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Objetivo: Conhecer os fundamentos do mundo do trabalho. Nesta aula: ∙ A promessa e a história do trabalho ∙ Do trabalho agrícola ao pós industrial ∙ As transformações na produção capitalista ∙ As crises na dinâmica capitalista Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I A perspectiva de análise da categoria trabalho mudou muito, acompanhando os momentos da história. De castigo, tortura, até se tornar condição para a dignidade humana, o conceito de trabalho tem sido visto sobre os mais diversos prismas. Em última análise a transformação da categoria trabalho em força de trabalho. O Trabalho, como realização de trabalho, é categoria fundante da condição humana. O trabalho nasce a partir da relação dialética e dialógica que o homem estabelece com o meio (natureza). Já Força de Trabalho remete ao trabalho repetitivo, que não exige criatividade, nem inovação. O homem é pago exclusivamente pra dispor de sua energia vital no trabalho aviltante. A Promessa e a História do Trabalho: salvação ou danação? A satisfação material das necessidades dos homens e mulheres que constituem a sociedade – obtêm-se numa interação com a natureza: a sociedade, através dos seus membros, transforma matérias naturais em produtos que atendem às suas necessidades. Essa transformação é realizada através da atividade a que denominamos TRABALHO. O que chamamos de Trabalho é algo substantivamente diversos das atividades animais atávicas. Na medida em que foi se estruturando e desenvolvendo ao longo de um larguíssimo decurso temporal, o trabalho rompeu com o padrão natural daquelas atividades. Por que: Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I ▪ Em primeiro lugar, porque o trabalho não se opera como uma atuação imediata sobre a matéria natural; diferentemente, ele exige instrumentos que, no seu desenvolvimento, vão cada vez mais se interpondo entre aqueles que o executam e a matéria. ▪ Em segundo lugar, porque o trabalho não se realiza cumprindo determinações genéticas; bem ao contrário, passa a exigir habilidades e conhecimentos que se adquirem inicialmente por repetição e experimentação e que se transmitem mediante aprendizado. ▪ Em terceiro lugar, porque o trabalho não atende a um elenco limitado e praticamente invariável de necessidades, nem as satisfaz sob formas fixas. Ao contrário da reprodução biológica, a reprodução social é um processo fundado pelo trabalho, um tipo de atividade na qual o indivíduo humano primeiro elabora na consciência (como idéia, ideação) para depois transformar a natureza naquilo que necessita. (inversão Marxiana da teoria Hegeliana). (As relações materiais que determinam a consciência). Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I Tal interação com a natureza é sempre mediada pela consciência e pelas relações sociais; estas comparecem no mundo dos homens com funções que possibilitam um tipo de transformação matéria natural completamente diferente daquela operada pelos animais e plantas (atavismo). O trabalho é pois, a categoria fundante do mundo dos homens porque, em primeiro lugar, atende à necessidade primeira de toda sociabilidade: a produção dos meios de produção e de subsistência sem os quais nenhuma vida social poderia existir. Em segundo lugar porque cria aquela que será a determinação ontológica decisiva do ser social, a de que ao transformar o mundo natural, os seres humanos também transformam a sua própria natureza, o que resulta na criação incessante de novas possibilidades e necessidades históricas, tantos sociais como individuais, tanto objetivas quanto subjetivas. Os meios de trabalho (de produção) por sua vez, são elementos da natureza (ou natureza transformada) que os homens empregam como mediação entre eles e seus objetos de trabalho. Os meios de trabalho são as propriedades mecânicas, físicas e químicas. Se a categoria Trabalho funda a condição humana, a alienação promovida pela força de trabalho, avilta a condição humana. A divisão do trabalho, estranhamento, fetiche, reificação, promovem uma total alienação não só produtiva e do fruto do trabalho, mas também a alienação ideológica do trabalhador. Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I Passamos por três grandes revoluções ligadas ao mundo do trabalho nos últimos 10 mil anos. Cada revolução alterou profundamente a maneira como produzimos nossa subsistência e como vivemos nossa vida. Do trabalho agrícola ao pós-industrial aumentaram substancialmente as áreas cultivadas. A produtividade – ou quantidade produzida por hora de trabalho – disparou. Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I O desenvolvimento da Agricultura Praticamente todos os seres humanos viviam em tribos nômades até cerca de 10 mil anos atrás. Depois, habitantes dos vales férteis do Oriente Médio, do sudeste Asiático e da América do Sul começaram a criar animais e a cultivar plantas com o uso de ferramentas manuais simples e assentamentos humanos estáveis se espalharam nessas áreas. Há cerca de 5 mil anos, agricultores inventaram o arado e, ao atrelá-lo a grandes animais, Cerca de 225 anos atrás, a máquina a vapor, as estradas de ferro e outras inovações tecnológicas aumentaram muito a capacidade de os produtores abastecerem os mercados. Tinha início a era da Revolução Industrial. Partindo da Inglaterra, em um século a R.I espalhou-se pela Europa Ocidental, pela América do Norte, pela Rússia e pelo Japão. No Brasil, de maneira geral, industrialização ocorreu nas primeiras décadas do século XX. Foi a partir dos anos de 1940 que o Brasil passou de um país predominantemente agrícola para uma “economia urbana organizada por uma base industrial extensa e complexa. O Desenvolvimento da Indústria Moderna Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I O Desenvolvimento do Setor de Serviços As mudanças acentuadas que proporcionaram a mudança na composição da força de trabalho foram geradas nas últimas décadas do século XX, e foi possibilitada pela informática. Os computadores automatizaram grande parte da produção nas fábricas e nos escritórios e geraram empregos no setor de serviços tão rapidamente quanto os eliminaram no setor da indústria. O computador representa, para o setor de serviços, aquilo que a máquina a vapor representou para a indústria e o arado para a agricultura. Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I As transformações na Produção Capitalista Trataremos da crise contemporânea e das transformações na produção capitalista, entendidos como processos que determinam as mudanças societárias em curso. Discorreremos sobre o alcance e o significado das transformações sofridas na esfera da produção, desde os finais dos anos 70 do século XX, destacando seus impactos no processo de acumulação capitalista, na gestão do trabalho e nos modos de ser e viver da classe trabalhadora. As crises na dinâmica Capitalista Para compreender as mudanças na dinâmica do capitalismo, é necessário reconhecer o significado histórico das crises no seu desenvolvimento. Sejam elas qualificadas como crises econômicas, como o fez Marx no Livro III de O Capital . Ou sejam elas concebidas como crises orgânicas, nas quais adquire destaque a dimensão política, seguindo a análise gramsciana, fato é que elas são inelimináveis e indicam o quanto é instável o desenvolvimento capitalista. Através das crises o capital se recicla, reorganizando suas estratégias de produção e reprodução social. Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I As crises expressam um desequilíbrio entre a produção e o consumo, comprometendo a realização do capital, ou seja, a transformação da mais‐valia em lucro, processo que só se realiza mediante a venda das mercadorias capitalistamente produzidas. (produção, circulação, lucro). As expressões mais emblemáticas das crisessão as reduções de operações comerciais, acúmulo de mercadorias estocadas, redução ou paralisação da produção, falências, queda de preços e salários, crescimento desmesurado do desemprego e empobrecimento generalizado dos trabalhadores... Suas causas podem ser diversas, tais como a anarquia da produção, a concorrência intercapitalista, com a consequente queda tendencial da taxa de lucro, o subconsumo de massa, ou, ainda, podem ser potenciadas por algum incidente econômico ou geopolítico. (Toyota pós 2° Guerra Mundial). As crises são funcionais ao modo de produção capitalista, constituindo‐se num mecanismo que determina a restauração das condições de acumulação, sempre em níveis mais complexos e instáveis, assegurando, assim, a sua continuidade. Quebra da bolsa de valores de Nova York, 1929. Tópico VII – O mundo do trabalho: Fundamentos teóricos Parte I Vale salientar que os impactos das crises apresentam‐se diferenciados para os trabalhadores e os capitalistas. Para os capitalistas, trata‐se do seu poder ameaçado; para os trabalhadores, da submissão intensificada. Estes últimos são frontalmente penalizados na sua materialidade e subjetividade posto que afetados pelas condições do mercado de trabalho, com o aumento do desemprego, as perdas salariais, o crescimento do exército industrial de reserva e o enfraquecimento das suas lutas e capacidade organizativa.