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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CLEVERSON HILGERT A INCLUSÃO DOS SUJEITOS NO BASQUETE SOBRE RODAS – TIME FARRAPOS PANAMBI – RS PANAMBI – RS 2016 CLEVERSON HILGERT ORIENTADOR(A): MS. STELA MARIS STEFANELLO STEFANELLO A INCLUSÃO DOS SUJEITOS NO BASQUETE SOBRE RODAS – TIME FARRAPOS PANAMBI – RS Trabalho de Conclusão de Curso de Educação Física da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharelado em Educação Física. PANAMBI – RS 2016 DEDICATÓRIA À minha família, pоr sua capacidade dе acreditar е investir еm mim. Mãe, Eva Jardim Hilgert, sеυ cuidado е dedicação que me deram, еm alguns momentos, а esperança pаrа seguir. Pai, Darci Hilgert, sυа presença significou segurança е certeza dе qυе não estou sozinho nessa caminhada. Esta conquista é para vocês. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus qυе permitiu qυе tudo isso acontecesse ао longo dе minha vida, е nãо somente nestes anos como universitário. Agradeço а minha mãе e meu pai qυе apesar de alguns momentos de dificuldades mе deram todo o apoio e incentivo nаs horas difíceis, me fortalecendo para seguir em frente. Obrigado meus irmãos е sobrinhas, que nоs momentos dе minha ausência dedicados ао estudo, sеmprе entenderam qυе о futuro é feito а partir dа constante dedicação nо presente! E о qυе escrever para Aline Ariane Lindner, minha namorada? Obrigado pеlа paciência, pelo incentivo, pela força е principalmente pelo carinho. Valeu а pena todo o tempo aplicado em nossos estudos, tоdо sofrimento, todas аs renúncias... Valeu а pena esperar... Hоjе sou eu, esses dias foi você, mas estamos juntos colhendo os frutos dо nosso empenho! Agradeço a todos os professores que me apoiaram para eu estar aqui hoje, desde os primeiros do ensino fundamental até os de hoje na universidade. Agradeço aos amigos e aos colegas por me apoiarem e me auxiliarem sempre que precisei. Agradeço também a equipe de basquete sobre rodas Farrapos, por ter aberto as portas para que eu pudesse realizar esse trabalho. A todos aqueles qυе dе alguma forma estiveram е estão próximos dе mim, fazendo esta vida valer cada vеz mais а pena. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8 1 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 10 1.1 A INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE .............................................................. 10 1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO BASQUETE SOBRE RODAS ...... 12 1.3 QUEM PRATICA O BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS? ..................... 14 1.4 REGRAS DO BASQUETE SOBRE RODAS ................................................. 14 1.4.1 Regulamento da quadra ............................................................................... 14 1.4.2 Pontuação do jogo ........................................................................................ 15 1.4.3 Violação das linhas divisórias ....................................................................... 15 1.4.4 Violação de percurso .................................................................................... 15 1.4.5 Sobre os atletas ............................................................................................ 15 1.5 HISTÓRIA DA EQUIPE FARRAPOS – PANAMBI - RS ................................ 16 2 METODOLOGIA ........................................................................................... 18 2.1 TIPO DE PESQUISA .................................................................................... 18 2.2 AMOSTRA E PROCESSO DE SELEÇÃO .................................................... 18 2.2.1 Sujeito A ....................................................................................................... 19 2.2.2 Sujeito B ....................................................................................................... 19 2.2.3 Sujeito C ....................................................................................................... 19 2.2.4 Sujeito D ....................................................................................................... 19 2.2.5 Sujeito E ....................................................................................................... 20 2.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ............................ 20 2.4 COLETA DE DADOS .................................................................................... 20 2.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................. 21 2.6 QUESTÕES ÉTICAS DA PESQUISA ........................................................... 21 3 ANÁLISE E DISCUSSÕES .......................................................................... 22 3.1 A VIDA COTIDIANA DOS SUJEITOS .......................................................... 22 3.2 A INSERÇÃO DOS SUJEITOS NO ESPORTE DO BASQUETE SOBRE RODAS ......................................................................................................... 23 3.3 AS MUDANÇAS NOS SUJEITOS EM SEUS ASPECTOS FÍSICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS ....................................................................................... 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 28 ANEXOS ................................................................................................................. 32 ANEXO 1 - ANAMNESE ......................................................................................... 33 ANEXO 2 - ROTEIRO DA ENTREVISTA GRAVADA ............................................. 34 ANEXO 3 – RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE .................... 35 TITULO: A Inclusão Dos Sujeitos No Basquete Sobre Rodas – Time Farrapos Panambi – RS AUTOR: Cleverson Hilgert ORIENTADORA: MS. Stela Maris Stefanello Stefanello RESUMO Este estudo tem como objetivos a análise da vida de sujeitos antes e após a inserção dos mesmos no projeto de Basquete sobre Rodas, verificando assim a vida cotidiana dos sujeitos, seguido pelo início de contato com o esporte, dificuldades encontradas, para então verificarmos as mudanças nestes sujeitos, em todos os seus aspectos. A pesquisa realizada se deu na forma descritiva, onde os participantes da pesquisa foram os cinco atletas da equipe de basquete sobre rodas Farrapos, do município de Panambi - RS. Todos do sexo masculino com idades entre 18 a 36 anos, estudantes, aposentados e trabalhadores em setores diversos. Os instrumentos de pesquisas utilizados foram, anamnese, questionário e entrevista semi-estruturada. As reflexões sobre o tema foram construídas a partir dos resultados das entrevistas realizadas, onde percebemos que o projeto não traz nenhum malefício a