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Gestão de Recursos Hídricos: Pressões e Planejamento

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Prévia do material em texto

Gestão de 
Recursos Hídricos
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos 
hídricos
5
•	 Introdução
•	 As	pressões	de	causas	naturais
•	 A	instabilidade	geológica	do	mundo	
•	 A	dinâmica	astronômica	e	o	ambiente	da	superfície	terrestre
•	 Variações	e	mudanças	climáticas
•	 Água	e	saúde	da	população
•	 Planejamento	e	gestão	de	recursos	hídricos
 · Os objetivos desta unidade são tratar das múltiplas pressões 
socioeconômicas sobre os recursos hídricos e analisar os principais 
mecanismos de planejamento para a minimização da degradação, proteção 
e monitoramento da qualidade das águas a serem distribuídas para os 
múltiplos fins a que se destinam.
Nesta unidade, trataremos sobre as pressões socioeconômicas e o planejamento em gestão 
de recursos hídricos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento(a) aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra sempre que possível às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais 
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
E em seu tempo livre, pesquise as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema “Pressões socioeconômicas 
x planejamento em gestão de recursos hídricos”. Há inúmeros conteúdos na internet que são 
bastante úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional.
Pressões socioeconômicas x planejamento 
em gestão de recursos hídricos
6
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
Contextualização
Corrida contra o tempo para salvar a Baía de Guanabara
Poluição, esgoto, assoreamento e despejo irregular de lixo sufocam o ecossistema escolhido para 
as provas de vela dos Jogos Olímpicos de 2016.
Por: Cecília Ritto, do Rio de Janeiro, 24/07/2011.
As águas escuras, quase sempre com algum lixo visível e dejetos, foram no século 19 o local 
escolhido por Dom João VI para seus banhos de mar. As praias abrigadas, paradisíacas, pelo 
que contam os relatos daquele tempo, são hoje o ralo de cerca de 10 milhões de moradores 
da região metropolitana do Rio. E o que se vê na Baía de Guanabara é que, desde os banhos 
do monarca, não se pensou nem se agiu de forma minimamente eficiente para preservar um 
ecossistema vital para toda essa gente.
Imaginar um Rio pronto para os Jogos Olímpicos de 2016 com a Guanabara nas condições 
atuais é impossível. E, apesar dos rios de dinheiro já empregados em programas de despoluição 
e em saneamento, só um projeto de dimensões olímpicas parece adequado para reverter o 
quadro que vem causando progressivamente a morte da baía.
A Baía de Guanabara vai receber as competições de vela das Olimpíadas de 2016. Mas 
quem navega diariamente no espelho d’água, nos dias de hoje - cerca de 100 mil passageiros 
por dia, pelas contas da Barcas S.A. -, disputa espaço com uma quantidade inestimável de lixo 
lançado nas encostas e cursos d’água dos municípios no entorno da ‘boca banguela’ - como 
cantou Caetano Veloso, na música em que cita as impressões de Claude Levi Strauss sobre a 
baía.
Nessas condições, realizar uma competição olímpica é impensável. Palavra de quem entende. 
“O detrito prejudica a performance do velejador imediatamente. O lixo pode enganchar no 
barco e torná-lo lento. Eventualmente, é possível que isso defina ou modifique o resultado 
de uma regata. Repercutirá super mal”, argumenta o iatista com maior número de medalhas 
olímpicas, Torben Grael.
Gilberto Rodrigues Corrêa, de 58 anos, não é iatista. Mas entende como poucos o que 
é navegar na Guanabara. Ele é segundo oficial de máquinas da marinha mercante. Trabalha 
nas barcas há 34 anos fazendo o trajeto para Paquetá e para a Ilha do Governador. Em 
uma de suas viagens do dia, contou à reportagem do site de VEJA sobre a época em que 
os passageiros desembarcavam em Paquetá e ele aproveitava para mergulhar na baía, até o 
horário de retorno da embarcação ao Rio.
Olhando para água, diz: “Sou um admirador disso daqui”. A cor da Guanabara já não é a 
mesma. De tão escura, não se vê nada além da superfície. Mergulhar? Nem pensar. “Piorou 
muito”, afirma. De uns tempos para cá, Corrêa passou a ver as barcas à deriva. O motivo é 
o lixo, que impede o prosseguimento da viagem até que o funcionário vá remover a sujeira.
Em um passeio pela baía, um passageiro avista sem dificuldades pedaços de isopor, peixes 
mortos, garrafas pet, sacolas de plástico, e, dependendo do dia, móveis, geladeira e até 
luvas de box. O lixo chega por 45 rios que desembocam nas águas da Guanabara. O esgoto 
7
também, pois nem 25% dele são tratados. O problema é visível: um terço da população do Rio 
de Janeiro vive em condições inadequadas, sem saneamento. O resultado não surpreende. A 
poluição dos rios do município de São Gonçalo, por exemplo, está 500% acima do permitido.
Quando o assunto é a despoluição da baía, o dinheiro some com a mesma facilidade 
com que o lixo aparece. Em 1993, o então governador Leonel Brizola lançou o Programa 
de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que durou até 2006 e custou um bilhão de 
dólares. Na prática, nenhuma diferença foi notada na baía. Três estações de Tratamento de 
Esgoto foram erguidas há mais de dez anos, mas até hoje não funcionam. O problema, nesse 
caso, não é de difícil compreensão: os ‘doutores’ da época não previram que, para chegar às 
estações, seria necessário existir a rede de esgoto, que continua incompleta.
Só agora, através de um novo projeto chamado Programa de Saneamento dos Municípios 
do entorno da Baía de Guanabara (PSAM), é que os troncos construídos para levar o esgoto 
serão interligados a essas estações. No caso de São Gonçalo, os dutos ainda não existem.
