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História - Caderno 3

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Caderno Florestan Fernandes
CADERNO III
História
ÍÍÍÍÍNDICENDICENDICENDICENDICE
Impresso na Gráfica do Ponto de Cultura Mocambo Herbert de Souza2° Edição - agosto de 2010
HISTÓRIA DO BRASIL
A Abolição da Escravatura.............................................................................3
A Formação da República..............................................................................7
O Declínio das velhas Oligarquias..............................................................10
Os Primeiros Anos da Era Vargas..............................................................13
O Estado Novo (1937 a 1945)....................................................................16
Populismo, Nacionalismo e Desenvolvimentismo...................................19
O Golpe de 1964 e o Início da Ditadura Militar......................................22
Ditadura e Resistência...................................................................................25
HISTÓRIA GERAL
Nacionalismo e Revoluções Liberais..........................................................28
Unificação Italiana e Alemã.........................................................................32
Segunda Revolução Industrial e Revolução Intelectual..........................35
Imperialismo...................................................................................................38
A Primeira Guerra Mundial.........................................................................43
Socialismo........................................................................................................48
A Revolução Russa........................................................................................52
A Europa Pós Primeira Guerra...................................................................58
“No domínio do pensamento pode o ho-
mem aspirar a ser o cérebro do mundo, mas
no plano da vida concreta, onde toda a in-
tervenção influenncia o ser físico e espiritu-
al, o mundo é sempre o cérebro do homem”.
Ahmed Sékou Touré (1922-1984) foi um líder políti-
co africano e presidente da República da Guiné de
1958 até sua morte em 1984. Touré foi um dos pri-
meiros nacionalistas guineanos envolvido na libertação
do país da França.
Cartaz de 1972 do Comite pela Libertação da África do Sul (Southern African Liberation
Committee - SALC). O Comite pela Libertação da África do Sul foi fundado por um grupo de
estudantes da Universidade de Cornell (EUA) em 1969.
Caderno Florestan Fernandes
Colaboradores:
PROJETO GRÁFICO
Aristóteles de Almeida Silva
Moacir Mendes
Silas Eduardo de Souza
DIAGRAMAÇÃO:
Aristóteles de Almeida Silva
Moacir Mendes
Gabriel Ramires Veleiro
Andrey do Carmo
MONTAGEM E ILUSTRAÇÃO DA CAPA:
Andrey do Carmo
Aristóteles de Almeida Silva
REVISÃO/ELABORAÇÃO:
Isadora (Literatura)
Alexsandra (Gramática)
Eduardo Rosa (Física I)
Larissa (Física II)
Ivan (Física III)
Ricardo (Química I)
Gabriela (Química II)
Tânia (Química III)
Jakson (Matemática I)
Jonas (Matemática II)
C. Gil (Matemática III)
Jarbas (Biologia I)
Vanessas (Biologia II)
Dida (Biologia III)
Luciana (História)
Irene (História)
Will (História)
Neucler (Redação)
Neucler (Inglês)
Clayton (Geografia II)
Alex (Geografia I)
IMPRESSORES OFF-SET
Silas Eduardo de Souza
CORTE
Moacir Mendes
ACABAMENTO
Aristóteles de Almeida Silva
Moacir Mendes
Silas Eduardo de Souza
Andrey do Carmo
CAPTAÇÃO DE RECURSOS
Silas Eduardo de Souza
APOIO ACADÊMICO
Prof. Vicente Rodrigues (FE-Unicamp)
“Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas ‘originais’; significa, sobretudo, difundir também criticamente verdades já descobertas,
‘socializá-las’, por assim dizer; transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. Conduzir uma massa de homens
a pensar com coerência e de modo unitário o presente é um fato ‘filosófico’ muito mais importante e ‘original’ que a descoberta por um ‘gênio’ filosófico de uma nova verdade
que se converte em patrimônio único de um pequeno grupo de intelectuais”.
Antonio Gramsci
Ponto de Cultura
Herbert de Souza
End.: R. Maria Pink Luis, n° 100
Vila União - Campinas/SP
CEP: 13060-764
E-mail: malocalivre@gmail.com
Fone: (19) 3396-6606
Site: www.maloca.org.br
MOVIMENTO DOS CURSINHOS POPULARES
“É preciso quebrar o gelo diante dos problemas graves que de tão comuns teimam em
parecer normais.
O Brasil não precisa de doutores mas de transformadores.”
Herbert de Souza, o Betinho
CAPA:
Imagem da Capa: de Andrey do Carmo - Graduando em Artes
Visuais - ex-aluno do Cursinho Herbert de Souza - Nome da Arte: Florestan
Fernandes.
Imagem da Contracapa: de Joseph Amedokpo - Nome da arte: The Devil`s
Cooking Pot.
Imagem do meio da Capa: de Kobina Nyarko - Nome da Arte: Prayers
Texto da Contra Capa: extraido na integra de http://www.rea.net.br
Texto Homenagem: Aristóteles de Almeida Silva - ex-aluno do Cursinho
Herbert de Souza.
Homenagem da Capa: Florestan Fernandes (1920 - 1995).
Florestan Fernandes foi um influente intelectual brasileiro. No Brasil pode ser
considerado como um dos inauguradores da tradição dos intelectuais de origem
popular que conseguiram ingressar na universidade e dar uma contribuição impar
para o pensamento científico. Como intelectual se manteve conectado com sua
origem popular, jamais esqueceu seu passado pobre e as duras experiências da
vida. Ao criticar a sociedade burguesa fez sem cair num mero ressentimento
vingativo, soube realizar a crítica no mais alto nível científico.
Florestan, filho de uma lavadeira portuguesa analfabeta, teve uma infân-
cia difícil e trabalhosa. Frequentou apenas três anos regulares do ensino primá-
rio em São Paulo, trabalhando paralelamente aos estudos como engraxate,
biscateiro, auxiliar de garçom, entregador de remédios a domicílio, entre outras
atividades. Por diversas teve de interromper os estudos. Aos 17 anos decidiu
retomar seus estudos fez o curso de madureza (ginásio e colégio), e, em 1941,
deu início aos seus estudos em ciências sociais (antropologia e sociologia) na
Universidade de São Paulo (USP). Dessa universidade se tornou professor, onde
exerceu atividade docente até ser aposentado de forma compulsória pela ditadu-
ra militar que se instalou no Brasil a partir de 1964. Foi professor de universida-
des estrangeiras e da Puc-SP. Seus estudos versaram sobre diversos assuntos:
questão racial, teoria sociológica, formação do Brasil, etc. Com a redemocratização
do Brasil se elegeu deputado federal pelo PT, partido do qual foi um dos funda-
dores, e cumpriu um papel essencial no desenvolvimento da Constituinte de
1988. Faleceu em 1995 tendo escrito mais de 50 livros.
Em suas palavras sobre sua origem Florestan nos diz: “Eu nunca teria sido
o sociólogo em que me converti sem o meu passado e sem a socialização pré e extra-escolar que
recebi através das duras lições da vida. Para o bem e para o mal — sem invocar-se a questão
do ressentimento, que a crítica conservadora lançou contra mim — a minha formação acadê-
mica superpôs-se a uma formação humana que ela não conseguiu distorcer nem esterilizar.
Portanto, ainda que isso pareça pouco ortodoxo e antiintelectualista, afirmo que iniciei a
minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se fosse um
adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta, no conhecimento do que é a convivência
humana e a sociedade em uma cidade na qual não prevalecia a ordem das bicadas, mas a
relação de presa, pela qual o homem se alimentava do homem, do mesmo modo que o tubarão
come a sardinha ou o gavião devora os animais de pequeno porte. A criança estava perdida
nesse mundo hostil e tinha de voltar-se para dentro de si mesma para procurar nas técnicas do
corpo e nos ardis dos fracos os meios de autodefesa para a sobrevivência. Eu não estava
sozinho. Havia a minha mãe. Porém a soma de duas fraquezas não compõe uma força.
Éramos varridos pela tempestade da vida e o que nos salvou foi o nosso orgulho selvagem, que
deitava raízes na concepção agrestedo mundo rústico, imperante nas pequenas aldeias do norte
de Portugal, onde as pessoas se mediam com o lobo e se defendiam a pau do animal ou de outro
ser humano”.
3www.maloca.org.br
XVII
A AA AA AA AA ABOLIÇÃOBOLIÇÃOBOLIÇÃOBOLIÇÃOBOLIÇÃO DADADADADA E E E E ESCRAVASCRAVASCRAVASCRAVASCRAVATURATURATURATURATURA
ABOLIÇÃO
A abolição da escravatura no Brasil, que alterou de imediato a estrutura
de produção agrícola e, a longo prazo, as fórmulas sociais e étnicas pelas
quais se compôs a população do país, não foi um simples gesto magnâni-
mo do poder imperial imbuído de princípios humanitários. Lentamente
preparada por sucessivos avanços ao longo do século XIX, a abolição
decorreu, isto sim, da inevitável conjunção de dois fatores de peso: as
pressões externas da política inglesa, que de há muito se opunha ao tráfico
escravista, e as pressões internas de um grande movimento popular, o
abolicionismo, cujas origens remontam aos quilombos e às revoltas de
africanos iniciadas ainda no período colonial.
Do ponto de vista estritamente legal, a abolição concretizou-se em 13 de
maio de 1888, um domingo, quando a princesa Isabel, então regente do
império, sancionou a lei no 3.353, que concedeu liberdade imediata a todos
os escravos existentes no Brasil e se tornou conhecida como a Lei Áurea.
Resultante de projeto lido pelo ministro da Agricultura, Rodrigo Silva, em
nome da princesa regente e do imperador D. Pedro II, na sessão da Câma-
ra dos Deputados do dia 8 de maio de 1888, a lei da abolição não previa
nenhuma compensação para os proprietários de escravos e era de uma
concisão exemplar. Constava de apenas dois artigos e estava assim redigida:
"Art. 1o. É declarada extinta a escravidão no Brasil. Art. 2º. Revogam-se as dispo-
sições em contrário."
Pergaminho original da lei Áurea, que pôs fim à escravidão no Brasil (Arquivo
Nacional, Rio de Janeiro)
PRIMEIROS ABOLICIONISTAS.
