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CONTABILIDADE COMERCIAL Angelita Delfino Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as principais características dos métodos UEPS, PEPS e custo médio ponderado. Analisar os métodos de controle de estoque utilizando as fichas de con- trole de estoque pelos métodos UEPS, PEPS e custo médio ponderado. Apurar o custo de mercadorias vendidas (CMV) e o estoque final do custo médio ponderado, do UEPS e do PEPS. Introdução Os estoques são ativos de valor relevante dentro do patrimônio das entidades, principalmente no comércio e na indústria. Neste capítulo, você poderá conhecer os principais critérios de con- trole de estoque — média ponderada, PEPS e UEPS —, identificar as diferenças entre eles e saber quais são aceitos pela legislação brasileira. A partir dos aprendizados que serão aqui oferecidos, você será capaz de efetuar os registros nas fichas de estoque de acordo com os métodos abordados. Além disso, você poderá apurar os valores de custo das mer- cadorias vendidas (CMV) e do estoque final por meio dos três critérios, analisando as diferenças entre os resultados encontrados com o uso de cada um deles. 1 Métodos de avaliação dos estoques De acordo com o CPC 16: “Os estoques compreendem bens adquiridos e destinados à venda, incluindo, por exemplo, mercadorias compradas por va- rejista para revenda ou terrenos e outros imóveis para revenda”. O documento ainda afi rma que os estoques “[...] também compreendem produtos acabados e produtos em processo de produção pela entidade e incluem matérias-primas e materiais, aguardando utilização no processo de produção, tais como: com- ponentes, embalagens e material de consumo” (COMITÊ DE PRONUNCIA- MENTOS CONTÁBEIS, 2009, documento on-line). Em síntese, estoques são todos os bens produzidos ou utilizados na pro- dução de produtos e as mercadorias adquiridas com objetivo de venda. Por exemplo, no comércio constituem os estoques as mercadorias obtidas para revenda e, na indústria, os estoques são as matérias-primas, os produtos em elaboração, os produtos prontos e os materiais auxiliares. De modo geral, os estoques “[...] representam valores expressivos na composição do patrimônio das entidades; consequentemente, os critérios adotados para avaliá-los são de extrema importância para a formação do resultado da entidade” (SANTOS et al., 2015, p. 102). É, portanto, imprescindível entender os critérios de avaliação de estoques existentes, bem como avaliar periodicamente o critério a ser usado pela entidade. A fim de avaliar os estoques, também é necessário ter controle sobre os valores e as quantidades movimentadas de cada item dentro da empresa, visto que, na grande maioria das organizações, existem vários itens diferentes a serem controlados. Então, para esse controle, há o inventário, que “[...] consiste no processo de verificação da existência física dos estoques na em- presa” (SANTOS et al., 2015, p. 103). Existem duas categorias de inventário: o permanente e o periódico. O sistema de inventário permanente “[...] consiste em manter controle contínuo das entradas e saídas de mercadorias (em quantidades e valores) de maneira que, a qualquer momento, se disponha da posição atualizada dos estoques e do custo das mercadorias vendidas” (SANTOS et al., 2015 p. 112). Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada2 Esse método permite um melhor gerenciamento das compras e uma melhor avaliação das vendas. Já o inventário periódico: [...] consiste em registrar todas as compras efetuadas durante o exercício numa conta cumulativa, sem apurar o custo das mercadorias vendidas após cada uma das operações de venda. Somente no final do exercício é inventariado o estoque existente (estoque final) e apurado o seu respectivo valor” (SANTOS et al., 2015, p. 112). Ou seja, o registro da saída de um item do estoque não é efetuado no mo- mento da venda, mas em um momento que a empresa estipula para registrar acumuladamente diversas saídas. A partir daí, de acordo com Santos et al. (2015, p. 112), pode ser calculado o CMV por meio da fórmula apresentada a seguir. CMV = Ei + Co + Fretes − Dev. Co − Ef onde: Ei = estoque inicial Co = compras Dev. Co = devolução de compras Ef = estoque final É importante estar atento no momento de efetuar os registros dos valores que integram os estoques, pois estes devem ser registrados pelo valor líquido dos impostos recuperáveis. A fórmula apresentada é apenas uma base do que integra o valor do CMV. Isso porque poderia haver, ainda, agregado o valor de, por exemplo, um seguro sobre o estoque, impostos não recuperáveis, etc. 3Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada Para facilitar a sua compreensão, vamos aplicar a fórmula ao caso hipotético de uma empresa com saldo inicial de estoques no valor de R$ 23.000,00. Durante um período determinado, ela realizou compras de mercadorias no valor de R$ 104.500,00 (já líquido de impostos recuperáveis) e, ao final desse período, apurou um estoque final de R$ 22.500,00. Nesse exemplo, o CMV seria calculado da seguinte forma: CMV = Ei + Co + Fretes – Dev. Co – EF CMV = R$ 23.000,00 + R$ 104.500,00 + 0 – 0 – R$ 22.500,00 CMV = R$ 105.000,00 Apuração do custo São componentes do custo de aquisição, além do próprio valor da mercadoria, todos os custos para ter essa mercadoria no estoque. Nesse sentido, Santos et al. (2015, p. 113) observam que “[...] os custos de fretes e seguros sobre compras integram o custo de aquisição”. Os autores ainda complementam afi rmando que também fazem parte do custo de aquisição os impostos não recuperáveis, tais como o imposto sobre importação (II), as despesas aduaneiras e com despachantes e o imposto sobre operações fi nanceiras (IOF). Importa lembrar que as mercadorias são adquiridas em diversos momentos, em datas diferentes, e é comum que isso ocasione valores unitários desiguais para os itens do estoque. Levando isso em consideração, faz-se necessário determinar o critério a ser utilizado para fazer a valoração dos estoques e, consequentemente, do CMV. A seguir, veremos os critérios que, entre os diversos existentes, são os mais conhecidos: média ponderada, PEPS e UEPS. Média ponderada Na média ponderada (ou média ponderada móvel), adota-se como valor unitário dos estoques o resultado obtido pelo cálculo da média entre todas as compras em estoque. Como exemplo, vejamos o caso da empresa Z Ltda. Suponhamos que ela tenha efetuado duas compras de um “produto A” (dois lotes) — o Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada4 lote 1 foi adquirido em 4 de setembro, ao custo unitário de R$ 60,00; e o lote 2, em 13 de setembro, ao custo unitário de R$ 70,00. Se um consumidor efetivar uma compra em 17 de setembro, o custo da venda será registrado, de acordo com a média ponderada, pelo valor unitário composto pela média entre os lotes 1 e 2. Considerando-se que a compra da empresa Z Ltda. foi de apenas um item no lote 1 e um no lote 2, o cálculo do custo dessa venda será (60 + 70)/(1 + 1) = 130/2 = 65. O custo da venda foi, portanto, de R$ 65,00. PEPS No critério PEPS, também conhecido como FIFO (do inglês fi rst in, fi rst out), os estoques e o respectivo custo da mercadoria que foi vendida são valorados de acordo com os valores das primeiras compras. Por exemplo, vamos supor que a empresa Z Ltda. tenha efetuado duas compras de um “produto A” (dois lotes) — o lote 1 foi adquirido em 4 de setembro, ao custo unitário de R$ 60,00; e o lote 2, em 13 de setembro, ao custo unitário de R$ 70,00. Se um consumidor efetivar uma compra em 17 de setembro, essa venda terá, de acordo com o método PEPS, seu custo registrado pelo valor de R$ 60,00, que é o valor do primeiro lote que entrou no estoque. Por fi m, cabe salientar que, no critério PEPS,o controle de valor é feito por lotes de compras. UEPS No critério UEPS, também conhecido como LIFO (do inglês last in, fi rst out), os estoques e o custo da mercadoria que foi vendida são valorados a partir do valor da última compra realizada. Para exemplifi car, pensemos novamente na empresa Z Ltda. e as suas duas compras de um “produto A” (dois lotes) — o lote 1 tendo sido adquirido em 4 de setembro, ao custo unitário de R$ 60,00; e o lote 2, em 13 de setembro, ao custo unitário de R$ 70,00. Se um consumidor efetivar uma compra em 17 de setembro, o registro do custo da venda será, pelo método UEPS, de R$ 70,00, que foi o valor pago pelo último lote a entrar no estoque. Assim como no PEPS, no UEPS o controle de valor também é feito por lotes de compras. Conforme o CPC 16, o custo dos estoques “[...] deve ser atribuído pelo uso do critério Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS) ou pelo critério do custo médio ponderado” (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009, documento on-line). Pode-se verificar, portanto, que o critério UEPS não é citado pelo docu- mento como uma opção de valoração dos estoques. Isso se dá porque, como 5Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada nos informam Santos et al. (2015, p. 115), esse critério “[...] não é permitido pela legislação fiscal, por apresentar o maior custo das mercadorias vendidas”. Tal justificativa pode ser complementada pela colocação de Padoveze et al. (2010, p. 111): A legislação tributária brasileira não admite avaliar os estoques pelo método Último a Entrar, Primeiro a Sair (Ueps), porque na adoção desse método, em um regime econômico em que há inflação, a tendência é de que todos os estoques fiquem subavaliados, o que diminui o lucro líquido do exercício social e, por consequência, o valor dos tributos com o Imposto de Renda e com a contribuição social. Em resumo, o critério UEPS não é aceito porque oferece ao fisco arreca- dação de impostos em valor menor do que se apurado pelos demais métodos, quais sejam, o PEPS e a média ponderada. Um outro tipo de avaliação de estoques é o preço específico, utilizado quando é possível determinar um preço de custo específico para cada unidade em estoque. No entanto, esse tipo de avaliação não se aplica a muitos casos. Um caso particular que poderia empregar esse método é o comércio de veículos usados, no qual cada unidade em estoque para venda tem seu custo único e próprio (IUDÍCIBUS et al., 2010, p. 109). Cabe ressaltar, ainda, a importância de se utilizar o método correto para valorar os estoques. Isso porque o processo de avaliação dos estoques influencia diretamente no balanço patrimonial e no resultado do exercício, e, conforme Iudícibus e Marion (2016, p. 295), “[...] seus efeitos são imediatamente sentidos no Patrimônio Líquido, sendo assim, é necessário demonstrar sua movimen- tação na Demonstração de Resultado de Exercício (DRE).” Também se deve estar atento à orientação do CPC 16 acerca do uso do critério escolhido pela entidade: “A entidade deve usar o mesmo critério de custeio para todos os estoques que tenham natureza e uso semelhantes para a entidade. Para os estoques que tenham outra natureza ou uso, podem justificar- -se diferentes critérios de valoração” (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009, documento on-line). Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada6 Além disso, o ideal é que não ocorram mudanças frequentes no critério escolhido, pois isso dificultaria processos de projeções (para orçamentos, por exemplo), bem como prejudicaria a comparabilidade das informações ao longo dos anos. 2 Fichas de controle dos estoques Hoje em dia, as fi chas de estoque são, na maioria das vezes, elaboradas por meio de sistema próprio. Na Figura 1, é apresentado um modelo, o qual será aqui usado didaticamente a fi m de promover uma melhor compreensão do funcionamento em cada um dos critérios de valoração dos estoques. Figura 1. Ficha de controle de estoques. Pode-se verificar que o nosso modelo de ficha (ou tabela) se divide em três grandes colunas: a coluna das entradas demonstra a movimentação de todas as compras, ou seja, entradas de estoque; na coluna de saídas, são registradas todas as vendas, ou seja, as saídas de estoque; por fim, há a coluna que demonstra o saldo atualizado após cada mo- vimentação, seja ela de entrada ou saída. Ademais, é possível observar que cada uma dessas colunas é subdividida em outras três colunas: quantidade, valor unitário e valor total. Independentemente do critério adotado, usa-se o mesmo modelo de ficha. A diferença nos resultados é gerada pelo modo como se procede a movimentação dos itens dentro da ficha, e o valor unitário utilizado nas saídas (vendas) é o que causa esse impacto. Vale ressaltar a necessidade de haver uma ficha para cada item (tipo) de estoque. Em uma fábrica de pães, por exemplo, deve existir uma ficha para farinha de trigo, outra para óleo, outra ficha para fermento e assim por diante. 7Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada A seguir, veremos como efetuar a movimentação em cada um dos três métodos. Para isso, usaremos um mesmo exemplo, com os mesmos lança- mentos, para movimentar as fichas de estoques. Peguemos, então, o caso de uma empresa que já possuía um estoque inicial de um produto (adegas de vinho, por exemplo). No decorrer do mês, ela fez algumas movimentações de compras e vendas, conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2. Operações ocorridas no estoque. Na sequência, demonstraremos como essa movimentação fica em cada um dos critérios de avaliação de estoque. UEPS Pelo critério UEPS, como já exposto, o último item a entrar no estoque é o primeiro de que será dada baixa na fi cha de estoque. Essa movimentação, lembremos, é contábil. Utilizando os lançamentos apresentados na Figura 2, temos, pelo critério UEPS, a fi cha de controle de estoques apresentada na Figura 3. Figura 3. Ficha de estoque — UEPS. Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada8 Na ficha apresentada, pôde-se observar que, por esse critério, ao ser efetuada uma venda pela empresa, o registro feito de baixa de estoque considerou o custo unitário da última compra realizada (R$ 420,00), e não o custo unitário do que a empresa tinha em estoque inicial (R$ 400,00). Também foi possível observar que, na coluna destinada ao saldo, o controle foi mantido por blocos, de acordo com as aquisições realizadas. Lembre-se que o critério UEPS não é aceito pela legislação brasileira. Portanto, ele não deve ser utilizado para a elaboração dos demonstrativos financeiros. PEPS Como já foi aqui apresentado, o PEPS consiste em registrar as saídas de acordo com o item mais antigo em estoque. Assim como no caso do UEPS, os saldos aqui também serão controlados por blocos, de acordo com cada compra realizada. Na Figura 4, é apresentada a movimentação do estoque. Figura 4. Ficha de estoque — PEPS. Observe-se na ficha apresentada que, pelo PEPS, ao ser efetuada uma venda pela empresa, o registro feito de baixa de estoque considerou o custo unitário do que se tinha de mais antigo em estoque. Ou seja, foi considerado o saldo 9Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada inicial (R$ 400,00), e não o custo unitário da última compra — conforme havíamos feito no exemplo da Figura 3, quando foi empregado o método UEPS. Média ponderada A média ponderada consiste em registrar as saídas de acordo com a média entre todos os valores dos itens que estão em estoque. Diferentemente do que pôde ser observado nas Figuras 3 e 4, na média ponderada o saldo é controlado também pela média de todos os saldos em estoque, conforme apresentado na Figura 5. Figura 5. Ficha de estoque — média ponderada. O cálculo realizado para obter a média é simples. No exemplo apresentado, foram somadas as quantidades do saldo inicial e da compra (30 + 10= 40), o que também foi feito com o valor total do saldo inicial e da compra (R$ 12.000,00 + R$ 4.200,00 = R$ 16.200,00). Na sequência, houve a divisão do montante total em moeda pela quantidade total (R$ 16.200,00/40 = R$ 405,00), chegando-se a um resultado que é um valor unitário constituído pela média. No momento da venda, o registro do valor unitário é essa média, a qual será alterada sempre que houver novas compras. 3 Custo das mercadorias vendidas e estoque final Agora que já conhecemos o funcionamento das fi chas de estoque a partir da abordagem dos três métodos de avaliação de estoques, podemos entender como proceder com a apuração do valor do estoque fi nal, bem como do custo das mercadorias vendidas (CMV). Para saber o valor do CMV e do estoque fi nal, vamos verifi car a movimentação nas fi chas de cada um dos métodos. Cada uma das três colunas principais — entradas, saídas e saldo — tem a função de demonstrar uma informação. A coluna das entradas demonstra Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada10 o total de compras realizadas no período. Se observarmos as Figuras 3, 4 e 5 (que se referem, respectivamente, aos métodos UEPS, PEPS e média ponderada), teremos o mesmo valor: um total de compras de 15 unidades ao valor total de R$ 6.250,00. CMV Já a coluna que representa a movimentação das saídas (as vendas) demonstra o valor do CMV. Vale lembrar que a planilha de controle de estoques, inde- pendentemente do método utilizado, é toda preenchida com valores de custo de aquisição. Na Figura 6, há um resumo com os valores de CMV em cada um dos critérios estudados. As informações apresentadas foram extraídas da coluna de saídas das Figuras 3, 4 e 5. Figura 6. Comparativo do CMV apurado pelos três métodos. Se não houvesse mais movimentação nos estoques, seriam esses os valores apresentados como CMV na demonstração do resultado do exercício (DRE). Pode-se observar que, embora as quantidades sejam iguais nos três métodos, os valores diferem. O método UEPS utiliza, para fins de apuração e registro do CMV, o valor unitário da compra mais recente (da última compra), e, como é possível observar, esse método apurou o maior CMV (R$ 1.260,00). Tal fato justifica o que já foi aqui mencionado: por apurar o CMV de maior valor, o uso desse método afeta a DRE de forma a gerar um lucro menor e, consequentemente, uma arrecadação de impostos inferior à gerada pelos demais métodos. Isso ocorre, é claro, se considerarmos uma economia (do país) inflacionária, isto é, com oscilação constante nos preços — os quais, nesse cenário, costumam aumentar. Por outro lado, o critério PEPS apurou o menor CMV (R$ 1.200,00), pois utilizou como valor de custo o das compras mais antigas, que tinham valor unitário menor. Já o valor apurado pela média ponderada ficou entre os demais valores (R$ 1.215,00), o que se deve ao fato de ser registrado pela média entre todas as compras de itens que ainda estão em estoque. 11Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada Estoque final A última coluna da fi cha de estoque é a que apresenta o saldo. Ao fi nal da coluna, após a última movimentação, está o saldo de estoque fi nal. Na Figura 7, há uma tabela resumindo os valores de saldo em cada um dos critérios estudados. As informações contidas nessa tabela foram extraídas da coluna de saldo das Figuras 3, 4 e 5. Figura 7. Comparativo do estoque final apurado pelos três métodos. Se não houvesse mais movimentações no estoque, seriam esses os valores de estoque final apresentados no balanço patrimonial. Pode-se observar que as quantidades são iguais nos três métodos. Os valores, porém, diferem. Na comparação do saldo final, é possível verificar que o método UEPS apurou o menor saldo de estoque final, pois reduziu os estoques atuais com valor unitário maior. Já o método PEPS gerou o maior saldo, uma vez que procedeu a saída pelos valores mais antigos e mais baixos. Por fim, o método da média ponderada ficou entre os dois. As diferenças encontradas a partir da comparação entre os critérios nos possibilitam ver as implicações que o método adotado tem sobre os valores que serão levados ao resultado da empresa, ou seja, o reflexo que o CMV tem no lucro (ou prejuízo) da empresa. Além disso, tal análise nos possibilita entender esses reflexos no saldo de estoques levados ao balanço patrimonial. No Quadro 1, são apresentadas essas diferenças entre os métodos. Método Estoque final CMV Lucro bruto PEPS Maior Menor Maior UEPS Menor Maior Menor Média ponderada Médio Médio Médio Quadro 1. Diferenças de resultados entre os três métodos Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada12 É importante compreender que, se todas as compras fossem efetuadas pelos mesmos valores, ou seja, não tivessem variação no preço de compra dos estoques, os três métodos apurariam os mesmos valores de CMV e estoque final. Porém, isso não ocorre em economias inflacionárias, e, conforme Iu- dícibus et al. (2010, p. 115), “Critérios diferentes levam a valores de estoque e resultados líquidos também diferentes”. Neste capítulo, pudemos aprender sobre métodos aplicados ao controle e à avaliação de estoques. Eles se enquadram como modelos de inventário permanente de estoque, nos quais se consegue verificar o custo de cada venda efetuada pela empresa, bem como obter o saldo dos produtos em estoque a qualquer instante. Esses são fatores que proporcionam aos profissionais da área uma significativa melhora na gestão de estoques. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico – CPC 16 (R1) – Estoques. Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documen- tos/243_CPC_16_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 14 set. 2020. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade Comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. IUDÍCIBUS, S. et al. Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PADOVEZE, C. L. et al. Fundamentos de Contabilidade: aplicações. 22. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SANTOS, J. L. et al. Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 2015. Leitura recomendada ATHAR, Raimundo Aben. Introdução à contabilidade. São Paulo: Prentice Hall, 2005. 13Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Apuração da ficha de estoques pelos métodos UEPS, PEPS e média ponderada14 Compra e venda de mercadorias Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a equação do Custo das Mercadorias Vendidas para a apuração do resultado ou do lucro bruto. � Identificar as deduções no Custo das Mercadorias Vendidas como: devolução de compras ou compras anuladas, fretes e seguros sobre compras. � Analisar as características do controle do inventário periódico versus inventário permanente. Introdução Neste capítulo, você vai estudar os elementos que estão incluídos no demonstrativo do resultado do exercício, ou DRE, como é denomi- nada a declaração que as empresas utilizam para verificar se tiveram lucro ou prejuízo em um determinado período. Você também vai aprender a equação do custo das mercadorias vendidas (CMV) e vai compreender como ela é formada e de onde advêm os valores que entrarão nesse cálculo. Você também vai identificar as deduções que fazem com que a receita bruta se transforme em receita líquida e quais são as despesas que farão com que se chegue ao lucro operacional. Por fim, você vai analisar as ca- racterísticas dos Inventários, que podem ser periódicos ou permanentes.Custo da Mercadoria Vendida Para que possamos falar em CMV, temos que reconhecer que ele se encontra em uma demonstração contábil importante para o controle das instituições, que é o DRE. O DRE apresenta como resultado final lucro ou prejuízo. O lucro se dá quando a empresa teve mais receitas (ou faturamento) do que gastos (custos e despesas); já o prejuízo ocorre quando o contrário acontece, ou seja, quando a empresa teve mais gastos (custos e despesas) do que receitas (ou faturamento). No art. 187 da Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, é apresentada a DRE, estabelecendo-se que ela discriminará: I — a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abati- mentos e os impostos; II — a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III — as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV — o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; V — o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto VI — as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracte- rizem como despesa; VII — o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social (BRASIL, 1976, documento on-line). A receita, segundo Melo e Barbosa (2018, p. 159), “[...] é a entrada bruta de benefícios econômicos durante o período que ocorre no curso das atividades ordinárias de uma empresa”. Tal citação afirma que o faturamento da orga- nização é a sua receita, ou seja, essa receita aumentará o patrimônio líquido, independentemente de ser recebida à vista ou a prazo (MELO; BARBOSA, 2018). Quanto ao custo, Melo e Barbosa (2018, p. 160) o define como: [...] o preço pelo qual se obtém um bem, direito ou serviço. Por extensão, é o preço da matéria-prima, mão de obra e outros encargos incorridos na produção de bens ou serviços. Portanto, é o preço na aquisição de um bem ou serviço, bem como o incorrido no processo interno de produção de um bem ou serviço para a venda ou uso interno. Compra e venda de mercadorias2 O conhecimento do CMV é imprescindível para que a organização tenha controle do quanto está gastando com a produção dos produtos que ela coloca à venda. Muitas vezes, o empresário detém seus esforços apenas na análise das partes operacionais da empresa, buscando produzir mais, conquistar novos clientes e vender em maior volume. Entretanto, não deve ser apenas esse o foco quando se busca o crescimento, pois geralmente a análise minuciosa dos custos mostrará o caminho para um resultado ainda melhor. Quando falamos em CMV estamos nos referindo às mercadorias que são vendidas por empresas dos ramos comercial e industrial. Conforme Marion (2006), as empresas comerciais tratam o CMV basicamente como os gastos envolvidos na aquisição de bens para revenda. Já no caso de uma indústria, os custos correspondem aos gastos na produção, como aqueles com matéria-prima, mão de obra, energia elétrica, manutenção, embalagem e outros componentes que integrarão o objeto, seja ele um produto em elaboração (não completamente terminado) ou um produto acabado (pronto para a venda). Se a empresa é uma prestadora de serviços, conforme Marion (2006), a denominação correta é custo do serviço prestado e os gastos envolvidos basicamente se resumem à mão de obra, com uma pequena parcela de outros custos, como os de supervisão e de insumos necessários à efetiva prestação. Será por meio do CMV que o empresário terá a dimensão exata do de- sempenho financeiro da empresa, por exemplo, se ela está lucrando e de que forma ela pode melhorar os resultados. De todos os gastos feitos pela empresa, o custo de mercadoria vendida é o que tem mais relevância para a análise aprofundada dos custos da empresa. Ele está sujeito diretamente a alterações de preços praticados pelos fornecedores – aqueles que vendem a matéria prima e os insumos que irão compor os produtos elaborados pela empresa –, além de poder sofrer mudanças e perdas a todo momento. Uma das mudanças mais rotineiras no CMV diz respeito às alterações de valores de insumos básicos, como o aumento no combustível. Quando os combustíveis aumentam de preço, há um impacto direto nos custos das empresas, pois precisa-se de combustível para o transporte tanto dos insumos que integrarão o produto como dos próprios produtos. É importante que se tenha noção dos custos envolvidos nas mais diversas atividades econômicas do Brasil. A Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) é útil para que tenhamos acesso a essas informações. A CNAE é uma categorização feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e é também utilizada pela Receita Federal do Bra- 3Compra e venda de mercadorias sil para o enquadramento dos negócios e a criação do CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) das empresas. Veja na Figura 1 a página de buscas do CNAE. Figura 1. Página de buscas do CNAE. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018). Para que se possa calcular o CMV, é necessário fazer um cálculo levando em consideração alguns dados do estoque: � estoque inicial (EI) do período; � compras (C) do período; e � estoque final (EF) ao término desse período. Com esses dados, basta preencher a seguinte fórmula, que vai resultar no CMV: CMV = (EI + C) – EF Para o melhor entendimento desse cálculo, veja o exemplo a seguir. Compra e venda de mercadorias4 Katiane, uma empresária novata, pretende conhecer com maior precisão os gastos envolvidos em seu negócio. A empresa em questão é uma loja que vende roupas para pessoas mais recatadas. Os dados apresentados no mês de março são: � EI — valor em estoque no início do mês de março = R$ 10.000,00. � C — valor de compras efetuadas no mês de março = R$ 5.000,00. � EF — valor em estoque no último dia do mês de março = R$ 7.000,00. Com base nesses valores, devemos aplicar a fórmula para encontrar o CMV: CMV = (EI + C) – EF CMV = (10.000 + 5.000) – 7.000 CMV = 15.000 – 7.0000 CMV = R$ 8.000 Observação: quando houver devolução de mercadorias adquiridas, esse valor deve ser descontado do valor de compras de mercadorias na fórmula do CMV. Portanto, o CMV da empresa no mês de março, com base nos dados forne- cidos pela empresária, foi de R$ 8.000,00. Tendo em mãos essa informação, Katiane decide avançar em sua análise e agora deseja saber qual foi o lucro da empresa nesse mês. Segundo a empresária, o faturamento (receita) em março foi de R$ 17.000,00. Para que se possa encontrar o lucro bruto, utiliza-se a seguinte fórmula: LUCRO = RECEITA LÍQUIDA – CMV Para melhor entendimento, veja o box Exemplo a seguir. 5Compra e venda de mercadorias Dados necessários: CMV = R$ 8.000 Receita líquida = R$ 17.000 Com base nesses valores, devemos aplica a fórmula para encontrar o lucro bruto: LUCRO = RECEITA LÍQUIDA – CMV LUCRO = 17.000 – 8.000 LUCRO = R$ 9.000 Dessa forma, o lucro bruto da empresa no mês de março, com base nos dados fornecidos pela empresária, foi de R$ 9.000,00. Cabe aqui ressaltar que ainda não foram retirados do faturamento os impostos nem as despesas fixas e variáveis. A compreensão do CMV revela que existem gastos que estão diretamente envolvidos na fabricação do produto, na prestação de serviço ou na comerciali- zação dos mesmos. Isso significa que cada empresa terá as suas especificidades em termos de custos. Quando não se tratar desse gasto direto, estaremos abordando outro assunto, que é a despesa. Reconhecer que o CMV faz parte de uma demonstração importante da contabilidade, a DRE, é entender que esse custo impactará no resultado da empresa, podendo gerar lucro ou prejuízo. Assim, é imprescindível que sai- bamos o que compõe oCMV, pois, a partir dessa análise, é possível encontrar maneiras de aumentar o lucro da empresa. Compra e venda de mercadorias6 A empresa Bazar Mix Ltda iniciou suas atividades em 2015. Imagine que você foi contratado para apurar o resultado em dezembro de 2015 e controlar o inventário final da empresa no ano de 2015. Para isso, temos os seguintes dados: 1. Saldo da conta caixa: R$ 200.000,00 2. Saldo da conta capital social: R$ 200.000,00 3. Compra de mercadorias, à vista: R$ 40.000,00 4. Compra de mercadorias, a prazo: R$ 40.000,00 5. Venda de mercadorias, à vista: R$ 110.000,00 6. Custo das mercadorias vendidas - CMV: R$ 50.000,00 Com base nesses dados, calcule o estoque final e o lucro ou prejuízo bruto da empresa Bazar Mix Ltda em dezembro de 2015: Para apurar o resultado da empresa, devemos aplicar a fórmula do lucro bruto: LB = Receita líquida de vendas – CMV LB = 110.000,00 – 50.000,00 = R$ 60.000,00 Chegamos ao resultado de R$ 60.000,00 de lucro em dezembro de 2015. Para controlar o inventário período e apurar o saldo final de estoque de mercadorias, utilizamos a fórmula do CMV (CMV = EI + C – EF), no entanto, para calcular o estoque final (EF), devemos isolá-lo como variável da equação, da seguinte maneira: EF = EI + C – CMV EF = R$ 0 + R$ 80.000,00 – R$ 50.000,00 = R$ 30.000,00 Com isso, chegamos ao saldo final de estoque de mercadorias, que pode ser verificado pela apuração e contagem do inventário físico da empresa em dezembro de 2015. A partir dos dados iniciais e dessas operações calculadas, já podemos montar as primeiras demonstrações contábeis da empresa, conforme demonstrado a seguir: 7Compra e venda de mercadorias Lembre-se de que só é possível controlar aquilo que conhecemos, e conhecer a fundo os custos de uma organização não é uma tarefa fácil. A complexidade que se encontra nessa área é grande devido às inúmeras variáveis existentes. Porém, não é uma tarefa impossível; basta ter dedicação e foco para descortinar os detalhes que envolvem esse assunto. Identificando as deduções na receita O DRE possui, na sua composição, basicamente, a receita menos os gastos. Entretanto, essa é uma forma muito simplificada de abordar o assunto, pois tal demonstração permite um detalhamento muito maior. Para compreender de uma forma mais clara, pode-se dizer que o DRE se divide, inicialmente, em três partes, abordadas a seguir. � Na primeira parte, temos a receita bruta menos as deduções de vendas, os abatimentos e os impostos. O resultado dessa conta será a receita líquida. � Na segunda parte, teremos a receita líquida menos os custos de vendas (CMV). Com essa conta estaremos chegando ao lucro bruto. � Na terceira parte, tendo o lucro bruto em mãos, faremos a subtração das despesas. Estas são despesas com vendas e despesas administrativas e financeiras. Se a empresa tiver receitas nessa parte, deverá somar, ao invés de diminuir do lucro bruto. Ao subtrair as despesas, você estará chegando ao valor do lucro (ou prejuízo) operacional. Ao estruturar um DRE de forma completa, pode-se informar outras receitas e despesas não operacionais, além do imposto de renda e da contribuição social; após feita a subtração, teremos o resultado líquido. O Quadro 1 apresenta um DRE acompanhado de explicações sobre os principais elementos que o compõem. Compra e venda de mercadorias8 1. Receita bruta de vendas de serviços São os valores das receitas de comercialização e as receitas de venda de serviços 2. (–) Deduções da receita bruta São as vendas canceladas, os abatimentos e os descontos sobre as vendas. Entram aqui também os impostos sobre vendas (ICMS, ISS, IPI, PIS, COFINS) 3. (=) Receita operacional líquida Resultado da receita bruta menos as deduções 4. (–) Custos das vendas Outros nomes para esses custos são: custos dos produtos vendidos (CPV), custos dos serviços prestados (CSP) e custos das mercadorias vendidas (CMV) 5. Lucro operacional Resultado da receita bruta menos as deduções e os custos 6. (–) Despesas operacionais São despesas operacionais: despesas com vendas, despesas administrativas, despesas gerais (+/–), outras receitas ou despesas 7. (=) Lucro líquido 8. (+/–) Resultado financeiro Despesas financeiras (juros pagos e descontos concedidos) e/ ou receitas financeiras (juros recebidos e descontos obtidos) 9. (=) Resultado antes do imposto de renda (LAIR) Lucro líquido menos o resultado financeiro 10. (=) Resultado do exercício após imposto de renda (LADIR) 11. (–) Participações — debêntures, empregados, administradores, partes beneficiárias 12. Lucro/prejuízo líquido do exercício — lucro líquido do exercício por ação do capital social Quadro 1. DRE. Fonte: Adaptado de Marion (2006). 