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Variação, gêneros textuais e ensino de Português - Vieira & Lima (2019)

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1
2
Variação, 
gêneros textuais 
e ensino de Português: 
da norma culta à norma-padrão
3
Variação, 
gêneros textuais 
e ensino de Português: 
da norma culta à norma-padrão
Silvia Rodrigues Vieira &
Monique Débora Lima 
(organizadoras)
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
 
Letras UFRJ 
 
2019
organização e revisão: 
Silvia Rodrigues Vieira & Monique Débora Alves de Oliveira Lima
diagramação/projeto gráfico/capa: 
Matheus Pereira Antunes
faculdade de letras da ufrj
Av. Horácio de Macedo, 2151
Cidade Universitária – CEP 21941-917
Rio de Janeiro – RJ
Este livro foi desenvolvido no âmbito do Projeto Contínuos de/em variedades 
do Português: análises contrastivas, coordenado por Silvia Rodrigues Vieira 
e parcialmente financiado pelo Edital Universal MCTI/CNPq 28/2018.
Vieira, Silvia Rodrigues & 
Lima, Monique Débora Alves de Oliveira (orgs.) 
Variação, gêneros textuais e ensino de Português: da norma 
culta à norma-padrão / Vários autores. – Rio de Janeiro: 
Letras UFRJ, 2019.
129p.
Ebook.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-8363-013-5
DOI: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.11857965
1. Língua portuguesa 2. Gramática 3. Ensino 4. Variação 
linguística 5. Propostas pedagógicas I. Título. II. Vieira, Silvia Rodrigues 
& Lima, Monique Débora Alves de Oliveira (orgs.) 
CDD 469
V658
Ficha produzida pelo diagramador
2019
Apresentação 
Silvia Rodrigues Vieira | Monique Débora Alves de Oliveira Lima 
INTRODUÇÃO: Para uma abordagem da norma no continuum fala-escrita 
Monique Débora Alves de Oliveira Lima | Silvia Rodrigues Vieira 
CAPÍTULO 1: Variação estilística das estratégias de preenchimento do acusativo 
anafórico de terceira pessoa
Juliana Magalhães Catta Preta de Santana | Karen Cristina da Silva Pissurno | Monique 
Débora Alves de Oliveira Lima
CAPÍTULO 2: Estratégias de retomada do dativo de 3ª pessoa em diferentes 
gêneros textuais: uma análise sobre letramento, normas e ensino
Bruna Brasil Albuquerque de Carvalho | Pedro Henrique dos Santos Regis | Thaissa 
Frota Teixeira de Araujo Silva
CAPÍTULO 3: Variação em estratégias de relativização no Português Brasileiro
Adriana Cristina Lopes Gonçalves Mallmann | Juliana Cristina Vasconcellos Garcia | 
Rachel de Carvalho Pinto Silvestre Escobar
CAPÍTULO 4: Tem variação entre as formas verbais impessoais ter e haver 
nas modalidades oral e escrita, em realizações da norma culta, do Português 
Brasileiro? 
Deyse Edberg Ribeiro Silva Gama | Eneile Santos Saraiva | Maitê Lopes de Almeida 
CONCLUSÃO: Contribuições dos estudos de fenômenos variáveis em continuum 
de gêneros textuais: para uma pedagogia da variação linguística
Silvia Rodrigues Vieira 
Referências
Os autores
Sumário
6 
8 
17 
42 
63  
89 
103   
112 
124 
6
Uma das frentes de trabalho adotadas pelo GT de Sociolinguística da Asso-
ciação Nacional de Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), especifica-
mente no eixo que trata de variação e ensino (VIEIRA, 2019b), é exatamen-
te a sistematização das diversas regras variáveis em uso no Português do 
Brasil, considerando sobretudo o chamado continuum oralidade-letramento 
(BORTONI-RICARDO, 2005) ou fala-escrita (MARCUSCHI, 2008). A presente 
obra pretende ser, a partir de experiência compartilhada por alunos no âmbito 
da disciplina Tópicos especiais, do Programa de Pós-graduação em Letras Ver-
náculas da UFRJ, uma efetiva contribuição a essa frente de trabalho.
Embora haja vasta literatura sobre os usos relativos a fenômenos diversos 
na fala brasileira, percebe-se que o mapeamento de dados em meios escritos 
segundo estilos variados e contemplando diversos tópicos gramaticais ainda 
está por ser construído. A fim de contribuir com esse propósito, tomaram-se as 
seguintes providências no âmbito da referida disciplina: (i) construção de um 
corpus com diversidade de gêneros textuais principalmente dos domínios 
jornalístico e acadêmico, tomados como expressões de usos cultos; (ii) le-
vantamento de dados de oito fenômenos variáveis (preenchimento do objeto 
direto/acusativo de 3ª pessoa; preenchimento do objeto indireto/dativo de 3ª 
pessoa; construções existenciais; orações relativas; colocação pronominal; 
estratégias de indeterminação do sujeito; expressão de futuro); e (iii) siste-
matização dos resultados buscando uma distribuição dos dados em função do 
suposto continuum fala-escrita.
Participaram da tarefa de constituição do banco de textos e elaboraram 
trabalhos finais os seguintes alunos da Pós-graduação (a quem agradecemos 
a parceria nesse empreendimento!), que cursaram a disciplina, ministrada por 
Silvia Rodrigues Vieira, no primeiro semestre de 2018: Adriana Cristina Lopes 
Silvia Rodrigues Vieira
Monique Débora Alves de Oliveira Lima
APRESENTAÇÃO
7
Gonçalves Mallmann, Bruna Brasil Albuquerque de Carvalho; Camila Nunes 
de Melo; Cristiane Barbalho da Silva Gaio de Sá; Daniela Gonçalves Ribei-
ro da Silva; Deyse Edberg Ribeiro Silva Gama; Eneile Santos Saraiva; Joyce 
Coutinho Nóbrega de Araújo; Juliana Cristina Vasconcellos Garcia, Juliana 
Magalhães Catta Preta de Santana; Karen Cristina da Silva Pissurno; Luan de 
Sousa Guimarães; Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva; Maitê Lopes de Al-
meida; Michael de Araujo Palmieri; Monique Débora Alves de Oliveira Lima; 
Pedro Henrique Regis dos Santos; Rachel de Carvalho Pinto Escobar Silvestre; 
Robson Borges Rua; Thaissa Frota Teixeira de Araujo Silva; Vanessa Antunes 
da Silva.
A fim de apresentar parte dos resultados dessa experiência, a presente 
obra detalha as análises relativas a quatro dos fenômenos variáveis estuda-
dos, para, ao fim, sistematizar as tendências observadas e tratar de orientações 
gerais para a abordagem das normas no ensino de Língua Portuguesa. Com 
base em tal empreendimento, assume-se, aqui, que a delimitação da chamada 
norma-padrão no contexto escolar depende necessariamente do conhecimen-
to detalhado das chamadas variedades cultas, em diversos gêneros textuais. 
Elegeu-se esse caminho como condição essencial para o bom êxito das orien-
tações normativas. 
Espera-se que o conhecimento dos usos linguísticos cultos, efetivamente 
detectados em gêneros textuais distribuídos em um continuum fala-escrita, 
possa fundamentar o profissional de Língua Portuguesa no tratamento das 
variantes de cada fenômeno analisado. Que a leitura desta obra colabore 
com a prática de todo aquele que partilhe conosco o sonho de promover uma 
abordagem que, a um só tempo, considere a tarefa de padronização no con-
texto escolar, sem desmerecer a complexidade e a exuberância da variação 
linguística.
8
Conforme reconhecem diversos especialistas na área da Sociolinguística 
Educacional, a sistematiza ção das diversas regras variáveis em uso no Português 
do Brasil, considerando sobretudo o chamado continuum oralidade-letramento 
(BORTONI-RICARDO, 2005) ou, em outra dimensão, o continuum fala-escrita 
(MARCUSCHI, 2008), constitui relevante frente de trabalho a ser perseguida por 
pesquisadores de todo o país. A presente obra - conforme já se detalhou no texto 
de apresentação - pretende ser, a partir de experiência compartilhada por alunos 
no âmbito de disciplina do Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da 
UFRJ, uma efetiva contribuição a essa frente de trabalho.
Embora haja vasta literatura sobre os usos relativos a fenômenos diversos 
na fala brasileira, percebe-se que o mapeamento de dados em meios escritos 
segundo estilos variados e contemplando diversos tópicos gramaticais ainda 
está por ser construído. A fim de contribuir com esse propósito, tomaram-se as 
seguintes providências no âmbito da referida disciplina: (i) construção de um 
corpus com diversidade de gêneros textuais principalmente dos domínios jorna-
lístico e acadêmico, tomados como expressões de usos cultos; (ii) levantamento 
de dados de oito fenômenos variáveis1; e (iii) sistematização dos resultados 
1 Os fenômenos estudados foram os seguintes: preenchimento do objeto direto/acusativo 
de 3ª pessoa(clítico, zero, SN, pronome reto); preenchimento do objeto indireto/dativo de 
3ª pessoa (clítico lhe(s), zero, a/para ele, a mais SN); construções existenciais (ter versus 
haver); orações relativas (cortadora, copiadora, padrão); colocação pronominal (próclise, 
ênclise, mesóclise); estratégias de indeterminação do sujeito (clítico se, formas 
pronominais, expressões nominais); expressão de futuro (forma analítica, forma 
simples, presente do indicativo)
Para uma abordagem da 
norma no continuum fala-escrita
Monique Débora Alves de Oliveira Lima
Silvia Rodrigues Vieira
INTRODUÇÃO
9
buscando uma distribuição dos dados em função do referido continuum.
A fim de apresentar parte dos resultados dessa experiência, a presente 
obra detalha as análises relativas a quatro dos fenômenos variáveis estudados, 
nos capítulos seguintes, para, ao fim, sistematizar as tendências observadas e 
tratar de orientações gerais para o tratamento das normas no ensino de Língua 
Portuguesa. Para tanto, as seções seguintes deste texto propõem-se a sistema-
tizar os pressupostos teórico-metodológicos adotados que nortearam a mon-
tagem do corpus e a interpretação dos resultados. 