Na segunda década do século XIX, havia no Brasil cerca de 1.200.000
escravos negros, contra apenas três milhões de habitantes livres e brancos.
A agricultura de exportação, totalmente dependente da mão-de-obra escra-
va, resistia a mudanças nesse quadro, opondo-se não só à libertação dos
cativos como também ao fim do tráfico. Toda a estrutura escravocrata da
economia brasileira foi contestada porém no exterior, desde o século XVIII,
por não ser compatível com novas concepções internacionais sobre o tra-
balho, já então em vigor.
O mais antigo abolicionista do Brasil, segundo as Efemérides do barão
do Rio Branco, foi o padre português, residente na Bahia, Manuel Ribeiro
da Rocha, que em seu Etíope resgatado (1757) se antecipou às idéias
abolicionistas propostas pelos ingleses Thomas Clarkson (1786) e William
Wilberforce (1788).
O combativo jornalista Hipólito José da Costa, radicado em Londres
desde que conseguira evadir-se dos cárceres da Inquisição (fora preso por
ser maçom), atacou o problema da escravatura no instante mesmo em que
a família real portuguesa, para escapar da invasão napoleônica, se refugiou
no Brasil. Já em 1809, ele escreveu em seu Correio Braziliense: "Se o gover-
no do Brasil remediar este mal, os filantropos lhe perdoarão todos os
mais."
A GERAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
Hipólito José da Costa, José Bonifácio, Caldeira Brant e o próprio impe-
rador D. Pedro I -- era adversa à escravidão, mas temia que o país se desor-
ganizasse se a cessação do tráfico de africanos não fosse precedida, em
prazo razoável, pela reorganização do trabalho.
EXTINÇÃO DO TRÁFICO.
Depois da independência, o tráfico continuou, como se o Brasil ignoras-
se o Congresso de Viena (1815) e o tratado de 1817, que fixou medidas gde
repressão ao comércio de escravos a serem executadas em conjunto por
autoridades britânicas e portuguesas.
A Inglaterra, que então dominava os mares e a metade do montante do
comércio mundial, não desistiu porém de suas pressões. Em conseqüên-
cia disso, o Brasil foi forçado a firmar o tratado de 3 de novembro de 1826,
que marcou um prazo de três anos para a completa extinção do tráfico. Em
cumprimento a esse tratado, foi promulgada a lei de 7 de novembro de
1831, que libertava os escravos desembarcados no Brasil. Tal lei nunca seria
aplicada e o tráfico, com a complacência do governo, prosseguiu a todo
vapor.
A partir de 1845, com a chamada Aberdeen bill, o tráfico recrudesceu,
porque os fazendeiros do setor agro-exportador (Nordeste e Sudeste),
temendo o fim da importação de escravos, resolveram fazer estoques. A
Aberdeen bill passou então a sujeitar aos tribunais britânicos os navios
brasileiros que operavam no tráfico. Em abril de 1850, cruzadores ingleses
chegaram a apreender navios contrabandistas até dentro de águas territoriais
e portos brasileiros. Logo depois, em 14 de outubro, o ministro da Justiça,
Eusébio de Queirós, assinou a lei que pôs fim ao tráfico clandestino de
africanos para o Brasil.
Com a extinção do tráfico, o capital investido no comércio negreiro
desviou-se para outras atividades. Surgiram então os bancos emissores, as
companhias de imigração e colonização, as empresas de estradas de ferro.
Seria a hora de acabar de vez com a escravidão, não fosse a reação dos
fazendeiros, que se encastelaram na defesa de seus interesses ameaçados.
Sob esse clima, não teve maior repercussão o projeto do deputado Pedro
Pereira da Silva Guimarães (1850 e 1852), que concedia liberdade aos
nascituros.
O MOVIMENTO GANHA FORÇA.
Na verdade, só um decênio após a Lei Eusébio de Queirós o movimen-
to emancipacionista adquiriu novo alento, graças sobretudo à ação do Ins-
tituto dos Advogados. Foram abolicionistas todos os presidentes do Ins-
tituto, parlamentares ou não, como Carvalho Moreira, Silveira da Mota,
Urbano Pessoa, Perdigão Malheiros e, mais adiante, Nabuco de Araújo e
Saldanha Marinho.
Em 1863, os Estados Unidos decretaram a libertação de seus escravos.
Três anos depois, D. Pedro II encaminhou a seus ministros um apelo que
4
recebera, no mesmo sentido, da Junta Francesa de Emancipação. O Conse-
lho de Estado iniciou em seguida o estudo do problema, com base em
cinco projetos elaborados por Pimenta Bueno (depois visconde e marquês
de São Vicente).
Ao serem debatidos os projetos de Pimenta Bueno, o conselheiro Nabuco
de Araújo lembrou uma série de medidas que alterariam por completo as
relações ainda vigentes entre senhores e escravos: a liberdade dos nascituros,
a garantia do pecúlio, a supressão dos castigos corporais e a alforria invito
domino, ou seja, mesmo contra a vontade do senhor. Nabuco de Araújo
chegou até a propor a criação de um fundo de emancipação, destinado à
concessão de alforrias de caráter compulsório, tendo em vista os motivos
de saúde, comportamento e serviços prestados.
A guerra do Paraguai tornou inadiáveis algumas dessas medidas. No
recrutamento de tropas, o Exército e a Marinha tiveram de apelar para o
concurso dos negros, que deixaram de ser simples máquinas agrícolas para
se transformarem em "voluntários da pátria".
O processo se acelera. Dois decretos assinados por Zacarias de Góis e
Vasconcelos refletiram com clareza a precipitação dos acontecimentos. O
primeiro, de 6 de novembro de 1866, concedia liberdade gratuita aos escra-
vos designados para o serviço do Exército; o outro, de 28 de março de
1868, mandava proceder à matrícula geral dos escravos. Esse último, em
especial, abriu espaço para numerosas demandas interpostas por advoga-
dos que foram grandes abolicionistas, como Saldanha Marinho, no Rio de
Janeiro, e Luís Gama, em São Paulo.
Luis Gama, em 1880
A OFENSIVA FORENSE FOI INTENSA.
 Em 1871, por exemplo, o jovem advogado José Joaquim Peçanha
Póvoas propôs 1.604 ações contra senhores que obrigavam escravas à prá-
tica da prostituição, obtendo 729 alforrias.
As etapas seguintes do movimento antiescravista foram marcadas pela
Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871, permanentemente frauda-
da, e a Lei dos Sexagenários, de 28 de setembro de 1885. De acordo com a
primeira, a partir dela os filhos de mãe escrava seriam livres; pela segunda,
osmaiores de sessenta anos ganhariam alforria.
Aos poucos, o abolicionismo ganhava impulso no país. No Ceará, os
jangadeiros que faziam o transporte de outros portos nordestinos para
Fortaleza negaram-se a levar escravos. Em 1844 a própria província do
Ceará aboliu a escravatura em seu território, gesto seguido no mesmo ano
pela província do Amazonas e por três municípios da província do Rio
Grande do Sul.
Quando da aprovação das leis do Ventre Livre e dos Sexagenários, acha-
va-se no poder o Partido Conservador, ao qual competia, quase sempre,
aplicar as reformas propostas pelo Partido Liberal. A questão servil não
constava, entretanto, do programa de nenhum dos partidos. Houve con-
servadores, como Andrade Figueira, que nunca mudaram sua intransigen-
te posição contra os avanços emancipacionistas. Muitos liberais, por sua
vez, discordaram do ponto de vista expresso por Rui Barbosa no famoso
Parecer sobre a reforma do elemento servil (1884).
De fato, o abolicionismo foi um movimento à margem dos partidos
políticos, que sensibilizou as parcelas mais esclarecidas da população e
forneceu temas polêmicos a numerosos poetas, como Fagundes Varela e
Castro Alves. Em sua fase decisiva, a campanha que culminou no 13 de
maio foi impulsionada por entidades civis, como a Sociedade Brasileira
contra a Escravidão, de André Rebouças, e a Confederação Abolicionista,
de João Clapp, ambas no Rio de Janeiro, ou por organizações secretas e até
subversivas, como o Clube do Cupim, de José Mariano, no Recife, e os
Caifases, de Antônio Bento, em São Paulo.
Capa da edição original de Espumas Flutuantes - único livro do poeta brasileiro Castro
Alves publicado quando ainda vivo - editado em 1870.
No papel de relevo que coube à imprensa, destacaram-se os grandes
jornais do Rio de Janeiro: a Gazeta de Notícias, de Ferreira de Araújo; O
País, de Quintino Bocaiúva, notadamente pela seção que nele mantinha
Joaquim Serra; a Gazeta da Tarde, de Ferreira de Meneses e José do Patro-
cínio; e a Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini.
Advogados, jornalistas, estudantes, escritores e funcionários constituí-
ram a vanguarda do movimento abolicionista. A ela se integraram os
oficiais do Exército, após memorável reunião do Clube Militar em outu-
bro de 1887, que dirigiram à princesa regente um apelo para que os solda-
dos não fossem obrigados à "captura de pobres negros que fogem à escra-
vidão".
A abolição decorreu, portanto, de um movimento de opinião que se
sobrepôs aos partidos e aos próprios grupos monárquicos, nos quais
prevalecia quase sempre a vontade da classe mais rica e poderosa, a dos
senhores de escravos. Em suma, a abolição foi feita pelo povo. Por aqueles
que pertenciam ao "partido dos que não tinham nada a perder", segundo
a frase cáustica do parlamentar liberal Martinho Campos, que se intitulava,
cheio de orgulho, um "escravocrata da gema".
5www.maloca.org.br
1) (Puc-rio) A capa da “Revista Ilustrada” do ano de 1880 apresenta a ilustração
de Ângelo Agostini intitulada “Emancipação uma nuvem que não pára de cres-
cer”.
a) Explique por que a “nuvem da emancipação” não parava de crescer naquela
conjuntura.
b) Com base na ilustração e nos seus conhecimentos, identifique dois argumen-
tos utilizados por uma parcela dos proprietários de escravos para se oporem ao
crescimento da “nuvem da emancipação”:
2) (Unicamp) As palavras a seguir foram ditas por um diplomata inglês, no
século passado:
“Nossas colônias não têm mais escravos. Por que outras áreas tropicais haverão
de ter? Estamos montando negócios na África. Por que continuar com o tráfico
negreiro, que tira nossa mão de obra de lá? Além disso, nem a servidão nem a
escravidão cabem mais no mundo de hoje. Viva o trabalho assalariado! E que os
salários sejam gastos na compra das nossas mercadorias.”
a) De acordo com esse diplomata, que interesses teria a Inglaterra em acabar
com o tráfico de escravos e com a escravidão?
b) No Brasil, que outros motivos levaram à abolição da escravidão?
