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Livro - Questao social no Brasil e o Servico Social

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Prévia do material em texto

QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL 
E O SERVIÇO SOCIAL
Liélia Barbosa Oliveira
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Curitiba
2020
Questão Social 
no Brasil e o 
Serviço Social
Liélia Barbosa Oliveira
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael.
O48q Oliveira, Liélia Barbosa
Questão social no Brasil e o serviço social / Liélia Barbosa Oliveira . – 
Curitiba: Fael, 2020.
223 p. il.
ISBN 978-65-86557-36-7
1. Serviço social – Brasil I. Título
CDD 361.981
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/ErenMotion
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Base da questão social: trabalho e ser social | 7
2. Capitalismo e a gênese da questão social | 25
3. Constituição sócio-histórica da 
questão social no Brasil | 49
4. Particularidades do capitalismo no 
Brasil e a questão social | 67
5. Lutas sociais e questão social | 89
6. Crise do capital e reestruturação capitalista | 107
7. Velha ou nova questão social? Centralidade 
no debate contemporâneo | 125
8. Questão social e o serviço social | 143
9. Expressões da questão social na sociedade 
brasileira e o Serviço Social | 163
10. Atuação profissional do Serviço Social no enfrentamento 
das expressões da questão social | 183
Gabarito | 203
Referências | 217
Prezado(a) aluno(a),
Este módulo que você está recebendo na íntegra trata-se 
de um conteúdo de grande importância para todos os profissio-
nais do Serviço Social. É uma discussão basilar e extremamente 
necessária para a compreensão do fazer profissional, que está 
diuturnamente ligado ao conceito de Questão Social e, de modo 
muito particular, às suas expressões no universo da prática da 
vida em sociedade. Portanto, os assistentes sociais trabalham no 
enfrentamento cotidiano das expressões da Questão Social nos 
mais variados espaços sócio-ocupacionais, sejam eles no âmbito 
público, privado, em ONGs, espaços filantrópicos, confessio-
nais, dentre outros.
Este é um trabalho que cumpre o desafio de contextualizar 
e trazer uma linguagem simples e objetiva para que você possa 
ter uma visão conjuntural da história do Brasil e a emergência 
da Questão Social em solo nacional, além de compreender sua 
importância para o fazer profissional na contemporaneidade.
Carta ao Aluno
– 6 –
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
A obra é constituída por dez capítulos que demarcam a construção do 
debate, desde a emergência do sistema capitalista até a gênese do Serviço 
Social em âmbito internacional e nacional. Ressaltamos a abordagem teó-
rica e histórica que a obra apresenta ao mesmo tempo em que destacamos 
a tarefa no exercício pedagógico de deixar sempre em uma linguagem 
simples e de fácil compreensão.
É importante lembrar que a abordagem aqui adotada não anula ou 
invalida as demais interpelações e leituras na íntegra dos clássicos em 
relação ao tema abordado. Cumpre salientar que esta é apenas mais uma 
contribuição ao processo pedagógico de facilitação da aprendizagem, 
tendo por base os teóricos da área.
Por fim, caso você identifique alguma inconsistência neste material, 
lembre-se que o conhecimento estar sempre por ser feito e reescrito e, 
portanto, torna-se um convite para que você se junte a nós nessa grande 
tarefa que é sistematizar, construir e disponibilizar conhecimento na nossa 
área de atuação profissional.
Seja bem-vindo! Esperamos sua leitura atenta e curiosa e desejamos 
que possa realizar bons debates e questionamentos sobre a realidade da 
formação sócio-histórica e da Questão Social no Brasil, correlacionando 
ao nosso fazer profissional.
Bons estudos.
Liélia Barbosa Oliveira
1
Base da questão social: 
trabalho e ser social
A centralidade do trabalho1 em seus distintos aspectos, sua 
relação com o ser social, seu status na gênese e o desenvolvi-
mento das sociedades, a condição humana versus o estado de 
alienação do ser social, entre outros apontamentos, são os argu-
mentos que se pretende explanar, mesmo que de forma muito 
sucinta, nas breves considerações aqui delineadas e reproduzidas. 
O ponto de partida que orienta nossas argumentações é o pensa-
mento marxista2, por conceber a sociedade em uma perspectiva 
crítico-dialética e seguir na tentativa de desnudar a realidade com 
vistas a sua transformação.
1 Movimento de transformar a natureza a partir de prévia ideação.
2 Heinrich Marx (1818-1883) filósofo, economista, sociólogo e historiador, 
ativista político alemão, um dos fundadores do socialismo científico e da So-
ciologia. A sua obra influenciou a Economia, a História, Sociologia e também 
a Pedagogia. Em 1867, publica o primeiro volume de sua obra mais importante 
– O Capital – onde sintetiza suas críticas ao capitalismo, causando uma revolu-
ção na maneira de pensar a história, a economia, a sociologia e demais ciências 
sociais e humanas nas décadas seguintes.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 8 –
Nossa pretensão é diferenciar o trabalho como categoria3 fundante do 
ser social e o sentido que adquire na sociedade do capital e seus prelimina-
res desdobramentos, de onde radica a base da “questão social” que explode 
a partir da relação capital versus trabalho. O ensaio das reflexões que aqui 
pretendemos provocar acerca do trabalho reside sob duas perspectivas: o 
trabalho capaz de humanizar o homem e o trabalho assalariado ou alienado 
pelo capital que provoca a desumanização gerada pelo próprio homem.
A primeira perspectiva evidencia o trabalho como “processo com-
posto pela previa ideação e pela objetivação que resulta na transformação 
da realidade e, ao mesmo tempo do indivíduo e sociedade envolvidos” 
(LESSA, 1999, p. 22), ou seja, como o ato pelo qual o homem, através de 
prévia ideação (teleologia), consciência, objetivação e intencionalidade 
transforma a natureza para a satisfação de suas necessidades para sua 
sobrevivência, resultando disso sua humanização. A segunda percepção se 
cristaliza sob a forma de trabalho alienado “cuja razão de ser não é mais 
a satisfação” (LESSA, 1999, p. 28) das necessidades humanas do ser que 
produz a riqueza social, mas a expropriação e a apropriação de uma classe 
sobre a outra, leia-se capital versus trabalho, que se traduz em burguesia 
versus proletariado.
A sociedade de classes, de onde emerge a exploração do homem pelo 
homem e por consequência resulta na alienação do “processo social pelo 
qual a humanidade, no seu processo de reprodução, produz sua própria 
desumanidade, sua própria negação enquanto ser humano” (LESSA, 1999, 
p. 28), constitui um dos estágios do capitalismo, forma de sociabilidade da 
qual resulta tanto a produção da riqueza quanto da miséria social por meio 
do trabalho alienado. Nesse sentido, fica claro que o trabalho alienado é 
o meio pelo qual a força de trabalho, ao produzir a riqueza social que é 
apropriada e expropriada pela classe dominante, produz para si a miséria.
3 Segundo Karl Marx, “as categorias são formas de ser, determinações da existência”. As 
categorias, diz ele “exprimem […] formas de modos de ser, determinações de existência, 
frequentemente aspectos isolados de [uma] sociedade determinada”, ou seja, são objetivas, 
reais (pertencem à ordem do ser, são categorias ontológicas); mediante procedimentos 
intelectivos (basicamente, mediante à abstração), o pesquisador as reproduz teoricamente 
(e, assim, também pertencem à ordem do pensamento, são categorias reflexivas). Por isto 
mesmo, tanto real quanto teoricamente, as categorias são histórias e transitórias (NETTO, 
2009, p. 685).
– 9 –
Base da questão social: trabalho e ser social
Essas duas perspectivas tanto se contradizem como se complemen-tam; tanto resultam do desenvolvimento das forças produtivas como são 
igualmente por ele determinadas. Isso para pensarmos as contradições e os 
antagonismos que são intrínsecos da essência do capital. Todo esse com-
plexo, histórico e contraditório processo, fundado no trabalho, engendra as 
relações sociais e os complexos sociais: direito, Estado, ideologia, costu-
mes etc. entre os homens e as ordena. Disso se origina a reprodução social 
e por conseguinte a construção das sociedades em cada momento histó-
rico. Vale ressaltar que toda essa engrenagem, tida como “o conjunto total 
das relações e complexos que compõem as sociedades em cada momento 
histórico, é denominado de totalidade social.” (LESSA, 1999, p. 27).
Assim, podemos compreender que, a partir da emergência/constituição 
do ser social pelo ato do trabalho, no intercâmbio com a natureza, deu-se 
o marco da formação da sociedade, concomitantemente, a origem da vida 
social dos homens sob a forma de organização social, conforme ressalta 
Lessa (1999, p. 26): “a história dos homens é a história da origem e desen-
volvimento das formas de organização social”. Lessa (1999) ainda eviden-
cia que o processo de desenvolvimento humano é reflexo do progresso de 
sociedades simples para mais complexas, evidenciando, portanto, mudan-
ças significativas no tempo e no espaço em que ocorrem. Sendo assim, a 
complexidade se destaca a partir do desenvolvimento das forças produtivas 
aliadas à transformação da natureza em bens para uso dos seres humanos.
Na organização das sociedades, o curso da história4 tem revelado que 
o trabalho é condição original e específica, por excelência, para a existên-
cia do homem como ser social, uma vez que é a condição criadora e a cate-
goria mais relevante para se pensar o desenvolvimento do ser social e da 
própria sociedade, pela ação consciente, para uma sociabilidade que se dá 
pela práxis5 humana. No entanto, essa categoria ontológica-social capaz 
4 Forti e Guerra (2010) colocam que a história, distinta da história natural que se limita ao 
necessário, concebida pelos homens, é mediada por um caráter insuperavelmente alterna-
tivo e ontologicamente diverso da história natural por ser um espaço de escolhas entre as 
alternativas inscritas nas possibilidades concretas.
