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Intercultura, Alternativa à Governação Biopolítica?

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INTER CULTURA, 
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GOVERNACAO BIOPOLITICA? 
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FICHA T~CNICA 1 
l oUY lntercultura. Alternaliva à GovemaçAo Biopolítica? 
lll1IO. Severino E. Ngoenha 
(~l<J< ISOEO (lnstítuto Social de Educação e Oesenvolvimonto) 
Ca1:.a. Publífox 
A11....,0.1lico~~~ao Publifüt 
' • ·' i ~·rs~'kl PubUfix 
.J 
l• it:I"•• 1000 exemplares 
~10: 7132/RUNLD/2011 
C-0r111.ç!~· O Resotvados todos os di<eitos. 
E E!X(.l'BSSMiente proobda a 1ep~ 100 ou parcial deSla Obra IXlt Q.JalQ.b 
meio~ a lo«ocópia e o ~a1<meneo rlomá1co. sern a auoizaçao expes-
sa oos 111'-'<Jes dos ~eilos 
PubliFlx 
Av. Ago51ri'O Nela N.0 7010. 1º /VW 
TellFax: •258 :/1 3 14382 
Emai· ~IX.O() m.z. p.A)lofix@gnal.COTI 
WWW P.blifix.00 ffil 
Oererrbode:/013 -~o ~ 
Agrad cimentos ......... . ... .. .......... .. .... .. ....... ... ... .... . ........ · ·:· ·· 
Dedi tória .......... ....... . ............................... ........ .... ... .... . 
Pane 
5 
7 
ipo de Governação para Moçambique? .. . . ...... .. ... ....... .. . 9 
esafio Social da Filosofia Moçambicana . . .. . .. . . . . . .. . .. .. . . . . . . 29 
1 que é a Governação .. .. . .. .. .. .. .. .. .. . .. . . . . . . .. .. .. . . . . .. .. .. .. .. . . 45 
Segun a Parte 
Os P adoxos do Liberalismo . . .. . . . .. . . .. .. . . .. .. . . .. . . . .. .. . .. .. . .. .. . . . . 51 
1. Revolução Holandesa ... . .. ... .... . . . . . ... .. ... . . .. .. ... . .. . . . . . . .. . . 57 
A" evolução Gloriosa" .............. .. .. . ... ....... .... .. .. ..... ... ...... 61 
]. _ _ ~Revolucão Amer-icana ~ ... - r n •• -.. ~ ~ .................. ,..,... '"' ... , ... ~ 6~1----"--
Lib r(.\lismo .e Liberdade ............................. : ..... ....... ." .... ~ ... 68 
O e é a Liberdade? . . . . .. .. . . .. . . . .. .. . . .. . . .. .. .. .. .. . . . .. .. . .. .. . .. .. .. . 78 
81 
istem altern;itivas ao neoliberalismo?............................. 93 
2. · frica e a G lobalização . . . .. . .. .. . .. . . .. .. .. .. .. . . . . . .. .. .. . .. .. . .. .. .. . 97 
Quartt_ Parte 
lntercyltur~ida~e, altern.ativa credível ao pós-liberalismo? ........ .... 103 
l. ~R;ic1on;iltdade Uniculrurnl .... . .................................... 217 
Q uin Parte · 
De qu os moçambicanos precisam? ....... .. ....... .. ..... .. ....... .... .. 13 l 
l. ~estabilidade .. ............... .. ... . ..................................... 139 
2. Oei;envolvimento ........................................ .. . ...... ....... l85 
3. 2 ornunhão .... ........................... . ................................ 211 
BiblioFrafia ............................. .. ............... ........ .. .. .. ...... . ... 223 
Agradecimentos 
.. ~. 
l 
1 .. -
fi 
~t 
1! 
~ 
~. 
À Stélia Muíanga, ! 
Eduardo Buanaiss.i, ;, 
'\ 
]ean-Lou.s Clumcerel, 3 
Giooanni Lenghissa, ~ 
José de Maros Neves 
HEP - Lausanne, ., .. 
FNRS-Suiça .• 
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... 
. : 
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Dedlcatória 
À Moira Laffranchini Ngoenha, 
Jonas Ngoenha e 
_ Wesselia..hlgoenb .... a __ _ 
aos meus velhos pais e innãos nestes momentos difíceis .. . 
7 
. ' 
Primeira Parte: 
Qual Tipo de Governação para Moçamhiqu~e? · 
. : '"' 
Er, 2004 escrevi um livro sob a chancela da Universidade 
Eduarl:lo Mondlane 4ut: in titulei "Os Tempos da Filosofia". O 
n1'1m~ ·~ rlP A~A....,nlares..disponibilizados..ao mercado foi-e.ll'i.g1:1+->-:::-..... . 
e, por isso, ficou rapidamente esgotado. Os estudantes conti-
nuam desde encão a solicitar-mo para efeitos de estudo, e eu, 
apesa1 de ter ido diversas vezes à tipografia, ter recorrido até 
aos re. ponsáveis, não consegui que ele fosse reimpresso ou que 
se fize se a segunda edi.ção. Os motivos invocados - o que Ma-
chel te ria chamado as nossas insuficiências - foram, primeiro, 
a fal~ de papel, depois, a avaria das máquinas, para no fim 
ouvir H'zer que as maquetes do livro tinham sido perdidas. 
E 1tretanto, ladrões visitaram a minha casa e aligeirara-me 
dos cc mputadores, das disquetes e das chaves USB em que 
eu gu: rdava as cópias dos meus trabalhos. Por consequência, 
fiquei sem maneira de reeditá-lo. A solução era dactilografar 
de no 10 e completamente o livro, o que constitui sempre um 
grand·~ trabalho. Não obstante, decidi-me a fazê-lo, porque 
pensa••a que seria pedagogicamente útil e teria até, de uma 
manei~a geral, alguma pertinência científica para o público in-
teress~ do. Todavia, quando o voltei a ler, fui interpelado por 
.,, 
Severino E. Ngoenha 
questões da introdução LjUe me levaram a não res revê-lo mas, 
a pensar em actualiza-lo , o que acabou de facto r sulcando na 
redacção de um livro novo. 
No capítulo primeiro, eu explicava a génese uma confe-
rência organizada pelo ACAFIL - Academia Filo ófica do Se-
minário lnterdiocesano Santo Agostinho - na ual, os estu-
dantes de filosofia se ínrerrogavam e me inrerrog vam quanto 
u .J,.., ;_,.._à participação da filosofi a no debate nacional em olta de qua-
A )})·;~ro questões: (i) qual era o tipo de governação de ue Moçam-
CJ Lbique precisava para o seu bom funcionamento, ii) o que era 
então eleger e para quê, (iii) qual seria o papel da losofia num 
país democrático, (iv) que leitura se podia então zer com vis-
ta às eleições gerais, legislativas e presidenciais. 
Como eu já então explicava, as questões que eles levanta-
vam eram vastas, complexas e difíceis e, por isso, n o me sentia 
à altura de respondê-las. Aliás elas iriam constituir substrato de 
reflexão filosófica, para gerações inteiras de pen adores. Por 
isso, refugiei-me na questão que me parecia ma·s urgente e 
com a qual, éomo filósofo, podia lidar com men s arbitrarie-
dade; isto é, a relação entre a filosofia e a policie ou, se qui-
sermos, com a democracia. Mas, mesmo neste âm iro, talhei a 
-. questão, corno um alfaiate para que o fato me p desse servir, 
reformulando-a, aculturando-a e limitando-a à di ensão mo-
çambicana. 
Uma segunda dificuldade era temporal. Ã atureza par-
ticular da filosofia não me permitia dar respost s imediatas, 
como são obrigadas a fazê-lo, com competência e igor, outros 
domínios do saber, a economia, a sociologia a c munícação, 
a prática política e outras. Aliás, isco explica que, só volvidos 
oito anos regresse a esta questão, com a certeza d não ter ain-
da respostas nem completas nem definitivas. 
1 ') 
. " 
lntercu1lUra, Alternativa à Governação Biopoliti~a 
• l 
!·. 
r-· 
A terceira razão que invoquei foi a pertinência com que , 
::-ª filosofia poderia lidar com os problemas então p0scos, para 
que a minha tomada de posição tivesse algum valo r e fo=-se 
suscepcível, de uma certa maneira, de contribuir para o debacc '.,.,. 
que se pretendia. ~, 
Por fim, subsistia sempre, corno aliás escreveu o José Ças- ~ 
tia no no prefácio, o espectro hegeliano da Coruja de M ine[\'a ":; 
que chega sempre atrasado: Isto é, o per~de fazer uma filo- ~~-J < 
sofia se não passadista, pelo menos ligada a um precérico que : t 
muitas vezes pode também ser ultrapassado, e incorrer as.~lp·:}i , { 
num hermeneutismo vazio que se limita a uma simples interR,~é-: .. f 
ração, sem por isso poder influenciar ou pelo menos participa~ L 
no debate das vicissitudes histórico-temporais com que esra-
rnos confrontados. 