3) (Enem)
Considerando a linha do tempo acima e o processo de abolição da escravatura no
Brasil, assinale a opção correta.
a) O processo abolicionista foi rápido porque recebeu a adesão de todas as
correntes políticas do país.
b) O primeiro passo para a abolição da escravatura foi a proibição do uso dos
serviços das crianças nascidas em cativeiro.
c) Antes que a compra de escravos no exterior fosse proibida, decidiu-se pela
libertação dos cativos mais velhos.
d) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu o processo abolicionista,
tornando ilegal a escravidão no Brasil.
e) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de Queirós bloqueou a formulação
de novas leis antiescravidão no Brasil.
4) (Fuvest) A extinção do tráfico negreiro, em 1850
a) reativou a escravização do Índio.
b) ocasionou a queda da produção cafeeira no Oeste Paulista.
c) acarretou uma crise na indústria naval.
d) acentuou a crise comercial da segunda metade do século XIX.
e) liberou capitais para outros setores da economia.
5) (Fuvest) Em 1872, foi realizado o primeiro recenseamento do Império.
Baseado nos dados desse censo, o Mapa 1 apresenta a distribuição de escravos
nas províncias brasileiras em relação à população total. O Mapa 2 mostra a
porcentagem de índios aldeados em relação ao total de escravos nessas mesmas
províncias e nesse mesmo ano.
Considere os mapas anteriores e seus conhecimentos para analisar as frases:
I. As maiores populações de escravos do Império, naquele período, estavam
concentradas principalmente em províncias do atual Sudeste brasileiro, onde, na
época, se desenvolvia, de forma acelerada, a cultura do café.
II. A grande parte dos índios aldeados do Império, relativamente à população de
escravos, distribuía-se por territórios que hoje correspondem às regiões Norte e
Centro-Oeste, onde trabalhavam na extração da borracha e em atividades
mineradoras.
III. A baixa porcentagem de escravos, vivendo nas províncias da porção nordes-
te da atual região Nordeste do país, é indicativa do pouco dinamismo econômi-
co dessa sub-região, naquele período.
Está correto o que se afirma apenas em
a) I
b) I e II
c) I e III
d) II e III
e) III
6) (Mackenzie) “A Princesa Imperial Regente, em nome de sua Majestade o
Imperador, o Senhor Dom Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que
a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1° . - É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”
(COLEÇÃO DE LEIS - DAS LEIS DO IMPÉRIO DO BRASIL -
IMPRENSA NACIONAL)
Com relação à lei anterior, é correto afirmar que:
a) atendeu aos interesses dos fazendeiros de café do Vale do Paraíba e senhores
de engenho do Nordeste.
b) a Lei Áurea solapou o poder econômico e político de setores da elite agrária
que se vinculavam ao Império.
c) o mercado de trabalho absorveu esta mão-de-obra nas indústrias em expan-
são, carentes de trabalhadores.
d) se desvinculou das Leis do Ventre Livre e do Sexagenário, atrelando-se aos
interesses da oligarquia monocultora.
e) aproximou da Monarquia importantes líderes como Benjamin Constant, José
Bonifácio e Aristides da Silveira Lobo.
7) (Puccamp) Considere os itens a seguir:
I. abolição do tráfico como golpe à hegemonia dos “senhores de engenho” e dos
6
“barões do café”.
II. apoio da pequena burguesia urbana à escravidão e à monarquia.
III. término da Guerra do Paraguai e a ampliação e reorganização do Exército.
IV. aliança entre a monarquia e a Igreja.
V. oposição dos cafeicultores paulistas ao centralismo e a defesa do federalismo.
O período compreendido entre 1870 e 1889 assinala, no Brasil, o “declínio” do
Império. Os fatores, dentre outros, responsáveis por esse declínio podem ser
identificados em APENAS
a) I, II e IV
b) I, III e IV
c) I, III e V
d) II, III e V
e) II, IV e V
8) (Pucpr) “A abolição da escravatura no Brasil, sem uma política de inserção
social daqueles trabalhadores, trouxe uma imensa marginalização social dos
afrodescendentes. Afinal, havia uma nova ordem social na qual a referência
pelos imigrantes gerou a exclusãodo negro do mercado de trabalho, levando-o
à miséria e a um tratamento diferenciado. Essa assimetria social - sustentada e
reforçada pelo racismo científico do séc. XIX - gerou uma situação lastimável:
negros ainda eram oprimidos pelas idéias escravocratas que pareciam não ter
realmente desaparecido do contexto.”
(Kossling , Karin Sant’Anna. Da liberdade à exclusão . Revista “Desvendando a
História”., Ano 2, n.10, p. 39).
De acordo com o texto:
I - A abolição da escravatura em 1888 pela princesa Isabel resolveu a questão de
três séculos de exploração, maus tratos e sofrimentos. A lei restituiu aos
afrodescendentes a dignidade e o direito à cidadania.
II - A Lei Áurea emancipou os negros da escravidão sem, contudo, lhes oferecer
possibilidades reais e dignas de participação no mercado de trabalho.
III - Os afrodescendentes ficaram condenados a exercer um papel subalterno na
sociedade, levando-os à miséria.
IV - A preferência pelos imigrantes reforçou a tese da igualdade racial tão
propagada no século XIX.
Estão corretas:
a) I e IV.
b) II e III.
c) II e IV.
d) III e IV.
e) I e III.
9) (Uece) “No dia 28 de setembro de 1879, oitavo aniversário da promulgação
da Lei do Ventre Livre, foi criada por dez cidadãos residentes em Fortaleza uma
entidade denominada ‘Perseverança e Porvir’. Criada principalmente para tratar
de negócios econômicos e comerciais em proveito de seus fundadores, possuía
também outras atribuições”.
(Fonte: SILVA, Pedro Alberto de Oliveira. “História da Escravidão do Ceará: das origens
à extinção”. Fortaleza: Instituto do Ceará, 2002, pp. 191-192.)
Sobre as atribuições da citada sociedade, são feitas as seguintes afirmações:
I. Propunha-se também a alforriar escravos, daí a escolha da citada data para dar
início às suas atividades.
II. Os associados criaram um fundo de emancipação para libertar escravos e, em
algumas das suas reuniões, faziam doações, embora modestas, para aquele fim.
III. As transações feitas pela sociedade, no sentido da libertação dos escravos,
eram pequenas, visto que durante sua existência (cinco anos) alforriou menos de
uma dezena de cativos.
Assinale o correto.
a) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.
b) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.
c) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras.
d) Todas as afirmações são verdadeiras.
10) (Ufpr) “A introdução de novos africanos no Brasil não aumenta a nossa
população e só serve de obstar a nossa indústria. Apesar de entrarem no Brasil
perto de quarenta mil escravos anualmente, o aumento desta classe é nulo, ou de
muito pouca monta: quase tudo morre ou de miséria ou de desesperação, e
todavia custaram imensos cabedais. [...] Os senhores que possuem escravos
vivem, em grandíssima parte, na inércia, pois não se vêem, precisados pela fome
ou pobreza, a aperfeiçoar sua indústria ou melhorar sua lavoura. [...] Ainda
quando os estrangeiros pobres venham estabelecer-se no país, em pouco tempo
deixam de trabalhar na terra com seus próprios braços e, logo que podem ter
dois ou três escravos, entregam-se à vadiação e desleixo.”
(ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Representação à Assembléia Geral
Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura, de 1823. In:
DOLHNIKOF, Miriam. “José Bonifácio de Andrada e Silva: Projetos para o Brasil”.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 56-57.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o abolicionismo no Brasil, é
correto afirmar que nas duas primeiras décadas do século XIX:
a) o movimento abolicionista consolidava uma articulação de partidos políticos
em prol da libertação dos africanos e da sua inserção na sociedade brasileira
como trabalhadores livres para a agricultura e para a indústria.
b) as elites dirigentes estavam plenamente convencidas da necessidade da abo-
lição do tráfico negreiro para defender o sistema escravista das pressões empre-
endidas pelo movimento humanitário internacional.
c) alguns setores sociais pretendiam promover o progresso econômico do Brasil
com base na indústria e viam os negros como obstáculo a esse desenvolvimento,
na medida em que eles não tinham qualquer aptidão para o trabalho naquele
setor.
d) alguns integrantes da elite dominante passaram a compreender a escravidão
como um problema que dificultava o progresso nacional, já que a sua manuten-
ção desestimulava novos empreendimentos econômicos.
e) as elites dirigentes do Brasil estavam convencidas de que a abolição da escra-
vidão ocorreria mais cedo ou mais tarde e era necessário, portanto, substituir o
escravo pelo trabalhador livre.
11) (Ufv) A respeito da escravidão no Brasil, é correto afirmar que:
a) a existência da chamada “brecha camponesa”, ou seja, a concessão para que os
escravos cultivassem um pedaço de terra nas horas vagas, foi um fator que
contribuiu para a alforria de grande contingente deles.
b) o escravo, mesmo de forma precária, estava dotado de direitos protetores
registrados em lei e respeitados pelo aparelho judiciário.
c) a abolição, mesmo tendo se processado de forma lenta, segura e gradual, foi
planejada e executada exclusivamente pelos setores liberais das classes domi-
nantes.
d) a abolição, ao eliminar a propriedade escrava, retirou o maior entrave econô-
mico e jurídico para a formação do mercado de trabalho assalariado, indispensá-
vel à consolidação das relações de produção capitalista no Brasil.
e) a composição sexual da população escrava, ao se tornar desproporcional,
dificultando a auto-reprodução, deveu-se muito mais aos hábitos sexuais dos
próprios africanos e não ao sistema escravista em si mesmo.
