblia e pode ser lido no Velho Testamento, 13, 17-20. Na passagem, Deus, conversando com Moisés, diz:
Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada um príncipe entre eles.
(¹ WOLOSZYN, André Luíz. Guerra nas sombras: os bastidores dos serviços secretos internacionais. São Paulo: Contexto, 2013, p.15.)
E assim o fez Moisés, e enviou seus espiões, dizendo-lhes:
Subi por aqui para o lado do sul, e subi a montanha: E vede que terra é, e o povo que nela habita; se é forte ou fraco; se pouco ou muito. E como é a terra em que habitam, se boa ou má; e quais são as cidades em que eles habitam; se em arraiais, ou em fortalezas.
Cumprida a missão, os espiões relataram o que encontraram:
Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto. O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e mui grandes.
O citado autor menciona ainda Gengis Kahn (1162-1227), conquistador mongol que viveu no sec. XII, afirmando que ele se valia das informações prestadas por mercadores e viajantes, para conhecer as defesas e outros aspectos das cidades que desejava conquistar.
Relata que o conquistador valia-se da desinformação, espalhando, por meio de espiões, boatos dirigidos às tropas inimigas, em que se dizia que seu exército era muito maior e mais poderoso do que realmente era. Isto tinha por objetivo abalar o preparo psicológico das tropas inimigas.
DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA NO BRASIL
No Brasil, quanto ao surgimento da inteligência, a ABIN refere-se a quatro fases:
FASE EMBRIONÁRIA:
A atividade esteve inserida, de forma complementar, em conselhos de governo (1927 a 1946) e no Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI — 1946 a 1964). Correspondeu à construção das primeiras estruturas governamentais voltadas para a análise de dados e para a produção de conhecimentos.
O Serviço Federal de Informações e Contrainformação (SFICI) foi o primeiro serviço de inteligência do Brasil. Apesar de existir no papel desde o mandato de Eurico Gaspar Dutra (1883-1971), de 1946 a 1951, o serviço só foi montado de fato em 1956, dez anos depois, por ordem do Presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976).
O serviço fora criado para alimentar com dados sobre "ideologias extremistas" o Conselho de Segurança Nacional. Juscelino o instituiu pressionado pelo governo estadunidense (através de seu secretário de estado John Foster Dulles [1888-1959]) e pelos militares (principalmente os diretores da Escola Superior de Guerra), ambos temendo a popularização do comunismo no Brasil.
FASE DA BIPOLARIDADE:
A atividade esteve atrelada, de forma direta, ao contexto da Guerra Fria, de características notoriamente ideológicas. Abrangeu desde a reestruturação do SFICI até a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI).
O SNI foi criado através da edição da Lei nº 4.341, em 13 de junho de 1964, com o objetivo de supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil e exterior. Em função de sua criação, foram absorvidos o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI-1958) e a Junta Coordenadorade Informações (JCI-1959).
FASE TRANSITÓRIA:
Nessa fase, com a redemocratização, a atividade de Inteligência passou por processo de reavaliação e autocrítica para se adequar a novos contextos governamentais de atuação. O SNI foi extinto pelo Presidente Fernando Collor de Mello (1949-), e a Inteligência tornou-se vinculada a secretarias da Presidência da República, primeiro como Departamento de Inteligência da Secretaria de Assuntos Estratégicos (DI/SAE) e, posteriormente, no governo do Presidente Itamar Franco (1930-2011), foi elevado à categoria de Subsecretaria de Inteligência (SSI).
FASE CONTEMPORÂNEA:
Essa fase foi iniciada com a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso (1931-), em 1999, consequência de ampla discussão política com representantes da sociedade no Congresso Nacional.
É marcada pelo expressivo avanço da atividade no país, tanto pela consolidação da atuação da ABIN quanto pela expansão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), também criado em 1999.
Durante a maior parte da fase contemporânea da Inteligência Brasileira, a ABIN esteve vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) — órgão com status de ministério.
A reforma administrativa executada pela presidente Dilma Rousseff (1947-), em 2015, levou a Agência à estrutura da Secretaria de Governo. Com a entrada, em exercício, do Presidente Michel Temer (1940-), o GSI foi recriado e a ABIN foi inserida novamente na hierarquia do GSI.
Atualmente, a ABIN é um órgão da Presidência da República, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, responsável por fornecer ao presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas, oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão.
Segundo disposto no sítio eletrônico da ABIN, na condição de órgão central de um sistema que reúne 38 integrantes — o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) —, a ABIN tem por missão assegurar que o Executivo Federal tenha acesso a conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade, como os que envolvem defesa externa, relações exteriores, segurança interna, desenvolvimento socioeconômico e desenvolvimento científico-tecnológico.
Hoje, a Agência Central do órgão situa-se em Brasília, mas há superintendências em cada uma das 26 capitais do Brasil, além de representações em 3 países sul-americanos e na Organização dos Estados Americanos (OEA) nos Estados Unidos.
AUTORES CONSAGRADOS MUNDIALMENTE
Veja, a seguir, alguns autores da área de Inteligência que foram consagrados mundialmente.
1903-1986:
Sherman Kent - Autor Clássico
Conhecido como pai da análise de Inteligência, é autor do livro Informações estratégicas. Foi um professor de História da Universidade de Yale, que prestou serviços à CIA por muitos anos, ocasião em que desenvolveu diversos métodos para análise de Inteligência.
1948:
Mark M. Lowenthal - Autor Contemporâneo
Escreveu 5 livros e mais de 90 artigos sobre Informação e Inteligência. É professor na Universidade Johns Hopkins em Washington. Também trabalhou na CIA. Segundo ele, Informação é qualquer coisa que possa ser conhecida, não se levando em conta como ela é descoberta.
Já a Inteligência se refere à informação que satisfaz as necessidades declaradas ou entendidas dos planejadores de políticas e que tenha sido coletada, processada ou restringida para satisfazer tais necessidades.
Marco Cepik - Autor Brasileiro
É professor associado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde atua como pesquisador do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV). Doutor em Ciência Política realizou estágio de pós-doutorado na Universidade de Oxford. Marco Cepik também foi professor da UFMG (1995-2003), além de pesquisador visitante na Indiana University of Pennsylvania, FLACSO Ecuador, National Defense University (Washington, D.C.) e Naval Post Graduate School (Monterey, CA).
Possui várias obras escritas e, segundo ele, Inteligência designa um conflito entre atores que lida predominantemente com obtenção/negação de informações. Inteligência descreve melhor o arco operacional contemporâneo dessa função do que outras noções muito restritivas (espionagem) ou excessivamente amplas (informação).
Obviamente, há muitos outros autores que publicaram obras interessantíssimas sobre o tema, mas não nos cabe aqui mencionar todos. Ao longo do curso, faremos menção sobre outros autores cujos livros abordam assuntos específicos dentro da Doutrina de Inteligência.
AULA 3 - TIPOS DE INTELIGÊNCIA
A atividade de Inteligência, de um modo geral, tem um amplo campo de atuação. Segundo o autor que se consulte, haverá estratificações várias para as categorias (tipos) de Inteligência, valendo mencionar, por exemplo, que ela poderá agir nos campos político, econômico, militar, psicossocial e científico-tecnológico. Vale dizer que poderá ser aplicada, como já vimos, no campo público ou privado (empresarial).
Para fins didáticos, utilizaremos a classificação de Joanisval Brito Gonçalves, que subdivide a inteligência em sete tipos:
INTELIGÊNCIA MILITAR
É a atividade de produção do conhecimento e proteção do conhecimento produzido, com o objetivo de subsidiar o processo decisório, nos diversos escalões das forças armadas, seja em tempos de guerra ou de paz.
Busca obter informações sobre outras nações, tais como efetivo militar, capacidade de mobilidade das tropas, armamento utilizado, aliados, ambiente operacional (em caso de ser necessário o envio de tropas), ai incluída a geografia do terreno, condições meteorológicas etc.
INTELIGÊNCIA POLICIAL
Inicialmente havemos de registrar que a Inteligência policial, embora possa nos remeter à ideia de investigação, não é sinônimo desta. Veremos, mais à frente, que estamos diante de conceitos e atividades distintas.
