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A PESCA NO MUNICIPIO DE MARAPANIM E SUAS INFLUENCIAS SOCIO-ECONOMICAS E AMBIENTAIS FISHING IN THE MUNICIPALITY OF MARAPANIM AND ITS SOCIO-ECONOMIC AND ENVIRONMENTAL INFLUENCES CARLOS EDUARDO VASCONCELOS DOS SANTOS¹ RAPHAEL DE MACEDO HENRIQUES² ROSANA CONCEIÇÃO LOBATO DA SILVA³ UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA 1 Graduado do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: caloseduardo567@gmail.com - 2Graduado do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: raphaelmacedo77@yahoo.com – Alcindo cacela, 630. 3Graduado do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: rosanalobato97@gmail.com - BELÉM 2018 22 A PESCA NO MUNICIPIO DE MARAPANIM E SUAS INFLUÊNCIAS SOCIOECONOMICAS E AMBIENTAIS FISHING IN THE MUNICIPALITY OF MARAPANIM AND ITS SOCIO-ECENOMICS AND ENVIRONMENTAL INFLUENCES RESUMO A pesca é uma das atividades econômicas mais antigas realizadas pelo ser humano seja ela como uma forma de subsistência ou por valores econômicos. Este fato se torna mais relevante em comunidades de regiões costeiras. O presente trabalho teve como objetivo abordar a situação da pesca nas comunidades de Vista Alegre e Marudá no município de Marapanim, localizada na região do salgado paraense. A metodologia contou com visitas de campo às comunidades ribeirinhas locais, assim como a aplicação de formulários estruturados que abordavam os aspectos socioeconômicos, tecnológicos, a comercialização da pesca e o etnoconhecimento relacionado à atividade pesqueira. A partir das análises dos resultados, foi possível esclarecer sobre as condições ambientais sobre os recursos locais, bem como a condição de vida dos pescadores. Palavras-chave: Atividade pesqueira. Marapanim. Marudá. Vista Alegre. ABSTRACT Fishing is one of the oldest economic activities carried out by the human being either as a form of subsistence or by economic values, this fact becomes more relevant in communities of coastal regions. The present work had as objective to address the fishing situation in the communities of Vista Alegre and Marudá in the county of Marapanim, located in the state of Pará. The methodology included Field visits to the local riverside communities, as well as the application of structured forms that addressed the socioeconomic, technological, commercialization of fishing and the ethno-cognition related to the fishing activity.From the analyses of the results, it was possible to clarify the environmental conditions of the local resources, as well as the condition of life of the fishermen. keyword: Fishingactivity. Marapanim. Marudá. Vista Alegre. 1. INTRODUÇÃO Na Amazônia, desde o século XVII até o presente, a exploração desenfreada dos recursos pesqueiros num sistema de livre acesso tem levado a chamada “tragédia dos comuns” de Hardim, na qual os usuários esgotam os recursos naturais, beneficiando-se por um curto momento e prejudicando a sustentabilidade da exploração em longo prazo (TORRES; SILVA; YUIMACHI, 1996 apud FURTADO et al, 2006). O estado do Pará possui 34,5% dos 3.581.180 km² da Bacia Amazônica, correspondendo às águas interiores ou continentais, tendo um total de 20.512 km². A região costeira do estado se alastra por 562 km e conta com 123 comunidades pesqueiras artesanais, distribuídas ao longo de 17 municípios costeiros. A região é caracterizada pela presença de manguezais, igarapés, rios e lagos, o que dificulta o controle dos desembarques e a obtenção de dados estatísticos sobre a produção pesqueira. Além disso, possui mais de 20% do total de pescadores do Brasil, tendo um total de 78.000 como pescadores artesanais (CABRAL, 2002, p.40). Na região costeira do Pará, a pesca vem sendo prejudicada por diversos fatores, dentre elas a falta de uma política efetiva para um