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ANTROPOLOGIA-E-CULTURA

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1 
 
SUMÁRIO 
1 ANTROPOLOGIA E CULTURA ...................................................... 2 
2 ANTROPOLOGIA ........................................................................... 2 
3 TEORIAS ANTROPOLÓGICAS ..................................................... 7 
4 CONCEITUANDO ANTROPOLOGIA ........................................... 10 
5 CONCEITUANDO CULTURA ....................................................... 14 
6 CONCEITUANDO O HOMEM ...................................................... 15 
7 RELATIVISMO CULTURAL: O QUE É? ....................................... 17 
7.1 O Relativismo Cultural e o seu Significado ................................ 18 
7.2 Relativismo Cultural x Etnocentrismo ........................................ 19 
8 ETNOMARKETING: ANTROPOLOGIA, CULTURA E CONSUMO21 
9 A CONTRIBUIÇÃO DA ANTROPOLOGIA AOS ESTUDOS DA 
SOCIEDADE .................................................................................................... 28 
10 O EVOLUCIONISMO .................................................................... 29 
10.1 O Evolucionismo na Sociologia .............................................. 31 
10.2 Malinowski e Radcliffe-Brown: a escola funcionalista ............ 32 
11 Conceitos e Métodos funcionalistas ............................................. 34 
11.1 A Polêmica Gerada Pelo Funcionalismo ................................ 35 
12 ANTROPOLOGIA E CULTURA POPULAR .................................. 37 
12.1 O Que é Cultura Popular ........................................................ 40 
13 CULTURA POPULAR BRASILEIRA ............................................. 41 
14 CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA ............................. 42 
14.1 Cultura Organizacional ........................................................... 43 
14.2 Cultura na Filosofia ................................................................ 43 
14.3 Antropologia Educacional: novo olhar sobre a prática educativa44 
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 46 
 
 
 
2 
 
1 ANTROPOLOGIA E CULTURA 
Antropologia Cultural 
 
É uma ciência que estuda o ser humano como um todo, suas crenças, seu 
comportamento, seu desenvolvimento social e outros. Essa ciência é dividida em 
algumas áreas, a social e a cultural são algumas delas, abaixo você vai conhecer um 
pouco sobre a antropologia cultural. 
A antropologia cultural se difere da antropologia social, pois ela estuda o 
homem e também a sociedade em seu aspecto cultural. Umas das principais 
abordagens dela é o que a palavra e a imagem representam, por esse motivo, os 
estudos que envolvem a natureza dos signos na comunicação é um ponto principal 
na antropologia cultural. 
Para a linguagem humana, os signos simbolizam uma espécie de marco inicial 
para a comunicação humana, desenvolvendo assim outras disciplinas, que por sua 
vez, estão ligadas a antropologia cultural, essas disciplinas são antropologia visual e 
a antropologia oral. Essas ligações concluem que alguns humanos vivem em estado 
de natureza pura. 
A natureza humana capacita todas as pessoas a classificar experiências 
vividas, além de criar símbolos dessas classificações, podendo assim transmitir o que 
ela vive, aprende e experimenta.1 
2 ANTROPOLOGIA 
A Antropologia pode ser definida como uma Ciência, reflexão, teoria filosófica, 
sobre a humanidade e sua cultura, tendo como objetivo o estudo completo sobre o 
homem que é centro de suas preocupações, buscando questionar sua totalidade, 
como ser biológico pensante e participante da sociedade, como sua origem, corpo 
humano, diferenças físicas, surgimento, etnias, raça, religião, alimentação, 
comportamento, desenvolvimento e sua perpetuação, sua função como criador de 
 
1 Extraído do link: www.portaleducacao.com.br 
 
3 
 
cultura e fazedor de história considerado na série animal, para tentar chegar a 
compreensão da existência humana. 
 
Fonte: 
sites.google.com 
Para responder o que é o homem a antropologia tem dimensões biológicas, 
sócio culturais e filosóficas, tendo toda investigação valendo-se dos métodos 
comparativos em busca de respostas a uma infinidade de porquês, na tentativa de 
compreender as semelhanças e as diferenças físicas, psíquicas, nas manifestações 
culturais do comportamento e da vida social entre grupos humanos, porque o homem 
é diferente da natureza. Como ciência do biológico e do cultural tem como objeto de 
estudo o homem e suas obras. Ex: O estudo do homem fóssil, suas mudanças 
evolutivas, sua anatomia e suas produções culturais. 
A Antropologia como Ciência Social – propõe conhecer o homem enquanto 
elemento integrante de grupos organizados. 
Vista como uma Ciência Humana – volta-se especificamente para o homem 
como um todo: sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem, etc. 
Partimos do princípio que a natureza humana é a essência do homem, e para 
diferenciar das coisas do universo esta natureza apresenta-se em aspectos: 
 
4 
 
Os fatores ambientais exercem poderosa influência no desenvolvimento de 
personalidade. Uma pessoa vem a ser o é por causa dos padrões culturais do seu 
ambiente. Os seres humanos estão sujeitos a mudanças evolutivas. 
Jean Paul Sartre nega que o homem possui uma natureza essencial. O ser 
humano não tem caminho predeterminado para seguir. 
A Natureza Humana também pode ser interpretada como: 
 Visão racional – o homem racional é e deve ser compreendido no ponto de 
vista da natureza e de seus poderes racionais. 
 Visão religiosa – Ser criado por Deus e sua imagem e semelhança. 
 Visão Científica – Diz que o homem e suas atividades são determinados pelas 
leis da física e química. Homem como mais complexa forma de vida. 
O homem possui certas características que o distingue dos outros animais, 
tornando-o diferente em relação ao resto da natureza, é um ser inventivo e 
progressivo, usa linguagem profissional (escrita e oral), é um animal pensante, criatura 
que possui senso ético com uma consciência moral (certo/errado), ser reflexivo, 
religioso, dotado de emoções estética, animal social e político, criatura finita e 
inacabada. Para responder o que é o homem, a antropologia tem dimensão biológica, 
sócio cultural, filosófica. 
A antropologia vista como uma Ciência Natural – interessa-se pelo 
conhecimento psicossomático do homem e sua evolução. A antropologia tem dois 
grandes campos de estudo: 
Antropologia Física ou Biológica – estuda a natureza física do homem, 
conhecendo suas origens e evoluções, estrutura anatômica e fisiológica, dividindo-se 
em: 
 Paleontologia Humana – Estuda a origem e evolução humana através de 
fósseis. 
 Somatologia – Descreve diferenças físicas, individuais, sexuais – tipo de 
sangue, metabolismo. 
 Raciologia – Estuda a mistura de raças, características físicas. 
 Antropometria – Utiliza técnicas de medição do corpo humano. O crânio, 
osso… 
 
5 
 
 Estudo comparativo do crescimento – Conhecer as diferenças dos grupos 
relacionados a alimentação, exercício físico, maturidade sexual. 
Antropologia Cultural ou Social – estudo diferencial das crenças e das 
instituições de um grupo, concebidas como fundamento das instituições sociais e 
consideradas em suas relações com a personalidade. Estudo do homem como 
fazedor de cultura, investigando suas culturas no tempo e espaço, origens e 
desenvolvimento. Como ciência social seu objetivo consiste nos modos de 
comportamento hereditário e por aprendizagem. É o homem criando seu meio cultural 
mediante formas diferenciadas de comportamento, e evidenciando o caráter 
biocultural do desenvolvimento humano. O campo de estudo da Antropologia Cultural 
abrange: 
 Arqueologia – estuda a cultura passada, extinta. Reconstrói o passado através 
de vestígios e resto de materiais não perecíveis e que não foram destruídos 
pelo tempo.A arqueologia divide-se em: Clássica (tenta construir as antigas 
civilizações letradas (Grécia, Egito, Mesopotâmia…) e Antropologia 
Arqueológica – trata da cultura relativa ‘as populações extintas (cultura do 
paleolítico, Mesolítico e Neolítico) 
 Etnografia – Se preocupa com a descrição das sociedades humanas. Tem 
como objeto de estudo as culturas primitivas ou ágrafas, ex.: sociedades rurais. 
 Etnologia – Analisa, interpreta e compara as mais variadas culturas existentes, 
considerando suas semelhanças e diferenças para compreender suas 
mudanças. 
 Linguística – Estuda as formas e estruturas básicas das diversas línguas de 
várias culturas. 
 Folclore – Estuda aspectos da cultura humana preocupando-se com fatos da 
cultura material e espiritual originado pelo povo. 
 Antropologia Social – Estuda as relações sociais nos grupos humanos, cada 
aspecto da vida social, familiar, econômico, político, religioso, jurídico. 
 Cultura e personalidade – O indivíduo é visto como agente de mudança 
cultural desempenhando papel dinâmico e inovador e como participante de 
uma sociedade e de sua cultura, a pessoa é portadora de caracteres 
biopsicológicos e de experiência sociocultural próprios. 
 