1) a) A “nuvem da emancipação” não parava de crescer naquela conjuntura porque
foi a partir da década de 1880 que o movimento abolicionista ganhou força com o
surgimento de associações, jornais e o avanço da propaganda construindo uma
opinião pública favorável à abolição da escravidão no Brasil. Por outro lado, nesse
mesmo momento, intensificaram-se as fugas coletivas e revoltas escravas. Em 1886
atuaram em São Paulo os chamados caifazes libertando os escravos das fazendas.
Todos esses fatores contribuíam para o crescimento da “nuvem da emancipação”.
No contexto internacional o Brasil figurava como a única nação escravista.
b) Ao longo da década de 1880 apegavam-se à escravidão os proprietários de terras
das zonas cafeeiras do Vale do Paraíba. Diante do crescimento do movimento
abolicionista os defensores dos interesses escravocratas colocavam-se contra o
crescimento da “nuvem da emancipação” argumentando que a abolição feria seu
direito de propriedade e que, portanto, deveria ser realizada com indenização.
Afirmavam, ainda, que a imediata libertação dos escravos provocaria a perturbação
da tranqüilidade e segurança pública.
2) a) A escravidão era um empecilho à criação de mercado. Seja nas áreas de expor-
tação (América) ou nas áreas partilhadas na África.
b) O movimento abolicionista e a participação do exército inspirado no positivismo
europeu.
3) [D]
4) [E]
5) [C]
6) [B]
7) [C]
8) [B]
9) [D]
10) [D]
11) [D]
7www.maloca.org.br
XVIII
A FA FA FA FA FORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃO DADADADADA R R R R REPÚBLICAEPÚBLICAEPÚBLICAEPÚBLICAEPÚBLICA
 O período compreendido entre a proclamação da República em 1889 e
a Revolução de 1930, foi tradicionalmente denominado de República Ve-
lha.
Nos últimos anos, o termo vem gradualmente sendo substituído por
Primeira República, porém, as interpretações sobre o período não sofre-
ram alterações significativas.
Alegoria da República, quadro de Manuel Lopes Rodrigues no acervo do Museu de Arte da
Bahia.
Caricatura simboliza os novos tempos: a República chegou à pátria brasileira
OS NOVOS ATORES
Nas últimas décadas do século XIX o regime monárquico viveu um
processo constante de crise, refletindo o surgimento de novos interesses
no país, associados a elite cafeeira, aos militares, às camadas urbanas e aos
imigrantes, que representavam a nova força de trabalho.
O movimento que eliminou a monarquia no país foi comandado pelo
exército, associado à elite agrária, particularmenteos cafeicultores do oeste
paulista. Estes últimos, há duas décadas haviam organizado um partido
político, o PRP - Partido Republicano Paulista - que não apenas defendia o
ideal republicano, mas também a fim da escravidão e o federalismo que
garantiria a autonomia estadual. Foi desta maneira que a elite cafeeira pro-
curou conquistar o apoio dos setores urbanos, de diferentes classes e das
elites regionais.
Apesar de dividido em facções, os republicanos históricos, chamados
evolucionistas, eram predominantes e defendiam mudanças graduais, sem
a participação popular no movimento, procurando marginaliza-la não só
da ação, mas principalmente da construção do novo modelo político. Eram
admitidos pelos monarquistas, pois defendiam o respeito a ordem públi-
ca, muitos eram cafeeicultores e alguns ainda possuiam escravos; julgavam
que chegariam ao poder disputando as eleiçoes com os partidos tradicio-
nais e percebiam a enorme importância que tinha o governo como instru-
mento de ação econômica. Seu principal líder era Quintino Bocaíuva.
Os militares por sua vez haviam angariado grande prestígio após a Guerra
contra o Paraguai, momento a partir do qual o exército passou a se
estruturar, destacando a importância das escolas militares, que foram res-
ponsáveis pela formação ideológica da maioria dos soldados, das grandes
cidades, a partir da ideologia positivista, base para a participação política
cada vez mais ativa dos militares.
Dentro do exército brasileiro destacou-se Benjamim Constant, profes-
sor da Escola Militar, acusava o ministério imperial de falta de patriotismo,
por ter punido militares que se recusavam a capturar negros foragidos e
criticavam pela imprensa os desmandos de políticos corruptos.
O positivismo é uma ideologia que desenvolveu-se na França e ganhou
o mundo ocidental, tornando-se predominante já no final do século XIX.
O nome vem da obra de Augusto Comte, "Filosofia Positiva", quando o
autor faz uma análise sobre o desenvolvimento de seu país ao longo do
século, atribuído à indústria e a elite industrial, grupo esclarecido e capacita-
do, que, se foi o responsável pelo progresso econômico, deveria ser o
responsável pelo controle do Estado. Para Comte, caberia a elite governar,
enquanto caberia ao povo trabalhar. Trabalhar sem reivindicar, sem se or-
ganizar e sem protestar, pois "só o trabalho em ordem é que pode deter-
minar o Progresso", nascendo daí o lema de sua filosofia, que os militares
escreveram na bandeira brasileira, após o golpe de 15 de novembro.
Proclamação da República, 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo
da Pinacoteca Municipal de São Paulo.
Existe uma tendência de se considerar que "os militares" proclamaram a
República, ou que, sem os militares, não haveria república.
Primeiro é importante lembrar que havia nas camadas urbanas uma
forte disposição a favor do movimento republicano; segundo, havia um
forte partido político, representando a nova elite agrária, disposta a chegar
ao poder, mesmo de forma moderada; terceiro, é necessário lembrar que,
apesar de existir o "espírito de corpo" entre os militares e que a ideologia
positivista era cada vez mais forte dentro do exército, este encontrava-se
dividido e existiam as disputas internas ao mesmo.
Os militares, de uma forma geral, rechaçavam os políticos civis, porém
perceberam que era necessária uma aliança com os evolucionistas, pois
garantiriam dessa maneira o fim da monarquia, mas a manutenção da
"ordem".
Monarquista convicto, Deodoro enfrentava problemas políticos com
parte do ministério imperial e também dentro do exército. Participou do
movimento republicano a partir da crença de que D. Pedro II já não gover-
nava e que o ministério comandado por Ouro Preto pretendia fortalecer a
8
Guarda Nacional, e enfraquecer o exército.
No dia 11 de novembro civis e militares organizaram o levante, cuja idéia
encontrou a oposição de Floriano Peixoto.
O governo provisório criado após o golpe, foi comandado pelo Mare-
chal Deodoro da Fonseca
A ESPADA
República da Espada foi a denominação dada ao período que compre-
ende desde 15 de novembro até o final do governo do Marechal Floriano
Peixoto, em 1894. Durante este período, dois militares governaram o país;
daí a origem do nome: espada.
No entanto, apesar de Deodoro e Floriano serem homens do exército e
possuírem o "espírito de corpo" do militar, não podemos dizer que tive-
mos no Brasil dois governos militares, mesmo considerando a tendência
centralizadora dos mesmos.
Bandeira provisória da República, que foi adotada durante 4 dias apenas
Apesar das contradições que marcaram esses dois primeiros governos
do Brasil republicano, e de, muitos pretenderem a continuidade do "poder
militar", a renúncia de Deodoro e a retirada de Floriano, mostram a força
dos grandes cafeeicultores e de setores ligados a exportação. Esa força se
mostrava crescente desde a proclamação da República e era percebida tam-
bém entre os políticos civis: a política "industrialista" de Rui Barbosa,
baseada no emissionismo, encontrou forte oposição das oligarquias, prin-
cipalmente a paulista
Durante o governo provisório, encabeçado pelo marechal Deodoro, o
país conheceu um processo de "modernização institucional", destacando-
se a separação entre Estado e Igreja, sendo que muitas funções civis, até
então controladas pela Igreja Católica, passaram para o poder público; ao
mesmo tempo os deputados elaboravam a nova constituição, que foi
promulgada em fevereiro de 1891, consagrando em seus pontos funda-
mentais:
 O federalismo, que garantia autonomia aos estados para elaborar sua
própria Constituição, eleger seu governador, realizar empréstimos no ex-
terior, decretar impostos e possuir suas próprias forças militares;
 O presidencialismo, o chefe da federação seria o Presidente da República,
com poderes para intervir nos estados quando houvesse um tendência
separatista, invasão estrangeira ou conflitos entre os estados;
 O regime representativo, o Presidente da República e os governadores
estaduais, assim como todos os membros do Poder Legislativo, em to-
dos os níveis, seriam eleitos diretamente pelo povo, excluídos os analfabe-
tos, as mulheres, os soldados, e os menores de idade.
A CRISE POLÍTICA
Promulgada a Constitiuição, Deodoro foi eleito pelo Congresso Nacio-
nal numa votação marcada por ameaças de intervenção militar. No entan-
to, neste episódio percebe-se que o próprio exército não era uma força
coesa, pois o Marechal Floriano concorreu a Vice presidente apoiando o
candidato das oligarquias, Prudente de Moraes. Apesar da derrota de Pru-
dente, o marechal Floriano foi eleito vice presidente. (Pela Constituição de
1891 a eleição para presidente e vice eram separadas e podiam ser eleitos
candidatos de chapas diferentes). Durante o governo Deodoro a crise po-
lítica agravou-se e foi marcada de um lado pelo autoritarismo e pelo
centralismo de Deodoro, e por outro, pela oposição exercida pelos grandes
fazendeiros através do Congresso Nacional, apoiados por parte do exérci-
to. Em novembro de 1891 Deodoro decretou o fechamento do Congres-
so Nacional, dois pretextos foram utilizados, a aprovação da Lei de Res-
ponsabilidade do presidente da República, que poderia sofrer
impeachement e ser afastado do cargo, em certos casos e a greve da Central
do Brasil; porém, sem apoio social, e sofrendo forte oposição da Marinha,
não conseguiu manter o poder, renunciando no dia 23 do mesmo mês.
O governo de Floriano Peixoto foi marcado pelo apoio do Congresso
Nacional ao presidente, que, apesar de centralizador e autoritário, gover-
nou para fazer valer a Constituição recem promulgada e consolidar a Repú-
blica.
Do ponto de vista econômico herdou a inflação provocada pelo
encilhamento e executou timidamente medidas protecionistas em relação
à indústria, assim como a facilitação ao crédito, com a preocupação de
controlar a especulação. Do ponto de vista político, reprimiu as principais
revoltas que ocorreram no país e foram apresentadas como subversivas ou
monarquistas:a Revolta da Armada e a Revolução Federalista no Rio Grande
do Sul.