melhor ordenamento territorial que as populações possam se beneficiar dos recursos pesqueiros. Além do mais, a pesca assume papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico, contribuindo para a segurança alimentar e para o combate à pobreza, pois representa fonte vital de alimentos, ocupação de mão-de-obra e renda para as populações de todo o mundo e, especialmente, para países em desenvolvimento, como o Brasil (SANTOS, 2006). Conforme Santos (2005), a atividade da pesca artesanal no Nordeste Paraense caracteriza-se por ser desenvolvida com regularidade, sendo que 88,4% dos municípios a desenvolvem de modo contínuo, ou seja, durante o ano todo. O município de Marapanim integra a região do Salgado Paraense que, juntamente como os demais municípios situados no litoral do Estado, são responsáveis por cerca de 20% da produção estadual de pescado, apresentando como principal fonte de renda, atividades relacionadas à pesca, além de outras, como o comércio, a pecuária e a agricultura, esta com bastante representatividade (SANTOS, 2004). A pesca artesanal é fortemente praticada nas comunidades pertencentes ao município de Marapanim, e é nesse contexto que este trabalho pretende abordar o cenário da pesca nesse município e sua importância. Com o desenvolvimento da modernização da atividade pesqueira (pesca industrial) no Estado do Pará e, consequentemente, da expansão das atividades ligadas ao comércio de produtos primários (peixes, mariscos, produtos agropecuários e da agricultura familiar) e secundários, as comunidades pesqueiras passaram a sentir os efeitos desta, bem como tiveram que se adaptar aos novos padrões de consumo engendrados pela lógica do mercado, alterando, assim, seus modos ou gêneros de vida, refletindo, sobremaneira, na exploração desenfreada dos recursos naturais e degradação dos ecossistemas (ABREU, 2011). Devido à relevância da atividade pesqueira para a região do Salgado Paraense, é importante o conhecimento a respeito da organização pesqueira nos municípios do nordeste do estado e suas implicações tanto ecológicas quanto econômicas, e assim, contribuir para um melhor gerenciamento na produção de pescado, além de alertar a população sobre as possíveis consequências de uma pesca desordenada. A partir das considerações expostas previamente, este trabalho tem como objetivo geral apresentar um cenário acerca da pesca na região do Salgado (PA), tendo como estudo de caso duas comunidades do município de Marapanim, suas implicações ecológicas, econômicas e sustentáveis atuantes na biodiversidade local. Em específico, os objetivos desse projeto foram de Identificar as espécies de peixe exploradas e sua importância econômica local; Reconhecer os tipos de pesca adotados no local e qual predominam na região; Caracterizar o etnoconhecimento dos pescadores acerca dos processos que atuam na pesca, assim como sobre a biodiversidade pesqueira local, e avaliar o grau de sustentabilidade da atividade pesqueira nas comunidades de Marudá e Vista Alegre. 2. MATERIAL E METODOS 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Este projeto foi classificado segundo definições de LakatoseMarconi (2003). Trata-se de uma pesquisa aplicada quanto a sua natureza, já que objetivou gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos. A pesquisa foi quali-quantitativa quanto a sua abordagem e exploratória e descritiva quanto aos objetivos. Ao ser exploratória, visou proporcionar maior familiaridade com o tema, mas, ao mesmo tempoapresentou casos em duas comunidades do município estudado. Ao ser classificado como descritiva buscou descrever as características de determinada população ou fenômeno e apresentou também caráter de levantamento. Quanto aos procedimentos técnicos, foram utilizados pesquisa bibliográfica e documental, formulários e