Para uma concepção simples, podemos entender a Inteligência policial como atividade voltada para reunir dados e informações visando à produção do conhecimento indispensável à gestão e ao desenvolvimento da atividade policial (e de segurança pública em sentido estrito).
O conhecimento produzido, através da atividade de Inteligência policial, permitirá inclusive, que se desenvolvam as atividades de investigação com mais eficiência e menos risco, mas essa não é sua única aplicação.
Por meio desta atividade é que se decidirá, por exemplo, qual área deverá receber mais concentração de policiais; que tipo de unidade especializada deverá receber reforço em seu aparelhamento; que tipo de operação deverá ser realizada visando ao cumprimento de determinada diligência etc.
No que se refere à investigação, temos a atividade voltada à obtenção de evidências que forneçam o suporte necessário à deflagração de uma futura ação penal visando à condenação de autores de delitos.
Esta atividade é regulamentada e limitada pela Constituição Federal e Leis Processuais Penais. Este é um dos aspectos que estabelecerá a diferença entre Inteligência policial e Investigação policial.
Enquanto as atividades de Investigação encontram seu delineamento nos ordenamentos já citados, devendo respeito, por exemplo, ao contraditório e à legalidade, e seu produto será o arcabouço de provas a ser juntado em inquérito policial, a atividade de Inteligência encontra igualmente limitação, como já vimos, devendo seguir “com irrestrita observância dos direitos e das garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado”.
Como se vê, a atividade é muito mais flexível e permissiva e o seu produto será o conhecimento formalizado, por exemplo, através de um Relatório de Inteligência (RELINT).
Neste sentido é que se deve compreender que a Investigação policial não deve se valer diretamente do conhecimento produzido através da atividade de Inteligência policial para a produção de provas, já que pode gerar o risco de invalidação de um futuro processo criminal, por ausência de respeito aos ditames previstos, por exemplo,no Código de Processo Penal.
Questionamento acerca do tema já foi solucionado pelo STJ, ao decidir que não é direito/dever do Ministério Público ter acesso aos relatórios de Inteligência produzidos pela Polícia Federal, uma vez que não estão dentro do contexto de atividade jurídica, ou seja, não guardam relação com a investigação criminal e, portanto, colocam-se foram do âmbito de controle externo da atividade policial exercido pelo MP.
INTELIGÊNCIA FINANCEIRA
Invariavelmente o crime está relacionado a dinheiro e, neste aspecto, torna-se fundamental o desenvolvimento de métodos capazes de monitorar e rastrear o numerário proveniente de atividades criminosas. Daí a necessidade de prever, no ordenamento jurídico, dispositivos acerca da lavagem de capitais¹.
Com o desenvolvimento de tecnologias capazes de permitir a circulação cada vez mais rápida e mais ampla de grande quantidade de dinheiro, os criminosos se aperfeiçoaram e passaram a movimentar e ocultar somas cada vez mais significativas.
Na comunidade internacional, foi criada, em 1989, a Força Tarefa de Combate à Lavagem de Dinheiro, no seio do G7, da qual o Brasil é um dos 35 membros. O objetivo do grupo é examinar e desenvolver medidas de combate à lavagem de dinheiro.
No Brasil, temos o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda (COAF/MF), criado em 1998, com a finalidade de monitorar transações financeiras visando à prevenção e ao combate da lavagem de capitais e o financiamento ao terrorismo.
(¹ Lei nº 9.613/98 – Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências.)
INTELIGÊNCIA FISCAL
De início, devemos notar que se elencamos aqui a Inteligência Fiscal e também a Financeira, por óbvio que não são a mesma coisa. Enquanto a Financeira busca prevenir e detectar a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo, a Fiscal visa evitar e detectar a sonegação fiscal, ou seja, a supressão do pagamento de tributos.
No Brasil, o órgão central desta atividade de inteligência é o COPEI — Coordenação Geral de Pesquisa e Investigação do Ministério da Fazenda, cuja atribuição é “prestar assessoramento estratégico e executar as atividades de pesquisa e investigação, na área de Inteligência, em especial no combate aos crimes contra a ordem tributária, inclusive os de natureza previdenciária, os de contrabando e descaminho e de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, objetivando produzir conhecimentos para uso das unidades da RFB.”
(Portaria MF nº 203/2012, artigo 38)
Note que a previsão produzir conhecimentos para uso das unidades da Receita Federal do Brasil, típico objetivo das atividades de Inteligência.
É importante que se note a relevância desta atividade, cujo sucesso resultará em menos sonegação e com isso, viabilizará o custeio da máquina pública, com o desenvolvimento de todos os serviços dos quais a sociedade necessita.
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
Vimos, no início de nossos estudos, que as atividades de Inteligência encontram-se em expansão no setor privado. A competição natural existente, em sistemas capitalistas, fomenta o desenvolvimento de ferramentas capazes de aumentar os rendimentos das empresas. Neste aspecto, não há como imaginar que as grandes empresas pudessem continuar a desenvolver suas atividades, sem fazerem-se valer do uso da Inteligência.
No passado, como sabemos, o termo aplicável ao uso da Inteligência, nesta seara, era “espionagem industrial”. Modernamente, no entanto, essas atividades são chamadas de Inteligência competitiva.
Não é difícil imaginar as possibilidades para o desenvolvimento dessas atividades: obtenção de segredo industrial, proteção de tecnologia própria, background check de talentos a serem contratados (análise da vida pregressa), análise de risco mercadológico etc.
É interessante observar que, embora haja, em nosso país, legislação dispondo acerca das atividades de Inteligência de segurança pública, não há regulamentação sobre a atividade de Inteligência privada. Apesar disso, cresce o número de agências particulares de Inteligência ou consultorias em inteligências cujo fito é prestar serviços de Inteligência competitiva às empresas.
Observando este panorama, o Deputado José Genoíno apresentou, em dezembro de 2007, o Projeto de Lei nº 2.542, que dispõe sobre o assunto. O projeto, entretanto, encontra-se arquivado e, nele, previa-se o controle das atividades de Inteligência privada pela ABIN e conceituava-se a atividade como:
Art. 2º - ...aquela que, podendo ser exercida por pessoas, individual e autonomamente consideradas, e por empresas, tenha natureza, iniciativa e atuação eminentemente privadas e implique, dentro do território nacional, investigação, pesquisa, coleta e disseminação de informações, restritas ao âmbito de conhecimento sobre fatos e situações de interesse e para uso de seus demandantes, podendo abranger a realização de serviços de controle e de avaliação de riscos, no campo da Inteligência competitiva, com possível utilização de equipamentos, técnicas, materiais e pessoal especializado, observadas as seguintes finalidades, características e formas de execução da atividade prevista neste artigo:
I – proceder à vigilância, individual ou institucional privada;
II – realizar varreduras físicas, em pessoas e espaços internos e externos, bem como eletroeletrônicas ambientais, de interesse de contratante privado;
III – realizar gravações e monitoramentos ambientais e de campo, ou de — e através de — qualquer meio de comunicação, desde que a realização do respectivo serviço seja expressamente autorizada por um dos interlocutores envolvidos;
IV – elaborar projetos de controle de riscos, utilizando-se de técnicas operacionais de Inteligência, espionagem eletrônica, infiltração, cobertura, observação e investigação, sempre mediante a prestação de serviços controlados e fiscalizados na forma desta lei e para atender a interesses privados legitimamente contratados.
INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA
É a atividade que envolve a produção de conhecimentos úteis ao tomador de decisão, no sentido de adotar a melhor estratégia a ser implementada visando ao atingimento das metas estabelecidas.
Sua aplicação favorece a atuação segura dos países, no contexto internacional, principalmente naquilo que se refere às suas vulnerabilidades, às possibilidades e ao seu poder, tudo levando em conta uma projeção futura. Fundamenta-se na antecipação de ameaças, de crises internacionais e de cenários futuros.
Daí ouvir-se falar em Inteligência Estratégica Antecipativa.
