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May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é o agente da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Tanto o HIV-1 como o HIV-2 causam AIDS; entretanto, HIV-1 é encontrado em escala mundial, enquanto HIV-2 é encontrado principalmente na África Ocidental. ESTRUTURA VIRAL O HIV pertence ao subgrupo de lentivírus dos retrovírus, responsáveis por infecções “lentas” com longos períodos de incubação. O HIV é um vírus envelopado, apresentando em sua superfície uma membrana lipídica oriunda da membrana externa da célula do hospedeiro e duas glicoproteínas (gp41 e gp120). Internamente a essa membrana está a matriz proteica formada pela proteína p17 e pelo capsídeo viral de forma cônica composto pela proteína p24. O material genético, o RNA transportador (tRNA) e as enzimas necessárias para os primeiros eventos da replicação viral encontram-se no capsídeo viral: Sequência gag: codifica proteínas estruturais do núcleo. Sequência env: codifica glicoproteínas gp120 e gp41 do envelope, que não estão covalentemente associadas uma à outra e são necessárias para a infecção das células. Sequência pol: codifica as enzimas virais transcriptase reversa, integrase e protease, que são necessárias para a replicação viral. Genes tat, rev, vif, nef, vpr, vpu: genoma do HIV-1 contém seis outros genes que regulam a replicação viral e a evasão imune ao hospedeiro de várias formas. A capacidade de o HIV infectar um indivíduo depende de alguns fatores que são relacionados com suas características biológicas, assim como comportamentais. Fatores biológicos concentração no fluido biológico (inóculo viral); integridade e vulnerabilidade da mucosa envolvida (mucosas anal, vaginal ou oral); duração da exposição; tipo de amostra viral transmitida; e background genético. Fatores comportamentais estão diretamente relacionados com os fatores biológicos e podem ser exemplificados: indivíduos com múltiplos parceiros sexuais; não uso de preservativos e compartilhamento de seringas e/ou objetos perfurocortantes contaminados. O vírus está presente em diferentes tecidos linfoides por todo o organismo, além de sangue, sêmen, secreções vaginais e/ou cervicais, e leite materno de indivíduos infectados. As principais formas de transmissão são: May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) FISIOPATOLOGIA INTRODUÇÃO A imunopatogênese da AIDS permanece relativamente desconhecida, entretanto, sabe-se que a integração do material genético viral com o genoma da célula hospedeira resulta em alterações que afetam tanto as células infectadas como as precursoras. Essas alterações incluem: ↓ da proliferação das células T antígeno-específicas; ↓ da síntese de citocinas e mudanças nos processos celulares básicos, como o ciclo de regulação celular, resultando em morte celular programada prematura; Mudanças na homeostase não imunológica com consequências no processo imunológico, como elevação do nível de substância P, que, por sua vez, aumenta a expressão do HIV nos monócitos. Apesar do HIV poder infectar muitos tecidos, há dois alvos principais da infecção: o sistema imune e a parte central do sistema nervoso. A imunodeficiência profunda, afetando primariamente a imunidade celular, é a marca de autenticidade da Aids. Isto resulta principalmente da infecção de linfócitos T CD4+ e grande perda deles, bem como do comprometimento de função dos linfócitos T auxiliares sobreviventes. Os macrófagos e células dendríticas também são alvos da infecção pelo HIV. Este entra no corpo através dos tecidos das mucosas e pelo sangue e infecta primeiro os linfócitos T, bem como as células dendríticas e os macrófagos. A infecção se estabelece nos tecidos linfoides, onde o vírus pode permanecer latente por longos períodos. A replicação viral ativa associa-se a mais infecção de células e progressão para Aids. PATOGÊNESE TRANSMISSÃO DO HIV Sexual Não uso de preservativo PARENTERAL Receptores de sangue e hemoderivados Compartilhamen to de objetos perfurocortantes Ex: usuários de drogas VERTICAL Gestacional Infecção congênita Durante o parto Infecção perinatal Aleitamento Infecção pós-natal Ocupacional Acidentes de trabalho com perfurocortantes May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) CICLO VIRAL A infecção das células pelo HIV inicia-se quando a glicoproteína do envelope gp120 do vírus liga-se a duas proteínas da célula hospedeira, ao CD4 e um correceptor que é um membro da família de receptores de quimiocinas. O receptor celular de maior afinidade para a gp 120 é a molécula CD4, que se exprime com maior densidade na superfície dos linfócitos T4. Após fusão celular do vírus, os HIV entram na célula alvo. No citoplasma celular libertam o RNA que é copiado em DNA pela transcriptase reversa, sendo o RNA degradado por uma RNase. O DNA viral é então integrado no genoma da célula alvo por uma integrase. Segue-se um período de latência. Quando surge ativação dos genes virais, sucede-se a transcrição do DNA em RNA viral, tradução, enquadramento ribossômico, clivagem poliproteica, reunião dos componentes, reconstituição da partícula viral e saída da célula por gemulação e ruptura da membrana celular. Os receptores de quimiocinas mais importantes que agem como correceptores para o HIV são o CXCR4 e o CCR5. O DNA do HIV integrado é chamado de provírus. Os provírus podem permanecer transcricionalmente inativos durante meses ou anos, com pouca ou nenhuma produção de novas proteínas virais ou vírions, e deste modo a infecção pelo HIV de uma célula individual pode permanecer latente. De um modo geral, para se reproduzir, o HIV penetra no linfócito T auxiliar por uma proteína denominada CD4 que se encontra a redor da célula. Esta proteína abre a passagem para o HIV, permitindo que se replique, destruindo o linfócito e libertando os novos vírus. Como muitas das células são destruídas, o sistema imunitário desequilibra-se e enfraquece, deixando o organismo sem condições de reconhecer os agentes invasores. Mesmo depois de 10-11 anos após a infecção e do aparecimento dos anticorpos neutralizantes, o HIV causa imunodeficiência, matando bilhões de células T. Desta maneira, o teste de anticorpos positivo é um indicador de HIV. MECANISMO DE IMUNODEFICIÊNCIA A infecção pelo HIV desencadeia alterações inflamatórias durante todo o curso da infecção. Nas primeiras horas após a infecção pela via sexual, o HIV e células infectadas atravessam a barreira da mucosa, permitindo que o vírus se estabeleça no local de entrada e continue infectando linfócitos T-CD4+, além de macrófagos e