5 Para Badaloni, o conceito de práxis, como agir individual e social, está no centro de toda 
a filosofia inaugurada por Karl Marx e por seu modo de abordar os problemas da produção 
e da ciência.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 10 –
de humanizar o homem figurou de modo adverso, a partir da emergência 
da sociedade capitalista, datando do desenvolvimento das forças produ-
tivas com a instauração da Revolução Industrial, uma vez que inaugurou 
o regime de assalariamento e de trabalho livre (apto a ser explorado pelo 
capitalista) e assumiu caráter de mercadoria. Nisso se funda um amplo e 
inesgotável processo de desumanização que é a base da “questão social”, 
já que essa categoria é constitutiva do modo de produção capitalista.
1.1 Ontologia do ser social
Etimologicamente, ontologia vem do grego ontos (ser) e logia 
(estudo) e traduz o significado do ser e da existência. O termo se popu-
larizou graças ao filósofo alemão Christian Wolff, que o definiu como a 
ciência do conhecimento do ser enquanto ser. Apreender a ontologia do 
ser social é compreender a interação do homem com a natureza, mediado 
pelo trabalho. Desse intercâmbio tem origem a humanização do ser natu-
ral, em que nessa relação dialética pode-se inferir que o homem, mediante 
sua objetivação, de forma previamente idealizada (projeção teleológica), 
em sua intencionalidade e sua capacidade (ação consciente) de agir, trans-
forma a natureza e se transforma em ser social ao realizar o trabalho.
Dessa forma, para Lessa (1999), o trabalho passa a ser entendido 
como a categoria que funda o ser social, visto que, quando transforma a 
natureza para satisfazer suas necessidades, o homem também sofre trans-
formação. Assim, nessa interação histórico-social, desenvolve novas habi-
lidades, conhecimentos, possibilidades e necessidades. Portanto, “todo ato 
de trabalho […] possibilita o desenvolvimento das capacidades humanas, 
das forças produtivas, das relações sociais” (LESSA, 1999, p. 25-26).
Nesse sentido, o trabalho enquanto premissa e pressuposto para 
emergência, desenvolvimento e continuidade da existência do ser social 
é, simultaneamente, condição imprescindível para a vida em sociedade, 
o que supõe sua necessidade de se relacionar, na dinâmica social, com a 
natureza, consigo mesmo e socializar com seus semelhantes. Marx (1946 
apud IANNI, 1993, p. 23) assevera “o modo de produção da vida material 
condiciona o processo da vida social, política e intelectual”. Com base 
nessa premissa, Badaloni ressalta que Marx, em Manuscritos econômi-
– 11 –
Base da questão social: trabalho e ser social
cos-filosóficos, de 1844, expressa: “Assim como a sociedade produz o 
homem enquanto homem, ela é produzida por ele” (S.d., s.p.). Nisso se 
evidencia a dialética6 da produção enquanto práxis humana que não se 
refere essencialmente ao trabalho em si, expresso no plano concreto real 
(objetivo), mas diz respeito às atividades que no plano (subjetivo) respon-
dem aos complexos sociais (novas necessidades e novas possibilidades, 
como religião, filosofia, política, ciência, arte, instituições) que se forjam 
na estrutura social e têm por finalidade ordenar as relações sociais.
Essa compreensão da práxis humana instiga a pensar o ser social 
ontologicamente em sua totalidade (nas dimensões da subjetividade e da 
objetividade do sujeito) na vida em sociedade. Essa ideia tem por base o 
conceito de filosofia da práxis, em Gramsci7, sendo portanto entendido 
como a expressão das vontades coletivas que correspondem às necessida-
des surgentes em expressão da relação contraditória das forças produtivas 
expressas, por sua vez, nas tramas das relações sociais e objetivadas no 
processo cultural.
Levando em consideração que a práxis gera o conhecimento e este 
embasa a prática e que a práxis deve ser entendida como prática refletiva, 
balizada por conhecimentos já produzidos, pode-se pensar que a práxis 
fundamenta a existência do ser social e a possibilidade de seu desenvol-
vimento humano como indivíduo e gênero. Sendo assim, é necessário 
salientar que, de acordo com Forti e Guerra (2010), o conhecimento teó-
rico é fruto do processo histórico-social, o que implica dizer que é produ-
ção surgente do resultado das relações humanas com o intuito de satisfa-
zer suas necessidades tanto do campo material como do campo espiritual 
(aqui compreendido como o campo das subjetividades). Assim, o conhe-
cimento ganha o status de reprodução da realidade, ou seja, o pensamento 
é expresso na ação dos indivíduos que materializam seu modo de pensar 
em seu modo de agir.
O processo teleológico do ser humano reflete seu modo de pensar 
para ser base referente a seu modo de agir. Assim, a relação entre pen-
6 A dialética marxista é uma forma de pensar a realidade em constante mudança por meio 
de termos contrários que dão origem a um terceiro, que os concilia
7 Antonio Gramsci (1891-1937) filósofo italiano, foi uma das referências essenciais do 
pensamento de esquerda no século 20, co-fundador do Partido Comunista Italiano.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 12 –
sar e agir é mediada pelo processo reflexivo de onde surgem as questões 
referentes à moral (o fazer) e à ética (o refletir). Cabe, portanto, enfatizar 
que o conhecimento teórico é base preponderante para o conhecimento 
prático. A prática é reflexo e reflexão de um modo de pensar do sujeito que 
a pratica, sendo objeto sempre de reflexão permanente do conhecimento 
teórico e do processo de desenvolvimento social da humanidade.
A partir disso, entende-se que partem do trabalho a capacidade e a 
possibilidade de desenvolvimento humano. No entanto, leva-se em consi-
deração a consciência para uma ação refletivaquando se pensa em satisfa-
ção das necessidades humanas e sociais. Tal entendimento repousa no que 
Forti e Guerra (2010) afirmam: o conhecimento e a consciência da prática 
são elementos preponderantes para o desenvolvimento e o aprimoramento 
do homem e de suas expressões de caráter social. Dessa forma, é pela 
prática social que os humanos expressam seus pensamentos e projetam 
suas expectativas e suas respostas das demandas e das necessidade de seu 
grupo social. Assim, geram respostas para as questões de ordem material 
e espiritual.
Os desdobramentos da vida social, as formas de organização eco-
nômica, social, política e cultural que são dadas no âmbito das relações 
sociais tanto são resultado das necessidades e das possibilidades humanas, 
produzidas pelo ato do trabalho, como dão origem a novas necessidades, 
possibilidades, habilidades e conhecimentos que fundamentam a práxis 
humana. No tocante a esse processo da reprodução social dá-se também a 
transformação do ser humano. O contato com a diversidade natural impõe 
ao homem complexidades de respostas ao meio social, ou seja, requer 
respostas mais criativas e complexas, o que aguça a capacidade criativa e 
reflexiva para fornecer respostas ao meio e à própria necessidade social.
Torna-se relevante frisar o que Iamamoto (2001 apud FORTI; 
GUERRA, 2010) esclarece a esse respeito quando aponta que a natureza 
se modifica quando o ser humano interfere, e como resultado dessa inter-
venção o homem se transforma, pois o conhecimento se estabelece, assim 
como passa a produzir novos conhecimentos sobre o mundo real/natural 
e por conseguinte a manter relações culturais e sociais entre si e a natu-
reza, mas nem sempre harmoniosas e respeitosas para com o meio natural, 
ainda assim profunda e propositora de conhecimentos.
– 13 –
Base da questão social: trabalho e ser social
Se pensarmos a ontologia do ser social, com as ideias de Lukács8, que 
só é possível por intermédio do trabalho, a partir da relação entre causali-
dade e teleologia, torna-se indispensável compreender o homem como um 
ser complexo, que inicia sua vida social a partir da relação com a natureza, 
no entanto se desenvolve dentro da sociedade e se relaciona consigo, com 
outros indivíduos e com as coisas por meio de outros complexos sociais. 
Partindo dessa ideia, Pereira (1982) indica que é importante pensar que o 
ser humano reflete permanentemente sobre sua existência e busca com-
preendê-la, entendê-la e explicá-la, tornando a busca pelo conhecimento 
de si e do meio uma constante que ultrapassa os séculos. Essa procura de 
conhecimento e propositura de respostas para suas interrogações fez surgir 
inúmeras respostas por vezes contraditórias, mas nunca finitas. Chegamos 
à compreensão de que o conhecimento é infinito. As dimensões perpassam 
o mundo material e imaterial, a subjetividade e a transcendentalidade.
As reflexões e as ponderações de Lukács (1972) acerca da ontolo-
gia da vida social dos homens, explícitas em sua obra Ontologia do ser 
social, abordam a relação entre teleologia e causalidade no processo de 
trabalho, bem como a questão entre as teleologias primárias, que apontam 
a transformação da natureza em bens, e secundárias, que orientam as rela-
ções dos homens entre si. Dessas relações, Lukács imprime ao trabalho 
uma singular e ontológica centralidade na constituição da sociabilidade 
humana e discorre que do trabalho, como categoria fundamental, deriva o 
ser em-si, que pela ação da consciência se transforma em ser para-si — os 
complexos sociais determinam a práxis social.
Lukács (1972, p. 17) afirma que “com o ato da posição teleológica 
do trabalho, temos em-si o ser social”, evidenciando o elemento histórico 
como preponderante e marcante da vida humana. Estamos sempre em um 
devir. Toda análise se propõe a melhorar o trato humano entre si e entre 
a natureza, portanto ultrapassa a perspectiva meramente natural para a 
histórica, em que a construção de si para si é preponderante e o ambiente 
é recorrentemente modificado para si.