6 
 
A Antropologia Física ou Biológica e a Cultural recorrem a métodos (conjunto 
de regras para investigação) e técnicas (uso do conjunto de normas para 
levantamento de dados) para atender a seus objetivos de maneira fácil e segura. 
Podemos dividir os métodos em: histórico, estatísticos, etnográficos, 
comparativo ou etnológico, monográfico ou estudo de caso, genealógico, 
funcionalista. As técnicas podem ser divididas em: observação, entrevista, formulário. 
Relativismo Cultural permite ao observador ter uma visão objetiva das culturas, 
cujos padrões e valores são tidos como próprios e convenientes aos seus integrantes, 
tendo alguns princípios humanitários: 
Direito a autonomia tribal (direito de possuir e fazer desenvolver a própria 
cultura, sem interferência externa), valores culturais (forma de pensar e agir de grupos 
diferentes devem merecer respeito), etnocentrismo (considera que o modo de vida 
bom para um grupo pode não servir para outro). 
A Antropologia é aplicada na indústria na busca de soluções para os problemas 
decorrentes de baixos salários, greves, desemprego, injustiça sociais, excesso de 
trabalho, etc., nos projetos de desenvolvimento como é o caso da colonização de 
terras, reforma agrária, campanha de saúde pública, etc., no colonialismo procurando 
impedir a introdução de valores ocidentais em favor dos padrões nativos, na 
coexistência populacional. 
O surgimento da Antropologia aconteceu devido a curiosidade do respeito de 
si mesmo, independentemente do seu nível de desenvolvimento cultural. Surgiu na 
idade clássica, no século V ac. com a figura de Heródoto que é considerado o pai da 
antropologia, que caracterizou minuciosamente as culturas circulantes. Os gregos 
foram os que mais reuniram informações sobre povos diferentes. 
Até o século XVIII a antropologia pouco se desenvolveu. Os estudos 
antropológicos iniciaram-se efetivamente a partir de meados do século XVIII quando 
a antropologia passa a adquirir sua categoria de ciência, quando Linneu classificou os 
animais, relaciona o homem entre os primatas, designando o homem na sua 
classificação zoológica. Foi o primeiro a descrever as raças humana. 
A Antropologia sistematizou-se como ciência depois que Darwin trouxe a teoria 
evolucionista. O progresso da antropologia no século XX é resultado das descobertas 
anteriores relativas ao homem Franz Boas é considerado o pai da Antropologia 
Moderna, pois foi quem incentivou as pesquisas de campo em caráter científico. 
 
7 
 
A antropologia vem adquirindo importância cada vez maior no mundo moderno, 
onde o isolamento cultural é quase impossível e onde os contatos são inevitáveis e se 
multiplicam, levando muitas vezes a situações conflitantes. Empenha-se na solução 
dessas situações, procurando minimizar os desequilíbrios e tensões culturais e 
tentando fazer com que as culturas atingidas sejam menos molestadas e seus valores 
e padrões respeitados. Aplica conhecimentos antropológicos, físicos e culturais na 
busca de soluções para os modernos problemas sociais, políticos e econômicos, dos 
grupos simples e das sociedades civilizadas. 
O interesse da antropologia está preferencialmente pelos grupos simples, 
culturalmente diferenciados e também pelo conhecimento de todas as sociedades 
humanas, letradas ou ágrafas, extintas ou vivas, existentes nas várias regiões da 
terra. A finalidade da antropologia é o fornecimento do maior número possível de 
estudos sobre grupos humanos, uma vez que cada um deles é o produto de uma 
experiência cultural particular.2 
3 TEORIAS ANTROPOLÓGICAS 
No século XIX surge o evolucionismo unilinear, que aplica a teoria da evolução 
na culturalidade e gera o pressuposto que o homem passaria por estágios de evolução 
cultural: da selvageria à barbárie, da barbárie à civilização e da civilização ao estado 
de perfeição relativa. Tais estudos se basearam na observação de culturas 
ultramarinas, a partir do gabinete e não do campo, de forma distante e pouco 
aprofundada. São estudos etnocêntricos e comparativos, relegando às etnias 
minoritárias diferentes graus de primitivismo tendo a cultura europeia como ponto de 
referência do processo civilizatório. 
É, dessa forma, uma teoria idealista, tendo como ideal o europeu, sua 
sociedade e tecnologia. Esta teoria criou a plataforma filosófica para o domínio 
europeu no novo mundo e foi desenvolvida dentro do cenário dos escritos e 
pensamento de Spencer (princípios da biologia, 1864) e Tylor (A cultura primitiva, 
1871) dentre outros. 
 
2 Extraído do link: pedagogiaaopedaletra.com 
 
8 
 
A publicação de Regras do Método Sociológico, de 1895, propõe que os fatos 
sociais eram mais complexos do que se imaginaria a princípio. Com Durkheim os 
fenômenos sociais começam a ser definidos como objetos de investigação sócio 
antropológica. Juntamente com Mauss, Durkheim (no final do século XIX) se debruça 
nas representações primitivas, estudo que culminará na obra Algumas formas 
primitivas de classificação, publicada em 1901. Com isto se vê inaugurada a chamada 
linhagem francesa no estudo da antropologia. 
Franz Boas, nos Estados Unidos da América, desenvolve a ideia de que cada 
cultura tem uma história particular e, portanto, a difusão de traços culturais deveria 
acontecer com frequência e abrangência. Nasce o Relativismo cultural tendo início a 
investigação de campo, saindo dos gabinetes e cenários puramente teóricos. Boas 
defende que cada cultura deve ser definida pela sua própria história particular, 
portanto torna-se necessário estudá-las separadamente com o objetivo de construir 
sua história. Surgia o Culturalismo, também conhecido como Particularismo Histórico. 
Deste movimento nasceria posteriormente a escola antropológica da Cultura e 
Personalidade. O particularismo histórico questionou o evolucionismo unilinear 
propondo que cada cultura possui sua historicidade que demanda respeito. São 
atacadas as comparações idealistas culturais. Advoga também o que seria o protótipo 
da observação participativa na qual o pesquisador interage com o povo alvo. 
Desenvolveu o método indutivo (do particular para o geral) contrapondo a antropologia 
clássica da época, generalista. 
 
 
9 
 
Fonte: 
buscar.miarroba.com 
A Antropologia Estrutural nasce na década de 1940. Lévi-Strauss é o seu 
grande teórico e defende que existem regras estruturantes das culturas na mente 
humana. Desta forma estas regras constroem pares de oposição para organizar o 
sentindo. Ele recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wundt 
e o trabalho realizado no campo da linguística, por Saussure, denominado 
Estruturalismo.Foi também influenciado por Durkheim, Jakobson com a teoria 
linguística, Kant com o idealismo e Mauss. 
O Estruturalismo dá um grande impulso a linguística de forma geral ao defender 
que é necessário compreender o padrão mental, de pensamento e comunicação de 
um povo, a fim de compreender a sua cultura. Nesta época métodos fonológicos 
passam a ser aplicados para estudos culturais. A finalidade maior é encontrar o que 
foi chamado de pensamento coletivo pois este aglutinaria impressões e valores de um 
povo. Valoriza-se o registro (e interpretação) de lendas e mitos. 
O Funcionalismo vem se contrapor às teorias da época e propõe a 
compreensão (e estudo) da cultura a partir de um ciclo de valores que estão 
interligados. Ou seja, todos os aspectos que definem uma sociedade (língua, 
atividades de subsistência etc.) fazem parte de um todo que pode ser entendido como 
cultura. Desta forma vemos o nascimento da distinção entre etnografia e etnologia, 
 
10 
 
pressupondo a necessidade de não apenas dissertar as atividades humanas em 
determinado segmento social, mas também compreender a identidade do grupo. 
Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard desenvolveram esta teoria propondo uma nova 
ramificação que é o Funcionalismo estrutural. Defenderam que a estrutura social é o 
ponto central em uma sociedade e todas as atividades e fatos sociais (valores, religião, 
organização familiar etc.) são desenvolvidos com a finalidade de manter a estrutura 
social estável. O desequilíbrio desta estrutura social faz com que a sociedade 
desenvolva outros mecanismos, valores ou atividades que venham a reequilibrá-lo. 
O Neoevolucionismo define que a evolução cultural se dará, basicamente, 
através da luta do homem contra a natureza, e o domínio deste sobre aquele em 
relação à subsistência, segurança e bem-estar. Steward defendia, porém, que as 
mudanças ambientais foram as principais causadoras das mudanças culturais e prevê 
que as grandes possíveis mudanças ambientais puderam resultar em mudanças 
gerais na humanidade. Assim defende ser necessário, ao homem, permanecer com 
seu instinto de adaptação ao ambiente, o que proverá segurança e sobrevivência. 
Na segunda metade do século XX Clifford Geertz, após Lévi-Strauss, 
provavelmente foi o antropólogo cujas ideias mais causaram impacto na sociedade. É 
considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea, a 
chamada Antropologia hermenêutica ou interpretativa. As teorias simbólicas e 
hermenêuticas apresentam duas classes antropológicas. A primeira, simbólica, 
defende a identificação do significado cultural a partir da observação e analise de ritos, 
mitos, cosmogonias e assim por diante. A segunda, hermenêutica, defende a 
interpretação destes fatos sociais. A pergunta, para estes, é sempre ‘qual a ideia por 
trás do fato social’? 
4 CONCEITUANDO ANTROPOLOGIA 
Nosso primeiro passo rumo ao triplo enfoque citado é conceituarmos, mesmo 
que de forma breve, a antropologia. Esta ciência foi formada a partir de diversas 
origens, estudos e fundamentos, documentados numa história de evoluções de ideias 
que levaram aos aspectos conclusivos de hoje. Laraia nos fala sobre a diversidade de 
pensadores que proveram os elementos necessários à ciência antropológica como 
 