Tradicionalmente de aplicação pública, na atualidade já encontramos diversos cursos destinados a empresas e seus funcionários.
A Escola Superior de Guerra — ESG — ministra o CSIE (Curso Superior de Inteligência Estratégica) cujo objetivo é preparar civis e militares ao exercício de funções de Inteligência estratégica na administração pública e nos órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência.
A estrutura curricular do CSIE é desenvolvida em duas grandes fases, básica e específica (Inteligência Estratégica), ao longo de, aproximadamente, 20 semanas, com uma carga horária total em torno de 630 horas. Tal estrutura ampara-se em estudos teóricos e em aplicações práticas do conteúdo programático, estabelecida por meio de estudos e disciplinas, ministrados de modo a integrar os conhecimentos das seguintes áreas: Administração, Política, Economia, Geopolítica, Psicossocial, Científico-Tecnológica e Militar.
INTELIGÊNCIA DE ESTADO
Inteligência de Estado está intimamente ligada à concepção clássica da atividade de Inteligência, que nos remete ao passado, antes da diversificação das atividades em diversos e variados segmentos.
Entendemos por Inteligência de estado a produção de conhecimento, visando subsidiar o processo decisório da mais alta esfera de administração pública. Assim, toda atividade de Inteligênciaservirá de substrato à Inteligência de Estado, seja para subsidiar o preparo de políticas militares, internacionais, sociais, econômicas etc.
Neste ponto, que incidirá a divisão da Inteligência de Estado em externa ou interna, a diferenciação é por demais simples: as atividades cujo impacto limitar-se-á ao plano doméstico (interno) serão classificadas como Inteligência Interna. Já aquelas atividades cujo impacto repercutir na atuação internacional do país, serão classificadas como Inteligência Externa.
A Inteligência Externa mantém estreito vínculo com a Defesa Nacional e Política Externa, de maneira que deverá ser capaz de proteger informações, identificar ameaças externas (individuais, coletivas e públicas), proteger e desenvolver a economia, monitorar e garantir o cumprimento de tratados internacionais etc.
Por fim, conforme nos manifestamos no início da aula, existem diversas classificações de tipos de Inteligência a depender do autor.
Cabe a você pesquisar, ler e decidir qual é o autor que mais lhe agrada, ou aprofundar-se e criar sua própria classificação, seja miscigenando as já existentes, ou quem sabe inovando no cenário da inteligência, fazendo surgir novas classificações.
AULA 4 - CONCEITOS, PRINCÍPIOS E NOÇÕES FUNDAMENTAIS
Tendo nos familiarizado com a parte introdutória da Doutrina, chega o momento de aprofundarmos nossos estudos, para que avancemos sobre o vasto campo da Inteligência. Para tanto, é necessário que tenhamos intimidade com algumas expressões, alguns princípios e fundamentos básicos, que nos permitirão absorver e compreender as lições por vir.
PRINCÍPIOS:
Os que escrevem sobre o tema costumam elencar diferentes princípios orientadores da atividade de Inteligência. Separamos aqui, aqueles que, com variações insignificantes, costumam ser descritos por cada um dos autores sobre o tema.
OBJETIVIDADE:
Apregoa que a Inteligência deve sempre ter uma finalidade ou um objetivo específico e bem delineado. O conhecimento produzido deverá sempre ser expresso através da maior precisão possível, com fidelidade, clareza e simplicidade. Não se deve fugir dos objetivos a serem alcançados.
SEGURANÇA:
Pressupõe que todo o planejamento, a produção e a divulgação do conhecimento sejam permeados pelo sigilo. Visa-se limitar o acesso à Inteligência apenas às pessoas que a ela devem conhecer. Isto não significa que todo o produto da atividade de Inteligência será sigiloso, uma vez que, por vezes, a difusão do conhecimento produzido mostra-se necessária.
Outro aspecto deste princípio está relacionado à proteção física, lógica e pessoal das instalações, sistemas, acessos etc. Por fim, a atividade de Inteligência deve ser desenvolvida em um quadro de segurança, ausência de perigo, que possibilite ao agente de Inteligência trabalhar de forma eficiente e eficaz.
O princípio da segurança é importantíssimo, neste aspecto, devendo nortear a criação de protocolos, processos e sistematização do constante treinamento e aprendizado, visando minimizar a possibilidade de falhas.
OPORTUNIDADE:
Pressupõe que o conhecimento deva ser produzido em prazo que o permita ser útil e oportuno, atingindo o fim para o qual foi produzido. O valor de uma informação tem um prazo para ser aproveitado, após o qual, mesmo sendo de credibilidade máxima, não é mais útil. Assim, o desrespeito a este princípio poderá acarretar a inutilização do conhecimento produzido. Os dados e as informações devem ser entregues ao tomador de decisão, de modo que se permita a ele a adoção de medidas oportunas para atingir seus objetivos.
CONTROLE:
Prevê a utilização de rígidas normas com o fim de detectar e evitar, minimizar e/ou corrigir os desvios (erros por vazamentos de informações, documentos, conhecimentos, e desvios de conduta). Também impõe um rígido processo de recrutamento de pessoal. Direção honesta e capaz, estrutura organizacional adequada, fluxograma de documentos, recrutamento administrativo cuidadoso, são medidas aptas a implementar o citado princípio.
IMPARCIALIDADE:
Significa a adoção de medidas aptas a evitar o surgimento de fatores que possam causar distorções nos resultados dos trabalhos. O princípio da imparcialidade determina que as ações, na Atividade de Inteligência, sejam desencadeadas de forma isenta de ideias preconcebidas, subjetivas, distorcidas ou tendenciosas. Os objetivos devem ser alcançados sem que haja interferências pessoais.
SIMPLICIDADE:
Pressupõe a produção de conhecimentos claros e concisos apresentados através de documentos simples. A linguagem utilizada não deve ser rebuscada, prolixa ou erudita, porquanto o conhecimento produzido deva ser de fácil, imediata e completa compreensão por parte do destinatário. Está associado ao princípio da clareza. Deve-se evitar a adjetivação em excesso. O tomador de decisão muitas vezes tem pouquíssimo tempo para decidir, de maneira que as informações devem ser de rápida e fácil compreensão.
CLAREZA:
Muitas vezes, confunde-se com o princípio da simplicidade, no entanto, refere-se mais ao conteúdo textual do documento, do que a forma de apresentação. Implica assim na necessidade de se manter o texto conciso, claro, sem rebuscamento, com sentenças curtas e objetivas.
AMPLITUDE:
O conhecimento deverá ser produzido de forma mais completa, levando em consideração tudo relacionado ao fato ou à situação, devendo submeter-se, no entanto, à objetividade.
LEGALIDADE:
A Atividade de Inteligência deve ser exercida dentro dos ditames legais. No Estado democrático de direito, as instituições públicas e privadas devem obediência à Constituição e aos Tratados Internacionais dos quais o Brasil seja signatário.
COMPARTIMENTAÇÃO:
Este princípio determina a restrição do acesso ao conhecimento produzido somente àqueles que tenham a necessidade de conhecê-lo, ou seja, dentro da agência, por exemplo, em regra, não há necessidade que um analista de uma carteira tenha acesso ao conhecimento produzido pelos analistas de outra carteira.
SIGILO:
Diz respeito à adoção de medidas que visem à proteção do conhecimento produzido, bem como dos meios empregados para a obtenção do conhecimento. Ex.: Artigo 325 do CP. Artigo 40, IX do DL 220/75.
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
Algumas noções preliminares são essenciais ao nosso aprofundamento e total compreensão do tema. Assim, faremos uma relação com os conceitos anteriormente esposados e as noções que agora serão apresentadas.
O conhecimento é o resultado, a transformação do dado. Tem início com a representação de um fato ou de uma situação que não decorra da produção intelectual do profissional de Inteligência, mas que seja de interesse deste. É isso que se considera como dado na linguagem de inteligência.
O dado é a matéria-prima bruta, sem trabalho de análise. É toda e qualquer representação de fato, situação, comunicação, notícia, documento, extrato de documento, fotografia, gravação, relato, denúncia etc., ainda não submetido, pelo profissional de Inteligência, à metodologia de Produção de Conhecimento.