estudos de caso. 2.2 ÁREA DE ESTUDO O trabalho foi desenvolvido em duas comunidades do município de Marapanim, no estado do Pará. As comunidades são Vista Alegre e Marudá, onde a atividade pesqueira é intensa. Marapanim (figura 1) está localizado na mesorregião do nordeste paraense, e compõe, juntamentecom outros municípios, a microrregião do salgado. Localiza-se a uma latitude 00º43’03” sul e a uma longitude 47º41’59” oeste, estando a uma altitude de 40 metros. Sua população estimada em 2016 era de 27.471 habitantes e possui uma área de 799.299m² (IBGE, 2016). O município tem limites com as águas oceânicas da baía deMarapanim, rio que lhe confere o nome, e com as terras dos municípios de Curuçá, Maracanã,MagalhãesBarata e São Francisco do Pará, e sua sede municipal estáa 150 km, aproximadamente, da capitaldo estado, Belém (FURTADO, 1987). Figura 1 Localização geográfica do município de Marapanim no estado do Pará. Fonte: Alves; Gutjarhr; Silva (2015) 2.3 COLETA DE DADOS O procedimento de coleta de dados consistiu-se emvisitas às comunidades ribeirinhas de Marudá e Vista Alegre–PA no município de Marapanim (PA) para a aplicação de formulários que contemplaram aspectos de ordem socioeconômica (idade, escolaridade, renda mensal familiar, tempo de serviço, motivo de ser pescador), aspectos tecnológicos e comercialização produtiva da pesca (técnicas de pescaria e meios de transporte, os principais peixes capturados, o destino da produção, dificuldades do ofício) e de etnoconhecimento com relação à pesca e às espécies capturadas. Além dos formulários, também foram realizados questionários, entrevistas com pessoas chave da comunidade, além de observação direta que permitiram realizar diagnósticos e a caracterização da pesca e de seus atores. As respostas obtidas após a aplicação do formulário foram organizadas em planilhas do software Microsoft® Excel, a partir das quais, foram elaborados tabelas e gráficos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÂO A pesquisa realizada acerca da proposta de trabalho foi muito positiva, considerando a própria natureza das discussões que o tema em sua dimensão requer. Com o presente trabalho realizado, foi possível analisar diferentes aspectos os quais serão apresentadas de forma detalhada a seguir. É fato a condição dos pescadores artesanais que dependem dos recursos naturais ligados ao meio aquático e que desenvolvem outras formas de produzir para o sustento familiar. As estratégias adotadas para assegurar a reprodução do espaço de vivência comunitária vão desde a relação de base familiar e de vizinhança a outras formas de sociabilidade que ajudam a entender os arranjos institucionais coletivos a eles vinculados. 3.1. PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA Ao todo foram entrevistados 43 pescadores, no qual 24 foram de Vista Alegre e 19 de Marudá. A figura 2 detalha o grau de escolaridade em Marudá, na qual a maioria pertence ao grupo de entre 20 a 24 anos, totalizando 50%, 28% dos entrevistados possuíam entre 35 a 59 anos de idade e por fim, 22 % possuíam uma idade acima dos 60 anos. ( 28% Entre 35 a 59 anos Acima de 60 anos 50% Entre 20 a 34 anos 22% IDADE ) Figura 2: Gráfico sobre a idade da população de Marudá. Fonte: Autores (2018) Em relação à Vista Alegre, a figura 3 demonstra uma disparidade em relação aos dados obtidos para Marudá. 