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Missões na Bíblia -C Timóteo Carriker

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2 
© 1992 C. Timothy Carriker 
 
1ª edição: 1992 
Reimpressão: 1999 
 
Publicado com a devida autorização 
e com todos os direitos reservados por 
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 
Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 
04602-970 
 
Proibida a reprodução por quaisquer 
meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, 
fotográficos, gravação, estocagem em banco de 
dados, etc.), a não ser em citações breves 
com indicação de fonte. 
 
Printed in Brazil / Impresso no Brasil 
 
Coordenação de produção • Robinson Malkomes 
Revisões • Eber Cocareli 
Capa • Melody Pieratt 
 
Digitalizado por: MissionAR 
 
 
 
 
 
 
3 
CONTEÚDO 
 
 
Prefácio dos editores 
Agradecimentos 
Introdução 
1. A Base de Missões no Relato da Criação 
2. A Responsabilidade Missionária de Israel 
3. A Perspectiva de Missões no Ministério de Jesus 
4. Missões no Ministério do Espírito por meio da Igreja 
5. Paulo e Missões 
6. A Volta de Jesus e a Urgência Missionária 
Apêndice A 
Apêndice B 
 
 
 
 
 
 
4 
PREFÁCIO DOS EDITORES 
 
O teólogo holandês J. H. Bavinck afirmava que a base da 
grande comissão evangélica teria que ser Gênesis 1.1. O autor deste 
livro, renomado professor da cadeira de Missões do Centro 
Evangélico de Missões, em Viçosa-MG, vai além para demonstrar 
que não somente o primeiro versículo, mas toda a Bíblia, trata da 
questão missionária. 
Com o crescimento, nos últimos anos, do interesse das igrejas 
brasileiras por missões, tornou-se fundamental a busca de uma base 
bíblica abrangente para a tarefa missionária. A grande comissão — 
isolada — hoje não é mais suficiente para sustentar o intenso debate 
que tem sido travado sobre os diversos aspectos que envolvem a ação 
missionária transcultural. 
Queremos desafiar o leitor a buscar conosco, nas páginas de 
toda a Escritura, o conhecimento amplo e seguro das bases divinas da 
missão. Nossa oração é para que o Deus, que no princípio criou os 
céus e a terra (Gn 1.1), pela graça do Senhor Jesus Cristo (Ap 22.21) 
encontre no leitor a atitude de pronto engajamento na sublime tarefa 
de abreviar o fim da história. 
Eber Cocareli 
 
 
 
 
 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quero agradecer especialmente ao Rev. Elben Magalhães 
Lenz César a demonstração de amizade e confiança em mim e a 
publicação, por meio da revista Ultimato (entre 1983 e 1986), dos 
capítulos contidos neste livro. 
Também reconheço minha dívida de gratidão ao Centro 
Evangélico de Missões, à sua diretoria, a seu corpo docente e a seus 
alunos pelo privilégio de participar com eles de um sonho tão antigo 
quanto a promessa de Deus a Abraão no sentido de abençoar todas as 
nações do mundo, mediante a salvação oferecida em Jesus Cristo e 
anunciada por nós! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
INTRODUÇÃO 
 
Sentado em nossa sala, um jovem engenheiro agrônomo 
refletia a respeito de sua vida de estudante universitário cristão e 
zeloso pela evangelização: "Naquela época, eu viajava de ônibus 
entre a cidade e o compus e poucos foram os colegas que não 
ouviram do evangelho por meio de meu testemunho. Mas, hoje — sei 
lá — tenho amadurecido na fé e já não reajo com as pessoas como 
um recém-convertido..." 
Fiquei pensando em quantos cristãos cometem o mesmo 
engano: relacionar a evangelização ardente e fiel apenas com os 
primeiros passos, com o entusiasmo do estágio inicial da vida cristã, 
deixando que ela se transforme, em seguida, num respeitoso silêncio, 
fruto de um "amadurecimento" na fé. Tal atitude reflete falta de 
conhecimento da perspectiva bíblica sobre a missão da igreja e sua 
tarefa evangelística. 
Por alguma razão, que acredito ser diabólica, a questão 
missionária frequentemente não preocupa muito a igreja, se não na 
teologia, pelo menos na prática. Para alguns, a vocação missionária 
cabe mais aos ministros de menor preparo e experiência. Assim, a 
rica palavra missões torna-se nada mais que um degrau na ascensão 
da carreira profissional ou mesmo um meio pelo qual a igreja se livra 
dos ministros não tão bem sucedidos. Claro, isto acontece muito 
menos no pensamento e muito mais na prática. É um contraste com a 
igreja primitiva, que formou sua primeira equipe missionária com o 
influente e bem instruído Paulo e com o grande expositor da Palavra 
de Deus, Barnabé! 
 
 
7 
A matéria é tratada como se fosse apenas uma pequena parte 
do preparo bíblico e teológico. Certamente, a grande comissão (Mt 
28.18-20) é citada, com certa frequência, com zelo e ardor. Todavia, 
poucas vezes ela é vista e exposta como o clímax e o ápice de uma 
longa série de teologia missionária que se irradia das páginas da 
Bíblia, desde Gênesis 1.1 até Apocalipse 22.21, ou seja, do primeiro 
ao último versículo da Palavra de Deus. 
A Bíblia, então, é essencialmente um livro missionário, visto 
que sua inspiração deriva de um Deus missionário. O termo 
missionário vem do latim, que, por sua vez, traduz a palavra grega 
apóstolos, a qual significa o enviado. Jesus usou este termo para 
destacar o relacionamento entre Deus Pai, Deus Filho e seus 
discípulos, quando disse: "Assim como o Pai me enviou, eu também 
vos envio" (Jo 20.21). O próprio caráter de nosso Senhor é 
missionário. Portanto, não é de surpreender que sua Palavra também 
manifeste esta característica. É à luz desta revelação de Deus que a 
igreja enfrenta o maior desafio do cristianismo — a tarefa 
missionária inacabada, cujo âmago é a evangelização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
1 
A BASE DE MISSÕES NO 
RELATO DA CRIAÇÃO 
 
Um dos maiores teólogos de missões, o holandês J. H. 
Bavinck, observou que Gênesis l. l é, obviamente, a base necessária 
da grande comissão dada nos evangelhos. De fato, ele tinha razão. O 
versículo tão conhecido diz: "No princípio criou Deus os céus e a 
terra". 
A CRIAÇÃO DO MUNDO 
Destaca-se aí a amplitude da preocupação de Deus e, por 
conseguinte, o palco de missões. Nada menos que o mundo inteiro 
pertence à esfera do interesse de Deus. Antes de ser uma preocupação 
mais restrita, a preocupação é basicamente universal. Antes de ser o 
Deus de Israel, ele é o Deus do universo. Antes de ser o Deus da 
igreja, é o Senhor de tudo. (Mesmo o título usado no Antigo 
Testamento, Adonai, tem o sentido de "Senhor de tudo" ou "Senhor 
absoluto", em vez de Adonî, forma esta que significa "meu Senhor", 
representando, por exemplo, um deus particular de um indivíduo ou 
de uma nação.) 
"Pois Deus amou o mundo de tal maneira..." (Jo 3.16). O 
escopo de Deus é o mundo criado. Nele, a mira de Deus está fixada. 
Ele tem um plano mestre para todas as coisas (l Co 15.28). Claro que 
o meio de alcançar este alvo é mais estreito: a igreja. Se o alvo da 
mira de Deus é o universo, certamente, a partir do NT, a espingarda 
 
 
9 
carregada é a igreja, assim como foi Israel no AT. Embora a igreja 
continue sendo o centro do plano de Deus, não é, de maneira alguma, 
sua totalidade, seu limite e sua circunscrição. 
A esfera da preocupação de Deus é universal. Por isso, disse 
Jesus: "... toda autoridade me foi dada no céu e na terra" (Mt 28.18). 
O mesmo Deus que tudo criou, sobre tudo possui toda autoridade (Cl 
1.16-17) e de tudo receberá toda a glória e honra, "para que ao nome 
de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e 
toda língua confesse que Jesus é Senhor para a glória de Deus Pai (Fp 
2.10-11. Aqui, Paulo traduz o termo hebraico Adonai, "Senhor de 
tudo", pelo equivalente grego kyrios e aplica-o à pessoa de Jesus, 
indicando que este Deus de toda criação, Jeová, é de fato o próprio 
Jesus de Nazaré!) 
Portanto, quando Jesus disse a seus discípulos que fossem a 
todas as nações, a toda criatura e a toda parte do mundo, ele se 
baseava no fato de que o mundo todo pertence, por direito, a Deus, 
por ser sua criação. 
 
A CRIAÇÃO DO SER HUMANO 
 
O fato de que a preocupação de Deus é universal confirma-se 
no relato da criaçãodo ser humano e no propósito de Deus designado 
para ele. 
 
"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à 
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus 
os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, 
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, 
sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que rasteja pela 
terra" (Gn 1.27-28). 
 
 
10 
 
Confirmamos que o objeto do domínio dado à humanidade é 
o mundo inteiro. Tanto os céus quanto a terra mais uma vez são 
mencionados na passagem. Entretanto, a esta altura, já há outra 
dimensão relacionada às missões, isto é, o papel do homem. Sua 
tarefa será dominar e sujeitar o mundo que Deus criou. Assim, ele 
recebe uma certa realeza delegada por Deus. Esta capacidade 
aparentemente (segundo a passagem) define a imagem de Deus no 
ser humano, a capacidade (e ordem!) de dominar, sujeitar e ordenar. 
Assim como Deus domina, governa e reina como Rei, o homem, 
sendo seu embaixador e enviado, também deve reinar como um rei 
sobre a criação de Deus. Foi com o fim de promover o reino de Deus 
que ao homem se imputou a imagem de Deus. É por isso mesmo que, 
depois da queda, houve tanta desordem e abuso de domínio do ser 
humano afastado de Deus. Somente uma restauração, uma recriação e 
um renascimento dos homens e das mulheres, por meio da redenção 
conseguida na cruz do Calvário, podem recapacitar o homem a 
participar do reino de Deus e a anunciar a todas as nações a chegada 
deste glorioso reino. 
Portanto, o relato bíblico da criação já estabelece o palco de 
missões com escopo e foco universais. Destaca também o papel do 
homem como um embaixador que promove o domínio do Rei-
Criador por todo o mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
2 
 