O PSAM terá recursos do PAC, do fundo estadual de conservação estadual e do Banco 
Interamericano de Desenvolvimento. Ao total, serão 640 milhões de dólares. As obras têm 
início previsto em 2012 e será preciso correr contra o tempo para o investimento ter algum 
efeito a tempo dos Jogos Olímpicos. A ação, nesse caso, não pode ser isolada: o entorno da 
baía recebe a influência de uma área 10 vezes maior do que a dela. Ou seja, se todo o lixo e a 
poluição desaparecessem em um passe de mágica, mas nada fosse feito nos rios, na coleta de 
lixo de favelas nesse entorno, em algumas horas a poluição recomeçaria.
Os sedimentos não param de chegar à Baía de Guanabara em quantidade maior do que o 
natural. Um estudo feito pela UFF mostra que a taxa desses sedimentos na época de ocupação 
indígena era de apenas 0,14 centímetro ao ano, considerada normal. De 1922 a 1957, a 
taxa foi para 0,49 centímetro. No intervalo entre 1997 a 2004, a baía começou a perder 
1,25 centímetros anuais. O resultado é uma ainda imperceptível, mas mortal, redução da 
profundidade do espelho d’água.
Algumas metas do PSAM para 2016: o funcionamento das três estações já prontas, a 
ampliação da maior estação de esgoto da cidade do Rio, chamada Alegria, de 2.500 litros por 
segundo para 7.400 litros, a criação de uma outra em Alcântara e a construção de dutos na 
Baixada Fluminense. O objetivo principal é aumentar de 30% para 60% o esgoto tratado no 
Rio de Janeiro, e dentro desse aumento a Guanabara não está sozinha - há ainda a Baixada 
de Jacarepaguá, toda a Barra da Tijuca e áreas com sistema precário em bairros próximos do 
centro do Rio.
O processo será lento. “Os benefícios sobre a baía não se darão imediatamente. Serão 
necessários anos para surtir efeito. Primeiro, vamos interromper a evasão de esgotos para o 
mar. Depois vem o processo de recuperação da baía”, afirma o superintendente da secretaria 
de estado do Ambiente, Gelson Serva, que tem a difícil tarefa de melhorar a situação da Baía 
de Guanabara até os Jogos Olímpicos. “Nas Olimpíadas sentiremos um avanço. Mas será 
progressivo até 2020”, prevê.Educação e paciência - A ambição de melhorar significativamente a água da baía em cinco 
anos parece impossível. Primeiro teria que limpar todos os rios, o que já é muita coisa. Depois, 
tem a questão do lixo, que passa por uma tarefa ainda mais difícil: a educação. “É inviável deixar 
a Baía limpa até 2016”, afirma o professor de geologia da Universidade Federal Fluminense 
8
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
(UFF) José Antônio Baptista Neto. E a lista das tarefas vai além. Os lixões do entorno da 
Guanabara, como o de Gramacho, ainda lançam chorume. É trabalho para décadas. Pelos 
cálculos de Baptista, uma política séria de saneamento só teria efeito após 20 anos.
Voltar ao cenário que levava Dom João VI a se banhar na Baía de Guanabara é impossível. 
E mesmo com todo o dinheiro que se promete investir, os envolvidos na despoluição admitem 
que a meta é devolver à água um aspecto aceitável. Isso significa, em uma perspectiva realista, 
que se todas as promessas respeitarem o cronograma previsto, será possível chegar em 2016 
com a baía um pouco menos escura e com uma quantidade menor de lixo boiando pelas 
águas. A construção de aproximadamente 40 ‘ecopontos’ até o final de 2011 é uma ação 
da secretaria estadual do Ambiente que tem por objetivo reduzir a quantidade de dejetos 
despejados pela população nos rios.
“A Baía de Guanabara é a imagem do Brasil mais usada no exterior. Uma imagem suja 
também prejudica a imagem do país. Ela é a nossa sala de visitas. Os dois aeroportos ficam 
dentro dela”, argumenta Dora Negreiros, presidente da ONG Baía de Guanabara.
A professora de química da PUC-Rio Angela Wagener lembra ainda que outras ações 
são necessárias, como replantar a cabeceira dos rios e a mata ciliar. Caso contrário, a cada 
chuva continuará a chegar à baía uma enxurrada de sedimentos, causados em parte pelo 
desmatamento das florestas. O solo é lavado e levado para a Guanabara. “Não adianta dragar 
e não fechar as torneiras que levam os sedimentos e o material contaminado. Senão, é como 
tentar enxugar o oceano”, explica Angela.
Fonte: RITTO, Cecília. Corrida contra o tempo para salvar a Baía de Guanabara. Disponível em: 
<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/corrida-contra-o-tempo-para-salvar-a-baia-de-guanabara/>. Acesso em: 13 abr. 2015.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/corrida-contra-o-tempo-para-salvar-a-baia-de-guanabara/
9
Introdução
Atualmente, diversos mecanismos de proteção ambiental vêm sendo sobrepostos com vistas 
a dar maior segurança para os recursos hídricos. Isso se deve ao fato de que a intensificação 
verificada nas atividades humanas tem contribuído de forma significativa para o aumento 
quantitativo e qualitativo da relação produção/consumo, o que significa a mobilização de 
maiores contingentes de trabalhadores nas cidades, maiores demandas por energia e maiores 
quantidades de água utilizada nos processos de produção e no consumo humano.
Nesta unidade, analisaremos os principais focos de pressão sobre os recursos hídricos e 
como a gestão destes tem atuado no sentido de garantir o uso e, ao mesmo tempo, diminuir 
os impactos sobre os mesmos.
A água compõe um ambiente, a hidrosfera, que está integrado aos outros elementos 
constituintes do ambiente da superfície terrestre: a litosfera (rochas e solos), a biosfera (seres 
vivos) e a atmosfera (ar). Cada um desses ambientes não se formou do dia para a noite; pelo 
contrário, são constituídos ao longo do tempo geológico, portanto formados há milhões de anos.