46% dos entrevistados possuíam entre 35 a 59 anos, enquanto 33% tinham acima de 60 anos e 21% estavam entre 20 e 34 anos. ( FAIXA ETÁRIA 21% 33% Entre 20 a 34 anos Entre 35 a 59 anos Acima de 60 anos 46% ) Figura 3: Gráfico sobre a idade da população de Vista Alegre. Fonte: Autores (2018) Quanto ao nível de escolaridade, 46% dos entrevistados de Vista Alegre possuíam ensino médio completo, 25% possuíam ensino fundamental completo, 21% o ensino médio estava incompleto e apenas 8% tinham ensino fundamental incompleto (Figura 4). Em relação à Marudá, constataram-se dados bastantes semelhantes aos verificados na comunidade de vista alegre, conforme mostra a tabela (Figura 5), no caso, 42% possuía ensino médio completo, enquanto que 37%, 16% e 5% estavam relacionados a ensino fundamental completo, ensino fundamental incompleto e ensino médio incompleto, respectivamente. ( Escolaridade 19% 44% 30% Ensino médio completo Ensino médio incompleto Ensino fundamental completo Ensino fundamental incompleto 7% ) Figura 4: Gráfico sobre o nível de escolaridade de Vista Alegre Fonte: Autores (2018) ( Grau de Escolaridade 16% Ensino médio completo 42% Ensino médio incompleto Ensino fundamental completo 37% 5% Ensino fundamental incompleto ) Figura 5 Gráfico sobre a escolaridade em Marudá. Fonte: Autores (2018) 3.2. TIPOLOGIA DO TRABALHO Quanto ao tipo de trabalho, verificou-se que em Vista Alegre 29% são apenas pescadores, 25%são pescadores e agricultores, 12% são pescadores e marisqueiros, 21% são pescadores e caranguejeiros e 13% são pescadores, caranguejeiros e marisqueiros, como expressa o gráfico respectivo (Figura 6). ( Ocupação 13% 29% 21% Pescador Pescador e Agricultor Pescador e Marisqueiro Pescador e Caranguejeiro 12% Todas as outras opções 25% ) Figura 6 Gráfico sobre a ocupação dos entrevistados da em Vista Alegre. Fonte: Autores (2018) Verificou-se que a maioria dos pescadores entrevistados em Vista Alegre trabalha apenas com a Pesca, mas há também uma porcentagem considerável de outros trabalhos desenvolvidos pelas pessoas da comunidade, como o representativo de 25% que trabalha como pescador e agricultor. Tais dados confirmam e reiteram a visão de Furtado (2005), quando explica que os pescadores não se limitam a artesania da pesca, pois a agricultura é também outra atividade que congrega saberes tradicionais associados ao modo de vida desses segmentos. Em relação à comunidade de Marudá, 32% são apenas pescadores, 21% são pescadores e agricultores, 26% são pescadores e caranguejeiros e 16% são pescadores, caranguejeiros e marisqueiros, como expressa o gráfico (Figura 7). ( Ocupação 16% Pescador 32% 5% Pescador e Agricultor Pescador e Caranguejeiro Caranguejeiro 26% Todos as outras opções 21% ) Figura 7 Gráfico sobre a ocupação dos entrevistados em Marudá. Fonte: Autores (2018) A presença de coletores de caranguejo na comunidade confirma as explicações de Prost et. al. (2005), quando assinalam que a coleta de moluscos e crustáceos realizada nos manguezais é a segunda maior fonte de renda e assume cada vez mais importância na economia, à medida que novas espécies são incorporadas à comercialização. A identificação de pescadores que não praticam apenas a pesca de peixes confirma o que diz Furtado (2005) acerca da presença do pescador polivalente no município de Marapanim, ou seja, aquele que exerce mais de uma atividade para seu sustento ou movimento de orçamento familiar. 3.3. LOCAIS DE PESCA De acordo com as informações obtidas, os pontos de pesca principais em Vista Alegre foram Rio (71%), Estuário (17%) e a Praia (12%) (Figura 8). ( Ponto de Pesca 17% 12% Praia Rio Estuário 71% ) Figura 8 pontos de pesca de Vista Alegre. Fonte: Autores (2018) Em Marudá, a pesquisa demonstrou que a maioria dos pescadores se utiliza dos rios como local de pesca, totalizando 58%, em seguida veio a Praia com 42% (Figura 9). ( Ponto de Pesca 42% Praia Rio 58% ) Figura 9: Pontos de pesca de Marudá. Fonte: Autores, 2018. Esse vínculo direto com o rio, segundo os esclarecimentos feitos por Prost (2005), figura com uma peculiaridade da dinâmica territorial da pesca. O uso do rio como principal local de pesca justifica-se pela localização geográfica da comunidade, que se encontra na frente do Rio Marapanim, onde se situam os pesqueiros, nos quais estão os recursos pesqueiros, caracterizados por não serem limitados por fronteiras concretas, mas por limites imaginários, abstratos e reconhecidos pelos pescadores. 