O fato de ser encarado como responsável por consolidar a República não
significa que seu governo tenha sido marcado pela estabilidade. Ao contrá-
rio, várias manifestações contrárias ao governo ocorreram. No início de seu
governo, o Marechal Floriano enfrentou oposição dentro do próprio exér-
cito, marcada pelo manifesto dos 13 generais, que contestava a legitimida-
de de seu governo, ao mesmo tempo, enfrentava os problemas derivados
dos estados, onde as oligarquias locais disputavam o poder e uma fatia
dos benefícios econômicos que pudessem ser retirados do governo fede-
ral.
A principal rebelião regional ocorreu no Rio Grande do Sul, onde a luta
pelo poder colocou frente a frente os pica-paus, "repúblicanos históricos"
liderados por Júlio de Castilhos, e os maragatos, liderados pelo monar-
quista Silveira Martins, do Partido Federalista Brasileiro.
Os maragatos eram defensores de uma reforma constitucional, adotan-
do-se o parlamentarismo e opunham-se ao governo de caráter ditatorial
de Júlio de Castilhos.
Floriano pendeu para o lado dos pica-paus, apesar de Castilhos ter apoi-
ado o golpe de Deodoro em 1891. Floriano precisava do apoio da bancada
gaúcha no Congresso Nacional.
Em setembro de 1893 começou a Segunda Revolta da Armada, com o
Almirante Custódio de Melo tentando reeditar o movimento que culmi-
nou com a renúncia de Deodoro. Apoiado no exército e no Congresso
Nacional que votou o "estado de sítio", o presidente executou forte repres-
são aos revoltosos, que se retiraram para o sul e instalaram um governo
em Desterro, capital de Santa Catarina; em outubro as forças da marinha se
unem aos federalistas do Rio Grande do Sul e no início do ano seguinte
dominam Curitiba.
A repressão do governo caracterizou-se pela extrema violência, e tanto
os marinheiros como os federalistas gaúchos foram derrotados, amplian-
do o prestígio e poder de Floriano. Mesmo tentado a permanecer no
poder, Floriano percebeu que não teria o apoio da elite cafeeira de São
Paulo e que não conseguiria enfrentar a elite econômica do país. Com a
posse de Prudente de Moraes terminava a "República da Espada".
1) (Unicamp) “Quando, na madrugada de 15 de novembro de 1889, uma revolta
militar depôs Pedro II, ninguém veio em socorro do velho e doente imperador. A
espada do Marechal Deodoro da Fonseca abria as portas da República para que por
ela passassem os republicanos carregando um novo rei: o café de São Paulo.”
(Adaptado de I. R. Mattos, HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO)
a) De que maneira se explica o isolamento político de Pedro II?
b) Por que o texto afirma que, na República recém-proclamada, o café se
tornava um “novo rei”?
9www.maloca.org.br
2) (Fuvest) “A exclusão dos analfabetos pela Constituição republicana (de 1891)
era particularmente discriminatória, pois, ao mesmo tempo retirava a obrigação
do governo de fornecer instrução primária, que constava do texto imperial, e
exigia para a cidadania política uma qualidade que só o direito social da educa-
ção poderia fornecer... .”
(OS BESTIALIZADOS, José Murilo de Carvalho)
a) Que relação o texto estabelece entre ensino público e exercício da cidadania
política durante a Primeira República (1889 - 1930)?
b) O que a atual Constituição dispõe a respeito desta relação?
3) (Unicamp) “O Brasil não tem povo, tem público.”
(Lima Barreto)
Esta frase sintetiza ironicamente, para o autor, a relação entre o Estado republi-
cano e a sociedade brasileira.
O que Lima Barreto quis dizer com essa afirmação?
4) (Unicamp) No final do século XIX monarquistas e republicanos disputavam
sobre a criação de datas e personagens significativos que simbolizassem o “nas-
cimento da nação”. Para os monarquistas, o Brasil-nação nascia com o “grito”
de D. Pedro I. Para os republicanos, Tiradentes executado pela monarquia
portuguesa era o verdadeiro herói nacional.
(Adaptado da série REGISTROS, n° 15, DPH, 1992)
a) Explique os motivos da divergência entre monarquistas e republicanos apon-
tada no texto anterior.
b) Por que, a partir da República, a imagem esquartejada de Tiradentes é aban-
donada e substituída por sua imagem viva e de corpo inteiro.
5) (Unicamp) Após a proclamação da República, uma nova bandeira nacional
foi criada para substituir a antiga bandeira do Império. O lema da nova bandeira
era Ordem e Progresso.
a) Por que o governo republicano determinou que se substituísse a antiga bandeira?
b) Explique por que, naquele momento, era importante para o governo republi-
cano demonstrar sua preocupação com a ordem pública e seu compromisso com
o progresso.
6) (Fuvest-gv) O lema “Ordem e Progresso” inscrito na bandeira do Brasil,
associa-se aos:
a) monarquistas. b) abolicionistas. c) positivistas.
d) regressistas. e) socialistas.
7) (Fatec) O marechal Floriano Peixoto, em sua política econômico financeira,
a) orientou-se no sentido de apoiar a lavoura, principalmente a cafeeira, cuja
situação era precária devido à diminuição da demanda nos mercados internacio-
nais.
b) procurou combater a inflação, contando para isso com a colaboração de seu
Ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho.
c) buscou particularmente a diversificação de produtos agrícolas, buscando
substituir o café pelo algodão, cacau e açúcar, como produtos básicos de nossa
economia exportadora; como conseqüência ocorreram rebeliões contra o gover-
no central, promovidas pela oligarquia cafeicultora paulista.
d) orientou-se no sentido de promover a industrialização do país através de uma
política de empréstimos e financiamentos.
e) visando a diminuir a dívida externa do Brasil, pagou a maior parte de nossos
débitos no exterior, principalmente junto aos Estados Unidos.
8) (Fuvest) Caracteriza o processo eleitoral durante a Primeira República, em
contraste com o vigente no Segundo Reinado:
a) a ausência de fraudes, com a instituição do voto secreto e a criação do
Tribunal Superior Eleitoral.
b) a ausência da interferência das oligarquias regionais, ao se realizarem as
eleições nos grandes centros urbanos.
c) o crescimento do número de eleitores, com a extinção do voto censitário e a
extensão do direito do voto às mulheres.
d) a possibilidade de eleições distritais e a criação de novos partidos políticos
para as eleições proporcionais.
e) a maior participação de eleitores das áreas urbanas ao se abolir o voto censitário
e se limitar o voto aos alfabetizados.
9) (Fuvest) Com a instalação da República no Brasil, algumas mudanças funda-
mentais aconteceram. Entre elas, destacam-se:
a) a militarização do poder político e a universalização da cidadania.
b) a descentralização do poder político e um regime presidencialista forte.
c) um poder executivo frágil e a criação de forças públicas estaduais.
d) a aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos e a instituição do voto
secreto.
e) a fundação do Banco do Brasil e a descentralização do poder político.
10) (Mackenzie) “Policarpo era um patriota; monarquista conservador, foi ar-
doroso defensor do governo (forte) de Floriano a favor do qual engajou-se na
luta contra a Armada rebelada. Acabou preso, condenado e executado. Teve um
triste fim.”
(Afonso H. Lima Barreto, TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA).
O período da República referido no texto é:
a) a República da Espada. b) o Estado Novo.
c) a República dos Coronéis. d) a República Nova.
e) a Fase Populista.
11) (Uerj)
(Apud FAUSTO, Boris. HISTÓRIA DO BRASIL. São Paulo: Edusp, 1995.)
“Glória à pátria!”, dizia a “Revista Illustrada”, um dia após a proclamação da
República no Brasil, numa comemoração que representava o desejo de mudan-
ças que trouxessem ampliação dos direitos políticos e da cidadania.
No que se refere ao exercício dos direitos políticos, a primeira Constituição
republicana - de 1891 - tem como uma de suas características:
a) o direito de cidadania às mulheres, pela introdução do voto feminino
b) a exclusão das camadas populares, com a instituição de sistema eleitoral
direto
c) o aumento do colégio eleitoral, pela atribuição do direito devoto aos analfa-
betos
d) a possibilidade do controle dos eleitores pelos proprietários rurais, através do
voto aberto
12) (Unesp) A República brasileira emergiu no auge de um processo cujas raízes
se encontravam no II Reinado. Assinale a alternativa INCORRETA:
a) A campanha abolicionista acabou por se confundir com a campanha republi-
cana.
b) Nos termos da primeira Constituição Republicana o Brasil era uma República
Federativa Presidencialista e o Estado permaneceu atrelado à Igreja.
c) Para certos segmentos da sociedade, entre eles os cafeicultores, a forma
republicana de governo era concebida como moderna, avançada e mais eficien-
te.
d) No primeiro aniversário da implantação do regime republicano foi instalado
o Congresso Constituinte e em 24/02/1891 foi promulgada a Constituição.
e) Os militares, influenciados pelas idéias do positivismo, uniram-se à camada
média da sociedade contra os monarquistas.
1) a) Os setores que davam sustentação ao imperador deixaram de apoiá-lo (exército,
igreja e aristocracia).
b) Por ser o principal produto de exploração e seus produtores controlariam o país.
2) a) O ensino público não era gratuito, impedindo que grande parcela da população
fosse alfabetizada e, portanto, tivesse direito ao voto.
b) Na atual constituição a alfabetização não é empecilho importante do desenvolvi-
mento nacional.
3) A população brasileira “assistiu” ao nascimento da república, não tendo participa-
ção ativa.
4) a) A Inconfidência Mineira tinha um caráter republicano, enquanto que Dom
Pedro I instalou a monarquia.
b) Porque até então Tiradentes era tido como um homem a ser usado como castigo
exemplar e foi restaurado.
5) a) Para assinalar a mudança do regime.
b) Para diferenciar os dois regimes, demonstrando as vantagens do novo regime e
garantir que essa mudança ocorresse sem perturbações.