Um aspecto bastante interessante da nossa percepção a respeito desses ambientes é a da 
integração que apresentam. Cremos que cada um desses ambientes forma uma engrenagem 
que move os outros e que, por assim dizer, é responsável pela estabilidade dos outros. É essa a 
“máquina do mundo newtoniana” (CAPRA, 1982). Mover uma “peça” do lugar ou provocar um 
mau funcionamento poderia comprometer todo o trabalho da “máquina”, isto é, da natureza.
Em outra visão mais recente a respeito de natureza, que empresta um pensamento antigo, 
acredita-se que o mundo não seja exatamente uma máquina, mas uma estrutura viva, com alma, 
a “anima mundi” de Platão. Para esse pensamento, existe uma relação intrínseca entre todos 
os ambientes que compõem o mundo, e essa inter-relação é capaz de dotar o mundo de alma e 
de inteligência ligada ao corpo físico/geológico... Um mundo vivo (LOVELOCK, 2007).
Em ambas as visões de mundo, podemos notar implicitamente a existência de um princípio 
que se notabiliza na concepção da ideia de natureza: o equilíbrio. A ideia de equilíbrio da natureza 
é atualmente uma das grandes bandeiras do movimento ambientalista, que influenciou e continua 
a influenciar as tomadas de decisão quanto às políticas públicas nacionais, nas quais é creditada 
ao homem a capacidade de alterar e comprometer o tal equilíbrio do mundo.
Entretanto, diversos estudos vêm demonstrando nas últimas décadas que o mundo não é tão 
estável assim e que a estabilidade esperada não só não está sendo completamente comprometida 
pelas atividades humanas, mas há uma série de causas naturais para que encaremos as situações 
de repouso como exceção à regra, que é na verdade muito mais fruto da instabilidade.
As pressões de causas naturais
10
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
Até bem pouco tempo atrás, apesar das evidências provarem o contrário, mesmo o 
pensamento científico humano desacreditava das suspeitas de instabilidade na superfície 
terrestre. Entretanto, durante o século XX, surgiram diversas evidências incontestáveis de que 
a existência de fósseis marinhos a grandes altitudes montanhosas não se devia a um fenômeno 
catastrófico como o do mito do dilúvio universal dos escritos religiosos, mas, ao contrário, da 
mobilidade horizontal e vertical da litosfera.
Atualmente, a teoria da Tectônica de Placas, ou Tectônica Global, concebe a superfície terrestre 
como um conjunto de partes móveis que se superpõem ou se separam permanentemente e 
que, devido a isso, a tal estabilidade que caracteriza os lugares é bastante dinâmica, visto que 
as superfícies emersas aumentam e diminuem ao sabor da dinâmica da litosfera.
A teoria moderna da instabilidade da litosfera foi inicialmente proposta por Abrahan Ortelius 
em Thesaurus Geographicus, de 1596, no qual afirma que as Américas “[...] foram rasgadas e 
afastadas da Europa e África por terremotos e inundações” (MANSUR, 2013). Tal proposição 
foi corroborada por Francis Bacon no Novum Organum, de 1620, e, muito posteriormente, 
retratada pelo geógrafo Antonio Snider-Pellegrini, em 1858 (Figura 1).
Figura 1.	Justaposição	das	margens	africana	e	americana	e	do	Oceano	Atlântico,	por	Antonio	
Snider-Pellegrini	(1858),	como	indicavam	Ortelius	e	Bacon.	
*Esquerda: antes da separação; direita: depois da separação.
Fonte: Wikimedia Commons
Em 1914, Alfred Wegener associou diversas evidências apresentadas por pesquisas nas 
áreas de paleontologia, geologia e glaciologia e conjecturou a teoria da Deriva dos Continentes, 
que posteriormente veio a constituir a Tectônica de Placas. A Figura 2 ilustra a proposta de 
Wegener para a mobilidade dos continentes. Segundo o autor, todos os continentes atuais 
seriam originados a partir de um supercontinente denominado por ele de Pangeia, fragmentado 
ao longo dos últimos 230 a 225 milhões de anos.
A instabilidade geológica do mundo 
11
Figura 2.	Provável	movimento	da	deriva	dos	continentes,	que,	segundo	Wegener,	divide	o	
Supercontinente	Pangeia	e	o	Oceano	Pantalassa.
Atualmente, são considerados três os movimentos existentes na litosfera:
 · As margens construtivas: geradas por correntes de convecção divergentes no manto. 
São responsáveis pela expansão do assoalho dos oceanos;
 · As margens destrutivas: geradas por correntes de convecção convergentes. São 
responsáveis pela formação dos dobramentos modernos ou montanhas como o Himalaia, 
Andes, Alpes e à ascensão doarquipélago do Japão, surgidas no Cenozoico há cerca de 
65 milhões de anos;
 · As margens transcorrentes ou de transformação: são falhas ou fissuras na 
litosfera, geradas por fricção promovida por correntes que se movem na mesma 
direção, mas em sentidos contrários, como o que ocorre na Península da Califórnia 
com a Falha de San Andreas.
Esses três tipos de contato de placas na litosfera são responsáveis por toda a instabilidade 
observada na superfície, como os terremotos ou sismos de maneira geral, tsunamis ou 
maremotos e o vulcanismo, todos explicados, hoje, pela Tectônica de Placas. A Figura 3 é 
uma síntese comparativa entre os três tipos de margens observados nos tópicos anteriores.
Figura 3.	Tipo	de	margens	ou	limite	de	contato	na	crosta	terrestre.
Fonte: ufrr.br
12
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
A dinâmica astronômica e o ambiente da superfície terrestre
A Terra é o 4º Planeta do sistema solar, estando a uma distância de cerca de 150 milhões de 
km do Sol. Há diversos movimentos astronômicos ocorrendo concomitantemente no sistema 
solar e muitos deles feitos pela Terra. Dois desses movimentos de grande importância para a 
manutenção dos ambientes terrestres são:
 · Translação: é a órbita que a Terra faz ao redor do sol, a uma velocidade média de 
107.208 km/h. Uma volta completa da Terra ao redor do Sol é efetuada em 365 dias, 5 
horas, 48 minutos e 45,97 segundos;
 · Rotação: movimento que a Terra faz ao redor de si mesma, no sentido Oeste-Leste. 