Na releicura do livro, a acrualidade das questões que a 
ACAFIL levantou, levaram-me a aceitar o desafio de me debru-
çar sobre elas, volvida quase urpa década, mas como há quatro 
anos, continuo a considerar difícil interessar-me simultanea-
mente por elas todas; por isso, uma vez mais, me vou concen-
trar numa delas. Contudo, se há quatro anos atrás a relação 
entre a filosofia e a democracia me po.receu a mais apropriada, f}11Jó. · 
sobretudo em razão dos problema"Sqüenõrreavam a vidt1. po--
lírica e social do país e do mundo,hoje é mais acrnal e mai:; 
urgente inrerrogar-me sobre a primeira questão da ACAFIL, 
a saber, "o tipo de governação de que Moçambique precisa 
agora para o seu bom funcionamento". Mas esta gera imedia-
tamente alguns problemas teóricos. 
Como pensar as questões da ACAFIL e ao mesmo tempo 
não aceitar que a filosofia seja, hegelianamente, uma coruja de ~ 
Minerva que chega sempre tarde. Como justificar, por outro 
:·1 
-; 
~ 
~ , 
Êit 
Wfl 
li s 
~ 
'' 
Severino E. Ngoenha 
lado, que a questão da gove.rnação seja mais actual e pertinente 
que a relação encre a filosofia e a política (democracia)? 
Arriscando-me a ser repecitivo, devo mais uma vez afirmar 
que a primeira resposta tem a ver com a natureza, seria mais 
justo dizer, com a perspectiva que se tem da filosofia e, por via 
de consequência, com a sua temporalidade. 
lntercultura. Alternativa à Governação Biopolítica 
refuta. ões, de debates e de querelas. O filósofo moçambicano 
Mário Viegas fa la dos OKs da fi losofia que se tornam KOs e 
de no o OKs. 
l m 
t1 ·1 Não existe introdução num domínio, seja ele qual for, que 
: iil não contenha uma definição daquilo que se vai falar. Uma 
N o podendo mostrar o objecro da filosofia comç:> a nu-
mism tica, contentamo-me de aproximar da filosofia através 
deste rimeiro critério assaz formal; a filosofia nasce, vive e 
perdu a graças ao debate dos filósofos entre si. Sendo ela per-
pétuo diferendo e, de certa maneira, o mais escandaloso, im-
pressi na como certos filósofos querem resolver os conflitos 
de ma eira ou soteriológica ou milenarista, declarando, como ~ introdução à numismática, por exemplo, consagra-se antes de 
1 
1 mais a definir o que são as medalhas, em que é que esses objec-
"~·· fud l d . tos não se con n em com a simp es moe a, como esta ciência 
·~ 
se distingue da história da economia, da história da arte, etc. debate cientifico baseia-se sobre realidades que devem 
__.,· ~f:,___ _____ l~ ..... lm~a_....in .... t~rQdução-Lfilosofia-.encontra-se-i mediata.m~tg---•---'~.tat: ificadas.-pe.la-ex~i.:iência, a dt:imonsl:f.a~ãe,-a-i·Fwesti-----
advento de um tratado de paz perpétua. Em vão. 
r ·; confrontada com dificuldades particulares pois, como se sabe, gação, por exemplo, uma obseIVação, que por mais ~pmple-
1~ o seu objecto e os seus métodos não têm uma clareza unanime- xa, pr vou a existência de uma partícula desconhecida, a des-
~ mente reconhecida. Alguns filósofos, entre os mais estudados, cobert de um objecto no curso de uma escavação que pôs 
, como Nietzsche, Wittgenstein ou Heidegger, até anunciaram, termo a uma querela arqueológica, uma demonstração fará, 
J dedrna
1 
neiras aliás muito diferemes, a morte próxima e definiti- enfim aceitar um teorema. Certos debates, de natureza jurídi-
ví'I e a. A Posteriori, estes anúncios parecem paradoxais; encon- ca no eadamente, sobre a responsabilidade deste ou daquele 
tra-se sempre um filósofo que vem depois interpretar este fim indiví uo ou na resolução de um determinado litígio, darão 
da filosofia; penso no grande livro de Heidegger sobre Niet- lugar decisões menos radicais, menos definitivas quando se 
zsche, mas também em Wittgenstein· que recusa ele mesmo, baseia 1 sobre normas reconhecidas, leis, uma constituição, 
quinze anos após o Tractactus à morte da filosofia. Em con- uma j risprudência, por exemplo. Existem também debates 
formidade com o debate africa.no, podemos mencionar Aimé de nat "'reza política ou moral, sobre a propriedade, as liberda-
Césaire que, primeiro, adere filosoficamente aos princípios do des, o uicidio, o aborto, etc., levados a cabo simplesmente em 
marxismo para, anos depois, denunciá-los na famosa carta a referê 1 eia à normas perante as quais os homens são livres, ou 
Maurice Toures ou Paulin Hountondji, crítico radical da etno- desejat ser livres de discutir. . 
fil0s~fia para a qual ele se volta &nbém passado tempo. r -e--~? E tre as diferentes possibilidades de encará-la, pode-se 
Est:P.S aparentes paradoxo~o mérito de atrair a aten- aprese tar a filosofia como uma espécie de debat:e adjacente. 
ção sobre a particularidade da filosofia, que parece viver de Se, no decorrer de um debate sobre um fenómeno físico, um 
1 
1 
' 14 1 e; 
Severino E. Ngoenha 
teorema matemático, um facm histórico, as par es chegam a 
uma controvérsia sobre os mécodos científicos, natureza da 
o bservação, da demonstração matemátic~ ou d 
histó rica, estamos diante da génese de um deb te filosófico. 
Da mesma maneira, quando as partes se interr . gam sobre a 
validade de no rmas ju rídicas, politicas ou morais que são apli-
cadas a um caso pan:icular, podemos dar como e emplo o das 
controvérsias actuais entre a FRELIMO e a REN O quanto 
à legalidade e ou o juridismo em relação ao esta tu vinculativo 
e à interpretação das normas da constituição em lguns casos, 
até mesmo sobre a natureza, a actualidade e a pert nência desta 
como carta-mãe com estatuto quase metafísico, c paz de aglu-
tinar e ser reconhecida por todos os protagonist s do debate 
político e por todos os moçambicanos. Vemos n scer no hori-
zonte, debates filosóficos. Recordemo-nos enfim das querelas 
iconoclastas na igreja do Amparo na Mato la entre os jesuítas, a 
diocese do Maputo e o artista Chissano sobre a q estão não do 
belo ou da estética, mas sobre quem era legitim o a definir, 
estamos diante de um debate filosófico. 
Fazendo assim da filosofia um debate sobre s condições 
de todo o debate, no caso que nos interessa,, so 
ções da governação, distanciamo-nos <la defi~içã 
filosofia como procura da sabedoria, encontram nos, de ou-
tro lado, em sintonia com a preocupação dos p imeiros filó-
sofos gregos, nomeadamente com Aristóteles, qt e procurou, 
nas suas obras de lógica (Organon) definir, contr os sofistas 
e argumentadores, as condições do racíocíni válido ~ob 
todas as formas. 
Algumas consequências interessantes se despr ndem desta 
definição da filosofía para o debate sobre o debat . Compreen-
.-.. qe-se que a filosofia esteja antes de mais e intrínseca ente ligada 
l ... ! • t. .. .. .. 
I~ 
1 , 
~ 
1 •• 
lmercultura. Alternativa à Governação Biop0itl~·a 
•• e. n 
ao nascimento das ciências, dos saberes e dos saberes sobr.e os 
saberes (empíricos, experimentais, locais), das novas concep- ~ 
ções, ou, neste caso, das novas linguagens, (governação), · Jas ~; 
suas pertinências e das suas significações. · .' .;t 
Compreende-se também porque é que os debates fildsOfi~ ~']~· 
cos não ce::;sam de renascer, à medida que surgem novos dàpós ;1 
! 
sobre os factos, e porque, ao mesmo tempo, parecem t~{ de ·r 
ser resolvidos por uma nova filosofia que estabeleça, enfim, as ~ 
condições de um discurso verdadeiro (tudo o que é po5Sivél }, 
dizer de uma maneira legítima num debate): Aristóteles, 'c~m r 
a lógica do silogismo; Kant, com a crítica da metafísica; Witt- ~~ 
genstein com a teoria da proposição. :·: . • 
Compreende-se enfim a razão pela qual a filosofia, cC>n1o 
debate, se inscreve numa cronologia que, sem confundi'r~se 
com o curso dos eventos históricos, lhe confere uma duração 
própria. Existem na filosofia datas e períodos importa-ITies 
(1920-1940 cunhado por Alian Locke com o nome de Bl·ack _! 