nenhum dos atletas, não tendo nenhum aspecto negativo registrado. Ou seja, o projeto vem somente a agregar na vida destes sujeitos, tanto nos aspectos físicos, como psicológicos e principalmente sociais. Palavras chaves: Cadeirantes, Basquete sobre rodas, Beneficios 8 INTRODUÇÃO O basquete sobre rodas teve seu primeiro marco histórico no ano de 1946 nos Estados Unidos, onde o mesmo tinha por objetivo a reabilitação e a inclusão de soldados veteranos sobreviventes da segunda guerra mundial. No Brasil teve início em 1951, quando um homem, após um acidente foi se tratar nos Estados Unidos, sendo que ao retornar trouxe com ele uma cadeira de rodas adaptada para o esporte, começando assim a difundi-lo peloBrasil. O tema proposto é de um basquete adaptado, onde os atletas utilizam-se das cadeiras de rodas para se locomover, com o mesmo objetivo que é de chegar até a cesta, com regras adaptadas, mas com mesmo mecanismo de jogo do basquetebol. O Basquete sobre rodas é uma modalidade que agrega em uma equipe,pessoas com diferentes tipos de deficiência e cada deficiência com um grau de comprometimento, podendo ter vários tipos de lesionados, ou seja, neste esporte podem participar pessoas com deficiência física de membro inferior, tais como, pessoas amputadas, lesados medulares traumáticos e congênitos, pessoas que adquiriram poliomielite, entre outros. Sendo o basquete sobre rodas uma proposta de inclusão, e este ser um tema que vem sendo muito tratado na atualidade, nos deparamos com alguns questionamentos quanto aos atletas que praticam tal esporte, como por exemplo, que mudanças o esporte trouxe para a vida de cada atleta? Como profissional da Educação Física, nos vimos diante deste trabalho e nos propusemos a realizar esta pesquisa junto à equipe Farrapos de Panambi – RS, que conta com cinco atletas com idade entre 18 a 36 anos, todos homens, sendo eles estudantes, trabalhadores em setores diversos e aposentados. A mesma teve como objetivo investigar a vida cotidiana dos sujeitos, antes e depois da inclusão no esporte de basquete sobre rodas, para isto, se fez necessário investigar como foi a inserção dos sujeitos da pesquisa na equipe, conhecer as mudanças nos aspectos físicos, sociais e psicológicos que o esporte proporcionou aos sujeitos da pesquisa. Através do esporte conseguimos proporcionar melhorias nos aspectos físicos, motores, sociais e psicológicos das pessoas sendo elas deficientes ou não. Com a prática do basquete sobre rodas, as pessoas com deficiências têm uma melhor qualidade de vida, pois mesmo com limitações elas possuem necessidades 9 básicas como qualquer outra pessoa, diferenciando apenas, quanto ao aspecto motor. Estes fatos nos chamaram atenção nesse assunto, onde tivemos a possibilidade de poder estar junto com essa equipe no ano de 2014, realizando o estágio profissional obrigatório, e podendo voltar em 2015, para realizar o trabalho de conclusão de curso, podendo assim estar um maior tempo junto a eles, e percebendo evoluções de cada um dos participantes. A pesquisa realizada se deu na forma descritiva, onde foram disponibilizados anamneses, questionário e entrevistas gravadas semi-estruturadas aos sujeitos da pesquisa. Para contextualizar melhor o trabalho, o mesmo foi dividido em três capítulos, sendo que o primeiro dá conta do tema a inclusão e acessibilidade, contextualização histórica do basquete sobre rodas até sua chegada ao Brasil. Ainda no mesmo capítulo, falaremos a respeito dos sujeitos que podem participar de tal esporte, e das regras adaptadas para o basquete sobre rodas e funcionamento de jogo. Assim, o segundo capítulo dá conta da metodologia utilizada para tal pesquisa, bem como esclarece o tipo de pesquisa na qual nos baseamos, para enfim ao terceiro capítulo realizarmos as análises e conclusões da mesma. 10 1 REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 A INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE O conceito de inclusão é recente em nossa cultura. Estamos começando a usar esta palavra. Como qualquer situação nova, a inclusão incomoda e desperta curiosidade, indiferença ou negação, encontra adeptos e também críticos. Este conceito envolve diversos fatores, sendo eles sociais, culturais ou econômicos, envolvendo acesso de bens, acesso à educação, saúde, trabalho, tecnologia, entre outros. A inclusão também vem sendo trabalhada nas escolas, e locais de trabalho. É perceptível o quanto a sociedade já evoluiu com relação ao tema, porém ainda é necessária uma maior importância com o mesmo, dando mais possibilidades aos deficientes, sejam eles físicos ou mentais. Segundo a Lei nº 13.146, art 2º diz que Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.(Lei 13.146/2015) As pessoas com deficiência é que sabem o que precisam para ter melhor qualidade de vida, suas necessidades variam como as de qualquer ser humano e, por isso, só podem ser atendidas por uma variedade de serviços e equipamentos. Percebe-se que o ambiente pode melhorar ou dificultar a forma de funcionamento de uma pessoa, prejudicando ou facilitando seu deslocamento. Um local que disponibiliza pouco espaço entre um móvel e outro, por exemplo, prejudica a circulação, dificultando a possibilidade de adaptação do deficiente ao meio, deixando este em desvantagem, muitas vezes inviabilizando o seu acesso. Mesmo que os fatores ambientais citados acima não indiquem barreiras para as pessoas que não possuem deficiências, a retirada dos mesmos colabora com todos, pois um ambiente com acessibilidade facilita a locomoção de todos e não somente de pessoas com determinadas características físicas, oferecendo assim mais qualidade de vida e também segurança permitindo uma melhor convivência com os diferentes. 