1. Pressupostos teóricos: continua de variação no Português do 
Brasil e o estabelecimento de normas
Frente ao complexo e dinâmico quadro de variantes que caracterizam o Portu-
guês do Brasil, um dos maiores desafios do profissional de Língua Portuguesa 
diz respeito ao estabelecimento da norma-padrão, aqui concebida, segundo 
Faraco (2008), como “uma codificação relativamente abstrata, uma baliza 
extraída do uso real para servir de referência, em sociedades marcadas por 
acentuada dialetação, a projetos políticos de uniformização linguística” (p. 75). 
No contexto escolar, a prática de orientação nas atividades de produção 
textual demanda um olhar que assume, por sua própria definição, essa na-
tureza normativa, no sentido de constituir escolhas de variantes tomadas 
como mais prestigiosas ou adequadas a determinados contextos, sobretudo 
na modalidade escrita e em situações sócio-comunicativas de alta 
monitoração estilística e formalidade. Para que a escola não estabeleça uma 
norma-padrão que soe desatualizada e improdutiva no contexto escolar, es-
pera-se que as orientações normativas não sejam concebidas como mera 
divulgação da norma preconizada nas gramáticas tradicionais – cujo perfil 
assumidamente remete à escrita literária supostamente praticada no século 
XIX –, mas que se alinhem minimamente às práticas cultas contemporâneas. 
Desse modo, espera-se que os usos linguísticos propostos nos meios es-
colares se aproximem tanto quanto possível das variedades efetivamente pra-
ticadas pelos indivíduos com acesso à cultura letrada, sobretudo em situações 
mais monitoradas de fala e de escrita. Trata-se, aqui, portanto, efetivamente de 
conhecer a variedade da língua conhecida nos meios acadêmicos como “nor-
ma culta”, aqui concebida como um “conjunto de fenômenos linguísticos que 
ocorrem habitualmente no uso dos falantes letrados em situações mais moni-
toradas de fala e escrita” (FARACO, 2008, p. 73).
Em outras palavras, trata-se, aqui, da saudável relação entre padronização 
10
(norma-padrão) e usos (norma(s) ou variedade(s) culta(s)). 
Em obra que versa integralmente sobre a chamada “pedagogia da variação 
linguística”, Faraco (2015) propõe alguns princípios para a elaboração de guias 
normativos que sirvam aos desafios da realidade brasileira, dentre os quais se 
destacam os seguintes:
(a) o reconhecimento da necessidade de que os instrumentos normativos refli-
tam a norma efetivamente praticada; [...]
(b) O reconhecimento do fato de que não existe “a” norma culta – assim no 
singular. (...) As variedades cultas são diversificadas e heterogêneas.
(FARACO, 2015, p. 28)
Refletindo sobre esses princípios, parece inegável assumir que a delimi-
tação da norma-padrão depende necessariamente do conhecimento detalhado 
das chamadas variedades cultas. Considerando, então, essa assunção, os tra-
balhos desenvolvidos na presente obra observam o comportamento de regras 
variáveis em textos de diversos gêneros textuais produzidos por indivíduos 
em sua maioria com alto grau de escolarização (sendo, portanto, expressões 
da chamada norma culta, aqui concebida como variedades cultas). Elegeu-se 
esse caminho como condição essencial para o bom êxito das orientações 
normativas. 
Diversas obras brasileiras apresentam descrições sociolinguísticas de 
variedades brasileiras – das mais populares às mais cultas – quanto a diver-
sos fenômenos fonético-fonológicos e morfossintáticos (cf., por exemplo, 
MARTINS; ABRAÇADO, 2014; VIEIRA; FREIRE, 2014). Entende-se, entre-
tanto, que a sistematização do comportamento das variedades em função do 
continuum fala-escrita ainda está por ser feita. Perseguir esse propósito parece 
ser essencial para que o profissional de ensino possa avaliar a extensão da 
variabilidade interna à norma culta e, assim, consequentemente, repensar suas 
práticas de orientação normativa, ao menos em dois sentidos: (i) respaldar-se 
cientificamente nas decisões do que é geral e daquilo que constitui apenas 
preferências estilísticas, de professores, escritores, revisores; e (ii) identificar 
formas que não mais são produzidas nos textos escritos nem nos mais for-
mais, representando apenas estruturas que podem ser consideradas arcaicas 
ou pertencentes a tradições exclusivas de determinadas circunstâncias ou 
domínios discursivos bem particulares.
11
Em última instância, ter conhecimento dos usos linguísticos cultos, 
efetivamente detectados em gêneros textuais distribuídos em um continuum 
fala-escrita, poderá fundamentar o profissional no sentido de fazê-lo evitar 
a propagação de uma equivocada cultura do erro, que é altamente prejudi-
cial ao desenvolvimento autônomo e auto-confiante dos alunos brasileiros. 
Manter exigências acerca da produção de formas obsoletas – e não apenas de 
seu reconhecimento no ato da leitura – acabaria por promover o que Faraco 
(2008) identifica como uma norma curta, um “conjunto de preceitos dogmáti-
cos que não encontram respaldo nem nos fatos, nem nos bons instrumentos 
nor mativos, mas que sustentam uma nociva cultura do erro e tem impedido 
um estudo adequado da nossa norma culta/comum/standard” (p. 92).
A fim de apresentar resultados que fundamentem o estabelecimento de 
uma norma-padrão operacional, parte-se aqui do pressuposto de que é preciso 
dispor do mapeamento dos fenômenos variáveis consoante diversos gêneros 
textuais dispostos em um continuum de oralidade-letramento ou fala-escrita. 
Os continua de variação linguística, propostos por Bortoni-Ricardo (2005)2, 
constituem um modelo sociolinguístico de percepção da variação linguística 
considerando três linhas imaginárias, nas quais se distribuiriam as variantes 
linguísticas de um polo a outro. A partir desse modelo, entende-se que é pos-
sível apreender de forma mais segura a complexa situação sociolinguística do 
Português do Brasil. 
O primeiro continuum seria o rural-urbano, no qual as variantes estariam 
distribuídas de acordo com a variedade linguística utilizada pelo falante – das 
mais rurais (utilizadas por comunidades geograficamente mais isoladas) às 
mais urbanas (mais centrais nas cidades, sendo mais ativas nos processos de 
padronização da língua). Em segundo lugar, a autora propõe o continuum de 
oralidade-letramento, cujos polos seriam constituídos pelas variantes utiliza-
das nas práticas sociais de fala e de escrita. Dentro desse continuum, não ha-
veria barreiras rígidas para demarcar as fronteiras entre eventos de oralidade 
e eventos de letramento, pois os gêneros e situações comunicativas utilizados 
nesses eventos poderiam agregar características tanto de um quanto de outro. 
Finalmente, o terceiro continuum para conceber a variação linguística seria o 
de monitoração estilística, no qual as variantes estariam distribuídas de acordo 
2 É importante esclarecer que o capítulo “Ummodelo para a análise sociolinguística do 
português brasileiro”, presente no livro Nós cheguemu na escola, e agora? (2005), já havia sido 
publicado anteriormente sob o título de “A análise do português brasileiro em três continua: o 
continuum rural-urbano, o continuum de oralidade-letramento e o continuum de monitoração 
estilística”, em 1988.
12
com as situações interacionais, desde as mais espontâneas até as de maior 
planejamento prévio – o que definiria o grau de monitoração da fala (mais ou 
menos formal). 
Marcuschi (2001), também adotando a noção escalar das dimensões da 
variabilidade linguística, dispôs diversos gêneros textuais tomando por base 
não só certa concepção de gêneros textuais, mas também a proposta de um 
continuum compósito de fala-escrita correlacionável, guardadas suas especi-
ficidades em nível teórico, a “oralidade-letramento” e graus de formalidade 
(“monitoração estilística”).
Conforme definidos por Marcuschi (2008, p. 155), os gêneros textuais 
constituem “textos materializados em situações comunicativas recorrentes”, 
escritos ou orais, que apresentam uma estabilidade histórica e social. Assim, 
essas formas, em função da sua recorrente estabilidade, apresentam caracterís-
ticas sociocomunicativas, que são definidas por meio de conteúdos, proprieda-
des funcionais, estilo e também sua composição característica.
Marcuschi (2001), ao discutir os conceitos de oralidade e letramento como 
práticas sociais viabilizadas pelos gêneros textuais, pontua que “as diferenças 
entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas so-
ciais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos” 
(p. 37). O pesquisador parte desse pressuposto para indicar que um continuum 
de fala-escrita é composto tanto por gêneros textuais com características mais 
prototípicas de uma ou de outra modalidade quanto por aqueles mais híbridos, 
que apresentam aspectos de ambas as modalidades. Em outras palavras, isso 
significa que a alocação dos gêneros textuais em dois grandes blocos antagôni-
cos (fala versus escrita) seria equivocada, uma vez que os gêneros intermodais 
são de difícil alocação em uma ou outra modalidade de maneira mais precisa. 
Marcuschi (2001) propõe, então, que a caracterização dos gêneros textuais 
seja determinada a partir de dois princípios: o meio (sonoro versus gráfico) e a 
concepção (oral versus escrita). Assim sendo, há gêneros que são mais prototí-
picos da fala (meio sonoro e concepção oral), aqueles mais representativos da 
escrita (meio escrito e concepção escrita) e também os híbridos (meio escrito e 
concepção oral e vice-versa). 
Quanto à correlação entre gênero textual e grau de formalidade, é preciso 
admitir que não se dispõe de parâmetros seguros para a determinação prévia 
de relações claras entre cada gênero e determinado nível de monitoração esti-
lística ou de determinado grau de formalidade. Embora Marcuschi (2001) tenha 
proposto graus crescentes de formalidade no eixo da fala e no eixo da escrita, 
entende-se ser a relação gênero-grau de formalidade por si mesma um tema de 
13
pesquisa a ser desenvolvido. Por ora, assume-se tão-somente que, embora cada 
gênero textual possa admitir variação de graus de formalidade – a depender 
de diversos fatores, como audiência, suporte textual, tema, dentre outros (cf. 
GORSKI, COELHO, SOUZA, 2014) –, a observação empírica de diversos fenô-
menos variáveis tomando por base apenas a categoria gênero textual constitui 
tarefa relevante para a detecção das tendências quanto ao uso das variantes 
linguísticas.