Esse movimento tem uma velocidade de 1.674 km/h. Uma volta completa da Terra leva 
23 horas, 56 minutos e 4,09 segundos. Tal movimento é o responsável pela alternância 
dia/noite e diretamente pela distribuição da radiação solar por toda a superfície terrestre.
Entre os movimentos supracitados, devemos considerar a eclíptica: uma inclinação de 23°27’ 
entre a rotação e a translação, que é responsável pelas variações de intensidade da radiação solar 
na superfície terrestre ao longo do ano, ao que denominamos de estações climáticas.
Outra variável astronômica de grande importância para o ambiente terrestre é a relação 
gravitacional estabelecida entre a Terra, a Lua e o Sol, que tem como consequência a 
oscilação das marés.
Cada um desses movimentos, entre outros não mencionados, são bastante dinâmicos, e 
suas variações podem repercutir diretamente nos ambientes da superfície terrestre.
As variações climáticas podem ser muito rápidas, como as que ocorrem dentro das normas 
climatológicas (30 anos). Podem também ser seculares, como aquelas registradas entre 100 e 
200 anos e aquelas que podem remeter ao tempo geológico na casa dos milhares a milhões 
de anos. Para cada caso, aplicam-se procedimentos técnicos específicos, a saber: a observação 
instrumental, para as mudanças de curto prazo, e as análises históricas sobre indicadores 
biológicos (adaptações anatômicas e fisiológicas, fósseis, polens e dendrocronologia), litológicos 
(estratos sedimentares) e morfológicos (sistemas erosivos e de sedimentação), para conjecturar 
mudanças a longo ou longuíssimo prazos.
No geral, o que chamamos de mudanças climáticas dizem respeito às alterações na circulação 
atmosférica que implicam alterações nas médias térmicas e nos totais de precipitação, nas 
áreas cobertas pelas superfícies aquáticas e do gelo glacial.
Variações e mudanças climáticas
13
Estudos paleoclimáticos indicam que boa parte dos levantamentos mostra que há cerca de 
300 a 350 milhões de anos a Pangeia apresentava um clima glacial e estava coberta por uma 
extensa camada de gelo. Conjecturas sugerem que há cerca de 700 milhões de anos, o gelo 
glacial cobria as atuais superfícies das terras do hemisfério Norte.
Desde a origem do Planeta, há cerca de 4,5 bilhões de anos, até o fim do pré-Cambriano, em 
torno de 642 milhões de anos, o clima era bem mais quente. É provável que a água dos oceanos 
tenha se juntado e o ciclo hidrológico tenha se constituído nessa fase da evolução da Terra.
Estudos paleoclimáticos indicam que desde o Cambriano (642 milhões de anos) até a 
atualidade já ocorreram diversas “idades do gelo”. A Figura 4 apresenta de forma esquemática 
a evolução das mudanças climáticas na superfície terrestre.
Figura 4.	Evolução	das	mudanças	climáticas	na	Terra.
Fonte: essayweb.net
Ao analisar a imagem da Figura 4, podemos observar que durante o pré-Cambriano as 
temperaturas na superfície eram bem mais elevadas do que a atual. Ao final do 3º bilhão de anos 
e entre 1 bilhão e 542 milhões de anos, suspeita-se que tenham ocorrido duas idades do gelo. 
A partir do Cambriano, diversas eras do gelo sucederam-se até quase estabilizar-se ao longo do 
Plioceno, período que antecede o atual Holoceno, a ser analisado mais detidamente a seguir.
Analisando pormenorizadamente o Holoceno, período iniciado há cerca de 1 bilhão de anos, 
até o presente, observam-se diversas idades do gelo intercaladas por períodos interglaciais. A 
Figura 5 representa as oscilações climáticas que ocorreram mais recentemente na história da 
Terra. Nesse estágio da evolução da Terra, é provável que os volumes de água doce e salgada, 
as taxas de precipitação (chuva) e os volumes de vapor no ar tenham variado significativamente 
em toda a superfície.
Figura 5.	Evolução	térmica	da	superfície	terrestre	dos	últimos	850.000	anos.
Fonte: Adaptado de Ayoade (1983, p. 217).
14
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
A última grande fase de glaciação ocorreu no período Pleistoceno, entre 22.000 e 
14.000 anos. Nesse intervalo de tempo, as geleiras estenderam-se pelas terras emersas 
do hemisfério Norte, o que permitiu que os ancestrais asiáticos atravessassem o estreito de 
Bering e colonizassem o continente americano a partir do Norte até os confins da América 
do Sul. O descongelamento e o recuo do gelo à posição atual no continente europeu e 
norte da Ásia ocorreram há cerca de 8.500 anos. Na América do Norte, esse processo 
se deu por volta de 7.000 anos atrás, variando entre médias térmicas mais baixas e mais 
altas que a atual.
Entre os anos 1000 e 1350, as temperaturas no hemisfério Norte estiveram 
significativamente mais elevadas em comparação à fase anteriormente observada e 
também às médias térmicas atuais da superfície terrestre. Nesse período, denominado 
pela Climatologia de “quente medieval”, houve na Europa uma fase de superprodução 
agrícola devido ao aumento da faixa de terras cultiváveis que se estenderam até o atual 
Norte periglacial, ao ponto de os dinamarqueses (“vikings”) terem ocupado e explorado as 
terras livres do gelo da Groenlândia (Greenland ou “terra verde”). Nesse período, houve 
um significativo aumento da população europeia, de cerca de 35 milhões para cerca de 80 
milhões de habitantes, diferentemente de tempos anteriores, quando havia muitas doenças 
e escassez de alimentos.