11 
 
Confúcio ao afirmar que “a natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que 
os mantém separados”. A partir desta ideia fundamental da antropologia muitos 
levantaram uma pergunta iniciadora no assunto: porque homens semelhantes em 
contextos semelhantes geram culturas tão distintas? 
Franz Boas descreve as narrativas de Heródoto (484-424 a.C) aos gregos, a 
respeito do que havia visto em diferentes terras citando, em uma de suas 
observações, que os Lícios possuíam “um costume único pelo qual diferem de todas 
as outras nações. Tomam o nome da mãe e não do pai. ” Este tipo de constatação 
veio a formar a categoria hoje conhecida como estrutura de parentesco matrilinear. 
José de Anchieta (1534-1597) observou a estrutura de parentesco patrilinear 
entre os Tupinambás escrevendo que “porque têm para si que o parentesco 
verdadeiro vem pela parte dos pais, que são agentes; e que as mães não são mais 
que uns sacos, em respeito aos dos pais, em que se criam as crianças, e por esta 
causa os filhos dos pais, posto que sejam havidos de escravas e contrárias cativas, 
são sempre livres e tão estimados como os outros”. 
Geertz discorre sobre diversos outros pesquisadores que contribuíram com 
esboços daquilo que formaria o atual pensamento antropológico como Khaldun, no 
século XIV, que elaborou a tese de que os habitantes de terras quentes são mais 
passionais que os de climas frios. Ou ainda Locke que pesquisou o conceito das ideias 
a partir das distinções geográficas. No século XVIII Rousseau, Schiller e Herder 
tentaram construir um esboço da história da humanidade a partir dos relatos de 
diversas viagens, de Marco Polo a Cook. 
Todos estes exemplos demonstram métodos antropológicos de observação e 
interpretação das raízes e valores culturais em diferentes contextos humanos. 
Portanto, Antropologia poderia ser introdutoriamente conceituada como “o 
resultado da aglutinação histórica de impressões, fatos e ideias sobre a identidade do 
homem disperso em seus diferentes ajuntamentos sociais”. 
A ideologia antropológica, entretanto, sofreria forte impacto acadêmico do 
evolucionismo de Darwin (denominado na época de método comparativo), 
representado principalmente por Tylor. A principal oposição é encontrada exatamente 
nas claras ideias de Franz Boas (1858-1949). Este método comparativo defendia que 
o homem é o resultado do seu ambiente. Para melhor entendermos tomemos como 
exemplo o povo Ewe no centro de Gana, África ocidental. Sua língua utilizou quatro 
 
12 
 
vocábulos diferentes para designar o conceito de rio, porque habitam numa área fluvial 
que depende de uma compreensão melhor da evolução desta ideia, enquanto os 
Konkombas, que não transitam nos rios mas partilham o mesmo território, utilizam 
apenas um vocábulo para conceituar rio. Assim, segundo esta teoria, o ambiente 
define a cultura e define o homem levando-o a desenvolver língua, hábitos e formas 
de agrupamento a partir do contexto. 
Boas interfere e nos propõe que a cultura humana não é apenas o resultado do 
ambiente, mas sim o resultado das ideias. Revolucionando a Antropologia da época, 
Boas fez escola ao mesmo tempo em que chamou a atenção para uma dualidade que 
tem como primeiro elemento o reconhecimento do que o ambiente pode produzir no 
indivíduo. Desta forma o ambiente seria de fato determinante em alguns aspectos da 
formação cultural do indivíduo. Tomemos, como exemplo, um bebê recém-nascido, 
com três meses de idade, tendo nascido em uma família Tukano do Alto Rio Negro. 
Por algum motivo esta criança é levada para ser criada por uma família Italiana de 
Milão. Aos 15 anos de idade este adolescente, senão pelo aspecto físico, será um 
puro Italiano linguística e culturalmente. Enfrentaria todas as limitações como qualquer 
Italiano se necessário fosse se aculturar no universo Tukano, aprender sua língua, 
entender sua cosmovisão, adaptar-se ao clima, organização social e tudo o mais. A 
determinação do ambiente de fato é relevante e prioritária na formação direta do 
indivíduo em termos de identidade étnica e cultural. 
Mas Boas acrescenta um segundo elemento, para compor sua dualidade. 
Apesar do determinismo geográfico ter seu fundamento bem embasado, há elementos 
que constroem a cultura em um determinado grupo que independe de sua 
regionalidade. A comprovação mais conclusiva, observada por Boas, foi o 
desenvolvimento dos Esquimós (Inuit) em uma mesma região dividida politicamente 
entre o Canadá e os Estados Unidos das Américas. As escolhas culturais do 
agrupamento foram extremamente distintas gerando grupos também distintos apesar 
de compartilharema mesma história, região e ancestralidade. Falam hoje dialetos 
distintos e possuem costumes paradoxais mesmo vivendo tão próximos. Portanto a 
cultura é um elemento muito mais dinâmico do que se poderia esperar, e desta forma 
mais complexo ao ser analisado de forma linear. 
A Antropologia, inicialmente, era tratada apenas como uma área de estudo 
dentro da História e da Filosofia. Com o descobrimento das complexidades culturais 
 
13 
 
a humanidade viu-se diante da gritante necessidade de uma área específica e 
subdividida a ponto de cobrir algumas fontes de perguntas sociais. Surgiu o Estudo 
do homem. 
Um dos fatos que despertou atenções ao redor do mundo no século XVI foi a 
inconcebível possibilidade de que fatos análogos possam estar desassociados em sua 
origem. Com as viagens e descobertas de novos mundos e povos os relatos 
rapidamente chegaram à Europa conduzindo uma série de questionamentos a 
respeito de respostas que antes eram tidas como certas. Percebeu-se, por exemplo, 
que o garfo foi usado primeiramente em Fiji e tempos depois inventado na Europa 
sem que houvesse entre estes lugares qualquer transmissão de conhecimento. Os 
tesouros artísticos que chegavam do chamado novo mundo ocidental possuíam 
tremenda semelhança com os relatados por Marco Polo no mundo oriental. O golpe 
final foi dado através dos relatos de grupos isolados por gerações na Polinésia os 
quais, desenvolveram artifícios de bronze e arpões de pesca quase idênticos aos 
utilizados na Roma de dois milênios atrás sem que houvesse possibilidade de 
transmissão histórica de conhecimento. É claro, portanto, a conclusão de que 
necessidades comuns geram invenções e respostas análogas. 
 
Fonte: 
www.formulaenlosnegocios.com.mx 
 
14 
 
Tornou-se necessária a existência de uma área específica para o estudo do 
homem, suas interações sociais, herança histórica e identidade comunitária. Surgia a 
Antropologia que mais tarde viria a se desmembrar em Aplicada, Cultural, Etnologia, 
Fenomenologia e diversas outras estruturas de pesquisa e conhecimento do 
desenvolvimento humano em seu contexto social. 
5 CONCEITUANDO CULTURA 
Vivíamos, no século XVIII, a era do determinismo geográfico onde toda 
diferença cultural e linguística era considerada a partir das diferenças regionais. A 
atenção na incipiente etnologia da época passou a se concentrar nos ambientes onde 
“clima, condições de subsistência, alimento, acesso à água potável, qualidade do ar e 
distanciamento de outros ajuntamentos humanos determinam em larga escala a 
identidade de uma pessoa e seu grupo”. Era uma visão parcial da identidade humana 
que viria a receber novos questionamentos. 
Em face desta crescente influência cultural analítica, no fim do século XVIII e 
início do XIX era ampla a utilização do termo kultur ao se referir ao bojo de valores 
espirituais em um povo ou nação. Paralelamente civilization era um termo francês que 
transmitia a ideia do desenvolvimento estrutural de uma nação. Edward Tylor (1832-
1917) sintetizou as duas expressões na nomenclatura inglesa culture a partir da qual 
várias escolas foram fundadas e pensamentos se distinguiram no estudo e pesquisa 
das distinções e semelhanças do homem em seus diversos segmentos. Inicialmente 
se conceituou cultura como “todo comportamento aprendido, assimilado, avaliado e 
sujeito a progressos; tudo aquilo que independe de uma transmissão genética”. 
Jacques Turgot, Jean-Jacques Rousseau e John Locke, nesta trilha, 
defenderam a transmissão do conhecimento como fator responsável pela cultura e 
desembocaram na ideia da educação como agente responsável pela formação do 
homem em sua totalidade afirmando até mesmo que os grandes macacos, através de 
uma educação sistemática e processual, poderiam se desenvolver em humanos. 
A partir de 1920 antropólogos como Boas, Wissler e Kroeber passaram a 
desenvolver um estudo antropológico a partir da análise das ideias e não dos 
ambientes. Vieram a questionar o determinismo geográfico a partir da observação de 
 
15 
 
que grupos historicamente habitantes do mesmo território se desenvolviam 
culturalmente de forma distinta. 
Silverwood-Cope traça uma linha analítica dos povos do Alto Rio Negro onde 
as diferenças culturais mais gritantes eram encontradas entre as etnias com grave 
aproximação geográfica como os Pira-Tapuya, Tariano e Hupdah os quais, 
compartilhando o mesmo ambiente, diferiam entre si em categorias básicas como 
pescadores, plantadores e coletores, sucessivamente. Konkombas e Bassaris, no 
nordeste de Gana, África, possuem 1.200 anos de convivência e partilha ambiental, 
mas observamos os principais traços culturais de parentesco divergirem 
rigorosamente. Os primeiros são endogâmicos (casam-se somente entre si) enquanto 
o segundo grupo pratica a exogamia (casam-se exclusivamente com pessoas de fora 
de seu circuito cultural) como valor chave para sua interação sociocultural. 
A partir de uma observação mais exata a ideia da existência do homem e seu 
agrupamento como uma entidade puramente receptiva e susceptível ao ambiente foi 
refutada. Passou-se a mergulhar nas ideias, possíveis geradoras de valores e 
costumes. 
De forma geral, portanto, poderíamos citar Paul Hiebert e conceituar cultura 
como “os sistemas mais ou menos integrados de ideias, sentimentos, valores e seus 
padrões associados de comportamento e produtos, compartilhados por um grupo de 
pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz”. 
6 CONCEITUANDO O HOMEM 
A sociologia não vê o homem sozinho como homem, por definir este como um 
ser estritamente social. A psicologia vê o homem como um ser autoconsciente 
enquanto a filosofia o define como um ser moral e racional como defendia Hegel. Para 
a teologia, o fato de ser espiritual o distingue de toda a criação. 
Até aqui temos visto uma antropologia mais culturalista, mais estruturalista, na 
consideração de que uma cultura seria um agrupamento ou um segmento social que 
se desenvolve a partir das ideias e influencia o homem. Não seria, portanto, o meio 
geográfico que determinaria a cultura, porém a dinâmica da cultura influenciaria o ser 
humano que estaria dentro dela, sendo o homem a célula menor. 
 