2. Pressupostos metodológicos: constituição do banco de dados 
e procedimentos para o estudo de fenômenos no continuum 
fala-escrita 
Para a constituição do corpus que serviu de base para as descrições realizadas 
na presente obra, foram selecionados textos de dez gêneros textuais distintos, 
quais sejam: entrevistas sociolinguísticas3; tirinhas; anúncios; entrevistas im-
pressas (em jornais ou revistas); cartas de leitor; crônicas jornalísticas; notí-
cias; editoriais; teses/dissertações; artigos em revistas científicas – esses três 
últimos também pertencentes à área da Comunicação Social.4 
De todos os gêneros textuais selecionados, apenas o primeiro deles, a en-
trevista sociolinguística, seria uma representação mais prototípica da fala, uma 
vez que combina as duas propriedades dessa modalidade (cf. MARCUSCHI, 
2001): meio sonoro e concepção oral. Por outro lado, alguns outros, como en-
trevistas impressas, tirinhas e anúncios, poderiam ser alocados dentre os mais 
híbridos, já que são de meio escrito e concepção oral. Em nível mais intermedi-
ário, podem-se localizar gêneros do meio escrito, mas com concepções diversas, 
em função de diversos fatores, como grau de autoria e uso de discurso direto, 
por exemplo: crônica, carta de leitor, notícia. Finalmente, o corpus ainda reúne 
os gêneros mais prototípicos da modalidade escrita, tanto em meio quanto em 
concepção: editorial, artigo científico, e tese/dissertação.
O quadro a seguir ilustra essa suposta caracterização dos gêneros 
3 Conferir amostra do Rio de Janeiro do Banco de dados Concordância do Projeto Estudo 
comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e européias do 
Português. Disponível em www.corporaport.letras.ufrj.br.
4 Essa iniciativa deu origem aos primeiros empreendimentos do projeto científico intitulado 
Continuum de/em variedades do Português: análises contrastivas, que tem por um de seus 
principais objetivos descrever, em um mesmo banco de dados e com os mesmos procedi-
mentos metodológicos, o comportamento de regras variáveis em uma diversidade de gêneros 
textuais, da fala e da escrita.
http://www.corporaport.letras.ufrj.br
14
selecionados para o corpus, a partir da conceituação de Marcuschi (2001) sobre 
os meios e concepções inerentes a cada gênero textual:
Quadro 1 Distribuição dos gêneros textuais do corpus quanto 
ao meio de produção e à concepção discursiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
    Com relação às fontes para a composição do corpus, os gêneros de jornal 
e revista foram extraídos de veículos de circulação pública, em sua maioria 
destinados à classe média-alta e alta, como O Globo, Jornal do Brasil e, mais 
raramente, Extra. Já os textos acadêmicos foram extraídos de bancos de tese 
e revistas acadêmicas da área de Comunicação Social, produzidos na Região 
Sudeste. 
O critério adotado para a delimitação do corpus foi o de número de páginas 
por gênero textual de modo a viabilizar uma amostra equilibrada quanto ao 
tamanho. Assim sendo, há um total de 45 cartas de leitor, que, em termos de 
volume textual, é proporcional ao total de 15 editoriais. Dessa forma, chegou-se 
à seguinte distribuição do quantitativo de textos coletados por gênero textual:
15
Quadro 2 Composição do corpus de gêneros textuais
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faz-se necessário esclarecer três pontos principais acerca da constitui-
ção do referido corpus: (1) a amostra de gêneros textuais em questão foi pro-
duzida pela contribuição coletiva dos diferentes discentes do referido curso6; 
(2) o tempo reservado para a seleção dos textos foi limitado, em função das 
condições de organização programática do curso – a coleta só foi possível 
após o estudo da parte teórica do curso; e (3) essa constituição constitui uma 
experimentação baseada em toda a parte teórica estudada anteriormente.
As condições de constituição do corpus não foram, portanto, as mais ri-
gorosas, como evidenciam os fatores elencados acima: amostra constituída co-
letivamente, com uma seleção de textos dos mais variados gêneros, coletados 
em um tempo curto. Apesar dessas possíveis condições adversas, a experiência 
de tratamento de fenômenos variáveis diferentes com a amostra delimitada 
5 Foram coletados trechos das entrevistas sociolinguísticas transcritas no âmbito do Banco de 
dados Concordância, como referido na nota (3). Os dados foram retirados das cinco primeiraspáginas de cada arquivo de transcrição, selecionado de acordo com a estratificação proposta 
pelo projeto em questão: local, gênero e faixa etária.
6 Participaram da tarefa de constituição do banco de textos e elaboraram trabalhos finais os 
alunos da Pós-graduação, que cursaram a disciplina intitulada Tópicos Especiais,
já mencionados na apresentação desta obra.
16
revelou notável sistematicidade na distribuição das variantes – como se verá 
adiante, nos capítulos específicos de análise dos fenômenos variáveis –, o que 
revela a adequabilidade do material aos propósitos da pesquisa. 
Os resultados referentes à investigação realizada por alguns grupos de pes-
quisadores, considerando o conjunto de textos do corpus de gêneros textuais já 
apresentado, são descritos e discutidos nos próximos capítulos. Lima, Pissurno 
e Santana, no Capítulo 1, abordam o preenchimento do objeto direto/acusativo 
anafórico de 3ª pessoa. A descrição das estratégias de retomada do objeto 
indireto/dativo anafórico de 3ª pessoa é realizada por Carvalho, Silva e Regis, 
no Capítulo 2. No Capítulo 3, o fenômeno da relativização/orações relativas é 
apresentado por Escobar, Garcia e Gonçalves. O Capítulo 4, por sua vez, traz 
a investigação de Almeida, Gama e Saraiva acerca da expressão de futuro no 
corpus constituído. Finalmente, no último capítulo são sistematizados os re-
sultados gerais obtidos para todos os fenômenos, assim como são discutidas 
orientações gerais para a abordagem das formas variantes no ensino de Língua 
Portuguesa.
Com base na constituição do corpus de gêneros textuais, cada investigação 
procedeu à coleta dos dados quanto à regra variável em análise. Além dos pos-
síveis fatores relevantes ao tratamento do fenômeno linguístico em questão, 
foi sistematicamente controlada a atuação dos gêneros textuais. A discussão 
dos resultados obtidos em cada trabalho desenvolvido nos próximos capítulos 
deu-se com o objetivo de elaborar um continuum de oralidade-letramento que 
supostamente se alia, de forma compósita, ao de monitoração estilística.
Por meio desses procedimentos, espera-se apresentar contribuições rela-
cionadas a possíveis orientações para o ensino das variantes de cada fenômeno 
analisado. Reafirma-se, assim, a proposta de Vieira (2019b), de que os resulta-
dos das pesquisas apresentados na presente obra possam permitir que “guias 
normativos efetivamente reflitam as normas praticadas na complexa rede de 
variedades, modalidades e registros” (p. 258). 
17
Dentre os diversos fenômenos variáveis do Português Brasileiro (PB), o pre-
enchimento do acusativo anafórico de terceira pessoa vem despertando o in-
teresse de das pesquisas linguísticas desde o final da década de 70. Como re-
sultado das discussões realizadas nas últimas décadas acerca desse objeto de 
estudo, pode-se afirmar que já há uma descrição ampla do comportamento 
desse fenômeno tanto na modalidade oral quanto na escrita da Língua Portu-
guesa utilizada no Brasil.
A literatura descreve quatro estratégias para a retomada do objeto direto 
de terceira pessoa no PB, exemplificadas a seguir a partir de dados da amostra 
organizada para esta obra: 
1. Clítico acusativo, como em “Deviam dar casa, trabalho, proteção e 
bem estar aos pobres! Pra que tudo isso? Era só escondê[-los]!” (Tirinha);
2. Sintagma nominal (SN anafórico), como no exemplo “No espaço de 
uma caminhada, o Espírito do Natal também levou Lúcio para Ruanda em 
1994... O Espírito conduziu [Lúcio], mãos dadas e olhos abertos, para o 
centro do massacre” (Crônica);
Variação estilística das 
estratégias de preenchimento 
do acusativo anafórico 
de terceira pessoa 
Juliana Magalhães Catta Preta de Santana 
Karen Cristina da Silva Pissurno 
Monique Débora Alves de Oliveira Lima
CAPÍTULO 1
18
3. Pronome lexical, como em “{Entrevistador: “Você pediu opinião para 
o Bruno?”}... Quis surpreender [ele]” (Entrevista jornalística impressa); e 
 
4. Objeto nulo ou zero, como no exemplo “O novo aplicativo do Frango 
no Pote está de lamber os beiços. Todo mundo ama [Ø]” (Anúncio).
De maneira geral, sabe-se que a variante clítico acusativo é considerada 
a forma padrão para o preenchimento do acusativo anafórico, associada aos 
eventos de letramento – que, a depender do gênero textual em questão, pa-
recem preferir algumas variantes a outras. Tanto na fala quanto na escrita, 
seu uso pode ser relacionado a indivíduos com maior nível de escolaridade, 
embora apresente baixos índices mesmo na fala culta. Por outro lado, a va-
riante pronome lexical é a forma cujo uso parece ser bastante estigmatizado, 
principalmente em contextos de maior letramento. Ainda assim, as pesquisas 
relevam que sua ocorrência, em níveis não tão elevados como supõe o ima-
ginário dos falantes, é condicionada a alguns fatores linguísticos, tais quais a 
animacidade do antecedente e a estrutura sintática da frase em que se encontra 
o objeto retomado por pronome lexical. As demais variantes, sintagma nomi-
nal e categoria zero, são consideradas neutras, pois são utilizadas como estra-
tégias de “esquiva” (cf. TARALLO, 2018 [1993]; DUARTE, 2013), já que seu uso 
não constituiria prestígio nem sofreria estigma por parte dos falantes. 
O presente trabalho pretende descrever o comportamento dessas quatro 
variantes do fenômeno na amostra de gêneros textuais descrita anteriormente, 
na primeira parte deste e-book. Objetivou-se compreender, apesar das limi-
tações de composição do corpus, a distribuição dessas estratégias de preen-
chimento de retomada do objeto direto de terceira pessoa, ao longo de um 
continuum compósito de oralidade-letramento e monitoração estilística. Ten-
cionou-se ainda investigar a relevância da variante extralinguística gênero tex-
tual para o condicionamento do uso de uma ou outra variante utilizada para a 
expressão do referido fenômeno. 