O período entre 1550 e 1850 é conhecido como Little Ice Age (Pequena Era ou Idade 
do Gelo). Nesse contexto, as temperaturas baixaram significativamente e as geleiras 
do hemisfério Norte expandiram-se consideravelmente, ao ponto de gerar uma crise 
econômica no campo, devida à diminuição das áreas de cultivo e pastagem. Isso repercutiu 
negativamente na Europa, que empreendeu e/ou acentuou a exploração das terras e da 
mão de obra escrava nas colônias da América para suprir a falta de produção interna de 
gêneros alimentícios e de bens de consumo em geral. A Figura 6 apresenta o contraste 
entre os dois períodos climáticos analisados.
Figura 6.	Período	Quente	Medieval	e	Pequena	Idade	do	Gelo	no	comparativo	sobre	a		
referência	zero	grau	Celsius	(0	°C).
Fonte: ppegeo.igc.usp.br
Também podemos observar oscilações climáticas em tempos mais recentes. A Figura 7 
representa as variáveis registradas para o hemisfério Norte. Esses valores foram medidos a 
partir de 1880, quando a observação instrumental dos parâmetros hídricos passou a ser mais 
frequente e precisa.
15
Figura 7.	Temperaturaglobal	média	(verm.)	e	oscilações	térmicas	no	hemisfério	Norte.
Fonte: adaptado de Ayoade (1983, p. 223).
Em comparação à média global aproximada de 15 °C, as temperaturas do hemisfério 
Norte apresentam subidas e descidas alternadas, sendo que a partir de 1940, segundo 
Ayoade (1983), após uma ascensão considerável, os resultados mostraram uma queda para 
e equiparação à média global.
Evidentemente que todas essas variações analisadas repercutem diretamente nos volumes de 
água salgada e doce, nas taxas de precipitação (chuvas) e nos totais de vapor evapotranspirados 
para o ar a partir da superfície. Isso quer dizer que o volume de água em seus diferentes 
estados físicos está intrinsecamente relacionado à dinâmica terrestre, que, por sua vez, é 
significativamente instável.
A noção que temos de equilíbrio e estabilidade no ambiente é devida às nossas limitações em 
compreender tal dinâmica. Além disso, a espaço-temporalidade humana é significativamente 
mais curta que a natural. Isso dificulta mais ainda a percepção das transformações praticamente 
permanentes por que passa a natureza sem que percebamos, ao contrário do que ocorre 
com as transformações produzidas pelo homem na superfície terrestre, que são bem mais 
facilmente percebidas.
As	pressões	de	causas	humanas	ou	tecnológicas
Diversas atividades humanas podem ser consideradas como causadoras de pressão sobre o 
meio ambiente em geral e sobre a água, de forma mais específica. As pressões podem ocorrer 
por meio do que caracterizamos como vetores de pressão. Esses vetores podem ser qualquer 
conjunção de forças, com origens múltiplas, materializadas em ações que exercem pressão 
sobre o ambiente. Eles podem contribuir direta ou indiretamente para acelerar os processos 
degenerativos ambientais.
Consideram-se vetores de pressão sobre os recursos hídricos o lançamento de resíduos 
sólidos ou líquidos com propriedades físicas, químicas e/ou biológicas nas águas que estejam 
acima da capacidade de autodepuração natural destas. Vejamos os principais vetores de ordem 
socioeconômica.
16
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
As	pressões	que	vêm	do	campo
A agricultura, a pecuária e os extrativismos mineral e vegetal estão entre os vetores de 
pressão mais importantes sobre os recursos hídricos. No geral, tal conjunto de atividades 
contribui para a degradação dos recursos hídricos na medida em que alteram a qualidade 
original das águas, além de interferirem no ciclo hidrológico natural.
A agricultura e a pecuária estão entre as atividades humanas mais importantes, pois são as 
fontes de alimentação de toda a humanidade. No entanto, a apropriação privada da terra e a sua 
conversão em ambiente de geração de capital e voltada para os interesses de mercado embutiu 
o princípio da produtividade a partir da monocultura agroindustrial. O campo transformou-se 
numa fábrica a céu aberto.
Para que o rendimento da exploração da terra seja viável do ponto de vista mercadológico, 
é necessário explorar o solo ao máximo por meio do emprego de pesticidas e fertilizantes 
industrializados, bem como da irrigação permanente. A agricultura é de longe o setor econômico 
que mais consome e desperdiça água para irrigação. Ainda que atualmente alguns visionários 
tenham implementado sistemas bem mais racionais de irrigação com volumes mínimos, boa 
parte dos produtores não tem a mesma sensibilidade e responsabilidade social, mantendo 
sistemas antiquados e excessivamente consumistas de recursos hídricos.
A agricultura tem outro fator contribuinte para a perda da qualidade das águas superficiais e 
subterrâneas, que é o emprego de pesticidas, os quais podem conter contaminantes bastante 
agressivos. Esses contaminantes podem não só comprometer a qualidade da água de consumo 
como também contaminar a população por meio da ingestão de pescados contaminados.
A pecuária desempenha um papel bastante relevante na diminuição da qualidade original 
das águas, tendo em vista que a substituição da cobertura original pelas pastagens ocasiona 
a mudança na característica dos solos - e por esse motivo, alterando também os sistemas de 
escoamento superficial, que têm seu volume aumentado, e na redução da infiltração de água, 
implicando a diminuição do armazenamento subsuperficial e subterrâneo.
Não se podem deixar de lado as atividades de extração mineral, já que os acúmulos de 
rejeitos de mineração podem contaminar tanto as águas superficiais quanto as subterrâneas.
As	pressões	urbanas
As cidades têm sido grandes núcleos de pressão sobre os recursos hídricos. A 
impermeabilização, acompanhada da canalização dos cursos d’água que atravessam grandes 
densidades de população, praticamente elimina o armazenamento e impossibilita o uso das 
águas que cortam o ambiente urbano. Ademais, a impermeabilização acompanhada da 
canalização elimina a infiltração e confina o escoamento da água das chuvas, o que leva à 
ocorrência de inundações cada vez mais frequentes e desastrosas em áreas muito chuvosas.