Quando Netto e Braz (2006, p. 39) sugerem pensar o “desenvolvimento 
do ser social […] como o processo de humanização dos homens”, propõem 
8 Georg Lukács (1885 – 1971) filósofo e crítico literário húngaro, percursor dos estudos 
sociológicos da literatura ficcional.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 14 –
entender que há uma preponderância dos aspectos culturais, sociais, políti-
cos, históricos, ou seja, complexos estruturais que incidem no construto do 
sujeito. Não estamos, contudo, negando a natureza biológica que acompa-
nha cada sujeito. Esse fato é elementar ao humano. Mas, ao longo de sua jor-
nada existencial, os seres humanos foram se aprimorando frente ao aspecto 
natural e biológico a ponto de adensar uma preponderância dos aspectos da 
sociabilidade sobre o biológico; ou seja, o biológico é presente no ser social, 
mas a preponderância é seu construto social (LUKÁCS, 1972).
Lukács (1972) defende, ainda, que o ser social se inaugura a partir do 
pôr teleológico tanto na esfera da transformação da natureza pelo homem 
quanto no campo da superestrutura, onde são geradas as relações inter-
pessoais e de onde decorrem concepções de mundo, valores e princípios 
éticos e morais, ideologias etc.
Com base em Marx, Lessa (1999, p. 32) constata que “o trabalho 
funda o mundo dos homens”, e por ser constitui o ser social, no entanto o 
ser social não se limita ao trabalho e cria uma série de complexos sociais 
que são resultado de suas novas necessidades, habilidades, possibilidades 
e conhecimentos; isso para evidenciar que o ser social e a história dos 
homens vivem em constante desenvolvimento.
1.2 Trabalho como categoria 
fundante do ser social
Naturalmente, o trabalho é a condição para a existência do ser social; 
é pelo trabalho que o homem passa da condição natural para uma forma de 
sujeito social. Podemos até dizer que o trabalho está na gênese e nos meios 
de o homem existir em sociedade e alcançar seus fins: necessidades de 
existência biológica e natural e histórico-social. Assim, em Marx (1989), 
temos o significado mais singular dessa categoria. O trabalho é elemento 
processual da relação entre homem e natureza. O homem por meio do 
trabalho modifica a natureza e ela é transformada em matéria pelo homem 
para seu objetivo de uso e sua necessidade.
Forti e Guerra (2010) mencionam que “escritos de Marx e Engels 
(1984)” apontam a importância e o significado que o trabalho imprime na 
– 15 –
Base da questão social: trabalho e ser social
existência humana, sendo, portanto, elemento fulcral para a sobrevivência 
humana. Assim, de acordo com eles, a primeira ação histórica dos homens 
não está na capacidade de pensar, e sim de produzir meios para sua vida. 
Sendo assim, um ato de trabalho, modificação da natureza para seu usu-
fruto. Com esse fato decorre a capacidade de projeção e de reflexão do 
ato realizado, dimensionando a capacidade teleológica do ser social. O 
homem realiza o trabalho, e nisso está contida a capacidade de transfor-
mar a natureza por meio de sua ação idealizada, consciente e dotada de 
finalidade para a satisfação de suas necessidades.
Lukács (2013), ao recuperar o legado de Marx, ressalta que o traba-
lho, por ser uma atividade intrínseca ao homem, é a “célula geratriz” que 
intermedia o sujeito e o objeto, contém as determinações que vêm a ser fun-
dantes da gênese e do desenvolvimento do ser social, que se diferencia dos 
seres inorgânicos e orgânicos. Marx (2011, p. 211) revela que “a utilização 
da força de trabalho é o próprio trabalho” e presume “o trabalho sob forma 
exclusivamente humana” ao fazer uma comparação discursiva entre o traba-
lho realizado pela aranha, que termina por operar ações muito semelhantes 
às do tecelão, e da abelha que ao construir sua colmeia se assemelha a um 
arquiteto. O que difere o trabalho da melhor abelha e do pior arquiteto é que 
este constrói na mente sua ação antes de colocá-la em prática; o trabalhofinal do arquiteto se parece com aquele que havia projetado muito antes de 
existir materialmente, antes que a natureza fosse modificada.
O trabalho concreto é possível mediante a capacidade humana de 
projetar e executar seu planejamento. O valor atribuído é condição inde-
lével do ser humano, sendo possível justamente por sua historicidade, por 
sua possibilidade de produzir conhecimento no tempo e no contexto e 
este servir de base reflexiva para as intervenções humanas na natureza 
(FORTI; GUERRA, 2010). Isso revela o caráter ontológico do trabalho 
como atividade exclusivamente humana para a produção da vida social. É 
por isso que o trabalho é a condição para existência do homem como ser 
social e de sua vivência em sociedade; é o processo pelo qual se objetiva 
produzir e reproduzir a vida em sociedade (NETTO; BRAZ, 2006).
Dessa forma, fica visível a centralidade da categoria trabalho na 
constituição do ser social, uma vez que o faz existir e existir em sociedade. 
Então vale assinalar que o trabalho é categorial fundante do ser social, 
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 16 –
bem como fecundo nas relações sociais existentes. Parte dele a produção 
de sociabilidade, modificando a natureza e criando o âmbito social pelo 
qual o homem se constrói e reconstrói, sendo parte da reprodução da vida 
humana e de seus construtos sociais (FORTI; GUERRA, 2010).
A relação entre homem e natureza possibilita a existência do ser 
social e o desenvolvimento das relações sociais; assim, o homem passa a 
conviver em sociedade, e sua vivência é tecida de acontecimentos que se 
dão no campo prático do cenário social em que realiza a práxis humana, 
levando também em consideração suas subjetividades para transformar 
sua consciência. Marx (2006, p. 212) indica que o ser social
não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime 
ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual 
constitui a lei determinada de seu modo de operar e ao qual tem 
de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato 
fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a 
vontade adequada que se manifesta através da atenção durante 
todo o curso do trabalho.
1.3 Capital versus trabalho
“O trabalho cria valor”. Essa é a premissa pela qual Marx (1989) 
começa a analisar a sociedade capitalista e em sua decorrência a relação de 
capital versus trabalho. Quando menciona que o trabalho cria valor, está se 
referindo à atividade que o homem realiza no intercâmbio com a natureza 
para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido, o trabalho é força valo-
rativa nas sociedades que precederam o modo de produção capitalista, e 
somente a partir dela passou a ser considerada mercadoria fetichizada.
Segundo Marx (1989), “o valor da mercadoria é determinado pelo 
tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção”. Nisso se 
revela o trabalho, atividade exclusivamente humana na produção de valor. 
Ele salienta que o trabalho ou a força de trabalho, nos marcos da sociedade 
do capital, é, por excelência, a mercadoria que produz outras mercadorias, 
uma vez que o trabalho está na gênese da criação de valor. Em outras 
palavras, a força de trabalho é a única mercadoria que, determinada pelas 
relações sociais no modo de produção capitalista, é capaz de criar valor. 
Nesse sentido, trata-se do trabalho livre assalariado.
– 17 –
Base da questão social: trabalho e ser social
Ianni (1993) comunica que o exigível estudo de Marx sobre a socie-
dade capitalista, suas aparências e seus fetiches, por meio da análise dia-
lética, são desmistificados e se tornam transparentes. A partir disso, Ianni 
(1993, p. 19) menciona que Marx descobre e revela que a mercadoria, 
como produto da sociedade capitalista, exprime “uma relação determinada 
de alienação entre o operário e o capitalista”. Então, para compreender 
tal significado é necessário apreendê-la em sua totalidade. Dessa forma, 
a princípio, vale salientar que a mercadoria, em sua condição subjetiva, 
“aparece como valor de uso”, posto que se trata de “uma relação entre o 
produtor e o produto do seu trabalho” (IANNI, 1993). No entanto, se sob 
os determinantes da sociedade capitalista o valor de uso encobre o valor 
de troca e ambos acobertam o valor trabalho, a mercadoria é figuração do 
“trabalho social cristalizado e alienado” (IANNI, 1993, p. 11).
Assim, entende-se que, sendo “a mercadoria, como um sistema de 
relações (dos homens com a natureza e entre si, na produção e reprodução 
de si mesmos)” (IANNI, 1993, p. 11), é igualmente apreendida como “o 
trabalho excedente que produz mais-valia” (IANNI, 1993, p. 19). Por sua 
vez, a mais-valia “revela uma relação determinada de alienação e antago-
nismo” (IANNI, 1993), na qual se relacionam o operário e o capitalista. 
Nesse processo entende-se que “o segredo da acumulação capitalista, pois, 
é a diferença entre o trabalho necessário à reprodução da vida do operário 
(o que é pago) e o trabalho excedente, que o trabalhador é obrigado a rea-
lizar (não pago)” (IANNI, 1993, p. 19).
Isso significa dizer que o trabalhador assalariado, a força de trabalho, 
cria valor que se cristaliza na forma de produto através do dispêndio de 
energia humana e é expropriado pelo capitalista, que se apropria tanto 
do trabalho necessário (mercadoria) quanto do trabalho excedente (mais-
-valia), donde se dá a acumulação de capital. Esse processo não só está na 
gênese da relação capital versus trabalho como também fundamenta suas 
contradições e seus antagonismos, ora visíveis, ora latentes.
Ao fazer uma leitura de O Capital, Ianni (1993) expõe que Marx, ao 
desvelar as duas categorias básicas do regime capitalista como catego-
rias dialéticas, revela suas essenciais determinações. Tal descoberta em 
uma densa investigação é assim destacada em duas características: uma 
diz respeito a como o modo de produção capitalista produz seus produ-
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 18 –
tos como mercadoria, e nesse aspecto outros modos de produção também 
produzem mercadoria, contudo o valor implícito nesse modo de produção 
específico é o que altera as circunstâncias em que a mercadoria emerge no 
seio social, adquirindo, portanto, caráter dominante e determinante dos 
produtos; a segunda característica se refere à produção da mais-valia, que 
é a finalidade determinante da produção.