Com o intuito de fundamentar a presente investigação, tomaram-se como 
pressupostos teóricos a Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH; LABOV; 
HERZOG, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972])); a conceituação de norma lin-
guística (FARACO & ZILLES, 2017); a proposta dos continua de variação lin-
guística (BORTONI-RICARDO, 2004; 2005); e o continnum de fala-escrita dos 
gêneros textuais (MARCUSCHI, 2008).
Assim sendo, apresenta-se, nas próximas seções, o tratamento desse 
fenômeno tanto da tradição gramatical quanto nos estudos sociolinguísticos, 
19
seguido da análise quantitativa e qualitativa dos dados encontrados, a qual 
permite a formulação do continnum compósito de oralidade-letramento e 
monitoração estilística do fenômeno em estudo nos gêneros averiguados. A 
partir disso, por fim, discute-se uma proposta de orientações para o seu ensino 
relativo ao tema.
O acusativo anafórico de terceira pessoa na tradição gramatical
Há uma crítica frequente à abordagem que as gramáticas tradicionais (GT’s) 
fazem sobre qualquer tema gramatical, respaldada na alegação de que o conhe-
cimento disponibilizado nesses manuais carece de uma urgente atualização, 
baseada nos resultados das pesquisas linguísticas. Fato é que essa crítica é bas-
tante injusta, já que, na construção do pensamento tradicional, não somente 
eram inexistentes os aparatos que atualmente contribuem para as pesquisas 
linguísticas, como também as condições sociais e históricas em que se deu essa 
construção eram bastante distintas das atuais. 
Amparada nessa ressalva estritamente necessária, Santana (2016) analisa 
a abordagem do fenômeno em estudo por três gramáticas tradicionais: Ro-
cha Lima (2012 [1972]), Cunha & Cintra (2001 [1985]) e Bechara (2015 [1999]). 
Optou-se por apresentar a revisão de Santana (2016), uma vez que a pesquisa-
dora organizou de modo bastante sistematizado o conteúdo dessas gramáticas 
no que concerne a esse fenômeno. 
De modo geral, as três gramáticas tratam do assunto ao apresentar as 
funções dos pronomes pessoais: os que exercem a função de sujeito são repre-
sentados pelas formas retas; já para os que funcionam como objetoda oração 
(direto ou indireto), são utilizadas as formas oblíquas – estas divididas ainda 
em formas átonas e tônicas. A organização do quadro de pronomes pessoais 
tradicional é realizada com base nessa divisão a partir da função sintática exer-
cida pelos pronomes. 
Segundo o quadro de pronomes proposto nas três gramáticas em questão, 
as formas que funcionam para a retomada do objeto direto de terceira pessoa 
são especificamente os seguintes pronomes oblíquos átonos: o, a, os, as e suas 
variantes (lo, la, los, las, no, na, nos, nas, a depender das formas verbais às quais 
se acoplam em casos de colocação enclítica). Não há, portanto, qualquer alusão 
às demais formas utilizadas para a expressão do acusativo anafórico de tercei-
ra pessoa nessa proposta de quadro pronominal. 
Cunha & Cintra (2001) fazem menção a um caso específico em que uma 
forma oblíqua pode funcionar como sujeito. São as construções, normalmente 
20
com verbos perceptivos ou causativos, em que o termo acusativo também 
exerce função de sujeito da próxima oração (como em Mandei-o fazer o traba-
lho/ Deixe-nos pensar). Em construções do PB, no entanto, essa mesma estrutu-
ra referida pelos gramáticos pode ser preenchida pelos pronomes nominativos 
(caso reto): Mandei ele entrar/Deixe a gente pensar. Ainda em sua proposta, os 
gramáticos apontam como “erro” ou “equívoco” o uso do pronome reto em 
função acusativa, o que eles consideram uma construção da fala vulgar ou 
familiar. Os exemplos dados pelos gramáticos são Vi ele e Encontrei ela, so-
bre os quais há uma prescrição específica: devem ser evitados. (Cf. CUNHA; 
CINTRA, 2001 [1985], p. 288).
Bechara (2015), apesar de apresentar uma proposta semelhante às dos 
gramáticos anteriores, faz breves considerações acerca de casos específicos 
em que o pronome reto pode figurar como objeto direto: (a) quando o verbo 
e seu complemento estiverem distanciados, separados por uma pausa; (b) nas 
enumerações e aposições; (c) precedido de todo, só e mais alguns adjuntos; e 
(d) quando dotado de acentuação enfática. Outra atualização tímida que Be-
chara (2015) faz – contida na versão pedagógica de sua gramática – é acerca da 
retomada por objeto nulo (categoria zero): “Estando perfeitamente conhecido 
pela situação linguística, pode-se calar o pronome complemento; esta lingua-
gem é correta, apesar da censura que lhe faziam os gramáticos de outrora.” 
(BECHARA, 2010, p. 144). Ainda assim, essa referência à categoria zero não 
descreve amplamente a extensão que essa forma de preenchimento alcança 
no PB.
O acusativo anafórico de terceira pessoa e os resultados científicos 
quanto às tendências de uso da regra variável – fala e escrita
Estudos diversos anteriores investigaram as estratégias de preenchimento do 
objeto direto de terceira pessoa nas duas modalidades de uso da língua: oral e 
escrita. A seguir, abordam-se os principais resultados das pesquisas empreen-
didas acerca das duas modalidades em relação ao referido fenômeno.
Modalidade oral
A pesquisa de Cyrino (1994, 1997) buscou rastrear o surgimento do objeto nulo 
no PB e relacioná-lo à perda de pronomes clíticos na língua. Os resultados des-
sa investigação diacrônica permitem compreender as origens dessa mudança, 
21
que remonta ao século XIX. A variante objeto nulo começou a se implementar 
a partir dos itens menos referenciais, afetando os objetos com antecedentes 
oracionais (“Queria ir na praia amanhã
i
. Infelizmente não vou mais poder [Ø]
i
 
porque está chovendo.”)1. A partir de então, a forma inovadora passou a ser 
licenciada em outros contextos não-oracionais, como os de antecedente [-ani-
mado] (“Pedi pra minha mãe um livro
i
 de aniversário, mas ela não vai poder 
me dar [Ø]
i
”), encontrando maior resistência apenas nos contextos de antece-
dente [+animado] (“O João
i
 é meu amigo tem muitos anos. Você sabe como eu 
conheci [Ø]
i
?”). Os dados de fala espontânea mais atuais já revelam, contudo, 
ampla ocorrência da categoria zero mesmo com esse traço [+animado] (“Meu 
irmão
i
 é muito teimoso e não gosta de ler, aí eu fico tentando convencer [Ø]
i
 
que isso é muito ruim”).
O primeiro trabalho a tratar das estratégias de retomada do acusativo 
anafórico utilizadas na modalidade oral do PB é o de Omena (1978), no Rio 
de Janeiro. A pesquisadora analisou a fala de quatro estudantes da classe de 
alfabetização do antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), co-
letando dados de três variantes do fenômeno: o clítico acusativo, o pronome 
lexical e o objeto nulo. 
Em termos gerais, os resultados mostram a variante de prestígio, clítico 
acusativo, totalmente ausente na fala dos indivíduos com pouca escolarização. 
Os dados encontrados pela autora distribuem-se da seguinte maneira: 76% de 
ocorrências da variante objeto nulo e 24% da variante pronome lexical. A pes-
quisa de Omena (1978) já indicava o que, posteriormente, seria confirmado por 
outros trabalhos: a categoria zero é a preferida pelos cariocas na modalidade 
oral.
No estudo de Omena (1978), ainda foi possível observar a atuação de al-
guns fatores sintático-semânticos que condicionavam o uso de uma ou outra 
variante: (a) a animacidade do antecedente; (b) a função sintática do antece-
dente; e (c) a estrutura sintática da frase. O trabalho foi conclusivo em relação 
ao seguinte: antecedentes com traço [-animado] favoreceram a retomada pela 
categoria zero, como também ocorreu nos casos em que o termo antecedente 
exercia também a função de acusativo. Por outro lado, nas estruturas sintáticas 
em que o termo retomado exercia “dupla função”, atuando como sujeito da 
próxima oração – sujeito de oração infinitiva, complemento de verbos percep-
tivos ou causativos ou sujeito de miniorações –, a variante pronome lexical foi 
favorecida. 
1 Exemplos inventados apenas para ilustrar os contextos descritos.
22
Outro trabalho igualmente importante para a compreensão do tema é o 
de Duarte (1986), que investigou a fala de informantes de diferentes graus de 
escolaridade e faixa etária e acrescentou uma variante não observada anterior-
mente: o sintagma nominal (SN). Os resultados novamente mostram a variante 
objeto nulo como a preferida pelos cariocas (62,6%), seguida do sintagma no-
minal (17,1%) e do pronome lexical (15,4%) – houve preferência por esse último 
quando o traço do antecedente era [+animado]. Em geral, os índices para o 
clítico acusativo foram os mais baixos (4,9%). 
A autora aponta alguns contextos linguísticos relevantes para ocorrência 
da variante de prestígio: em construções com formas simples do modo indi-
cativo – principalmente com os tempos presente e pretérito perfeito – e com 
formas no infinitivo. Quanto aos fatores extralinguísticos acrescentados – fai-
xa etária e grau de escolaridade –, a pesquisadora verifica o seguinte: falantes 
mais novos não realizam a variante clítico acusativo na fala; por outro lado, 
há um aumento perceptível da realização dessa variante, conforme aumenta o 
nível de escolaridade. 
Outra contribuição significativa da pesquisa de Duarte (1886) para o estu-
do do tema foi a aplicação de testes de percepção e produção aos informantes 
envolvidos. A partir disso, foi possível perceber um dado interessante sobre o 
fenômeno: não só há um forte estigma associado à variante pronome lexical 
pelos falantes brasileiros como também pouca consciência linguística acerca 
do uso da variante objeto nulo.