No Brasil, as cidades têm crescido de forma rápida e desordenada em termos de ocupação. 
Por esse motivo, os mananciais têm sido comprometidos devido à supressão de vegetação, 
consumidora de CO2 e do despejo de resíduos domésticos e efluentes industriais nos canais 
17
do escoamento da drenagem, provocando a eutrofização1 da água. Além disso, a captação 
das águas sem nenhum tipo de controle vem eliminando as fontes de armazenamento urbano, 
comprometendo, ainda mais, o abastecimento da população.
Outro aspecto a ser mencionado é a qualidade das chuvas que caem sobre as grandes 
cidades e que vão ser armazenadas nos reservatórios que servem ao abastecimento público. 
A chuva trás consigo todos os componentes atmosféricos poluentes para o solo, sendo que 
alguns deles, como os óxidos emitidos pela queima de combustíveis fósseis, tornam as chuvas 
mais ácidas do que naturalmente são.
Reverter ou minimizar a problemática supracitada significa interromper e reverter o 
processo de ocupação das áreas de mananciais, interromper e evitar o despejo de resíduos 
nos cursos d’água e evitar a impermeabilização do solo urbano. Para isso, são necessárias 
políticas públicas urbanísticas sérias, abrangentes e eficazes, bem como um amplo programa 
de educação ambiental permanente das populações das cidades.
As políticas públicas voltadas à oferta de água, quando ocorrem de maneiras minimamente 
adequadas, em termos de tratamento e distribuição, não incluem o incentivo ao uso de águas 
pluviais ou de reuso. O que acaba levando ao mau hábito do uso da água tratada para fins de 
limpeza dos ambientes construídos, irrigação de jardins e higienização doméstica.
A combinação dos dois aspectos anteriormente mencionados conduz à busca por mananciais 
cada vez mais distantes dos centros de consumo de água, o que acaba colocando em risco 
o abastecimento devido ao fato de haver grande diversidade de atividades humanas entre a 
origem e o destino das águas de abastecimento. 
Curiosamente, apesar de o Brasil ser caracterizado por uma das maiores reservas de água 
doce do mundo, a falta de cuidados com as matas ciliares e a poluição das águas superficiais e 
subterrâneas podem levar à escassez, o que antes só se admitia para aquelas regiões do mundo 
em que as reservas são naturalmente menores.
Um exemplo bastante elucidativo dessa questão ocorre nos EUA. A municipalidade da 
cidade de Nova York tomou uma iniciativa inovadora para garantir a qualidade das águas de 
consumo da população residente na cidade. A prefeitura adquiriu as terras no entorno dos 
mananciais que abastecem os rios que são captados para os reservatórios da cidade. Alguns 
lotes estão a mais de 200 km da cidade e passam por diversas propriedades particulares, nas 
quais a atividade principal é a pecuária extensiva.
Além de adquirir as terras, a prefeitura estabeleceu diversas parcerias com as comunidades 
rurais vizinhas aos mananciais, fornecendo equipamentos para drenara água de escoamento 
superficial que arrastam excrementos do gado para dentro dos córregos que formam os 
rios; forneceu sementes para a revegetação das margens dos córregos e cercou os leitos dos 
riachos para que o gado não tenha acesso aos cursos d’água. Além disso, a prefeitura de Nova 
York financiou diversas melhorias nas propriedades ao longo do trajeto dos mananciais. Em 
troca, os proprietários foram convencidos a contribuírem com a proteção dos cursos d’água. 
Resultado: a água distribuída pela concessionária de Nova York é uma das mais seguras do 
mundo, incluindo a dos bebedouros públicos.
1 Trata-se do aumento da flora aquática (algas) devido ao aumento excessivo de elementos considerados nutrientes, como o nitrogênio e o 
fósforo na água.
18
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
É de longa data a relação entre as doenças que assolam a humanidade e as águas contaminadas 
com patógenos nocivos e com elementos químicos e físicos prejudiciais à saúde. O problema 
é que a água não detém naturalmente essa capacidade de causar o mal, mas é o homem que 
a torna maligna, graças ao lançamento de elementos contaminantes nas águas.
A água contaminada é um vetor de doenças por contato físico ou por ingestão. O aumento 
da escala de ocorrência de infecções é esperado para os períodos com maiores taxas de 
precipitação. Animais domésticos e silvestres, em particular os ratos que vivem nas cidades, 
são repositórios de doenças, pois abrigam o vírus leptospira nos rins. Sua urina acaba 
transmitindo o vírus para o ambiente, a partir do qual vai infectar a água e todas as pessoas 
que tiverem contato direto com ela.
Os períodos chuvosos são mais propícios à maior quantidade de casos de infecção, pois as 
pessoas circulam desprotegidas nas ruas alagadas em contato direto com a água contaminada. 
Em um estudo sobre a ocorrência da leptospirose na cidade de Curitiba, de Paula (2005) 
constatou a correlação entre as chuvas de verão e o aumento de casos de atendimento à 
infecção por leptospirose na rede de saúde local (Figura 8).
Figura 8.	Ocorrência	de	leptospirose	em	Curitiba	-	PR	(1997	-	2001).
Fonte: de Paula (2005, p. 2306.)
Os mais sérios problemas de saúde das populações têm sido originados pela ingestão de águas 
contaminadas. Muitos parasitas têm boa parte do seu ciclo de vida desenvolvido na água doce, 
pois daí é possível chegarem aos hospedeiros, de onde vão eclodir em forma de vermes que 
passam a existir como parasitas no corpo humano. Existem diversos programas internacionais 
voltados para a erradicação das infestações que atingem o homem, especialmente nos países 
mais pobres, nos quais boa parte das populações não tem acesso à água potável e segura.
A Figura 9 apresenta a relação entre acesso à água e mortalidade infantil.