células dendríticas. Embora as células dendríticas da submucosa intestinal sejam as primeiras a produzirem grande quantidade de citocinas, com a evolução da infecção, inúmeras outras células passam a produzi-las (monócitos, macrófagos, células Natural Killer e células T), desencadeando uma resposta anti-HIV cuja eficácia costuma ser baixa em razão da ativação imune excessiva e da perda importante de LT-CD4+. A população de LT-CD4+, predominantemente CCR5+ residente na submucosa intestinal (Gut Associated Lymphoid Tissue – GALT), é intensamente infectada e destruída, ocasionando uma “quebra de barreira imune” do GALT. Essa alteração da imunidade local facilita a disseminação de produtos bacterianos para circulação sanguínea e contribui sobremaneira para o processo de disfunção e ativação imune que caracteriza a evolução da doença. Após a transmissão do vírus, há um período de aproximadamente dez dias, denominado fase eclipse, antes que o RNA viral seja detectável no plasma A resposta imunológica inata que se estabelece no foco da infecção atrai uma quantidade adicional de células T, o que, por sua vez, aumenta a replicação viral. A partir dessa pequena população de células infectadas, o vírus é disseminado inicialmentepara os linfonodos locais e depois sistemicamente, em número suficiente para estabelecer e May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) manter a produção de vírus nos tecidos linfoides, além de estabelecer um reservatório viral latente, principalmente em linfócitos T-CD4+ de memória. A replicação viral ativa e a livre circulação do vírus na corrente sanguínea causam a formação de um pico de viremia por volta de 21 a 28 dias após a exposição ao HIV. Essa viremia está associada a um declínio acentuado no número de linfócitos T-CD4+. Durante a fase aguda, ocorre uma resposta inflamatória significativa representada pelo aparecimento de diversos marcadores plasmáticos de fase aguda (por ex., alfa 1 anti-tripsina e amiloide A) e liberação de um grande número de citocinas inflamatórias comandadas pelo interferon alfa e IL15, o que coincide com o aumento expressivo da carga viral plasmática. Embora a carga viral plasmática apresente uma redução significativa após a fase de infecção aguda, a ativação imune persiste no estágio crônico da doença. Nessa fase, notam-se níveis aumentados de citocinas pró-inflamatórias, como TNF, IL-1, IL-6, elevação da proteína C reativa, dímero D, havendo também aumento da produção e da destruição de LT-CD4+ e de linfócitos B. Além disso, há uma alteração da arquitetura do GALT e dos linfonodos, com importante deposição de colágeno. Na fase de expansão e disseminação sistêmica, há a indução da resposta imunológica, mas esta é tardia e insuficiente em magnitude para erradicar a infecção. A ativação imune, por outro lado, produz uma quantidade adicional de linfócitos T-CD4+ ativados que servem de alvo para novas infecções. Ao mesmo tempo, o número crescente de linfócitos T-CD8+ exerce um controle parcial da infecção, mas não suficiente para impedir, na ausência de terapia, a lenta e progressiva depleção de linfócitos T-CD4+ e a eventual progressão para a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). A ativação de linfócitos T-CD8+ específicos contra o HIV ocorrem normalmente antes da soroconversão. A ativação dos linfócitos T CD8+ citotóxicos ocorre precocemente após a infecção pelo HIV e sua atividade antiviral modula a evolução da doença, correlacionando-se com redução da carga viral e lenta progressão clínica. O aparecimento de uma resposta imune celular HIV-específica e a subsequente síntese de anticorpos anti-HIV levam a uma queda da carga viral plasmática (viremia) – até um nível (set point) que é específico de cada indivíduo – e à cronicidade da infecção pelo HIV. AH!! A resposta imune mediada por células é mais importante do que a resposta imune humoral no controle da replicação viral durante a infecção aguda, mas os anticorpos têm um papel relevante na redução da disseminação do HIV na fase crônica da infecção: Como em qualquer outra infecção viral, a primeira classe de anticorpo produzida durante uma resposta imune primária é a imunoglobulina M (IgM). Devido à persistência do HIV, nosso organismo é continuamente exposto aos mesmos antígenos e a produção inicial de IgM é substituída pela produção de imunoglobulina G (IgG). Entretanto, ao contrário de outras doenças infecciosas, a presença da IgM não permite diferenciar uma infecção recente de uma infecção crônica, tendo em vista que a IgM pode reaparecer em outros momentos durante o curso da infecção. A IgG anti-HIV atinge níveis séricos elevados e persiste por anos, enquanto os níveis séricos de IgM tendem a desaparecer com o tempo ou apresentar padrão de intermitência. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) QUADRO CLÍNICO: May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) A infecção pelo HIV pode ser dividida em quatro fases clínicas: 1) infecção aguda; 2) fase assintomática, também conhecida como latência clínica; 3) fase sintomática inicial ou precoce; e 4) aids. INFECÇÃO AGUDA: • A infecção aguda, também chamada de síndrome da infecção retroviral aguda ou infecção primária, ocorre em cerca de 50% a 90% dos pacientes. • Seu diagnóstico é pouco realizado devido ao baixo índice de suspeição. • O tempo entre a exposição e os sintomas é de cinco a 30 dias. • A história natural da infecção aguda caracteriza-se tanto por viremia elevada, como por resposta imune intensa. Durante o pico de viremia, ocorre diminuição rápida dos linfócitos T CD4 +, que posteriormente aumentam, mas geralmente não retornam aos níveis prévios à infecção. Observa-se, também, aumento do número absoluto de linfócitos T CD8+ circulantes, com a inversão da relação CD4+/CD8+, que se torna menor que um. Este aumento de células T CD8+, provavelmente, reflete uma resposta T citotóxica potente, que é detectada antes do aparecimento de anticorpos neutralizantes. Existem evidências de que a imunidade celular desempenha papel fundamental no controle da viremia na infecção primária. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. • As manifestações clínicas podem variar, desde quadro gripal até uma síndrome mononucleose-like. • Além de sintomas de infecção viral, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulcerações mucocutâneas envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália, hiporexia, adinamia, cefaléia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos; • Os pacientes podem apresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome de Guillain-Barré. • Os sintomas duram, em média, 14 dias, sendo o quadro clínico autolimitado. A ocorrência da síndrome de infecção retroviral aguda clinicamente importante ou a persistência dos sintomas por mais de 14 dias parecem estar relacionadas com a evolução mais rápida para aids. • Após a resolução da fase aguda, ocorre a estabilização da viremia em níveis variáveis (set points), definidos pela velocidade da replicação e clareamento viral. O set point é fator prognóstico de evolução da doença. • A queda da contagem de linfócitos T CD4+, de 30 a 90 células por ano, está diretamente relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) ACHADOS LABORATORIAIS: Os achados laboratoriais inespecíficos são transitórios, e incluem: linfopenia seguida de linfocitose, presença de linfócitos atípicos, plaquetopenia e elevação sérica das enzimas hepáticas. FASE ASSINTOMÁTICA: • Na infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, o estado clínico básico é mínimo ou inexistente. • Alguns pacientes podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente, "flutuante" e indolor. • Portanto, a abordagem clínica nestes indivíduos no início de seu seguimento prende-se a uma história clínica prévia, investigando condições de base como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, DPOC, doenças hepáticas, renais, pulmonares, intestinais, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose e outras doenças endêmicas, doenças psiquiátricas, uso prévio ou atual de medicamentos, ou seja, condições que podem complicar ou serem agravantes em alguma fase de desenvolvimento da doença pelo HIV. • A história familiar, hábitos de vida, como também uma avaliação do perfil emocional e psicossocial do paciente, seu nível de entendimento e orientação sobre a doença são extremamente importantes. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) FASE SINTOMÁTICA INICIAL: • Sudorese noturna: É queixa bastante comum e tipicamente inespecífica entre os pacientes com infecção sintomática inicial pelo HIV. Pode ser recorrente e pode ou não vir acompanhada de febre. Nessa situação deve ser considerada a possibilidade de infecção oportunista, particularmente tuberculoses, lançando-se mão de investigação clínica e laboratorial específicas. • Fadiga: Tambémé frequente manifestação da infecção sintomática inicial pelo HIV e pode ser referida como mais intensa no final de tarde e após atividade física excessiva. Fadiga progressiva e debilitante deve alertar para a presença de infecção oportunista, devendo ser sempre pesquisada. • Emagrecimento: É um dos mais comuns entre os sintomas gerais associados com infecção pelo HIV, sendo referido em 95-100% dos pacientes com doença em progressão. Geralmente encontra-se associado a outras condições como anorexia. A associação com diarréia aquosa o faz mais intenso. • Diarréia: Consiste em manifestação frequente da infecção pelo HIV desde sua fase inicial. Determinar a causa da diarréia pode ser difícil e o exame das fezes para agentes específicos se faz necessário. Na infecção precoce pelo HIV, patógenos entéricos mais comuns devem ser suspeitados: Salmonella sp, Shigella sp, Campylobacter sp, Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, adenovírus, rotavírus. Agentes como Cryptosporidium parvum e Isospora belli, geralmente reconhecidos em fase mais avançada da doença causada pelo HIV, podem apresentar-se como expressão clínica autolimitada, principalmente com a elevação da contagem de células T CD4+ obtida com o início do tratamento antiretroviral. Quando a identificação se torna difícil ou falha, provas terapêuticas empíricas podem ser lançadas, baseando-se nas características epidemiológicas e clínicas do quadro. • Sinusopatias: Sinusites e outras sinusopatias ocorrem com relativa frequência entre os pacientes com infecção pelo HIV. A forma aguda é mais comum no estágio inicial da doença pelo HIV, incluindo os mesmos agentes considerados em pacientes imunocompetentes: Streptococus pneumoniae, Moraxella catarrhalis e H. influenzae. Outros agentes como S. aureus e P. aeruginosa e fungos têm sido achados em sinusite aguda, porém seu comprometimento em sinusites crônicas é maior. Febre, cefaléia, sintomas locais, drenagem mucopurulenta nasal fazem parte do quadro. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) • Candidíase Oral e Vaginal (inclusive a recorrente): A candidíase oral é a mais comum infecção fúngica em pacientes portadores do HIV e apresenta-se com sintomas e aparência macroscópica característicos. A forma pseudomembranosa consiste em placas esbranquiçadas removíveis em língua e mucosas que podem ser pequenas ou amplas e disseminadas. Já a forma eritematosa é vista como placas avermelhadas em mucosa, palato mole e duro ou superfície dorsal da língua. A queilite angular, também frequente, produz eritema e fissuras nos ângulos da boca. Mulheres HIV+ podem apresentar formas extensas ou recorrentes de candidíase vulvo-vaginal, com ou sem acometimento oral, como manifestação precoce de imunodeficiência pelo HIV, bem como nas fases mais avançadas da doença. As espécies patogênicas incluem Candida albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis e outras menos comumente isoladas. • Leucoplasia Pilosa Oral: É um espessamento epitelial benigno causado provavelmente pelo vírus Epstein- Barr, que clinicamente apresenta-se como lesões brancas que variam em tamanho e aparência, podendo ser planas ou em forma de pregas, vilosidades ou projeções. Ocorre mais frequentemente em margens laterais da língua, mas podem ocupar localizações da mucosa oral: mucosa bucal, palato mole e duro. • Gengivite: A gengivite e outras doenças periodontais pode manifestar-se de forma leve ou agressiva em pacientes com infecção pelo HIV, sendo a evolução rapidamente progressiva, observada em estágios mais avançados da doença, levando a um processo necrotizante acompanhado de dor, perda de tecidos moles periodontais, exposição e sequestro ósseo. • Úlceras Aftosas: Em indivíduos infectados pelo HIV é comum a presença de úlceras consideravelmente extensas, resultantes da coalescência de pequenas úlceras em cavidade oral e faringe, de caráter recorrente e etiologia não definida. Resultam em grande incômodo produzindo odinofagia, anorexia e debilitação do estado geral com sintomas constitucionais acompanhando o quadro. • Herpes Simples Recorrente: A maioria dos indivíduos infectados pelo HIV é coinfectada com um ou ambos os tipos de vírus herpes simples (1 e 2), sendo mais comum a evidência de recorrência do que infecção primária. Embora o HSV-1 seja responsável por lesões orolabiais e o HSV-2 por lesões genitais, os dois tipos podem causar infecção em qualquer sítio. Geralmente a apresentação clínica dos quadros de recorrência é atípica ao comparar-se aos quadros em indivíduos imunocompetentes, no entanto, a sintomatologia clássica pode manifestar-se independente do estágio da doença pelo HIV. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) • Herpes Zoster: De modo similar ao que ocorre com o HSV em pacientes com doença pelo HIV, a maioria dos adultos foi previamente infectada pelo vírus varicela zoster, desenvolvendo episódios de herpes zoster frequentes. O quadro inicia com dor radicular, rash localizado ou segmentar comprometendo um a três dermátomos, seguindo o surgimento de maculopapulas dolorosas que evoluem para vesículas com conteúdo infectante. Pode também apresentar-se com disseminação cutânea extensa. • Trombocitopenia: Na maioria das vezes é uma anormalidade hematológica isolada com um número normal ou aumentado de megacariócitos na medula óssea e níveis elevados de imunoglobulinas associadas a plaquetas, síndrome clínica chamada púrpura trombocitopênica imune. Clinicamente, os pacientes podem apresentar somente sangramentos mínimos como petéquias, equimoses e ocasionalmente epistaxes. Laboratorialmente considera-se o número de plaquetas menor que 100.000 células/mm3. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS): • O aparecimento de infecção oportunista e neoplasias é definidor da aids. • Entre as infecções oportunistas, destacam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus. As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em mulheres jovens. • Nessas situações, a contagem de LT-CD4+ situa-se abaixo de 200 céls/mm³, na maioria das vezes. Além das infecções e das manifestações não infecciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e neuropatias, que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo HIV. DIAGNÓSTICO Os testes para detecção da infecção pelo HIV são principalmente empregados em três situações: para triagem sorológica do sangue doado e garantia da segurança transfusional, dos hemoderivados e dos órgãos para transplante; para os estudos de vigilância epidemiológica; e para realizar o diagnóstico da infecção pelo HIV. Os testes mais comumente utilizados no diagnóstico da infecção pelo HIV são: IMUNOENSAIO (ELISA) PRIMEIRA GERAÇÃO O ensaio de primeira geração tem o formato indireto, ou seja, a presença de anticorpos específicos é detectada por um conjugado constituído por um anticorpo anti-IgG humana. Essas características tornam os ensaios de primeira geração pouco específicos e, pelo fato de detectarem apenas IgG, também são menos sensíveis do que os ensaios de gerações posteriores. ♥ Em média, a janela de soroconversão dos ensaios de primeira geração é de 35 a 45 dias. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) AH! Atualmente, esses ensaios deixaram de ser utilizados na rotina diagnóstica dos laboratórios. SEGUNDA GERAÇÃO O ensaio de segunda geração também tem formato indireto; porém, utiliza antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV. A utilização de antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos no diagnóstico da infecçãopelo HIV decorre do conhecimento de que existem regiões antigênicas em determinadas proteínas do HIV – epítopos imunodominantes – que são alvos preferenciais da resposta imune humoral. Quanto maior a quantidade de epítopos imunodominantes no ensaio, mais sensível esse ensaio se torna. Em comparação com os ensaios de primeira geração, os de segunda geração são mais sensíveis e específicos, por conterem uma maior concentração de epítopos imunodominantes relevantes. ♥ Em média, a janela de soroconversão dos ensaios de segunda geração é de 25 a 35 dias. TERCEIRA GERAÇÃO O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunométrico). A característica desse ensaio é utilizar antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos tanto na fase sólida quanto sob a forma de conjugado. Esse formato permite a detecção simultânea de anticorpos anti- HIV IgM e IgG. A possibilidade de detectar anticorpos da classe IgM torna esse ensaio mais sensível do que os de gerações anteriores. Há aumento da especificidade, pois o conjugado (antígenos) liga-se apenas à valência livre do anticorpo que está no complexo imune (antígenos na fase sólida do ensaio e anticorpos da amostra). ♥ Em média, a janela de soroconversão dos ensaios de terceira geração é de 20 a 30 dias. QUARTA GERAÇÃO O ensaio de quarta geração detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. O componente de detecção de anticorpo tem o formato de “sanduíche”; portanto, detecta todas as classes de imunoglobulinas contra proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados das glicoproteínas gp41 e gp120/160. ♥ Em média, a janela diagnóstica dos ensaios de quarta geração é de aproximadamente 15 dias; TESTE RÁPIDO (TR) Os testes rápidos (TR) são imunoensaios (IE) simples, com resultados em até 30 minutos, realizados preferencialmente de forma em ambiente não laboratorial com amostra de sangue total obtida por punção digital ou amostra de fluido oral. Isso possibilitou a ampliação dos testes e rapidez no diagnóstico (UHUU). Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: 1. Dispositivos (ou tiras) de imunocromatografia de fluxo lateral 2. Imunocromatografia de duplo percurso (DPP) 3. Imunoconcentração May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) Os TR são desenvolvidos para detectar anticorpos anti-HIV em até 30 minutos, ou seja, muito mais rápido em comparação com os IE utilizados em laboratórios, por isso, esses dispositivos são otimizados para acelerar a interação antígeno/anticorpo. Para isso, é necessária a utilização de uma maior concentração de antígeno e da detecção de complexo antígeno/anticorpo com reagentes sensíveis à cor. São ótimos exames para serem usados em: Centros de Testagem e acolhimento; CAPS Serviços de emergência Em populações prioritárias: o Acidentes biológicos ocupacionais o Gestantes (que não fizeram pré-natal adequado) o Parceiros de pessoas vivendo com HIV/AIDS o Pessoas em situação de rua ou pessoas privadas de liberdade o Entre outros Outros TR foram desenvolvidos utilizando como amostra o fluido oral (FO) coletado por meio de um dispositivo específico. O FO contém menor quantidade de anticorpos do que amostras de sangue total, soro ou plasma, mas ainda em quantidade suficiente para permitir o diagnóstico seguro da infecção pelo HIV, excetuando-se os casos de