Renaissance, 1945 publicação do livro de Tempels, 194 7' fütt- '':.'. 
dação da presença africana) e eventos que fazem com qu~· o 
debate não possa ser o que fora precedentemente (a puqf\~à­
ção dos primeiros trabalhos de Hountondji, de Eboussi, a réln-
trodução da filosofia em Moçambique em 1998). As obras
1 
~e 
1 
Descartes, de Hume, de Kant constituíram uma viragem â~s-
sa natureza, assim como as de Tempels (para alguns Kagame), 
Houncodji, Eboussi Boulaga, entre outros. , · ... .. 
Mas vemos rapidamente que os debates filosóficos não ~e 
confundem com um diálogo vulgar num colóquio num cÔ!i-
gresso científico, pessoas em carne e ossos, que trocam idt!ã:s 
num face a face sem mistério. O debate filosófico geralmente ~ 
não se desenrola num parlamento distinto (como exigem é tal-
vez justamenteos representantes da RENAMO); ele passa: por L · 
' 
i ,, .. - -
, .... 
V 
~ J 
Severino E. Ngoenha lntercultura. Alternativa à Governação Biopolltica 
mediações múltiplas que lhe conferem uma duração de quali- do au or nas línguas estrangeiras de acolhimento, muito bem 
dade muito particular. As discussões em volta da etnofilosofia comp eendida, ela desnatura o pensamento. 
não foram ultrapassadas, não só porque os seus principais cr'í- E tes equívocos, incompreensões, atrasos, (por mais cho-
ticos (Hountondji, 1 owa, .Boulaga) reviram as suas posições, cantes que possam parecer na era da comunicação quase ins-
mas sobretudo porque a delimitação cronológica das etapas cantâ ea) levam-nos a tomar contemporâneo no sentido pri-
significativas da jovem filoso fia africana, devido às divergentes meiro "o que é Jo mesmo tempo que ... ". Mas quem são os 
interpretações do objecto e das significações, nunca teve, nem filóso s do mesmo tempo que os outros? Como defini-los sem 
sequer para si própri <1 uma única e mesma compreensão e por coloc· los num mesmo tempo vazio que seria o da cronologia 
consequência, validação. Aliás, se existe algo que a contradis- - kpov logos - exterior, por exemplo à tradicional periodização 
tingue, como a toda e qualquer filosofia, são as incompreen- histor ográfica da filosofia em época antiga, medieval, moder-
sões - a epistemologia senghoriana da emoção negra contra na e· c ntemporânea? 
a razão helénica -, equívocos, traduções, interpretações, des- O que justificaria, por exemplo, que se afirme que Dubois, 
cobertas tardias (Amos, Da Postioma). O tempo da filosofia Langs on Hugues, Alain Locke, Blyden são ou não contempo-
e..k.Ya_da_longa duração as...se11s ritmos mui.coJento~-o.paci-~--•---i:âRoo~e-Seng!:'.loi:-, ~b0t1-ss.i;4ewa,Kaman~f>es-et1-]. 
dade da sua linguagem cria obstáculos à compreensão. Casti~fº• pensadores relativamente distantes no espaço e no 
Se tivermos em conta esta dul°ação ou durabilidade tem- temp . 
peral, podemos falar legitimamente de uma filosofia contem- A isto tem que se acrescentar que tais pensadores perten-
porânea ou de uma filosofia que chega tarde? Contemporâneo cem a correntes (elas mesmas diferenciadas) que se ignoram 
quer dizer, segundo uma das acepções dos dicionários, "o que recipr camente, que não se lêem, que não são lidas concomi-
é do tempo do leitor". Ora, em matéria de filosofia, o que pode tante ente, que não se entendem, uma de cunho francófono, 
~' !}-;.'! ; ' 
f- j 
~ : .... • 
significar o tempo do leitor? Isso não pode ser equivalente ao forte ente marcada pela tradição racionalista e outra angló-
presente instante, o mesmo dia, pois não se lê uma obra filo- fona delo pragmatismo, para não falar da filosofia de língua 
sófica c0mo se lê um jornal. É necessário um certo tempo para portuguesa, terceiro excluído, completamente marginal nas 
que uma obra filosófica adquira presença, para ter leitores, e consi e°rações e nos debates continentais. 
~' 
ainda mais para que ela entre no debate filosófico. A isto se O as obras recentes, duas histórias da filosofia africana, 
'· 
~Y.· 
~ .. . 
' 
rem que acrescentar os problemas das traduções, dado que elas uma d Barry Hallen (2002) e outra de Gregorie Biyogo (2006) 
implicam muitas vezes uma interpretação preliminar da obra, teste unham este muro ainda erguido. No primeiro caso, exis-
';1 
,J 
•"'( 
o que os hermeneutas chamam de pré-compreensão e não só, te umr proliferação massiva de autores francófonos, no que 
chega ou demasiado cedo ou demasiada tarde (a famosa coruja diz rel peito à negritude, à etnofilosofia e a seus críticos. Mas, 
de Minerva). Se ela, a obra, é mal lida, não assegura a presença para ur período mais recente, a sua ausência é total. No traba-
\ 
_J 1 . 
1 -
i 
1 18 10 
1 
Severino E. Ngoenha 
lho de Biyogu , os pensadores anglófonos aparec m da mesma 
maneira, num período histórico determinado. Hpje, a filosofia 
africana parece, na opinião do autor, falar simplesrente francês. 
Para fundamentarmos a nossa hipótese, fizemos uma re-
censão critica das principais revistas provenren~es dos meios 
académicos, que constituem um modo de existncia no seio 
da comunidade científica e que deveriam consti uir um lugar 
privi~e~iado de plu:ali~mo, ~~paços colcc(ivos de ~xpressão 
prop1c1os a troca de 1de1as e d1alogos, lugares de tolanzação de 
debates, de elaboração e exposição de linhas de nvestigação e 
de temas propícios à abertura de perspectivas de trabalho e de 
caminhos de reflexão, mas sobretudo, verdadeils indicadores 
da vitalidade de uma disciplina. 
Aliás, as revistas documentam o mesmo ca po que as an-
tologias e as histórias, mas de uma maneira mai directa. Elas 
estão impregnadas das contribuições efectivas a sua produ-
ção, sem que as contradições, os erros, as defi 'ências, as la-
cunas, sejam suprimidas. Por outro lado, visto q e as obras de 
grande dimensão são raras e os livros importarites aparecem 
muitas vezes como recolha de artigos (Hounton1·i, 1977), Wi-
redu (1980, 1996), a publicação em jornal e revi ta evidência-
se como medium privilegiado de expressão filosó fca africana. 
Se percorrermos as principais revistas - Second ~der da Il.e-ife 
na Nigéria', o Gare de Abidjan, Cahier Philosopjque Africaine 
' sob a direção de James Olubi Sodipo. Segundo Mudimbc, csca revf m resremunha de 
uma grande impbmr.tcao ae1dcmit:a da filosofia no mundo anglo-sax nico, cuja linha de 
•· orien1ação seria conforme aos L"l\noncs das universidades inglesas. E \ volra dela, vai se 
consrin1ir um colecrivo de jovens filosofos anglofonos, rraia-se de kwl me Gyel.."Yc, James 
Sodipo, Kwasi Wiredu, Odcra Ornb, nomes que mais t..irdc coma a·se referências n\.I 
t11osotia a frie1 na 
?n 
·- _) 
lntercu!cura. Alternativa à Go~·ernaçâo BiopÓriri~a ~ i 
1 • 
. ~ 1. de Lomumbache; Thoughc and Pactice e Universicas de Nair?be2; 
Philosophical Papers da RSA, Consequence do Benin, Quest da 
Zambia. Le Cahier de Yaounde, La Revu.e Sénégalaise de Plti.l.o-
sophie de Dacar, Abbia de Abjdjan, Uche da Universidade da 
Nigéria, African Philosophical Inquire da Nigéria, Sou Lh Afri~an 
Jornal Philosophy da RSA, Terroirs dos Camarões\ Sylop dos Ca-
marões, Excoresis do Gabão, Le Bullutain du Codersia de Da.car, i 
Presaise Africaine de Paris/Dacar - constatamos, infelizmente, ! 
a predominância da mesma tendência da clivagem, linguístico 
-epistemológico, entre as áreas francófonas e anglófonas. Aliás, } 
esta cisão linguístico-epistemológica poderia nos levar a úma J 
interrogação quanto a pertinência de falarmos de uma filoso- i 
fia africana. { 
De facto, não obstante o número de idiomas africanos e f 
europeus presentes no espaço continental, os principais textos ' 
de filosofia são redigidos nas duas principais línguas implan~ :s 
tadas pela colonização, o inglês e o francês. Muitas considera- : 
ções poderiam ser feitas sobre esta persistência das línguas co-
loniais como veiculares do saber, e sobre o papel que as línguas 
locais têm e podem vír a desempenhar na filosofia. Há porém 
que considerar, que no estado actual, a difusão das língua:; eu-
ropeias é a ún ica alternativa para um d iálogo inter-africano e 
inter-continental. Por isso, não obstante o arbítrio e o passado 
sombrio, que comporta o uso dessas línguas, pode-se conside· 
rar, que a critica do seu uso deve ser atenuado e a sua discussão ' 
reportada. Pois, na ausência de uma língua veicular consen- · 
sual, de uma língua franca africana, a nossa riqueza linguística 
constitui um obstáculo para a circulação de ideias. Em suma, 
: Oirigid~ por Kwasi Wiredu 
1 Dirigida Por Ebou$si·Boulaga 
' . 