16 
 
Perante tal pressuposto surgiu, porém, um problema axiomático a ser debatido 
na antropologia. Estudiosos começaram a perceber que, perante culturas 
profundamente definidas em alguns aspectos (modo de vida, valores, prioridades, 
etc.) não raramente surgiam indivíduos que, drástica e surpreendentemente, geravam 
mudanças profundas na base dos conceitos e vida. Ou seja, passou-se a perceber 
que o homem é um agente transformador da cultura. Assim, o segredo para 
entendermos a dinâmica cultural seria entendermos o homem, o indivíduo, este ser 
destituído de muito valor na visão estruturalista. 
Pensando sobre o agente humano e suas múltiplas interações, Kroeber ajuda-
nos a distinguir o orgânico do cultural. Segundo ele o homem está inserido na 
mecânica da natureza de forma igual pois, organicamente, possui necessidades 
igualitárias a serem satisfeitas tais como o sono, alimentação, proteção, sexualidade 
e etc... Porém, a forma de suprir estas necessidades difere, certamente, de 
agrupamento para agrupamento, de segmento social para segmento social. E isto 
seria cultura. 
Se um indígena, membro de uma cultura tolerante ao infanticídio, ou mesmo 
fomentadora do mesmo, um dia decidir não mais participar, e até mesmo se opor a tal 
prática, movido por pura volição e escolha, sua história bem como de seu grupo 
poderá ser perpetuamente alterada desde então. 
Portanto, o homem, apesar de ser a célula menor no conceito antropológico 
geral e cultural, também é o agente transformador. Desta forma pode-se diferir o 
homem dos demais agentes da natureza, em termos culturais por “sua capacidade de 
transmitir sua história à geração vindoura, avaliá-la de acordocom seus atuais 
princípios e desejos, e recriá-la à luz de suas expectativas”. 
Franz Boas, estudando as diferenças culturais entre os Esquimós (Inuit) no 
Canadá (1883) percebeu que as ideias de nobreza, miséria, dignidade, pecado e 
relacionamento, “residem na construção do coração, em que eu encontro, ou não, 
tanto aqui quanto entre nós”. Portanto, passou a conceituar o homem como “um 
agente transmissor de ideias, fonte inerente de conceitos herdados pela humanidade 
que se distingue em suas aplicações na vida e grupo”. 
Desta forma a fonte da diversidade cultural passou a ser o homem e seu 
pensamento, não o ambiente e imposições geográficas. Entretanto falta aqui o estudo 
 
17 
 
e percepção dos elementos geradores de ideias no indivíduo. O que veio mais tarde 
a ser tratado na fenomenologia religiosa. 
Digno de nota seria a discordância entre Tylor e Kroeber em razão da posição 
do homem entre os outros seres vivos. Enquanto Tylor distinguia o homem a partir da 
cultura (o único possuidor de cultura e transmissão cultural) Kroeber distinguia o 
homem dos demais seres vivos apenas pelo poder de comunicação oral mais precisa 
e capacidade de gerar instrumentos que lhe pudessem ser úteis ao desenvolvimento. 
Apesar da tentativa de Kroeber em colocar o homem dentro da ordem da 
natureza, não o distinguindo dos demais seres vivos, não nos fornece munição para 
entendermos a sua incrível diversidade. Recorremos, portanto, às palavras de Laraia 
quando diz que a grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas 
próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou 
toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou 
os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque 
difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. 
Segundo Geertz, as antigas abordagens definidoras da natureza humana, tanto 
feitas pelo Iluminismo quanto pela antropologia clássica, são basicamente tipológicas, 
e tornavam secundárias as diferenças entre indivíduos e grupos. Agora, através de 
uma visão cultural vemos que se tornar humano é “tornar-se individual, e nós nos 
tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais... (que) não são gerais, mas 
específicos”. Portanto poderíamos conceituar homem, para nosso estudo 
antropológico, como o ser em cultura, que se define a partir da sua história, suas ideias 
e envolvimento social. Em sua consciência, em sua moralidade e racionalidade, assim 
como em sua espiritualidade o homem pode aventurar-se num caminhar construtivo 
em sua própria essência humana através de sua vocação cultural.3 
7 RELATIVISMO CULTURAL: O QUE É? 
Muito se fala sobre Relativismo Cultural, mas muitas pessoas não sabem o que 
quer dizer essa expressão. Chegou o momento de entender o que realmente significa 
 
3 Extraído do link: instituto.antropos.com.br 
 
18 
 
essa palavra. Mas antes de conhecer o significado, é bom saber um pouco sobre a 
Antropologia que estuda esse tipo de comportamento. 
A antropologia é recente no campo das Ciências Sociais e escolheu a cultura 
humana e seu desenvolvimento como objeto de pesquisa principal. Ela direciona seus 
estudos em diferentes povos, sendo muitos considerados exóticos. O olhar para o 
outro foi o grande foco das pesquisas antropológicas, principalmente a partir da crítica 
do etnocentrismo (que será explicado abaixo). 
De acordo com a antropologia, o relativismo cultural é não julgar a cultura do 
outro a partir da sua, ou seja, não julgar o outro a partir de sua própria visão, como se 
ela tivesse que ser copiada por todos, e também que não exista a expressão “cultura 
melhor” ou “cultura pior”. Foi a partir do século XX, que o relativismo cultural se tornou 
como uma regra antropológica, combatendo a visão etnocêntrica e sem julgamentos 
culturais. 
7.1 O Relativismo Cultural e o seu Significado 
Falando sobre a perspectiva do conceito científico, o relativismo cultural supõe 
que o pesquisador tenha uma visão totalmente neutra sobre a diversidade cultural, 
mesmo que seja algo totalmente novo e que cause estranheza. Ou seja, falar sobre o 
relativismo é não julgar as diferentes culturas e também deixar um pouco de lado sua 
cultura para expandir sua mente para conhecer outras. 
Os valores de cada sociedade só têm sentido no olhar do próprio povo que é 
adepto aqueles costumes, sendo difícil compreender se visto de um olhar exterior. 
Para entender sobre cada cultura, os sociólogos e antropólogos precisam se colocar 
no lugar do outro e tentar entrar em seus costumes, mesmo que isso seja difícil devido 
a sua grande bagagem cultural. 
Exemplo de relativismo cultural: No Brasil, as mulheres usam roupas que 
deixam barriga e pernas de fora, o que não é aceitável nos países árabes, onde as 
mulheres ficam totalmente cobertas. É a diversidade cultural e cada um deve respeitar 
sem achar que a sociedade a qual pertence está correta e a outra errada. 
Outro exemplo que pode ser citado é referente a religião. Não se pode achar 
que uma religião é superior a outra, mas é fato que muitas pessoas de uma 
 
19 
 
determinada religião não conseguem aceitar a outra. Isso é um exemplo ao contrário 
do relativismo cultural. 
 
Fonte: 
edu-diversidade.blogspot.com 
O relativismo cultural é utilizado na antropologia justamente porque junto aos 
pesquisadores não pode existir nenhum tipo de julgamento. Mas é importante lembrar 
que o relativismo deve ser usado todos os dias por toda a sociedade. Essa é a única 
forma de conhecer as diferenças de cada indivíduo e estabelecer melhores relações 
sociais e que as pessoas se tornem mais compreensivas. 
Ele proporciona a distância de preconceitos, discriminação e intolerância, o que 
a sociedade mais precisa neste momento. Esse conceito é totalmente diferente do 
etnocentrismo, que é justamente o que a cultura vivencia hoje. Uma superioridade que 
gera um grande impacto negativo nas relações sociais. 
7.2 Relativismo Cultural x Etnocentrismo 
Nos dias atuais, essa superioridade pode ser baseada pelas riquezas, que 
diferenciam a cultura de cada um. Por exemplo: a tecnologia que determinados grupos 
possuem em suas mãos enquanto outros não possuem acesso, moradia, as 
oportunidades de educação e até mesmo o acesso à alimentação. 
 
20 
 
Mesmo sabendo que não deve existir nenhuma diferença entre as culturas, 
essa não é a realidade. Dessa forma é possível iniciar uma explicação da diferença 
entre o relativismo e o etnocentrismo. 
O relativismo cultural é exatamente ao contrário do etnocentrismo. Palavra de 
origem grega ethnos que significa nação, tribo ou pessoas que vivem juntas e 
centrismo que significa centro. De acordo com o conceito da antropologia, o 
etnocentrismo é a visão que alguém tem sobre sua própria cultura. Por exemplo: a 
correta é apenas a sua, considerando todas as outras em um plano inferior à sua. 
É você se imaginar em um lugar totalmente diferente do que você cresceu, com 
hábitos e costumes que nunca tenha conhecido. Por exemplo: viver na índia com os 
tradicionais casamentos arranjados, pode ser uma tribo aqui no Brasil totalmente 
diferente ou na Arábia Saudita e a obrigação do uso de burcas. 
É bem capaz que esses costumes entrem na sua cabeça como um confronto 
daquilo que você acredita. E aí tudo começa a ficar confuso e algumas afirmações 
começam a surgir. Por exemplo: “Isso é totalmente errado” ou “Não é possível que 
essas pessoas vivam dessa forma”. Esse tipo de pensamento é justamente o que se 
chama etnocentrismo. 
Ele também está voltado para o ar de superioridade e dominação, quem domina 
está acima de todos e não permite que outros pensem diferente dele. E para 
defender-se, a forma antiga era exterminar a todos que ameaçavam de um jeito muito 
violento. O outro jeito de deterquem pensava diferente sem utilizar uma forma 
sangrenta era oprimindo e humilhando as outras pessoas. Totalmente ao contrário do 
relativismo cultural. 
Relativizar é nunca transformar o que é considerado diferente de uma cultura 
para outra em hierarquia. Pensar que sua cultura é mais importante que outras é um 
grande erro. Não se deve valorizar uma sociedade baseada em critérios de 
superioridade e inferioridade. Enfim, todos são diferentes e tudo o que é diferente deve 
ser respeitado. 
 