6) [C] 7) [A] 8) [E] 9) [B] 10) [A] 11) [D] 12) [B]
10
XIX
O DO DO DO DO DECLÍNIOECLÍNIOECLÍNIOECLÍNIOECLÍNIO DASDASDASDASDAS VELHASVELHASVELHASVELHASVELHAS O O O O OLIGARQUIASLIGARQUIASLIGARQUIASLIGARQUIASLIGARQUIAS
Estudamos até aqui o processo de consolidação do sistema republicano
no Brasil. No entanto, nas primeiras décadas do século XX, a república das
oligarquias já dava sinais de esgotamento. O longo período de hegemonia
das elites paulista e mineira acabou, por outro lado, gerando descontenta-
mento das elites de outros estados e de grupos urbanos que se fortaleciam
naquele momento.
O CRESCIMENTO DO OPERARIADO
O mandato presidencial de Venceslau Brás (1914-1918), mineiro de
Itajubá, coincide com a Primeira Guerra Mundial, obrigando um maior
investimento no parque industrial nacional devido à drástica redução das
exportações dos países industrializados.
A quantidade de operários nas grandes cidades sofre um aumento con-
siderável, fazendo surgir novos sindicatos. Reivindicando melhoria nos
salários e nas condições de trabalho - reconhecimento de direitos trabalhis-
tas, sindicais e previdenciários -, o movimento operário intensifica sua
mobilização através das greves. São Paulo foi palco da primeira greve geral,
em 1917, que chegou ao interior do estado e se expandiu por outras
regiões, sendo violentamente reprimida pela polícia.
 Operária discursa em manifestação na praça da Sé, São Paulo, em 1o de maio de 1915.
A imprensa operária também teve um crescimento expressivo no perío-
do, divulgando os ideais anarquistas, anarco-sindicalistas e comunistas.
Entre eles, destacam-se os periódicos anarquistas La Battaglia (1904-1912)
e La Barricata (1904-1919) e o jornal socialista Avanti (1900-1915).
1922 E O QUESTIONAMENTO DAS VELHAS ESTRUTURAS
O crescimento da população urbana fez surgir movimentos sociais e
culturais questionadores da ordem estabelecida. Nessa perspectiva, o ano
de 1922 foi emblemático, marcando as primeiras manifestações do movi-
mento Tenentista, a fundação do Partido Comunista Brasileiro e a Semana
de Arte Moderna.
O TENENTISMO
De 1919 a 1922, eleito com apoio das oligarquias paulista e mineira, o
presidente paraibano Epitácio Pessoa moderniza o exército, aumentan-
do sua influência nacional. Os jovens oficiais são NACIONALISTAS e
questionam o jogo de interesses das elites civis. Os tenentes, oficiais de
baixa patente, encampam um movimento pela moralização política, de-
fendendo o voto secreto, a centralização política e a criação do ensino obri-
gatório.
Em 1922, uma nova eleição presidencial foi alvo de denúncias de fraude.
O cargo foi disputado por Artur Bernardes, com o apoio das oligarquias
de São Paulo e Minas, e Nilo Peçanha, com apoio do Rio Grande do Sul,
Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Ainda que também movido por
interesses de grandes oligarquias, esse segundo candidato pregava em sua
campanha a moralização da política nacional, discurso que ia de encontro
aos anseios de setores descontentes, como as ascendentes camadas médias
urbanas e os tenentes. O resultado da eleição, dando a vitória a Artur
Bernardes, é o estopim para a primeira grande rebelião tenentista, conheci-
da como a Revolta do Forte de Copacabana. Bernardes decretou estado
de sítio, reprimindo as manifestações, e tomou uma série de medidas
conservadoras e autoritárias, como a reedição da “Política das Salvações” de
Hermes da Fonseca, restrições à liberdade de imprensa e a reforma consti-
tucional de 1926 fortalecendo o poder do presidente.
O movimento tenentista não contava com a participação popular. Elitista,
propunha a moralização da política nacional sem ferir os interesses dos
grupos mais poderosos, principalmente no setor industrial.
Em 1924 ocorre um novo levante militar, dessa vez em São Paulo. A
segunda grande revolta tenentista foi comandada pelo General Isidoro
Dias Lopes e, tomando a sede do governo estadual – o palácio dos Cam-
pos Elíseos -, chegou a controlar a cidade por 23 dias. O governo federal
cercou a cidade e a bombardeou até a rendição. Os tenentes rebeldes aban-
donaram a cidade buscando refúgio na Argentina e no Paraguai.
No Rio Grande do Sul, grupos militares liderados por Luís Carlos Pres-
tes partiram em direção ao norte para dar apoio aos paulistas. Reuniram-se
em Foz do Iguaçu, onde, perseguidos por tropas do governo, dividiram-
se em dois grupos. O primeiro, sob a liderança do General Isidoro, buscou
refúgio político nos países vizinhos citados. Liderado por Prestes, o se-
gundo grupo passou pelo Paraguai para em seguida retornar ao Brasil,
entrando pelo Mato Grosso. A Coluna Prestes, como ficou conhecida,
percorreu, ao longo de dois anos, cerca de 25 mil quilômetros. Após esse
período, em 1927, sempre perseguidos pelo governo, os integrantes so-
breviventes – menos da metade dos 1500 do grupo original – buscaram
asilo na Bolívia.
O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
O êxito da Revolução Russa, em 1917, repercutiu também no movi-
mento operário emergente no Brasil. Grupos comunistas se fortaleciam
nas principais cidades do país. Em 1922, foi fundado o Partido Comunis-
ta Brasileiro. Em 1930 contava com cerca de 1000 militantes, entre eles o ex-
líder do movimento tenentista Luís Carlos Prestes.
A SEMANA DE ARTE MODERNA
A ruptura com uma velha ordem estabelecida, ansiada por vários gru-
pos descontentes, teve seu momento mais significativo no terreno artísti-
co com a Semana de Arte Moderna. Reunidos no Teatro Municipal de São
Paulo, espaço cedido pelo então prefeito Washington Luís, por três dias
em fevereiro de 1922, artistas e intelectuais, principalmente paulistas, orga-
nizaram um evento marcado pela contestação dos padrões estéticos dita-
dos desde a segunda metade do século XIX. Tendo entre seus principais
expoentes nomes como Mário e Oswald de Andrade, os modernistas
procuravam a ruptura com uma certa tradição artística, buscando novas
maneiras de pensar e exprimir o Brasil.
Unânimes quanto à contestação do “passadismo”, representado mais
marcadamente pela poesia parnasiana e pelo romantismo nas artes plásti-
cas e na literatura, os modernistas deram início a diferentes propostas
artísticas. Oswald de Andrade, com o seuManifesto Antropofágico,
propunha a negação à assimilação obediente da cultura européia, e uma
reinterpretação dessa cultura a partir da realidade brasileira. Em sentido
bastante diferente, Plínio Salgado e Cassiano Ricardo deram origem ao
Verde Amarelismo, corrente nacionalista de tendências fascistas, precur-
sora do Integralismo.
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WASHINGTON LUÍS E O FIM DA REPÚBLICA DO CAFÉ-
COM-LEITE
Washington Luís, carioca, fez sua carreira política em São Paulo e gover-
nou o país entre 1926 e 1930. Seu mandato caracterizou-se pelo clima de
esperança de apaziguamento das lutas partidárias e levantes militares, já
que, entre as primeiras medidas estava o fim do estado de sítio, o
restabelecimento da liberdade de imprensa e a libertação de jornalistas
presos no governo anterior.
Contudo, as manifestações operárias continuaram sendo violentamente
reprimidas e os revolucionários civis e militares que ameaçaram o governo
de Artur Bernardes não foram anistiados. A promulgação da Lei Celerada,
em 1927, foi mais um exemplo do autoritarismo desse governo: sob
pretexto de combater o comunismo, a lei restringia as organizações operá-
rias, permitia a intervenção e o fechamento de sindicatos e associações que
fossem consideradas subversivas e proibia a divulgação de obras tidas
como lesivas à segurança, à ordem e à moral.
Conhecido pelo lema “governar é abrir estradas”, o governo de Wa-
shington Luís investiu na construção de estradas de rodagem. Além disso,
propôs uma Reforma Financeira, buscando estabilização cambial e co-
locação no mercado de uma moeda forte (conversível em ouro).
Charge de César Lobo, extraída de Novaes, Carlos Eduardo. História do Brasil para
Principiantes - SP: Ática, 1998, p.220.
Essa política, favorecendo empresários e cafeicultores, foi bem sucedida
até outubro de 1929, com o crack da Bolsa de Nova Iorque. Para o Brasil,
cuja economia se assentava na agroexportação do café, os efeitos dessa crise
foram brutais. Diretamente afetados, os cafeicultores procuraram obter
apoio do governo, mas não era mais possível prorrogar as dívidas ou
conceder-lhes novos empréstimos.
Cresce, neste momento, o desgaste entre o presidente e as elites agrárias
paulistas, facilitando o processo que levaria à tomada do poder pelas opo-
sições.
A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 1929 E O GOLPE DE
1930
Em 1929, tem início a campanha sucessória de Washington Luís. A
indicação deveria ser feita a um mineiro (o governador Antônio Carlos),
mas o presidente preferiu apoiar a candidatura do paulista Júlio Prestes,
rompendo com a política do café-com-leite.
Antônio Carlos aproximou-se, então, das oligarquias gaúchas, articulan-
do com elas a candidatura de Getúlio Vargas (ex-ministro da Fazenda de
Washington Luís e governador do Rio Grande do Sul). Formaram a Ali-
ança Liberal, composta também por políticos da Paraíba. A chapa teve
Getúlio Vargas para presidente e João Pessoa para vice, conquistando apoio
das camadas urbanas e das oligarquias dissidentes (principalmente os te-
nentes) com plataforma política que, entre outros pontos, contemplava:
 Voto secreto;
 Anistia;
 Voto feminino;
 Regulamentação do trabalho da mulher e do menor;
 Jornada de oito horas de trabalho;
 Incentivo à produção nacional.
Em mais uma eleição fraudulenta, o resultado foi a vitória de Júlio
Prestes.
Provocada, a ala jovem de políticos civis (Oswaldo Aranha, Lindolfo
Collor, Assis Brasil, entre outros) contestava os resultados da eleição e
iniciou a articulação da revolução.
Enquanto isso, as oligarquias que se encontravam na oposição, embora
discursassem contra um golpe militar (João Pessoa afirmava: “Prefiro dez
Júlio Prestes a uma revolução”), decidiram apoiar o movimento revoluci-
onário.