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Severino E. Ngoenha lntercultura, Alternativa à Governação Biopolít1ca 
as linguas coloniais sobrepõem-se, mas não se substituem aos O pensamento destes diferentes autores é embebido por · 
espaços linguísticos propícios para o debate, por causa da ex, uma nsão · comum, filosoficamente elaborada no período ' 
tensão da sua difusão num espaço extremamente fraccionado,imedi camente precedente à sua emergência, que con,tinua a 
onde o problema da eleição de uma língua veicular africana ser u 1 a determinação da sua acção até aos nossos di~s. Esta 7 
permanece um problema. rensã particular, nasc:;ida da_e?C}?eriên~ia his~~ric:_a africana da _. 
Contudo, a predominância do francês e do inglês determi, rnode nidad~ 9~fir~-se . 9i:di.D?!'J!l.m~nçe co~o-~m.a. dialéçtica 
na ou tem determinado, de uma certa maneira, a natureza dos eng~.- .ili~.r,?ade - opres.s..~o..Jradição - modernidade, pobreza 
pro blemas aos quais os filósofos , se atacam, como também o -:_ des nvolvimenro. Filosofar para estes autores, consiste em 
gosto filosófico. Estas duas línguas veiculares induzem os seus pensa esta tensão, não necessariamente como um dilema, que 
próprios implícitos culturais, que se reproduzem em parte nos obriga ia cada um a escolher o seu campo, mas inevitavelrnen, 
debates africanos, assim como as tradições filosóficas que o r, te, co o uma questão fundamental. 
dinariamente se distinguem entre anglo-saxónicas e continen, A bertura do campo da filosofia africana contemporânea 
tais, geralmente confinadas nas suas áreas linguísticas, e numa joga-s na confrontação de dois pontos de vista, sobre oposi, 
ignorância reciproca, encontram os_seuS-eCOS-1.::taS-fr-agm~---1---~~. -:K~ &~-éfitaS-e-a-R-tit~iea-s~a-s-o-eampe-nele-mesmo,det-.fi~, ----
ções semântico-ideológicas dos pensadores africanos. De facto, ne,se ~ relação a este prelúdio, como um campo de interac, 
esta diferença linguística marca uma importante divergência ção d duas perspectivas mutuamente determinadas, onde o 
cultural, e mais precisamente gnoseológica, entre dois povos espirit de facção deixa lugar, à perspectivas;<:Íe uma solução 
ex<olonizadores, como entre as nações que eles colonizaram . ...: origin l. Desta maneira, da oposição assertóric&.d@-dts visões 
O que justifica a aproximação de autores relativamente exclus vas, uma centrada sobre a procura de uma es ência in-
distan tes, no tempo, no espaço, nas línguas, nas linguagens, tempo ai da civilização africana, outra sobre um p jecto da 
no gosto filosófico é a aproximação dos temas tratados. Os mode t idade directamente importado do ocidente, a filosofia 
filósofos invocados estão, na maioria, engajados num mesmo tira a uestão do horizonte de sentido, que compreende os 
debate: a questão da Liberdade (Condições de possibilidade dois, ue é uma civilização africana moderna, autenticamente 
para uma vida livre e digna de ser vivida). Com efeito, existe africar a e moderna, aberta ao seu próprio devir global. 
urna cpntinuidade e mesmo uma problemática comum entre l postar assim o problema, deveria ser de natureia a re, 
a necessidade de Dubois em fazer uma radiografia sociológi, lativiz r certas historiografias, temática e temporalmente redu, 
ca da situação do negro em (1903) e, a constatação filosófica cionis s, e deveria alargar o tempo e a génese da filo~o(ia afri-
de Eboussi de diagnosticar a ~d_o .. Muntg, Existe também cana, onsiderá-la menos pela sua cronologia exteriÔr ê mais 
uma comunhão de intenções entre Alain Locke que proclama \ pelos 1broblemas de fundo, o que posso chamar de substratos 
o novo negro, e o Césaire que grita que o Negro está em pé menta ~s culturais ou filosóficos que subentendem todo o pen, 
(1939), ou ainda Thabo Mbekki no seu Renascent África (2004). samenfo e a filosofia africana. 
22 
Severino E. Ngoenha 
Estã~ aqui ex_postos motivos suficiences q\1; j isti~icam que 
eu volte as questoes de 2004, dado que, comó reptei demons-
crar, a temporalidade filosófica não se limita a quescão de datas, 
a~iás, filosoficamente, o que pode significar umal distâncía de 
oito anos, sobretudo quando as questõe·s que se tratam man-
têm, se não ainda mais, a mesma pertinência e ac;rualidade? 
Quanto à mudança da questão, a responder) isto é passa-
gem da questão da relação entre a filosofia e a p , lítica, para a 
da governação, existe uma outra possib1;1dade, ue é talvez a 
de pensar se tal era pertinente há oito anos atrás, hoje ganhou 
actualidade ainda maior, quer na opinião públic , ouso dizer 
.. internacional, pois a questão da governação não · um dilema 
moçambicano, mas tornou-se geral, sobretudo p~a aqueles es-
tados, velhos e novos, que fazem da democracia e da partici-
pação meios privilegiados da convivência civil. u por outra, 
para aquelas sociedades que vêm na democracia a ossibilidade 
de um correctivo ao económico e a d iscrepânci de uma so-
ciedade constituída por cidadãos mais ricos e os mais pobres 
(Rousseau, John Rawls, Habermas, A.Sen, Marth Nussbaum, 
A. Maclntyre, C. Taylor, M.Walzer, M. Sandel, E. Dussel, R. F. 
Bentacourt, Achille Mbembe)i o que constituiria conditio sine 
qu.a non da existência de uma comunidade polític . 
A pertinência de uma tal questão invadiu o· campos do 
saber das ciências humanas, dadas as metamorfos s que se pro-
duziram no campo do político com a subida trit nfal do neo-
liberalismo, o que é de natureza a desestruturar tradicional 
organização dos poderes públicos e a relação so~ial entre os 
cidadãos. Mais ainda, esta metamorfose não tem f ido simples-
mente sinónimo de mudança, sobretudo para o t1elhor, mas 
tem acarrerndo dramas humanos (em termos de rises econó-
micas e políticas), em termos de crise de par~.ci 1 ação dos ci-
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lntercultura, Alternativa à Governação BiopoJifí~~ 
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dadãos na coisa públ ica: mais pobreza para o maior núm<;!.Y<D\ · 
maiores discrepâncias sociais e, por consequência, mais 'v'i·q- · 
lência nas sociedades; sem que os defensore~ e os fautores tjp 
neo-liberalismo pareçam ter correctivos ou alternativas para bs· · • 
desastres humanos e sociais que ele provoca. ,_,_;:_; · j 
O facto que este constitua um problema para o cham'à!Í9 ; 1 
sentido comum e para os filósofos ou os pensadores sodais~ ~ 
chama-nos a atenção para a relação necessária que deveria ei if' ~ 
tir entre o saber e a sociedade. O próprio Hegel defende qJe ·a'· 
filosofia não pode ser questão de uma capela fechada (. .. ). E·n- J 
tão a filosofia, e ouso dizer que o saber em geral, não pode:~er;· ); 
dissociado das preocupações das pessoas, do nosso habitat, :~i{' . 
nossas culturas (nomois), das nossas comunidades (cum munii"tu):" ~ 
Nunca, como neste caso, a posição do G.B.Vico (1993);'-
na sua oposição anti-baconiana e anti-cartesiana (Descartes) · 
foi tão pertinente e relevante. Contra os pais do imanentismJ> í 
metodológico da ciência moderna que advogavam uma 11íti'ch:i.'-
separação entre aquilo que é o pensamento popular e a~ü1> -
lo que é o pensamento académico, Vico interroga-se quafü"ê/ 
à proveniência dos problemas, das preocupações e das idefü( 
que norteiam, alimentam a reflexão científica. Para ele, ahfo'.S:-
das academias, existe o sentido comum e este não é supérflu6 .. 
mas alimenta o pensamento e as preocupações daquelas. A tur . ' 
tura não é a elitista desvinculação do grupo de pertença, típÍtÓ 
do intelectualismo da renascença, mas a consciência da ligàfáP.::.;: 
entre o pensador e o grupo, do intelectual e a sociedade, verda-
de já intuída por Eduardo Taylor nas culturas primiti·1as. , 
Ora se olharmos para as preocupações das pessoas, c'.fa, 
1 
vox populi, em relação à governação em Moçambique, ba"j~á · ·~ i 
conferir alguns estudos sociológicos, económicos, as eri11s'l:.'· • 
sões dos meios de comunicação onde a população inte1v'é·n1;; i 
: :'; ~ ,~n.;. 