A RESPONSABILIDADE 
MISSIONÁRIA DE ISRAEL 
 
No primeiro capítulo, destacamos dois aspectos de missões no 
relato bíblico da criação. Em primeiro lugar, observamos, através do 
relato da criação do mundo, que nada menos do que o universo 
inteiro objetiva a preocupação de Deus com o alvo da redenção, e, 
como consequência, o mundo é definido como o palco de missões. 
Em segundo lugar, observamos, através do relato da criação do 
homem, seu papel como embaixador-missionário, isto é, como 
representante (rei, com r minúsculo) de Deus (Rei, com R maiúsculo) 
e seu enviado (este é o significado da palavra missionário) para 
anunciar o reino de Deus e até participar da ordenação e do domínio 
deste reinado em todo o mundo. Reparamos ainda que, depois da 
queda, esta imagem de Deus no homem corrompeu-se, restando a 
salvação de Cristo Jesus a fim de restaurar o homem ao estado 
pretendido por Deus desde o início. 
Entretanto, pode-se pensar que, se Deus tem, desde o início, 
uma preocupação universal, por que o Antigo Testamento dá tanta 
ênfase somente a uma nação — Israel? 
Vejamos os capítulos 3-12 de Gênesis. A partir de Adão, o 
relacionamento entre Deus e o homem piorou. Neste trecho das 
Escrituras lemos a respeito de queda e rebelião. Por fim, Deus diz: 
"Chega! Vou acabar com toda a raça humana e começar tudo de novo 
 
 
12 
com uma só família". Deus efetivamente fez isto, destruindo a 
humanidade toda com exceção da família de Noé. 
Ora, são fascinantes as palavras de Deus a Noé e seus filhos, 
depois do dilúvio: "Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra" 
(Gn 9.1). O mandamento de Deus para Adão continua o mesmo para 
Noé e sua família. Eles deveriam ser os novos embaixadores-
missionários de Deus por todo o mundo. Enfatizamos, de acordo com 
Gênesis, que esta aliança se fez entre Deus, Noé e seus filhos. 
Somente um dos filhos de Noé, Sem, seria o antecedente dos povos 
semitas, como Israel, por exemplo. Todos os filhos, porém, 
representavam toda a humanidade de novo. 
Infelizmente a história continuou inalterada. Mais uma vez 
houve rebelião e tudo piorou e se agravou até a construção da torre de 
Babel: 
 
"Ora em toda a terra havia apenas uma linguagem e 
uma só maneira de falar. Sucedeu que, partindo eles do 
oriente, deram com uma planície na terra de Sinear; e 
habitaram ali. E disseram uns aos outros: Vinde, façamos 
tijolos, e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de 
pedra, e o betume, de argamassa. Disseram: Vinde, 
edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo 
chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para 
que não sejamos espalhados por toda a terra" (Gn 11.1-4). 
 
A torre de Babel foi construída para ser um símbolo de 
unidade, um lugar onde as pessoas pudessem se reunir. Buscava-se 
segurança com essa união, tendo em vista os perigos desconhecidos 
da terra despovoada. Eles disseram: "Não queremos nos espalhar por 
 
 
13 
toda a terra. Não vamos obedecer ao primeiro mandamento de Deus e 
espalhar seu domínio por todo o mundo". 
Mas Deus os forçou a isto, confundindo-lhes as línguas, 
exigindo, assim, a separação entre povos e nações. Mais tarde, 
quando Deus teve um povo remido pelo sangue de Jesus, ele reverteu 
o processo de confundir as línguas para dar expansão à obra 
missionária da igreja (At 1.8). Ao mesmo tempo, continuou a 
permitir a dispersão forçada de seu povo, a fim de promover seu 
reino por todo o mundo (At 8.1, 4). 
Até este ponto do relato de Gênesis, vemos como Deus quis 
usar a humanidade, a fim de promover a ordem e seu domínio. 
Observamos que o foco manteve-se universal. Gênesis 1-11 conta a 
história do mundo e de toda a humanidade. 
A partir do capítulo 12, contudo, e até o final do Antigo 
Testamento, a ênfase recai na história não universal, mas particular 
do povo de Israel. Esta nação seria o instrumento de Deus para atingir 
seu alvo, que continuaria a ser o mundo todo. 
Veremos agora que no período dos patriarcas, como no dos 
reis e dos profetas, embora muito se relate sobre um povo só, Israel, o 
propósito de Deus alcança todas as nações. 
 
NO PERÍODO DOS PATRIARCAS 
 
Quando Deus chamou Abraão, concentrou-se em um só 
homem, por meio de quem constituiria uma família e, depois, uma 
nação, cuja influência atingiria todos os povos do mundo: "Em ti 
serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.3). Esta passagem 
chave influenciou todo o resto da Bíblia! 
 
 
14 
Abraão tornou-se um grande missionário. Deus o chamou, e 
ele respondeu com fé. Deixou sua vida anterior e iniciou sua 
peregrinação. Foi chamado pai da fé. Entretanto, sua fé serviu como 
meio para alcançar um fim, sendo este uma missão. A fé sozinha não 
tem conteúdo. Na vida de Abraão, a fé lhe foi exigida, porque em sua 
missão encontrou, muitas vezes, dificuldades que seriam vencidas 
apenas pela fé em Deus, que dá origem à missão. 
Este chamado de Abraão repetiu-se para seus descendentes: 
"... a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão 
benditas todas as nações da terra" (Gn 22.17-18). Esta 
"descendência" refere-se a três entidades. Em primeiro lugar, ao povo 
de Israel. A missão de Abraão passou também a seus descendentes, 
pois o chamado à missão repetiu-se tanto para Isaque (Gn 26.2-4) 
quanto para Jacó (Gn 28.13-14) e José (Gn 49.22). 
Em segundo lugar, a descendência refere-se a Jesus. Todas as 
bênçãos de Deus nos vêm por meio de Jesus Cristo (Ef 1.3), tanto que 
Abraão era apenas um tipo de Cristo, apontando para frente, junto 
com os profetas e reis, para o Messias, através de quem Deus 
cumpriu cabalmente as promessas feitas a seus tipos. 
Em terceiro lugar, assim como o chamado passou para os 
descendentes de Abraão, também passou para os "descendentes" de 
Jesus, aqueles que renascem em Cristo, os verdadeiros e atuais 
descendentes de Abraão (Gl 3.29). Os cristãos são chamados para 
serem missionários-embaixadores. 
Resumindo: desde o início, o chamado de Israel como nação 
foi feito a fim de alcançar todas as famílias, ou seja, todas as nações 
da terra. O propósito de Deus no levantamento de Israel era mostrar 
ao mundo, mediante sua história, o caminho da salvação, e assim 
levar todos os povos a gozar esta bênção. O foco no mundo uma vez15 
mais se destacou. Esta ênfase nunca se perdeu no Antigo Testamento, 
embora, às vezes, tenha sido obscurecida. A história de Israel é uma 
história de missões. 
 
NA HISTÓRIA DE ISRAEL 
 
Na história de Israel, a atuação de Deus para com seu povo 
visava a um propósito maior — alcançar as nações. Por exemplo, 
após atravessar o Mar Vermelho e o Rio Jordão, Josué afirmou: 
 
"Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do 
Jordão diante de vós, até que passásseis, como o Senhor 
vosso Deus fez ao Mar Vermelho, ao qual secou perante nós, 
até que passamos. Para que todos os povos da terra 
conheçam que a mão do Senhor é forte: a fim de que temais 
ao Senhor vosso Deus todos os dias" (Js 4.23-24). 
 
Os milagres de Deus não objetivavam algo para Israel, mas 
eram uma forma de conduzir as nações à salvação. (Observe-se que 
"temer", para o hebreu, significava a aliança que tinha quanto à sua 
fé, assim como, hoje em dia, o termo popularmente usado é 
"religião".) 
Davi compreendeu este propósito maior de Deus, quando se 
confrontou com Golias: 
 
"Davi, porém, disse ao filisteu: Tu vens contra mim 
com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou 
contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos 
exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo o 
Senhor te entregará na minha mão; ferir-te-ei, tirar-te-ei a 
 
 
16 
cabeça, e os cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje 
mesmo às aves dos céus e às bestas-feras da terra; e toda a 
terra saberá que há Deus em Israel" (l Sm 17.45-46). 
 
Esta consciência missionária de Davi chegou a marcar 
significativamente seus salmos: 
 
"Aclamai a Deus, toda a terra... prostra-se toda 
a terra perante ti... os seus olhos vigiam as noções... 
bendizei, ó povos, o nosso Deus" (66.1, 4, 7, 8). 
"E todos os reis se prostrem perante ele; todas 
as nações o sirvam... nele sejam abençoados todos os 
homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado" 
(72.11, 17). 
"Todas as nações que fizeste virão, prostrar-
se-ão diante de ti, senhor, e glorificarão o teu 
nome" (86.9). 
"Anunciai entre as nações a sua glória, entre 
todos os povos as suas maravilhas" (96.3). 
"O Senhor fez notória a sua salvação; 
manifestou a sua justiça perante os olhos das nações... 
celebrai com júbilo ao Senhor, todos os confins da 
terra" (98.2, 4). 
"Louvai ao Senhor vós todos os gentios, 
louvai-o todos os povos" (117.1). 
 
Esta visão missionária também foi evidenciada pelo filho de 
Davi, Salomão, quando dedicou o templo a Deus, orando: 
 
 
 
17 
"... ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, e 
faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que 
todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te 
temerem como o teu povo Israel, e para saberem que 
esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome" (l 
Rs 8.43; ver também Is 56.6-8). 
 
NOS PROFETAS 
 
Os profetas chamavam o povo de Israel para voltar a essa 
visão universal de Deus, pois Israel tendia a ter uma perspectiva 
nacional e exclusivista. Jeová seria o Deus da salvação de todos: 
"Olhai para mim, e sede salvos, vós, todos os termos da terra" (Is 
45.22); "diante de mim se dobrará todo joelho" (Is 45.23). O profeta 
Sofonias reconhecia esta perspectiva: "Então darei lábios puros aos 
povos, para que todos invoquem o nome do Senhor, e o sirvam de 
comum acordo". Assim também Malaquias: "Mas desde o nascente 
do sol até o poente é grande entre as nações o meu nome..." (Ml 
1.11). Aos estrangeiros é dado o título "povo de Deus" (Os 2.23). O 
anúncio do Messias que vem tem caráter universal, concretizando a 
promessa de Deus a Abraão de abençoar todas as nações e cumprindo 
a responsabilidade dada ao homem de dominar a terra. 
 
"Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se 
estenderá de mar a mar, e desde o Eufrates até as 
extremidades da terra" (Zc 9.10). 
 