Acompanhando o percurso do dado até a sua transformação em conhecimento, é preciso observar os estados da mente diante da verdade.
A verdade é a perfeita concordância do conteúdo do pensamento com o objeto. Porém, a relação da mente com o objeto nem sempre se efetiva de forma perfeita, pois, algumas vezes, a mente encontra obstáculos que a impedem de formar uma imagem totalmente fiel ao objeto. Desta forma, todos os profissionais que a exercem devem acautelar-se contra a mera ilusão da verdade, ou seja, contra o erro.
A mente, então, pode se encontrar em vários estados mentais ao se deparar com a verdade. Estes estados mentais são:
· Ignorância: é o estado mental caracterizado pela ausência de qualquer imagem de determinado objeto;
· Dúvida: é o estado de equilíbrio do espírito entre duas asserções contraditórias. É o estado mental de equilíbrio, em que se encontram razões para aceitar e razões para negar que a imagem, por ela mesma formada, está em conformidade com determinado objeto;
· Opinião: é o estado de espírito que afirma,com algum temor de se enganar. É o estado em que a mente aceita, ressalvando enganar-se, a imagem que ela mesma formou. Não se deve confundir opinião com suspeita, tampouco com preconceito;
· Certeza: é a aceitação total, pela mente, da imagem que ela formou, como sendo aquela correspondente a determinado objeto. Resulta da razão e da experiência.
Erro é uma desconformidade do juízo com o que é de verdade. É a ilusão da verdade, a negação da verdade. É causado pela falta de perspicácia, falta de atenção e concentração, falta de memória, vaidade, preguiça, impaciência. Para que se evite o erro deve-se desenvolver a inteligência, evitar devaneios, caprichos, associações de imagens, estudar as regras de lógicas etc.
Faz-se ainda necessário observar que diante da verdade, percorremos processos ou operações intelectuais visando adquirir toda a percepção de um contexto. Os processos que percorremos são:
· Ideia: é a simples concepção da imagem do objeto;
· Juízo: é o processo intelectual através do qual a mente estabelece uma relação entre ideias;
· Raciocínio: é o processo intelectual percorrido pela mente, a partir mais de um juízo conhecido, em que se alcança outro juízo que deles decorre logicamente.
Por fim, temos os tipos de conhecimento de inteligência que serão produzidos com a utilização dos processos mentais a partir dos estados mentais. São eles:
INFORME:
É o conhecimento resultante de juízo(s) formulado(s) pelo profissional de Inteligência e que expressa a sua certeza ou opinião sobre fato ou situação passados e/ou presentes.
Créditos aos autores da Apostila de Inteligência Policial disponível em: http://serjorsil.wixsite.com/detetivesergio/biblioteca, acesso em 11/12/2016;
Então vejamos, na definição, o conhecimento carrega as seguintes características iniciais do informe:
· • É uma representação oral ou escrita;
· • Tem por objetivo fatos ou situações necessariamente de interesse da Atividade de Inteligência;
· • É produzido pelo profissional de Inteligência.
Além disso, ser resultante de juízo significa que o informe é a narração de um fato ou uma situação, passados ou presentes, resultante exclusivamente do juízo formulado por um profissional de Inteligência, o qual, no ato da elaboração, não ultrapassa os limites deste juízo, por não ter configurada uma base mínima sobre a qual possa desenvolver um raciocínio.
Ser formulado por profissional de Inteligência destaca que é necessário ao Informe, o atributo capacidade de julgamento e de análise e síntese, em níveis compatíveis com a complexidade desse tipo de conhecimento. A produção do Informe exige, também, por parte do profissional, o domínio de metodologia específica, em especial da técnica de avaliação de dados.
Expressa a sua certeza ou opinião, traduz a necessidade de se haver gradação no que diz respeito ao estado em que se situa a mente com relação à verdade. Assim, o Informe pode expressar certeza ou opinião, estados que são representados através do uso de linguagem apropriada.
Sobre um fato ou uma situação passados e/ou presentes, limita o tempo acerca do qual o Informe tratará. Apenas os fatos e as situações pretéritos e/ou presentes serão abarcados. Esta característica do Informe deixa claro que este documento não pode traduzir qualquer tipo de evolução futura.
INFORMAÇÃO:
É o conhecimento resultante de raciocínio(s) elaborado(s) pelo profissional de Inteligência e que expressa a sua certeza sobre fato ou situação passados e/ou presentes.
É o conhecimento, ou seja, aqui de igual forma carrega as seguintes características iniciais do informe:
• É uma representação oral ou escrita;
• Tem por objetivo fatos ou situações necessariamente de interesse da Atividade de Inteligência;
• É produzido pelo profissional de Inteligência.
Resultante do raciocínio significa que a informação é consequente da operação mais acurada da mente, o raciocínio. Assim, é um conhecimento que extravasa os limites da simples narração dos fatos e contém uma interpretação.
Elaborado pelo profissional de Inteligência traz a ideia de que, entre os atributos exigidos para ele, destaca-se, como necessário à produção do conhecimento Informação, o raciocínio lógico e flexível, em níveis compatíveis com a complexidade desse tipo de conhecimento.
Isto expressa a sua certeza e significa que admite gradação naquilo que se refere à relação da mente com a verdade dos fatos. A informação expressa unicamente um estado de certeza.
APRECIAÇÃO:
É o conhecimento resultante de raciocínio elaborado pelo profissional de Inteligência e que expressa a sua opinião sobre fato ou situação passados e/ou presentes.
As definições que já fizemos anteriormente aqui se aplicam igual. Já discorremos sobre o significado das expressões que formam o conceito.
A Apreciação tem muita semelhança com a Informação. No entanto, a grande diferença reside no estado em que se posiciona a mente do agente de Inteligência no ato de produção do conhecimento. Enquanto na Apreciação, o estado é de opinião, na Informação, conforme visto, o estado é o de certeza. O fato de estar o conhecimento baseado na opinião permite que o agente faça projeções sobre os fatos analisados, sem, entretanto, avançar a ponto de fazer previsões sobre eventos futuros.
ESTIMATIVA:
É o conhecimento resultante de raciocínio elaborado por agente de Inteligência e que manifesta a sua opinião sobre a evolução de um fato.
A estimativa trata essencialmente do futuro, na medida em que a expressão do agente se refere ao que acredita que ocorrerá após a evolução daquele fato.
Veja a segui um esquema destes conceitos, visando facilitar a compreensão e o aprendizado.
AULA 5 - CICLO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO - CPC
VOCÊ SABE O QUE É CONHECIMENTO?
O conhecimento é um esforço psicológico pelo qual procuramos nos apropriar intelectualmente dos objetos.
É a representação de um fato, ou de uma situação real ou hipotética de interesse para a atividade de inteligência, processada pelo profissional de inteligência.
A produção de conhecimento compreende o tratamento, por esse profissional, de dados e conhecimentos.
O CONHECIMENTO É O RESULTADO, A TRANSFORMAÇÃO DO DADO.
Tem início com a representação de um fato ou de uma situação que não decorra da produção intelectual do profissional de inteligência, mas que seja de interesse deste é considerado como dado na linguagem de inteligência.
O DADO É A MATÉRIA PRIMA BRUTA, SEM TRABALHO DE ANÁLISE.
É toda e qualquer representação de fato, situação, comunicação, notícia, documento, extrato de documento, fotografia, gravação, relato, denúncia etc., ainda não submetida, pelo profissional de inteligência, à metodologia de Produção de Conhecimento.
Acompanhando o percurso do dado até a sua transformação em conhecimento, é preciso observar, conforme vimos na aula anterior, os estados da mente diante da verdade: “certeza”, “opinião”, “dúvida” e “ignorância”. Faz-se ainda observar os processos ou as operações intelectuais pelos quais todo ser humano percorre para adquirir toda a percepção de um contexto: “ideia”, “juízo” e “raciocínio”.
A Inteligência transforma dados e/ou conhecimentos em conhecimentos avaliados, significativos, úteis, oportunos e seguros, de acordo com metodologia própria e específica.