Nem tudo que você discorda é considerado etnocentrismo 
 
Não compreender tudo de uma cultura, não faz de você um etnocentrista. 
Provavelmente você não deve concordar com tudo da sua própria cultura, isso é bem 
 
21 
 
normal. Isso faz com que não tenha nenhuma obrigação em aceitar o que é proposto 
em uma outra sociedade. Mas é preciso respeitar e tentar entender antes de julgar. 
Na índia, por exemplo, a gravidez de uma mulher é interrompida se é 
descoberto que é uma menina. Ninguém consegue aceitar, mas se você busca 
entender antes de julgar, consegue perceber que isso acontece por questões 
financeiras. Isso porque na Índia, os pais ainda pagam dotes na cultura indiana, 
fazendo com que seja difícil sustentar uma menina na família. 
É claro que o correto é o governo buscar uma solução para que esse tipo de 
coisa não exista mais. O fato é entender a diferença do pensamento etnocêntrico de 
quando você discorda de alguma prática de outra sociedade. É agir sem preconceito 
e superioridade, apenas não concordar com determinado ato daquela cultura.4 
8 ETNOMARKETING: ANTROPOLOGIA, CULTURA E CONSUMO 
É fato que precisamos ressaltar a presença de dimensões culturais e simbólicas 
no universo do consumo, para isso, os profissionais de marketing contam com o aporte 
antropológico na gestão de marketing. Estamos em constante mudança, 
especialmente no quesito cultura, redefinimos padrões, criamos novos modelos e isso 
é um processo bastante dinâmico e as empresas precisam acompanhar essas 
evoluções. O Etnomarketing, com a interdisciplinaridade – antropologia e marketing, 
pesquisam o consumo, tentam entender de que forma acontece o comportamento de 
compra. Isso é fundamental para o mercado de moda. 
Conhecer melhor e mais detalhadamente os seus clientes e consumidores é 
objetivo de todas as empresas e um dos métodos que está despertando o interesse 
dos executivos é a etnografia (estudo por observação), método de pesquisa utilizada 
pelos antropólogos para conhecer de forma mais abrangente o público pesquisado. 
Infelizmente, pesquisas quantitativas não conseguem revelar detalhes 
fundamentais necessários para o bom relacionamento com os clientes e disponibilizar 
a eles o que eles realmente desejam. “Assim, as empresas procuram todos os 
mecanismos ao seu alcance para saber quem é, como pensa e como age o 
 
4 Extraído do link: freesider.com.br 
 
22 
 
consumidor, que devido à enorme diversidade cultural promovida por este momento 
de transição, precisa ser compreendido como indivíduo. Não vivemos mais em uma 
cultura. Vivemos em múltiplas culturas. ”5 
O atual contexto sócio histórico, já qualificado por muitos como pós-moderno, 
caracteriza-se por uma reestruturação na organização da atividade econômica. Entre 
outros aspectos, nota-se uma passagem do consumo de massa para uma cultura do 
consumo marcada pela existência de diversos estilos de vida que refletem a explosão 
de microidentidades. Essa mudança obriga as empresas a pensarem outras 
estratégias de segmentação de mercado, para além das tradicionais classificações 
por região geográfica e renda. Fatos que evidenciam essa alteração podem ser 
percebidos na literatura brasileira de difusão sobre o mundo dos negócios. Esta tem 
enfatizado, nos últimos anos, a presença de dimensões simbólicas informando o 
comportamento do consumidor. Diversas reportagens de publicações como Exame e 
Gazeta Mercantil apresentam casos que apontam a necessidade de as empresas 
atentarem para a variável cultural na elaboração de suas estratégias de marketing, 
sob pena de incorrerem em grandes fracassos mercadológicos. À medida que as 
dimensões culturais e simbólicas foram ganhando importância cada vez maior na 
explicação do comportamento do consumidor, os departamentos de marketing das 
empresas, os institutos de pesquisa de mercado e as agências de publicidade 
passaram a recorrer ao aporte antropológico, recrutando muitas vezes profissionais 
com formação em Antropologia – disciplina voltada à análise dos fenômenos 
socioculturais. Neste artigo, pretende-se ressaltar a presença de dimensões culturais 
e simbólicas no universo do consumo e evidenciar o recurso ao aporte antropológico 
na gestão de marketing, mediante a apresentação de algumas situações concretas 
extraídas da literatura de difusão sobre o universo empresarial. Em seguida, com base 
no método biográfico (Bertaux, 1980; Becker, 1999), descrevem-se as trajetórias 
profissionais de dois antropólogos que têm empreendido trabalhos práticos no campo 
da Administração Mercadológica. Antes, porém, será apresentada, na próxima seção, 
uma breve discussão sobre a disciplina antropológica e um dos seus subcampos: a 
 
5 Extraído do link: www.mulheresempreendedoraspi.com.br 
 
23 
 
Antropologia do Consumo. O propósito final é contribuir para a discussão sobre a 
fronteira interdisciplinar que envolve a Antropologia do Consumo e a Mercadologia. 
Neste texto, parte-se do pressuposto de que o leitor já possui alguns 
conhecimentos sobre a Antropologia. Portanto, não será desenvolvida uma 
apresentação extensa dessa disciplina. Antes de tratar da Antropologia do Consumo, 
serão apresentadas algumas bases gerais sobre as quais se sustenta a própria 
Antropologia, destacando-se pontos de concordância entre os antropólogos, 
independente de seus pertencimentos a diferentes correntes teóricas. A Antropologia 
construiu-se, historicamente, como o estudo do outro, entendido como outra 
sociedade, outra cultura, outro grupo social, enfim, aquele que se comporta de forma 
diferente de mim. Em outras palavras, a Antropologia configurou-se como uma 
tentativa de compreender a diversidade cultural, em um encontro radical com a 
alteridade. 
 
A ANTROPOLOGIA SE CONSTRUIU HISTORICAMENTE COMO ESTUDO 
DO OUTRO, ENTENDIDO COMO OUTRA SOCIEDADE, OUTRA CULTURA, 
OUTRO GRUPO SOCIAL 
 
Todavia, questionando-se os resultados extraídos desse encontro com a 
alteridade, nota-se que há discordâncias. A descoberta de universais humanos, a 
descrição de uma cultura em sua totalidade e a experiência fragmentária de diálogo 
intercultural seriam algumas das respostas dadas pelos antropólogos. De toda forma, 
a imagem da Antropologia como um encontro com o outro parece representar um 
consenso para a comunidade antropológica. Talvez também possa denotar uma 
concordância a defesa da etnografia como o método de pesquisa por excelência da 
Antropologia. No final do século XIX, quando ela estava se institucionalizando como 
campo científico, os trabalhos de investigação eram realizados pelo que se 
convencionou chamar de “antropólogos de gabinete”. Estes não chegavam a 
conhecer face a face os membros dos grupos sociais estudados pela disciplina. Para 
construir uma explicação sobre os “estranhos” comportamentos dos povos 
“primitivos”, eles utilizavam dados recolhidos por viajantes, missionários e funcionários 
do governo colonial. Essa situação modificou-se no início do século XX, e costumam-
se atribuir à Bronislaw Malinowski, um polonês naturalizado britânico, os créditos pelo 
 
24 
 
surgimento do método etnográfico, que caracterizou a moderna Antropologia Social e 
que marca a disciplina até hoje. Malinowski julgava que o recurso a missionários, 
administradores coloniais ou viajantes derivava em uma série de dadosdistorcidos, 
uma vez que a percepção desses indivíduos não estava imune ao preconceito. O 
próprio antropólogo deveria ir a campo. Seria indispensável o recurso ao “olhar 
antropológico”, aquele supostamente desprovido de preconceito, capaz de relativizar, 
escapando da postura etnocêntrica, isto é, capaz de entender a outra sociedade a 
partir das razões que seus próprios membros constroem para justificar seus 
comportamentos. Durante a segunda década do século XX, Malinowski passou uma 
longa temporada entre os nativos das ilhas Trobriand, na Oceania, desenvolvendo um 
estudo etnográfico que resultou no livro Argonautas do Pacífico Ocidental, um clássico 
da Antropologia (Malinowski, 1984). Isso não significa, evidentemente, que todos os 
antropólogos sejam etnógrafos. Alguns profissionais dessa disciplina parecem mais 
afeitos a contribuir com o avanço da teoria antropológica sem realizar o fieldwork, e 
não seria equivocado relatar que Marcel Mauss, certamente um dos mais célebres 
antropólogos do século XX, nunca desenvolveu trabalhos de terreno, ainda que tenha 
escrito um Manual de etnografia (Mauss, 1993). 
 