Essa exposição permite compreender que, distinto dos outros modos 
de produção que o antecederam, o capitalismo, por ser um sistema no qual 
em suas determinações essenciais está a necessidade de criar lucro, pro-
duz mercadoria e mais-valia; e por sua estrutura dinâmica e contraditória 
produz, paralelamente, o antagonismo e as contradições entre as classes 
(burguesia e proletariado). Por esse motivo, a sociedade de classes pode 
ser apreendida como um regime de produção de dependências e de alie-
nações nas bases concretas e subjetivas da relação entre capital e trabalho.
Cabe salientar que, enquanto categorias básicas e essenciais do sis-
tema de produção capitalista, a mercadoria e a mais-valia são o produto 
final da força de trabalho. Conforme Ianni (1993, p. 09), “a mais-valia e 
mercadoria, pois, não podem ser compreendidas em si, mas como produ-
tos das relações de produção que produzem o capitalismo”.
Para explicar a síntese descrita, Marx formulou sua análise acerca 
da mercadoria e da mais-valia, e Ianni (1993) explica que a mercadoria 
se apresenta como a relação de alienação entre o operário e o capitalista. 
Na mercadoria está agregado não apenas o valor de uso, mas também 
o valor de troca que agrega o valor do trabalho, ou seja, o valor social 
empregado no processo de feitura da mercadoria. Nesse sentido, a mer-
cadoria agrega valores, e o valor necessário para sua produção advém da 
força do trabalho, da energia empregada na objetivação do objeto que se 
transforma em mercadoria; é neste âmbito que o capitalista acumula capi-
tal, na expropriação da força de trabalho consubstanciadana mais-valia. 
Esse é o ingrediente primordial no processo de acumulação de capital. 
Reside, portanto, na diferença entre o trabalho pago ao operário e neces-
sário à produção da mercadoria e o trabalho excedente que é expropriado 
pelo capitalista. É este último que gera mais-valia. Assim, um tem a mão 
de obra para o trabalho e o outro tem os bens e os produtos para a produ-
ção de mercadoria. Nessa relação, o capitalista expropria a mão de obra 
– 19 –
Base da questão social: trabalho e ser social
(mais-valia) e acumula mais capital, mais riqueza. Diante disso, conclui-
-se que constitui e configura a essência do capitalismo: a contradição e 
o antagonismo que embasam preponderantemente a produção da riqueza 
social para a classe burguesa por meio da produção da miséria da classe 
trabalhadora, condição que não só molda a relação capital versus trabalho 
mas também impulsiona seu acirramento.
O trabalho cria valor e é expropriado pelo capital. Essa contradição 
elementar, explicitada por Marx, data da Revolução Industrial, no século 
XVIII, e da emergência do capitalismo que se instaurou e começou a se 
expandir por meio de seu sórdido regime de produção e por conseguinte 
subjugou o ser social e o destituiu da própria existência humana. Naquele 
momento histórico, o sujeito do trabalho (operário), a quem era imposta 
— pelo próprio desenvolvimento das forças produtivas sob os ditames do 
capital — a condição de trabalhador livre assalariado, passou a produzir 
mercadoria, mais-valia, alienação e, por conseguinte, a própria alienação.
No interior dessas contradições e em paralelo a esse processo, fun-
dou-se a divisão social do trabalho que tanto exprime “uma condição 
da alienação que marca a existência social no regime capitalista” como 
revela, segundo Marx (apud Ianni, 1993, p. 15), “uma das formas pelas 
quais se concretizam ‘as relações de alienação e antagonismo que estão 
na base do capitalismo’.”. Pelo desenvolvimento das forças produti-
vas sob o comando do capital, na mesma medida em que se produzia 
riqueza, produzia-se miséria. Dito de outro modo, à medida que a bur-
guesia acumulava riqueza por meio da apropriação e da expropriação do 
trabalho do proletariado, agigantava-se e alastrava-se a miséria na vida 
dos trabalhadores.
Netto (2010) ressalta que nas sociedades que precederam o modo 
capitalista de produção a desigualdade e a pobreza eram resultantes da 
escassez dos bens à satisfação das necessidades humanas mediante o nível 
de desenvolvimento das forças produtivas materiais e sociais. Todavia, as 
forças produtivas sob a égide do capital passaram a ser desenvolvidas pelo 
princípio da contradição, intrínseco do próprio sistema. Assim, para tratar 
das questões emergentes no período, Netto (2010, p. 04) comunica “pela 
primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em 
que aumentava a capacidade de produzir riqueza”. “Trata-se do fenômeno 
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 20 –
do Pauperismo […] constitui o aspecto mais imediato da instauração do 
capitalismo em seu estágio industrial-concorrencial”.
Para Netto (2010), esse fenômeno relativamente novo é designado por 
questão social e guarda relação direta com os acontecimentos políticos e 
sociais que se forjaram mediante a instauração do capitalismo. Essa colossal 
insatisfação gerou diversas lutas que acirraram a contradição já existente. O 
autor evidencia que o momento de intensas revoluções também foi ímpar 
para os trabalhadores assalariados individuais, que começam a se perceber 
e se organizar, dadas suas condições de vida e de trabalho, enquanto classe. 
Nesse estágio, os trabalhadores se modificaram no proletariado, tomando 
para si uma consciência de classe, de classe econômica para classe política, 
de classe em si para classe para si. Esse foi o berço das lutas sociais e da 
relação de capital versus trabalho da qual decorreu um novo tipo de antago-
nismo entre as duas classes substantivas e necessárias do capitalismo.
Com base nesse estágio totalmente novo na história, Ianni (1993, p. 
17) aponta que “Marx delineia a visão do capitalismo como uma socie-
dade na qual a burguesia e o proletariado são classes revolucionárias e 
antagônicas. Revolucionarias e antagônicas porque enquanto uma instaura 
o capitalismo, a outra começa a lutar pela destruição do regime”. Assim, 
“desde o momento em que descobre que é ele quem produz o capital, 
ao produzir mais-valia, o proletariado começa a libertar-se da dominação 
burguesa. Esse é o primeiro momento no processo de realização de sua 
hegemonia” (IANNI, 1993, p. 13).
Segundo Ianni (1993), para Marx, a consciência de si se dá em rela-
ção ao outro. Assim, a autoconsciência e o entendimento da condição exis-
tencial como sujeito e classe nas relações sociais capitalistas, na tomada 
de consciência do operário a partir do entendimento de sua condição exis-
tencial em relação ao capitalista resulta no “processo político por meio do 
qual se dá a metamorfose da classe operaria de classe em si a classe para 
si. Esse é o movimento crucial no processo de desenvolvimento da contra-
dição de classes no capitalismo” (IANNI, 1993, p. 21). Com base nisso, 
tem-se que as relações de dependência, alienação e antagonismo fundam 
a existência e a consciência do operário e do capitalista.
Entender que sua existência como classe operária — explorada, 
dominada e expropriada de sua condição de sujeito — na relação de capi-
– 21 –
Base da questão social: trabalho e ser social
tal versus trabalho não é uma condição natural, mas determinada pela 
emergência da sociedade capitalista, cujas relações sociais são dadas pela 
alienação, foi determinante para a resistência e a organização das lutas 
sociais na perspectiva de modificação da realidade. Nesse ínterim, Ianni 
(1993) indica que a condição de criticidade da classe operária foi adquirida 
ao longo de sua posição crítica e do reconhecimento de sua condição his-
tórica de luta política de reconhecimento social contra a classe burguesa. 
A percepção crítica de sua condição de alienação no processo produtivo 
e por conseguinte na apropriação dos bens produzidos nessa relação de 
transformação da natureza mediada pelo trabalho foi imprimindo uma 
noção de classe e de luta de classes; relações antagônicas inflamadas pela 
busca de aquisição dos bens produzidos, haja vista que a força produtiva 
empregada é preponderante para a relação de produção.
Nessa perspectiva, a partir das relações de contradição engendradas 
no seio da sociedade de classes, acredita-se que há uma determinação 
histórica e recíproca entre alienação, dependência, antagonismo e revo-
lução que abre possibilidades para a transformação do status quo, em que 
o sujeito dessa história na ótica de Marx continua sendo o proletariado 
dotado de uma consciência totalmente humana para uma existência total-
mente livre. Portanto, com base em Ianni (1993), para entender os enca-
deamentos da relação de capital versus trabalho em qualquer estágio do 
capitalismo é imprescindível apreender que as incongruências dessa rela-
ção têm origem na própria essência do capital, uma vez que este se funda, 
estrutura e expande na “apropriação econômica e dominação política” da 
classe dominante (burguesa) sobre a classe dominada (proletária); ou seja, 
“o princípio da contradição governa o modo de pensar e o modo de ser” 
(IANNI, 1993, p. 08).
A partir disso, pode-se inferir que os princípios de apropriação e 
de dominação, nos marcos da sociedade capitalista burguesa, validam 
os antagonismos que constituem as relações de classes e partir dessas 
se engendram, mercantilizando-as nos níveis local e global e desenvol-
vendo suas contradições. Assim, Ianni (1993, p. 08), com base na obra 
de Marx, ressalta que “o capitalismo é levado a pensar-se a si mesmo, 
de maneira global e como um modo fundamentalmente antagônico de 
desenvolvimento histórico”.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 22 –
Embora os antagonismos presentesnas relações sociais sejam uma 
relação histórica, advindas de outros modos de produção, no capitalismo 
há o antagonismo presente fincado nas relações econômicas sendo um 
determinante estrutural. O capitalismo é em sua natureza um sistema eco-
nômico mercantil em escala universal (IANNI, 1993). Assim sendo, no 
modo de produção capitalista, mercantilizam-se as pessoas e suas relações 
(entre si e com seu trabalho), o próprio trabalho (desfigurado de seu sen-
tido ontológico-social) e os produtos que dele resultam; todos esses com-
ponentes, no circuito da produção e da reprodução da totalidade social, 
assumem a condição de mercadoria. Em outras palavras, o capitalismo 
não só mercantiliza os objetos mas também objetiva as relações pessoais, 
mercantilizando pessoas, sentimentos e subjetividades, transformando as 
pessoas (sujeito), que produzem por meio do trabalho, em objeto, em mer-
cadoria, tornando-as também objetos de valor mercantil.