exposição recente. OBS: Sim, o Ministério da saúde não explica como esses teste são feitos, só coloca essas imagens véas! Kkkkkkk May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) TESTES COMPLEMENTARES Estão incluídos nessa categoria: western blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês line immunoassay), incluindo o imunoblot rápido (IBR) e imunofluorescência indireta (IFI). Mais recentemente, os testes moleculares (TM) também foram incluídos como testes complementares, uma vez que auxiliam no esclarecimento dos resultados da infeção aguda pelo HIV. IMUNOFLORESCÊNCIA INDIRETA (IFI) Foi muito utilizada como teste complementar durante a primeira década da epidemia de HIV, mas atualmente foi substituída pelo WB e IB. WESTERN BLOT (WB), IMUNOBLOT (IB) Empregam proteínas nativas do HIV separadas por eletroforese e transferidas para uma membrana (WB), ou proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos impregnados diretamente em membranas (IB). Estas são incubadas com amostras de soro ou plasma. O WB e o IB têm custo elevado e requerem interpretação subjetiva para estabelecer o diagnóstico com base em um padrão de reatividade definido pelo fabricante do conjunto diagnóstico. As proteínas relevantes na interpretação do WB e IB para o diagnóstico da infecção pelo HIV-1 podem, portanto, ser diferentes, dependendo do fabricante. IMUNOBLOT RÁPIDO (IBR) É semelhante ao IB, porém utiliza a metodologia DPP (plataforma de duplo percurso, do inglês dual path platform). Na fase sólida, estão presentes os antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos do HIV-1, incluindo o grupo O, e também a proteína do HIV-2, imobilizados sobre uma membrana. Ao contrário do WB e IB, o IBR permite a detecção de anticorpos em menos de 30 minutos. A maioria desses ensaios detectam apenas IgG e por isso não são recomendados para confirmar a presença de anticorpos IgM HIV específicos (ensaios de terceira ou quarta geração) ou a presença do antígeno p24 (ensaios de quarta geração). Nesse caso, recomenda-se utilizar um TM para complementar o diagnóstico do HIV. DIAGNÓSTICO POR DETECÇÃO DIRETA DO HIV A infecção pelo HIV pode ser diagnosticada por meio da detecção direta de componentes do vírus, como o antígeno p24, ou com testes moleculares (TM) que detectam RNA ou DNA pró-viral. A detecção do antígeno p24 do HIV-1, de RNA ou DNA, desempenha um papel importante quando a detecção de anticorpos não é possível. Esses testes são especialmente úteis para o diagnóstico em crianças com idade inferior a 18 meses e na infecção aguda em adultos (devido ao alto riso de transmissão ao parceiro por conta carga viral). AH!! Crianças nascidas de mães soropositivas adquirem anticorpos anti-HIV passivamente e, dessa forma, ensaios baseados em anticorpos não podem ser utilizados para confirmar ou descartar a infecção pelo HIV em crianças com idade inferior a 18 meses. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) DIAGNÓSTICO UTILIZANDO AMOSTRAS DE SANGUE SECO EM PAPEL-FILTRO As amostras de sangue seco em papel-filtro (DBS; do inglês dried blood spots) oferecem mais uma alternativa para a obtenção e transporte de amostras para o diagnóstico da infecção pelo HIV em locais em que a coleta por punção digital ou venosa ou a cadeia de frio para conservação e transporte de amostras não estiverem disponíveis. Para a realização do diagnóstico da infecção pelo HIV utilizando amostras de sangue seco em papel-filtro, é importante ressaltar que: A coleta de amostras de sangue total para o diagnóstico da infecção pelo HIV deve ser realizada cartão de papel-filtro desenvolvido para essa finalidade e que apresente um registro válido na ANVISA. As amostras de sangue total coletadas em papel-filtro devem ser testadas apenas com conjuntos diagnósticos desenvolvidos ou validados pelo fabricante para esse tipo de amostra e com registro válido na Anvisa. O processamento, armazenamento e transporte das amostras devem ser realizados conforme as instruções técnicas do(s) fabricante(s) contidas no(s) conjunto(s) diagnóstico(s). CONCLUSÃO As estratégias de testagem têm o objetivo de melhorar a qualidade do diagnóstico da infecção recente pelo HIV e, ao mesmo tempo, de fornecer uma base racional para assegurar que o diagnóstico seja seguro e concluído rapidamente. Diante dessa diversidade de cenários, fases da doença e apresentações clínicas, não é possível a utilização de apenas um fluxograma para cobrirtodas as situações que se apresentam para o diagnóstico da infecção pelo HIV. Assim: 1. Casos de infecção recente são melhor identifica dos com a utilização de um teste de 4ª geração como teste inicial e um teste molecular como teste complementar. 2. Os controladores de elite, por sua vez, podem ser identificados com imunoensaios (IE) de 3ª ou 4ª geração, seguidos da realização de um WB como teste complementar. 3. Pessoas na fase crônica da infecção são identificadas com sucesso por meio de qualquer combinação de testes iniciais (3a ou 4a geração), seguidos por um teste complementar (WB, IB, IBR ou TM). No Brasil, ainda há uma porcentagem considerável de indivíduos diagnosticados na fase crônica da infecção. Marcadores da infecção pelo HIV na corrente sanguínea de acordo com o período em que surgem após a infecção, seu desaparecimento ou manutenção ao longo do tempo. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) INVESTIGAÇÃO ABORDAGEM INICIAL DO ADULTO INFECTADO PELO HIV Um dos objetivos da abordagem inicial de uma pessoa com diagnóstico de infecção pelo HIV é estabelecer uma sólida relação médico-paciente. O uso de uma linguagem acessível é fundamental para a compreensão dos aspectos essenciais da infecção, da avaliação clínico- laboratorial, da adesão e do tratamento. HISTÓRIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INICIAIS EXAME FÍSICO A infecção pelo HIV tem um acometimento sistêmico; é necessário, portanto, estar atento a sinais clínicos comumente associados à doença. O exame físico deve incluir a aferição da pressão arterial, peso, altura, cálculo do índice de massa corpórea e medida da circunferência abdominal. Outras alterações que podem ser detectadas no exame físico: a. Hepatoesplenomegalia b. Adenopatias axilares, supraclaviculares e inguinais c. Candidíase Oral d. Alterações neurológicas fazer avaliação mais aprofundada caso encontre! e. Dermatite seborréica f. Sarcoma de Kaposi g. Úlceras e corrigmentos genitais May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) h. Foliculite i. Ictiose j. Entre outros. EXAMES COMPLEMENTARES A abordagem laboratorial no início do