O contexto da reunião de dados: A atividade de Inteligência, em qualquer um de seus dois ramos — Inteligência e Contra inteligência — tem uma metodologia própria para produzir conhecimento, denominada Ciclo de Produção de Conhecimento.
O CICLO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO PODE SER ESQUEMATIZADO EM QUATRO FASES.
Para facilitar essa sistematização, o planejamento procura determinar:
A determinação do assunto consiste em especificar o fato ou a pessoa objeto do conhecimento a ser produzido através de uma expressão escrita, a mais sintética possível.
O assunto deve ser preciso, bem determinado e específico. Desse modo, torna-se necessário proceder à sua delimitação, o que significa definir o aspecto particular ou o ponto de vista sob o qual o assunto será enfocado.No planejamento, a determinação do assunto é, muitas vezes, provisória, uma vez que, ao término do trabalho, poderá ser necessário redefini-lo, de acordo com o conhecimento produzido.
Prazo é a data máxima em que o conhecimento deve ser produzido. Nos casos de produção de conhecimento, em obediência a um Plano de ISP, os prazos vêm previamente estabelecidos e sistematizados. Nos casos de estímulos específicos, por exemplo, de um Pedido de Busca, é normal que venham predeterminados.
Quando isso não ocorrer ou quando a iniciativa de produção de conhecimento é da própria Agência de Inteligência (AI), os prazos são estabelecidos observando-se o princípio da oportunidade.
Determinar a faixa de tempo é o procedimento que consiste em equacionar o período no qual o assunto será estudado, estabelecendo-se limites no tempo e determinando-se a sua abrangência.
A faixa de tempo, algumas vezes previamente determinada, deve levar em conta, sobretudo, as necessidades do futuro usuário do conhecimento e depende, também, dos recursos disponíveis.
Usuário é o cliente do conhecimento produzido a ser atingido mediante uma difusão. Muitas vezes, o usuário já vem predeterminado. Outras vezes, o analista proporá um ou mais usuários, de acordo com a necessidade de conhecer o assunto. Uma determinação prévia do usuário pode orientar o nível de profundidade do conhecimento a ser produzido.
Finalidade é o procedimento que responde à pergunta "Para quê?" o conhecimento está sendo produzido. Devido à compartimentação, princípio normal e inerente ao exercício da atividade de ISP, nem sempre é possível a determinação da finalidade. Neste caso, o planejamento é orientado para esgotar o assunto tratado, de tal modo que o usuário venha a encontrar, em algum ponto do conhecimento que está sendo produzido, subsídios úteis a sua atuação.
O correto entendimento do processo decisório e, consequentemente, das atribuições próprias de cada uma das autoridades, facilita a determinação da finalidade e do usuário do conhecimento. A determinação da finalidade está inter-relacionada com a definição do usuário.
REUNIÃO DE DADOS
É nesta fase que as agências de Inteligência precisam realizar metódicas e sistemáticas ações de inteligência, tendo por vistas produzir o conhecimento.
Principais critérios para reunião de dados:
• Partir do mais simples para o mais complexo;
• Partir do menor custo para o mais dispendioso;
• Partir do menor risco para o mais arriscado;
• Esgotar a capacidade do próprio órgão antes de acionar outros.
Nesta fase, teremos o emprego das ações de inteligência, que são todos os procedimentos e medidas realizadas por uma agência de inteligência para dispor dos dados necessários e suficientes para a produção de conhecimento.
De um modo geral concentram-se em dois principais, mas não únicos, tipos de ações:
• AÇÕES DE COLETA:
São todos os procedimentos realizados por uma agência de Inteligência, a fim de reunir dados cadastrados ou catalogados em órgãos públicos ou privados. Essas ações caracterizam-se pelo acesso credenciado ou não, aos órgãos que dispõe desses dados.
Há uma estimativa que, hoje, cerca de 80% dos dados necessários à produção do conhecimento podem ser obtidos pela coleta.
As ações de coleta podem ser classificadas como:
Primárias: são ações pra reunir dados disponíveis.
Secundárias: são aquelas que necessitam de autorização para acesso, seja através de senha, pagamento etc. São protegidos, mas não negados.
Nestes tipos de ações é que estão inseridas as pesquisas, seja em mídia impressa, seja em digital. Podemos citar desde a consulta a arquivos existentes em uma biblioteca, até a pesquisa em uma rede social, por exemplo.
• AÇÕES DE BUSCA:
Ações de busca ou, simplesmente, busca são todos os procedimentos realizados pelo conjunto ou parte dos agentes do elemento operacional de uma agência de inteligência, envolvendo ambos os ramos da inteligência, a fim de reunir dados negados, em um universo antagônico, de difícil obtenção. Podem, também, provocar uma mudança de comportamento do alvo, a fim de conseguir-se uma posição vantajosa, favorecendo a obtenção de novos dados.
PROCESSAMENTO
É a fase intelectual do ciclo, em que o conhecimento é produzido. Nesta fase, são realizadas a avaliação, a análise, a interpretação e a integração.
Vejamos com mais detalhes:
AVALIAÇÃO:
Na avaliação, o analista estabelece o grau de veracidade dos dados ou conhecimentos reunidos, a fim de classificar e ordenar aqueles que prioritariamente serão utilizados. É a aplicação do binômio pertinência X credibilidade.
É na avaliação que se consideram os critérios de autenticidade, confiança (Quem é a fonte? Qual o interesse dela em fornecer o dado?) e competência (Fonte está habilitada a observar, memorizar e descrever o objeto da informação? Quais as condições em que o dado foi obtido?) da fonte. Bem como avalia-se compatibilidade, coerência (apresenta contradição?) e semelhança (há outro dado de fonte diferente e conteúdo semelhante?)
ANÁLISE:
Na análise, todas as partes serão examinadas e estabelecer-se-á a importância do assunto.
INTEGRAÇÃO:
Na integração, o analista monta um conjunto encadeado, coerente, ordenado, lógico e cronológico, com base nas frações significativas. O aproveitamento de uma fração significativa varia de acordo com o tipo de conhecimento que se pretende produzir, porém, é desejável que sejam aproveitadas, principalmente, as frações significativas com grau máximo de credibilidade.
INTERPRETAÇÃO:
Na interpretação, será apurado o resultado final, com uma conclusão significativa dos fatos e situações apresentados. Aqui é que se podem apontar tendências e fazer previsões baseadas no raciocínio.
UTILIZAÇÃO
A utilização do conhecimento produzido se dá através da entrega daquilo que se reuniu a quem deva tomar a decisão. A transmissão do conhecimento produzido se dá através de documentos de inteligência.
Documentos de inteligência são os padronizados, normalmente sigilosos, que, utilizando o canal técnico, circulam nas agências de Inteligência e entre elas, a fim de transmitir ou solicitar conhecimentos. Um documento de inteligência deve ser redigido em texto simples, coerente, ordenado, lógico, cronológico, conciso, claro e objetivo.
O documento tem que ser avaliado, verdadeiro, significativo, preciso, imparcial, objetivo, útil, simples, bem apresentado, oportuno e seguro.
O documento de inteligência sofre influências de estados mentais, dúvida, opinião e certeza.
CICLO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
ASPECTOS ESSENCIAIS DO CONHECIMENTO
Aspectos essenciais (AE) do conhecimento são todos aqueles tópicos fundamentais que precisam e que devem ser levantados e abordados, de modo que o assunto seja devidamente esclarecido. Em conjunto, os AEs compõem o arcabouço preliminar do conhecimento em produção.
Os AEs não devem ser confundidos com o próprio problema, previamente definido na determinação do assunto.
Pode ocorrer que o analista não consiga obter respostas a um ou outro AE listado.
Neste caso, produz-se o conhecimento com base nos dados reunidos disponíveis, a fim de atender ao princípio da oportunidade: “é melhor um conhecimento incompleto, mas oportuno, do que um completo, mas fora do prazo”.
Os AEs podem ser redimensionados ao longo do trabalho de produção do conhecimento, em decorrência da evolução do estudo.
De um modo geral, os AEs são levantados tendo por base o que já existe e o que se precisa obter.