Diante disso, Netto (1989) ressalta que é imanente da sociedade 
burguesa o “antagonismo genético”. Tal expressão leva a entender que 
esse é o metabolismo da gênese e da expansão da sociedade capitalista. É 
como dizer que o antagonismo é um dos complexos, determinados histo-
ricamente, que se desenvolve e ganha densidade nas entranhas do capital.
Marx exaltou “o caráter das classes sociais, isto é, as condições e 
consequências dos seus antagonismos e lutas na sociedade capitalista” 
(NETTO, 1989, p. 14) por acreditar que a transitoriedade do regime 
capitalista depende das contradições e das lutas entre as classes subs-
tantivas desse regime, como burguesia, classe revolucionária que cons-
truiu e fez desenvolver o capitalismo após a decadência do feudalismo, 
e proletariado, classe revolucionária que na luta buscou colocar fim ao 
sistema do capital por aspirar uma alternativa de sociedade sem classes, 
isenta de exploração do homem pelo homem, em uma forma de sociabi-
lidade humana.
Para Marx, as aspirações do proletariado (classe operária), no que 
concernem a sua libertação do jugo ao capital (classe burguesa), depen-
diam preponderantemente de um conhecimento apurado da realidade 
social. Sendo assim, Netto e Braz (2007) assinalam que seria necessária 
a adoção de uma teoria social para uma ação revolucionária que não 
estivesse fincada em concepções utópicas, mas que pudesse ter uma ação 
– 23 –
Base da questão social: trabalho e ser social
concreta mediada pela crítica social de uma teoria que compreendesse 
o movimento da realidade e o objetivo da sociedade capitalista em seu 
curso histórico.
Em síntese, na essência do capitalismo, a exploração do homem pelo 
homem justifica seu modo de ser e de agir. Nesse vínculo contraditório, 
dá-se a consciência de classe do proletariado, bem como nasce a luta que 
acaba por embasar e alimentar a relação capital versus trabalho, que está 
em aberto no curso da história do ser social.
Pensando com teor crítico que confere a leitura marxista, temos que 
foi a sociedade do capital que realizou e tem realizado todo seu esforço e 
sua artimanha para a supressão do trabalho ou de seu sentido, enquanto 
categoria ontológica, que humaniza o homem e abre possibilidades para 
sua emancipação como ser social.
Atividades
1. O que seria a capacidade teleológica do ser social?
2. O que se entende por ontologia do ser social?
3. Como se define a categoria trabalho para a teoria crítica?
4. O que é mais-valia?
2
Capitalismo e a gênese 
da questão social
A gênese da questão social está intrinsicamente arraigada 
ao capitalismo. Tal argumento, aparentemente um tanto sintético 
e simplista, carrega em sua essência e diz respeito a um denso, 
complexo e específico momento da história que revela o (des)
envolvimento do ser social, do próprio capitalismo e os desdo-
bramentos dessas relações sociais entre si, o que instiga reflexões 
de tais encadeamentos, já que provocaram intensas modifica-
ções e certo nível de inflexão no desenvolvimento da sociedade 
capitalista e por conseguinte no modo de vida humano e social 
a partir da relação capital versus trabalho por se tratar de uma 
sociedade de classes, em cujos interesses figuram as contradições 
imanentes da sociedade burguesa em questão.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 26 –
Considerando que essa síntese afirmativa traz uma leitura crítica da 
realidade, cujo conhecimento se ampara na concepção histórico-dialética 
“avessa ao pensamento burguês”, torna-se indispensável trazê-la ao pre-
sente, na perspectiva de melhor apreender a essência da questão social além 
de sua aparência (COUTINHO, 1972, apud FORTI; GUERRA, 2010). 
Nesse sentido, para compreender a “singularidade” dessa síntese, a princí-
pio faz-se necessário levantar algumas considerações que são imprescindí-
veis para desmistificá-la e desvelar a “pluralidade” que engendra.
Inicialmente, consideremos que apreender a questão social como 
expressão da contradição de classes na fase de expansão e (des)envolvi-
mento do capitalismo é compreendê-la a partir dos antagonismos entre 
burguesia e proletariado, uma vez que foi gestada nas bases das relações 
sociais sob a égide do capital1, tendo este, nas contradições, as determi-
nações estruturais e essenciais de seu regime cuja razão de ser e de existir 
está determinada pela lógica do lucro e da acumulação de riqueza social-
mente produzida pelo trabalho alienado (LESSA, 1999).
Consideremos também que quando mencionamos “fase” trata-se de 
um momento muito peculiar da sociedade do capital2, o capitalismo indus-
trial, no qual se intensifica e se consolida a relação de capital versus tra-
balho, uma vez que expressa uma aguda, inovadora e refinada exploração 
da burguesia sobre o proletariado, gestando nesse útero — de contradição 
— a chamada questão social.
Por fim, no entanto sem intenção de esgotar as reflexões, devemos 
considerar que “o modo de produção capitalista”, bem como a questão 
social, “funda-se nas relações de antagonismo” e que, portanto, ambos 
transfiguram o “princípio da contradição” entre as classes (IANNI, 1993, 
p. 08). Diante disso, o que significa dizer que a gênese da questão social 
1 Uma relação social que se caracteriza pela expropriação da riqueza produzida pelos tra-
balhadores, dando origem a uma forma de propriedade privada que se distingue das outras 
por sua necessidade intrínseca de expansão. Ao capital é impossível qualquer reprodução 
que não seja sua reprodução ampliada (LESSA, 1999).
2 Uma sociedade cuja reprodução social é dominada pela expansão do capital, a qual se dá 
no sentido geográfico do termo: o capital termina por se tornar a forma básica da relação 
social em todo o planeta com o surgimento e o desenvolvimento do mercado mundial 
(LESSA, 1999).
– 27 –
Capitalismo e a gênese da questão social
está intrinsicamente arraigada ao capitalismo? E por que o capitalismo 
em fase de desenvolvimento industrial revela o des(envolvimento) do 
ser social?
Cabe ressaltar que essas breves considerações evidenciam “a reali-
dade como algo essencialmente contraditório” (COUTINHO, 1972, apud 
FORTI; GUERRA, 2010, p. 06), cujas relações sociais se constituem de 
alienação, permeadas de fetichismo. Com base nisso, buscar reproduzir o 
pensamento crítico-dialético sobre o conhecimento da realidade, no sen-
tido de elucidar, lançar luz, para tornar claro um momento muito obscu-
recido da sociedade capitalista, já que “é na análise dialética, de Marx, 
que todo o capitalismo se torna transparente” (IANNI, 1993, p. 12), é o 
interesse mais considerável deste texto. Para tanto, há de se trilhar um 
caminho histórico que remete a conhecer da ontologia do ser social ao 
processo de produção e reprodução da sociedade capitalista e desvelar 
além de uma mera relação entre o capitalismo e a questão social.
2.1 Acumulação capitalista e 
surgimento da questão social
Quando falamos em acumulação capitalista e questão social, esta-
mos tratando de necessidades, escolhas e sociedade, portanto de ser social,relações sociais e história dos homens3 ou história humana4, concebida, 
óbvia e simultaneamente, a partir da reprodução biológica e do ato da 
transformação da natureza pelos homens por meio do trabalho, conforme 
esclarece Lessa, (1999, p. 21): “os homens apenas podem existir em rela-
ção com a natureza”, que evidencia que Lukács, depois de Marx, deno-
mina essa relação — na qual o homem, através da prévia ideação5, obje-
tiva transformar a natureza para satisfazer suas necessidades — de meio 
3 É a história da origem e do desenvolvimento das formas de organização social (LES-
SA, 1999).
4 Entendida como “o surgimento, desenvolvimento e desaparecimento de relações sociais” 
ou como “o desenvolvimento das sociedades mais simples às formações sociais cada vez 
mais complexas e desenvolvidas” (LESSA, 1999, p. 21).
5 Segundo Lessa (1999, p. 22), é “a construção, na consciência, do resultado provável de 
uma determinada ação”.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
– 28 –
do trabalho6, cujo processo se realiza quando vislumbra as alternativas 
possíveis (possibilidades) por meio da teleologia.
Nesse processo de transformação da natureza, o homem também 
se transforma, uma vez que, ao modificar uma realidade já existente e 
construir uma nova, constrói-se e modifica-se. A partir disso, o indivíduo 
adquire conhecimentos, habilidades e capacidades. Nesse novo momento 
da realidade — objetiva concreta e subjetiva abstrata — forjam-se neces-
sidades e possibilidades que determinam novas realizações. Todo esse 
processo impulsiona o desenvolvimento das forças produtivas, bem como 
proporciona o desenvolvimento da humanidade no decorrer da história7.
Assim, com base nas concepções marxiana e lukacsiana, podemos 
entender em Lessa (1999) que o trabalho enquanto atividade humana 
criadora do ser social constitui sua ontologia, a qual no ser social con-
siste na capacidade de transformar teleologicamente a natureza, quando 
se objetiva, para responder a suas necessidades humanas ao criar as con-
dições materiais para sua sobrevivência e sua existência social por meio 
do trabalho. A partir disso, o homem também se transforma, constituindo 
uma natureza diferente dos outros seres naturais, sendo entendido como 
um ser com uma natureza social para responder a outra necessidade: 
viver em sociedade.