9Compra e venda de mercadorias Segundo Marion (2006), as deduções são ajustes realizados sobre a receita bruta para que se chegue à receita líquida, sendo a receita bruta o resultado do que foi vendido no período em análise. Ela também pode ser denominada faturamento bruto. Os valores que serão deduzidos são as devoluções, os impostos e os abatimentos. De acordo com Marion (2006, p. 93), as devoluções são: [...] mercadorias devolvidas por estarem em desacordo com o pedido (preço, qualidade, quantidade, avaria). O comprador, sentindo-se prejudicado, devol- ve total ou parcialmente a mercadoria. Às vezes, a empresa vendedora, na tentativa de evitar a devolução, propõe um abatimento no preço (desconto) para compensar o prejuízo ao comprador. O comprador possui o direito de devolver a mercadoria quando a mesma não corresponder à expectativa firmada no contrato. Por esse motivo, a em- presa vendedora, por ter vendido essa mercadoria, deve registrar no DRE a devolução do produto. O motivo do registro é o fato de essa devolução reduzir o valor da receita líquida. O abatimento ocorre quando o comprador também se sentiu lesado de alguma forma, mas aceitou um desconto para compensar sua insatisfação. Da mesma forma que na devolução, a empresa vendedora deve registrar essa ação, pois o valor do desconto deve ser deduzido da receita líquida. Observe que, tanto na devolução quanto no abatimento, haverá a redução do valor da receita líquida em função das deduções sobre a receita bruta. Os fretes e seguros sobre as vendas também se enquadram nessa parte do DRE, pois os mesmos irão diminuir a receita da empresa. Santos (2018) aponta que o valor da devolução ao fornecedor será o mesmo da compra; já quando se tratar do valor da devolução do cliente, será registrado o valor da respectiva venda. Quanto aos impostos, somente aqueles que incidem diretamente sobre as vendas é que serão apresentados no DRE, pois reduzem a receita líquida. Segundo Marion (2006), os impostos mais comuns que são calculados com base no faturamento são: � IPI (Imposto sobre Produto Industrializado — esfera federal). � ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços — esfera estadual). � ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza — esfera municipal). Compra e venda de mercadorias10 � PIS (Programa de Integração Social — esfera federal). � COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social — esfera federal). Lembrando que, na primeira parte do DRE, tem-se a receita bruta menos as deduções de vendas, os abatimentos e os impostos, o que leva ao resultado da receita líquida. De outra forma, pode-se dizer que, para que se chegue ao valor da receita líquida, basta pegar a receita bruta e subtrair o valor das devoluções, dos abatimentos e dos impostos incidentes sobre as vendas feitas. Na segunda parte do DRE, tem-se a receita líquida como base para a subtração do CMV. Assim, a receita líquida menos o CMV é igual ao lucro bruto. E, na terceira parte, com base no lucro bruto, subtraem-se as despesas operacionais para que se chegue ao lucro operacional. As despesas operacionais, também chamadas despesas de vendas, de acordo com Marion (2006), são aquelas despesas referentesà promoção do produto e sua colocação junto ao consumidor (comercialização e distribuição). Incluem-se nesse rol as despesas com o pessoal da área de vendas, comissões sobre vendas, propagandas, publicidade e marketing. As despesas administrativas, por sua vez, são aquelas que fazem com que a empresa funcione, de uma forma geral. Incluem-se nessa lista: honorários administrativos; salários e encargos sociais dos colaboradores que trabalham no administrativo; aluguéis de escritórios; materiais de escritório; seguro de escritório; depreciação de máquinas e utensílios referentes ao escritório; e assinatura de jornais e revistas, contratos de internet e gastos com combustível, desde que inerentes à área administrativa. Conforme Melo e Barbosa (2018, p. 59), “[...] as despesas administrativas são despesas ligadas ao custeio da máquina administrativa”. Já as despesas financeiras são aquelas relativas aos capitais de terceiros. Estes podem ser bancos e clientes, uma vez que a relação da empresa com eles pode gerar juros (pagos ou recebidos — sendo os últimos somados ao resultado) e descontos financeiros (que podem ser concedidos ou obtidos — os últimos somados ao resultado). Para alguns autores, as despesas financeiras encontram-se separadas das despesas operacionais (administrativas e de vendas). Entretanto, cabe aqui ressaltar que, independentemente de estarem incluídas nas despesas operacio- nais ou não, as despesas financeiras irão reduzir o valor do lucro operacional da empresa. 11Compra e venda de mercadorias É importante ressaltar que a diferenciação entre as despesas e os custos se dá dire- tamente com base no produto: ao conseguir ver no produto o gasto, certamente se trata de custo. Se não é possível ver no produto tal gasto, mas sabe-se que ele existe, então trata-se de despesa. Fica claro que, ao se subtraírem os gastos, o que sobra para a empresa vai ficando menor. Por esse motivo, as empresas devem ter um controle perma- nente desses gastos, pois quando são excessivos, podem levar ao prejuízo. Uma empresa saudável mantém o controle preciso das entradas e saídas, possibilitando aos gestores a tomada de decisões coerentes com os resulta- dos apresentados pela empresa. Portanto, a boa gestão contábil e financeira tem como suporte um gestor bem informado e que sabe o que fazer com as informações, gerando conhecimento e tendo esse conhecimento como base para a tomada de decisão mais assertiva. Inventário permanente e inventário periódico O CMV merece um cuidado especial, já que a partir dele o resultado da em- presa pode ser positivo, trazendo lucro, ou negativo, gerando prejuízo. Como o estoque é a base desse cálculo tão importante na contabilidade, é necessário que se dê uma atenção especial aos métodos pelos quais ele é definido nas empresas. O estoque será determinado com base no registro permanente ou no valor dos estoques existentes, de acordo com o livro de inventário, no fim do período de apuração. Assim, temos dois métodos de controle do inventário: o inventário periódico e o inventário permanente. No inventário periódico não há uma avaliação constante dos estoques. Define-se um período e, no final dele (que geralmente iguala-se ao exercício social, que se inicia em 1º de janeiro e vai até 31 de dezembro), faz-se o levan- tamento físico dos estoques de mercadorias. Considerando-se o estoque do período anterior, que será o estoque inicial (EI), e o estoque atual ou final (EF), acrescentando-se as compras (C) do período, pode-se calcular o CMV por meio da fórmula clássica: CMV = EI + C – EF. No inventário permanente, haverá um controle contínuo das entradas e saídas. Conforme Marion (2006, p. 173), nesse caso, “[...] quando se compra Compra e venda de mercadorias12 mercadoria, soma-se ao estoque; quando se vende mercadoria, dá-se baixa no estoque”. Quando o registro nos estoques é feito de forma permanente, deve ser aberta uma ficha ou página própria para que as entradas e saídas sejam registradas em ordem cronológica, de acordo com Santos (2018). O CMV será a soma das saídas, sendo computadas também as saídas dos materiais transferidos para a produção necessários para a fabricação de mais produtos. Para que se controle de maneira permanente o estoque, utilizam-se dois métodos: média e PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai; também se utiliza o termo em inglês FIFO, significando, nesse caso, first in, first out). Quando é feito por média, conforme Marion (2006, p. 173): [...] à medida em que se for comprando as mercadorias, calcula-se o preço médio para todos os itens em estoque. Por ocasião das vendas de mercadorias, a saída dos estoques é calculada pelo preço médio encontrado, calculando-se o CMV. Quando é feito pelo método PEPS, segundo Marion (2006, p. 173), a empresa assume que “[...] o custo da mercadoria é considerado com base nos estoques mais antigos, os primeiros a serem adquiridos”. Para um melhor entendimento, o box a seguir apresenta um exemplo ex- traído de Marion (2006). Um revendedor de motos no início do ano dispõe de duas motos adquiridas por R$ 10.000,00 cada. Assim, o seu estoque inicial (EI) é de R$ 20.000,00. Durante o mês, ele adquire mais três motos, por R$ 11.000,00 cada, ou seja, R$ 33.000,00 em compras (C). No final do mês, ele vendeu duas motos por R$ 15.000,00 cada, totalizando R$ 30.000,00 em vendas. a) Pelo inventário periódico: � constatou-se três motos em estoque, ou seja, R$ 33.000,00 de estoque final: CMV = EI + C – EF CMV = 20.000 + 33.000 – 33.000 CMV = 20.000,00 Com base nesse cálculo do CMV, pode-se calcular o lucro bruto: Vendas = 30.000,00 CMV = 20.000,00 13Compra e venda de mercadorias Lucro bruto = 10.000,00 b) Pelo inventário permanente por meio da média ponderada: Primeira entrada 2 × 10.000,00 = 20.000,00 Segunda entrada 3 × 11.000,00 = 33.000,00 Total de motos 2 + 3 = 5 motos Total monetário 53.000,00 Cálculo da média = 53.000,00 ÷ 5 = 10.600,00 Estoque final: R$ 31.800,00 (3 × 10.600,00) Como eram duas motos = 10.600 × 2 = 21.200,00 CMV = 21.200,00 Com base nesse CMV, pode-se calcular o lucro bruto: Vendas = 30.000,00 CMV = 21.200,00 Lucro bruto = 8.800,00 c) Pelo inventário permanente por meio do sistema PEPS: Primeira entrada 2 × 10.000,00 = 20.000,00 Esse é o valor do CMV Segunda entrada 3 × 11.000,00 = 33.000,00 Estoque final: R$ 33.000,00 Com base no valor que primeiro entrou, tem-se o CMV e, assim, encontra-se o lucro bruto: Vendas = 30.000,00 CMV = 20.000,00 Lucro bruto = 10.000,00 BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 14 maio 2018. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Comissão Nacional de Classi- ficação. 2018. Disponível em: <https://cnae.ibge.gov.br/?view=subclasse&tipo=cna e&versao=9.1.0&subclasse=4781400&chave>. Acesso em: 14 maio 2018. MARION, J. C. Contabilidade básica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2006. MELO, M. M. de.; BARBOSA, S. Demonstrações contábeis. Rio de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2018. Compra e venda de mercadorias14 SANTOS, C. dos. Exame de suficiência em contabilidade: linguagem prática: exercícios. 8. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2018. Leitura recomendada MOTA, C. V. Não tem carro? Como o aumento do combustível também afeta seu bolso. BBC Brasil, jul. 2017. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/bra- sil-40688987>. Acesso em: 14 maio 2018. 15Compra e venda de mercadorias CONTABILIDADE COMERCIAL Nathália Helena Fernandes Laffin Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você será capaz de: Identificar os critérios para constituir Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa. Contabilizar as Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa. Registrar a baixa de créditos não liquidados e a reversão das Perdas Estimadas em Créditosde Liquidação Duvidosa. Introdução A principal transação das empresas comerciais consiste nas opera- ções com mercadorias, isto é, a compra e venda de mercadorias a fim da obtenção de lucro. Assim sendo, os principais registros contábeis inerentes a essas práticas se relacionam com estoques de produtos e contas a pagar e a receber. Nas empresas comerciais (mas não somente nelas), é habitual que sejam realizadas transações a prazo — sejam de compras ou vendas — de forma a obter melhores e mais atraentes propostas. Contudo, as estratégias de postergação de prazos de pagamento incluem, em seu processo, despesas e perdas para as empresas, principalmente no que tange a clientes devedores. Portanto, neste capítulo, você aprenderá um pouco mais sobre essa temática inerente às empresas comerciais, as Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (PECLD), contabilizando-as e apren- dendo a contabilizar a baixa de créditos não liquidados e a reversão dessas PECLD. Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa: o que são? As Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (PECLD) são contas relacionadas às atividades comuns da empresa, principalmente (mas não exclusivamente) nas empresas comerciais. Essas contas decorrem de uma estimativa calculada pela empresa para reconhecer a possibilidade de não recebimento de direitos. As PECLD são contas redutoras do ativo e que representam um provisio- namento, ao final do exercício contábil, para cobrir perdas prováveis de parte dos créditos da empresa (RIBEIRO, 2013). Assim sendo, essas perdas possuem natureza credora (isto é, seu saldo será aumentado a partir de um crédito) por constituírem uma redução das contas a receber, que podem ser clientes ou duplicatas. Antes da internacionalização das normas de contabilidade, as PECLD eram reconhecidas como provisões, mas, em sua essência, não refletem o conceito contábil de provisão. As provisões são passivos de prazo ou de valor incerto, conforme determina o CPC 25 — Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Con- tingentes, emitido em 2009 pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Tal diferença reside no fato de que as perdas possuem prazo e valor estimados pela contabilidade, o que as difere das provisões. Em resumo, a partir do seu conceito, é possível perceber que as PECLD designam uma incerteza no recebi- mento de contas a receber e, por meio de seu reconhecimento, conferem à empresa informações fidedignas sobre o que se pode obter com os ativos da empresa. Como você viu, as PECLD são registradas no ativo das empresas. Mas fique atento: tais contas podem compor tanto o ativo circulante quanto o ativo não circulante, a depender do prazo de vencimento dos direitos a que se referem. Como as empresas não sabem qual o valor que não será recebido, utiliza-se uma estimativa para o registro contábil das PECLD. De acordo com Gelbcke et al. (2018), são analisados alguns critérios para a contabilização de uma adequada estimativa. Os autores destacam quatro formas de apuração das PECLD, a saber: Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa2 1. análise individual do saldo de cada clientes; 2. experiências anteriores da empresa; 3. contas em atraso. 4. condições de venda e a forma de pagamento negociadas pela empresa. Como você pode perceber, o primeiro passo é analisar individualmente o saldo de cada cliente, analisando as contas analíticas de cada duplicata de clientes no momento do balanço patrimonial. Tal análise deverá ser reali- zada conjuntamente com setores responsáveis pelas vendas e pelas cobranças (GELBCKE et al., 2018). Assim sendo, a empresa deve também analisar seu histórico de PECLD a fim de obter um padrão histórico do comportamento de seus clientes. A análise de anos anteriores permite realizar um cálculo apurado das contas em atraso da empresa e, quando estabelecido um padrão, torna-se mais fácil estimar um percentual para a apuração das perdas (GELBCKE et al., 2018). Por fim, mas não menos importante, deve-se observar as condições de venda e as formas de pagamento oferecidas para os clientes, pois a concessão de maiores prazos pode gerar maiores inadimplência de clientes (GELBCKE et al., 2018). Até o momento, você compreendeu o que são as PECLD. Na próxima seção, vai ver como contabilizar tais perdas. Contabilização das PECLD As PECLD constituem-se como contas de natureza credora, sendo redutoras do ativo das empresas. O reconhecimento dessas perdas observa o regime de competência, isto é, deverão ser realizados registros contábeis específi cos para cada evento relacionado aos direitos oriundos de clientes. A base está na compreensão de que, se há uma redução do ativo, deve-se creditar a conta do ativo e, se há um reconhecimento de despesas, deve-se debitar tal despesa — o que foi definido a partir do método das partidas dobradas publicado por Luca Pacioli, em 1494, e que é tema de estudo de contabilidade básica. 3Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa O registo das PECLD envolve contas patrimoniais e de resultado. A conta patrimonial envolvida é: Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa – natureza credora, redutora do Ativo. Já a conta de resultado envolvida no lançamento é: Devedores Duvidosos – natureza devedora, despesa. A contabilização das PECLD refere-se ao cálculo da estimativa da perda, isto é, a apuração e o registro do valor que se espera não receber. Antes de o Brasil convergir às normas internacionais, o critério para reconhecimento das PECLD decorria de estimativas que abrangiam um percentual sobre o saldo das contas a receber. Tal percentual variava de 1,5 a 3% sobre tais saldos (RIBEIRO, 2013; IUDÍCIBUS; MARION, 2016). Atualmente, as normas brasileiras permitem que o reconhecimento ocorra somente quando houver evidência objetiva de que os direitos não serão re- cebidos em sua totalidade. No que tange especificamente às PECLD, o Pro- nunciamento Técnico CPC 48, que aborda os Instrumentos Financeiros e sua consequente recuperabilidade de ativos, em seu item 5.5, expõe a necessidade de análise da redução ao valor recuperável de contas de instrumentos finan- ceiros (CPC, 2016). Como as contas a receber são instrumentos financeiros, as PECLD devem observar tais orientações de cálculo de recuperabilidade. Você sabia que existem regras para o estabelecimento de PECLD? Empresas que têm sua tributação baseada no Lucro Real possuem limites e condições para o reconhecimento das PECLD, devendo observar tanto os valores em contas de direitos quanto os prazos de vencimento e prazos de insolvência, conforme predisposto na Lei nº. 13.097 (BRASIL, 2015). Ao apurar os saldos das contas de cada uma das duplicatas a receber de um exercício social, as empresas devem verificar se há alguma evidência objetiva de que o saldo ou parte do saldo existente em tais contas não será Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa4 recebido. Assim, apura-se um valor específico e deve-se reconhecê-lo contabilmente, conforme determina o CPC 48 (CPC, 2016). Portanto, o percentual que será aplicado para a estimativa de PECLD (que era de 1,5 a 3% anteriormente à convergência às normas internacionais) deverá ser estimado pela empresa a partir de uma das quatro formas agora aceitáveis: análise individual do saldo de cada clientes; experiências anteriores da empresa; contas em atraso e/ou condições de venda e a forma de pagamento negociadas pela empresa. A conta patrimonial “Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Du- vidosa” tem natureza credora, representando uma redução do Ativo. A conta de resultado, por sua vez, chama-se “Devedores Duvidosos” e implica o reconhecimento de um valor que se estima não receber, reduzindo o resultado (ou seja, é reconhecida uma despesa). Portanto, a contabilização de PECLD será: D – Devedores Duvidosos (Resultado) C – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo) A Companhia ABC possui, em 31 de dezembro dex0, um saldo de R$ 500.000 regis- trado na conta Duplicatas a Receber, em seu Ativo Circulante. A partir da apuração de estimativas com base em eventos passados, a companhia espera não receber 5% desse montante. Para tanto, deverá efetuar o seguinte registro contábil no final do exercício contábil: D – Devedores Duvidosos (Resultado): R$ 25.000 C – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 É importante destacar que esse registro imputa um valor estimado do que se espera não receber. Esse registro deve ser mantido até o final do exercício contábil subsequente (ou seja, no caso do exemplo, até 31 de dezembro de x1), quando se deve realizar o confronto entre os valores efetivamente não recebidos, quando será reconhecido o valor incobrável. Observe, a seguir, como é realizado o registro da baixa ou da reversão destas estimativas. 5Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa Para saber mais, leia no link a seguir o Artigo 347 do Decreto nº. 9.580, 22/11/18, que também trata deste assunto. https://qrgo.page.link/RTdWw Reconhecimento do valor incobrável de PECLD O reconhecimento do valor incobrável ocorre quando se esgotam as possibi- lidades de cobrança dos valores a receber, conforme orienta o CPC 48 (CPC, 2016). Logo, a empresa considera que esses valores não serão mais recebidos. Existem três eventos contábeis que podem ocorrer no momento do reco- nhecimento do valor incobrável: quando o valor incobrável é o mesmo que o estimado; quando o valor incobrável é menor que o valor estimado; quando o valor incobrável é maior que o valor estimado. O registo da baixa das PECLD envolve contas patrimoniais e de resultado. As contas patrimoniais envolvidas são: Duplicatas a Receber/Clientes — natureza devedora, conta do Ativo; Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa — natureza credora, redutora do Ativo. Já as contas de resultado envolvidas nos lançamentos são: Devedores Incobráveis — natureza devedora, despesa; Reversão da Estimativa em Créditos de Liquidação Duvidosa — natu- reza credora, reversão de despesa (receita). Então, quando a empresa estimar um valor de PECLD e o valor reconhecido como incobrável for o mesmo, deverá ser efetuado o seguinte registro: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo) C – Duplicatas a Receber (Ativo) Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa6 Perceba que o valor registrado na conta redutora será totalmente zerado ao final do exercício contábil e a contrapartida será creditada nos direitos a receber, tendo em vista que estes não serão mais recebidos. Nessa situação, não há nenhum impacto no resultado da empresa, pois a despesa foi estimada com precisão no exercício anterior. A Companhia ABC possui, em 31 de dezembro de x0, um saldo de R$ 500.000 registrado na conta Duplicatas a Receber, em seu Ativo Circulante. A partir da apu- ração de estimativas, a companhia identificou a possibilidade de não receber 5% deste montante. Para tanto, deverá efetuar o seguinte registro contábil no final do exercício contábil: D – Devedores Duvidosos (Resultado): R$ 25.000 C – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 Suponha, agora, que, em 31 de dezembro de x1, o valor não recebido pela empresa a título de perdas com créditos de liquidação duvidosa foi de R$ 25.000. Os registros realizados serão: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 C – Duplicatas a Receber (Ativo Circulante): R$ 25.000 Quando o valor incobrável for menor que o valor estimado, deve-se re- conhecer o valor da perda nas Duplicatas a Receber e também na conta de Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa, conforme disposto no item 59 do CPC 25 (CPC, 2009). Como o valor não recebido foi menor do que o provisionado, haverá um saldo ainda na conta Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa. Para compensar esse valor, a conta Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa será zerada e tal diferença será reconhecida no resultado como uma reversão (reconhecimento de receita). Assim, é corrigido o valor da perda registrado no exercício anterior, conforme disposto a seguir: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo) C – Duplicatas a receber (Ativo) C – Reversão da Estimativa em Créditos de Liquidação Duvidosa (Resultado) 7Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa A Companhia ABC possui, em 31 de dezembro de x0, um saldo de R$ 500.000 regis- trado na conta Duplicatas a Receber em seu Ativo Circulante. A partir da apuração de estimativas, a companhia espera não receber 5% desse montante. Para tanto, deverá efetuar o seguinte registro contábil no final do exercício contábil: D – Devedores Duvidosos (Resultado): R$ 25.000 C – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 Suponha, agora, que em 31 de dezembro de x1, o valor não recebido pela empresa a título de perdas com créditos de liquidação duvidosa foi de R$ 23.000. Os registros realizados serão: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 C – Duplicatas a Receber (Ativo Circulante): R$ 23.000 C – Reversão da Estimativa em Créditos de Liquidação Duvidosa (Resultado): R$ 2.000 Note, portanto, que, nessa situação, há um impacto no resultado. Já quando o valor incobrável for maior que o valor estimado, conforme disposto no item 60 do CPC 25 (CPC, 2009), deverá ser reconhecido um valor extra referente a tal diferença entre estimado e realizado. Assim sendo, deve- -se reconhecer os valores não recebidos nas contas Duplicatas a Receber e Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa e reconhecer, também, uma nova despesa referente ao valor incobrável ser maior que o provisionado. Confira: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo) D – Devedores Incobráveis (Resultado) C – Duplicatas a receber (Ativo) Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa8 A Companhia ABC possui, em 31 de dezembro de x0, um saldo de R$ 500.000 regis- trado na conta Duplicatas a Receber em seu Ativo Circulante. A partir da apuração de estimativas, a companhia espera não receber 5% desse montante. Para tanto, deverá efetuar o seguinte registro contábil no final do exercício contábil: D – Devedores Duvidosos (Resultado): R$ 25.000 C – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 Suponha, agora, que em 31 de dezembro de x1, o valor não recebido pela empresa a título de perdas com créditos de liquidação duvidosa foi de R$ 29.000. Os registros realizados serão: D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (Ativo Circulante): R$ 25.000 D – Devedores Incobráveis (Resultado): R$ 4.000 C – Duplicatas a Receber (Ativo Circulante): R$ 29.000 Perceba que o valor registrado em Duplicatas a Receber corresponderá ao valor total não recebido, enquanto o valor máximo que poderá ser debitado nas PECLD será igual ao seu saldo. A diferença, por sua vez, será reconhecida diretamente no resultado, o que significa que, nessa situação, também haverá impacto no resultado. Para que você possa compreender todos os lançamentos, confira a seguir, um resumo de todos os registros contábeis relacionados às PECLD. Quando o valor incobrável é o mesmo valor que o estimado D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa C – Duplicatas a receber Não há impacto no resultado. Quando o valor incobrável é menor que o valor estimado D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa C – Duplicatas a receber D – Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa C – Reversão da Estimativa em Créditos de Liquidação Duvidosa Há impacto no resultado. Quando o valor incobrável é maior que o valor estimado D – Perdas Estimadas em Créditosde Liquidação Duvidosa D – Devedores Incobráveis C – Duplicatas a receber Há impacto no resultado. Quadro 1. Reconhecimento do valor incobrável 9Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa Assim, neste capítulo, você compreendeu o que são as PECLD. Você aprendeu a reconhecer a estimativa da perda e seu reconhecimento de va- lor incobrável, que pode ser de igual, maior ou menor que o valor que o provisionado. O reconhecimento das PECLD é fundamental para que as empresas apre- sentem suas informações com relevância e fidedignidade, demonstrando con- sonância com as normas internacionais de contabilidade, as quais reconhecem os ativos por aquilo que deles se esperam: seus benefícios econômicos reais, ajustados às expectativas de recebimento. Confira no link a seguir um vídeo que ajuda na compreensão a respeito do que são as Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa. https://qrgo.page.link/9kgnV BRASIL. Lei nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015. Brasília, DF, 2015. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13097.htm. Acesso em: 28 set. 2019. CPC. Pronunciamento técnico n. 25: provisões, passivos contingentes a ativos contin- gentes. Brasília, DF, 2009. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documen- tos/304_CPC_25_rev%2013.pdf. Acesso em: 28 set. 2019. CPC. Pronunciamento técnico n. 48: instrumentos financeiros. Brasília, DF, 2016. Dis- ponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/ Pronunciamento?Id=106. Acesso em: 28 set. 2019. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade comercial: atualizado conforme Lei no. 11.638/07 e Lei no. 11.941/09. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. RIBEIRO, O. M. Contabilidade comercial fácil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa10 Leituras recomendadas BRASIL. Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fis- calização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://www.in.gov.br/materia/-/ asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51525535/do1-2018-11-23-decreto-n-9- 580-de-22-de-novembro-de-2018-51525026. Acesso em: 28 set. 2019. CONTABILIDADE_PECLD. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (12 min). Publicado pelo ca- nal Contabilidade passo a passo. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=MucMEF4HDqA. Acesso em: 28 set. 2019. 11Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Ramon Alberto Cunha de Faria Neste texto, você aprenderá a definir os conceitos das contribuições so- ciais PIS e COFINS, seu arcabouço lógico, como e quem deve pagar essas contribuições, a base de cálculo, o faturamento, as alíquotas e o produto da destinação arrecadatória desses tributos. Essas contribuições sociais desem- penham um papel fundamental em nossa sociedade, pois sua arrecadação é destinada às políticas de programas sociais, colaborando com isso em assis- tências sociais, pagamento de professores públicos, manutenção e garantia do seguro desemprego, auxílio aos considerados menores de idade e sistemas de saúde – como postos de saúde, hospitais e toda assistência médica adequada, entre outras finalidades sociais. Você está diante de dois tributos que têm extrema importância nos dias atuais sobre as atividades sociais básicas, como moradia, educação, saúde, segurança e trabalho. Esses tributos são contribuições nas quais o produto de sua arrecadação tem uma finalidade específica, fazendo com que o governo não possa investir este dinheiro de maneira diferente da que foi estabelecida. O propósito dessas contribuições é acabar com as desigualdades sociais e es- tabelecer padrões básicos de necessidade pública, para que todos os cidadãos tenham uma vida com dignidade, educação, saúde e paz. O PIS é um tributo cuja espécie tributária é denominada como “contribuições sociais”, uma vez que sua destinação arrecadatória tem um vínculo com um gasto governamental, ou seja, a União, ao arrecadar o valor do PIS, tem por obrigação constitucional destinar esses valores de maneira direta a um fundo de amparo ao trabalhador (FAT), para custear o seguro-desemprego e o abono salarial e uma outra parte que se destina a programas de desenvolvimento econômico. A COFINS, da mesma forma que o PIS, é um tributo classificado como “contribuições sociais”, devido a sua destinação arrecadatória com finalidade especifica. Essa finalidade é custear e aprimorar o sistema da seguridade so- cial do país. A seguridade social é um programa de políticas públicas, destinada ao bem comum dos cidadãos do país. O amparando em sua velhice, em sua saúde, e segurança, tanto profissional como pessoal. Os contribuintes ou sujeitos passivos de pagar as contribuições sociais do PIS e da COFINS, no caso de direito privado, são as pessoas jurídicas que, de modo geral, obtenham faturamento, bem como as entidades sem fins lucrativos. Entidades sem fins lucrativos são instituições que obtém renda ou fatura- mento, porém sua finalidade final é de algum benefício social, ou seja, é para a sociedade em geral que essas instituições existem e não para dar lucros. Alguns exemplos de entidades sem fins lucrativos são: Templos de qualquer culto (igrejas, sinagogas, mesquitas, centro espi- ritas, terreiros, entre outras denominações de templos religiosos). Partidos políticos. Sindicatos e suas federações e confederações. Conselho de fiscalização de profissões regulamentadas, como Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Ordem dos Advogados do BRASIL (OAB), entre outras categorias de interesses de classes profissionais. Assistência social, entendidas como as que amparam, com medidas so- ciais de saúde, segurança e educação, às pessoas com baixa renda fami- liar, os menores de idade, os hipossuficientes, entre outras classes sociais. Instituições de educação, como escolas públicas, creches e outras. Serviços sociais por iniciativa autônoma, em que se caracterizamdi- versas entidades que se prontificam a prestar serviços de ajuda comu- nitária de maneira gratuita e benéfica a sociedade. Há algumas outras classes de entidades sem fins lucrativos, mas essas são as principais. Há uma peculiaridade no PIS/PASEP que o distingue da COFINS: sua in- cidência sobre a folha de pagamento paga ou creditada a funcionários de enti- dades sem fins lucrativos. Essa é a única diferença na apuração desses dois tri- butos, pois os restantes das situações ensejam base de cálculo igual para ambos. O princípio da cumulatividade para o PIS e a COFINS implica dizer que a incidência para esses tributos será em uma única fase, sem ter direitos a se creditar de operações anteriores. Essa incidência em uma única fase deno- mina-se tributação em cascata, por fazer incidir de uma só vez e em diversas operações subsequentes. Tributa-se pelo faturamento mensal ou receita bruta como alguns doutrinadores costuma dizer. Este princípio da não cumulatividade se aplica ao regime tributário do lucro presumido, no qual não é permitida a manutenção de créditos por parte do contribuinte. A base de cálculo no regime cumulativo e também o fato gerador do PIS e da COFINS é o faturamento mensal das pessoas jurídicas em geral, assim enten- dido, como o produto da venda de mercadorias ou prestação de serviços. Hoje, o Supremo Tribunal Federal (STF) define como faturamento mensal a receita bruta para fins de incidência tributária. Mas, o que esse conceito muda? Esse conceito, praticamente, alarga a margem da base de cálculo, incluindo também as receitas financeiras, obtidas por meio de juros ativos, atualização monetária, variação cambial ativa, entre outras. Você pode, assim, perceber que o conceito de receita bruta aumenta o montante da base de cálculo, one- rando ainda mais o contribuinte por questão de interpretação jurídica. Podem ser deduzidos do faturamento ou base de cálculo os seguintes valores: Vendas canceladas. Descontos incondicionais concedidos. ICMS pago por substituição tributária. IPI. Receita de venda do ativo permanente, etc. As alíquotas pelo regime cumulativo serão as seguintes: 0,65% - PIS. 3,00% - COFINS. 1% PIS/PASEP sobre a folha de pagamento No regime de apuração pela não cumulatividade aplica-se a manutenção dos créditos de PIS e COFINS, ou seja, permite o aproveitamento de crédito destes em operações anteriores. Somente podem aderir a não cumulatividade as pessoas jurídicas optantes pelo regime tributário do lucro real. São contribuintes obrigados pelo regime da não cumulatividade do PIS/CO- FINS as pessoas jurídicas que optam pelo pagamento do IRPJ no regime tri- butário lucro real. A base de cálculo é a receita bruta mensal, entendida como o produto da venda de mercadoria e ou a prestação de serviços. Deduzindo os valores com as vendas canceladas, descontos incondicionais, ICMS por substituição tributária, IPI e etc. Incluem-se na base de cálculo os valores com receitas financeiras. As Leis nº 10.637/02 e 10.833/03 tratam dos aspectos tributário do PIS e da COFINS, nelas você irá encontrar a base para apropriação dos créditos de PIS e COFINS, a qual poderá abater da base de cálculo os créditos com: Bens adquiridos para revenda. Bens e serviços considerados como insumos para fabricação de pro- dutos e ou serviços. Energia elétrica. Despesas com alugueis de bem imóvel sede da empresa. Bens incorporados ao ativo imobilizado, etc. As alíquotas pelo regime não cumulativo serão as seguintes: 1,65% - PIS. 7,60% - COFINS. Utilizando a apuração acima, e sem considerar a apropriação de créditos, fa- remos a escrituração em razonete dos valores da COFINS a pagar. Lançamento efetuado pelo reconhecimento da receita de vendas e pelo direito ao recebimento do valor na conta clientes. Lançamento efetuado como débito pela apropriação do COFINS s/fatura- mento, que representa uma despesa para a empresa, e como crédito de COFINS a recolher representando um valor a recolher demonstrado no passivo circulante.
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