Fonte: 
knowmadcity.com 
 
25 
 
De toda forma, esses antropólogos atribuem um valor central aos dados 
etnográficos, isto é, eles partem das etnografias escritas por outros antropólogos. 
Esse foi o caso de Mauss no também clássico Essai sur le don, quando partiu dos 
trabalhos etnográficos de, dentre outros, Franz Boas e Malinowski para construir uma 
teoria sobre a troca nas sociedades “primitivas” (Mauss, 1974). Sem cair num 
raciocínio excludente, a Antropologia fez uma síntese, assumindo a etnografia como 
sua marca distintiva no âmbito das Ciências Sociais e, consequentemente, 
valorizando o trabalho de campo etnográfico na construção de sua teoria. Enfim, 
mesmo duvidando das possibilidades de estabelecer consensos em questões 
relacionadas à Antropologia, se se quiser arriscar uma definição sintética para a 
disciplina, pode-se apontar a compreensão do outro possibilitada pela prática 
etnográfica. Em outras palavras, a Antropologia seria o encontro etnográfico com o 
outro. 
Vale lembrar que, originariamente, esse “outro”, objeto dos estudos 
antropológicos, eram as sociedades tradicionais. Assim, a Antropologia ficou 
conhecida, durante muito tempo, como a ciência das sociedades “primitivas”. Porém, 
ao longo da sua história, ela foi redefinida. Essa redefinição pode ser resumida numa 
ressalva feita pelo filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1980). Ele afirmava que a 
Antropologia não é uma especialidade definida por um objeto particular – as 
sociedades “primitivas” –, mas uma maneira de pensar caracterizada pelo 
estranhamento que se impõe quando o objeto é o outro. Trata-se de definir a 
Antropologia não em relação a um objeto empírico, mas a um objeto intelectual (Augé, 
1994, 1999). O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss analisou muito bem essa 
transformação. Em artigo publicado nos anos 60, denominado A crise moderna da 
Antropologia, Lévi-Strauss (1962) questionou a possibilidade de a Antropologia tornar-
se uma ciência sem objeto, fadada, portanto, a desaparecer. Essa preocupação 
estava ancorada na evidência do genocídio cultural que o Ocidente promoveu com 
diversas sociedades tribais e na constatação de que a maior parte daquelas que 
subsistiam estavam-se transformando em sociedades muito parecidas com as 
metrópoles europeias: organizavam-se politicamente a partir de um Estado-Nação, 
estavam em vias de industrialização, etc. Não se trata aqui de retomar o raciocínio do 
mestre francês em sua íntegra, apenas frisar a constatação que ele faz ao finalizar o 
artigo: “ora, enquanto as maneiras de ser e de agir de certos homens forem problemas 
 
26 
 
para outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre essas diferenças, que, de 
forma sempre renovada, continuará a ser o domínio da Antropologia” (Lévi-Strauss, 
1962). Cerca de 20 anos mais tarde, um outro antropólogo, o norte-americano Clifford 
Geertz (1983), vaticinou: “agora somos todos nativos. ” Assim, dentro do vasto 
espectro do que se convencionou chamar de Antropologia das Sociedades 
Complexas, muitos novos temas foram-se incorporando à disciplina, dentre eles, a 
Antropologia do Consumo, sobre a qual serão tecidos breves comentários. O 
propósito aqui não é reconstruir a genealogia desse subcampo dos estudos 
antropológicos. Ao leitor interessado, sugere-se seguir as pistas deixadas pelos 
franceses Philippe Laburthe-Tolra e Jean-Pierre Warnier. No texto Produção social e 
consumo de objetos (1997), esses autores consideram a publicação do trabalho A 
dimensão oculta, de Edward T. Hall, o marco fundador da Antropologia do Consumo. 
Segundo eles, os trabalhos de Hall inauguram uma abordagem antropológica dos 
domínios do consumo relativos ao espaço: a arquitetura, o mobiliário, a decoração 
interior, as cores, a iluminação, a climatização, as vestimentas, os transportes 
coletivos, os lugares de trabalho, os espaços de lazer, as vias públicas, etc. No artigo, 
Laburthe-Tolra e Warnier resenham também diversos outros textos que consideram 
inseridos no campo da Antropologia do Consumo, dentre os quais destaca-se o já 
clássico trabalho de Douglas e Isherwood (1978). Além disso, apresentam os 
contornos desse subcampo da disciplina antropológica, retomando suas raízes mais 
remotas, nos trabalhos de antropólogos clássicos como Marcel Mauss e André Leroi-
Gourhan, e apontando os seus limites porosos com a Sociologia, seja também em sua 
tradição clássica – por meio das obras deixadas por Marx, Weber, Simmel, Veblen e 
Nobert Elias –, seja na produção contemporânea de autores como Pierre Bourdieu e 
Jean Baudrillard. 
O trabalho dos antropólogos franceses representa um excelente mapeamento 
introdutório. Não se pode, contudo, deixar de destacar uma ausência importante no 
texto. Trata-se da referência ao antropólogo norte-americano Marshall Sahlins, cujas 
ideias parecem oportunas para compreenderem-se as evidências empíricas da 
presença de dimensões simbólicas informando o comportamento do consumidor e as 
trajetórias profissionais de antropólogos no campo da Administração Mercadológica, 
apresentadas nas próximas seções deste artigo. 
 
27 
 
Na sua interpretação da sociedade capitalista ocidental, Sahlins (1979) 
demonstrou que essa sociedade, que se auto representa como regida exclusivamente 
pela racionalidade econômica, sendo desprovida de dimensões culturais e do 
simbólico, na verdade, é, ela mesma, uma forma específica de ordem cultural. Para 
ele, o sistema de representações simbólicas informa a própria organização da 
atividade econômica na sociedade capitalista, ou seja, as esferas da produção e do 
consumo são espaços privilegiados de produção simbólica nesta sociedade. Assim, 
sua especificidade não reside no fato de o sistema econômico escapar à determinação 
simbólica, mas antes na constatação de que nela o simbolismo econômico é 
estruturalmente determinante. Partindo dessa interpretação da sociedade capitalista, 
o autor entende que o significado social de um objeto, o que o torna útil a certa 
categoria de pessoas, é menos visível por suas propriedades físicas do que pelo valor 
que ele assume na troca. A utilidade, destaca Sahlins, não é uma qualidade intrínseca 
do objeto, mas um significado construído pelos sujeitos. Neste sentido, nenhum objeto 
é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela significação que os homens 
lhe atribuem. Suas análises dos sistemas alimentar e de vestuário nos EUA, 
lastreadas na abordagem estruturalista, são bastante interessantes. Para ele, o papel 
do antropólogo é descobrir a ordem cultural escondida na sociedade; ele estabelece, 
então, uma analogia entre o trabalho desse profissional e aquele desempenhado 
pelos pesquisadores de mercado e agentes publicitários. Estes últimos procuram 
responder às constantesreformulações das relações simbólicas dentro da vida social, 
a fim de tornar um “produto-símbolo” um sucesso mercantil. Pode-se resumir sua 
análise do simbolismo econômico nas sociedades capitalistas pelo seguinte 
argumento: o fenômeno do consumo não pode ser compreendido levando-se em 
consideração apenas variáveis de natureza econômica, isto é, as mudanças na 
estrutura de produção e seus impactos em termos de distribuição de renda. Deve-se 
atentar também para variáveis socioculturais. A seguir, apresentam-se exemplos 
empíricos que corroboram a posição de Sahlins, uma vez que demonstram o papel 
que joga a dimensão simbólica no universo do consumo.6 
 
6 Extraído do link: www.redalyc.org 
 
28 
 
9 A CONTRIBUIÇÃO DA ANTROPOLOGIA AOS ESTUDOS DA SOCIEDADE 
A antropologia e a sociologia, dentre as ciências sociais, definiram de forma 
bastante satisfatória seus objetos de estudo, seus objetivos e métodos. Enquanto à 
sociologia cabia o estudo da sociedade europeia, à antropologia cabia o estudo dos 
povos colonizados na África, Ásia e América. A primeira procurava descobrir as leis 
gerais que regulamentavam o comportamento social e as transformações da 
sociedade, por meio de análises qualitativas e estudos estatísticos que pudessem dar 
a maior amplitude possível às suas descobertas. A antropologia, por sua vez, 
desenvolvia um método mais empirista e qualitativo, voltado para a descoberta das 
particularidades das sociedades que estudava. Tal delimitação teórico-metodológica 
foi um aspecto importante no alvorecer das ciências humanas e sociais, pois permitiu 
o desenvolvimento singular dessas áreas de conhecimento. Em contrapartida, essa 
delimitação fez essas ciências caírem num reducionismo teórico tanto quanto à 
natureza das sociedades com as quais os pesquisadores entravam em contato como 
quanto à aparente integridade da cultura europeia. 
Os sociólogos imaginaram ser possível a criação de um modelo teórico único 
que explicasse os diversos aspectos da sociedade capitalista europeia – percebidos 
como dicotomias do tipo rural-urbano ou agrário-industrial. Não se davam conta, 
entretanto, do grau de complexidade da sociedade e das relações que se 
desenvolviam interna e externamente. Ao buscar ordens e similitudes, como 
propunham principalmente os positivistas, não percebiam que lidavam com uma 
realidade altamente diferenciada, cuja diversidade se acentuaria – em ritmo cada vez 
mais acelerado – no decorrer do século XX. 
Os antropólogos, por seu lado, ao procurarem identificar de forma precisa o 
não-europeu, tinham por base uma falsa imagem da cultura europeia, para eles 
homogênea e integrada. Não percebiam que, por trás da aparente uniformidade da 
vida social na Europa, existiam inquestionáveis e insuperáveis diferenças. Os 
antropólogos não se davam conta de que haviam tantas diferenças e conflitos entre o 
industrial e o mineiro ingleses como entre o oficial da administração britânica e o 
colono indiano. Não conseguiam diferenciar, por exemplo, o analfabetismo de certos 
grupos europeus da ausência da escrita nas sociedades iletradas. 
 