Portanto, o trabalho é o ato humano original e peculiar, por excelên-
cia, que funda o ser social e por conseguinte a sociedade, em seus diversos 
estágios, bem como toda sua complexidade, a citar as relações sociais dos 
homens entre si, que dão origem aos complexos sociais: fala, política, cos-
tumes, ideologia, Estado, direito, que surgem como necessidades sociais 
6 Conforme ressalta Lessa (1999, p. 22), é o “processo composto pela prévia ideação e pela 
objetivação” que “resulta, sempre, na transformação da realidade e, ao mesmo tempo, do 
indivíduo e sociedade envolvidos”.
7 Ortiz (2007, p. 35) salienta que a história na concepção de Marx é concebida “como 
produto da vida real dos homens — do modo como produzem suas condições de exis-
tência”, e não como sendo uma linear, abstrata e sucessiva etapa de fatos, ou seja, é 
processo. Ainda coloca que, “a história deve ser entendida a partir do sentido de tota-
lidade [“unidade do diverso” e “síntese de múltiplas determinações”], o que elimina a 
apreensão dos fatos históricos como elementos isolados entre si”. Havendo, assim, para 
a autora, na concepção marxiana, “a presença irrefutável da dialética, na qual a luta dos 
contrários movimenta a história”.
– 29 –
Capitalismo e a gênese da questão social
para ordenar e organizar as relações e responder às novas necessidades na 
esfera da reprodução social.
Nesse processo de desenvolvimento humano e social que ultrapassa 
a esfera do trabalho, do qual participam uma série de outros complexos 
sociais, desenvolvem-se as forças produtivas, os modos de organização 
social, a divisão social do trabalho em resposta ao desenvolvimento da 
sociedade. Ao refletir sobre o desenvolvimento das sociedades, Lessa 
(1999), com base na leitura marxiana e marxista, constata que o desen-
volvimento das forças produtivas, por meio do trabalho, tornou possível 
produzir mais que o necessário para a sobrevivência humana, constituindo 
a chamada acumulação primitiva e dando origem à produção excedente. 
Dessa maneira, o excedente econômico surgente sinaliza o aumento da 
produtividade do trabalho e destaca o acentuado processo de “revolução” 
da vida das primeiras comunidades, as primitivas (NETTO; BRAZ, 2007). 
Como eram sociedades marcadas pela produtividade advinda exclusiva-
mente do que a natureza fornecia, a escassez era um fato preponderante e 
recorrente; contudo, com a possibilidade de produção de excedente, para 
além do necessário na imediaticidade social, iniciou-se o processo de pro-
dução de excedente econômico e por conseguinte sua apropriação por gru-
pos sociais que terminam por se diferenciar dos que não os possuem.
No entanto, o excedente revela também o resultado da exploração do 
homem pelo homem, dado pelo mesmo processo do desenvolvimento das 
forças produtivas, tornando o produto do trabalho uma propriedade pri-
vada, provocando a partir disso a divisão da sociedade, em classes, e reve-
lando o trabalho alienado, em que uma classe explora e se apropria do tra-
balho da outra, produzindo desse modo, já aqui, não só o desenvolvimento 
da riqueza da classe dominante ao expropriar o trabalho da classe domi-
nada mas também potencializando a capacidade do homem de produzir 
socialmente desumanidades, dentre as quais a própria des(humanização), 
ou seja “sua própria negação enquanto ser humano”. Assim, com base em 
Lukács, Lessa (1999, p. 28) esclarece que “a alienação nada mais é que a 
desumanidade socialmente produzida pelos próprios homens”.
Desse processo histórico das necessidades e das escolhas humanas 
veio a exploração do homem pelo homem e o surgimento da propriedade 
privada; do trabalho que produz a satisfação das necessidades humanas 
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
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ao trabalho alienado que (re)produz a desumanização do e pelo próprio 
homem; das sociedades mais primitivas às sociedades mais complexas; 
do trabalho como categoria ontológica fundante do ser social ao trabalho 
alienado sob o comando do capital; das necessidades humanas e de deter-
minadas escolhas às necessidades desumanas do capital — está a gênese e 
o desenvolvimento da acumulação capitalista.
Conforme ressalta Lessa (1999, p. 29-30), “com o desenvolvimento 
das relações de exploração do homem pelo homem, também o trabalho 
se transforma” e se torna alienado e no capitalismo assume a forma de 
trabalho “livre” assalariado e é executado como coação, haja vista que 
a forma encontrada pelo trabalhador é vender sua força de trabalho em 
troca de um salário, relação que reflete o ordenamento burguês e a apro-
priação da reprodução social de classe, o que revela uma coerção não 
legal, mas econômica.
Assim, conforme nos indica Lessa (1999), o trabalho assalariado não 
pode deixar de ser um “trabalho alienado8”, posto que implica a submis-
são forçada do trabalhador às necessidades de reprodução ampliada do 
capital, cujo processo evidencia o trabalho cada vez mais explorado, não 
havendo, portanto, possibilidade de essa sociedade pautada pela relação 
entre capital e trabalho assalariado se transformar em uma sociedade “não 
alienada”. Nesse sentido, todo trabalho nas sociedades dominadas pelo 
capital é mediado pela contradição entre as classes burguesa e proletária.
Ainda segundo Lessa (1999), a relação de alienação entre capital e 
trabalho consiste na exploração de uma classe pela outra, em que a força 
de trabalho da classe dominada define a própria miséria ao produzir a 
riqueza social que é expropriada e apropriada pelo capitalista na classe 
dominante. Isso caracteriza o capital como uma forma de propriedade pri-
vada. O que o difere do modo de produção escravista e feudal, que tambémse realizava no trabalho alienado, mas não assalariado, é a capacidade de 
se expandir de forma ilimitada na busca incessante pelo lucro por meio de 
diversos níveis e diferentes formas de exploração da natureza e da força de 
8Alienação do trabalho é um dos principais conceitos propostos por Karl Marx ao longo 
de sua vasta obra. Alienação (do Latim: alienatio) significa estar à margem de algo, fora, 
alheio a algo. Neste caso, alienação do trabalho é justamente o efeito causado ao trabalha-
dor que não tem acesso aos bens que ele mesmo possui.
– 31 –
Capitalismo e a gênese da questão social
trabalho. Essa expansão caracteriza a reprodução social, e assim fica que 
evidente que na relação contraditória entre classes a produção de riqueza 
se concentra na classe dominante e a miséria, na classe dos trabalhadores.
Sobre o fim do feudalismo, Lessa (1999) ressalta que o capitalismo 
surgiu, de forma tímida, por meio do comércio no interior da Europa, 
pelas mãos da burguesia nascente, que o expandiu. A partir das Grandes 
Navegações nasceu o mercado mundial, possibilitando a acumulação de 
capital. Disso decorreu que a burguesia acabou realizando a Revolução 
Industrial (1776-1830), fazendo nascer a Grande Indústria, edificando 
a sociedade burguesa sob condições determinadas, intensificando seu 
desenvolvimento e, por conseguinte, provocando maiores níveis de explo-
ração da burguesia sobre o proletariado.
Conforme ressalta Boschetti (2009), com o desenvolvimento indus-
trial ocorreu a modificação das bases de modo de produção, marcando a 
transformação do mundo feudal pelo processo de mercantilização comer-
cial, base de transmutação do feudalismo para o mundo industrial, em que 
se evidencia também a mercantilização do ser humano se assentando no 
regime assalariado no qual o trabalhador vende sua força de trabalho no 
mercado por valor abaixo do necessário e equivalente aos bens produzi-
dos. Nesse processo se intensificou a exploração do homem pelo homem e 
cada vez mais se complexificou a relação de contradição entre as classes. 
Decorreu desse processo a divisão das tarefas no processo produtivo e as 
complexas relações salariais e condições de trabalho que se apresentam 
insalubres e deploráveis aos seres humanos que nelas se inserem (BOS-
CHETTI, 2009).
Instaurado o capitalismo industrial, intensificou-se ferrenhamente a 
exploração da sociedade burguesa sobre o proletariado, impulsionando 
de forma contundente a acumulação capitalista por meio do sistema de 
mercado, tendendo sempre à concentração econômica em contrapartida à 
crescente miséria do proletariado. Essa realidade determinada pela mer-
cantilização do trabalho, do ser social e de suas relações revela a essência 
do capitalismo e consubstancia a contradição entre as classes substantivas 
do regime, edificando as bases para a gênese da questão social.
Enraizada na contradição fundamental do modo de produção capi-
talista, na relação capital versus trabalho, fundada nas relações de produ-
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
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ção capitalista, a questão social está na essência do capitalismo. Assim, 
é imprescindível conhecê-la para apreender suas particularidades, que, 
tratando-se do modo capitalista de produção, remetem a aspectos muito 
relevantes, uma vez que, sendo determinadas pela natureza de tal regime, 
revelam igualmente sua essência: a contradição. Esse elemento é prepon-
derante para pensar a dialética da sociedade, posto que “funda-se nas rela-
ções de antagonismo” e se engendra a partir das relações de “apropriação 
econômica e dominação política”, o que instiga a pensar que “o princípio 
da contradição governa o modo de pensar e o modo de ser”. E mesmo são 
grandemente avantajadas as relações antagônicas e econômicas em com-
paração aos demais modos de produção, em especial no trato da determi-
nação estrutural (IANNI, 1993).