Assim, conforme o Antigo Testamento, desde a criação do 
mundo, alcançando a história de Israel e as profecias dos antigos 
 
 
18 
profetas, Deus tem preparado seu povo para a grande missão de levar 
seu domínio a todo canto e a todos os povos da terra. Estejamos 
preparados dispostos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
3 
A PERSPECTIVA DE MISSÕES NO 
MINISTÉRIO DE JESUS 
 
Nos últimos capítulos, confirmamos que o mandato 
missionário baseia-se no Antigo Testamento, como um fio que 
entrelaça toda a história de Israel. O escopo de missões sempre foi e 
sempre será universal, já que procura anunciar e promover o reino de 
Deus por todo o mundo. Na própria história de Israel, a mão forte e 
poderosa de Deus se estendeu ao povo, não somente para seu 
benefício, mas também como testemunho às nações, a fim de levá-las 
a conhecerem o Senhor dos Exércitos. 
No Novo Testamento, essa preocupação universal de Deus 
intensifica-se a partir do ministério de Jesus. O Evangelho Segundo 
Lucas, mais que todos os outros, enfatiza o significado universal da 
vinda de Jesus. Dos quatro evangelhos, apenas Mateus e Lucas 
traçam a ascendência de Jesus através de sua genealogia. Mateus 
começa a partir de Abraão a fim de destacar aos leitores judeus e aos 
gentios, inquisidores da fé judaica, que Jesus, sendo filho de Abraão, 
é o Rei prometido de Israel. Lucas, entretanto, começa a genealogia 
de Jesus a partir de Adão, destacando-o como filho do pai de toda a 
humanidade. Assim, Jesus identifica-se com o plano mestre e 
universal de Deus na história da criação, ou seja, ter domínio sobre 
todas as coisas e não somente sobre Israel. Em Lucas vemos Cristo 
como o missionário de Deus, enquanto em Mateus ele é visto mais 
como o Messias prometido de Israel. 
 
 
20 
Lucas enfatiza o significado do ministério de Jesus, tanto em 
termos geográficos quanto em termos sociais e culturais. 
Consideremos estes três aspectos de seu ministério. 
 
ROMPENDO AS BARREIRAS GEOGRÁFICAS 
 
Em Lucas 4, Jesus estava em Cafarnaum, onde centralizou 
seu ministério no início. Foi lá que ele começou a pregar, ensinar e 
curar com autoridade. Foi até a casa de Simão e curou sua sogra. Nas 
altas horas da noite, o povo lhe trazia os doentes, e ele os curava, 
devendo ter ficado um tanto sobrecarregado com este ministério, pois 
lemos: "Sendo dia, saiu e foi para um lugar deserto; as multidões o 
procuravam e foram até junto dele, e instavam para que não os 
deixasse" (Lc 4.42). 
Aparentemente, o povo percebia que Jesus estava prestes a 
deixá-lo, e isto quando ele mal começara seu ministério lá! Imagine a 
reação das pessoas — angustiadas como se tivessem estado na fila do 
INPS durante a noite toda e, de repente, o médico de plantão tivesse 
saído de férias. 
"Espere aí! Não diga que já vai! O Senhor apenas começou 
seu ministério aqui. Esta cidade está cheia de corrupção e pobreza, 
pecado e doença. O Senhor ainda não pode nos deixar!" 
Qual foi a resposta de Jesus? 
"É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus 
também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado." 
O evangelho deve se espalhar. Não pode ficar parado em 
lugar algum! Já que o evangelho é do reino, isto tem dimensões as 
mais amplas e universais possíveis. Fica, portanto, implícita sua 
divulgação por toda parte, atravessando todas as barreiras 
 
 
21 
geográficas. Tem que estar sempre em movimento, até que todos 
recebam as boas novas. O ministério de Jesus demonstra uma 
preocupação missionária que cruza as fronteiras geográficas, 
convocando a todos em todos os lugares a assumirem a vida do reino. 
 
ROMPENDO AS BARREIRAS SOCIAIS 
 
A missão de Jesus, contudo, não se resumiu a cruzar barreiras 
geográficas. Jesus também rompeu barreiras sociais, pois ministrou a 
grupos sociais outrora negligenciados. 
Por exemplo, observamos que três vezes Jesus foi à casa de 
um fariseu para jantar (Lc 7.36; 11.37; 14.1). Ele, portanto, não 
deixou de ministrar até mesmo à classe religiosa que mais se opunha 
a ele. Em outra ocasião, uma mulher pecadora ungiu os pés de Jesus 
com perfume (Lc 7.36-50). Jesus não sepreocupava com o estigma 
social que poderia receber por causa de sua simpatia e 
disponibilidade para ministrar a todos igualmente, tanto àqueles que 
deveriam ser seus maiores inimigos quanto aos que poderiam causar 
o maior escândalo para seu ministério. Aliás, pelo menos segundo 
Lucas, havia, aparentemente, até uma ênfase — se não preferência — 
neste tipo de gente, embora Jesus também tenha atendido à alta classe 
de líderes religiosos. Ele ministrou ao desterrado, ao aflito e ao 
pecador. 
Até os publicamos foram objetos de seu amor e atenção. Eles 
eram as pessoas mais odiadas pelo povo, consideradas exploradoras, 
em virtude dos altos impostos que cobravam, e traidoras, por 
ajudarem a enriquecer o Estado romano. Jesus, apesar deste forte 
preconceito social, foi jantar na casa de Levi (Lc 5.27-32). Mais 
ainda, ele se convidou à casa de Zaqueu, outro coletor de impostos 
 
 
22 
(Lc 19.1-10). Dessa forma, Jesus demonstrou concretamente que sua 
missão implicava em cruzar todas as barreiras sociais, dando atenção 
especial para os grupos mais rejeitados da sociedade. 
Por isso mesmo, Lucas revela enfaticamente o alcance que 
Jesus teve entre os pobres e oprimidos, desde o princípio de seu 
ministério: ele veio para evangelizar os pobres, libertar os cativos e 
oprimidos e restaurar a vista aos cegos (Lc 4.18). Nas bem-
aventuranças pregadas na planície, o contraste proposital entre a 
pobreza e a riqueza exemplifica esta preocupação especial de Jesus 
com os pobres, famintos, desesperados e oprimidos. Exemplifica-se 
também nas ilustrações dos dois devedores (Lc 7.41-43; observe a 
quem Jesus mais ama), do amigo da meia-noite (Lc 11.5-8), do rico e 
seus celeiros (Lc 12.13-21, veja o último versículo), da moeda 
perdida (Lc 15.8-10), do administrador esperto (Lc 16.1-13; repare 
novamente o último versículo) e do juiz iníquo e a viúva (Lc 18.1-8). 
Achamos necessário dar duas explicações a esta altura de 
nossa abordagem do ministério de Jesus. Em primeiro lugar, quando 
afirmamos sua preocupação com os pobres e oprimidos, não temos 
por base nem estamos propagando qualquer teologia contemporânea 
de libertação. Pretendemos apenas obter uma rigorosa, não obstante 
abreviada, base com interpretação bíblica coerente (julgue você 
mesmo!). Em segundo lugar, bem sabemos que muito se tem falado 
sobre uma opção preferencial pêlos pobres. Afirmo que a própria 
evidência bíblica leva a esta conclusão. Se não, Jesus poderia dizer: 
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para 
evangelizar os ricos..." ou, ainda mais, "bem-aven-turados os 
ricos...", e Paulo poderia descrever a composição da igreja coríntia 
como sendo de "não muitos analfabetos, nem muitos oprimidos, nem 
muitos de nascimento humilde" (l Co 1.26). 
 
 
23 
Portanto, para o intérprete espiritual, digo que há sim certa 
preferência bíblica pelo pobre e oprimido. Não é por acaso que 
nenhum dos textos citados descreve o pobre como alguém que não 
seja social e economicamente pobre. Por outro lado, para o intérprete 
liberacionista em termos apenas sócio-políticos, digo que essa 
preocupação com o pobre não existe por causa da pobreza em si, mas 
sempre em relação à justiça e à glória de Deus. O pobre é 
preferencialmente bem-aventurado porque ele não tem de quem 
depender para defendê-lo, a não ser o próprio Deus, se deste, de fato, 
ele depende. Assim, o pobre bem-aventurado é uma pessoa política e 
economicamente pobre. Mas, é um pobre não só injustiçado pelos 
homens como também justo diante de Deus. Esta ideia do pobre 
injustiçado e também justo deriva da palavra áni, no Antigo 
Testamento, que se traduz tanto como "pobre" quanto como 
"humilde" e também "piedoso" (Am 2.6 e Is 2.6-12). Portanto, a 
postura do pobre dificilmente é conhecida pelo rico, e a sua posição 
diante de Deus tem preferência pela maior propensão à dependência 
dele, a qual, assim, vai além de dimensões espirituais, emocionais e 
de relacionamentos, incluindo também as crises cotidianas, 
financeiras, profissionais e até políticas, crises estas que o rico 
enfrenta bem menos. Entretanto, quando o rico consegue assumir 
essa mesma postura (não é este o sentido da exortação ao jovem rico, 
em Lc 18.18-23?), pode também gozar a bênção de Deus (como no 
caso da bem-aventurança para o "humilde" ou "pobre de espírito", em 
Mt 5.3). Detivemo-nos nessa questão pela necessidade de 
esclarecimento bíblico e por ser tão pertinente no Brasil, cuja 
população, em grande parte, é pobre (e cada vez mais, 
proporcionalmente!). 
 
 
24 
Decerto ele ministrou também aos ricos, pois, provavelmente, 
Zaqueu e José de Arimatéia tinham bons recursos financeiros. 
(Todavia, a forma de dirigirem suas riquezas tinha de mudar diante 
do compromisso com Jesus!) Assim, reparemos que, se Jesus fez uma 
opção preferencial pelos pobres, certamente esta opção não era 
exclusiva. O essencial era um compromisso com o Senhor, não 
deixando isto de ter manifestações concretas na vida de devoção e 
também nas relações humanas. 
Outro grupo desprezado pela sociedade, que recebeu a 
atenção e a preocupação de Jesus, foi o das mulheres. Lucas faz 
menção desta dimensão do ministério de Cristo quarenta e três vezes, 
enquanto Marcos e Mateus juntos a fazem apenas quarenta e nove 
vezes. Além disso, Lucas dá ênfase especial ao fato de os primeiros 
missionários (quem testifica da ressurreição de Jesus) serem todas 
mulheres (23.55-24.12). Num mundo onde o papel da mulher não 
possuía prestígio nenhum, este fato é significativo e revelador. Além 
disso, só Lucas destaca as mulheres que acompanhavam e 
sustentavam nosso Senhor em sua missão (8.1-3). 
A soma destas observações assinala convincentemente que o 
ministério de Jesus rompeu barreiras sociais. Sua missão atingiu 
todos os grupos sociais, especialmente os mais desprezados e 
oprimidos. Neste sentido, tendemos a esquecer o modelo de Jesus e 
nos acomodar à mobilidade ascendente que nossa fé propicia. Não 
que a ascendência seja negativa, mas apenas a acomodação e 
injustiças cometidas contra os outros (não é este o sentido da 
Parábola do Rico e Lázaro? Lc 16.19-31). 
 