acompanhamento clínico auxilia a avaliação da condição geral de saúde, a indicação de início de TARV e a pesquisa de comorbidades. PERIODICIDADE DE CONSULTAS E EXAMES LABORATORIAIS A periodicidade das consultas médicas deve adequar-se à fase do tratamento e às condições clínicas do paciente. Após a introdução ou alteração da TARV: Recomenda-se retorno entre 7 e 15 dias com o propósito de se observar eventos adversos e dificuldades que possam comprometer a adesão; Em seguida, retornos mensais até a adaptação do paciente à TARV. Pacientes com quadro clínico estável poderão retornar para consultas em intervalos de até 6 meses; nesses casos, exames de controle também poderão ser realizados com periodicidade maior. AH!! Ressalta-se que, nos intervalos entre as consultas médicas, a adesão deverá ser trabalhada por outros profissionais da equipe multiprofissional, quando o paciente comparecer ao serviço para retirar medicamentos, realizar exames, participar de encontro de grupos e outras consultas. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) AH!! Devido a situação imunológica dos pacientes infectados com o HIV, algumas infecções oportunistas e outras doenças associadas a imussupressão devem ser investigadas com frequência: AH!! Além disso, o calendário de imunização desses pacientes deve ser especial. Investigação Tuberculose Risco Cardiovascular Rastreamento de Neoplasia May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) CONDUTA TERAPÊUTICA TRATAMENTO ANTIRETROVIRAL (TARV) A instituição da terapia antirretroviral (TARV) tem por objetivo diminuir a morbidade e mortalidade das Pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), melhorando a qualidade e a expectativa de vida, e não erradicar a infecção pelo HIV. PRIMEIRA LINHA DE TRATAMENTO – COMPOSIÇÃO DO ESQUEMA ARV COM ITRNN A terapia inicial deve sempre incluir combinações de três antirretrovirais, sendo dois ITRN/ITRNt associados a um ITRNN. Como regra, o esquema de primeira linha deve ser o seguinte: TDF + 3TC + EFV* (na apresentação de dose fixa combinada, sempre que estiver disponível A combinação de ITRN recomendada para o início da terapia é tenofovir + lamivudina (TDF+3TC), devido ao perfil mais favorável de efeitos adversos hematológicos. O ITRNN recomendado é o efavirenz (EFZ). Portanto, o único esquema antirretroviral que poderá ser prescrito na Atenção Primária é tenofovir + lamivudina + efavirenz, em associação de dose fixa (3 em 1). AH!! Casos excepcionais Para os casos em que o esquema TDF + 3TC + EFV esteja contraindicado, deve-se proceder da seguinte maneira - Substituir o TDF por: 1) AZT + 3TC: A associação de zidovudina com lamivudina (AZT/3TC) apresenta eficácia e segurança equivalentes a outras combinações de dois ITRN/ITRNt, sendo habitualmente bem tolerada. Está disponível em coformulação no Sistema Único de Saúde (SUS), devendo-se ingerir 1 comprimido 2 vezes ao dia. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) A toxicidade hematológica é um dos principais efeitos adversos do AZT, o que pode resultar na necessidade de sua substituição. Recomenda-se evitar o uso desse medicamento em casos de anemia (Hb < 10g/dL) e/ou neutropenia (neutrófi los < 1.000 células/mm3). 2) ABC + 3TC: A combinação de abacavir com lamivudina (ABC/3TC) é alternativa para os pacientes com intolerância ou contraindicação aos esquemas com TDF/3TC ou AZT/3TC. Alguns ensaios clínicos mostram que essa associação apresentou maior risco de falha virológica em pacientes com carga viral mais elevada, devido à baixa barreira genética. Reações de hipersensibilidade estão relacionadas ao início do tratamento com ABC. 3) ddI + 3TC: A combinação de didanosina com lamivudina (ddI/3TC) é recomendada na terapia inicial apenas nas situações de intolerância ao AZT, TDF e ABC. Pancreatite e neuropatia periférica estão relacionadas ao uso do ddI. OBS: Alternativa ao uso de efavirenz no esquema inicial: nevirapina A nevirapina (NVP) é considerada preferencial em relação ao EFV em algumas situações. Na contraindicação ou intolerância ao EFV, a NVP é uma opção segura, efetiva e de baixo custo, além de ser produzida pela indústria nacional. Sua indicação é preferencial em relação aos inibidores da protease, exceto nos casos de exantema com EFV. SEGUNDA LINHA DE TRATAMENTO Em situações em que o uso de efavirenz e nevirapina esteja impossibilitado, deve-se proceder à sua substituição por um Inibidor de Protease, de modo que o esquema ARV fique estruturado da seguinte forma:: 2 ITRN +IP/r - O lopinavir com booster de ritonavir (LPV/r) é a opção preferencial na classe dos inibidores da protease, quando da impossibilidade de uso de ITRNN na composição do esquema. As vantagens da combinação de IP com ritonavir como adjuvante farmacológico estão em proporcionar níveis séricos mais elevados e estáveis do medicamento, por tempo mais prolongado e com menor risco de mutações que confi ram resistência viral. Por outro lado, é mais frequente a ocorrência de eventos gastrintestinais (diarreia) e dislipidemias em esquemas com IP/r, quando comparados a associações que envolvem ITRNN, particularmente o efavirenz. AH!! Alternativas ao uso do LPV/r: 1) Atazanavir/ritonavir (ATZ/r) O atazanavir/ritonavir (ATV/r) é opção alternativa ao LPV/r, devido ao seu perfil de toxicidade favorável e eficácia na supressão viral. Desvantagens são o seu elevado custo e a sua não coformulação com o ritonavir o que pode levar a falha virológica. 2) Fosamprenavir/ritonavir (FPV/r) O fosamprenavir/ritonavir (FPV/r) é opção no manejo da toxicidade ao LPV/r e ATV/r. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO)RECUPERAÇÃO DO CD4 Na maioria dos indivíduos, o início da TARV é acompanhado por elevação da contagem de linfócitos T-CD4 e recuperação imune. Geralmente isso ocorre no primeiro ano de tratamento; depois se observa uma estabilidade seguida de melhora no segundo ano. Entretanto, a imunossupressão severa pode persistir em algumas pessoas, especialmente aqueles que apresentaram níveis muito baixos de CD4 ao iniciar o tratamento. Essa falha na recuperação do CD4 deve servir para alertar a equipe de saúde para potenciais problemas na adesão ou não resposta primária à TARV. FALHA TERAPÊUTICA Os avanços na terapia antirretroviral levaram ao aumento progressivo nas taxas de resposta terapêutica. Embora as taxas de sucesso da TARV sejam elevadas, pacientes em falha virológica normalmente necessitam de alterações em seus esquemas antirretrovirais, sendo o novo tratamento denominado “esquema de resgate”. O reconhecimento precoce da falha virológica e a escolha adequada e oportuna do novo tratamento são fundamentais para minimizar as consequências da supressão viral parcial ou incompleta. As principais consequências da supressão viral incompleta são: 1. Elevação menos robusta e duradoura da contagem de LT-CD4+. 