11 A acessibilidade permite que pessoa seja capaz de tomar suas próprias decisões, vivendo com maior dignidade, devido à sua integração na comunidade, tendo controle da situação. A sociedade com melhores acessos garante uma maior qualidade para todos, portanto, é um compromisso de todos para todos. Podemos verificar que em termos de acesso, houve algumas evoluções, como a exemplo do transporte público, que já disponibiliza alguns ônibus adaptados, porém, como ainda são números reduzidos de veículos com as devidas adaptações, os deficientes acabam ficando prejudicados em suas idas e vindas. Circular sozinho ainda é uma dificuldade para pessoas com deficiências, devido à má qualidade das calçadas, falta de acesso, e outras barreiras arquitetônicas. Assim, o esporte adaptado vai de encontro a estas necessidades especiais, das pessoas portadoras de deficiências podendo assim ser definido como aquele adaptado ou modificado. Ele pode ser praticado por pessoas portadoras de deficiências motoras, visuais, auditivas, mentais e múltiplas, embora nos Jogos Paraolímpicos os deficientes auditivos não participem. Ao ingressar veementemente na prática esportiva, o deficiente recupera a motivação para a vida e, enfrentando suas limitações físicas, procura também outras atividades que pareciam ser inatingíveis: trabalhar, namorar, casar, estudar, conhecer novos amigos. A deficiência física afeta o sujeito em termos de mobilidade, de coordenação motora, e algumas vezes prejudica também a fala, devido às más formações congênitas ou adquiridas, bem como em decorrência de lesões, sejam elas neurológicas, musculares ou ortopédicas. Sabe-se que boa parte da população que depende de cadeira de rodas para locomover-se não nasceu com a deficiência em si ou teve a mesma na infância, pois a maioria a adquire na juventude ou mesmo quando adultos. Neste sentido, a prática de basquete sobre rodas é vista como uma porta de reentrada do sujeito na sociedade, pois é através dele que muitos destes cidadãos retomam seus ideais e sonhos, buscando assim o reconhecimento da própria história através do esporte. Werneck (2007 apud Geremia e Falkenbach, 2009) esclarece que “a inclusão é incondicional, é fazer do mundo um mundo para todos, sem deixar ninguém de lado. Que todos estejam aptos a vivenciar situações comuns é o que se pressupõe 12 no conceito de inclusão. A pessoa com deficiência não precisa buscar a integração na sociedade, pois nasce fazendo parte dela”. Costa (2000 apud Itani, Araújo e Almeida, 2004) afirma que A atividade física, realizada em grupo, é de fundamentalimportância, pois permite aos seus integrantes adquirirem uma identidade social, sentir e ter compromisso com algo e com o grupo, de viver o sentimento de confiança, sentir reforços sociais provenientes do grupo, desenvolver um grande grau de amizade com outros participantes e viver a relação de companheirismo [...] e são responsáveis por comportamento afetivo. (COSTA, 2004) Ribeiro (2001 apud Cremonese, 2009, p.39) explica que O esporte, através de suas dimensões sociais, pode viabilizar uma ação inclusiva, considerando-se que as atividades esportivas fizeram e ainda fazem parte do processo de construção do homem no seu meio cultural. A busca pela inclusão efetiva através da prática da atividade esportiva torna importante que todos os envolvidos façam parte do objetivo da atividade.(RIBEIRO, 2009.p.39) Segundo Martinez (2000 apud Cremonese, 2009, p.38) o Basquetebol em cadeira de rodas tem experimentado uma metamorfose nos últimos 40 anos. Isto tem sido demonstrado com relação à sofisticação tecnológica e a um aumento de aceitação popular em considerá-lo um esporte que gera esforço físico e consequentemente trás benefícios físicos e psicológicos. O basquetebol ou outro tipo de atividade, além de estimular a autonomia e a independência, e prevenir doenças secundárias, resulta nos seguintes benefícios psicomotores: desenvolve força muscular, velocidade, flexibilidade, agilidade, capacidade cardiorrespiratória, raciocínio, atenção, concentração e melhora a percepção espaço temporal. “Brincar é a mais elevada forma de pesquisa” (A. Einstein). Através do brincar no esporte, podemos adquirir esta possibilidade. Devido a ludicidade do esporte o mesmo possibilita um reflexão referente a deficiência e suas limitações, fazendo com que o individuo consiga se fortalecer enquanto sujeito para estabelecer um novo projeto de vida. 1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO BASQUETE SOBRE RODAS Há um pouco mais de cinquenta anos, surgiram os esportes envolvendo o uso de cadeiras de rodas, dentre eles, o basquete. Estes esportes iniciaram como 13 prática complementar da reabilitação nos Estados Unidos e Reino Unido, devido aos traumas sofridos durante a Segunda Guerra Mundial. O esporte foi ganhando notoriedade não somente pelas melhoras físicas e psicológicas de seus praticantes, mas também pelo número de adeptos ao mesmo. O basquetebol em cadeira de rodas foi criado nos Estados Unidos pelos veteranos da II Guerra Mundial em 1945, no entanto não existe nenhum registro por escrito que confirme esta data. O primeiro registro que se tem é de 6 de dezembro de 1946, quando foi publicado um artigo em um jornal americano comentando sobre os acontecimentos em uma partida de BCR (STROHKENDL, 1996). Durante esse mesmo período surgia, na Inglaterra, o BCR como prática esportiva terapêutica. Dr. Guttmann, responsável pela direção do centro de lesados medulares no Hospital StokeMandeville, foi um defensor das práticas esportivas como atividade auxiliar no processo de reabilitação. Segundo a CBBC – Confederação Brasileira de Basquete Cadeirantes, a primeira paraolimpíada aconteceu em 1960, em Roma, quando o médico italiano Antonio Maglio, diretor do Centro de Lesionados Medulares de Ostia, cidade italiana, sugeriu que os Jogos Internacionais de StokeMandeville fossem disputados naquele ano na capital da Itália, na seqüência e nas mesmas instalações da XVI Olimpíada. A Olimpíada dos Portadores de Deficiência - na verdade, os Jogos Paraolímpicos - contou com 400 atletas em cadeira de rodas, representando 23 países. (CBBC, 2012) Segundo a ADD – Associação Desportiva para Deficientes, no Brasil, devemos a Sérgio Del Grande a introdução da modalidade. Em 1951, ele sofreu um acidente durante uma partida de futebol, e ficou paraplégico. Os médicos recomendaram a ele que viajasse para buscar tratamento nos Estados Unidos. Naquele país, Sergio percebeu o quanto era dado valor para a prática esportiva associada ao processo de reabilitação. Em meados a década de 50, Del Grande voltou para o Brasil, trazendo consigo uma cadeira de rodas especial para a prática do basquetebol. Fundou o clube dos Paraplégicos de São Paulo e procurou incentivar outras pessoas com deficiência para praticar a modalidade, através de exibições. Como sua cadeira havia sido fabricada nos Estados Unidos e não existia modelo parecido no Brasil, um fabricante procurou Sergio para desenvolver aquele material aqui, utilizando sua cadeira de rodas como protótipo. Em troca, Del Grande solicitou que o fabricante desse a ele 10 cadeiras de rodas, para que a primeira equipe fosse formada. E foi o que aconteceu. (CBBC, 2012) 14 1.3 QUEM PRATICA O BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS? Pessoas com deficiência física de membro inferior, tais como, pessoas amputadas, lesados medulares traumáticos e congênitos, pessoas que adquiriram poliomielite, entre outros. O Basquete em Cadeira de Rodas é uma modalidade que agrega em uma equipe, pessoas com diferentes tipos de deficiência e cada deficiência com um grau de comprometimento. Assim, em uma mesma equipe existem pessoas com mais comprometimento do que outras. Por exemplo, um amputado de membro inferior abaixo do joelho tem menos comprometimento quando comparado a um praticante lesado medular. Isso implica que se considerar que no alto rendimento somente os melhores jogariam, mas isso não acontece, pois a cada atleta possui uma pontuação que em equipe somam-se os pontos não podendo ultrapassar a pontuação coletiva permitida. 