Severino E. Ngoenha · lntercultura. Alternativa à Governação Biopolítica 
directamente ê mesmo o debate político, a produção artistica, epocal e paradigmática que se tinha operado, o que segundo 
sobretudo a música e o teatro, para nos darmos conta que a Haber as, foi devido ao facto de a modernidade não ter cum-
visão que as pessoas tem de governo (governação) é sobre ma, prido om as suas promessas, a denúncia da governaç~o ne°' 
neira, não direi negativa mas problemática, e esta desconfiança liberal iniciada por M.Foucault tem ecos cada vez maiores nos 
vai da acusação do roubo, de incompetência, de arrogância, difere tes círculos disciplinares e do saber, enquanto manife5' 
passando por um deficit de comunicação, de diálogo, até à con, ração e uma nova passagem epocal, do liberalismo pofitico e 
fusão entre o público e o privado, à confusão entre partido e econó ico a uma nova fase. · .... 
Estado , à ingerência da comunidade internacional, à depen, \\ M s como denominar essa nova fase? Chamá,la neo...libera, 
ciência económica excessiva em relação aos chamados grandes lismo, egundo liberalismo, nov°'liberalismo? Qual é a sua sig, 
empreendimentos, etc. nifica o? Será um passo em frente em direcção às liberdades, 
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Nos estudos recentes da filosofia política (basta pensar nas ipação dos cidadãos, à democracia, à redistribuição ou 
polémicas norte Américas entre os libertinos e os comunita, retrocesso em relação às conquistas sociais e políti-
ristas) que na realidade começam com os trabalhos de Miche.I povos, tanto do sul como do norte? Qual será o seu 
-.....,.----~F...,.oucault-(.2004)-i:ios.Gll i:sGs pG-r-e-le- mi Ristr-ad0s-Be-Golégi0-de---1---- Aa-tleva seeiecl-acle,-eht-a-ghma1+zC1 ção;-qu e-desabro-ch~----
F rança de 1978 e 1979, esta questão, se bem que tratada de à noss frente? Não será uma ulterior marginalização dos po-
maneira diferente, mais sofisticada, mais teórica parece ir no bres, s bretudo do terceiro mundo, um apartheid económico 
mesmo sentido. Aliás Achille Mbembe fala mesmo de uma global, retorno de políticas de intervencionismo militar e neo-
necrÜ'política. coloni 1? P1 • . 
A visão popular em relação aos governos, quer no Sul quer Sei o reconhecimento de uma mudança epocal é ·quase 
no Norte do mundo, apresenta--se sob o ponto de vista teórico semprf mais consensual, o seu significado resulta problemáti-
como uma nova filosofia nietzschiana da suspeita, desta vez, co, a ponto de dividir os pensadores entre aqueles que a vêem 
exactamente em relação à "governação"; este mesmo termo é como11m fenómeno dramático não só em termos linguísticos 
o usado pela ACAFlL, muitas vezes confundido com governo, mas s bretudo em termos de significação, aqueles que a vêem 
não tanto por razões semânticas, mas sobretudo pelos conteú- como . única via universal e outros ainda como abuso de uma 
dos teórico programáticos que ele subentende e pelas práticas termi~ologia desprovida de conceito preciso, de que ideólo, 
p0líticas (anti-Oemocráticas) e económicas (a ditadura do mer, gos, fafedores de políticas e governantes, pobres de ideias, se 
cado) que advoga e sustenta. servem para dar a impressão de propor alguma coisa de real e 
Todavia, como os debates pós-nietzchianos, caracterizados de co~creto. 
pela oposição entre os modernistas - segundistas, tardios, reac- E1as questões me parecem premissas teóricas indispen-
tivos e os pós modernistas , os pós pós modernistas e os ultra sáveis ara tentarmos entendec as actuais dinâmicas políticas 
modernistas - tinham levado a um consenso sobre a mudança moça bicanas e responder à questão do tipo de governo de 
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26 
Severino E. Ngoenha 
que precisamos. De facto, se não podíamos em nder o Mo-
çambique monopartidário da primeira República fora de uma 
dinâmica histórica ligada à colonização, às me morfoses da 
descolonização e a posição, primeiro, ·luso rrop calista e d1:-
pois, ultramarinista de Portugal, dos corolários do que Eri ~ 
Haussbaun chamou o longo século XIX com o seus nacio-
nalismos, dos quais a ideologia foi um apêndice com ela, as 
nossas guerras. 
Talvez seja também importante entender a vicissitudes 
históricas do liberalismo, as suas transições para oxais e mes-
mo aporéticas, nas quais fomos aglutinados depoi dos acordos 
de Roma, para podermos entender, os paradoxos político-eco-
nómicos, problemáticas de governação, governo, k:le multipar-
tidarismo com déficits democráticos, dl.! cresci ento econó-
mico sem desenvolvimento nem redistribuição, até mesmo 
de ressurgimento de uma democracia de opostos ilitarizados 
com que estamos hoje confrontados. 
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1. Desafio Social da Filosofia Mocambicana ·}~:~ 
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Na celebração dos quinze anos da reintrodução <la fil~~s:; __ 
fia realizada na Cidade da Beira, levantou-se o problema; J:i . 
função social da filosofia. O que é que nos ocupa ou nos d~~e . 
ocupar? Como é que olhamos ou devemos olhar para aqli)JS". 
que são os problemas da sociedade? . :_::_' . 
Até agora, a jovem fílosofia moçambicana, talvez mc~rl'l<~ 
. por ser o terceiro excluído no contexto do continente, 'r:ê~c-
i o mérito de não só alargar o espaço linguístico-gnoscológifg do debate africano, mas também, desvinculou-se das hisr~ti­cas divergências teóricas que sempre opuseram os racional1s~tis 
franceses e os empiristas ingleses, que a filosofia africanà ·_i~-
felizmente herdou, pautou nos seus programas, cursos, reth.-~ 
xões, Eleeaces, teses de licencia~ura c0mo de- me-str-ado\ ob~a:i 
·,.".~ 
' . .. ' 
• Vicenrc Ra11I Lil..-wel..-wc, Luis Cipriano Manuel, Anrónio Xavkr Tomo, Alfrc:do Chafunlla 
. . 
R;llnijo, Srélia Rosa Muianga, Jorge Evaristo M. Choma, Mârio Viegas, Ângelo Nha;Kalê" .. 
Eugénio Aorónio Narciso Corôa, Bernardino Cordeiro Feli.:iano, Zet".:rino Uarrota,1A·ldb 
M11ssossa , António dos Sanros Maborn, Rosa Alfredo Me.:hiço, Mário Nginga Lúis; José 
Jacinco Rombc, Felizardo António Pedro, Azevedo Jadnro Wimesse, António ,'\ll>~r'ro, ;,. 
Mafoia Paulo Mafoia, Inácio Tarcisio, Virginia Sampaio Gingir, Luis Remigio CusrOdio; 
Tiago Tendai Chingorc, Ana Dora Santos Pinro, David Mudzenguerere, Alex~n<i Ç;. Í 
Oliveira, Daniel Vas.:o Nhannimbo, Livino Evarisro Luanda, Moisés Gujamo. " 
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Severino E. Ngoenha lntercultura. Alternativa à Governação Biopolítica 
.. 