 
 
 
25 
ROMPENDO AS BARREIRAS 
CULTURAIS E RELIGIOSAS 
 
Jesus alcançou até os samaritanos, aqueles meio-judeus 
desprezados e marginalizados pelos judeus. Mas não só os alcançou 
como também fez deles heróis quando contou a história do bom 
samaritano (Lc 10.29-37). Imagine o aborrecimento dos fariseus 
quando ouviram essa história! Interessante é que, dos dez leprosos 
que Jesus curou, o único que voltou para agradecer era samaritano 
(Lc 17.11-19). 
Outro escândalo cultural e religioso que Jesus causou foi seu 
tratamento para com o centurião romano. Os judeus colocavam os 
gentios fora da esfera do amor e atividade de Deus (a não ser que se 
tornassem judeus). Contudo, quando esse soldado romano, que 
mantinha a lei e a ordem na região, pediu que Jesus curasse seu 
servo, confiando apenas na palavra afirmativa de fazê-lo, Jesus 
afirmou: "... nem mesmo em Israel achei fé como esta" (Lc 7.9). 
 
RESUMO 
 
Jesus, sendo filho de Adão (que significa "homem"), cumpre 
a imagem de Deus no homem Adão, realizando o domínio de Deus e 
rompendo todas as barreiras que limitam esse domínio, geográficas, 
sociais e culturais. Desta forma, o plano divino e salvador continua, 
sendo Jesus nosso precursor, modelo, autoridade e poder. É um plano 
para o universo que temos de cumprir. O peso de nossa 
responsabilidade no cumprimento da missão de Deus aparece bem 
nítido, quando Jesus diz: "Vós sois testemunhas destas coisas" (Lc 
24.48). 
 
 
26 
A mesma passagem define este evangelho como tendo no 
centro a morte e a ressurreição de Jesus. A fé baseia-se num evento 
concreto de nossa história. Não é o misticismo das religiões orientais 
nem a magia das religiões animistas nem a força mental das crenças 
do alto espiritismo. Nossa fé surge da atuação concreta de Deus em 
nossa história e resulta na transformação integral do homem emtodos 
os seus relacionamentos. 
O evangelho também exige o arrependimento como pré-
requisito para a entrada no reino e anuncia o perdão como promessa e 
dom de seu ingresso. 
Onde ele deve ser pregado? — "a todas as nações" (Lc 24.47). 
Assim como, no início de seu ministério, Jesus não foi detido ou 
atrasado por barreiras geográficas, mas teve de ir às outras cidades, 
semelhantemente, no final desse ministério, ele exorta seus discípulos 
a irem a todas as nações. Esta exortação nos pertence hoje. A 
responsabilidade é nossa. Esperemos apenas até que do alto sejamos 
revestidos do poder (Lc 24.49). 
Em síntese, Lucas fornece ampla base para a obra 
missionária, por meio do modelo do ministério de Jesus. Aliás, nestes 
estudos, temos destacado que as Escrituras todas fornecem o extenso 
alicerce que apoia e prepara, pela elucidação desta obra, a grande 
comissão. A obra missionária da igreja não é uma pirâmide feita de 
cabeça para baixo, com seu vértice num texto isolado do Novo 
Testamento, onde elaboramos uma grande estrutura conhecida como 
"missões". Ao contrário, a obra missionária é uma pirâmide de 
cabeça para cima, com sua base estendendo-se de Gênesis l até 
Apocalipse 22. Toda a Escritura forma, então, o alicerce para que o 
evangelho alcance o mundo todo. A grande comissão seria assim a 
maior explicação desta obra e poderia ser considerada o ápice da 
 
 
27 
revelação divina quanto a ela, visando o lançamento da igreja nesta 
missão. Salientamos que a obra missionária não parte só de um texto 
bíblico, senão da Bíblia toda. 
Além disso, observemos que a dimensão da grande comissão 
é tão extensa quanto a humanidade, isto é, abarca todas as áreas 
geográficas, classes sociais e culturas. 
Finalmente, a responsabilidade está sobre nossos ombros. 
"Vós sois testemunhas destas coisas" é uma afirmação que inclui 
todos os cristãos. É nossa responsabilidade levar o evangelho a todas 
as nações. Se não o fizermos, deixaremos até de ser igreja, pois este 
envio para o mundo faz parte de sua essência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
4 
 
MISSÕES NO MINISTÉRIO DO 
ESPÍRITO POR MEIO DA IGREJA 
 
No capítulo anterior discutimos o ministério de Jesus como 
modelo para missões. Fizemos isto através do Evangelho de Lucas. 
Neste estudo queremos continuar nosso exame de Lucas, mas 
utilizando seu segundo livro — Atos dos Apóstolos. Enquanto o 
primeiro focaliza o ministério de Jesus em nossa história, o segundo 
centraliza-se no ministério do Jesus ressurreto, atuando por meio do 
Espírito Santo na igreja. No final do primeiro volume, Jesus exortou 
seus discípulos a que esperassem pelo poder do alto, o poder do 
Espírito Santo. No início do segundo, eles o recebem, e a expansão 
missionária da igreja começa. 
Não podemos subestimar a necessidade do poder do Espírito 
Santo na realização da grande comissão. Harry Boer, em seu livro 
Pentecost and Missions ("Pentecoste e Missões"), argumenta bíblica 
e irrefutavelmente que a vinda do Espírito Santo — a experiência do 
Pentecoste — dá vida e sentido à grande comissão, tanto que esta, 
sem o Pentecoste, não teria poder algum nem poderia ser cumprida. 
Sim, a vinda do Espírito possibilita a realização do mandamento. É 
uma experiência animadora ver homens e mulheres responderem a 
esse mandamento com oração e, revestidos do poder do alto, 
pregarem o evangelho porque tiveram um encontro inesquecível com 
o Senhor. Mesmo não entendendo perfeitamente a grande comissão, 
 
 
29 
pregam com convicção e resultados, pois, quando o Espírito se apo-
dera deles, há um impulso irresistível de testemunhar. 
Acredito que exista força satânica por trás do medo do poder 
do Espírito Santo em muitas igrejas tradicionais hoje. É claro que, 
algumas vezes, o medo baseia-se nos abusos que vemos ao nosso 
redor. Entretanto, mais frequentemente, é medo daquilo que o 
Espírito fará e exigirá de nós. A este respeito, Richard Lovelace 
observa em seu livro Dynamics of Spiritual Life ("A Dinâmica da 
Vida Espiritual"): 
 
"Há uma estranha incapacidade entre os cristãos 
modernos de levar a sério essa informação (sobre a 
realidade de Satanás) e até uma insegurança nos 
evangélicos (conservadores) em dar muita atenção a 
isto. Sugiro que esta relutância exista não porque o 
assunto seja trivial, mórbido ou perigoso, mas porque 
estas forças têm acesso às nossas mentes e são aptas 
para nos cegar em relação à sua presença e esconder o 
evangelho do mundo. O inferno é uma conspiração, e o 
primeiro pré-requisito de uma conspiração é que ela 
permaneça clandestina". 
 
Por que Satanás criaria em nós esse medo da atuação do 
Espírito de Deus e a dúvida da presença e do poder do próprio 
inimigo? Porque assim ele pode cortar o nervo principal do 
cumprimento de missões (quando se recua do poder do Espírito) e, ao 
mesmo tempo, esconder seu próprio papel conspirador. 
 
 
 
 
30 
O ESPÍRITO SANTO COMO AUTOR E 
REALIZADOR DE MISSÕES 
 
A igreja, então, necessita do poder de Deus para cumprir sua 
missão, pois "nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, 
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste 
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões 
celestes" (Ef 6.12). Portanto, o pré-requisito para o cumprimento da 
tarefa missionária é o poder do Espírito Santo (At 1.8). Precisamos de 
um poder sobrenatural para lutar contra um inimigo sobrenatural. 
Com a vinda do Espírito, a igreja compreendeu as palavras de Jesus: 
"Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará 
também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou 
para junto do Pai" (Jo 14.12). No discurso que contém esse versículo, 
o Espírito Santo é central (Jo 14.16), e os discípulos devem esperá-lo, 
tendo já recebido a grande comissão. O Espírito, portanto, é o autor 
de missões, pois a obra parte de sua capacitação. 
Ele não é apenas o autor, mas também o realizador de 
missões. Com sua vinda sobre os primeiros discípulos houve o sinal 
sobrenatural de "línguas", que indicava claramente que o evangelho 
deveria ser pregado a todas as raças e nações. Podemos dizer que o 
Espírito garante o sucesso missionário no mundo. 
 
O ESPÍRITO COMO PROMOTOR DE MISSÕES 
 
O Espírito Santo está por trás de todos os acontecimentos em 
Atos. Ele é quem atuava quando: 
 
 
 
31 
• a igreja se iniciou com 3.000 e depois 5.000 convertidos 
(2.41, 4.4); 
• Pedro e os outros discípulos testemunharam ousadamente 
frente à perseguição (3.11-26); 
• os primeiros seguidores venceram o egoísmo e deram 
liberalmente à obra do Senhor (4.32-37); 
• morreu o primeiro mártir, mostrando vitória gloriosa sobre 
a perseguição e vingança (6.8-7.60); 
• o evangelho da salvação alcançou o primeiro lar gentio 
(11.12); 
• a mensagem de perdão espalhou-se pela Etiópia e África 
(8.27-29); 
• as igrejas na Judéia, Galiléia e Samaria vieram a se 
estabelecer firmemente (9.31); 
• a maravilhosa igreja missionária de Antioquia começou a 
prosperar em preparação para seu envio de missionários (l 
1.22-26); 
• o amor mútuo das primeiras comunidades cristãs 
manifestou-se através da coleta incentivada pela profecia 
de Ágabo (l1.28-29); 
• a igreja de Antioquia lançou seu programa missionário 
(13.2); 
• Paulo venceu seu primeiro inimigo, Elimas, em Chipre 
(13.9); 
• os apóstolos alegraram-se na perseguição em Antioquia da 
Pisídia (13.50-52); 
• os apóstolos reconheceram a obra entre os gentios e 
pronunciaram liberdade da lei para os cristãos gentios 
(15.28); 
 
 
32 
• Paulo foi impedido de continuar na Ásia, sendo dirigido à 
Europa; um marco missionário significante (16.6-10); 
• os líderes foram escolhidos para tomar conta da igreja local 
em Éfeso (20.28). 
 
Assim, o Espírito Santo acompanhava todos os passos 
decisivos na expansão missionária da igreja. 
 