1.4 REGRAS DO BASQUETE SOBRE RODAS O basquete em cadeira de rodas é praticado por homens e mulheres. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Basquete Amador-FIBA, com algumas adaptações. Exemplos disso são regras como: a cada dois movimentos para impulsionar a cadeira, o jogador tem de quicar a bola pelo menos uma vez. É falta técnica utilizar os membros inferiores para obter algum tipo de vantagem como colocar o pé no chão ou levantar um pouco do assento. Para que haja igualdade entre os atletas e segurança durante os jogos, a cadeira deve ter certas medidas. Elas, inclusive, têm um tipo de para-choque. É notável a alta pontuação que as disputas atingem. O esporte é um dos mais praticados em todo o mundo e um dos mais vistos durante a Paraolimpíada. As dimensões da quadra e a altura das cestas são as mesmas da vertente olímpica da modalidade. Em princípio, só lesionados medulares atuavam. Com o passar do tempo, amputados passaram a competir. 1.4.1 Regulamento da quadra A quadra regular para o jogo é de tamanho normal, 28.00 m x 15.00 m, usada para competições da I W B F. A quadra deverá ser marcada com linhas divisórias de 15 áreas, linhas para lances livres e linhas para arremesso de 3 pontos, de acordo com o regulamento da FIBA/IWBF. O basquete em cadeira de rodas usa uma cesta padronizada, instalada a 3.05 m de altura, idêntica a cesta usada para o jogo de basquete comum. (CBBC, 2012) 1.4.2 Pontuação do jogo Como no basquete comum, um arremesso da linha de lance livre conta 1 (um) ponto. Um arremesso da área de jogo 2 (dois) pontos. Um arremesso da linha de 3 pontos conta 3 (três) pontos. (CBBC, 2012) 1.4.3 Violação das linhas divisórias O jogador é considerado fora da quadra quando ele ou alguma parte de sua cadeira estiver em contato com o solo sobre ou fora da linha divisória. A bola é considerada fora, quando a mesma ultrapassar a linha divisória. O causador da bola fora será o ultimo jogador a tocá-la. Entretanto, se um jogador atirar deliberadamente a bola contra seu adversário ou contra sua cadeira e esta sair da quadra, a mesma será reposta pelo adversário no ponto mais próximo onde ocorreu à violação. (CBBC, 2012) 1.4.4 Violação de percurso O jogador só poderá impulsionar as rodas duas vezes antes de: driblar,passar, ou arremessar a bola. Se o jogador impulsionar as rodas três vezes, incluindo movimentos de pivô, será considerada violação de percurso, a famosa "andada". (CBBC, 2012) 1.4.5 Sobre os atletas Cada atleta possui uma pontuação para sua lesão, a pontuação de cada um varia de 1.0, 1.5, 2.0, 2.5, 3.0, 3.5, 4.0 e 4.5 pontos, sendo que os pontos 1.0 são jogadores que normalmente apresentam uma lesão alta, podendo comprometer o seu equilíbrio de tronco e os seus membros superiores; o ponto 4.5 pode ser, por 16 exemplo, aquele atleta que apresenta uma amputação do membro inferior (abaixo do joelho) lesão baixa. O time não deve ultrapassar 14 pontos. (CBBC, 2012) 1.5 HISTÓRIA DA EQUIPE FARRAPOS – PANAMBI - RS A Equipe Farrapos surgiu através de uma ideia do professor Jaubert Menchik quando era coordenador do Napne (Núcleo de Apoio as Pessoas com Necessidades Especiais do campus Panambi), em uma reunião na cidade de Santa Maria para discussão de como iriam investir uma verba recebida através do projeto incluir, onde ele deu a sugestão de compra de duas cadeiras de rodas para a prática esportiva, isso no ano de 2010, paralelamente, o professor Jaubert conseguiu junto ao campus Panambi a aquisição de mais três cadeiras de rodas no final do mesmo ano. No ano de 2011 foi aprovado o projeto de extensão basquete sobre rodas no IFF Farroupilha, onde começou as atividades em agosto de 2011 com três participantes, logo aumentaram para seis participantes, o que dificultou o trabalho, pois não havia equipamentos para todos. Foram momentos difíceis, mas que conseguiram superar com a ajuda dos bolsistas, os quais são alunos do ensino médio do IFF, onde possuem diversas funções como: preparar as cadeiras para o jogo, auxiliar nas atividades do treino e jogar juntamente com os cadeirantes quando necessário. No inicio do projeto os treinos eram realizados no ginásio municipal de Panambi, pois o IFF ainda não possuía ginásio, com muitas dificuldades os treinos eram realizados, pois por ser municipal havia muitos eventos e os treinos eram cancelados, outro fator que dificultava bastante, era que este espaço não possuía adaptações para cadeirantes. No ano de 2014 os treinos começaram a ser realizados no ginásio do IFF, a partir deste momento os treinos são realizados todos os sábados de abril a dezembro, sendo este lugar completamente adaptado para cadeirantes, desde banheiros, bebedouros e rampas. Outro fator que evoluiu foi à aquisição de mais cadeiras obtendo hoje dez cadeiras, sendo que deste modo já se consegue realizar o jogo com duas equipes completas, onde as mesmas, quando necessário, são completadas pelos bolsistas. Durante os anos foram sendo agregados participantes e também ocorrendo desistências de outros, o projeto conta hoje com cinco cadeirantes, um professor, 17 cinco bolsistas e os familiares dos cadeirantes que sempre estão dando algum suporte necessário. Apesar do projeto não ter como objetivo principal a formação de uma equipe para competições, a mesma participa de vários eventos todos os anos, sendo que no ano de 2014 foi realizado um torneio em Panambi, onde tiveram presentes equipes de cidades como: Novo Hamburgo, Erechim, Carazinho, Santana do Livramento, Passo Fundo e Panambi. O objetivo primordial do projeto é a inclusão dessas pessoas na comunidade e a melhoria da qualidade de vida de cada um, onde acreditamos que este objetivo está sendo atingido. 18 2 METODOLOGIA 2.1 TIPO DE PESQUISA A pesquisa realizada se deu na forma descritiva, onde foram disponibilizados anamneses, questionário e entrevistas semi-estruturadas aos sujeitos da pesquisa. Através dos dados coletados, realizamos uma análise dos pontos positivos e negativos do esporte na vida pessoal de cada um dos sujeitos, concluindo o trabalho com embasamento em uma pesquisa bibliográfica, através de livros, sites, artigos, monografias, entre outros. Segundo Gil (2010 p. 27) As pesquisas descritivas têm como objetivo a descrição das características de determinada população podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis.(GIL, 2010. p.27) As pesquisas descritivas buscam avaliar as características de um grupo sendo ela físicas, idade, sexo, procedência, escolaridade, etc, observando e analisando os dados, fazendo uma correlação de fatos e fenômenos sem interferi- los. Este tipo de pesquisa visa descobrir, da forma mais precisa possível, a frequência com que ocorrem determinados fenômenos, e verificar a relação que o mesmo tem com outros, a natureza do mesmo e características. Conforme Gil (2010, p. 28) Algumas pesquisas descritivas vão além das simples identificação da existência de relações entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Há, porém pesquisas que, embora definidas como descritivas com base em seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias.(GIL, 2010.p.28) O objetivo da pesquisa descritiva é conhecer as mais diversas situações e relações sociais, políticas e aspectos do comportamento do ser humano. Pôde-se tomar a pesquisa em grupos, bem como individualmente. 2.2 AMOSTRA E PROCESSO DE SELEÇÃO O campo de estudo para essa investigação abrangeu os cinco atletas da equipe de basquete sobre rodas Farrapos, do município de Panambi - RS. Todos do 19 sexo masculino idades entre 18 a 36 anos, estudantes, aposentados e trabalhadores em setores diversos. Os treinamentos ocorrem todos os sábados das 13h30min às 15h30min. A seguir iremos descrever as características de cada participante da pesquisa, sendo que os mesmos foram denominados A B C D E. 2.2.1 Sujeito A Este sujeito tem 18 anos de idade possui o ensino médio completo, trabalha no almoxarifado de uma empresa em Panambi - RS. Em relação a sua lesão, ele teve uma má formação congênita, resultando na dificuldade de se locomover, fazendo com que ele utilize muletas para se deslocar. 2.2.2 Sujeito B Este sujeito tem 18 anos de idade, possui o ensino fundamental completo, trabalha em uma empresa em Panambi - RS. Em relação a sua lesão, ele foi atropelado na faixa de segurança por um carro, resultando na execução de seus gestos motores, onde ele tem dificuldade em todos os movimentos, tanto membros inferiores, superiores e até mesmo na fala, mas consegue se deslocar sem precisar de auxiliode muletas e da cadeira de rodas. 2.2.3 Sujeito C Este sujeito tem 36 anos de idade, possui o ensino médio completo, é aposentado. Em relação a sua lesão ele sofreu um acidente de moto, há aproximadamente quinze anos, onde resultou em lesão medular na T11 e T12. Em consequência dessa lesão ele não possui o movimento das pernas, portanto para se deslocar ele utiliza a cadeira de rodas. 2.2.4 Sujeito D Este sujeito tem 25 anos de idade, possui o ensino médio completo, é militar aposentado. Em relação a sua lesão, sofreu um acidente de moto, aproximadamente 20 cinco anos atrás, quando se deslocava para o quartel, ocasionando a lesão medular, perdendo os movimentos das pernas. Para se locomover hoje utiliza cadeira de rodas. 2.2.5 Sujeito E Este sujeito tem 25 anos de idade, possui ensino médio completo e é aposentado. Em relação a sua lesão, sofreu um acidente de bicicleta, onde o mesmo estava descendo um morro e houve um problema nos freios, fazendo com que ele se desgovernasse e caísse, causando assim a lesão medular. O acidente ocorreu ha nove anos atrás, onde devido a lesão, utiliza cadeira de rodas para se locomover. 2.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA Inicialmente foi realizada uma anamnese com todos os sujeitos, para conhecermosum pouco de cada um (conforme anexo 1 ). Depois desta primeira anamnese pronta, realizamos a entrevista (conforme anexo 2 ) semi-estruturada gravada e transcrita com quatro dos sujeitos, onde apenas o sujeito B não realizou a entrevista gravada, por ter muita dificuldade na fala, por esse motivo ele respondeu um questionário no formato do roteiro da pesquisa. 2.4 COLETA DE DADOS A coleta de dados ocorreu da seguinte forma: realizamos uma anamnese e entregamos para todos os sujeitos após o término do treino do dia 21 de novembro à tarde. Explicamos a eles cada uma das questões e nos colocamos à disposição para dúvidas. Assim, na semana seguinte, dia 28 de novembro cada um dos participantes nos devolveu a anamnese respondida. Com o sujeito B, além da anamnese realizada para conhecê-lo melhor, ele respondeu um questionário no formato da entrevista semi-estruturada, decidimos fazer esta mudança, pela grande dificuldade que o sujeito enfrenta na dicção das palavras, tornando difícil a sua comunicação. Já a entrevista semi-estruturada e gravada, foi realizada após o treino do dia 12 de dezembro, onde os quatro sujeitos responderam a entrevista. Sendo 21 que apenas o sujeito B não respondeu, pelo fato já explicado acima. Após, as entrevistas foram transcritas. 2.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS ENTREVISTAS Sendo assim, os dados foram analisados através de eixos temáticos baseados nos objetivos e foram fundamentadas com o referencial teórico, as falas dos participantes e as discussões sobre as mesmas. 2.6 QUESTÕES ÉTICAS DA PESQUISA O presente estudo de pesquisa foi realizado com a Equipe de Basquete Sobre Rodas Farrapos Panambi –RS obtendo na pesquisa dados qualitativos. Todos os participantes da pesquisa concordaram e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme o anexo 3. 22 3 ANÁLISE E DISCUSSÕES 3.1 A VIDA COTIDIANA DOS SUJEITOS Através das entrevistas realizadas, pudemos perceber o quão restrita socialmente é a vida destes sujeitos logo após sofrerem a lesão, perdendo sua capacidade de locomoção sem auxílio. A lesão traz consigo muitas outras consequências para além da falta de convívio social, como a impossibilidade de realizar diversos tipos de atividades físicas que anteriormente eram comuns em seu dia a dia, conforme Sujeito C “Cara, minha vida era muito agitada. Estava me profissionalizando no futebol, eu era goleiro, sabe, então eu treinava a semana inteira, final de semana era jogo, campeonato, era Condor, era Pejuçara, era na região inteira. Então não tinha muito tempo para nada, quando aconteceu o acidente eu estava no auge, estava pra estourar, então foi um soco, foi muito repentino” Deste modo, muitas vezes essa mudança traz o afastamento de algumas pessoas que antes conviviam diariamente, e que devido às circunstâncias, seguiram sua vida, modificando assim seus laços sociais, como diz o Sujeito C “[...] mudou, mudou, mudou bastante. Antes eram muitos amigos que eu tinha e festas, time de futebol, assim. Isso tudo morreu, o que restou foram alguns colegas, ex-colegas de aula, que a gente se encontra até hoje, amigos a mais de 20 anos, não vai se terminar e a turma agora, que a gente vai conhecendo agora, depois do acidente”. Porém, ainda assim, alguns trazem relatos de experiências de amizades