Água e saúde da população
19
Figura 9.	Mortalidade	infantil	e	acesso	à	água	potável	(2000).
Fonte: Simielli (2000).
A observação atenta da imagem da Figura 9 permite constatar que a maior parte das ocorrências 
de mortalidade infantil está associada às localidades nas quais boa parte das populações não tem 
acesso à água potável, fazendo uso de fontes contaminadas para o consumo.
A esta altura, podemos supor se há formas de minimizar as situações de penúria por que 
passam as populações em relação à falta de água de boa qualidade para o consumo.
A resposta para essa questão, além de complexa, depende bastante dos aspectos que 
caracterizam os lugares no que diz respeito ao âmbito socioeconômico e natural. Um 
diagnóstico preciso e um programa a médio e longo prazo, com execução independentemente 
dos interesses políticos, são um bom começo para a minimização dos atuais problemas sociais 
e de saúde ligados à falta de água de consumo e saneamento de modo geral.
Diversos modelos de gestão podem ser observados como exemplo. No Brasil, o modelo 
implantado no Estado de São Paulo passou a servir de exemplo para os outros estados nos 
quais tem sido aplicado ou experimentado.
O	modelo	paulista	de	gestão	de	recursos	hídricos
Temos visto que a experiência adquirida no Estado de São Paulo em relação à gestão dos 
recursos hídricos tem servido de exemplo para outros estados e até ao governo federal. Assim, 
vejamos alguns aspectos básicos da aplicação do modelo paulista.
Planejamento e gestão de recursos hídricos
20
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
A Política Estadual de Recursos Hídricos e o Plano Estadual de 
Recursos Hídricos
O Plano Estadual de Recursos Hídricos é um dos instrumentos da Política Estadual de 
Recursos Hídricos, criada pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, fundado em 1997. A 
Política Estadual de Recursos Hídricos norteia o Plano Estadual de Recursos Hídricos a partir 
de uma série de princípios.
Até a criação da política supracitada, na década de 1990, o Estado de São Paulo apresentava 
um total de disponibilidade hídrica superficial global de 3.140 m3/s. As demandas de consumo 
giravam em torno de 354 m3/s, sendo esse volume distribuído da seguinte forma: 87 m3/s - 
abastecimento urbano; 112 m3/s – indústria; e 154 m3/s – agricultura irrigada (CETESB, 1990).
Segundo a CETESB (1990), no contexto que precede a criação da política de águas em São 
Paulo, havia um cenário futuro de bastante preocupação, tendo em vista que havia:
 · Perspectivas de crescimento exponencial das demandas de consumo para um total de 
800 m³/s;
 · Ausência de tratamento de esgoto na grande maioria dos municípios paulistas;
 · Falta de controle da carga poluidora nos lançamentos das indústrias;
 · Avanço lento, mas progressivo, na contaminação dos aquíferos subterrâneos;
 · Ocupação desordenada nas margens dos grandes reservatórios e ao longo das vertentes 
dos mananciais das cidades;
 · Erosão em grande parte dos solos agricultáveis e consequente assoreamento dos cursos 
d’água superficiais.
Levando-se em conta todos esses aspectos que prenunciavam uma crise iminente na 
relação disponibilidade/uso dos recursos hídricos em São Paulo, vislumbrou-se a necessidade 
de um plano contendo programas de estudos, projetos, serviços e obras, tendo em vista o 
controle, a recuperação, proteção e conservação dos recursos hídricos. Isso culminou na 
Política Estadual de Recursos Hídricos, ou Lei de Águas Paulista, construída sobre as bases 
que são relacionadas a seguir.
Princípios fundamentais da Política Estadual de Recursos Hídricos 
(Lei n. 7.663, de 30 de dezembro de 1991)
 · A água é essencial à vida, necessária a quase todas as atividades humanas e fator de 
equilíbrio dos ecossistemas;
 · O ciclo hidrológico é indissociável. As águas superficiais e subterrâneas são o mesmo 
recurso fluindo por meios físicos diferentes. O binômio quantidade/qualidade é indivisível;
 · Embora a água seja um recurso natural renovável, não é inesgotável, sendo necessário 
controlá-la e conservá-la;
 · O recurso hídrico é bem econômico ao qual deve ser atribuído justo valor. Seu significado 
21
e importância são diferentes para cada uso e a sua distribuição equitativa entre eles 
deve considerar aspectos econômicos e sociais. Seu uso deverá ser cobrado segundo as 
peculiaridades de cada bacia hidrográfica;
 · A água é um patrimônio público cujo uso deve depender de outorga;
 · Os efeitos adversos das inundações, do assoreamento e da poluição das águas devem ser 
combatidos por seus riscos à segurança e à saúde pública e pelos prejuízos econômicos 
e sociais que acarretam.
Princípios de aproveitamento
 · O aproveitamento dos recursos hídricos deve considerar sua distribuição equitativa e seu 
uso racional, a maximização do desenvolvimento econômico e social e a minimização 
dos impactos ambientais;
 · O suprimento de água potável às populações deve ser a principal prioridade, 
discriminando-se e protegendo-se mananciais de abastecimento atuais e futuros;
 · O uso múltiplo dos recursos hídricos será incentivado e considerado forma de 
desenvolvimento econômicoe social;
 · As obras de aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos terão seus custos rateados 
entre os setores beneficiários, na forma da lei; e
 · Os corpos de água deverão ser mantidos em padrões de qualidade compatíveis com 
seus usos preponderantes.