Vejamos:
MEDIDAS EXTRAORDINÁRIAS
São aqueles procedimentos que extrapolam os recursos normais da agência de inteligência e que se mostram necessários e promissores à produção do conhecimento. 
Como exemplos, citamos as seguintes medidas:
a. dados estatísticos, obtidos diante de questionários específicos;
b. painéis e seminários com especialistas.
MEDIDAS DE SEGURANÇA
Já no planejamento, o analista estabelece as medidas de segurança necessárias à proteção das ações que estão sendo desenvolvidas e da salvaguarda dos resultados que, gradualmente, virão a ser obtidos.
A essênciada atividade de ISP é a íntima vinculação entre a produção e a proteção do conhecimento.
Para atender à característica da Segurança, devem ser seguidos os princípios do Controle, da Compartimentação e do Sigilo.
Ao mesmo tempo, a balança "eficácia X segurança" deve ser bem equacionada.
CONCLUSÕES
A atividade de inteligência é o exercício permanente de ações especializadas, orientadas, basicamente, para a produção e para a proteção de conhecimentos com todos seus requisitos.
Inicia-se a produção do conhecimento através do planejamento, que é a fase de estruturação do que se pretende conhecer. Embora seja a primeira fase do ciclo de produção do conhecimento, continua presente nas outras fases, quando se verifica a necessidade de ajustes. Assim, atendendo-se à característica da dinâmica, o planejamento é flexível, pois pode ser redirecionado, à medida que o conhecimento é produzido.
A listagem e a determinação destes procedimentos visam a facilitar o trabalho do analista de inteligência. Com a experiência, todos esses procedimentos incorporam-se à sua mente, sendo por ele executados sistemática e rotineiramente.
Ressalte-se que, à semelhança do que ocorre com as fases do ciclo de produção do conhecimento, os procedimentos que compõem o planejamento não são rigorosamente ordenados. Deste modo, como exemplo, observa-se que a determinação do assunto, da faixa de tempo, do usuário e da finalidade são procedimentos intimamente relacionados, interdependentes e de execução quase simultânea.
Se o planejamento é essencial, em qualquer ramo da vida humana, na atividade de ISP é imprescindível e obrigatório.
AULA 6 - SETORES DE INTELIGÊNCIA – ANÁLISE
SETORES DE INTELIGÊNCIA
Uma agência de Inteligência possui alguns setores, dentre os quais, cabe-nos destacar dois muito importantes.
O setor de análise é o responsável pela coleta de informações, enquanto que o setor de operações será responsável pela busca de informações. A diferença entre coleta e busca vimos na aula passada.
É na análise que concentram todos os dados e que os transforma em conhecimentos. Ela é a grande responsável pelo Ciclo de Produção de Conhecimento, pois participa do planejamento, que inicia a reunião de dados, que processa e que providencia a correta utilização do conhecimento produzido.
Aos agentes lotados neste setor dá-se o nome de analistas. Os analistas de inteligência são responsáveis principalmente pela reunião de dados, a qual realizam através da coleta. Dentro da análise pode haver a divisão, em carteiras, que serão responsáveis por determinados assuntos. Na inteligência de segurança pública, por exemplo, pode haver carteira de tráfico de armas, carteira de tráfico de drogas etc. A divisão dá-se em respeito ao princípio da compartimentação, sobre o qual já nos debruçamos em aula anterior.
Com os progressos tecnológicos, as ferramentas de análise avançaram muito, permitindo o acesso a uma quantidade infinitamente superior de informações, mas exigindo uma depuração muito mais rigorosa.
Nos dias de hoje, temos bibliotecas e arquivos digitalizados e disponíveis online, o que permite que o analista realize sua atividade remotamente. Quando há necessidade de obtenção de dados, cujo acesso não é livre, haverá emprego do elemento de operações, sobre o qual falaremos mais adiante.
É claro que não somente na internet será realizada a pesquisa pelos dados necessários, havendo outras fontes de coleta. Fontes de coleta são os locais em que os dados estão arquivados e podem ser obtidos.
Podemos classificá-las da seguinte forma:
Neste diapasão, não temos como deixar de citar a Inteligência de Fontes Abertas (Open Source Inteligence — OSINT), que ganhou força a partir de 2005, após o atentado de 11 de setembro de 2001; havia uma gama de informações disponíveis em fontes abertas (internet), que caso tivessem sido reunidas, favoreceriam a prevenção.
Em 2014, os EUA instituiu o ciberespaço como ambiente de defesa, juntamente com o ar, o mar, a terra etc.
Inteligência de Fontes Abertas é um modelo que visa encontrar, selecionar e adquirir informações de fontes públicas e analisá-las para que junto com outras fontes, possam reproduzir um conhecimento. Na comunidade de inteligência, o termo aberto refere-se a fontes disponíveis publicamente. Isto é, não está relacionada com software de código aberto ou a inteligência pública. A utilização das fontes abertas possui baixo custo e as informações disponíveis são extremamente dinâmicas.
O setor de análise também é responsável por realizar uma série de estudos que passaremos a enunciar.
ANÁLISE CRIMINAL
É um conjunto de processos sistemáticos que objetiva identificar padrões do crime e correlações de tendências da violência e da criminalidade a fim de assessorar o planejamento para a distribuição das políticas de segurança pública principalmente, mas não exclusivamente, já que pode ser utilizada no âmbito privado.
Observe por exemplo, que o setor de inteligência de uma multinacional sugere a alteração de rotas de transportes de mercadoria, pois através da análise criminal, identificou que o caminho percorrido atualmente pela empresa favorece o risco de roubo de carga.
ECOLOGIA SOCIAL DO CRIME
Trata da concentração de crimes em determinadas comunidades com características específicas. Surgiu com a Escola de Chicago em 1920. Existem 3 níveis de análise criminal.
ANÁLISE DE CENÁRIOS
Também é um conjunto de processos sistemáticos que visa identificar padrões e tendências. Busca, através da identificação das causas deste cenário, delimitar os fatores que contribuíram para a construção do padrão encontrado e relacionam-nas às tendências, visando antecipar um possível cenário futuro, propondo soluções.
Veja que a análise de cenários possui larga aplicação na área empresarial, sendo assim definida para esta finalidade:
A análise de cenários é um conceito difundido por estudos e consultorias que passou a ser amplamente utilizado como ferramenta de gestão, apesar de ter sua origem na teoria militar. Ela permite que estratégias sejam estabelecidas considerando-se um contexto futuro. Neste caso, fatores que podem impulsionar o negócio são identificados, esperando-se obter um avanço perante um cenário competitivo.
É a Análise de Cenários que irá fundamentar as estratégias da empresa, por isso é de extrema importância na concepção do Planejamento Estratégico. Sua principal função é analisar o contexto (interno e externo) no qual a empresa está inserida. Em seguida, identificam-se os fatores futuros que são passíveis de ocorrer, possibilitando-se visão mais clara do cenário atual e permitindo a tomada de decisão mais fundamentada e precisa. É importante destacar que sua principal função não é tentar prever o futuro, mas identificar fatores que podem se tornar reais a longo prazo.
Uma das ferramentas mais importantes para a análise de cenários é a mineração de dados¹.
Alguns princípios são aplicados para a identificação dos padrões.
O princípio de Pareto afirma que, para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20% das causas. Especialmente 80% das ocorrências criminosas tendem a se concentrar em 20% do território.
Análise de Riscos é um conjunto de procedimentos que identificam, quantificam, analisam e qualificam ameaças, vulnerabilidades e impactos aos ativos da Segurança Pública, elaborado com a finalidade de apontar alternativas para mitigar e controlar os riscos.
É mapear detalhadamente as ameaças e vulnerabilidades do seu empreendimento, das suas instalações, do seu negócio. É um estudo técnico aprimorado das ameaças futuras. Verificação dos pontos críticos que possam vir a comprometer a execução de um determinado projeto. Ela precede o planejamento de segurança. Avalia-se tanto o ambiente externo quanto o interno.