3.4. APETRECHOS DE PESCA Entre os apetrechos de pesca usados pelos pescadores de Vista Alegre, constatou-se que os mais utilizados são curral e a malhadeira (42%), como apresentam a tabela e o gráfico a seguir: ( Curral , espinhol e malhadeiro 33% 42% Curral Malhadeiro Curral e malhadeiro 17% 8% Apetrechos de Pesca ) Figura 10 Gráfico sobre os utensílios utilizados na pesca em Vista Alegre. Fonte: Autores(2018) O predomínio desses apetrechos é reconhecido por Prost et al. (2008), ao relatar o uso dos currais de beira e alguns de fora, pertencendo aos pescadores de condição mais modesta (curralistas), bem como o uso das malhadeiras. Apetrechos como o curral são resultados, segundo Silva (2008), de um conhecimento herdado de gerações anteriores e lapidado pela relação dos pescadores como o meio ambiente. Por isso, não envolve a presença de tecnologias sofisticadas, mas um saber peculiar da herança indígena e da experiência com a pesca no rio. Entre os apetrechos de pesca usados pelos pescadores de Marudá, constatou-se que o mais utilizado é a malhadeira (42%), como apresenta o gráfico a seguir: ( 42% Curral, espinhol e malhadeira Curral e malhadeiro 10% Malhadeira 32% Curral 16% Apetrecho de Pesca ) Figura 11: Gráfico sobre os utensílios utilizados na pesca emMarudá. Fonte: Autores (2018) Os instrumentos de trabalho dos pescadores geralmente são confeccionados por eles próprios. Estes estabelecem no território pesqueiro relações como os elementos presentes na natureza. O curral é implantado no meio aquático, mas é construído a partir de madeira extraída da floresta, com o conhecimento sendo passado por seus ancestrais. A aquisição do conhecimento sobre o ambiente e seus recursos é proveniente do cotidiano, de experiências vividas e compartilhadas entre os membros da comunidade e repassadas de geração após geração por meio de transmissão cultural (MARQUES, 1991; PAZ;BEGOSSI, 1996; TOLEDO, 2002; BERKES, 2008).Também confeccionam as malhadeiras e outros instrumentos de pesca. 3.5. ESPÉCIES DE PEIXES A pesquisa também demonstrou que as espécies de peixes que são mais obtidas nas pescas e encontradas comumente nas vilas estudadas, são a tainha (Mugil brasiliensis), pratiqueira (Mugilcurema, M. incilis, M. lisa, M. gaimardianus), o bagre (Hexanematichthys herzbergii), o peixe-pedra (Genyatremus luteus), o tralhoto (Anableps microlepis), o pacamum (Batrachoides surinamensi), a bandeirada (Bagre marinus), a piaba (Astyanax bimaculatus) e o icamurim (Centropomusun decimalis) como as mais representativas na produção, contudo, a Tainha, Bagre e a Bandeirada obtiveram maior destaque entre os pescadores, aparecendo nos resultados das duas comunidades (tabela 1). Tabela 1 Tabela das espécies mais frequentemente pescadas ESPÉCIE MARUDÁ VISTA ALEGRE Tainha x x Pratiqueira x Bagre x x Peixe-pedra x Tralhoto x Pacamum x Bandeirada x x Piaba x Icamurim x A tabela acima, quando comparada à mesma feita por Alves (2015),que demonstrou acerca das espécies pescadas no município de Marapanim, tem seu valor e resultados ainda mais reiterados, ao perceber que muitas das espécies citadas na tabela 1, como a Tainha e o peixe-pedra, continuam sendo de grande valor para as comunidades e que continuam sendo pescadas, além de estarem presentes em outras comunidades dessa região. As figuras 12 e 13 demonstram as espécies mais pescadas, segundo os participantes da pesquisa, sendo a tainha com 32% para Marudá e para Vista Alegre a tainha e o bagre, ambos com 25%. ( Marudá 5% 16% 32% 10% Tainha Pratiqueira Bagre Tralhoto Bandeirada Piaba 16% 21% ) Figura 12: Espécies mais