As pesquisas de Corrêa (1991) e Averbug (1998) trouxeram dados inte-
ressantes para o estudo do fenômeno, ao apontarem que a variante clítico 
acusativo é aprendida via processo de escolarização. Corrêa (1991) analisou 
textos orais e escritos em sua pesquisa. Quanto à modalidade oral, a pesqui-
sadora investigou a fala de informantes paulistas, distribuídos desde adultos 
analfabetos até adultos universitários, passando pelas diferentes séries esco-
lares de ensino fundamental e médio. Em sua análise, não houve ocorrências 
da variante clítico acusativo entre os adultosanalfabetos e as crianças até a 
3ª/4ª séries (atuais 4ª/5º anos do ensino fundamental). A partir da 5ª série (6º 
ano do ensino fundamental), os índices aumentaram, apresentando 2,1% nos 
informantes de 5ª/6ª série, 0,9% nos de 7ª/8ª série e 10,7% nos universitários. 
Por outro lado, a incidência da variante pronome lexical diminuiu considera-
velmente nos extremos dos graus de escolaridade, com 25,6% entre os adultos 
analfabetos e 7,1% entre os universitários.
Averbug (1998) também observou o comportamento do fenômeno em 
textos falados de indivíduos de diferentes graus de escolaridade (da classe de 
23
alfabetização – infantil e adulta – a adultos com nível superior), aos quais 
foi solicitada a produção oral de narrativas recontadas. Os resultados dessa 
pesquisa mostram que não houve ocorrências da variante clítico acusativo 
sequer no nível mais elevado de escolaridade – o único dado dessa variante 
encontrado no corpus foi realizado por um adulto da classe de alfabetização. 
Assim como no estudo de Corrêa (1991), o uso da variante pronome lexical 
diminuiu conforme o aumento do grau de escolaridade – 26% entre os adultos 
em processo de alfabetização e 9% entre adultos com nível superior.
Diversas pesquisas posteriores às mencionadas nesta subseção também 
investigaram as estratégias de preenchimento do objeto direto anafórico de 
terceira pessoa na modalidade oral do PB e confirmaram os resultados aqui 
apresentados: Mafaroni (2004); Averbug (2008); Freire (2000); Mafaroni (2010); 
entre outros. 
De modo geral, no que concerne à modalidade oral do Português Brasi-
leiro, pode-se sintetizar a expressão do fenômeno a partir das seguintes con-
siderações:
• O PB começou a perder os clíticos acusativos a partir do século XIX, 
licenciando o preenchimento pela categoria zero nos contextos de menor 
animacidade, como a retomada oracional.
• Atualmente, há ampla preferência, na modalidade oral da língua, pela 
categoria zero.
• O PB falado apresenta baixos índices da variante de prestígio, clítico 
acusativo, mesmo no mais alto nível de escolaridade.
• Os falantes com maior nível de escolaridade apresentam índices meno-
res da variante por vezes estigmatizada, pronome lexical.
Modalidade escrita
As investigações acerca do comportamento do acusativo anafórico de terceira 
pessoa na modalidade escrita do PB demonstram uma incidência maior da 
variante clítico acusativo, diretamente relacionada ao aumento do grau de 
escolaridade dos informantes envolvidos. Quanto a isso, Averbug (2000) – em 
estudo realizado acerca da escrita de cariocas com diferentes graus de escola-
ridade – aponta que há um movimento inverso à subida dos índices de clítico 
acusativo: o declínio dos usos da variante pronome lexical no maior nível de 
24
escolaridade (ensino superior). Os resultados da pesquisa empreendida por ela 
revelaram um percentual de 19% de pronomes lexicais na classe de alfabetiza-
ção que contrasta com nenhuma ocorrência no nível superior. Em contrapar-
tida, a variante clítico acusativo apareceu com 3% na classe de alfabetização e 
alcançou o percentual de 40% no ensino superior, ficando à frente das demais 
variantes. 
Freire (2005) também averiguou a ocorrência de clíticos na escrita culta 
brasileira (carioca) e lusitana. Para a investigação da variedade carioca, o pes-
quisador analisou uma amostra de gêneros textuais escritos – presentes no 
domínio jornalístico –, desde os mais representativos da oralidade (tirinhas) 
aos mais característicos da escrita (editoriais), a fim de compor um continnum 
de oralidade-letramento acerca do comportamento desse fenômeno. A investi-
gação apresentou resultados que podem ser confrontados com os anteriores do 
autor, a respeito da modalidade oral (FREIRE, 2000): o clítico acusativo apre-
sentava 3% para a fala e saltou para 47% na escrita. Freire (2005) conclui que, 
embora a escola não recupere os clíticos acusativos na fala, consegue fazê-lo 
na modalidade escrita. Essa recuperação ocorreria, muito provavelmente, em 
função do enfoque maior dado às atividades de escrita em ambiente escolar 
e também pelo fato de essa modalidade pressupor uma maior monitoração 
estilística. 
Ainda em relação à escrita, Machado (2006) analisa um corpus de redações 
escolares produzidas por alunos de três níveis de escolaridade (ensino funda-
mental: antiga 4ª série/ atual 5º ano; antiga 8ª série/ atual 9º ano; ensino médio: 
3ª série). Os resultados obtidos corroboraram os anteriores ao indicarem o 
aumento da variante clítico acusativo com a subida do nível de escolaridade. 
Além disso, a pesquisadora controlou o tipo de sequência textual (narrativa 
ou dissertativa) e também o gênero do informante. A autora encontrou maior 
frequência de pronomes lexicais nas redações com predominância de sequên-
cias narrativas (24%), que são mais próximas da oralidade, do que nas sequ-
ências dissertativas (6%). Em contrapartida, a frequência de clíticos acusativos 
(41%) foi maior nas sequências dissertativas, contrastando com os 36% das 
narrativas. Quanto à variável extralinguística gênero textual, foi possível per-
ceber que as mulheres produzem mais pronomes lexicais no nível mais baixo 
de escolaridade, mas diminuem a frequência de uso dessa variante mais do que 
os homens o fazem no nível mais alto. 
Outros trabalhos também se dedicaram à investigação da escrita, obten-
do resultados semelhantes: Oliveira (2007); Santana (2016); Lima (2017); entre 
outros. 
25
Quanto ao preenchimento do acusativo anafórico de terceira pessoa na 
modalidade escrita do PB, as seguintes considerações podem sintetizar o 
comportamento do fenômeno: 
• A recuperação do clítico acusativo, variante de prestígio, é feita via pro-
cesso de escolarização, com o aumento de seus índices de uso ocorrendo 
conforme a subida do nível de escolaridade dos falantes.
• A variante estigmatizada, pronome lexical, diminui com o aumento do 
grau de escolaridade, o que indica que o processo de letramento interfere 
também nessa variante.
O acusativo anafórico de terceira pessoa no banco de dados
Na tentativa de alcançar o objetivo primeiro deste trabalho – compreender 
o comportamento do acusativo anafórico de terceira pessoa no tangente à 
variação estilística, a partir da amostra observada –, questionou-se sobre o 
modo mais adequado para estabelecer e visualizar um continuum de oralida-
de-letramento e um continuum de monitoração estilística entre os gêneros 
textuais aqui investigados. Tendo em vista a complexidade de elementos que 
influenciam o caráter mais ou menos oral/escrito dos referidos gêneros e, 
sobretudo, o nível de monitoração envolvido nessas diferentes situações co-
municativas, julgou-se pertinente tomar os resultados empíricos relativos ao 
fenômeno como ponto de partida para a formulação dos continua de gêneros, 
referentes (i) à modalidade oral/escrita e (ii) ao grau de planejamento/mo-
nitoração linguística a eles associado. Dessa forma, expõe-se primeiramente 
a descrição do comportamento do fenômeno na amostra investigada e, na 
sequência, formulam-se os continua de gêneros textuais com base no banco 
de dados em análise.
O comportamento do fenômeno na amostra
Ao considerar os dez gêneros textuais da amostra em estudo, foram coletadas 
238 ocorrências de preenchimento de objeto direto de terceira pessoa, distri-
buídas entre as variantes já citadas: o clítico pronominal (encontrei-o), o sin-
tagma nominal anafórico (encontrei aquele livro), o pronome lexical (en-
contrei ele) e a variante zero ou objeto nulo (encontrei Ø). Tais ocorrências 
foram quantificadas com o auxílio do programa estatístico Goldvarb X para a 
26
obtenção (i) de percentuais que demonstrassem a distribuição do fenômeno 
em relação aos contextos observados e (ii) de pesos relativos, a partir de roda-
das multivariadas, que permitissem compreender a atuação das variantes na 
amostra em questão.
A Tabela 1, a seguir, demonstra a distribuição desses dados em relação a 
cada uma das variantes,com seus respectivos percentuais de uso, mostrando 
que, nessa amostra, as variantes mais utilizadas foram o SN anafórico (41%) e o 
clítico acusativo (39%):
Tabela 1 Distribuição das variantes de preenchimento 
do objeto direto segundo gêneros textuais
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  Observa-se que o clítico acusativo e o SN anafórico obtiveram um número 
de ocorrências equiparado (93 e 96, respectivamente), totalizando 80% dos da-
dos obtidos. A variante zero representa 17% das ocorrências e o pronome lexi-
cal, apenas 3% do total, com somente 8 dados encontrados.
Em relação aos gêneros textuais especificamente, como a distribuição do Gráfico 
1 revela, as variantes clítico acusativo e objeto nulo ocorreram em todos os gê-
neros explorados. O SN anafórico também apareceu em todos, exceto nos edito-
riais, que obtiveram o maior índice de uso do clítico acusativo. Esse cenário já de-
monstra o predomínio da variante de prestígio nos editoriais, nos quais, quando 
a ocorrência não é de clítico, o item retomado aparece apagado – variante zero 
que supostamente não sofreria estigma, por ser menos saliente. Por fim, a varian-
te pronome lexical só apareceu nas entrevistas (sociolinguísticas e jornalísticas 
transcritas), gêneros que, na presente amostra, estão mais próximos do eixo da 
27
oralidade, modalidade na qual o uso de tal estratégia tende a ser mais frequente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Em síntese, pode-se observar que as estratégias se distribuem da seguinte 
forma entre os gêneros: (i) maior frequência de clítico em editoriais (88%), arti-
gos (54%), teses/dissertações (52%), cartas de leitor (50%); (ii) maior frequência 
de SN em notícias (57%), crônicas (57%), anúncios (54%), entrevistas impressas 
(48%), tirinhas (46%); (iii) maior frequência de variante zero nas entrevistas 
sociolinguísticas (45%) e; (iv) ocorrências de variante pronome lexical apenas 
em entrevistas sociolinguísticas (30%) e impressas (4%).