O ESPÍRITO COMO PODER PARA MISSÕES 
 
Há uma diferença entre alguém ser cheio do Espírito Santo e 
o Espírito ser derramado sobre as pessoas.O primeiro caso refere-se 
mais à qualidade, ao caráter espiritual de alguém e ao poder para 
servir. O segundo refere-se mais à introdução decisiva de uma nova 
era ou do início de um novo movimento ou expansão. 
O Espírito Santo foi derramado apenas quatro vezes em Atos. 
Cada uma das conquistas na expansão missionária foi acompanhada 
por sinais milagrosos. A primeira vez foi a vinda do Espírito no 
Pentecoste (2.1-13); a segunda, quando o evangelho alcançou a 
Samaria, a primeira cidade não judia (8.14-17); a terceira, quando 
Pedro pregou à primeira família gentia, a de Cornélio, em Cesaréia 
(10.44-45) e, finalmente, a quarta, quando Paulo conseguiu 
demonstrar a diferença entre o evangelho de Jesus e a pregação de 
João Batista (l9. l-6). Todas as vezes o próprio Espírito Santo 
marcou, milagrosamente, a introdução de uma nova fase na tarefa 
missionária a nós confiada. 
O resultado destes despertamentos, onde o Espírito é 
derramado sobre as pessoas, é fruto permanente. Os 3.000 
convertidos da pregação de Pedro perseveravam (2.42, veja 11.24)! A 
 
 
33 
história confirma a permanência do fruto destas atuações 
excepcionais do Espírito. Por exemplo, durante os primeiros 96 anos 
de evangelização na Polinésia ocidental (a partir de 1811), houve 
mais de um milhão de conversões. Hoje, esta região possui uma 
percentagem de cristãos praticantes maior do que qualquer outra área 
comparável no mundo! Nos primeiros 80 anos de trabalho 
missionário na Birmânia, uma pessoa a cada três horas, em média, 
era batizada, e 10% delas tornaram-se obreiras ativas do Senhor. 
Quando o primeiro missionário cristão chegou às ilhas Fiji, assistiu 
ao enterro de 80 vítimas de uma festa canibal. Ele viveu, porém, para 
ver multidões de convertidos tomando a ceia do Senhor. Depois de 
50 anos, em 1885, havia 1.300 igrejas. Os casos nem sempre são 
assim. Não seria justo, por exemplo, comparar o resultado nos países 
muçulmanos. Apenas enfatizamos que, quando o Espírito é 
derramado sobre as pessoas, há fruto permanente. 
 
O ESPÍRITO SANTO COMO ESTRATEGISTA DE MISSÕES 
 
Em Atos l.8 encontramos uma estratégia geral que, de fato, 
corresponde ao desdobramento da expansão missionária da igreja. 
Isto é, começa em Jerusalém, o lar dos primeiros discípulos; penetra a 
Judéia, lugar árido e difícil para a evangelização, embora 
geografïcamente próximo a Jerusalém; encontra o primeiro desafio 
cultural em Samaria, em preparação final para os confins da terra. 
Desta maneira, aprendemos que a expansão missionária e geográfica 
é cada vez mais abrangente, tendo uma penetração cada vez maior. 
Em Atos, encontramos também uma estratégia urbana. As 
cidades chaves devem ser alcançadas. A ideia de missões urbanas, 
então, não é uma novidade. Felipe foi dirigido à Samaria, Pedro a 
 
 
34 
Cesaréia e Paulo às cidades chaves do Oriente Próximo e Europa. 
Diante da marcante urbanização mundial (população urbana em 1900 
= 14%; 40% em 1980 e 50% no ano 2000) e brasileira (31% em 
1940; 68% em 1980, e a ONU prevê que até o ano 2025 entre 80% e 
90% da população latino-americana será urbana!), a tarefa 
missionária não pode ser ingênua. Na década de 80, 
aproximadamente um bilhão de pessoas migraram para os centros 
metropolitanos do Terceiro Mundo. Cidades como Bogotá, São Paulo 
e a Cidade do México têm um aumento diário de 4.000 a 6.000 
habitantes. No Brasil, a migração para os centros urbanos, 
especialmente os do litoral, é bem destacada desde o período 
colonial. Viana Moog, em seu livro Bandeirantes e Pioneiros, 
documenta como sempre houve uma tendência de retorno às grandes 
cidades do litoral por maior que fosse a penetração rural e para o 
oeste. Tudo isto tem grande importância para missões. 
Outra estratégia envolve pessoas e classes chaves. Quando 
Paulo foi a Chipre, tratou com o procônsul do país. Em Atenas (outro 
centro metropolitano), tratou com os filósofos, e alguns se 
converteram, entre os quais um certo Dionísio (At 17.18, 34). Em 
Éfeso, trabalhou entre os estudiosos, na escola de Tirano, durante 
dois anos. Resultado? Todos os habitantes da Ásia ouviram a palavra 
do Senhor, tanto judeus como gregos (At 19.10). Que relatório! Outro 
exemplo é o de Felipe, que, ao falar com o eunuco da Etiópia, dirigia-
se a um líder do país, sendo este o primeiro passo do evangelho 
naquela nação. 
Em Atos, notamos uma preocupação constante de fundar 
igrejas em áreas ainda não atingidas. Paulo até fez disso uma regra 
pessoal (Rm 15.20). Entretanto, atualmente, a metade da população 
mundial está na Ásia, onde, embora apenas 5% professem a fé cristã, 
 
 
35 
somente 5% da força missionária mundial ministra. Vendo a situação 
por outro angulo, teremos 99% da força missionária mundial 
ministrando entre os 42% da população mundial, onde já existem 
igrejas cristãs que podem alcançar os não cristãos. O outro 1% da 
força missionária trabalha entre os 58% da população mundial, onde 
os não cristãos só podem ser alcançados por meio do ministério 
transcultural. Quanto precisamos hoje da conscientização paulina de 
ministrar onde Cristo ainda não foi pregado! 
O Espírito Santo dirige as igrejas recém-fundadas para que 
sejam igrejas autóctones (At 20.28). O primeiro passo, e o mais 
crucial, para se alcançar uma boa medida de autoctonia é o 
treinamento de liderança capacitada tanto para a ofensiva quanto para 
a defesa da igreja frente aos desafios e ameaças do mundo (At 20.29-
31). Muito se fala hoje de três objetivos práticos e concretos para se 
alcançar o alvo de autoctonia: auto-governo, auto-sustento e auto-
propagação; isto é, nenhuma igreja local (muito menos a 
denominação) pode ficar satisfeita, enquanto depender de outra igreja 
para financiar seus obreiros e fazer sua evangelização. Por outro lado, 
isto não quer dizer que as igrejas não devam ajudar umas às outras, 
testemunhando juntas na comunidade. Ajudar e cooperar são coisas 
não só positivas como também evangelisticamente essenciais (Jo 
17.20-21). Contudo, a dependência que ultrapassa esses três objetivos 
faz definhar a Igreja e prejudica a eficiência e integridade de seu 
testemunho na sociedade. Os três objetivos são importantes, mas 
podemos dizer que os dois primeiros, em geral, concorrem para o 
máximo empenho do terceiro, o alcance evangelístico e missionário 
de cada comunidade cristã. Temos destacado em todos esses estudos 
que esta é a essência da igreja. A igreja que não é missionária não é 
igreja em nenhum sentido bíblico; aliás, logo se torna, ela mesma, um 
 
 
36 
campo missionário. Ao contrário, um bom exemplo seria a igreja de 
Tessalônica, à qual Paulo escreve: 
 
"Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor, 
não só na Macedônia e Acaia, mas por toda parte se 
divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não 
termos necessidade de acrescentar coisa alguma..." (l 
Ts 1.8). 
 
Portanto, as igrejas fundadas em cada lugar devem ter como 
alvo a independência, procurando o desenvolvimento de sua própria 
liderança, de seu sustento e de seu programa de evangelização e obra 
missionária. 
Uma qualificação, entretanto, é necessária quanto a 
autoctonia. Os três objetivos mencionados acima não garantem a 
conquista da autoctonia, embora sejam bons passos nessa direção. 
Conheço igrejas que se sustentam, se dirigem e evangelizam, mas 
que, mesmo assim, permanecem dependentes de suas igrejas-mães 
num sentido mais profundo. Seus conceitos e aplicações do 
evangelho dentro de seu ambiente são diretamente determinados 
pelas conceituações de sua igreja-mãe, mesmo quando esta, em 
grande medida, desconhece o contexto cultural e social da igreja 
fundada e é alheia a este. Não estou sugerindo que cada nova igreja 
tenha que começar da estaca zero para a elaboração de todas as suas 
doutrinas e ideias. Longe disso! Acredito que o Espírito Santo não 
morreu depois do Novo Testamento e que através da história lidera a 
igreja de Cristo na expressão de sua fé. Contudo, a aplicação do 
evangelho em situações culturais,sociais e históricas pode variar. Os 
problemas brasileiros não são sempre iguais aos norte-americanos ou 
 
 
37 
europeus, tampouco os nigerianos ou indianos. As igrejas-mães 
podem — e devem — ajudar-nos a entender aquilo que Deus falou 
em sua revelação. Contudo, cabe muito mais às igrejas fundadas sua 
interpretação e aplicação em seus próprios contextos. Quando as 
igrejas fundadas conseguem assumir seu sacerdócio dos santos e 
ouvir a voz de Deus, mediante as Escrituras, para sua própria 
situação, estão ainda mais no caminho da autoctonia (e, por exemplo, 
podem ajudar as igrejas-mães a contextualizarem melhor o evangelho 
em suas próprias culturas também!). 
Já mencionamos o papel da união dos cristãos no sucesso da 
obra missionária. Resta apenas ressaltá-la como uma estratégia 
essencial do Espírito Santo para o desempenho missionário eficaz. 
Creio que esta união seja um assunto um pouco negligenciado, se não 
desprezado em nosso meio, já que podemos reconhecer seu 
significado bíblico para missões sem praticá-la. 
Reparemos que a união dos fiéis (At 4.24, 32; 2.44, 46) leva a 
intrepidez diante dos homens (At 4.29-31; 2.37-41) e temor diante de 
Deus (At 4.31; 2.43). Por conseguinte, Deus operava milagres por 
meio do Espírito Santo (At 4.22, 30; 2.43), a igreja evangelizava com 
resultado (4.29, 31, 33; 2.40, 41, 47) e atendia às necessidades físicas 
das pessoas (At 4.32, 34, 35; 2.45). Que receita para a igreja 
missionária: união, intrepidez, temor, milagres, evangelização e ação 
social! E eu pergunto: quais destes itens não constituem um ponto 
fraco em nossas igrejas? Imagine a combinação de todos! Por onde 
começamos? Sugiro a união. 
A união da igreja não é apenas algo bonito e romântico que 
ocorre automática e facilmente. É preciso esforçar-se para alcançá-la 
e preservá-la (Ef 4.3). Exige sacrifício e até certo sofrimento, mas 
como resultado a união fornece alimento para o combate pela fé 
 