pescadas na vila de Marudá Fonte: Autores (2018) ( 17% Tainha Bagre Peixe-pedra Pacamum Bandeirada Icamurim 25% 12% 25% 13% 8% Vista Alegre ) Figura 13: Espécies mais pescadas na vila de Vista Alegre Fonte: Autores (2018) 3.6. MODALIDADES DE PESCA Após as análises das estatísticas, pode-se caracterizar a pesca encontrada nas duas comunidades como do tipo artesanal, que segundo Barthem (1995), se caracteriza como uma pesca voltada para subsistência e para o comercio, com meios de produção próprios ou em parcerias com a comunidade ou com as colônias pesqueiras, com embarcações de pequeno porte, sem tecnologia nem equipamentos. Além disso, os dados apresentados puderam confirmar o que diz Diegues (1983) quando esclarece que para o pescador a pesca é a principal atividade exercida, entendida como uma profissão e cuja principal motivação é a comercialização do pescado, sendo uma parte usada para seu próprio consumo alimentar. 3.7. SUSTENTABILIDADE Um fato bastante pertinente mostrado acerca dos pescadores foi à relação que os mesmos possuem com a sustentabilidade. Era notória a preocupação dos habitantes da vila com a escassez de peixes na região. 30% atribuíram à falta de políticas do estado na região que visassem conscientizar as comunidades; 28% dos pescadores atribuíram a diminuição de peixes aos os grandes pescadores, que na maioria das vezes têm parcerias com grandes indústrias; já 23% relataram a irresponsabilidade de pescadores, que pescam maiores quantidades de peixe para terem mais lucro e 19% dos entrevistados atribuíram à necessidade dos pescadores, que por possuírem uma grande família, acabam tendo que pescar mais (Figura 14). ( Falta de politicas por parte do governo 23% 19% Interferencia pelas grandes industrias Irresponsabilidade de pescadores Necessidade 28% 30% Problemas ) Figura 14: Problemas enfrentados pelos pescadores das comunidades Fonte: Autores (2018) O gráfico apresentado acima (Figura 14) e seus resultados são ratificados quando Foschiera e Pereira (2014) dizem que tal diminuição pode ser resultado das diferentes formas de pesca na região, principalmenteindustrial, que explora intensivamente osmananciais aquáticos, interferindo diretamente na produção do pequeno pescador, que por suas características, possui pouca mobilidade. Quanto a isso, os pescadores entrevistados mencionaram que o modelo industrial de pesca, por utilizar grandes redes de arrasto, consegue capturar uma enorme quantidade de peixes no oceano, o que poderia impossibilitar a chegada deles até os rios locais, onde a pesca artesanal é majoritariamente praticada. Além disso, o ato predatório da fauna ictiológica pode ser resultante do crescimento populacional na região, cujos indivíduos para superarem as necessidades de auto- consumo e de mercado tendem a explorar ao máximo os recursos disponíveis nos mananciais aquáticos (FURTADO, 1987). Estes dados podem demonstrar o descaso do estado com os pequenos pescadores ou comunidades que necessitam da pesca para a sua sobrevivência e forma de fonte de renda. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por ser uma atividade milenar, a pesca artesanal é praticada por várias comunidades locais espalhadas pelo mundo afora e constitui uma importante atividade no setor econômico e produtivo na região amazônica, em especial no estado do Pará (ALMEIDA et al, 2018) Em se tratando de Amazônia, a artesânia da pesca é considerada com uma das mais antigas atividades já desenvolvidas pela espécie humana, sendo praticada por povos tradicionais há mais de 3 mil anos, como bem disse Furtado (2001), retratando a existência milenar da presença de povos pescador-coletores no litoral paraense. Isso implica considerar um conjunto de relações construídas historicamente por gerações inteiras que foram passadas de geração em