positivas, por exemplo, o sujeito E "Geralmente precisa acontecer uma tragédia na tua vida para tu ver quem realmente é teu amigo, porque muitas pessoas que eu considerava, achei essa pessoa vai me ajudar, simplesmente virou as costas, não me ligou e nem veio me visitar. E pessoas que eram só conhecidas se tornaram próximas, vinham visitar. Antes eu tinha bastantes amigos, e sobrou só um, de todos que eu tinha, e logo no começo ele sempre vinha me visitar, ai perguntei para ele "ta, mas por que tu não mudou comigo?", ai ele respondeu "tu é o mesmo, só ta sentado". Então não tem, vai de cada pessoa, uns diziam que não vieram falar comigo porque eu tinha medo, mas medo do que, o que mudou foi a parte física" Quanto à família, todos receberam grande apoio, ao menos de parte dela, e recebem até hoje. Em alguns casos podemos perceber que necessitaram de mais atenção e cuidados que outros, como é o caso do Sujeito A que diz “Aos três anos 23 de idade eu comecei a andar de muleta, antes minha mãe me carregava no colo, ou às vezes com a cadeira de rodas também”. É essencial que ressaltemos a importância do apoio familiar e dos amigos, tanto para a recuperação física como psicológica, inclusive no caso de reinserção no meio social. O social traz consigo diversos fatores que prejudicam a inserção destes sujeitos, seja pela dificuldade de acessibilidade em alguns ambientes, como o preconceito de algumas pessoas, que se pode perceber através do afastamento de alguns amigos antigos e por vezes a dificuldade em se fazer novas amizades. Outro fator que modificou no cotidiano destes sujeitos, ao qual tiveram que se adaptar é o ângulo de ver as coisas, as pessoas, como diz o Sujeito E "[...] o modo de tu ver a vida muda muito, principal é o ângulo, antes tu estava de pé e agora sentado muda muito, da forma das pessoas olharem, isso que muda bastante" Assim, podemos verificar as grandes modificações ocorridas no cotidiano destes sujeitos após sofrerem as respectivas lesões, suas dificuldades, e também adaptações, porém, cabe salientar que aqui estão apenas alguns destes fatores, pois com certeza há muito mais aos quais não conseguimos alcançar através da pesquisa proposta. 3.2 A INSERÇÃO DOS SUJEITOS NO ESPORTE DO BASQUETE SOBRE RODAS Os primeiros integrantes da equipe foram convidados pelo próprio treinador do projeto, sendo que dois destes permanecem no time até hoje. Assim, os demais integrantes foram sendo convidados pelos atletas que já participavam. Ainda há a parte de divulgação que é realizada em busca de novos integrantes, por todos os integrantes do projeto, sendo eles: coordenador, atletas, bolsistas e familiares dos atletas que estão sempre auxiliando no que for possível. Mesmo com a divulgação realizada ainda é muito difícil o ingresso de novos atletas, tendo em vista que alguns não aceitam a condição de cadeirantes em que se encontram. Inicialmente houve a participação de cadeirantes de cidades vizinhas, porém os impedimentos financeiros não permitiram a continuidade no projeto. Ainda há dificuldades em conseguir patrocínio para o deslocamento, o que faz com que haja ainda mais dificuldades em integrar cadeirantes da região, que seria uma 24 possibilidade, tendo em vista que o projeto é aberto para todos, e não restrito ao município. Ao serem convidados a integrar a equipe e praticar um esporte, os atletas acabam comparecendo para conhecer esta novidade que é um cadeirante praticando um esporte, pois na região não há outros projetos que possibilitem essa inserção. Dos atletas entrevistados apenas um já havia vivenciado o basquete sobre rodas, pois segundo o Sujeito D “ [...] na verdade já conhecia antes porque eu fazia, me tratava em Brasília no Sarah, tinha um conhecimento já. Aí como tinha esse projeto, eu fui chamando outras pessoas, fui convidando e estamos até hoje aí”. Após esse período experimental de algo novo, começam alguns desafios com relação ao manuseio da cadeira em jogo, por se tratar de uma cadeira de rodas adaptada para o esporte, diferente da utilizada no dia-a-dia. Além disso, vem as regras do jogo que são diferentes das do jogo original, há dificuldades na coordenação motora, pois eles necessitam empurrar a cadeira e conduzir a bola, geralmente em velocidade, diferentemente do dia a dia onde eles tem somente a cadeira de rodas normal. Durante o jogo eles precisam controlar sua cadeira, controlar a bola quando está de posse dela, e também o adversário para que o mesmo não atrapalhe o seudesempenho, necessitando de muita coordenação. Todas as dificuldades acima expostas são trabalhadas individualmente através de atividades específicas nos treinamentos, para que assim possam aprender a manejar corretamente a cadeira de rodas, de forma que consigam atingir um melhor desempenho durante as jogadas, com o controle da bola. Juntamente com a evolução individual de cada integrante da equipe, na parte técnica e física, ocorre também a evolução da equipe como um todo principalmente nas táticas de jogo. Através da inserção destes sujeitos no projeto, já no primeiro ano com a equipe formada, iniciaram a participação em torneios, mesmo o objetivo não sendo a competição e sim a socialização, assim fazendo com que a equipe participe em ao menos dois torneios ao ano. Além disso, já foi realizado um jogo de confraternização e demonstração contra a equipe da cidade de Erechim – RS no encerramento de um evento denominado COMIPA (Copa Municipal Infantil de Panambi), que são jogos esportivos de varias modalidades, realizados entre as escolas do município de Panambi – RS que ocorrem durante o ano todo. 25 Como já mencionado na história da equipe, também já foi conseguido realizar um torneio do basquete sobre rodas a nível estadual, onde os organizadores foram todos os componentes da equipe, desde coordenador, bolsistas, atletas e familiares dos atletas. 