 
38 
evangélica (Fp 1.27-30). Implica não só numa união teórica ("nós 
somos irmãos, embora não concordemos..."), mas numa unanimidade 
de pensamento, amor e humildade (Fp 2.1-4). Só a alcançamos à 
medida que seguimos o exemplo de Jesus Cristo (Fp 2.5-11). Sem 
dúvida, a união do povo de Deus é uma das estratégias mais críticas 
na obra missionária que o Senhor nos deu e que o Espírito Santo 
viabilizou. 
Poderíamos abordar outros aspectos estratégicos da atuação 
do Espírito Santo na expansão missionária da igreja. Talvez aqueles 
já mencionados incentivem o caro leitor a pesquisar outros, 
procurando a direção do Espírito nessa pesquisa. De nossa parte, 
queremos apenas acentuar que o desafio missionário exigia e exige 
nada menos que o poder do Espírito Santo. Nada do triunfalismo de 
planos e esquemas que dependam da perícia e técnica humanas que 
ultrapassam a direção do Espírito, mas somente a humildade e o 
temor com discernimento e ação, tomados como fruto da vida 
dependente do Espírito. Tenhamos cuidado com nossas ideias 
"brilhantes" e "seguras", pois, quando o esforço missionário 
permanece sob o controle do Espírito de Deus, ele é o autor, 
realizador, promotor, a fonte de poder e o estrategista de missões. 
Urge um novo chamado a um despertamento para 
dependência total do Espírito Santo, sem medo da maneira como 
seremos entendidos e vistos. Urge a busca diligente da plenitude do 
Espírito de Deus em nossa vida pessoal, igrejas, agências e juntas 
missionárias. Então haverá um verdadeiro despertamento 
missionário! 
 
 
 
 
 
39 
5 
 
PAULO E MISSÕES 
 
As igrejas da África, Ásia e América Latina estão passando 
por um despertamento em relação a seu desempenho na 
evangelização mundial. Depois de um século de tremendo impulso 
evangelístico promovido entre estes povos, ora pelos habitantes 
naturais do lugar, ora pela assistência de missionários estrangeiros, 
nos últimos anos estas igrejas estão reconhecendo que o propósito de 
Deus não é que elas apenas recebam missionários, mas que também 
os enviem. Por certo, as igrejas na América do Norte e na Europa 
aprenderão e se beneficiarão com novos modelos e ênfases 
missionárias que suas igrejas irmãs estão empregando em obediência 
à direção do Espírito Santo na missão de Deus. 
Segundo Larry Patê (From Every People, 1989), até o ano 
2.000, as agências missionárias do Terceiro Mundo deverão enviar 
162.000 missionários. Comparados aos 136.000 que deverão ser 
enviados pelas agências missionárias protestantes do Primeiro Mundo 
(Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia), a influência 
deles já se tornou uma força muito significativa na evangelização 
mundial. 
Já existem centros de treinamento missionário na Coréia, 
Índia, Costa Rica, Singapura, Peru e Brasil. Há inúmeras 
conferências missionárias regionais (só para mencionar alguns 
grupos: VINDE [Visão Nacional de Evangelização], Visão Mundial, 
SEPAL [Serviço de Evangelização para a América Latina], Instituto 
Haggai, Missão Antioquia, CEM [Centro Evangélico de Missões] e 
 
 
40 
cada vez mais igrejas locais, incluindo a Primeira Igreja Batista em 
Santo André e a Igreja Batista do Morumbi, em São Paulo). Por isso, 
digo que estamos passando por um despertamento nesta área, o que é 
muito animador. Sigamos a direção de Deus! 
Por outro lado, há muita confusão sobre missões, tanto no 
nível popular, quanto no acadêmico. Algumas questões, às vezes 
fundamentais, continuam de lado na hora do debate: 
 
• Ir ou ficar; qual é nosso critério? 
• O que é um missionário? 
• O que são missões? 
• Não há bastante a fazer no Brasil? 
• Até que ponto devemos ou não usar modelos 
"importados"? 
 
Não penso que possamos resolver de uma vez estas questões 
que a igreja ao redor do mundo debate há séculos, mas discutí-las 
certamente faz parte da tarefa da igreja brasileira em sua busca de 
fidelidade e autenticidade à missão de Deus. Aqui, posso apenas 
traçar e sugerir algumas ideias. Em última análise, somente nos 
arraigando às Escrituras encontraremos respostas ou indicações que 
nos orientarão nesta obra tão importante. 
Sugerimos Romanos 15.14-21 como uma passagem que nos 
dá tais perspectivas na vida e no ministério de Paulo. É bom lembrar 
que Paulo a escreveu quase no fim de sua carreira missionária e que a 
carta toda é uma análise das polêmicas missionárias que ele 
enfrentou. Nesta passagem, em poucas palavras, Paulo resume sua 
experiência missionária até aquela altura. 
 
 
 
41 
O AGENTE MISSIONÁRIO: O MELHOR, MAS 
AO MESMO TEMPO, UM SERVO 
 
Nesta passagem, o agente missionário é o apóstolo Paulo (ou, 
em última análise, o próprio Deus — v. 15). Embora, logicamente, 
Paulo mesmo não diga aqui que ele representa o melhor da liderança 
da igreja, sabemos disso pelo testemunho de Lucas. Paulo já tivera 
seu ministério aprovado como um dos mestres e profetas em uma 
igreja local altamente comprometida com missões — a igreja de 
Antioquia (At 13.1-3). Que contraste com alguns missionários de 
menor preparo e talento que, como consequência, em quase todos os 
sentidos, recebem apoio inferior ao apoio dado ao pastorado! O 
trabalho missionário exige o melhor da liderança de nossas igrejas. 
Ao mesmo tempo, representando o melhor da liderança, o 
agente missionário entende seu papel não como superior, mas como 
servo. Paulo, em sua missão entre os gentios, considera-se ministro 
(leitourgos) ou servo (v. 16) que, à semelhança dos sacerdotes, apre-
senta uma oferta no altar de Deus. Neste caso, a oferta é a obediência 
dos gentios a Deus (v. 18). A missão de Paulo é um culto prestado ao 
Senhor para sua aceitação e santificação. Não há lugar, na presença 
do Altíssimo, para atitudes de superioridade ou domínio missionário. 
O melhor líder possui uma atitude de servo e entende seu 
serviço missionário como culto e sacrifício prestados a Deus. 
 
O OBJETIVO MISSIONÁRIO: A OBEDIÊNCIA 
 
Paulo descreve o objetivo de seu trabalho missionário com a 
expressão "conduzir os gentios à obediência" (v. 18). Isto é muito42 
mais do que uma decisão inicial de "aceitar a Cristo". Inclui o 
discipulado da igreja até o ponto de obediência por fé (16.26). 
Alguns fazem separação entre "conversão" e "discipulado", 
sendo o primeiro elemento tarefa de "missões" e o segundo, da 
"edificação da igreja". Paulo não fazia tal distinção. Seu objetivo não 
era levar as pessoas a uma decisão inicial, mas conduzí-las à 
obediência. Não é este também o objetivo da grande comissão, em 
Mateus 28.18-20? 
 
OS INSTRUMENTOS DO TRABALHO MISSIONÁRIO: 
DECLARAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO 
 
Como Paulo realizou seu trabalho missionário? No final do v. 
18, ele diz literalmente: "... por palavra e por obras". É evidente que 
Paulo não estabelecia prioridade entre a proclamação do evangelho e 
sua demonstração por obras. As duas coisas faziam parte integral e 
inseparável de sua maneira de testemunhar. 
 
O OBJETO MISSIONÁRIO: AS NAÇÕES 
 
Tanto "gentios" quanto "nações" traduzem uma única palavra 
grega, ethnos. A ideia de ethnos está muito mais próxima da ideia de 
povos ou grupos étnicos do que países. O objeto com o qual as 
missões lidam são as diversas etnias. Paulo teve ideia semelhante, e 
isto se percebe pelo fato de ele ter atuado dentro dos limites de um só 
governo, o Império Romano, enquanto fazia distinção entre os povos 
deste império. 
Há quarenta anos, alguns líderes eclesiásticos achavam que 
quase já havíamos evangelizado o mundo, pois apenas quatro países 
 
 
43 
ainda não tinham uma igreja cristã — Nepal, Tibete, Afeganistão e 
Bangladcsh. Mas aquela observação falhava por entender mal ethnos 
como país em vez de etnia. 
Por isso se fala muito em missões transculturais, em vez de 
missões estrangeiras, pois as missões não lidam com nações como 
países, mas como etnias. 
 
A ESTRATÉGIA MISSIONÁRIA: OS NÃO-ALCANÇADOS 
 
Veja bem o lema de Paulo: não onde Cristo já fora anunciado 
(v. 20). Paulo dava prioridade para os povos que não haviam recebido 
o anúncio do evangelho. Sua estratégia de trabalho não era tanto 
geográfica quanto humana ou cultural, no sentido de etnias. Mesmo 
existindo igrejas fortes numa determinada região geográfica, Paulo 
"cumpria" o evangelho (tradução literal de "divulgar o evangelho" no 
v. 19), atingindo lugares onde existiam povos ainda não-alcançados. 
Hoje, nosso lema não deveria ser "uma igreja em cada 
região", mas "uma igreja entre cada povo". 
 
O DESEMPENHO MISSIONÁRIO: 
TUDO DE NÓS, TUDO DE DEUS 
 
Paulo enfatizava a necessidade de todo esforço e resolução 
para o desempenho de seu serviço. Era seu dever ou encargo (v. 16), 
seu serviço ou ministério (v. 16), sua ambição e edificação (v. 20), 
realizados por suas palavras e obras (v. 18). Contudo, este serviço 
não se resumia a mero esforço humano. O apóstolo afirmou que o 
poder do Espírito saturava cada etapa (v. 19) e que era Cristo o 
realizador da obra (v. 18). 
 
 
44 
Com tal perspectiva, não temos base para a afirmação 
falsamente "teológica" de que só Deus faz a obra nem para a 
afirmação falsamente "prática" de que apenas nossas estratégias e 
esforços realizarão a obra. De novo, o que Deus ajuntou, não o separe 
o homem! Veja a colocação de Paulo em outro lugar: "... para isso é 
que também eu me afadigo, esforçando-m e o mais possível, segundo 
a sua eficácia que opera eficientemente em mim" (Cl 1.29). 
 