(¹ Seleção e organização de informações facilitando a compreensão da realidade através de processo de raciocínio crítico. Processo de descoberta de informações acionáveis em grandes conjuntos de dados. Usa análise matemática para derivar padrões e tendênciasque existem nos dados.)
ANALISA-SE A CONSEQUÊNCIA X EXPOSIÇÃO X PROBABILIDADE = GRAVIDADE
Esta fórmula é oriunda da metodologia William T. Fine
1 – Remoto
2 – Baixo
3 – Médio
4 – Alto
5 – Muito Alto
TIPOS DE RISCOS
1 – Humanos
2 – Mecânicos
3 – Físicos
4 – Biológico
5 – Químicos
6 – Acidentes
7 – Desastres Naturais
8 – Ergonômicos
Para análise do risco, é importante que se faça o levantamento de dados ou estudo de contexto, que envolve o conhecimento do alvo, motivo da análise, local, prédio, instalações, eventos e outras coisas.
Diagnóstico é o resultado da análise dos contextos internos e externos e que deve ser expresso formalmente, considerando-se as informações obtidas, através do processos de avaliação:brainstorming, checklist, estabelecimento dos contextos.
Um dos principais métodos utilizados na análise de riscos é chamado de ARENA e foi desenvolvido pela ABIN. Significa Análise de Riscos com Ênfase na Ameaça.
Segundo a ABIN: “A Metodologia de Análise de Riscos com Ênfase na Ameaça (Arena) foi desenvolvida pela ABIN de modo convergente com a norma ISO 31000/2009. A Arena define o conceito de risco como a incerteza sobre os acontecimentos que podem comprometer a operação de uma infraestrutura crítica ou a realização de grandes eventos.”
No âmbito da metodologia, o “risco” corresponde a potencial consequência negativa — denominada “impacto” — ocasionado pela exploração de uma vulnerabilidade por determinado agente ou fenômeno identificado como “fonte de ameaça”.
As “fontes de ameaça” consistem em entidades, grupos de pessoas, fenômeno da natureza ou agente biológico que apresentam potencial de provocar situações de ameaça ao objeto da avaliação de risco.
Infraestruturas Críticas (IEC) são instalações, serviços, bens e sistemas que, se forem interrompidos ou destruídos, total ou parcialmente, provocarão sério impacto social, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade.
Referências da ARENA
• ABNT NBR ISO 27001 e NBR ISO 27005;
• Carnegie Mellon University – OCTAVE;
• ANSI/ISA-99 – Industrial Automation & Control Systems Security;
• International Organization for Standardization – ISO 31000;
• National Institute of Standards and Technology – NIST SP800-30 e NIST SP800-100;
• SAIGlobal International Standards – AS/NZS 4360;
• Sandia Labs – SAND2007-5791;
• US Departament of Homeland Security.
ARENA visa proteger as IIIEECC contra ameaças internacionais (organizações criminosas; grupos de protesto; funcionários insatisfeitos; grupos antagônicos), ameaças não intencionais (falhas humanas; falhas de equipamentos ou sistemas) e ameaças da natureza (fenômenos da natureza e antrópicos).
Para proteger as IIEECC deve-se dificultar o acesso não autorizado (físico e lógico), melhorar a capacidade de percepção de ameaças e garantir a resiliência das estruturas (continuidade).
A metodologia ARENA aborda os seguintes segmentos: proteção física (perímetro, proteção em profundidade), proteção de sistemas de automação (ISA 99, NIST SP 800-82) e gestão de pessoas (seleção, ética, comportamento).
Outro método de análise de risco é o diagrama de causa e efeito, ou espinha de peixe.
HAZOP é uma ferramenta que serve para identificar os perigos e os problemas de operabilidade de uma instalação ou processo. Sua metodologia é qualitativa, baseada em questionamentos sistemáticos através do uso de palavras-guia.
FMEA — Análise de Modos de Falhas e Efeitos. É uma ferramenta para a prevenção de problemas. É o diário de um projeto, processo ou serviço.
Análise de árvore de eventos é um método lógico-indutivo para identificar um risco.
Método BOW TIE é a metodologia utilizada na identificação de riscos e seus efeitos. É uma forma simples de analisar, avaliar e tratar riscos complexos, utilizando uma maneira fácil de visualizá-los e gerenciá-los. Só vale a pena para riscos detectados e não para riscos remotos, pois é muito trabalhoso o método.
Matriz de CARVER é a forma de análise em que o analista se coloca no lugar do agressor para testar as falhas. Analisa-se a criticidade, acessibilidade, recuperabilidade, vulnerabilidade, efeitos, reconhecimento.
Método de MOSLER é indicado para avaliação de risco de instalações físicas.
AULA 7 - DOCUMENTOS DE INTELIGÊNCIA
DOCUMENTOS DE INTELIGÊNCIA
Conforme vimos em aulas passadas, os documentos de inteligência visam instrumentalizar a assessoria ao tomador de decisão, ou seja, materializar o conhecimento que se quer transmitir ao responsável por tomar uma decisão.
Vários são os conceitos de documento de inteligência, mas podemos simplificar afirmando que:
Há uma variedade de documentos de inteligência que encontrarão tantas variações quantas forem as agências. Outrossim, faremos menção em nosso estudo, àqueles que mais importam à finalidade que buscamos com as aulas.
A Agência de Inteligência da Polícia Civil do Paraná classifica os documentos como internos e externos e os define como:
Esses documentos são classificados em:
Documento interno, padronizado, utilizado para registrar fato ou situação que possa vir a servir de insumo para a produção de conhecimentos futuros.
É o documento interno elaborado pelo encarregado de caso (EC) onde será exposto de forma circunstanciada o modo como se desenvolverão as ações voltadas para a busca de dados negados, ficando o início da operação sujeita à aprovação prévia do plano pelo chefe do órgão de Inteligência.
É o documento interno utilizado para acionar a Divisão de Operações (DOP) para a busca de dados negados.
É o documento interno elaborado pelo elemento de operações (ELO) no qual são relatados os resultados das operações de inteligência.
Esses documentos são classificados em:
É documento externo destinado a transmitir os vários tipos de conhecimentos para usuários ou outros órgãos de Inteligência.
É o documento utilizado para solicitar conhecimentos a outros órgãos de Inteligência.
É o documento de difusão externa — não classificado — utilizado para veiculação de assuntos de interesse do órgão de Inteligência, devendo ser utilizado, também, para transmitir conhecimentos para outras unidades policiais não integrantes do Sistema de Inteligência da Polícia Civil do Paraná. O comunicado consiste em alertas organizados segundo um padrão de cores.
É o documento de difusão externa — classificado ou não — que apresenta, de forma padronizada e sintética, uma coletânea rotineira e periódica acerca de fatos e/ou situações que sejam de interesse da segurança pública, permitindo que o processo de tomada de decisão ocorra em tempo oportuno e seja lastreado por uma parcela mínima de conhecimento.
É o documento externo padronizado — não classificado — que transmite, de forma excepcional, análises técnicas e de dados, destinados a subsidiar a produção de provas em inquéritos policiais.
Já no Portal da Educação encontramos os seguintes conceitos, indistintamente:
INFORME:
Esse documento é a transcrição de qualquer dado relevante, podendo ser uma observação ou um relato que auxilie na produção do conhecimento. O documento Informe não deve conter qualquer tipo de conclusão ou sugestão.
INFORMAÇÃO:
Compõe a expressão escrita do conhecimento por meio de um estudo realizado pelo analista de inteligência. Todas as informações nele contidas devem ser verídicas, portanto, é um documento que não aceita probabilidades, somente certezas.
APRECIAÇÃO:
Nesse documento, o analista pode opinar sobre o assunto, de acordo com a objetividade dos dados compilados.
ESTIMATIVA:
Nesse documento, os analistas devem opinar sobre o que poderá acontecer futuramente em relação ao assunto, de acordo com a objetividade dos dados compilados e as probabilidades estudadas.
PEDIDO DE BUSCA:
Quando uma agência de Inteligência carece de algum dado importante e essencial para a produção do conhecimento, um pedido de busca pode ser emitido para outra agência que possa obter informações sobre o assunto.