1 
e teses - Ergeminio Mucale, B .. izão Mazula, José Castiano, Al, representativo escritor afro-americano, que na busca 
fredo Manhiça, Cipriano Gonçalves, Rufin.o Adriano, Miguel blackness (negrt°tude) descobre a sua twoness, da ·qual a 
Buendia, Miguel Moto, Alberto Ferreira, José Blaunde - por é um dos maiores reveladores. Isto explica a precedên, 
desfronteirizar métodos, ternas, linguagens, tomando-se assim nológica, em relação às discussões nascidas na emofi, 
mais abrangente. Mas ao mesmo tempo, alargou o espaço da sobre o dilema tradicão (africanidade) e modernidade 
investigação historiográfica, quer para -as filosofias de liberta, te) que conrinuam a permear os debates da filosofia 
ção e intercultural sul,americanas - E. Oussel, R. Fomet,Ben, j. africa a. Aliás, o reconhecimento, defesa e valorização das 1 
tacourt - mas sobretudo, para a contribuição do pensamento mesti ,agens étnicas, culturais, rácicas tem constituido teórica e 
literário - Langston Hugues, J. Baldowin, S. Brown, Weldon politi arnente um dos paradigmas fundamentais e inegociáveis 
Jonhson -, sociológico - Ou Bois, Estético - Claude Me kay,, da no sa moçambicanidade. ·· '-
historiográfico, filosófico - ] . locke , afro-americano para a N rn dos mais brilhantes romances - Aventura A~bígua -
emergência de um pensamento literário - negritude que se, da no sa jovem literatura filosófica africana, Cheik H .". Kane, 
gundo T owa é ligada a etnofi losofia-, político - panafricani5' depoi de afirmar que não se pode aprender isto (o novo, o 
mo - e filosófico - não só a francófo e clia,..mas_...........,.,._ __ -1-_ _ _.,,.. m) sem esq11ecer aquilo_(o_.antig..oro-u.ad iGiooal~-t€>-R-----
bém a filosofia política - consciencismo - de Nkrumah. ue o encontro-confronto entre a África e o Ocidente 
Isto significa que se tornou a sério a dimensão diaspqráti- signifi ou que es tes povos apesar de não terem o mesmo passado, i' 
ca da africanidade, como a definiu Eboussi Boulaga. Significa terão n cessariamenteo mesmo futuro. O tempo dos destinos isolados 
que, entre as áfricas cosmogónicas que precederam o encon, está do avante ultrapassado. Eis aqui insitas intuições profundas 
tto-confronto com o ocidente, as áfricas exógenas, resultantes sobre que a sociologia chamará de povoação global e que se 
de uma visão estigmatizante - através da filiação teológica de torno constitutivo quer das realidades sociais quer das lugu, 
Caim, do selvage~stórico da filosofia, do iu.s inventionís do braçõ S. e discussões académicas. 
direito, mas sobretudo, da primitivização da antropologia - A emergente esco la da filosofia moçam~iç~na também se 
que o ocidente se fabricou- sobre o africano, optou pela África ocupo e se ocup_a_.ª?.~. _q~-~St:~~s çI-;\ de~~~~-t!~S:~~ c[a:i~U~g~'!.--: 
endógena, a África da auto-definição de si da parte do sujei, t gen g ·õséôfogÍcamente dominantes (cfr. os trabalhos de Blau, 
to, cuja génese se situa geo-hfstoricamente nas comunidades n af1no), â 'â ... êtnografiã ·nÕsêntido que lhe dá Mudim, 
~sp&ricas. Ora esta ArrTca não só precede e ignora as ã!V"ísões be, da etn°'filosofia na linha de Hounrondji, Towa e Eboussi 
geo-politicas do século XIX e por isso mesmo os posteriores na, (Casei no, Emília Afonso com os saberes locais) dos regimes 
cionalismos, mas ainda mais, ela desconhece todas e quaisquer polític s (Alberto Ferreira e Alfredo Manhiça), das linguagens, 
veleidades etnicistas. da rel ção no global com Habermas e E. Morin (Mazula), do 
Situar a génese do pensamento africano nas diásporas sig- lugar e Moçambique e da África no Mundo (Alberto Vie, 
nifica também tomar a sério o paradoxo de Langston Hugues, gas). re processo atingiu o seu ápice com o lançamento dos 
30 'J1 
Severino E. Ngoenha 
primeiros doutoramentos de filosofia em Moç mbique em 
Outubro de 2013 e em concomitância o lançam nto da l3 re, 
vista de filosofia chamada O Curandeiro. 
A questão levantada na Beira, já precedenre~ente formul, 
da num bom artigo de Gerson G. Machevo5, qu nto ao papel 
da filosofia hoje, altás é a velha pergunta da ACA 1 l.., demons, 
tra a atenção pan:icular dos moçambicanos ao ínt rrogarem--se, 
em primeiro lugar, sobre a sua própria prática e sobre a função 
social da Filosofia. 
Já Rousseau advertia para o perigo que de o filósofos se. 
tornarrem especialistas de discussões barrocas, m volta do 
sexo dos anjos, de serem charlatães a margem a sociedade 
ou, como dizia Hegel, ocupados e preocupados com proble, 
mas de capela, de sistemas ou de correntes. Nã se trata c;le 
sugerir que a filosofia tenha que fazer a economia da sua histó-
ria, e quem diz história da filosofia diz respostas etodológico 
e epistemologicamente específicas a problemas ue eram de 
todos ou pelo menos de muitos, para os quais e ocorreram e 
concorrem a responder também outras esferas • isciplínares. 
O que d istingue, muitas vezes, a filosofia dos o tros saberes 
não são os problemas; a ciência política, a soei logia, a ec0' 
nomía política, tentam também trazer respostas a comum. A 
diferença específica da filosofia, para falar com Aristóteles, 
está na maneira específica co mo ela epistemolo icamente se 
posiciona, que vai da busca das causas últimas, p ssando pelo 
cepticismo metodológico até a sua pretensão de ur iversalidade 
nas respostas, a partir de problemas e preocupaç es particula, 
res e geográfica e temporalmente local izados. 
A questão de Gianni Vattimo sobre "O que a f losofia pode j 
{ fazer da sua história" respira actualidade, trata,se final de fre, 
\ • R~im Si"'=· ""'"""d'J' Ped•gógi", fac,,ld•d< d< Ci!od"' r''"· 2012. 
lntercultura. Alterna11va à Governação B1opoiiiiSa · 
' ' "' .. 
qu~ntar os filósofos do passado como nussos contemporâne~~-, 
a fim de nos imbuirmos da história da disciplina, com as suas 
rupruras e continuidades, do seu espírito , dos seus métodQ?·· 
Contudo, o objectivo inequivoco consiste em participarmos 
num debate contraditório, dentro - em cermos de orientaç~Ó 
de pensamento· - e fora - em termos de µe rspecrivas de an~lisc 
em volta da humanidade do homem, em relação ao sentido. da . 
sua existência, a busca da sua realização e feli cidade - eude~r~!~­
nia - e ao viver juntos. f'.; ~ 
Isto quer dizer que a questão da função social da filos~:f..i~ · 
tem também uma valência metodológica. De facto, a filos(;:fl~: 
em todo o tempo e em todos os lugares, nunca abdicou da\~·u·~ 
funcão crítica. Todavia, falta esclarecer o que é que signifk a. a 
fun~ão crítica da filosofia. Se isso significasse dizer que as e~(~~~ · 
das tem buracos, que Moçambique é pobre, quem é que ·~1~~ 
vê isso? É necessário ir a universidade, frequentar Ariscótdes 
e Platão para ver com olhos verdades a ((la Palisse"? Tam~?~i~ 
não se trata de platon.icamente de nos substiruirmos aos p'êlí, 
ticos, aos analistas sociais ou outras actividades que, como -~~z · 
Hountondji, outros fazem melhor do que nós. Se a <..TÍtÍLa ,não 
é isso o que é então? '•: 
Para além das significações historicamente consolidadás 
nas qua is a crítica é pensada como sinónimo da clássica ttrt<Y 
seologia, vulgarizada pela esquerda hegelian;i. na sua incerp.~~­
tação da dialéctica, a função critica da filosofia pode ser v:isí:,a 
numa perspectiva descontrucionista, no sentido que Jacque-s 
Derrida e todos os fazedores do que os americanos cham~'fn 
a "French Theory" (Lacan, Deleuze, Foucault, Lyotard) dão .. à . 
este termo, não pode, porém concluir,se por um pós mod~r, 
nismo estéril, antropologicamence fragmentário e socialmer'irn 
racialisra ou então por um multiculmralismo globalista, rvs . . 
1 . ~~t~~·~ Severino E. Ngoenha lntercultura. Alternativa à Governação Biopolftica 
-~ ! ~. 
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liberal e anti-democrático. A crítica tem sentido se termina por C ntudo, a critica da linguagem pode ter duas dimensões: 
uma reconstrução, por com uma visão, vamos chamar,lhe fu, incidi sobre a linguagem como instrumento de conhecimen, 
tu rista, mesmo utópica, filosoficamente de insatisfação do pre, to, na ciências, e procurar definir as suas possibilidades e os 
sente e de uma postulação assertórica da necessidade de um seus lirices, e ainda mostrar os erros e as ilusões. FalaVie,ia en, 
correctivo habarmasiano dos valores emancipadores do hu ma, tão d~ uma lingua pura, ideal, cujo modelo se encontraria na 
nismo e modernidade, necessariamente incompatíveis com o lógica na física, a não ser que ela se contentasse em explorar 
que H eidegger chamou a fi losofia da utilidade. o fun ionamento, já em si complexo, da linguagem ordinária . 