29 
 
No início do século XX, no entanto, essas questões ainda não se colocavam 
para as ciências sociais, e antropólogos e sociólogos foram a campo para pesquisar 
seus objetos munidos de conceitos e métodos próprios de trabalho. 
Subáreas da Antropologia 
 
A antropologia foi sempre a ciência da alteridade, isto é, a ciência que busca 
investigar o outro, aquele que é essencialmente diferente de mim. Sua gênese 
aparece nos relatos dos primeiros viajantes europeus que tentavam descrever os 
“exóticos” costumes dos povos com os quais mantinham contato. Mas, se a 
curiosidade pela espécie humana, por suas peculiaridades e diferenças não eram 
novidade, a expansão colonialista da Europa sobre os outros continentes e o 
desenvolvimento dos meios de transporte, especialmente o marítimo, deram nova 
amplitude a esse interesse e nova dimensão a esse objeto de pesquisa. Em pouco 
tempo tal alteridade passou a incluir povos de aparência física as mais distintas, 
culturas milenares e outras que não pareciam ter história, línguas e costumes 
díspares, além de embarcar um rico legado cultural da Antiguidade. Era necessário 
delimitar esse vasto universo de pesquisa, criando subáreas como a arqueologia, a 
etnologia e a antropologia cultural. 
À arqueologia coube o estudo da evolução da espécie humana – da chamada 
Pré-História – e do passado de civilizações já desaparecidas da Antiguidade, como os 
egípcios e os hebreus. À etnologia coube o estuda da diversidade da espécie humana, 
ou seja, a identificação das diversas etnias existentes e de sua herança genética. A 
antropologia cultural definiu como seu objeto de estudo as sociedades não-europeias 
e os povos sem escrita, para que fossem desvelados seus modelos de organização 
social e sua dinâmica. 
10 O EVOLUCIONISMO 
Os estudos antropológicos, entretanto, estavam longe de respeitar a 
objetividade positivista a que aspiravam os cientistas sociais do século XIX. A Europa 
procurava se integrar em torno de um modelo econômico e político único, que julgava 
universal – capitalista, industrial e nacionalista -, buscando defendê-lo e legitimá-lo. 
 
30 
 
Os interesses coloniais, por sua vez, procuravam reforçar esse modelo político e 
econômico transformando as populações de outros continentes em consumidores de 
produtos e mão-de-obra, sendo necessário, para isso, intervir drasticamente nessas 
sociedades. 
 
Fonte: 
www.dm.com.br 
O desenvolvimento das ciências humanas e da antropologia, particularmente, 
servia também aos interesses econômicos da Europa e à necessidade expansionista 
do capitalismo. A base teórica que orientou esse conhecimento foram as teorias 
evolucionistas. 
De acordo com elas, a humanidade seria composta de diversas espécies em 
diferentes etapas de desenvolvimento do processo evolutivo. Assim, cada sociedade 
poderia ser classificada e inserida em um contínuo que ia das mais atrasadas e 
simples às mais adiantas, evoluídas e complexas. As sociedades mais simples, ou 
primitivas, como foram chamadas, correspondiam a estágios inferiores na história 
evolutiva da humanidade, verdadeiros fósseis vivos do nosso passado. Continentes 
inteiros foram vistos como museus propícios ao estudo da nossa diversidade evolutiva 
e genética. 
Hoje, parece cada vez mais plausível a ideia, conforme os defensores “fora da 
África” ou de substituição, de sermos manifestação de um único processo global de 
 
31 
 
evolução, que abrange a espécie humana como um todo. Aceita-se que o processo 
evolutivo humano levou ao aparecimento do Homo sapiens – ocorrido na África – e 
que migrou pelo planeta, diversificando-se em sua aparência e em seus hábitos 
graças a sua inigualável capacidade de adaptação ao meio. Essas diferenças, 
entretanto, não são de espécies. Mesmo os defensores da teoria multirregional, que 
advogam a tese de que o homem moderno é o resultado da interseção de espécies 
diferentes de hominídeos, – com o passar do tempo, os Homo erectus especiaram-
se, ou seja, diferenciaram-se fisicamente por influência do meio ambiente, isso 
explicaria as diferenças regionais observáveis -, acreditam que, no decorrer de sua 
migração pelo planeta, os grupos de Homo sapiens foram se miscigenando, dando 
aos povos hoje existentes uma grande homogeneidade de composição genética. 
Inúmeros exames de DNA têm provado que não há diferenças biológicas entre 
grupos humanos marcados por alguma diferenciação fenotípica. 
Ao lado dessas diferenças regionais, passamos por séculos de colonialismo, 
imperialismo e industrialização do planeta, que resultam no processo que chamamos 
de “globalização”. Estamos próximos de constituir uma verdadeira aldeia global – 
redes econômicas e de informação de âmbito universal interligam os maisdistintos 
povos da Terra, homogeneizando as culturas, os hábitos e as crenças. A troca de 
influência entre as nações é imensa e até mesmo as diferenças de nacionalidade se 
mostram cada vez mais questionáveis. Mas, 150 anos atrás, africanos, americanos e 
asiáticos foram vistos como essencialmente diferentes dos europeus. 
10.1 O Evolucionismo na Sociologia 
A sociologia não ficou imune à influência dos princípios evolucionistas. 
Inúmeros sociólogos procuram também descobrir as leis gerais que ordenavam as 
transformações e a evolução social, responsáveis por fazer com que formas sociais 
mais simples fossem passando natural e progressivamente a outras, mais complexas 
e evoluídas. 
Émile Durkheim, aplicando esse princípio teórico ao estudo comparado dos 
diversos modelos europeus de vida social, distinguiu também diversas “espécies” que 
se diferenciavam uma das outras, umas mais simples, outras mais complexas. Um 
dos aspectos que as diferenciava era, por exemplo, a complexidade na divisão social 
 
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do trabalho. As sociedades mais simples eram aquelas cujas tarefas se encontravam 
divididas apenas por sexo e idade, enquanto, nas sociedades mais complexas, as 
atividades produtivas iam paulatinamente se diferenciando segundo outros critérios, 
como o grau de instrução, por exemplo. 
Ferdinand Tönnies foi outro sociólogo distinguiu nos países europeus duas 
espécies de formações sociais: a comunidade, em que as relações sociais entre os 
indivíduos são mais próximas, tendo por base a vida familiar e as relações 
comunitárias, e a sociedade, em que já se desenvolve a vida urbana, há forte presença 
do Estado e menor coesão entre os agentes sociais. 
Dessa forma esses cientistas identificavam formações sociais “primitivas” e 
“complexas” e entendiam a história como processo inexorável e natural que 
transformaria as sociedades primitivas em complexas. 
Hoje, pelo menos em nível local, compreende-se que o caráter sistêmico ou 
interdependente da vida social integra as diferentes formas de organização social, 
fazendo com que a relação entre elas não seja de diferente grau de evolução, mas de 
complementaridade. Por outro lado, as relações de dominação de um setor social 
sobre o outro, ou de uma nação sobre a outra, é que explicam a existência dessas 
diferenças e o seu processo de transformação, que nada tem de natural ou inexorável. 
O marxismo foi a teoria que mais contribuiu para uma crítica eficiente das 
concepções evolucionistas da antropologia e da sociologia, pelo fato de explicar a vida 
social como uma totalidade integrada, cujas desigualdades entre as partes são 
consequências das relações que mantém entre si e não de sua natureza. Entretanto, 
resistindo a essa ideia e inspirados pelo evolucionismo, antropólogos e sociólogos 
procuraram então, por meio de análises comparativas, estabelecer um quadro 
dicotômico que permitia distinguir os traços considerados característicos de 
sociedades “primitivas” e aqueles considerados próprios das sociedades “complexas”. 
10.2 Malinowski e Radcliffe-Brown: a escola funcionalista 
No início do século XX, surgiu o funcionalismo – escola antropológica que 
sucedeu ao evolucionismo, respondendo em partes às críticas que a ele se faziam por 
seu euro-centrismo e etnocentrismo. 
 
33 
 
De acordo com a escola funcionalista, as diversas sociedades não deveriam 
ser comparadas umas com as outras, mas estudadas em si mesmas de forma 
particular e isolada. Cada sociedade constitui uma totalidade integrada e composta de 
partes interdependentes e complementares, que tem a sociedade por função 
satisfazer as necessidades essenciais dos seus integrantes. Um traço cultural, dessa 
maneira, só pode ser entendido no contexto da cultura à qual pertence e não em 
relação a outra qualquer. A função que o traço ou costume desempenha é que justifica 
sua existência e permanência. Sua alteração vai depender, também, não de um 
desenvolvimento evolutivo, mas da perda de sua função, razão de sua existência. 
Em seu livro, Uma teoria científica da cultura, Malinowski definiu o conceito de 
função inicialmente como a resposta de uma cultura a necessidades básicas do 
homem, como alimentação, defesa e habitação. “A função, nesse aspecto mais 
simples e básico do comportamento humano, pode ser definida como a satisfação de 
um impulso orgânico pelo ato adequado. ” Dado, entretanto, que as necessidades da 
espécie humana não se resumiam a questões biológicas, a função social de 
determinados costumes e instituições deveria responder às necessidades sociais do 
grupo. “A função das relações conjugais e da paternidade é obviamente o processo 
de reprodução culturalmente definido. ” 
O fato de que uma sociedade pareça inicialmente desordenada ou 
desintegrada ao pesquisador, resulta de desconhecimento em relação a ela, o qual só 
será superado por longo processo de investigação e convivência do antropólogo com 
o grupo estudado. É a chamada observação participante, método de pesquisa que 
revolucionou os estudos antropólogos, substituindo a análise de informações 
superficiais e questionários inadequados pelo estudo sistemático das sociedades. O 
investigador, deixando seu gabinete e convivendo com a sociedade que quer 
conhecer, penetra na cultura, desvenda seus significados, guiado por suas 
informações e não por teorias externas à realidade estudada. 
O grande sistematizador do funcionalismo e do método da observação 
participante foi Malinowski, que de 1914 a 1918 viveu entre os nativos das ilhas 
Trobriand, próximas à Nova Guiné. Foi o primeiro a organizar e a sintetizar uma visão 
integrada e totalizante do modo de vida de um povo não-europeu. Graças ao seu 
conhecimento da língua nativa – condição que ele considerava essencial para esse 
trabalho – e de uma observação intensa e sistemática, conseguiu reconstituir os 
 