Tal distribuição, ainda que de maneira incipiente, devido às particulari-
dades do corpus aqui estudado, corrobora o que já afirmavam Vieira; Freire 
(2014):
De forma geral, os dados revelam que a escrita brasileira recupera, de modo bas-
tante expressivo, uma variante praticamente ausente da fala, assim como reduz 
drasticamente o emprego do pronome reto em função acusativa, chegando a ne-
nhuma ocorrência no nível mais monitorado, fenômeno que evidencia a influên-
cia do processo de escolarização (VIEIRA; FREIRE, 2014, p. 93).
Sendo assim, em relação aos percentuais alcançados, investigou-se a atua-
ção da variante promovida pela escola (o clítico) versus as outras três variantes 
Gráfico 1 Distribuição das variantes de preenchimento do objeto direto 
segundo gêneros textuais
28
(SN, nulo e pronome lexical) e, a partir dos resultados obtidos, verificou-se 
que, de fato, quanto maior for o nível de formalidade esperado para cada gê-
nero, maior será o uso explícito de clíticos, como mostra a Tabela 2, a seguir:
Tabela 2 Aplicação das variantes clítico x SN, zero e pronome lexical
 
 
 
 
 
 
 
   Seguindo a ordem de apresentação da Tabela 2, e considerando-se, em um 
dos extremos, o editorial (.96 de favorecimento ao uso de clítico), e, no outro, as 
entrevistas sociolinguísticas (apenas .07 de favorecimento de clítico), verifica-
-se que os pesos relativos vão diminuindo conforme a maior flexibilidade dos 
gêneros, ou seja, aqueles que se podem considerar menos monitorados aceitam 
mais facilmente as outras variantes. Vale ainda ressaltar que as variantes SN, 
zero e pronome lexical se revelaram extremamente presentes na amostra como 
um todo, totalizando 61% das ocorrências coletadas (145). Novamente, esses 
resultados são validados nas palavras de Vieira; Freire (2014): 
é natural esperar que os textos representantes desse nível do continuum [mais 
monitorado] tenham maior compromisso com a tradição literária e gramatical: 
conforme lembra Bortoni-Ricardo (2004:52), a imprensa é uma das “agências 
padronizadoras”, responsáveis por codificar a língua numa cultura de letramento. 
Por conseguinte, aquilo que prescreve a tradição deve aparecer com mais força 
a
29
nessa extremidade do continuum. Não obstante isso, os dados relativos à varie-
dade brasileira mostram que nem na escrita mais monitorada essa tradição é ab-
soluta. [...]. Por conseguinte, os resultados aqui aduzidos apontam para um fato 
contundente e inegável: já se encontram infiltradas na escrita estratégias alterna-
tivas ao clítico acusativo comuns na fala (VIEIRA; FREIRE, 2014, p. 94).
Destaca-se que, como dito anteriormente, os editoriais, que se encontram 
no extremo de maior uso do clítico, optaram, nas duas únicas ocorrências em 
que a estratégia utilizada não foi io clítico, pela forma menos estigmatizada – o 
objeto nulo:
5. “Mas não há novidade no esforço de o deputado ou senador recusar, 
momentaneamente, de olho nas urnas, o cargo mais cobiçado do país. 
Quando Fernando Henrique estava no governo, tendo de se ausentar em 
ano eleitoral, o vice Marco Maciel não quis assumir [Ø]”. (Editorial); e
6. “e quando o ministro Dias Toffoli devolver o processo, do qual pediu 
vista, estará consumada a decisão. O ministro prometeu [Ø] para logo. 
(Editorial)
Por fim, vale ainda ressaltar algumas informações sobre o uso do pronome 
lexical na amostra estudada. A primeira conclusão a que se pode chegar é a de 
que, de fato, essa estratégia é fortemente combatida, haja vista sua pouquíssi-
ma produtividade no corpus, com apenas 8 ocorrências. Além disso, fica claro 
que esta é uma estratégia mais presente nos contextos de fala e evitada, ao má-
ximo, em textos escritos, o que foi constatado nos dados, destacados a seguir, 
que só foram encontrados no gênero entrevista sociolinguística:
7. “o Lindberg fez a ... fez com que a Via Light se tornasse grande cartão 
postal de Nova Iguaçu... embelezou [ela] de uma maneira.”;
8. “brincava com os primos e depois saía todo mundo com o meu pai ele 
levava [eles] nas casas dele aí tomava... refri/ normalmente um refrige-
rante sorvete e voltava pra casa.”; 
9. “os meus filhos sempre tiveram assim amigos que desde pequenos que 
acompanharam [eles] na trajetória toda”;
30
10. {Entrevistador: “essa missão é cumprida por dia?”} “por dia... senão 
você acumula [ela] aí já era...”;
11. “o leão aí se eu não mato [ele] hoje aí amanhã tem um: e o outro... 
tem um e meio”;
12. {Entrevistador: “Você pediu opinião para o Bruno? Afinal, você fala 
dele no espetáculo”}... “Quis surpreender [ele]”;
13. “não de que eu não queira ser igual, porque ela não tem culpa de ter... 
Porque se eu vejo [ela] mal eu vou ficar mal...
14. “meu pai era meio meio bravo minha mãe também tinha um geniozi-
nho forte mas... isso é um exemplo que eu trago deles... nunca vi [eles] 
discutirem nem na nossa frente...”
Para além disso, é válido mostrar que houve um dado, retirado da codifi-
cação final da amostra, em que esta relação entre o uso do pronome lexical e 
a fala pode ser diretamente destacada. Em uma carta de leitor, a autora relata 
uma conversa com a neta e a reproduz literalmente, entre aspas, da seguinte 
forma:
15. “Mas se o vídeo gravou [ele] recebendo dinheiro ilegal, por que não 
vai direto pra cadeia?” (Carta de Leitor)
O questionamento que se faz sobre esse dado, motivo pelo qual o mesmo 
foi retirado da análise multivariada, é que, uma vez que não houve qualquer 
outra ocorrência de pronome lexical nas cartas de leitor, essa única estrutura 
teria sido mantida no jornal por ser um claro registro de fala ou ou ela teria 
passado despercebida ao olhar de um possível revisor, por ser um dado em 
contexto de uma minioração? A resposta para o questionamento quanto a esse 
e a outros dados semelhantes carece de investigação que não caberia ao escopo 
do presente trabalho, mas serve como reflexão para futuras investigações.
Cabe, de modo geral, notar que o uso dessa estratégia é extremamente 
combatido na escola e, consequentemente,amplamente desfavorecido em con-
textos de escrita mais monitorada, como ficou refletido na ausência de dados 
na presente amostra que, em sua quase totalidade, foi constituída de gêneros 
31
escritos. Ademais, é importante observar que, assim como no exemplo (15), as 
ocorrências de pronome lexical são favorecidas por contextos em que o objeto 
serve, ao mesmo tempo, como sujeito da oração que se segue, como explicam 
Duarte; Ramos (2015):
O pronome, por outro lado, era favorecido por um antecedente [+ humano] em 
estruturas em que funciona como objeto de verbos obrigar, convencer, persuadir, 
etc., que controla o sujeito da subordinada; em estruturas em que ele é, na rea-
lidade, o sujeito de uma minioração ou de uma completiva infinitiva (DUARTE; 
RAMOS, 2015, p. 174).
Assim, pode-se concluir, resumidamente, que, através dos dados aqui rela-
tados, se constatou forte preferência pelo preenchimento do objeto de terceira 
pessoa na forma de clíticos e de SN. Em relação à distribuição das variantes, 
observou-se a presença de clítico e objeto nulo em todos os gêneros. O SN 
aparece em quase todos, com exceção dos editoriais, e o pronome lexical só foi 
realizado nas entrevistas transcritas. Dessa forma, identificou-se que, em uma 
suposta escala de formalidade, os editoriais e as entrevistas, especialmente as 
sociolinguísticas, estariam em polos opostos no que tange ao uso das varian-
tes, sendo o primeiro o maior favorecedor da estratégia promovida pela escola, 
enquanto o segundo seria o mais flexível de todos os gêneros, permitindo, in-
clusive, o uso da estratégia explicitamente rejeitada pela gramática tradicional 
– o pronome lexical.
Os continua de gêneros textuais com base no corpus
Com a descrição do comportamento do fenômeno na amostra, constatou-se 
que, em síntese, a estratégia de retomada por um objeto nulo, largamente di-
fundida entre os falantes brasileiros (de acordo com a literatura da área) foi 
predominante somente entre os dados das entrevistas sociolinguísticas (45%), 
único gênero representativo de uma oralidade prototípica na amostra analisa-
da, embora a variante tenha ocorrido também nos demais gêneros. A retomada 
com um SN anafórico, por sua vez, demonstrou uma frequência expressiva de 
uso na maioria dos gêneros observados, à exceção justamente das entrevistas 
sociolinguísticas, nas quais foi a estratégia menos utilizada (10%). Isso permite 
relacionar tanto o emprego do objeto nulo ao contexto de modalidade oral 
como o uso do SN anafórico ao contexto de modalidade escrita. Esta variante, 
32
no entanto, atingiu seus maiores índices entre as notícias, anúncios, crônicas 
e tirinhas, ao passo que os editoriais, artigos científicos e teses/dissertações 
acadêmicas, gêneros escritos que pressupõem um maior grau de planejamento 
linguístico, revelaram o uso predominante do clítico acusativo. Dessa forma, 
entende-se que o objeto nulo se mostra representativo da oralidade em opo-
sição aos objetos expressos SN e clítico, associados, portanto, à modalidade 
escrita.
A estratégia com pronome lexical ocorreu em nossa amostra exclusiva-
mente nos dados de entrevistas, especialmente as sociolinguísticas (30%2), não 
sendo verificado qualquer uso da variante nos demais gêneros, o que permite 
relacioná-la simultaneamente ao domínio da oralidade e ao contexto de menor 
grau de planejamento/monitoração linguística. O clítico acusativo, por outro 
lado, atingiu seu ápice de produtividade nos gêneros escritos que implicam um 
mais alto nível de planejamento em sua construção (editoriais, artigos cien-
tíficos e teses/dissertações acadêmicas). Neste caso, considera-se para estes 
gêneros um maior grau de planejamento linguístico dada, entre outros quesi-
tos, a demanda de tempo para a (re)formulação de seus textos, frente a outros 
gêneros escritos que, em tese, exigiriam um período de planejamento mais 
curto, como as notícias e os anúncios, por exemplo. Esse comportamento con-
duz a uma associação entre o uso dessa variante e os contextos de modalidade 
escrita e de maior monitoração linguística, de modo concomitante e contrá-
rio ao comportamento da variante pronome lexical. Assim, essas variantes se 
mostram particularmente influentes no que tange ao registro mais ou menos 
monitorado de uso da língua, enquanto aquelas (objeto nulo e SN anafórico) 
parecem atuar maiormente no que difere suas modalidades oral ou escrita.