Princípios de proteção, conservação e controle
 · A gestão de qualidade da água deverá compatibilizar: os potenciais de assimilação 
pelos corpos de água de cargas poluidoras urbanas, industriais e outras; os padrões 
admissíveis de lançamento de efluentes; o enquadramento dos corpos de água em 
classes de uso preponderantes; a outorga de usos; e o licenciamento de atividades 
potencialmente poluidoras;
 · Serão adotadas medidas preventivas para a proteção da qualidade das águas, direcionadas 
ao controle do uso do solo, planejamento da localização industrial e normatização de 
lançamento de efluentes, em conjunto com medidas corretivas envolvendo o tratamento 
de esgotos urbanos e industriais;
 · Os planos de uso e ocupação do solo deverão limitar a urbanização de áreas inundáveis, assim 
como a excessiva impermeabilização do solo, para evitar o agravamento das inundações;
 · O solo agrícola será alvo de programa de uso racional e conservação, tendo em vista 
evitar o assoreamento e a redução dos corpos de água;
 · Os movimentos de terra na construção de estradas, arruamentos e loteamentos devem 
considerar a conservação do solo e da água;
22
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
 · As águas subterrâneas, reservas estratégicas para o suprimento das populações, terão 
programas permanentes que visem à sua proteção e conservação;
 · As águas superficiais serão controladas e regularizadas, tendo em vista o aumento das 
disponibilidades hídricas;
 · A outorga de usos para abastecimento urbano, industrial e irrigação e o licenciamento 
de atividades potencialmente poluidoras deverão prever mecanismos institucionais, 
técnicos e econômico-financeiros que assegurem a utilização da água, de modo a evitar 
e inibir perdas e desperdícios, visando a atingir níveis de consumo compatíveis com o 
balanço entre disponibilidade e demanda na área geográfica em consideração.
Princípios de gestão
 · A gestão dos recursos hídricos será realizada mediante a forma organizacional, institucional 
e política de um Sistema Estadual de Gestão de Recursos Hídricos;
 · O sistema promoverá a prevalência do interesse público, buscando observar a autonomia 
executiva dos órgãos e das entidades intervenientes ou usuárias dos recursos hídricos;
 · Serão promovidas articulações entre a União, o Estado, os municípios e o setor privado, 
visando à integração de esforços para a implantação de soluções de âmbito regional de 
controle e recuperação da qualidade da água;
 · A gestão dos recursos hídricos será descentralizada, tomando como base a bacia hidrográfica 
e contando com a participação dos municípios, dos usuários das águas e da sociedade civil; e
 · A gestão dos recursos hídricos buscará a integração, considerando a organização regional e 
os seus respectivos sistemas.
Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – SIGRH
 · O Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – SIGRH foi instituído a 
partir da Lei de Águas Paulista (Lei 7.663/1991). O SIGRH é baseado nos princípios de 
participação, descentralização e integração na gestão sustentável dos recursos hídricos 
do Estado de São Paulo.
 · O SIGRH é composto por representantes do Estado, dos municípios e da sociedade civil, 
além de contar com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CRH; os Comitês de 
Bacias Hidrográficas – CBH, e o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos 
Hídricos - CORHI. O sistema está dividido hidrograficamente em 22 unidades de gestão 
de recursos hídricos, no caso as bacias hidrográficas (Figura 10).
 · O SIGRH atua conforme as orientações do Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH. 
Suas atividades são financiadas pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FEHIDRO.
23
Figura 10.	Unidades	de	gerenciamento	de	recursos	hídricos	do	estado	de	São	Paulo.
Fonte: igc.sp.gov.br
A partir da adoção da PERH, as demandas previstas, consideradas em um primeiro momento 
alarmantes, foram ajustadas, e a perspectiva atual está representada no Quadro 1.
Quadro 1.	Previsão	de	demanda	de	recursos	hídricos	no	estado	de	São	Paulo	em	2020.
USO PROJEÇÃO m3/s
INDUSTRIAL 137,2
Urbano 174,2
Irrigação 327,0
Total 638,0
Fonte: DAEE, apud Gomes e Barbieri (2004, p. 9.)
Os dados do Quadro 1 são apenas perspectivas de mudança em vista da aplicação da 
PERH em São Paulo. Como toda política pública, ela depende muito da ação de fiscalização e 
monitoramento dos agentes públicos e da responsabilidade social das empresas, alem, é claro, 
da participação da sociedade no cuidado desse bem tão precioso que é a água.
24
Unidade: Pressões socioeconômicas x planejamento em gestão de recursos hídricos
Material Complementar
Para aprofundar seus estudos sobre gestão de recursos hídricos, explore os links indicados 
a seguir:
Sites:
Sobre o Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH) 
de São Paulo:
http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh90/Perh9000Sumario.htm
http://www.sigrh.sp.gov.br/apresentacao
Sobre o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo:
http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh2204_2207/perh20042007.htm
http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh90/Perh9000Sumario.htm
http://www.sigrh.sp.gov.br/apresentacao
http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh2204_2207/perh20042007.htm
25
Referências
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 4ª edição. Bertrand Brasil: Rio 
de Janeiro, 1983.
CAPRA, F. O ponto de mutação. Ed. Cultrix: São Paulo, 1982.
LOVELOCK, J. Gaia: um novo olhar sobre a vida na Terra. Edições 70: Lisboa, 2007.
MANSUR, K. Teoria da tectônica de placas. Texto digital disponível em: 
http://www.drm.rj.gov.br/index.php/areas-de-atuacao/44-pedagogico/100-pedagogicoteoria. Acessado em 14/05/2015.
MINAS GERAIS. Glossário de termos relacionados à gestão de recursos hídricos: 
publicação específica para a I Oficina do Sistema Estadual de Informações sobre Recursos 
Hídricos. Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD 
/ Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM. 2008. Versão digital disponível em: 
http://www.em.ufop.br/ceamb/petamb/cariboost_files/glossario_20recursos_20hidricos.pdf. Acesso em: 13 abr. 2015.
PAULA, E. V. Leptospirose humana: uma análise climato-geográfica de sua manifestação no 
Brasil, Paraná e Curitiba. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 
Goiânia, Brasil, 16 - 21 abril 2005, INPE, p. 2301-2308.
SÃO PAULO. Plano estadual de recursos hídricos. CETESB, 1990. Disponível em: 
<http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh/perh90/Perh9000Sumario.htm>. Acesso em: 12 abr. 2015.
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