geração. Em relaçãoaos objetivos propostos para a realização deste trabalho, entende- se que os resultados apresentados confirmam a natureza do discurso teórico- metodológico acerca da territorialidade da pesca e das coletividades locais de pescadores artesanais de Marudá e Vista Alegre, no município de Marapanim. Considerando o importante papel da pesca profissional artesanal para uma comunidade ribeirinha, os dados elucidados confirmam a tendência generalizada que foi levantada sobre a territorialização precária a que estas coletividades estão sujeitas. Isso se justifica pela completa ausência do estado em garantir qualquer possibilidade em desenvolver projetos sociais e econômicos capazes de oportunizar a essas coletividades uma forma digna de sobrevivência. Esse cenário pode ser compreendido a partir dos resultados apresentados nas tabelas e gráficos atinentes à pesquisa de campo realizada nas comunidades pesqueiras de Marudá e Vista Alegre. Essetrabalho, em suma, pretendeu contribuir para que outras reflexões sejam tomadas sobre o papel da pesca na vida dessas comunidades e que possam atingir não só ao mundo científico, mas ao mundo em geral e gerar em resposta uma melhora da condição de vida e trabalho dessas pessoas que necessitam da pesca como forma de subsistência e comercio. AGRADECIMENTOS Eu, Carlos Eduardo Vasconcelos dos Santos, agradeço A Deus por todas as bênçãos sobre a minha vida e a de meus colegas. A minha família por todo o apoio e incentivo que eles me deram nas minhas escolhas e desafios. Aos meus colegas de tcc, Raphael de Macedo Henriques e Rosana Conceição Lobato da Silva por terem sido ótimos amigos e companheiros de sala e tcc. A nossa orientadora, Profª. Dra. Elena Almeida de Carvalho, por ter aceitado ser nossa orientadora e por ter sido não só uma excelente orientadora, mas também uma ótima professora em sala de aula. Eu, Raphael de Macedo Henriques, agradeço A Deus por ter me dado essa oportunidade de realizar mais uma conquista em minha vida. A minha família, em especial minha avó que sempre me incentivou a correr atrás dos meus sonhos. Aos meus amigos que estiveram ao meu lado, especialmente meus parceiros de TCC Carlos Eduardo e Rosana Lobato. A nossa Orientadora, Professora Elena Carvalho, um exemplo de profissional por sempre ser tão prestativa e estar disposta a nos ajudar em todos os momentos. A todos os professores que tive ao longo da graduação que me ajudaram a adquirir conhecimento sobre diversas áreas da biologia. Eu, Rosana Conceição Lobato da Silva, agradeço Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado força e saúde para superar as dificuldades. A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração que me deram essa oportunidade. A nossa orientadora Elena Carvalho, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos. Aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. E a todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação . REFERÊNCIAS ABDALLAH, P. R.; BACHA, C. J. C. Evolução da atividade pesqueira no Brasil: 1960-1994. Teoria e Evidência Econômica, v. 7, n. 13, p. 9-24, 1999. ABREU, Walber Lopes de. Território e gestão da pesca em coletividades Locais no nordeste paraense: Estudo de caso no município de Marapanim-PA. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, 2011. ( ALMEIDA, R. H.; PEREIRA, I. C. N.; SILVA, L. G. F.; PESSÔA, E. C. S. Cadernos Diálogos Interdisciplinares: Baixo Amazonas em questão , v. 2, n. 1, 2018. ) ALVES, R. J. M.; NUNES A. L.; SILVA, J. A. E. S. Caracterização Socioeconômica e produtiva da pesca artesanal no município de Marapanim, Pará. Eumed, p. 1-17, 2015. BERKES, F. SacredEcology. 2. ed. New York: Routledge, 2008. 313 p. BOFF, L. Sustentabilidade: O que é: O que não é. Ed. 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