Buscar

PEÇA VALORATIVA 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

AO JUÍZO DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ARAPIRACA
Processo n. XXX
MARIA, devidamente qualificada nos autos da ação em epígrafe, vem, muito
respeitosamente diante de Vossa Excelência, através de seu advogado infrafirmado, com procuração
em anexo, oferecer RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com base nos arts. 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:
I - DOS FATOS
Narra a denúncia que no dia 24.12.2010 Maria, então com 20 anos de idade, ingressou em
um grande supermercado da região e escondeu na roupa dois pacotes de macarrão, cujo valor
totalizava R$ 18,00 (dezoito reais). Ocorre que a conduta de Maria foi percebida pelo fiscal de
segurança, que a abordou no momento em que ela deixava o estabelecimento comercial sem pagar
pelos bens, e apreendeu os dois produtos escondidos.
Em sede policial, Maria confirmou os fatos, reiterando a ausência de recursos financeiros e
a situação de fome e risco físico de seu filho. Juntado à Folha de Antecedentes Criminais sem outras
anotações, o laudo de avaliação dos bens subtraídos confirma o valor.
Por tais razões, Maria foi denunciada pelo Ministério Público pela prática do crime do Art.
155, caput, c/c Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal.
A denúncia foi recebida em 18.01.2011, entretanto, como ela não tinha endereço fixo, não
foi localizada para ser citada, sendo que o processo prosseguiu regularmente sem suspensão
esperando a localização de Maria para citação.
Maria compareceu no cartório no dia 16.03.2015, sendo consequentemente citada bem
como intimada para o oferecimento da resposta à acusação.
II - PRELIMINARES
II.1 - DA PRESCRIÇÃO
Narra a denúncia que o fato imputado para Maria foi praticado em 24.12.2010, sendo que
nesta data Maria contava com 20 anos de idade, ou seja, menor de 21 anos de idade. O crime
imputado à ré foi de furto simples, com pena máxima cominada em 04 anos. Nos moldes do art.
109, IV, do Código Penal, os crimes cujas penas máximas não excedam quatro anos prescrevem em
08 anos.
Ocorre que a ré à data do fato era menor de 21 anos de idade, e nas esteiras do art. 115 do
Código Penal, o prazo prescricional é reduzido pela metade quando o criminoso era, ao tempo do
crime, menor de 21 (vinte e um) anos. Desta forma, deve ser reconhecido que o crime imputado a
Maria encontra-se prescrito, pois entre a data do recebimento da denúncia (18.01.2011) e a data em
que ela foi citada (16.03.2015) transcorreu lapso temporal de mais de quatro anos, devendo ser
declarada a extinção da sua punibilidade (art. 107, IV, do Código Penal).
Assim, verificada a extinção de punibilidade em decorrência da prescrição, com base no
art. 397, IV, do Código de Processo Penal, deve o magistrado absolver sumariamente a ré.
III - MÉRITO
III.1 - DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Imperioso reconhecer que diante do valor dos bens subtraídos (dezoito reais) e do contexto
do delito cometido há a ocorrência do princípio da insignificância na ação delituosa da ré. Os
requisitos elencados pelo Supremo Tribunal Federal que fundamentam a aplicação do princípio da
insignificância se encontram presentes na situação, quais sejam, ausência da periculosidade social
da ação, mínima ofensividade da conduta do agente, ínfimo grau de reprovabilidade do
comportamento e inexpressividade da lesão jurídica causada. Maria agiu motivada por não aguentar
mais ver o filho chorar e ficar doente em razão da ausência de alimentação, o bem subtraído foi
restituído ao estabelecimento comercial. Além do mais, dois pacotes de macarrão jamais ensejariam
dano a uma grande rede de supermercado.
Sabe-se que a conduta da ré amolda-se ao tipo penal do furto, previsto no art. 155 do
Código Penal. A tipicidade ramifica-se em formal e material. A tipicidade formal é aquela conduta
que se subsume ao tipo penal. Maria subtraiu coisa alheia móvel, logo sua conduta é formalmente
típica. A tipicidade material é quando há efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma penal,
o que não se vislumbra na conduta de Maria. Assim, há de se reconhecer que sua conduta foi
atípica, não houve infração penal, devendo ser absolvida sumariamente com base no art. 397, III do
Código de Processo Penal.
III.2 - DO ESTADO DE NECESSIDADE
Na conduta de Maria, há uma causa manifesta de exclusão de ilicitude, qual seja, o Estado
de Necessidade (art. 23, I, do Código Penal). Dispõe o art. 24 do Código Penal que se considera em
estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.
É de claridade cristalina que Maria não provocou por sua vontade a situação de fome e
risco físico de seu filho, sendo que ela ao terminar o relacionamento amoroso com João, por não
mais suportar as agressões físicas sofridas, foi expulsa do imóvel que residia em comunidade
carente. Ao ser expulsa com seu filho, que à época do fato tinha dois anos de idade, pernoitava em
igrejas e outros locais de acesso público, alimentando-se a partir de ajudas recebidas de
desconhecidos. Não possuía familiares no Estado nem outros conhecidos. Dessa forma, não tendo a
quem recorrer para ajudá-la com alimentos e sem conseguir emprego, a sua situação se tornou de tal
forma extrema que não era razoável exigir de Maria que sacrificasse a integridade física de seu filho
a fim não causar lesão de ínfimo valor a uma grande rede de supermercado. Josefa, sua amiga que
também era moradora de rua, tinha todo o conhecimento de suas necessidades.
Assim, deve ser a ré ser absolvida com base no art. 397, I, do Código de Processo Penal.
IV - DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) absolvição sumária da ré com base no art. 397, IV, do Código de Processo
Penal, em decorrência da prescrição.
b) absolvição sumária da ré com base no art. 397, III, do Código de Processo
Penal, em decorrência do princípio da insignificância;
c) absolvição sumária da ré com base no art. 397, I, do Código de Processo
Penal, em decorrência do estado de necessidade;
d) arrolamento e intimação da testemunha Josefa.
Nestes termos, pede e espera deferimento.
Arapiraca/AL, 26 de março de 2015
Advogado XXX
OAB XXX
ROL DE TESTEMUNHAS:
1. Josefa, qualificação XXX, residente na Rua X

Outros materiais