O Quadro 1 abaixo sintetiza os traços do fenômeno relacionados aos dife-
rentes contextos do compósito modalidade oral/escrita e registro mais ou me-
nos monitorado de uso da língua, tal como identificados a partir dos resultados 
da análise realizada.
2 Ainda assim, o pronome lexical alcançou menos de 50% de uso nesse contexto, o que 
provavelmente remete ao “paradoxo do observador” (LABOV, 2008 [1972]) envolvido nas 
entrevistas sociolinguísticas. Estima-se que a frequência de uso dessa variante deva aumen-
tar conforme diminui o nível de atenção dada à fala. No entanto, ressalta-se a dificuldade de 
coletar e analisar gêneros de fala ainda mais espontânea, dos quais não dispomos em nossa 
amostra.
33
Quadro 1 Traços do acusativo anafórico de 3ª pessoa conforme contextos do 
compósito modalidade e registro de uso da língua
+
–
–
 
 
    Pode-se notar, portanto, certa simetria no comportamento das variantes 
do fenômeno no corpus em questão. O objeto nulo e o SN anafórico compor-
tam-se de maneira oposta, sendo o objeto nulo representativo da modalidade 
oral e o SN anafórico mais característico da modalidade escrita, ao passo que 
o clítico acusativo e o pronome lexical apresentam um comportamento tam-
bém em oposição, porém relativo ao nível de planejamento dos gêneros, e não 
apenas à modalidade de uso da língua: o emprego do clítico remete a uma 
associação entre a modalidade oral e o registro mais monitorado, e o uso do 
pronome lexical pressupõe uma associação entre a modalidade oral e o regis-
tro de menor monitoração linguística.
Em vista disso, optou-se por estabelecer, em caráter experimental, os 
seguintes critérios para a formulação dos continua de gêneros textuais da 
amostra. Para o continuum de oralidade-letramento, propôs-se identificar os 
gêneros em que sobressai o traço [+nulo], os quais serão característicos, por 
conseguinte, de maior oralidade. Em outras palavras, os gêneros que revelam 
maior probabilidade de uso do objeto nulo determinarão os pontos mais orais 
do eixo fala-escrita. Para o continuum de monitoração estilística, a maior pro-
babilidade de uso do clítico acusativo definirá o caráter mais monitorado do 
gênero, sendo considerados menos monitorados, aqui, os gêneros que apresen-
tem menor probabilidade de uso do clítico3. Com esse propósito, observaram-
-se os resultados em pesos relativos obtidos com a rodada de clítico acusativo 
versus demais variantes no programa Goldvarb X, já explicitados na Tabela 
2, e realizou-se nova rodada, controlando o objeto nulo versus as variantes 
3 Constatou-se que o nível de monitoração linguística incide diretamente sobre a probabili-
dade de uso do clítico acusativo, haja vista a ocorrência ínfima da variante pronome lexical no 
corpus, o que, em certa medida, demonstra o caráter mais escrito e até mesmo mais monitora-
do de nossa amostra, ressalvadas as particularidades de cada gênero.
34
expressas SN anafórico e clítico acusativo4, cujos resultados são expostos na 
Tabela 3 a seguir.
Tabela 3 Aplicação das variantes objeto nulo x objeto expresso (SN e clítico) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                 A partir desses resultados, não surpreende que as entrevistas 
sociolinguísticas se caracterizem como o gênero de maior oralidade, com peso 
relativo .96 de favorecimento ao emprego do objeto nulo. Como segundo gênero 
mais oral, entretanto, aparecem os anúncios, que, embora propriamente escritos, 
demonstram forte probabilidade de carregar traços da oralidade, favorecendo 
o uso da categoria zero com peso relativo .81. Na sequência, encontram-se asentrevistas impressas e as tirinhas também como gêneros representativos da 
modalidade oral, com pesos relativos .70 e .69, respectivamente. Em ordem, 
os gêneros mais escritos da amostra foram as crônicas, que desfavoreceram o 
objeto nulo com peso relativo .16, os artigos científicos; as teses/dissertações e 
as notícias, com pesos relativos .33, .35 e .37 de desfavorecimento à categoria 
zero; e os editoriais e cartas de leitor, que desfavoreceram o uso dessa variante 
com peso relativo .45. Dessa forma, é possível visualizar o seguinte continuum 
4 Nesta etapa, foram eliminados os dados de pronome lexical, já que esta variante é também 
associada ao contexto de modalidade oral, com a particularidade de pressupor, com base nos 
critérios aqui estabelecidos, uma oralidade menos monitorada. Por esse motivo, exibe-se o 
total de 230 dados na Tabela 7, em lugar de 238, que foi o total de dados geral do corpus.
35
de oralidade-letramento (figura 1) referente ao comportamento do acusativo 
anafórico de terceira pessoa na amostra aqui investigada:
Figura 1 Continnum de oralidade-letramento dos gêneros da amostra
 
No que se refere à monitoração estilística dos gêneros, o editorial se re-
velou como o gênero de mais alta monitoração, com peso relativo .96 de fa-
vorecimento ao emprego do clítico, seguido pelos artigos científicos e teses/ 
dissertações acadêmicas, com pesos relativos .76 e .72, respectivamente. As 
cartas do leitor e as notícias demonstraram também o traço de gêneros mais 
monitorados, favorecendo o uso do clítico com pesos relativos .71 e .53. No 
entanto, cabe mencionar o provável processo de (re)edição que deve nortear 
a produção dessas cartas de leitor até sua efetiva publicação nas revistas, o 
que provavelmente influencia esse favorecimento de .71 à estratégia de maior 
prestígio social. Na contramão desse processo, encontram-se as entrevistas 
sociolinguísticas e jornalísticas, os anúncios, as tirinhas e as crônicas, que des-
favoreceram o uso do clítico, nesta ordem, como pesos relativos .07, .22, .26, 
.37 e .435:
Figura 2 Continnum de monitoração estilística dos gêneros da amostra
5 Para conferir tais resultados, ver Tabela 2.
36
Como se pode observar, os gêneros distribuídos ao longo dos continua 
de oralidade-letramento e monitoração estilística naturalmente se encontram 
em determinados pontos, mas podem se diferenciar em outros. Ressalta-se, 
pois, que o entendimento de maior ou menor monitoração estilística, aqui, 
considera apenas a maior ou menor probabilidade de uso do clítico acusativo, 
como critério estabelecido, o que não esgota as reais influências que atuam na 
composição do nível de formalidade das diversas situações comunicativas. A 
separação dos continua de modalidade e registro foi assim realizada na tentati-
va de ilustrar seus “macropontos” de encontro e seus eventuais desencontros, 
em decorrência das particularidades da cada gênero. Dessa forma, há grupos 
de gêneros que refletem o extremo mais oral e informal dos continua – as en-
trevistas sociolinguísticas e impressas, os anúncios e as tirinhas – e outros que 
se encontram no extremo oposto, caracterizando-se como gêneros mais escri-
tos e mais formais – os artigos científicos e as teses/dissertações acadêmicas.
Em função dos critérios estabelecidos para a formulação dos continua, os 
editoriais, particularmente, não se enquadraram exatamente no extremo de 
maior letramento em nossa amostra, embora configurem naturalmente um 
contexto de escrita. Ocorre que, nestes, não houve sequer uma ocorrência da 
variante SN anafórico – a que caracterizaria o contexto de modalidade escrita 
–, fato que decorre, no entanto, da quase totalidade de uso do clítico acusa-
tivo entre os dados do gênero (cf. Tabela 1), configurando-o como o extre-
mo de maior formalidade em nossa amostra. Em contrapartida, as crônicas, 
por exemplo, embora situadas no extremo de maior letramento do continuum 
referente à modalidade, não atingiram um alto grau de formalidade em nossa 
amostra (a partir dos critérios aqui estabelecidos), ocupando o meio [–for-
mal] do continuum de monitoração estilística. Tal condição parece razoável, 
no sentido de que as crônicas seriam um domínio de forte letramento, mas, ao 
mesmo tempo, de maior liberdade de escrita, com um caráter mais subjetivo e 
particular. Já os anúncios, por exemplo, apesar de serem literalmente escritos, 
podem sugerir certa intenção de interação e proximidade com o público, o que 
os relaciona às características da modalidade oral e à informalidade do registro 
de uso da língua.
Com base nesses resultados, propõem-se algumas orientações para o 
ensino do fenômeno, expostas na próxima seção.
Reflexões sobre norma e ensino
A partir dos resultados acima explorados para o fenômeno do acusativo 
37
anafórico de terceira pessoa, nos quais se fundamentaram os continua de gêne-
ros textuais ora estabelecidos, é válido refletir sobre o que deve ser recuperado 
pela escola em um nível de recepção linguística, isto é, apenas para o reconhe-
cimento, leitura e compreensão textual-discursiva, e o que se deve recuperar 
em nível de produção linguística, ou seja, para que os alunos desenvolvam o 
domínio de determinado elemento a ponto de efetivamente utilizá-lo em suas 
produções textuais.
No que tange à ampliação do nível de recepção linguística dos alunos, 
julgou-se essencial o conhecimento das quatro variantes do fenômeno em 
questão (bem como de qualquer outro) – clítico acusativo, SN anafórico, ob-
jeto nulo e pronome lexical –, haja vista a legitimidade de todas as variantes 
linguísticas no comportamento social e no percurso histórico da língua em 
uso (qualquer que seja ela). Além disso, entende-se que, quanto maior o nível 
de recepção linguística do alunado, maior será sua gama de compreensão tex-
tual, seu leque de leitura de mundo. Já no que se refere à ampliação do nível 
de produção linguística dos alunos, sugere-se a promoção de atividades que 
envolvam especialmente as variantes clítico acusativo e sintagma nominal, 
não apenas por terem sido as mais frequentes no corpus analisado, mas por 
considerar-se que as demais – objeto nulo e pronome lexical – se caracterizam 
como mais vernaculares em relação ao PB, não demandando a realização de 
atividades escolares sistemáticas em prol do seu uso exclusivo, para além do 
seu reconhecimento e do entendimento da sua funcionalidade na língua.