O APOIO MISSIONÁRIO: A IGREJA LOCAL 
 
Ao escrever esta carta, Paulo está cultivando um 
relacionamento com a igreja de Roma (fundada por outrem) com o 
objetivo de torná-la sua segunda base missionária para a 
evangelização da região entre a capital do império e a Espanha 
(15.23-24). 
A igreja de Antioquia já fora sua primeira base para a 
evangelização da região entre Jerusalém e o Ilírico (v. 19), e agora 
Paulo quer ligação semelhante com a igreja de Roma. É importante 
ressaltar este ponto, pois, hoje, há muitas organizações missionárias 
que não procuram uma ligação com as igrejas locais. Não quero dizer 
que a única organização missionária legítima seja a junta 
denominacional. Aliás, esta também, frequentemente, não possui uma 
boa ligação com as igrejas locais! 
Tanto as circunstâncias históricas quanto os dados bíblicos 
não permitem, a meu ver, uma analogia entre a organização 
missionária flexível e móvel de Paulo com as juntas denominacionais 
ou com as agências missionárias independentes. Não podemos 
deduzir isto. Contudo, é possível concluir que Paulo via a 
importância de ligar seu ministério missionário à igreja local, mesmo 
 
 
45 
quando esta não era fundada por ele. A obra missionária foi 
estabelecida por Deus, que vocaciona indivíduos no contexto do 
testemunho da igreja toda. Um trabalho desse tamanho necessita de 
apoio e direção da igreja. 
 
A RAZÃO MISSIONÁRIA: 
QUE TODOS OUÇAM ANTES DO FIM 
 
Paulo inicia e conclui esta passagem com citações do Antigo 
Testamento que prevêem a entrada futura de muitos povos no reino 
de Deus (w. 9-12, 21). Ele tem consciência de que estas referências 
estão sendo cumpridas em seu próprio ministério, mas, ao mesmo 
tempo, reconhece nossa necessidade de esperança na realização final 
(v. 13). Como Jesus mesmo afirmou, o evangelho deve ser anunciado 
até o fim (Mc 13.10; Mt 24.14). Esta é a razão missionária da igreja, 
a pregação do evangelho a todos, antes da chegada do juiz (2 Pe 3.9). 
A convicção de que Cristo voltaria e a necessidade subseqüente de 
anunciá-lo a quem ainda não ouvira eram motivações para Paulo, 
como devem ser hoje para nós, no desempenho da missão de Deus. 
Sejamos fiéis à sua missão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
6 
 
A VOLTA DE JESUS E 
A URGÊNCIA MISSIONÁRIA 
 
Grande parte dos ensinos de Jesus trata do reino de Deus. O 
assunto marcou o ministério de Jesus do início (Mc l. 15) ao fim (At l 
.3). As parábolas, sua maneira popular de ensinar, focalizam tanto o 
assunto que, frequentemente, são chamadas de "parábolas do reino". 
De fato, nos evangelhos há mais de 70 referências de Jesus ao reino. 
Já vimos, logo no início deste estudo sobre missões, que a 
ideia tem muito a ver com a imagem de Deus no homem, isto é, sua 
capacidade de reinar, dominar e ordenar a criação de Deus. Isto tem a 
ver com missões: espalhar o domínio e a ordem de Deus por todo o 
mundo. 
O ensino de Jesus sobre o reino também tem a ver com 
missões, pois foi justamente este assunto que ele abordou com os 
discípulos no período entre a ressurreição e a ascensão, preparando-
os para o Pentecoste e a explosiva expansão missionária da Igreja. 
Durante quarenta dias nosso Senhor, já ressurreto, ministrou um 
"curso intensivo de missões" a seus discípulos. O tópico? O reino de 
Deus! 
Por isso, o assunto é de muitíssima importância para missões. 
O reino de Deus possui dois aspectos temporais. Por um lado, já está 
presente, pois o próprio ministério de Jesus, em sua primeira vinda, o 
inaugurou (Lc 11.20; Mt 12.28). Por outro lado, seu cumprimento 
ainda não se deu, porque aguarda a volta de Jesus (Mt 13.40-41). Os 
 
 
47 
dois lados são importantes. Neste capítulo, contudo, queremos 
destacar a volta de Jesus e o cumprimento de seu reino em relação a 
missões. 
 
O ESCOPO DO REINO É UNIVERSAL 
 
Jesus confirma a perspectiva missionária universal do Antigo 
Testamento. Ensina que, no último dia, muita gente virá do Oriente e 
do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomará lugar à mesa no reino de 
Deus (Lc 13.29). As bênçãos do reino de Deus são para todos os 
povos do mundo. É muito preciosa esta descrição do reino como uma 
festa. Mas, antes de sua realização, um convite deve ser enviado às 
nações, a fim de que os convidados venham à festa. Este é o trabalho 
de "missões". Aqueles que estavam longe se aproximam, os estranhos 
tornam-se filhos, e quem antes não tinha esperança, agora festeja no 
reino de Deus (Ef 2.11-13)! 
 
OS QUE FESTEJAM HERDAM O REINO 
 
Jesus ensina que os gentios estarão não apenas entre os que 
festejam, mas também herdarão o reino de Deus com os judeus 
crentes (Mt 21.43 e At 26.16-18). Assimcomo Jesus enviou a Paulo 
como missionário para colher os gentios para o reino de Deus, hoje 
também nos envia a fim de colher as nações para seu domínio. 
 
O SINAL DE SUA VOLTA: MISSÃO CUMPRIDA 
 
Quando os discípulos perguntaram qual seria o sinal (no 
singular) de sua volta e da consumação deste período intermediário 
 
 
48 
(Mt 24.3), Jesus fez uma lista dos sinais (no plural) do período 
histórico que precederia sua volta (Mt 24.4-12) e depois respondeu à 
pergunta deles (de novo no singular) quanto a este sinal: 
"E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, 
para testemunho a todas as nações. Então virá o fim" (Mt 24.14). 
Isto deixa claro que o evangelho será pregado em todas as 
partes do mundo, até bem pouco antes de sua volta. Quem fará isso? 
Seus enviados, seus missionários (tanto "missionário", que vem do 
latim, quanto "apóstolo", que vem do grego, significam "o enviado"). 
Nós somos os precursores de sua vinda. Quando você e eu 
tivermos respondido em obediência, levando o evangelho até os 
confins da terra, então este mesmo Jesus voltará. 
"Missões", portanto, entram em penúltimo lugar na história 
divina de salvação. Esperamos a gloriosa volta de Cristo e a 
consumação dos séculos - por último. Contudo, não de braços 
cruzados, pois o último elemento virá só depois do penúltimo — a 
pregação do reino por todo o mundo. Por isso, quando, em outro 
lugar, os discípulos perguntaram quando seria a restauração do reino, 
a resposta foi a mesma - missões (At 1.6-8). Não nos preocupemos 
com sinais (épocas, tempos ctc.) e, sim, com um sinal: a pregação do 
reino a todas as nações. 
Assim como Deus planejou perfeitamente a primeira vinda de 
Jesus, ele também acompanha todos os passos que visam sua volta, 
que é a esperança da igreja. Tudo se dirige para este glorioso clímax 
da história. Os profetas predisseram-no; o próprio Senhor o 
confirmou; os apóstolos proclamaram-no, e todos os sinais apontam 
naquela direção. Resta, então, o cumprimento do sinal, tarefa que é 
nossa. Evangelização e "missões" são baseados na Bíblia e cheios de 
significado e sentido para a volta do Senhor. 
 
 
49 
Por que tanta importância para missões em relação à sua 
volta? Porque o alcance universal do amor de Deus será 
definitivamente demonstrado e a glória e o louvor a Deus serão 
reconhecidos por todos os povos da terra. 
"Depois destas coisas vi, e eis grande multidão que ninguém 
podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé 
diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, 
com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao 
nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a 
salvação" (Ap 7.9-10). 
"... e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o 
livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue 
compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e 
nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e 
reinarão sobre a terra" (Ap 5.9-10). 
"O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, 
e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Ap 11.15b). 
Observamos este alcance e preocupação universais nos 
primeiros capítulos deste estudo sobre missões. Assim como a Bíblia 
começa com um escopo universal, com Deus criando os céus e a 
terra, preparando o palco mais amplo possível de "missões", ela 
também termina com o mesmo tom, dando-nos nada menos do que a 
visão gloriosa do reino, lembrando-nos de que a salvação pela graça 
se destina a ser oferecida a todos, universalmente: "A graça do 
Senhor Jesus seja com todos" (Ap 22.21). 
 
 
 
 
 
 
50 
APÊNDICE A 
 
O POVO IBERO-AMERICANO 
NO PLANO DE DEUS 
 
Talvez o leitor não saiba do grande destaque que a Península 
Ibérica (constituída por Espanha e Portugal) tem na Bíblia. Ela possui 
um papel de importância última no plano de Deus para a 
evangelização do mundo. Embora quase desconhecidas, estas 
observações são relevantes, especialmente frente ao Congresso 
Missionário Ibero-Americano realizado em novembro de 1987, em 
São Paulo (COMIBAM 87). 
 
A PENÍNSULA IBÉRICA NO MUNDO DO 
ANTIGO TESTAMENTO 
 
Há várias referências, no mundo antigo, a um lugar chamado 
Társis ou Tártissus. Era uma cidade fenícia e mercantil conhecida 
desde o século XI a.C. Situava-se ao sul da Espanha, na foz do rio 
Guadalquivir, do lado atlântico do Estreito de Gibraltar. Em todo o 
Antigo Testamento, Társis é considerada "os confins da terra" ou 
extremis terris. 
Por isso, Jonas, querendo fugir da presença de Deus, 
embarcou num navio que ia para Társis — o lugar mais distante de 
que se tinha notícia na época (Jn 1.3). 
Este é, também, o sentido do Salmo 72. Aqui, o rei 
messiânico dominará "... desde o rio..." (o Eufrates, no extremo leste) 
 
 
51 
"... até aos confins da terra" (72.8). A explicação vem dois versículos 
depois, na referência a Társis e às ilhas no extremo oeste (72.10). A 
ideia é semelhante à de Mateus 24.14, Apocalipse 5.8-10 e 7.9-10, 
onde se lê que, antes do fim, o evangelho do reino deverá ser pregado 
entre todos os povos da terra para que estes prestem culto ao Messias. 
Assim se esclarece Isaías 66, que também relata a adoração 
prestada ao Senhor por parte de todos os povos, anterior ao 
estabelecimento de novos céus e nova terra e antes do fim (66.15-24). 
Segundo esta passagem, o Senhor enviará alguns "salvos" para falar 
dele até as mais remotas terras do mar, que jamais ouviram falar do 
Senhor nem viram sua glória (66.19). Ora, estas terras incluem 
Társis, Lude e Tubal, na Ásia Menor, Javã, na Grécia, e Pui, 
provavelmente na Líbia ou em Cirene. Povos destas nações irão a 
Jerusalém como oferta para o culto mundial que inaugurará o fim. 
Mas não são somente alvos missionários, pois alguns deles se 
tornarão sacerdotes e levitas, isto é, estes também trarão ofertas, a 
oferta da evangelização (66.20s.). Portanto, a Península Ibérica será 
alvo e instrumento missionário. 
 