Mas, por outro lado, isso não significará nunca que a nossa C 'ri.tudo, a linguagem não serve simplesmente para o co, 
o pinião - d.oxa, seja boa ou melhor que a dos outros, significa nheci ento. É também um instrumento de comunicação s°' 
simplesmente que contribuímos com as nossas análises, com cial, e nesta perspectiva, a crítica da linguagem não incidirá 
as nossas reflexões, e sobretudo com pr0postas para uma ou, sobre linguagem das ciências mas sobre a degradaç~o. da lin, 
tra sociedade ou para o avanço da sociedade. No campo políti, como sinal de perversão das relações humanas; como 
· ·~>' co, por exemplo, quanto mais propostas houver, mais se põe a a de uma relação de dominação e de opressão. Aparece 
_·:._;_' ·_ .... d~i.sposiçã0-dos._que..decidem possibilidades-de-.escolh.as,-v-0mos.---1--- ·entã ema-,-q.ye-foi-mtliro-i+np<*ta.Rt~m-\Liena-ne-pri-ndpie·-----
: i '.'.'.; dizer contraditórias, mas pertinentes. Todavia, propostas dife, do sé ulo XX, a critica da linguagem como Kulturkritik, como 
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rentes significam visões do mundo diferentes - weltenschaung crítica da civilização e da cultura. Em perspectivas diferentes 
- perspectivas de sociedade diferentes, o que academicamente é e mes o contraditórias, Nietzsche, Adorno, a escola de Fran-
susceptível de alimentar o debate de ideias, nunca univoco .mas cofort , Derrida, Foucault, Habermas, praticaram e praticamcontraditório que deve caracterizar a filosofia. esta c itica da linguagem como instrumento de comunicação, 
A filosofia clássica - em três nomes, Descartes, Hume, mas t mbém de dominação social. 
Kant, tinha colocado a questão do conhecimento, isto é, a re- '' C mo se deve conceber a relação entre estes dois tipos de 
lação entre o pensamento e as coisas, no centro das suas pre°' lingua em? Que relação pode existir entre o funcionamento 
cupações. Assistimos com Frege e Nietzsche e também com o da lin uagem na descrição verdadeira do mundo e o seu papel 
americano Pierce, fundador do pragmatismo, a uma viragem - unicação social? \ ~ 
fala'5e de linguistic cum-, que coloca o problema da linguagem, ma das mais seguidas emissões televisivas - Pontos de 
da significação, do sentido, ·no lugar da questão tradicional do Vista , protagonizadas por um debate entre José Moiana e 
conhecimento. A questão da linguagem nunca esteve ausente Tomá Vieira Mário , este último exigia que o então ministro 
na filosofia, de maneira particular na filosofia grega, na genê- dos tr nsportes pedisse publicamente desculpa por ter suposta-
se da filosofia africana com os trabalhos de Kagame, mas ela ment insultado o povo. O que é que esse pobre ministro teria 
coma uma importância particular na filosofia contemporânea. feito u dito? 
34 
Severino E. Ngoenha 
"Eu não sabia que o povo moçambicano soubess escrever cão 
bem, a ponto de ter escrico a carta denunciando as s postas incon-
gruências do projecto pro-savana". 
O ministro, que se referia a uma evenrual i 
. ~9vemos ou ONGs estrangeiras, foi interpretad como ten-
do chamado burro ao povo a quem ia pedir o va o e a quem 
era suposto governar. Podia levantar-se a questã da legitimi-· 
dade de um governante que não acredita na!."in ligência do 
seu próprio povo. Porém, estamos provavelmen e diante de 
um problema de linguagem. Coqio são também u problema 
de linguagem e de comunicação política as posiçõE5 do antigo 
ministro do interior, que ao invés de apaziguar s protestos 
do povo durante as famosas manifestações do u e dois de 
Setembro, arrogantemente, teve frases e atitudes e desafio. O 
mesmo ministro, nas vestes de representante da F EUMO no 
diálogo com a RENAMO, usou, de novo, uma inguagem e 
uma postura de arrogância e de desafio. 
; A questão da incongruência da linguagem e da comuni-
,: cação pode-se também aplicar na anál ise do discu so do presi-
dente Armando Guebuza, quando, em Niassa, te ia dito num 
discurso popular, que a pobreza vem da cabeça. P de supor-se 
que a ideia do presidente não fosse chamar o po o de burro, 
mas afi rmar que as pessoas não podem esperar qu todas asso-
luções dos seus problemas desçam do governo ou da comuni-
dade internacional, mas de um esforço de reflexão na procura 
autónoma e responsável do encaminhamento d s mesmos. 
Este mal entendido lembra o discurso do prcsid nte Samora 
. Machel, na cidade da Beira, durante a viagem do Rovuma ao 
.. Mapuco, que acabou criando uma animosidade ~mas popu-
lações daquela provinda, com consequências, q 
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lntercultura. Alternativa à Governação Biopôffiica 
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influenciaram os conflitos e continuam a influenciar a ge<:>-pó-
lírica eleicoral do país. De facco, uma boa comunicação poiltica 
nunca é neutra há-de ter sempre em vista a compreensão ç, Q 
emendimento dos auditores. Aliás, podem se cosiderar tam-
bém de derrapagens lingusisticas afirmações como moçambi-
canos genuínos ou a carta incendiária do economista Castelo 
Branco contra o presidente da república. 
Se a linguagem não é neutra, também não é indiferente 
questionar-se quanto ao significado dos conceitos, como o de 
governação por exemplo; não é um pedantismo ou subterfúgio 
retórico ou sofista da filosofia, pois eles, os conceitos, escon-
dem e subentendem significados que devem ser profundamen-
te analisados. Mas, por outro lado, não é luxo intelectual ana· 
lisar, considerar e valorizar a linguagem através da qual o povu 
dá razão à sua existência, como aliás as comunicações polickas 
fazem de uma manei~a geral. 
As intervenções do ministro tinham a ver com as reivin-
dicações sociais, sempre mais crescentes no seio da sociedade 
moçambicana. Da grave dos médicos, às manifestações dos 
trabalhadores da Vale, ao descontentamento e às revindic~­
ções em vários sectores da função pública, das cartas escritas eis 
autoridades brasileiras e japonesas em voita da questão do pró 
savana, das manifestações dos Madjermanas, e se quisermos 1r 
a traz das manifestações já famosas de l e 2 de Setembro, p~1r::i 
não falar dos casos dramáticos das discórdias políticas enrre 
a FRELIMO e a RENAMO que já provocaram mortos e cria-
ram no país um clima de tensão, em certos aspectos, análogo 
àquele que se assistiu no início da guerra, cujas conseq 1_1f:ncias 
pagamos humana e socialmente ainda hoje. Ainda bem gue 
a sociedade civil moçambicana parece acordar como Jemons-
tram as manifestações de repúdio a guerra e aos sequestres 
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Severino E. Ngoenha 
o rganizadas nas cidades de Maputo, Beira e Nampula no mês 
de Outubro de 2013. 
lntercultura. Alternativa à Governação Biopolltica 
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cas, a riu o caminho para que os povos, independente_mente 
do seu chamado nível educativo, cultura l, se sentisseIJl sujeitos 
de dir itos. 
Aquilo a que de facto assiS[imos é uma reivindicação de A ossa interrogação não pode prescindir da esfera do direi-
d ireitos. Me parece importante pergumar de onde vêm essas ' to coà ele foi concebido, mesmo se pouco aplicado, pelo pensa-
revindicações. A história moçambicana é a história da não ci- menro moderno, ao mesmo tempo, não se pode ignorar as lutas 
dadania, da falta de direitos e de homens e mulheres sujeitos levad a cabo dentro e fora dos espaços políticos ocidentais. 
a só deveres. Depois da escravatura veio o colonialismo que Es amos então confrontados com aparente paradoxo: de 
Sf' caracterizou por pilhagens e opressões sem se conceder ne- um la o, uma linguagem ignorante do povo que releva da tra-
nhum direito aos moçambicanos. Ora aquilo a que assistimos dição ral, e do outro, revindicações de direito que se inscre-
é a um povo que, para além dos seus deveres, (algúmas vezes PJ{( Q5 vem n ln processo politico moderno. 