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principais aspectos da vida trobriandesa, desde as grandes cerimônias até singelos 
aspectos diários. 
Segundo Malinowski, o trabalho do antropólogo deve iniciar-se com a 
observação de cada detalhe da vida social – mesmo aqueles aparentemente sem 
importância e incoerentes -, tentando descobrir seus significados e inter-relações. A 
etapa seguinte é um esforço de seleção daquilo que é mais importante e significativo 
para o entendimento da organização de todo integrado constituído pela sociedade. 
Finalmente, o antropólogo deverá construir uma síntese na qual se revele o quadro 
das grandes instituições sociais – conceito essencial do funcionalismo referente a 
núcleos ordenados da sociedade que compreendem um código, um grupo humano 
organizado, normas, valores e uma infraestrutura material e física. A observação do 
participante inclui, portanto, escutar e escrever, sendo “o escrever” uma forma de 
compreensão da realidade estudada. 
Outro funcionalista importante foi o inglês Radcliffe-Brown, que, influenciado 
pelas teorias e pelo método de Durkheim, procurou adapta-los ao estudo das 
sociedades não-europeias. Como Malinowski, considerava essas sociedades como 
totalidades integradas de instituição que tem por função satisfazer necessidades 
básicas de alimento, segurança e abrigo, e de manutenção da vida social. 
11 CONCEITOS E MÉTODOS FUNCIONALISTAS 
Com os estudos funcionalistas, as sociedades tribais africanas, australianas e 
asiáticas adquiriram especificidade, isto é, passaram a ser entendidas naquilo que 
lhes era próprio e irredutível a qualquer outra forma de organização social. Ganharam 
também contemporaneidade, ou seja, seus aspectos considerados arcaicos deixaram 
de ser tratados como “sobrevivências”, “fósseis vivos” de fases ultrapassadas da 
humanidade: passaram a constituir formas de integração e redefinição de padrões 
culturais. 
Dizia Malinowski que, mesmo se algum costume tivesse origem em um 
passado remoto, ele não constituía uma “sobrevivência”, mas um aspecto da cultura 
redefinidopelas necessidades sociais do presente. Essa proposição atacava o 
 
35 
 
procedimento evolucionista de comparar traços culturais desligados de seu contexto 
de origem e funcionamento. 
Por outro lado, os observadores funcionalistas, constatando as mudanças 
sociais que ocorriam nas sociedades “primitivas”, causadas pelo contato com o 
europeu, explicavam-na como exemplos de aculturação, processo por meio do qual 
sociedades diferentes, entrando em contato, tendem a intercambiar traços culturais e 
costumes. 
Os funcionalistas não consideravam as sociedades não capitalistas atrasadas, 
mas ainda as julgavam diferentes. Não se opunham às mudanças sociais, mas 
apoiavam o princípio de “administração indireta” – o colonialismo em colaboração com 
as elites nativas – como guia dessas mudanças, defendendo uma transformação lenta 
e bem dosada que preservasse as sociedades dos efeitos destrutivos da ação 
colonialista. 
O funcionalismo foi responsável pela aplicação de certos conceitos, que foram 
incorporados à sociologia, como função e sistema social. Foi responsável também 
pelo avanço nas técnicas de pesquisa empírica. Os antropólogos funcionalistas 
costumavam dizer que, graças à observação participante, sabia-se mais sobre as 
populações africanas e asiáticas do que sobre as sociedades europeias. Algum tempo 
mais tarde, as técnicas de pesquisa dos funcionalistas passaram a ser aplicadas no 
estudo de sociedades ocidentais. 
11.1 A Polêmica Gerada Pelo Funcionalismo 
As contribuições do funcionalismo ao desenvolvimento da antropologia são 
inquestionáveis. Foram os funcionalistas que primeiro deram as costas à Europa e ao 
evolucionismo para estudar o mundo não-europeu como uma realidade de igual 
qualidade e capaz de ser entendida em si mesma. Foram eles que desenvolveram um 
método científico eficiente – e ao mesmo tempo responsável – de estudos das 
diferentes culturas. 
 
 
36 
 
Fonte: 
www.canstockphoto.hk 
Entretanto, muitas críticas de caráter político surgiram denunciando a 
colaboração dos funcionalistas com a administração colonial naquilo que ficou 
conhecido, na administração inglesa, como Indirect Rule – a dominação colonial 
apoiada na convivência da elite da sociedade colonizada. Para essa “parceria”, os 
conhecimentos antropológicos foram de maior importância. 
Os funcionalistas por meio de conceitos como aculturação e choque cultural – 
com o qual estudavam o intercâmbio de traços culturais provenientes do contato entre 
culturas -, deixavam de revelar as desigualdades que existem sempre nesse contato, 
em especial quando resultam de uma política colonialista. 
Ainda do ponto de vista político, se é verdade que o funcionalismo é 
responsável pela ascensão do relativismo cultural também é certo que a neutralidade 
que ele defende diante da realidade está cada vez mais em desuso, num mundo que 
se estreita e onde já se desenvolvem os princípios de uma ética mundial. 
Do ponto de vista teórico, o funcionalismo foi criticado por ter se preocupado 
essencialmente com as forças de integração social, não dando destaque aos conflitos 
sociais. Ao centrarem sua análise “no aqui e no agora”, os funcionalistas acabaram 
 
37 
 
justificando toda e qualquer prática social que tenha contribuído para a manutenção 
do todo. 
Essencialmente sincrônicos em sua análise, os funcionalistas não conseguiram 
explicar os processos de transformação e mudança social e, defensores da tolerância, 
foram excessivamente omissos quando essas transformações ocorreram, destruindo 
as formas tradicionais de vida na África e na Ásia. 
O método etnográfico e de observação participante, entretanto, continuam 
propiciando férteis análises de grupos sociais. Não só quando o pesquisador se vê 
diante de grupos étnicos diferentes, mas também quando se depara com grupos 
organizados em torno de hábitos e rituais particulares. O princípio de observar, 
escutar, descrever e interpretar continua sendo fonte de informação e conhecimento 
nas ciências sociais em geral e na comunicação em particular. Assim, o estudo do 
comportamento de tribos urbanas ou da audiência a determinados programas de 
televisão passam, hoje em dia, pela pesquisa etnográfica. A tecnologia, por sua vez, 
também, tem dotado o etnógrafo de meios cada vez mais eficientes de observação. 
O gravador, a câmera fotográfica e de vídeo têm sido auxiliares efetivos no 
conhecimento do outro.7 
12 ANTROPOLOGIA E CULTURA POPULAR 
A miscigenação racial no Brasil, de forma distinta, pelo negro, o branco, o índio, 
antevê a possibilidade de que a identidade sociocultural do povo brasileiro foi sem 
dúvida, a condição suprema para a nossa formação, principalmente no conjunto de 
valores culturais tão importantes e que marcam a nossa condição histórica, inclusive, 
no seu fundamento à homogeneidade cultural e linguística. 
Muito antes da sua emancipação política e administrativa em idos de 1912, o 
município de Pirapora era habitado por indígenas da Tribo Cariri, que viviam da pesca 
abundante e da caça. Tanto o é, que o topônimo pira (salto), poré (peixe), ou “onde o 
peixe salta” representa através desta raça, a pujança do lugar. 
 
7 Extraído do link: universoracionalista.org 
 
38 
 
Contudo, vale salientar que Pirapora, motivada pela “saudosa” navegação do 
Rio São Francisco, sofreu uma grande intervenção sociocultural, enfaticamente de 
nordestinos, na sua maioria retirantes e aventureiros que procuravam terras férteis e 
prosperidade econômica satisfatória. 
Esses grupos dentro do contexto das relações sociais representam os estudos 
etnológicos, feitos por pesquisadores que acima de tudo, procuram desenvolver com 
exatidão não só o teor antropológico dos indígenas, como a própria formação do nosso 
povo, de forma sistematizada e generalizada, ou seja, através da análise e 
interpretação sucinta da nossa história singular. 
 Mas, o que vem a ser a cultura popular? 
A cultura popular é tida como “...a cultura associada ao povo, ou seja, ao 
contrário da cultura erudita, não está ligada ao conhecimento científico, mas como 
parte integrante o conhecimento vulgar ou espontâneo, o popular senso comum. 
Considerada também como arte do povo, o tipo de linguagem acontece como uma 
espécie de luta pela sobrevivência e pode ser de massa ou tradicional”. 
Mas, o homem começou a se desenvolver culturalmente através das suas 
necessidades básicas, como o alimento para saciar-lhe a fome e o abrigo do corpo. 
Para fins didáticos, pode-se afirmar que a cultura nasceu com o homo sapiens. 
Nesse prisma, os grupos humanos se expandiram progressivamente, 
ocupando praticamente a totalidade dos continentes do planeta, a partir de uma 
origem biológica comum. O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo 
ritmos diversos e modalidades variáveis, não obstante a constatação de certas 
tendências globais. 
Todavia, não devemos hierarquizar a cultura, até porque não há como conceber 
que haja uma cultura superior. Há culturas diferentes, não havendo nenhuma distinção 
quanto às suas características em face à realidade cultural de um povo ou de um 
grupo humano. 
Sendo a cultura a dimensão do processo social, é imprescindível que cada 
realidade cultural tenha sua lógica interna, sendo necessário relacionar a variedade 
de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos. 
A contribuição no estudo das culturas advém da construção do fundamento 
histórico, seja como concepção ou como dimensão do processo social, sendo a 
cultura um produto coletivo da vida humana. 
 
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E a tradição, como se aplica nesse contexto? Ora, a falsa ideia que se tem, é 
que a tradição é tudo aquilo que é velho e/ou antigo, mas esse é um conceito falso, 
vez que é aquilo que está sendo entregue ou transmitido, ou seja, a herança cultural, 
passada de uma geração para outra, as crenças e técnicas.

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