A PENÍNSULA IBÉRICA NA ESTRATÉGIA 
EVANGELÍSTICA DE PAULO 
 
Certamente, esse pano de fundo contribuiu para a visão 
missionária do apóstolo Paulo. Por isso ele queria tanto chegar à 
Península Ibérica (Rm 15.24). Três documentos do primeiro e 
segundo séculos alegam que Paulo, de fato, chegou à Espanha, mas o 
Novo Testamento não nos diz nada sobre isso. Em 1963, a cidade de 
Tarragona, antiga Társis, ergueu uma estátua do apóstolo 
comemorando sua ida até lá. 
 
 
52 
Como apóstolo dos gentios, e à luz de Isaías 66, Paulo queria 
chegar aos confins da terra — a Península Ibérica. Ele desejava levar 
para Jerusalém povos não só da região que já havia evangelizado 
(desde Jerusalém até o Ilírico, conforme Rm 15.19 — as nações, de 
Isaías 66) como também da Península Ibérica (Társis), antes do fim. 
E estes ibéricos, por sua vez, dariam testemunho lá, como 
instrumentos missionários. 
Isto não quer dizer que Paulo entendia que a volta de Cristo 
dependia unicamente dele. Ele não se via como o único apóstolo 
entre os gentios (nem o último), mas como um apóstolo único, no 
sentido de ser precursor e exemplo para todos os demais. Assim, sua 
dupla estratégia evangelística (até os confins geográficos da terra e 
entre os povos não-evangelizados) seria precursora e exemplar para a 
obra de evangelização até hoje. 
 
O POVO IBÉRICO NA EVANGELIZAÇÃO MUNDIAL 
 
Os povos de origem luso-hispânica — quer sejam europeus, 
americanos, africanos ou asiáticos — ocupam um papel crucial nas 
últimas fases do alcance final dos povos ainda não-evangelizados. 
Não são apenas alvos missionários vindos das extremidades da terra 
para a adoração do Senhor, mas, como Paulo, irão até os confins da 
terra pregar aos povos não-evangelizados (Rm 15.20). 
Mas aqui se faz necessária uma advertência. Muitos 
missionários norte-americanos tiveram, durante o último século (e 
alguns têm, infelizmente, até hoje!), um sentimento de destino divino, 
não só por trás de seu chamado missionário, mas também de sua 
cultura.O resultado trágico tem sido a transmissão do evangelho com 
 
 
53 
uma atitude de superioridade e paternalismo. Qual o líder cristão 
ibero-americano que não encontrou isto? 
No meio de tanta conversa boa sobre o grande potencial 
missionário dos povos ibéricos — suas características de mobilidade, 
personalismo, profunda espiritualidade, laços históricos etc., há uma 
perigosíssima tendência de negligenciar as falhas e pontos fracos dos 
missionários norte-americanos. Precisamos aprender com nosso 
próprio contexto missionário. 
A vez dos povos ibéricos não surgiu agora. Desde o início, 
Deus tinha um papel crucial reservado para eles. Sigamos os 
admiráveis exemplos da história, enquanto permanecemos bem 
conscientes daqueles que não o são. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
APÊNDICE B 
 
UMA TAREFA ENORME: 
LEVAR O EVANGELHO 
A TODAS AS ETNIAS 
 
Neste capítulo, examinaremos a situação atual do avanço 
missionário no mundo e como podemos enfrentá-la. Uma vez que nos 
sentimos chamados ou vocacionados, então o que fazer e como nos 
preparar? Não podemos responder a estas perguntas de modo pessoal. 
Isto exige a direção do Espírito, que vem sob medida para o seguidor 
de Jesus. Entretanto, parte do processo de perceber tal direção é a 
informação e conscientização da necessidade e da situação 
evangelística do mundo. É a isto que nos propomos. 
Comecemos com nossa conceituação e linguagem sobre 
missões. 
 
MISSÕES ESTRANGEIRAS OU TRANSCULTURA1S? 
 
Durante muitas décadas, a igreja distinguiu metodicamente 
entre missões nacionais e missões estrangeiras. Era uma distinção 
geográfico-política, isto é, por país. Aliás, por trás de cada um destes 
conceitos havia uma estratégia missionária predominantemente 
geográfica. Assim sendo, as juntas missionárias estrangeiras 
procuravam distribuir seu trabalho entre alguns países, às vezes 
igualmente, apesar do tamanho da população e diversidade cultural 
de cada um. De forma semelhante, o alvo das juntas missionárias 
 
 
55 
nacionais era distribuir geograficamente seu trabalho em cada região 
ou município do país, apesar da frequente diferenciação populacional 
ou saturação por outras denominações. Com grande entusiasmo e 
convicção citávamos Atos 1.8 como base de nossa estratégia 
geográfica: "... e sereis minhas testemunhas... até aos confins da 
terra". Frequentemente a impressão dada era a de que quanto mais 
longe fosse, mais nobre seria o trabalho missionário. 
Então, se entendêssemos isto literalmente, para o brasileiro, 
os confins da terra corresponderiam à Micronésia, no Oceano 
Pacífico. É a região mais distante do Brasil. Entretanto, é também a 
região (proporcionalmente) mais cristã do mundo! A população 
professa é de 90%, enquanto os praticantes são mais de 65% da 
população total! Agora, pense no significado de Atos 1.8 para os 
micronésios. Entendido apenas geograficamente, ele indica que a 
região mais carente do evangelho para eles é o Brasil! Afinal de 
contas, qual região é mais carente diante de Deus? Tudo isto indica 
que, hoje, já não podemos mais entender "os confins da terra" como o 
alvo geográfico de missões. Os "confins da terra", geograficamente, 
só faziam sentido para a igreja primitiva, quando o evangelho ainda 
estava, em termos geográficos, restrito a uma pequena parte do 
Oriente Médio. Aliás, mesmo para a igreja primitiva, a ideia não era 
de simplesmente ir cada vez mais longe, mas de ir longe porque lá os 
povos ainda não haviam recebido o evangelho. Hoje, precisamos 
alcançar os não-alcançados onde quer que estejam, seja 
geograficamente longe ou perto. 
 
 
 
 
 
 
56 
ALCANÇANDO OS NÃO-ALCANÇADOS 
 
Nosso alvo missionário é alcançar aqueles que não receberam 
o evangelho de Cristo. Isto está implícito em Atos 1.8, apesar da 
interpretação apenas geográfica que frequentemente lhe é dada. O 
que Atos 1.8 deixa implícito, Romanos 15.19-21 deixa explícito: 
"... completei a pregação do Evangelho de Cristo. E me 
empenhei por anunciar o Evangelho onde ainda não havia sido 
anunciado o nome de Cristo, pois não queria edificar sobre 
fundamento alheio. Fiz bem assim, como está escrito: Hão de vê-lo 
aqueles a quem não foi anunciado e os que não ouviram entenderão" 
(Bíblia Vozes). 
Quando Paulo diz "completei a pregação...", ele está dizendo, 
literalmente, no texto original, "eu cumpri" ou "preenchi", como os 
versículos seguintes confirmam. Ele fez isto dentro de uma região 
geograficamente já alcançada por outros evangelistas — "desde 
Jerusalém circulando até ao Ilírico" (tradução minha). Paulo 
"preenchia" com o evangelho aquela região geográfica já alcançada, 
pregando aos povos que ainda não haviam recebido o evangelho. 
Tudo isso indica que nossa estratégia missionária deve dar 
prioridade aos povos não-alcançados pelo evangelho. É uma 
estratégia que não é simplesmente geográfica, mas fundamentalmente 
cultural. Com "cultural" queremos dizer que os povos culturalmente 
definidos são nosso alvo, não regiões geográficas em si. A grande 
comissão manda fazer discípulos de todas as nações, etnias, segundo 
o texto original (Mt 28.19). A tradução "nações" é um tanto infeliz, 
porque dá a ideia de países politicamente definidos, em vez de grupos 
étnicos ou povos culturalmente definidos. O mandamento é no 
sentido de discipular as etnias. 
 
 
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Este conceito está mais próximo da idéia bíblica e ilumina 
imensamente a tarefa missionária atual. No Brasil, há inúmeros 
grupos culturalmente distintos (veja o excelente filme da Visão 
Mundial sobre estes povos). Somente em São Paulo há um milhão de 
japoneses, 430.000 portugueses, 400.000 italianos, 200.000 chineses, 
180.000 espanhóis e não poucos coreanos, ciganos, alemães, sírios e 
outros. No país há centenas de tribos indígenas. 
Mas, vamos pensar em termos mundiais. Os missiólogos 
dizem que há aproximadamente 24.000 povos culturalmente 
definidos no mundo. Metade destes ainda não possui uma igreja 
cristã que possa continuar o trabalho de evangelização. Ora, se 
atualmente a evangelização destes povos não pode ser realizada por 
eles mesmos, isto exige alguém de outra cultura para evangelizá-los. 
Precisa-se, então, de missionários transculturais, pois cristãos têm 
que cruzar barreiras culturais para alcançá-los. 
Por isso, alguns falam de missões monoculturais e 
transculturais, em vez de missões nacionais e estrangeiras. Cremos 
que a primeira distinção é mais precisa e relevante para a situação 
evangelística do mundo. 
 
MISSÕES DO TERCEIRO MUNDO 
 
Alguns pensam que, até o ano 2000, mais da metade dos 
missionários cristãos será do Terceiro Mundo. Isto poderá representar 
um tremendo avanço na obra missionária. Por quê? Em primeiro 
lugar, a maioria dos 12.000 povos não-alcançados, que constituem 
60% da população mundial, faz parte de cinco blocos principais da 
humanidade: muçulmanos (860 milhões em 4.000 etnias), hindus 
(550 milhões em 2.000 etnias), budistas (275 milhões em 1.000 
 
 
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etnias), chineses han (150 milhões em 1.000 etnias) e religiões tribais 
(140 milhões em 3.000 etnias). Em segundo lugar, a maioria destes 
povos vive em países que, por razões históricas e sócio-políticas, não 
são simpáticos aos europeus ou norte-americanos. Em terceiro lugar, 
muitos destes países (por exemplo, os países muçulmanos e 
comunistas) não permitem a entrada de "religiosos profissionais", 
caso, geralmente, do missionário tradicional. Em quarto lugar, já que, 
em sua maioria, estes países estão procurando rápido 
desenvolvimento tecnológico e econômico, favorecem a entrada de 
profissionais; às vezes, até o próprio governo os emprega. 
Somando estes fatores, ficamos diante da necessidade aguda 
de missionários transculturais do Terceiro Mundo. E para alcançar os 
não-alcançados em países fechados aos missionários tradicionais, 
urge enviar, principalmente, profissionais com treinamento 
missionário. Na Arábia Saudita, por exemplo, há mais de 20.000 sul-
coreanos empregados na construção

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