No entanto, mesmo em nível de produção linguística, acredita-se que o 
clítico acusativo e o SN anafórico pressupõem estatutos de ampliação distin-
tos. O primeiro traz ao plano da consciência o exercício da regra variável, 
de maneira a exigir a prática, em sala de aula, de atividades sistemáticas que 
visem o desenvolvimento das habilidades linguísticas discentes na direção 
de um maior domínio sobre essa regra variável. Nesse intuito, o trabalho do-
cente se daria em prol do uso do clítico acusativo, variante mais distante do 
vernáculo do PB, cujo acesso seria mais laborioso, portanto, para os alunos 
brasileiros. Não por acaso, seria interessante que esse trabalho envolvesse os 
gêneros que apresentem o traço [+clítico] em sua composição, como, nesta 
amostra, os editoriais, artigos científicos, as teses e dissertações acadêmicas. 
Não obstante, até que ponto recuperar essa estratégia de maior prestígio social 
é uma questão que persiste em aberto, dependendo inclusive dos condiciona-
mentos estruturais que venham a conservar sua expressão. Vale mencionar 
que, no corpus desta investigação, houve ainda um dado de clítico utilizado 
para a retomada de antecedente oracional, contexto em que o emprego dessa 
38
estratégia de retomada do objeto foi o primeiro a praticamente desaparecer na 
fala brasileira.
De forma distinta, o uso do SN anafórico parece advir não exatamente do 
funcionamento da regra variável, considerando os diferentes gêneros e con-
textos de maior ou menor formalidade de uso da língua, nas modalidades oral 
ou escrita – como é o casodo clítico acusativo –, mas sim, e principalmente, 
da noção semântico-discursiva que envolve a escolha dessa variante pelo fa-
lante. Nesse caso, entrariam em jogo atividades que alcançassem a produção 
de diferentes sentidos no texto, promovendo uma consciência de intenções do 
discurso, para as quais se poderiam explorar gêneros que apresentem o traço 
[+SN], como ocorreu, em nossa amostra com as crônicas, anúncios e notícias, 
por exemplo.
Apesar de nossa proposta para a ampliação do repertório de uso dos alunos 
recair particularmente sobre o emprego das variantes clítico acusativo e SN 
anafórico, ressalvadas suas diferenças, isso não significa que estas seriam as 
únicas variantes aceitas na correção dos textos de produção discente. Sob essa 
perspectiva, supõe-se que o grau de aceitabilidade das variantes do fenômeno 
possa variar a depender do nível de flexibilidade do gênero respectivo a 
essa produção, o que funcionaria basicamente como um possível critério 
de avaliação docente. Na amostra analisada pela presente investigação, os 
gêneros observados demonstraram a seguinte disposição relativa à frequência 
de uso de cada variante:
39
Quadro 2 Graus de aceitabilidade das variantes do acusativo anafórico de 3ªp. 
conforme sua frequência de uso nos gêneros textuais da amostra
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
     O Quadro 2 acima não pretende (e sequer pode) delimitar o grau de aceita-
bilidade de cada variante em cada gênero observado, mas ilustra a distinção do 
comportamento de cada uma delas nos diferentes gêneros. O clítico acusativo 
demonstrou sua aceitabilidade em todos os gêneros da amostra, em ordem 
decrescente, desde os editoriais, que obtiveram maior frequência de uso da va-
riante, até os anúncios, em que seu uso foi menos expressivo. O SN anafórico 
apresentou maior grau de aceitabilidade nas crônicas e foi menos frequente 
nas entrevistas sociolinguísticas, contexto em que sobressaiu o emprego do 
objeto nulo, como já mencionado, direcionando a mais abrangente aceitação 
desta variante em contexto de modalidade oral. O pronome lexical, por fim, in-
dicou um grau de aceitabilidade atrelado apenas às entrevistas, especialmente 
as sociolinguísticas, o qual permanece aberto a diferentes gêneros com traços 
[+oral] e [–monitorado] que excedem os limites de nossa amostra. Assim, essa 
disposição pode, talvez, sugerir a maior ou menor adequação de uma ou outra 
variante a determinado gênero textual, embora não esgote as diversas possibi-
lidades desses gêneros.
Nesse sentido, mais importa considerar a noção de flexibilidade associada 
40
a cada gênero. Os artigos científicos, teses e dissertações acadêmicas, por 
exemplo, que ocupam o extremo de maior letramento e formalidade dos conti-
nua averiguados, bem como os editoriais, que figuram como o ponto de maior 
monitoração estilística em nossa amostra, comportam-se como gêneros menos 
flexíveis, haja vista a preponderância da variante clítico acusativo (ou do SN 
anafórico, a depender do contexto de uso) em sua escrita, em detrimento da 
expressão das demais variantes. As entrevistas sociolinguísticas e impressas, 
os anúncios e as tirinhas, que se aproximam do extremo mais oral e menos 
formal dos continua, por outro lado, apresentam um caráter de maior flexi-
bilidade, isto é, estão mais abertos ao uso das quatro variantes do fenômeno. 
Nesse caso, as crônicas, notícias e cartas do leitor, por sua vez, demonstram um 
comportamento mais ou menos flexível no que tange à expressão do acusati-
vo anafórico de terceira pessoa, podendo oscilar entre uma maior ou menor 
maleabilidade de escrita, cujas escolhas pelo uso de uma ou outra variante 
decorrerão, provavelmente, de influências outras que extrapolam o controle 
situacional desta pesquisa (tipo de texto, tema abordado, suporte ou veículo de 
comunicação etc.).
Dessa forma, em síntese, propõe-se a inserção das quatro variantes do 
fenômeno em estudo no desenvolvimento do nível recepção linguística dos 
alunos (clítico acusativo, sintagma nominal, objeto nulo e pronome lexical) 
e a ampliação de seu nível de produção linguística especialmente (i) com a 
promoção de atividades sistemáticas que visem o aumento de sua habilidade 
linguística com o domínio da variante clítico acusativo, o que implica o desen-
volvimento da consciência da regra variável, dado a partir do trabalho com 
gêneros que carreguem o traço [+clítico] – em nossa amostra, os editoriais, 
artigos científicos e teses/dissertações acadêmicas, e (ii) com a promoção 
de atividades que busquem um avanço no uso da variante SN anafórico, de 
modo a explorar a produção de distintos sentidos no texto e desenvolver a 
consciência, no nível semântico-discursivo, de diferentes intenções do discur-
so em prol de uma escrita cada vez mais elaborada e criativa, sobretudo por 
meio do trabalho com gêneros que carreguem o traço [+SN] – em nossa amos-
tra, as crônicas e notícias, por exemplo.
Paralelo a isso, sugere-se que o grau de aceitabilidade de cada variante, 
como critério para a avaliação da produção discente, pode variar a depender 
do nível de flexibilidade de cada gênero, que varia também em um continuum 
desde os gêneros mais flexíveis, como os anúncios e as tirinhas, até os gêneros 
menos flexíveis, como os editoriais, artigos, teses e dissertações acadêmicas. 
Assim, espera-se que essas considerações, ainda que restritas aos limites desta 
41
pesquisa, possam contribuir com a descrição da variação estilística atrelada à 
expressão do acusativo anafórico de terceira pessoa no Português do Brasil, 
em suas modalidades falada e escrita, e possam, ainda, colaborar para a discus-
são relativa ao ensino deste fenômeno no âmbito de nossa Educação Básica.
42
O Português Brasileiro oral vem apresentando um transcurso de mudanças, em 
diferentes níveis, que resultam em um distanciamento da descrição presente nas 
gramáticas normativas em relação ao que é efetivamente utilizado na língua 
corrente no país, como aponta Freire (2011). Destaca-se, dentre os fenômenos 
descritos nas últimas décadas, a “decadência” dos clíticos acusativo e dativo de 
terceira pessoa.
Cumpre ressaltar que, paralelamente a essas mudanças na fala, uma grande 
parte das escolas segue ensinando aos alunos a abordagem tradicional da utiliza-
ção desses clíticos. Nesse sentido, essa conduta escolar leva a acreditar que, pelo 
menos na escrita, haja ocorrências congêneres aos processos descritos pelas 
gramáticas normativas, uma vez que o ensino formal sabidamente prima pela 
tradição, instruindo os aprendizes a rejeitar as “incorreções”, ou seja, aquilo que 
foge dos tratados gramaticais tradicionais. Contudo, a análise de diferentes ma-
teriais já é suficiente para revelar usos alternativos aos da descrição tradicional.
Ao recorrermos à tradição gramatical, sobre o dativo de terceira pessoa, 
fica evidente a canonicidade do uso do lhe(s) enquanto estratégia anafórica. Por 
exemplo: “Encontrei Mateus e entreguei-lhe o dinheiro”. No entanto, não causam 
estranhamento a um falante de Português Brasileiro construções como “Encon-
trei Mateus e entreguei o dinheiro para Mateus”, “Encontrei Mateus e entreguei o 
Estratégias de retomada do 
dativo de 3ª pessoa em diferentes 
gêneros textuais: uma análise 
sobre letramento, normas e ensino
Bruna Brasil Albuquerque de Carvalho
Pedro Henrique dos Santos Regis
Thaissa Frota Teixeira de Araujo Silva
CAPÍTULO 2
43
dinheiro para ele” ou até mesmo “Encontrei Mateus e entreguei o dinheiro”. Es-
sas alternativas são realizadas naturalmente em contextos de fala e escrita e já 
vêm sendo consideradas e descritas nos últimos anos (cf. GOMES, 1999, apud 
FREIRE, 2011; SILVEIRA, 2000).
Sob essa perspectiva, cabe questionar quais são as circunstâncias propícias 
para a ocorrência do clítico ou para sua eventual substituição por uma estraté-
gia anafórica não prevista pela tradição. Levando isso em conta, este trabalho 
buscará traçar um panorama acerca da expressão de dativo anafórico

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