Em face dessa realidade, com base na análise de Marx, Ianni (1993) 
revela que o capitalismo em sua essência tem por fundamento gerar mais-
-valia e mercantilizar as relações e os produtos, na coisificação das rela-
ções e das coisas que ganham valor de mercado. Ao mesmo passo que 
mercantiliza a força produtiva necessária ao trabalho e à produção das 
coisas, torna a mercadoria a produção de valores e a energia vital do ser 
humano. Assim, transforma nessa relação as pessoas em mercadorias 
adjetivadas por sua força produtiva: o trabalho.
Com base nisso, Ianni (1993, p. 08) indica o que Marx revelou ao 
esclarecer que produzir mercadoria não diferencia o capitalismo de outros 
modos de produção; o que o distingue é que “o ser mercadoria constitui o 
caráter dominante e determinante dos seus produtos” porque sobressai a 
seu produtor, o operário, que aparece como mero trabalhador livre assa-
lariado, revelando o trabalho alienado. O objeto se torna vital e o sujeito, 
subsumido à condição de mercadoria, porque ao vender sua força de tra-
balho ao capitalista se torna produto, objeto, somente mais uma mercado-
ria, porém é a única capaz de produzir mais mercadoria. O avesso dessa 
reflexão constitui o fetichismo da mercadoria, ou seja, o produto sendo 
independente do operário e da produção por este realizada.
Ianni (1993) expõe que a mercadoria cristaliza, simultaneamente, o 
trabalho necessário à reprodução do operário (trabalho pago) e o traba-
lho excedente (não pago). Assim, aparentemente, a mercadoria mostra um 
valor de uso que esconde o valor de troca, e ambos escondem o valor 
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Capitalismo e a gênese da questão social
de trabalho. Isso revela que a mercadoria nada mais é do que o trabalho 
socialmente produzido. Quanto à mais-valia, é o excesso do trabalho, não 
pago, no qual está o segredo da acumulação capitalista; sendo a mais-valia 
absoluta o resultado da extensão na jornada de trabalho, ao passo que a 
mais-valia relativa resulta da intensificação da divisão social do trabalho, 
da tecnologia e de outras formas de potencializar a produção. Mercadoria 
e mais-valia, portanto, são trabalho expropriado e apropriado pelo capi-
tal. Ambas as relações importam apenas que proporcionem lucro. Assim, 
Ianni (1993) ressalta que as relações de dependência, alienação e anta-
gonismo entre operário e capitalista são oriundas da mais-valia que se 
expressa na mercadoria, a qual por sua vez se torna produto e condições 
necessárias às relações de dependência.
Na análise marxista, a sociedade de mercado revela a divisão social do 
trabalho como “uma condição da alienação que marca a existência social 
no regime capitalista” (IANNI, 1993, p. 15), porque perpassa e concre-
tiza as relações de antagonismo entre as classes mediante a alienação do 
trabalho, e em decorrência marca o caráter de classe. Ianni (1993) coloca 
que, a partir da indústria, o processo de separação entre o produtor e a pro-
priedade se estabelece de forma preponderante, evidenciando, portanto, a 
divisão social do trabalho, e assim os meios produtivos alcançam extraor-
dinário desenvolvimento. Enquanto complexo social forjado do desenvol-
vimento das forças produtivas, produzindo novas condições de domínio 
do capital sobre o trabalho, é de um lado produto do processo histórico 
que acentua o desenvolvimento econômico e de outro o meio “civilizado 
e autêntico” de exploração (MARX, 1968, apud IANNI, 1993). Assim 
sendo, “as forças produtivas” se transformam em forças “destrutivas”, na 
visão de Marx.
Ianni (1993) salienta que a divisão social do trabalho, momento em 
que o operário se torna “peça adjetiva da máquina”, devido à fragmentação 
do processo produtivo, é perpassada pela alienação e expressa uma deter-
minação da produção de mais-valia relativa. Portanto, podemos entender 
que no processo de decomposição do tempo e movimento de atividades e 
ofícios manuais é introduzida a especialização das ferramentas e tarefas 
que decorem na criação de agrupamentos de trabalhadores por áreas de 
“oficio”, instaurando-se a divisão social do trabalho como forma velada 
Questão Socialno Brasil e o Serviço Social
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de extração da mais-valia, objetivo do capitalista para acumular capital e 
alienar o trabalhador.
Para recordar a capacidade de reprodução e expansão do capitalismo, 
Ianni (1994) coloca que o século XVIII marcou a passagem da “ferramenta 
à máquina-ferramenta” como expressão do desenvolvimento da técnica e 
da tecnologia e o surgimento de um novo modo de viver, imprimindo, 
portanto, novo ritmo de vida às sociedades do contexto. Isso reflete as 
modificações acontecendo a cada novo estágio da fase industrial. A expan-
sividade da produção provocou tão logo a agressividade da exploração. O 
proletariado já experimentava, arduamente, os grandes níveis de violência 
imposta pela indústria capitalista.
No curso desses engendramentos, emergiu um processo que impele a 
refletir sobre as classes sociais: quanto mais e ao mesmo tempo se desen-
volve o capitalismo industrial, tanto mais se desenvolvem as contradições 
de classe. Nesse substrato, para pensar a contradição, estão envolvidas as 
classes substantivas do regime: proletariado e burguesia, e uma se constrói 
em face da outra. “Burguesia é a classe revolucionária que constrói o capi-
talismo, depois de ter surgido com o desenvolvimento e a desagregação 
das relações de produção do feudalismo”, ao passo que “o proletariado é a 
classe revolucionária que nega o capitalismo e luta para criar a sociedade 
sem classes, no socialismo” (IANNI, 1993, p. 14). Assim, pensa o prole-
tariado tanto porque se instauram no capitalismo sociedades fundadas sob 
a égide da compra e da venda da força de trabalho, em que as relações 
sociais são mediadas pela posse privada dos bens. O capitalismo gera um 
mundo de ruptura, cisão, exploração do homem pelo homem. Da maioria 
desprovida de bens pela minoria que a possui. Instaura-se a luta de classe 
como a forma de luta pela vida, pela existência, objetivando a superação 
da sociedade burguesa, símbolo e expressão da opressão de classe (MAR-
TINELLI, 1993).
Há nisso “uma determinação recíproca entre alienação, antagonismo 
e revolução”. Determinação que, segundo Ianni (1993) com base em 
Marx, ao pensar a burguesia e o proletariado como classes sociais revolu-
cionárias e antagônicas, temos que aquela desde sua emergência se apro-
pria do trabalho excedente (mais-valia) do proletariado e por isso deixa de 
ser revolucionária; já a outra aparece alienada porque lhe é expropriada 
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Capitalismo e a gênese da questão social
a mais-valia do produto de seu trabalho. Essa contradição fundamental 
alimenta os antagonismos entre tais classes.
Nesse processo histórico, pensar a teoria da luta de classes formulada 
por Marx é ter ciência, conforme evidencia Ianni (1993), que o entendi-
mento das classes sociais consiste na compreensão de seus antagonismos 
e suas lutas no seio da sociedade capitalista postas pelas relações de alie-
nação do trabalho que envolvem o sujeito do trabalho no ambiente da 
fábrica, mas também fora dela, e de um modo geral perpassa a totalidade 
da vida social.
Amparado na concepção marxiana, Ianni (1993, p. 18) salienta que 
a sociedade capitalista industrial, em desenvolvimento, ajudou a forjar as 
lutas sociais entre as classes, uma vez que os trabalhadores assalariados 
da indústria, ao compreenderem suas condições semelhantes de vida e 
de trabalho, bem como as relações entre si e entre as classes, passaram 
a se organizar por meio de associações, sindicatos e partidos políticos, 
moldando sua condição política. A partir disso, os trabalhadores indivi-
duais se tornaram classe: o proletariado. Entendendo sua condição de 
sujeito, transformaram-se de uma classe meramente econômica em uma 
classe política. Em outras palavras, de classe em si a classe para si. Dada 
a ocasião, a nova classe política começou a lutar por sua libertação. Foi 
o momento mais expressivo por meio do qual se constituiu a consciência 
de classe. Isso fica mais claro quando Ianni (1993, p. 20) menciona que “a 
condição crítica da classe operária não é independente da sua perspectiva 
crítica. A mesma condição alienada da sua existência, como classe, cons-
titui a base da sua posição crítica”.
A exploração e a subsunção da vida do proletariado à classe 
burguesa impulsionou o proletariado ao movimento operário, porquanto 
o ambiente da indústria significou, simultaneamente, o espaço do con-
flito, mas também da esperança. Diante disso, “a classe operária se dá 
conta da sua posição histórica privilegiada, quanto às condições de luta 
política contra a burguesia” (IANNI, 1993, p. 20-21). Portanto, enten-
dendo que a forma como se produz a vida material impacta na produção 
da vida social, política, cultural e intelectual, entende-se que não é a 
consciência que determina a realidade; é a realidade que determina sua 
consciência, como aponta Marx (1946, apud Ianni, 1993, p. 23), certa-
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
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mente por ter analisado e interpretado o modo capitalista de produção e 
seus elementos fundamentais.
Na mesma perspectiva, Guerra (2010, p. 178) evidencia que “o movi-
mento da realidade conduz o pensamento dos sujeitos […]”. Com base 
nisso, é notório que o conhecimento da realidade é a condição mais pri-
mordial a sua transformação, e foi esse processo que forjou a consciência 
de classe do proletariado e possibilitou sua existência política frente à 
estrutura capitalista. Assim, “consciência é, portanto, de início, um pro-
duto social e o será enquanto existirem homens” (MARX; ENGELS, 
1989, apud GUERRA, 2010, p. 177).