Contribuindo para a crise do momento, João Pessoa foi assassinado em
um atentado até hoje não esclarecido.
Estourava a Revolução em 3 de outubro de 1930, no Rio Grande do Sul
e em Minas Gerais e no dia seguinte na Paraíba. No dia 24 de outubro, o
Alto Comando das Forças Armadas impediu a posse de Júlio Prestes.
Vargas seria empossado presidente provisório da República.
1) (Fuvest) “As fábricas devoram a vida humana desde os 7 anos de idade. Sobre as
mulheres pesam, de ordinário, trabalhos tão árduos quanto os dos homens; não recebem
senão salários reduzidos. Equiparam-se aos adultos, para o trabalho, os menores de 14 e
12 anos... O horário, geralmente, nivela sexos e idades, entre os extremos habituais de nove
a dez horas cotidianas de canseira”.
(Rui Barbosa, A Questão Social e Política no Brasil, 1919).
a) Indique os principais problemas sociais apontados pelo texto.
b) Relacione-os com as idéias, reivindicações e formas de luta dos operários, na
década de 1910, em São Paulo.
2) (UFSCar) A industrialização brasileira foi um processo que no século XX,
atravessou momentos favoráveis e desfavoráveis a seu desenvolvimento.
Explicite os vínculos entre a economia cafeeira na Primeira República, a Pri-
meira Guerra Mundial e a industrialização ocorrida no período.
3) (Vunesp) Um líder anarquista assim se manifestou sobre a greve geral dos
operários de 1917 em São Paulo: “Diga se antes de tudo que a greve geral de
1917 não pode de maneira alguma se equiparar, sob qualquer aspecto que seja
examinada, com outros movimentos (...) Isso não, absolutamente não! A greve
geral de 1917 foi um movimento espontâneo do proletariado sem interferência,
direta ou indireta, de quem quer que seja. Foi uma manifestação explosiva,
conseqüente de um longo período de vida tormentosa que então levava a classe
trabalhadora”.
(Edgard Leuenroth, O Estado de S. Paulo, 27/03/1966).
Com base nesse depoimento:
a) Destaque, copiando a parte do texto que evidencia as idéias anarquistas do
referido líder;
b) Caracterize as condições de trabalho da classe operária no decorrer da Repú-
blica Velha, demonstrando a sua “vida tormentosa”.
4) (Vunesp) A década de 1920 no Brasil foi marcada por expressivos movimen-
tos políticos e culturais. São daquele período:
a) Semana de Arte Moderna e formação da Aliança Liberal.
b) Movimento tenentista e Convênio de Taubaté.
c) Formação da Aliança Liberal e Campanha da Cisplatina.
d) Formação do Partido Comunista Brasileiro e Convênio de Taubaté.
e) Campanha da Cisplatina e Semana de Arte Moderna.
5) (Unicamp) No dia 24 de junho de 1922, a sede do Clube Militar do Rio de
Janeiro viveu uma de suas sessões mais agitadas. O clima nacional era tenso,
expressando descontentamento civil e militar em relação à situação política do
país, em particular a eleição presidencial de Arthur Bernardes. O ponto culmi-
nante dessa agitação ocorreu nos quartéis e nas colunas armadas.
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a) Nomeie esse movimento militar.
b) Dê as suas características.
6) (Vunesp) “Ao despontar do século XX, quase que alheios à evolução da cultura
brasileira e com certo atraso, vários estilos europeus continuavam chegando ao Brasil.
Coube ao Movimento de 22 imprimir, de modo ruidoso, uma reviravolta e novo rumo à
criação cultural brasileira”.
A partir do texto acima, estabeleça os vínculos entre as transformações urbanas
e o fenômeno cultural denominado Semana de Arte Moderna.
7) (UFF-RJ) “Só a antropofagia nos une (...) Tupi, or not Tupi, that is the question
(...) contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável
da vida (...). Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O índio vestido
de senador do império (...) Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é
contra ela que estamos agindo. Antropófagos”.
(Oswald de Andrade. Manifesto antropófago, SP, 1928).
O trecho revela alguns dos princípios orientadores do Modernismo brasileiro
iniciado em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Sua interpretação sugere:
a) A expressão do Modernismo como aceitação dos padrões estéticos classicistas
e da arte internacional.
b) Uma declaração de princípios nacionalistas que criticam a incorporação da
cultura americana e o Estado Novo.
c) A associação da Antropofagia ao Modernismo como uma das correntes em
que este se dividiu, internamente,opondo-se ao Romantismo.
d) A consideração da Antropofagia como um processo de devoração cultural
das técnicas autenticamente nacionais, visando a reelaborá-las.
e) A acentuação do caráter de busca da identidade nacional do Modernismo pela
valorização das raízes brasileiras.
8) (Fuvest) A revolução de 1924, movimento tenentista, relacionou-se:
a) Aos desejos de reformas econômicas e sociais de caráter socialista que acarre-
tassem a superação da República oligárquica e elitista.
b) A violência praticada pelos governos republicanos controlados pelas oligar-
quias paulista e mineira contra lideranças operárias e camponesas.
c) Aos anseios por reformas políticas moralizadoras de cunho liberal que não se
chocavam com os princípios de ordenação constitucional da República.
d) Ao caráter conservador do governo Epitácio Pessoa, cuja política repressiva
desencadeou o movimento de intervenção federal nos estados oposicionistas.
e) À luta pela superação do caráter espoliativo da economia brasileira, visando
obter maior prestígio no conceito internacional.
9) “(...) Washington Luís viu-se, no final do seu governo, diante de uma situação difícil. Se
até os grupos mais poderosos do capitalismo internacional estavam enfrentando obstáculos
econômicos, o Brasil, dependente das variações do preço do café, um produto secundário,
encontrava-se em situação ainda mais grave. Diante desse quadro, e querendo preservar a
influência de São Paulo na política, o presidente rompeu com a rotina eleitoral do café-com-
leite”.
(Antonio Paulo Rezende e Maria Thereza Didier. Rumos da História: nossos tempos. O
Brasil e o mundo contemporâneo, v.3 - SP: Atual, 1996, p.229).
a) Identifique a crise mundial apontada no trecho acima.
b) Cite uma conseqüência dessa crise para a economia brasileira.
10) (Fuvest) Em linhas gerais, a Aliança Liberal, efetuada entre as forças políti-
cas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, para a eleição de 1930,
propunha:
a) Aproximação política com as Forças Armadas para a garantia de posse dos
eleitos.
b) Necessidade de incentivo à produção nacional em geral e exclusivamente à
do café.
c) Reorganização administrativa para garantir o princípio federalista.
d) Voto qualificado a todos os brasileiros maiores de 21 anos.
e) Inclusão em sua plataforma de todas as reivindicações tenentistas.
1) a) O texto faz referência à incorporação de crianças e mulheres ao mercado de
trabalho gerado pela mecanização da produção
decorrente da política de substituição das importações durante a Primeira Guerra
Mundial. Relata a super-exploração a que
se submetia esse tipo de mão-de-obra, a extensa jornada de trabalho e o aviltamento
do seu valor em função da ausência de
regulamentação e garantias formais, de resto também comum a toda classe operária.
b) O movimento operário brasileiro, que data do final do século passado, era
majoritariamente composto por elementos de
ideologia anarquista ou anarco-sindicalista. Suas aspirações restringiam-se ao espaço
da luta econômica por melhores
salários, redução da jornada de trabalho e liberdade de organização. A mais usual
forma de luta do proletariado de então era
o movimento paredista, como atesta a greve de junho/julho de 1917, no cotonifício
Crespi, em São Paulo.
2) a) A base da economia brasileira no período era a produção e comercialização do
café, que apresentou uma significativa queda nas suas exportações no período da
Guerra. A indústria brasileira, por sua vez, resumia-se a bens de consumo, que
encontrava limitações para sua expansão devidas à política agrarista do governo.
Entretanto, com a Primeira Guerra Mundial, o afluxo de produtos para o Brasil
reduziu-se, o que beneficiou as indústrias, levandoas a apresentar um crescimento
significativo no período.
b) Getúlio incentivou a produção nacional com uma política de substituição das
importações, além da instalação da indústria pesada, com a Cia. Siderúrgica
Nacional. Juscelino, porém, desejava associar os capitais estatais e privados nacionais
ao capital internacional, no chamado “capitalismo associado”, tendo como exemplo
a GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística.
3) a) "A greve geral de 1917 foi um movimento espontâneo do proletariado sem
interferência, direta ou indireta ..."
b) Sem condições de saúde pública, leis trabalhistas, direitos civis e forte exploração
da mão de obra.
4) a
5) a) Revolta dos 18 do Forte de Copacabana;
b) Suas caracteristicas eram: Tenentista, pretendiam reformas civis e o fim das
oligarquias no poder.
7) e
8) c
9) a) A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma
grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da
década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande
Depressão é considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do
século XX.
b) Os EUA comprava grande parte da produção de café do Brasil, com a crise os
EUA parou de importar o café, como ainda não havia um grande mercado interno
o Brasil estava muito fragilizado com a baixa na economia.
10) d
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XX
OOOOOSSSSS P P P P PRIMEIROSRIMEIROSRIMEIROSRIMEIROSRIMEIROS A A A A ANOSNOSNOSNOSNOS DADADADADA E E E E ERARARARARA V V V V VARGASARGASARGASARGASARGAS
O GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)
A posse de Getúlio Vargas representou o fim da hegemonia das oligar-
quias paulista e mineira no poder político brasileiro. Centrado na habilida-
de pessoal do novo presidente em aglutinar diversas forças políticas, o
governo distribuiu ministérios entre gaúchos e mineiros, destacando-se
Osvaldo Aranha (RS), Assis Brasil (RS), Lindolfo Collor (RS), Afrânio de
Melo Franco (MG) e Francisco Campos (MG). Alguns cargos também
foram atribuídos a políticos do Partido Democrático e da oligarquia
paraibana. Os tenentistas foram contemplados com o recém-criado cargo
de interventor, nomeado pelo presidente, substituindo os governadores
estaduais.
Não era possível, contudo, abandonar o setor cafeeiro, o economica-
mente mais poderoso do país. Criando o Conselho Nacional do Café
(CNC), o governo provisório passaria a comprar e estocar o produto em
1931, queimando o excedente.