ORDEM DE BUSCA:
Quando uma agência de Inteligência carece de dados e necessitaidentificá-los. Uma ordem pode ser emitida para a busca da informação específica e necessária à produção do conhecimento.
ENCAMINHAMENTO:
Quando algum outro documento deve ser expedido e não se encaixa com o perfil dos anteriores (informe, pedido de busca etc.), um encaminhamento pode ser emitido. Alguns exemplos desse documento são: documentos de instrução, documentos administrativos ou representações diversas.
Vejamos os modelos de alguns dos documentos mencionados em aula que mostram a estrutura básica de um documento de inteligência.
Não se trata de um modelo fechado, havendo espaço para adequação à agência. É importante, contudo, que as informações constantes dos campos existentes, nos citados modelos, estejam contidas. Isto porque, durante a tramitação entre agências, a falta das citadas informações, poderá inviabilizar o propósito do documento.
É importante lembrar que tais documentos não podem ser juntados à inquéritos policiais, conforme já vimos em aulas anteriores. O seu conteúdo não pode sequer ser acessado por outros órgãos, a exemplo da jurisprudência que mencionamos negando ao MPF acesso ao RELINT elaborado pela PF.
Na internet, é possível encontrar uma variedade enorme de documentos de inteligência que já não estão mais protegidos em razão do decurso do tempo.
Veja a seguir um RELINT da CIA e um PB da PF facilmente encontrados online.
AULA 8 - SETORES DE INTELIGÊNCIA – OPERAÇÕES
SETORES DE INTELIGÊNCIA
Relembrando, já vimos que uma agência de inteligência possui entre outros, dois setores muito importantes: setor de análise e setor de operações. Já estudamos o setor de análise e passaremos agora ao de operações, que como vimos, é o responsável pela busca de informações. A obtenção destas informações será realizada mediante o emprego de ações de busca e de técnicas de operações de inteligência.
Inicialmente, passemos ao estudo de alguns conceitos imprescindíveis à compreensão do tema.
Ações de busca ou, simplesmente, busca são todos os procedimentos realizados pelo conjunto ou pela parte dos agentes do Elemento de Operações (ELO) de uma agência, envolvendo ambos os ramos da Inteligência (intel e contra), a fim de reunir dados negados, em um ambiente desfavorável. Podem, também, provocar uma mudança de comportamento do alvo, a fim de conseguir-se uma posição vantajosa, favorecendo a obtenção de novos dados.
É o local onde se desenvolve uma operação de inteligência e que, normalmente, determina os recursos a serem empregados.
É o objetivo das ações de inteligência e, particularmente, das ações de busca. O alvo pode ser um assunto, uma pessoa, uma organização, um local, um objeto ou um evento.
É a designação genérica do setor de uma agência que planeja e executa as operações de inteligência.
É o elemento orgânico da agência que possui capacitação especializada em ações de busca e em técnicas operacionais.
É o elemento não orgânico da agência, recrutado operacionalmente ou não, que, por suas ligações e conhecimentos, cria facilidades para a agência, até mesmo fora de sua área normal de atuação.
É o elemento não orgânico da agência, recrutado operacionalmente, e que fornece dados em sua área normal de atuação.
É o agente responsável pelo controle do colaborador, do agente e do informante.
É a designação dada ao conjunto dos elementos não orgânicos controlados pela agência.
É a menor fração do ELO, utilizada na execução de uma ação operacional.
É o agente que coordena as ações dos componentes da equipe de busca no ambiente operacional.
É o conjunto de equipes de busca utilizado na ação operacional.
É o conjunto de turmas de busca utilizado na ação operacional.
É a função desempenhada por um profissional de Inteligência que tem como atribuições planejar, dirigir, coordenar e controlar a execução de operações de Inteligência e difundir os resultados obtidos.
É o ponto de interesse de uma operação de inteligência. Pode ser pessoa, documento, local, objeto, material, área ou instalação, meios de comunicação etc. que tenha dados de interesse para a atividade de inteligência ou que utiliza estes para desenvolver ações adversas.
É a área geográfica onde se desenvolve a operação de inteligência. Pode ser uma rua, uma praça etc.
É qualquer dado referente ao alvo ou ambiente operacional que subsidie uma operação de inteligência.
Veículo equipado com meios técnicos, empregados nas ações de inteligência, visando primordialmente à captura de som e imagem.
Já vimos o que são as ações de busca, vejamos agora quais são elas. Os professores Emerson Wendt e Alessandro Gonçalves Barreto apontam no livro Inteligência digital, da editora Brasport, 9 ações de busca:
PROVOCAÇÃO:
É a ação de busca, com alto nível de especialização, realizada para fazer com que uma pessoa/alvo modifique seus procedimentos e execute algo desejado pela agência, sem que o alvo desconfie da ação.
RECONHECIMENTO:
É a ação de busca realizada, mediante observação, para obter dados sobre o ambiente operacional ou identificar alvos. Normalmente, é uma ação preparatória que subsidia o planejamento de uma operação de inteligência.
INFILTRAÇÃO:
É a ação de busca realizada para colocar uma pessoa já recrutada junto ao alvo, a fim de obter dados negados.
ENTREVISTA:
É a ação de busca realizada para obter dados por meio de uma conversação, consentida pelo alvo, mantida com propósitos definidos e planejada e controlada pelo entrevistador.
VIGILÂNCIA:
É a ação de busca realizada, mediante observação, para levantar dados sobre um alvo. Classifica-se: quanto ao alvo, fixa e móvel, quanto aos agentes, a pé ou transportada, e quanto ao grau de sigilo, sigilosa ou ostensiva.
RECRUTAMENTO OPERACIONAL:
É a ação de busca realizada para convencer ou persuadir uma pessoa não pertencente à agência a trabalhar em benefício desta.
DESINFORMAÇÃO:
É a ação de busca realizada para, intencionalmente, ludibriar alvos — pessoas ou organizações —, a fim de ocultar os reais propósitos da agência e/ou de induzir esses alvos a cometerem erros de apreciação, levando-os a executar um comportamento predeterminado.
ENTRADA:
É a ação de busca que se opera para a obtenção de dados em áreas cujo acesso seja restrito, à revelia dos responsáveis pelo local.
INTERCEPTAÇÃO DE SINAIS:
É a ação de busca que visa captar sinais eletromagnéticos, óticos, ou acústicos, através do uso de equipamentos específicos.
Outros autores mencionam ainda a interceptação postal e os interrogatórios como ações de busca. É necessário lembrar que algumas ações de busca necessitam de prévia autorização judicial, como é o caso da interceptação de sinais, entrada, interceptação postal e infiltração.
Para o desenvolvimento da ações de busca, os agentes operacionais deverão empregar técnicas operacionais, que são habilidades nas quais os agentes de um ELO deverão ser treinados, visando maximizar seu desempenho. Vejamos adiante.
TÉCNICAS OPERACIONAIS DE INTELIGÊNCIA — TOI
OBSERVAÇÃO, MEMORIZAÇÃO E DESCRIÇÃO (OMD):
É a TOI utilizada para observar, memorizar e descrever, com precisão, pessoas, objetos, locais e fatos, a fim de identificá-los ou de reconhecê-los.
PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS (PIP):
É a TOI que reúne todos os procedimentos e meios adequados para identificar ou reconhecer pessoas, tais como: fotografia, retrato falado, papiloscopia, documentoscopia, DNA, arcada dentária, voz, íris, medidas corporais, descrição, dados de qualificação.
ESTÓRIA-COBERTURA (EC):
É a TOI utilizada para encobrir as reais identidades dos agentes e das agências, a fim de facilitar a obtenção de dados, dissimulando os verdadeiros propósitos da atividade, e para resguardar a segurança e o sigilo.
DISFARCE:
É a TOI pela qual o agente, usando recursos naturais ou artificiais, modifica sua aparência física, a fim de evitar o seu reconhecimento, atual ou futuro, ou ainda para adequar-se a uma EC.
COMUNICAÇÕES SIGILOSAS (COMSIG):
É a TOI utilizada para, em segredo, transmitir mensagens, revelar intenções ou

Outros materiais