A respeito da consciência, Ianni (1993) esclarece que as variedades 
de pensamentos e de concepções da consciência expressam várias possi-
bilidades sociais em que o sujeito está submerso, expressando, portanto, 
suas visões sobre a realidade de forma mais límpida ou turva, distorcida, 
invertida, fetichizada9 ou alienada, segundo suas posições relativas a sua 
existência social perante pessoas, grupos e classe social, e dessa maneira 
na realidade social antagônica em que estão inseridas. Logo, é imprescin-
dível entender que no “elo” em que se apresentam as “condições de exis-
tência e formas do pensamento” se acentuam as probabilidades de expres-
são da racionalidade presente no ordenamento capitalista, ao passo que a 
consciência social é expressão e expressa das relações sociais construídas 
historicamente (GUERRA, 2010).
Sabendo que o capitalismo é contraditório por natureza e por isso se 
revela, vez ou outra, no movimento de “claro-escuro de verdade e engano” 
conforme evidencia Kosik (2002 apud ORTIZ, 2007, p. 33), é necessário 
apreender a realidade para entender, por exemplo, o que significa dizer que a 
questão social reflete em maior ou menor grau a estrutura social capitalista.
2.2 Concepção da “gênese” da questão social
Se é pelo processo de conhecimento da realidade que se compreende 
a essência dos fenômenos, será essa perspectiva que perseguiremos para 
9 Fetichismo da mercadoria é a percepção das relações econômicas entre o dinheiro e 
as commodities negociadas no mercado, transformando aspectos subjetivos (abstração de 
valor econômico) em objetivos (coisas reais que as pessoas acreditam ter valor intrínseco).
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Capitalismo e a gênese da questão social
apreender a concepção da “gênese” da questão social. Assim, partimos 
do prelúdio de que estamos tratando de uma sociedade de classe que tem 
por base a relação antagônica entre capital e trabalho, que se configura em 
relações sociais alienadas tanto no campo objetivo material quanto consti-
tui a subjetividade da vida do ser social, implicando dizer, segundo Ianni 
(1993), que “o princípio da contradição” impera no modo de pensar e no 
modo de agir de cada um e de todos os indivíduos sociais. Uma sociedade 
fundada nas relações de interesses, não apenas diferentes, mas antagôni-
cos entre as classes substantivas do modo capitalista de produção, a saber 
burguesia e proletariado10.
Entende-se que estamos tratando da sociedade burguesa,cujos inte-
resses antagônicos estão fundados nas relações de produção específicas do 
capitalismo, um modo de produção que, conforme evidencia Ianni (1993), 
coisifica as relações e atribui valor mercadológico a relações sociais, pes-
soas e coisas tanto na escala nacional como global, produzindo e reprodu-
zindo contradições. Essa sociedade burguesa se instaura na formação do 
capitalismo dada a ruptura das relações servis e das estruturas feudais. Tal 
realidade fomentou novas relações sociais sob as bases do modo capita-
lista de produção.
Para tanto, herdou-se da história humana, a partir do desenvolvimento 
das forças produtivas, não só a acumulação primitiva11 como base para a 
acumulação de capital mas também uma série de complexos sociais cujo 
10 Proletariado ou classe operária: operários assalariados que possuem a mão de obra, 
sendo despossuídos de meios de produção que, por sua vez, pertencem à classe burguesa.
11 Ortiz (2010, p. 24) faz uma síntese das fases do capitalismo de forma bastante clara 
para tratar o acúmulo da produção: “Historicamente, observa-se que após uma longa fase 
de acúmulo de capitais – a acumulação primitiva, foi possível à burguesia dominar a pro-
dução de mercadorias, pelo uso da manufatura, a partir da subsunção formal do trabalho. 
Tal momento do capitalismo é conhecido por capitalismo comercial ou mercantil, dado o 
importante papel nesta fase atribuído aos comerciantes e mercadores, e atravessa alguns 
séculos: XVI a meados de XVIII. Com a revolução burguesa e industrial, estão dadas as 
novas bases para um salto do capitalismo, processo este que assentado no surgimento da 
chamada grande indústria e da subsunção real dos trabalhadores, passa a qualificá-lo como 
capitalismo concorrencial. Esta fase permanece de meados do século XVIII às últimas 
décadas do século XIX, quando irrompem as revoluções proletárias, acompanhadas de 
substantivas descobertas no campo científico e tecnológico, exigindo um comportamento 
diferente por parte da burguesia e do Estado” .
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
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radical também está no trabalho, que assume a condição de alienação a par-
tir das sociedades de classes e no capitalismo ganha novas figurações (tra-
balho assalariado) em contradições (essência do regime capitalista). A partir 
desse processo, progrediu a expansão do capitalismo, e por meio da Revolu-
ção Industrial se deu um novo momento na história: a exploração do traba-
lho e a apropriação dos meios de produção que asseguraram a acumulação 
de riqueza socialmente produzida pela classe dominada e apropriada pela 
classe dominante fomentou novos níveis de desigualdade social, no sentido 
mais sórdido e nefasto do termo, na sociedade de classes, justificando que 
toda a produção de bens e a reprodução social está submersa nos ditames do 
capital (IANNI, 1994). Estão dada as condições e o momento para a gênese 
da questão social — industrialização no século XVIII (NETTO, 2010).
Assim, Iamamoto (2013, p. 330) diz que “a questão social é indis-
sociável da sociabilidade da sociedade de classes e seus antagonismos 
constituintes”, que se expressam na construção de disputas políticas, cul-
turais, econômicas e sociais que engendram as desigualdades produzidas 
socialmente. Na medida em que o trabalhador livre assalariado vende sua 
força de trabalho para responder a suas necessidades de base material ou 
imaterial conforme está produzindo socialmente uma mercadoria (traba-
lho pago), há uma parcela do trabalho não pago que constitui a mais-valia, 
que, apropriada pelo capitalista, produz a acumulação de riqueza para si e 
miséria sem precedentes na história para o trabalhador. Iamamoto (2013) 
revela que a origem da questão social está no perfil coletivo da produção 
e na apropriação privada do trabalho, do resultado e das condições neces-
sárias para sua realização. Trabalho e acumulação são fruto e resultado da 
relação de apropriação empreendida pelo modelo de produção econômica 
que revela a mais-valia não paga ao trabalhador e sua apropriação pelos 
donos dos meios de produção, a burguesia, que acumulam e mantêm a 
reprodução social do sistema do capital.
Na concepção de Ianni (1989, p. 03) “há processos estruturais que 
estão na base das desigualdades e antagonismos que constituem a questão 
social”. Nisso, compreende-se que, devido ao processo de acumulação, 
simultaneamente, de riqueza e pobreza, em igual proporção e em aten-
dimento às ordens do capital, alargam-se as desigualdades de diversas 
ordens e recaem drasticamente sobre a força de trabalho.
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Capitalismo e a gênese da questão social
A dialética12 da sociedade industrial revelou um célere processo de 
extremas desigualdades sociais, das mais amplas expressões a partir das 
relações econômicas de produção nas quais o trabalho produz para o capi-
tal (riqueza) quando se apropria da mercadoria e da mais-valia e para si 
(intensas misérias) quando de nada usufrui, a não ser seu direito de sobre-
viver para a reprodução da sociedade alienada e alienante no processo de 
compra e venda do trabalho, o qual provocou o acirramento dos antago-
nismos entre as classes, dando tônica e relevo à questão social.
A força de trabalho, o sujeito que produz a riqueza social, tomando 
consciência de sua condição de classe por meio de todo esse processo, 
complexo, que nada mais é do que a contradição essencial do regime capi-
talista, passa, pela ação política, a lutar por outra realidade. “Em perspec-
tiva histórica ampla, a sociedade em movimento se apresenta como uma 
vasta fábrica das desigualdades e antagonismos que constituem a questão 
social”, revela Ianni (1989, p. 03), e complementa que “a questão social é 
uma realidade”, podendo ser apreendida como uma engrenagem estrutural 
de contradições e avessos, concedida sob o comando do capital. E salienta 
que a sociedade que edifica a riqueza econômica produz na mesma medida 
as desigualdades que constituem a questão social. Nessa mesma concep-
ção, Telles (1996, p. 85) explicita que
A questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em 
foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a 
dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os impe-
rativos de eficácia a economia, entre a ordem legal que promete 
igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na 
dinâmica das relações de poder e dominação.
Diante disso, Tavares (2009, p. 09) explica que “o confronto cotidiano 
com as desigualdades sociais” instiga a percebê-lo como realidade de uma 
sociedade, erguida pela contradição de produção da riqueza e do paupe-
rismo; desigualdades sociais que estão abertas a serem enxergadas, uma 
vez que, nesse movimento de alienação da sociedade burguesa, ora eclode, 
ora se faz surda. Portanto, o crescimento exponencial das desigualdades 
12 Dialética na concepção marxista é uma ferramenta utilizada para compreender a his-
tória, considerando o movimento natural da história, não admitindo sua maneira estática 
e definitiva.
Questão Social no Brasil e o Serviço Social
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por meio da produção da fortuna e da miséria em lados opostos constitui a 
mesma moeda de troca da relação entre burguesia e proletariado.
Tavares (2009) ainda recorda que o capital tem por fim o lucro e a 
acumulação de riquezas e se expande quando se apropria do trabalho não 
pago aos trabalhadores, resultando na ampliação dos meios de produção 
para maior produtividade, provocando a diminuição da força de trabalho, 
que por sua vez resulta na precarização do trabalho, no desemprego e no 
pauperismo, conforme ressalta Netto (2001, apud IAMAMOTO, 2013). 
Um processo contraditório, útil e indispensável que constitui “o princípio 
de autovalorização é a condição de existência do capital” (MARX, 1983, 
apud TAVARES, 2009, p. 04), por isso a questão social é indistinguível do 
capitalismo e intrínseca a ele.
Nesse aspecto, dá-se o des(envolvimento) capitalista e seu empenho 
em deixar à deriva ou lançar à margem

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