A diminuição da procura pelo café no exterior provocou a escassez de
moeda estrangeira circulante no país, dificultando as importações e, conse-
qüentemente, estimulando o desenvolvimento da indústria brasileira, es-
pecialmente dos setores têxteis e processamento de alimentos.
O Brasil, até então apoiado num modelo econômico agrário-exporta-
dor, passou a ser pensado a partir de um novo modelo, de industrialização
por substituição de importações. Ao Estado caberia o papel fundamental
na criação de novas estruturas político-administrativas e legislativas volta-
das à modernização do país, como os ministérios da Educação e Saúde e
do Trabalho, Indústria e Comércio.
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 (SP)
A partir das mudanças propostas pelo novo governo, a elite paulista
passou a sentir-se marginalizada. O estopim para o rompimento foi a
disputa pelo cargo de interventor (distribuído entre os tenentes) pelos
civis paulistas. Em 1932, forma-se a FUP (Frente Única Paulista) - união
entre o PRP e o PD (Partido Democrático) contra o Governo Federal e pela
autonomia do estado de São Paulo.
Liderada pelo General Isidoro Dias Lopes e contando com apoio de
quase todos os segmentos sociais (a exceção era o operariado), a revolta
armada explodiria em 9 de julho de 1932, durando três meses. Derrotados
pelas tropas do governo, os revoltosos, contudo, não sofreram represálias.
Ao contrário, Vargas atendeu as reivindicações dos paulistas criando uma
nova constituição, nomeando um interventor paulista, fornecendo-lhes
ajuda financeira e reduzindo suas dívidas bancárias.
TEM INÍCIO A ERA DOS POPULISMOS
Getúlio Vargas foi o maior representante do populismo no Brasil. De-
senvolvido em meio à crise dos sistemas econômicos agro-exportadores e
do sistema político oligárquico, o populismo foi a forma de governo
encontrada por governantes latino-americanos para obterapoio da classe
trabalhadora e, ao mesmo tempo, controlá-la, de acordo com seus própri-
os interesses.
“Os regimes populistas apareceram como sistemas de transição que se esforçavam
para integrar as classes populares na ordem social e política por meio de uma ação do
Estado, voltada principalmente para os setores considerados ‘perigosos’ (organiza-
ções operárias ...).
O termo designa também um estilo de governo paternalista e ao mesmo tempo
autoritário, em que o clientelismo das massas se mostrou fundamental para a
manutenção deste tipo de Estado.”
MOTA, Myriam Becho. História - das cavernas ao terceiro milênio. SP: Moderna, 1997,
p.535.
Neste contexto, as primeiras leis trabalhistas brasileiras foram formula-
das entre 1932 e 1934, estabeleciam:
 Jornada de 8 horas;
 Regulamentação do trabalho infantil (proibido a menores de 14 anos) e
feminino (trabalho noturno proibido para menores de 16 anos e trabalho
nocivo proibido à mulheres e menores de 18 anos);
 Descanso semanal remunerado;
 Férias;
 Aposentadoria e pensões.
Buscando controlar o movimento operário, Vargas atuaria em seu prin-
cipal espaço de articulação, os sindicatos. A Lei de Sindicalização, aprovada
em 1931, criava o sindicalismo oficial, enquanto a ação dos sindicatos inde-
pendentes passava a ser restringida.
Charge de César Lobo extraída de Novaes, Carlos Eduardo. História do Brasil para
principiantes – SP, Ática, 1998.
CONSTITUIÇÃO DE 1934
Em 1933 a Assembléia Constituinte foi formada, tendo por base a
criação da justiça eleitoral, o estabelecimento do voto secreto (para maiores
de 18 anos e restrito aos alfabetizados) e o voto feminino.
Em julho de 1934, promulgou-se a nova Constituição que se caracteri-
zava pelo federalismo, presidencialismo e pelo vínculo ao mesmo tempo
liberal-democrático, corporativo e autoritário – incidindo sobre a família, a
saúde pública, o ensino primário público e o trabalho.
A eleição presidencial realizada após a constituição foi indireta. O Con-
gresso Nacional reelegeu Vargas para um mandato de mais quatro anos e
extinguiu o cargo de vice-presidente.
GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)
O período foi marcado pela luta entre dois grupos políticos com ideolo-
gias divergentes:
1) AIB (AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA)
Liderados por Plínio Salgado, os integralistas inspiravam-se no fascis-
mo, sendo anticomunistas, nacionalistas, defensores do Estado forte e
autoritário, bem como da existência de um partido único e da militarização
da sociedade (organizada por rígida disciplina). Seu lema: “Deus, Pátria e
Família”. O grupo contou com a adesão das classes médias urbanas, de
setores da elite e de militares mais reacionários.
2) ANL (ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA)
Seu presidente de honra era Luís Carlos Prestes (ex-militar e quadro de
confiança do Partido Comunista soviético no Brasil). Correspondiam à
frente de esquerda comandada pelo Partido Comunista Brasileiro, com-
posta por comunistas, líderes sindicais, facção tenentista, setores progres-
sistas das classes médias e populares e liberais anti-fascistas. Opondo-se ao
fascismo e ao imperialismo, a ANL defendia a implantação de um governo
popular que garantisse ampla liberdade de expressão, o fim do latifúndio
e proteção aos pequenos e médios proprietários, a nacionalização de em-
presas estrangeiras e o cancelamento da dívida externa.
Temendo um crescimento da oposição a seu governo, Vargas consegue
a aprovação de a Lei de Segurança Nacional que considerava criminosas as
associações ou partidos com propostas de subversão à ordem política ou
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social. A sede da ANL é fechada pelo governo em meados de 1935, sob
alegação de conter material “de caráter subversivo” e de ser controlada e
financiada por comunistas soviéticos.
LEVANTE COMUNISTA - NOVEMBRO DE 1935
Em reação ao fechamento da ANL, batalhões do exército liderados por
jovens oficiais ligados ao Partido Comunista Brasileiro promovem um
levante simultâneo em quartéis do Rio de Janeiro, Natal e Recife. Apoiado
na nova Lei de Segurança Nacional, Vargas decreta estado de sítio e sufoca
o Levante - chamado de “Intentona” (intento louco, plano insensato) Comu-
nista. Para isso, foi fundamental a aliança do governo com a elite agrária e
a burguesia industrial, que buscavam um estado forte que protegesse seus
negócios; com as classes médias temerosas quanto ao radicalismo da es-
querda, e com os trabalhadores urbanos satisfeitos com as leis trabalhistas.
Os líderes revolucionários foram presos, deportados e perseguidos, bem
como todos os setores da esquerda brasileira, enquanto Vargas iniciava a
prática do autoritarismo que marcaria o período seguinte. Sentindo-se
seguras com Vargas no poder, tanto as elites, como as camadas médias
urbanas e boa parte da classe trabalhadora permitiram o desenvolvimento
dessa forma de governo.
O GOLPE DE 1937
De acordo com a Constituição de 1934 deveria ocorrer eleição direta para
presidente em 1938. Durante os preparativos para as eleições, Vargas ma-
nifesta apoio ao candidato paraibano José Américo de Almeida. Os ou-
tros dois candidatos eram Plínio Salgado (Partido Integralista) e Armando
Salles Oliveira (oposição liberal).
Em setembro de 1937, o processo eleitoral é suspenso pelo anúncio,
por parte do exército, da descoberta de um plano, de autoria de um judeu,
de tomada ao poder pelos comunistas: o Plano Cohen.
O texto, contudo, havia sido escrito pela alta cúpula do serviço secreto da
Ação Integralista Brasileira (AIB) com funções didáticas de treinamento
das milícias integralistas no combate ao comunismo.
“O Plano foi datilografado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, chefe do estado-
maior das milícias integralistas, nas dependências do Estado-Maior do Exército,
onde pôde ser lido e visto por autoridades militares. O Plano simulava, de forma até
caricatural (...), o que seria um projeto judaico-comunista internacional para a
tomada do governo (...). Todavia, embora fosse uma peça frágil na opinião da AIB,
o documento foi apropriado por chefes militares, que, sem que o autor do Plano
fosse avisado, o divulgaram para a imprensa como sendo verdadeiro.”
Maria Celina D’Araújo O Estado Novo- RJ: Ed. Jorge Zahar, 2000, p.19.
Com apoio das Forças Armadas, Vargas encontra no Plano Cohen a
justificativa para o cancelamento das eleições e o fechamento do Congresso
em 10 de novembro de 1937. Alegando defender a nação da ameaça comu-
nista, rasga a Constituição de 1934 e, num golpe de Estado, impõe ao
Brasil a Ditadura do Estado Novo.
Responda as questões 1 a 3 com base nos textos a seguir:
Texto 1: Manifesto de Maio, 1930:
Somos governados por uma minoria que, proprietária das terras e das fazendas
e dos latifúndios e senhores dos meios de produção e apoiada nos imperialismos
estrangeiros que nos exploram e nos dividem, só será dominada pela verdadeira
insurreição generalizada, pelo levantamento consciente das massas das nossas
populações dos sertões e de nossas cidades.
Contra as duas vigas mestras que sustentam os atuais oligarcas, precisam, pois,
ser dirigidos os nossos golpes – a grande propriedade territorial e o imperialismo
norte-americano. Essas as duas causas fundamentais da opressão política em que
vivemos e das crises econômicas em que nos debatemos.
O governo dos coronéis, chefes políticos, donos da terra, só pode ser o que aí
temos: opressão política, exploração impositiva.
Luís Carlos Prestes
Texto 2: Declaração de Juarez Távora, maio, 1930:
Discordo do último manifesto revolucionário do general Luís Carlos Prestes.
Não creio na exeqüibilidade da revolução desencadeada pela massa inerme do
proletariado (...). A revolução possível no Brasil terá (...) de continuar a apoiar-
se nos mesmos meios em que tem sido alicerçada até aqui (...) deverá haver,
assim, lugar em suas fileiras (...) para o burguês e para o proletário.
1) Quais as principais idéias expressas em cada um dos textos?
2) Aponte a relação de cada um dos textos com o contexto internacional da
época.
3) Quais aspectos dos diferentes projetos para o Brasil apontados em

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