2. Maior progressão de doença, uma vez que há correlação entre níveis de carga viral e risco de progressão clínica. 3. Acúmulo de mutações de resistência aos antirretrovirais e perda de futuras opções terapêuticas. A falha virológica é caracterizada por carga viral plasmática detectável após seis meses do início ou modificação do tratamento antirretroviral, ou por detecção da carga viral nos indivíduos que a mantinham indetectável na vigência de tratamento. Em todos os casos, a viremia deve ser confi rmada em coleta consecutiva após intervalo de pelo menos quatro semanas da anterior. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) TESTE DE GENOTIPAGEM Recomenda-se o exame de genotipagem para o HIV, disponível no SUS na Rede Nacional de Genotipagem (Renageno), como ferramenta de detecção de resistência aos antirretrovirais. Entre suas principais vantagens, destacam-se: 1. Possibilitar a escolha de esquemas antirretrovirais com maior chance de supressão viral, com base na identificação de mutações de resistência; 2. Propiciar o uso de medicamentos ativos por períodos mais prolongados; 3. Evitar trocas desnecessárias de antirretrovirais; 4. Evitar toxicidade de medicamentos inativos; 5. Melhorar a relação custo-efetividade. Critérios para realização do teste de genotipagem pela Renageno: Falha virológica confirmada em coleta consecutiva de carga viral após intervalo de quatro semanas; Carga viral superior a 1.000 cópias/mL; Uso regular de TARV por pelo menos seis meses. O algoritmo a seguir resume as recomendações para manejo da falha virológica em PVHA. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) MEDICAMENTOS DE TERCEIRA LINHA EFEITOS ADVERSOS NO TRATAMENTO ANTIRETROVIRAL SÍNDROME INFLAMATÓRIA DE RECONSTITUIÇÃO IMUNE (SIR) A reconstituição imune é uma das metas da terapia antirretroviral (TARV). Em algumas situações, observa-se um quadro clínico de caráter inflamatório exacerbado, chamado de Síndrome Inflamatória associada à Reconstituição Imune (SIR) associado ao início da TARV. Essa síndrome se manifesta como piora “paradoxal” de doenças infecciosas preexistentes, geralmente autolimitadas, mas que podem assumir formas graves. São descritas reações inflamatórias relacionadas a infecções fúngicas, virais e bacterianas, neoplasias e fenômenos autoimunes. A SIR pode se apresentar como agravamento de uma doença já diagnosticada, como no caso da tuberculose, tradicionalmente cursando com aumento de linfonodos, bem como o aparecimento de uma doença não diagnosticada previamente, exacerbando uma doença subclínica preexistente. O início da TARV em pacientes com baixas contagens de LT-CD4+ é um fator preditor para ocorrência de SIR, especialmente havendo história pregressa ou atual de coinfecções ou de infecções oportunistas. A prevenção das complicações associadas com SIR envolve identificação e manejo precoce. ACOMPANHAMENTO DO PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS O cuidado contínuo em HIV pode ser entendido como o processo de atenção aos usuários que vivem com HIV, passando pelos seguintes momentos: Esses cinco momentos são representados como uma sequência de degraus na chamada “Cascata de cuidado contínuo do HIV”, e têm sido usados globalmente para estabelecer metas e monitorar os avanços relativos ao cuidado das PVHIV. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) No que diz respeito ao cuidado clínico e à atuação nos serviços brasileiros, definem-se os momentos de “vinculação”, “retenção” e “adesão” da seguinte forma: 1. Vinculação: é o processo que consiste no acolhimento, orientação, direcionamento e encaminhamento de uma pessoa recém-diagnosticada com HIV ao serviço de saúde para que ela realize as primeiras consultas e exames o mais brevemente possível e desenvolva autonomia para o cuidado contínuo. O desfecho principal para considerar uma PVHIV vinculada é a realização da 1ª consulta no serviço de atenção para o qual foi encaminhada e, de preferência, seu início de tratamento o mais rápido possível. 2. Retenção: é o processo que consiste no acompanhamento clínico regular e contínuo da pessoa que vive com HIV já vinculada ao serviço de saúde, garantindo que ela compareça às consultas, faça exames regularmente e, se estiver em terapia, realize também o seguimento do seu tratamento, respeitando a sua autonomia. Um paciente retido no serviço é aquele que realiza exames e/ou retira os medicamentos antirretrovirais sistematicamente, sem faltar às consultas. 3. Adesão ao tratamento: consiste na utilização ideal dos medicamentos ARV da forma mais próxima possível àquela prescrita pela equipe de saúde, respeitando as doses, horários e outras indicações. A adesão também é um processo colaborativo que facilita a aceitação e a integração de determinado esquema terapêutico no cotidiano das pessoas em tratamento, pressupondo sua participação nas decisões sobre a terapia. FATORES QUE FACILITAM A ADESÃO o Esquemas terapêuticos simplificados, como doses fixas combinadas, que permitam o uso de diferentes medicamentos em um mesmo comprimido . o Conhecimento e compreensão sobre a enfermidade e o tratamento. o Acolhimento e escuta ativa do paciente pela equipe multidisciplinar. o Vínculo com os profissionais de saúde, a equipe e o serviço de saúde. o Capacitação adequada da equipe multidisciplinar; o Acesso facilitado aos ARV, mediante o funcionamento e localização adequados da UDM . o Educação entre pares, em parceria com Organizações da Sociedade Civil. o Apoio social. FATORES QUE DIFICULTAM A ADESÃO o Complexidade do esquema terapêutico (diferentes drogas, quantidade de doses) o Faixa etária do paciente (criança, adolescente e idoso) escolaridade o Não aceitação da soropositividade o Presença de transtornos mentais, como ansiedade e depressão o Efeitos colaterais do medicamento o Relação insatisfatória do usuário com o profissional de saúde e os serviços prestados o Crenças negativas e informações inadequadas em relação ao tratamento e à doença o Dificuldade de adequação à rotina diária do tratamento o Abuso de álcool e outras drogas o Dificuldade de acesso ao serviço o Medo de sofrer com a discriminação o Precariedade ou ausência de suporte social/exclusão social. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE PARA PVHIV Matriciamento: proporciona uma retaguarda especializada à assistência, assim como um suporte técnico-pedagógico e um apoio institucional no processo de construção coletiva de propostas terapêuticas junto aos profi ssionais de saúde, à população e aos indivíduos. Atendimento em rede: o usuário transita entreos diversos níveis de assistência à saúde, em especial entre a Atenção Básica e os SAE. Os SAE continuam a realizar o atendimento aos casos de maior complexidade, gestantes, crianças, pacientes coinfectados e sintomáticos. As unidades básicas de saúde (UBS) devem assistir aos casos assintomáticos e o controle dos pacientes estáveis, à semelhança dos cuidados para condições crônicas já realizado nas unidades da Atenção Básica. CRITÉRIOS PARA ACOMPANHAMENTO E TRATAMENTO DO HIV/AIDS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Pessoas sem comorbidades de maior risco, que vivem com HIV e apresentam imunodeficiência leve, podem ser acompanhadas e tratadas na atenção primária sem prejuízo ao seu cuidado. Essas situações são identificadas no momento do diagnóstico ou em pessoas que recebem alta ambulatorial do SAE. Pessoas em uso de TARV com esquema de 1ª linha de tratamento para seguir acompanhamento na APS após alta ambulatorial do SAE: o Morbidades possíveis de serem acompanhadas na APS; e 2 cargas virais indetectáveis consecutivas com intervalo de 6 meses; e o CD4 ≥350 cels/ mm3 . o Diagnóstico recente de infecção pelo HIV e: o Pessoas com CD4 ≥ 350 cels/mm3 e < 500 cels/mm3 ; ou o Pessoas assintomáticas com CD4 ≥ 500 cels/mm3 e: - doença cardiovascular estabelecida ou risco cardiovascular pelo escore de risco de Framingham maior que 20% em 10 anos; ou - carga viral acima de 100.000 cópias/ml; ou o Pessoas assintomáticas com CD4 ≥ 500 cels/mm3 sem as morbidades acima listadas que desejam iniciar tratamento. May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) PROTOCOLO DE ENCAMINHAMENTO – HIV CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE INDICAM A NECESSIDADE DE ENCAMINHAMENTO PARA INFECTOLOGIA: Paciente com HIV e coinfecção com vírus da Hepatite C, Hepatite B, tuberculose e suspeita de neurossífilis (quando Serviço de Atendimento especializado (SAE) de referência para HIV não trata as coinfecções). CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE INDICAM A NECESSIDADE DE ENCAMINHAMENTO PARA OBSTETRÍCIA: Gestante com HIV/AIDS (quando SAE de referência não trata gestantes). CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE INDICAM A NECESSIDADE DE ENCAMINHAMENTO PARA SERVIÇO DE ATENDIMENTO ESPECIALIZADO EM HIV/AIDS (SAE): Imunossupressão grave ou moderada e/ou CD4 menor que 350 cel/mm3 (inclui pacientes com doenças definidoras de AIDS e doenças oportunistas (ver quadro 3 e 4 no anexo)); Indicação de tratamento de segunda linha (por resistência evidenciada na genotipagem, efeitos adversos maiores); Diagnóstico recente com indicação de TARV e impossibilidade de iniciar ou manter 1º linha de tratamento na APS; Diagnóstico recente com histórico de contaminação por parceiro usuário atual ou prévio de TARV (encaminhar para genotipagem). O usuário permanecerá no SAE apenas se a genotipagem indicar necessidade de medicamentos de 2º ou 3º linha; Gestantes (cuidado compartilhado entre atenção básica e SAE); Coinfecção com vírus da Hepatite C, Hepatite B, tuberculose e sífilis (ver protocolos específicos); Paciente com HIV e com: o Doença Renal Crônica (TFG < 60 ml/min/1,73m2 ou proteinúria (1 + ou mais no exame comum de urina); o Cardiomiopatia (insuficiência cardíaca classe III e IV, cardiomiopatia isquêmica, outras cardioiopatias); o Alterações Neurológicas ou psiquiátricas (quadros demenciais, depressão grave, transtorno de humor bipolar, esquizofrenia, outras condições neurológicas ou psiquiátricas incapacitantes). Relatório para encaminamento deve conter: Sinais e sintomas Presença de doenças definidora de AIDS e imunossupressão SIM? QUAL? Resultado de CD4 + carga viral Uso de terapia anteretroviral? SIM? QUAL? Condição que necessita acompanhamento especializado? SIM? QUAL? May Freitas (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE CASOS No Brasil, desde os anos de 1980, a vigilância epidemiológica da aids é baseada na notificação compulsória de casos. A notificação compulsória da infecção pelo HIV permite caracterizar e monitorar tendências, perfil epidemiológico, riscos e vulnerabilidades na população infectada, com vistas a aprimorar a política pública de enfrentamento da epidemia. A vigilância da infecção pelo HIV e da aids está baseada num modelo de vigilância dos eventos: infecção pelo HIV, adoecimento (aids), e óbito, por meio de sistemas de informação de rotina e de estudos seccionais e longitudinais. A vigilância epidemiológica do HIV e da aids baseia-se em dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), e em registros de óbitos, do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (Siscel), Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom) e Sistema de Monitoramento Clínico das pessoas vivendo com HIV (SIMC). Objetivo Monitorar o comportamento do HIV/aids e seus fatores condicionantes e determinantes, com a finalidade de recomendar, adotar medidas de prevenção e controle e avaliar o seu impacto. A infecção pelo HIV está incluída na Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória, além dos casos de aids, gestantes/parturientes/puérperas com HIV e de crianças expostas. A notificação é registrada no Sinan mediante o preenchimento das seguintes fichas: Ficha de Notificação/Investigação de Aids em Pacientes com 13 anos ou mais; Ficha de Notificação/Investigação de Aids em Pacientes Menores de 13 anos; Ficha de Notificação/Investigação de Criança Exposta ao HIV; Ficha de Investigação de Gestante HIV+, utilizada para notificar casos de gestante, parturiente e puérpera. Para a investigação de casos de infecção pelo HIV/aids é indispensável o preenchimento de todos os campos das fichas do Sinan. As informações a serem coletadas durante a investigação incluem dados gerais do indivíduo e do local de notificação do caso, antecedentes epidemiológicos com ênfase nos comportamentos e vulnerabilidades, dados de laboratório, e outros dados relacionados ao critério de definição de caso, ao tratamento e à evolução do caso. Todos os casos de aids em adultos e crianças, assim como os casos HIV em gestantes expostas, ainda que acompanhados em serviços especializados, devem ser notificados ao serviço municipal de saúde, utilizando as respectivas fichas de notificações do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).
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