3.3 AS MUDANÇAS NOS SUJEITOS EM SEUS ASPECTOS FÍSICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS Os dados das entrevistas foram analisados a fim de verificar o que mudou na vida dos participantes após a iniciação no projeto de basquete sobre rodas, o que veio a acrescentar e se houve algum ponto negativo. Sabe-se que cada sujeito vivencia de modo diferenciado a questão de sua deficiência, até mesmo porque, cada um tem a sua história de como obteve a mesma. Ou seja, alguns nasceram com alguma má formação congênita, outros sofreram acidentes, seja por sua responsabilidade ou responsabilidade de terceiros, fazendo com que cada um reagisse de modo diferente à sua lesão sofrida, alguns se afastando da sociedade e se isolando ou reagindo de forma positiva, buscando dentro de suas limitações, seguir com a sua vida normalmente dentro do social. Deste modo, pudemos perceber que o basquete sobre rodas trouxe como benefício unânime entre os sujeitos analisados a reintegração e interação na sociedade, pois assim como diz o Sujeito C “tu começa a se socializar com outras pessoas, começa a ver que tem outras pessoas com as mesmas limitações, começa a ver que tem outras pessoas que não tem limitações e estão ali te apoiando, gostando do basquete, do esporte, então isso aí foi indispensável pra socialização, pra minha socialização”. A socialização traz consigo a possibilidade de uma melhora da autoestima destes sujeitos, bem como o desejo de independência, de conseguir viver o dia a dia de forma independente, conforme menciona o Sujeito A “antes eu ficava em casa, não fazia nada, isso aí serviu pra isso”. Conforme já mencionado, historicamente, o basquete sobre rodas iniciou como uma possibilidade de reabilitação e tratamento terapêutico para os sujeitos lesionados, sendo que atualmente, para além deste benefício, o mesmo vem sendo viabilizado como meio de reinserção social e este é um dos intuitos do projeto em questão, pois o mesmo possibilita para além dos jogos, que estes sujeitos conheçam 26 novas pessoas com as mesmas limitações, fazendo com que os mesmos troquem experiências e vivências, bem como possam colaborar uns com os outros através dessas trocas. Assim, quatro dos entrevistados mencionam a importância das integrações com outras equipes mais experientes, não somente em competições, mas também nos treinamentos, possibilitando a melhora tanto do físico, como também tático de jogo e na parte social. O basquete sobre rodas possibilita aos seus atletas uma melhora nos aspetos físicos, sendo que devido à necessidade de agilidade para se deslocar dentro da quadra possibilita a aproximação do atleta com a cadeira de rodas devido à necessidade para se ter um resultado satisfatório, melhorando o manuseio das cadeiras também fora das quadras, em seu dia a dia, como cita o Sujeito E “na parte física ajudou a movimentar, porque eu estava muito parado, melhorando a agilidade com a cadeira normal”. O projeto veio com a possibilidade de estes sujeitos praticarem algum tipo de esporte, inclusive em benefício à própria saúde, pois segundo o Sujeito D o mesmo permitiu “ter um esporte para estar praticando, porque aqui em Panambi e na região quase não tem algum outro esporte adaptado para deficientes.” Sendo assim, tratando-se de uma das poucas possibilidades de praticar alguma atividade física o Sujeito C argumenta que “porque às vezes é nosso único esporte, pra mim meu único esporte é aqui, então se ficar quinze dias sem vir ao projeto, para mim já é uma depressão”, sendo que este período de quinze dias ocorre no cancelamento de um treino devido ao ginásio estar ocupado, tendo em vista que o projeto tem disponibilidade do ginásio apenas aos sábados. Sabe-se da necessidade de todas as pessoas praticarem algum tipo de esporte ou atividade física em benefício da própria saúde e tendo em vista as limitações destes sujeitos, muitas vezes não conseguem adaptar-se aos mesmos esportes que pessoas que não possuem nenhum tipo de lesão, sendo assim o basquete sobre rodas proporcionou inclusive a melhora na saúde destes sujeitos, pois como relatado pelo Sujeito C “eu tinha muitas internações e minha imunidade era muito baixa, porém depois que comecei a praticar o esporte, comecei a jogar basquete mudou, não tive mais nenhuma internação”. Para finalizar as análises propostas, viemos mostrar a importância do projeto na vida desses sujeitos, utilizando-nos do que nos respondeu o Sujeito C “Então o 27 projeto pra mim foi tudo, uma mudança muito grande na minha vida, e antes disso eu tinha morrido pra mim, porque os amigos do futebol, todo mundo continuou com sua vida, continuou com o futebol e eu não podia mais, então isso pra mim foi muito satisfatório”. Podemos perceber que o esporte para além de benefícios a saúde, tem um intuito muito maior que diz respeito ao bem estar dos sujeitos, proporcionando a eles a reinserção no social e beneficiando os aspectos físicos e principalmente psicológicos. Com isso, percebemos que o basquete sobre rodas proporciona aos sujeitos a possibilidade de resgatar algo que para muitos já estava perdido, que é voltar a praticar um esporte, de poder estar nesse meio com outras pessoas cadeirantes e também andantes com objetivos em comum. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho teve como objetivo a análise da vida dos cadeirantes antes e após a inserção dos mesmos no projeto de Basquete sobre Rodas,bem como verificar a vida cotidiana dos sujeitos a partir do primeiro contato com o esporte, dificuldades encontradas, para então observarmos as mudanças nestes sujeitos, em todos os seus aspectos. Para que pudéssemos chegar até esta pesquisa, fez-se necessário contextualizar a respeito de inclusão e acessibilidade, que é um tema totalmente atual, que vem sendo cada vez mais discutido, em virtude de que para além de um direito, é um dever de cada cidadão incluir. Após relatamos a história do basquete sobre rodas no mundo, que veio como uma possibilidade de reabilitação aos soldados lesionados na Segunda Guerra, surgindo mais tarde a possibilidade de tornar isso um espaço de lazer e também competição. Para, além disto, trouxemos também as regras adaptadas ao esporte para cadeirantes, para situar um pouco a diferença com relação ao esporte original. A partir daí, entramos na História da Equipe Farrapos, com a qual foi realizada a pesquisa, que se mostrou muito satisfatória ao fim deste trabalho, pois nos permitiu verificara grande importância que este projeto tem na vida destes atletas e os benefícios que o mesmo traz a cada um. Estes benefícios vão para além do físico de cada sujeito, através das entrevistas pode-se perceber que estes sujeitos estão completamente engajados neste projeto, onde os mesmos têm a possibilidade de retornar ao convívio social. Tendo em vista que o intuito do projeto é a socialização, pode-se perceber que este objetivo vem se cumprindo, não somente nesse aspecto, mas oportunizando os seus atletas muito mais vivências e experiências através do esporte. Ao final deste trabalho percebemos que o projeto não traz nenhum malefício a nenhum dos atletas, ou seja, não tem nenhum aspecto negativo registrado. Ou seja, o projeto vem somente a agregar na vida destes sujeitos, tanto nos aspectos físicos, como psicológicos e principalmente sociais. Cabe salientar a importância que seja realizada novas pesquisas com relação aos esportes adaptados, pois existem poucos materiais bibliográficos nesse campo. É necessário também que esses projetos sejam mais divulgados e apoiados, pois 29 percebemos o quão é benéfica para os sujeitos à participação dos mesmos nesse meio. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM. Alessandra Agra.O basquete em cadeiras de rodas com papel de inclusão e integração dos portadores de deficiência. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2008. ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA PARA DEFICIENTES. ADD Esporte – Basquetebol. Disponível em: <http://www.add.org.br/esporteBasquetebol.asp#.Vi7S9rerTIU> Acesso em: 26/10/2015. CALEFFI. Graziela Dutra. Treinadores de basquete em cadeiras de rodas: seus conhecimentos, concepções e praticas. Estudo de caso de dois treinadores do Escalão Sênior da Região norte de Portugal: Caleffi. G. D. Dissertação de mestrado apresentada a Faculdade de Desporto da Universidade de Porto. 2008. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASQUETE CADEIRANTES. Quando foi a primeira paraolimpíadas?. Disponível em: <http://www.cbbc.org.br/imprensa/curiosidades/quando-foi-o-primeira-paralimpiadas> Acesso em: 26/10/2015. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASQUETE CADEIRANTES. Disponível em: <http://www.cbbc.org.br/saibamais/esporte> Acesso em: 26/10/2015. GEREMIA, Daniel; FALKENBACH, Atos Prinz; Paradesporto natação: um olhar sobre acessibilidade. Bueno Aires. Março de 2009.Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd130/paradesporto-natacao-um-olhar-sobre-a- acessibilidade.htm> Acesso em: 26/10/15. ITANI, Daniela Eiko; ARAÚJO, Paulo Ferreira de; ALMEIDA, José Julio Gavião de;Esporte Adaptado Construído a Partir das Oportunidades: Handebol Adaptado. Buenos Aires. Maio de 2004. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd72/handebol.htm>. Acesso em: 26/10/15. PRESIDENCIA DA REPÚBLICA. Lei nº 13.146/15. 06 de julho de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 26/10/15. SILVA. Ana Rosa Silveira.O basquete em cadeiras de rodas: para além da quadra. Monografia apresentada para aprovação final e obtenção do titulo em licenciatura em educação física da UFRGS. 2010. SOARES. Suzilane Martins; Mistrello. Carolina Biral; Ribeiro. Gisele Cristina. Os benefícios sociais e físicos do basquete para cadeirantes. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2007/trabalhos/saude/inic/INICG00096_01O.p df> Acesso em: 26/10/15 TEIXEIRA. Ana Maria Fonseca Teixeira; Ribeiro. Sônia Maria (2006). Basquetebol em Cadeiras de Rodas. Brasília, DF. Disponível em: < http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/arquivos/File/sugestao_leitura/basquete.pd f> Acesso em: 20/10/15 31 VALE, Regina Lucia Oliveira do. Basquetebol em cadeira de rodas: um olhar sobre acessibilidade. 2009. 43 fl. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós- Graduação em Educação Profissional Tecnológica de Mato Grosso) – Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso. Cuiabá – MT. 2009. Disponível em: <http://bento.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/20101893051845regina.pdf> Acesso em: 26/10/15. 32 ANEXOS 33 ANEXO 1- Anamnese NOME: IDADE: SEXO: GRAU DE ESCOLARIDADE: PROFISSÃO: TIPO DE LESÃO: COMO OCORREU A LESÃO? HÁ QUANTO TEMPO SOFREU A LESÃO? 34 ANEXO 2- Roteiro da entrevista gravada COMO É O SEU NOME? QUAL A SUA IDADE? ONDE VOCÊ MORA? COM QUANTAS PESSOAS VOCÊ MORA? QUEM SÃO ELAS? VOCÊ SOFREU ALGUM ACIDENTE OU A TUA DEFICIÊNCIA É DE NASCENÇA? QUANDO OCORREU? COMO FOI? COMO ERA A TUA VIDA ANTES? O QUE MUDOU PRA VOCÊ DEPOIS DO ACIDENTE? EM QUESTÃO DA TUA LOCOMOÇÃO, O QUE MUDOU? COMO FOI A REAÇÃO DA TUA FAMÍLIA? COMO FOI A REAÇÃO DOS TEUS AMIGOS? COMO VOCÊ FICOU SABENDO DO PROJETO? QUANDO VOCÊ FICOU SABENDO DO PROJETO? DEPOIS QUE VOCÊ COMEÇOU NO PROJETO, VOCÊ SENTIU ALGUM MALEFÍCIO OU BENEFICIO? ALGUMA SITUAÇÃO QUE VOCÊ QUEIRA RELATAR, REFERENTE AO TIME, AO SEU COTIDIANO, ALGUMA VIVENCIA, FICA A SEU CRITÉRIO SE QUER ESCREVER ALGO OU NÃO? OBRIGADO! 35 Anexo 3 – Resolução do Conselho Nacional De Saúde RESOLUÇÃO Nº 196, de 10 de outubro de 1996 O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Quinquagésima Nona Reunião Ordinária, realizada nos dias 09 e 10 de outubro de 1996, no uso de suas competências regimentais eatribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, RESOLVE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Prezado Senhor (a): Estou desenvolvendo uma pesquisa denominada Basquete de Cadeirantes – Equipe Farrapos – Instituto Federal Farroupilha – Panambi – RS;. Este trabalho é parte dos estudos de Conclusão de Curso de Educação Física da Universidade de Regional do Noroeste do Estado do RS – UNIJUÍ – Ijuí, e tem como objetivo geral apontar as evoluções e inclusão dos cadeirantes que participam da equipe de basquete, tendo em vista a melhoria da sua saúde e os objetivos específicos serão: Realizar levantamento de dados junto ao grupo de pesquisa, analisar os dados coletados, afim de verificar os benefícios adquiridos após o inicio do projeto e assim fazer um levantamento de hipóteses de novas inclusões através do esporte . Sendo assim, estou convidando você para participar deste trabalho, através de entrevista gravada, na qual você falará sobre a sua vivência no programa, e também será usada fotos realizando exercícios, treinamentos e jogos. A entrevista será transcrita e posteriormente analisada mediante as informações que você forneceu. O seu anonimato está assegurado e suas informações/relatos serão tratados com sigilo absoluto, podendo você ter acesso a elas e realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário. Você tem liberdade para recusar participar da pesquisa ou afastar-se dela, em qualquer fase, sem que isso implique em danos pessoais. Está garantido que você não terá 36 nenhum tipo de despesa material ou financeira durante o desenvolvimento da pesquisa, como também, nenhum constrangimento moral decorrente dela. Como pesquisador, assumo toda e qualquer responsabilidade no decorrer da pesquisa e garanto-lhe que suas informações somente serão utilizadas para o estudo acima mencionado. Se houver dúvidas quanto a sua participação, poderá pedir esclarecimento. Eu_______________________________________________________ __________RG___________________ ciente das informações recebidas, concordo em participar da pesquisa, concedendo entrevista ao pesquisador CleversonHilgert, autorizando-o a utilizar as informações, sem restrições de prazos ou citações, a partir da presente data, desde que seja garantido o sigilo e anonimato. ___________________________________________ Nome do entrevistado Assinatura do entrevistado _____________________ ______________________ Nome do responsável Assinatura do responsável ____________________ _______________________ Nome entrevistador Assinatura do entrevistador Panambi, ____de______
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