não completamente assumidos em termos de responsabilid~/ Po emos colher um sentido filosófico mais profundo nes-
des) exige direitos. C) i iU' fo~ ~ ~ '.S te dile a? A questão não é a da carta ou não carta, que parece 
-r.-..--- 1..:..--- ----:t-T-l;J'oda-a-l:Hstéi:ia-cl-es-p0ves--fui,tl u r.an t:e-séeu les,--c-a-Faeter-1- -' -,11-- - teF-SttS i·tacle-perplexidade-ao-ministro ;-essa-pcrdtcrserdtratl~a~a:-----~ .. ,. zada pela existência de indivíduos sem direitos. Isto é válido qualq er escriba. Mas sim o que se esconde, como possibilida-
para a prática da G récia antiga e a teorização que dela fazem de de onhecimento, por detrás da literalidade, que comum-
filósofos eminentes como "Platão e Aristóteles, mas também mente hamamos tradição oral. 
caracteriza as relações de poder nos tempos ditos modernos, O ue se esconde é o passado de Moçambique e da África 
em que os territórios índios foram literalmente ocupados e os subsarirna em geral, de civilização predominantemente oral. 
homens desprovidos de direitos pela colonização (iu.s inventio· O ra a <l>ralidade foi, durante muito tempo, pensada como um 
nis); os negros foram transportados como escravos sem direitos simpl±edefeíto da literalidade. Mas este ponto de vista graças_, 
(código de Luís XlV), escoceses e irlandeses levados, como se-r- entre tros, aos trabalhos de Vansina e de Goody, evoluiu. E 
vos, para o Canadá, para a Austrália, para os EUA; chineses certo q e permanece legítimo tentar explicar a ausência da cul-
para a construção de caminhos-de-ferro, indianospara o mes- tura esbrita em África através de circunstâncias históricas ou 
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mo fim em África, etc. Ora todos esses povos hoje são sujeitos cultur ·s desfavoráveis, como o contacto dissolvente com a Eu-
ou revindicadores de direitos. Sumariamente se podia falar de ropa, esoterismo do saber nas culturas tradicionais (Diagne, 
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um crescimento em termos cívicos (dos quais a FRELIMO foi 2006 p 25). Mas já não é aceitável considerar que o pensamen-
o artífice principal em Moçambique) ligados ao conhecimento to seja ndiferente do médium através do qual ele se elabora. 
e reivindicação dos próprios direitos. Não se pode porém, falar C mo demonstrou Goody, a lógica da oralidade não é 
de direitos sem falar do projecto moderno, da modernidade um sirrlples decalque da escrita. A oralidade não é uma carên-
sobrttudo política que, apesar das suas contradições intrinse- eia da fscrita, não é uma falta de literatura. Ela é uma forma 
1 
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Sevenoo t Ngoenha 
r~al de civilização que dispõe difcrentemcnrc do campo J1 
filosofar. Mas sobrerudo, ela não forn .. ce o comodii.mo nt'm a 
segurança rranquila, para que a filosofia, mov11ne~m perpetuo 
de crkica e contra-crluca, possa deixa r o~ sl'lls rtacos (l loun 
condji, 1977, p. 132) · 
A posição do filósofo afncano e moçamb1ca11 contempo-
râneo é, em parte, determinada por este facto, da o que ele M" 
encontra sem uma genealogia i:onhecida. Nenh m predcccs 
sor glorioso de ixou rraços escritos para legiumar sua posição 
no seio de um dispositivo do filosofar que se acwaliza numa 
licerarura desde muitos sêculos. 
1 
A herança culrural do filósofo africano é, por tonseguince, 
um problema e não uma espécie de garanua da legicim1dade 
da sua posição, pois ele não traz nenhuma conrribpição d1recta 1 
\ 
:i tradição filosófica escrita na qual, aliás ele se ir screve. Mns 
â cornada em conta desra herança culcural, num' perspecriva 
, filosófica, pode ser compreendida como uma da~ tarefa!> que 
se oferece ao filósofo africano. Com efeico, é po.slvel valorizar 
~ ~-~ rardiameme as civilizações de oralidade, consrr~ ir uma fílo-
'/ . -:{('~ logia das civilizações africanas antigas e acrcsceorar uma di-
(1\\/J'-, mensão dbras civilizações ã hisrória <la filosofia. 1 não pode 
\ r.. <\ constiruir um dominio de invesugação dos filó · fos moçam-
. \ , bicanos e africanos em geral, na pcrspectiva de ma herme· 
~ 
~ nêutica do pensamento tradicional, a parrir do 
~' a reconstrução tivesse como objectivo, uma 1ntc~preração no 
sentido forre, uma forma de compreensão acrual 1do pa~do. 
(\ Alias, rrabalhos hermcn~uticos de filosofia africara por parce 
\ de Oguejiofor/Onah (2005); dt! Screquebcrhan (1994), vão 
neste sentido. 
Filosoficamente, uma cal aproximação da rra~ição me pa· 
rece legitima, na medida cm que cv1ra a sua aprefnsão numa 
\A ~~ -M Q., ( 6$ Ili' JJ-AJ~ 1--4 
iL. ~ >' I r A l.-1;")/\l)J i-, 
lntercullura. Aliernauvn li Governação 810pul1l•<..a " 1 
esp.:,11: J.: 1.hfercnc1ação r,1J1,al, na qual caí ram mult<» pro-
JCCto:, pa.sadistas, e~cncial1srn>, unanirn1>1d5, espontilnens, C(,}-
m11111tnrisrns, com base idcnticâ rt J, cultura llsm ou émica, y1le 
a cnnca filosófica africana aml>u111 ao pro1ccco ernofilos<>f1,o 
As tcnd~nc1as que visam mamer o posrulado essencialt;ca, 4 1c 
procura urna afncan1dadc, uma África po1t<Olonial, pelo r.!-
mrno a uma vida Lrad icional, ao escado puro, foram reunidas 
por muitas <1utort:s sobre a cuqucra de correnres nac1onali~ras 
CWm:Ju, 1980), ou nacionalismo 1deológ11:0 (Bodorine, 1981) 
do pens.1menro africano. •· 
O crabalho accual do filósofo moçambicano e africano nito 
pode consistir, numn simples exegese de um passado, que daJ. 
ce um retorno impossível a qualquer essência da verdade Ma.' 
também não se pode contentar em raciocinar sobre as <1rtic-plá; 
çõcs do pensamento de cal ou tul grande ascendente do pcrifa· 
mcnro ocidenral. Isto não é desprezar os grandes monumenrbs 
histórico~ do pensamento filosófico, mas não se pode ignorar 
o humor nierzchiano, d1anle do incêndio de bibliolecas, t!ue 
abre aos espíritos criadores, novos terrenos a construir. O res-
pclco pelos monumentos do passado não <leve abafar o Pén~· 
sarnento vivemt, mas ao conrrârio, inspmi-lo. Eis porque'(;; 
bmómios, oralidade - escnra, tradição - modernidade são, cm 
definitivo, um dos aspectos sobre os quais a posição do f1lóspfo 
moçambicano e africano pode aparecer na sua originalidnJc:' 
Parn além da forre questào <la narureza da filosofia africa-
na que se dbvenda sobre o terreno da cultura rradic1onal, te· 
mos que voltar à nossa questão, aliãs recorrente, levantada na 
Beira, quanto ao papel da filosofia e dos filósofos na sin1a1.aó 
acrual. Já não se pergunta o que é a füowfia afncana, mas para 
que servem os filósofos moçambicanos e africanos? 
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1 
1 
Sevenno E Ngoenha lntercultura. Alternatrva â Governação Biopolltica 
Pais e tontinence de rodas as caràstroks humanicârias, de ulr:rap1ssagem dos seu; próprios limites e investimentos nos 
todos os fracassos do desenvolvimento, de todas as pilhagens outros campo:; cio saber, encreter um outro tipo de relações 
coloniais e nee><:oloniais, de miséria, de doenças, de guerras teórica:, e prãncas, de maneira a contribuir para uma solução 
endémica.,, de urbanização selvagem, pilhagens de recur:.o~. positi\a de problemas ,·crdade1ros, mas ocultados por 1?5eudo 
corrupções galopames, de go,emações inaptas, de Esrados fra· ·probl mas de mis!IÍÍL.1ção ideológica. ~~·t:o. · 
cassados, breve, a África actual aparece mesmo como o lugar O ue e anportance e precros o objecto da filosofia l!_fri· 
de todos os obscurantismo;. u inverso da 1m•dalha do dest'n· ..9!.lliL o seu canlctl'l' 1 . · :iabado, msravel, e mesmo 
volvime:nLO que O ocidenre 'e dá. Qual é o p:ipel da filosofia e a sua uivocidade. A :.ua própria possibilidade de existência 
dos filósofos na s1ruação anual de Moçamhique e da Áfnca? aparece em pnmeiro lugar como problemática. Ela deve, por 
Diante de s1ruações urgentes, face a uma realidade csrran· conseg ime, redefinir commuameme a sua siruação, fundar a 
guiante, alguns defendem a necessidade de uma filosofia da 1 / sua ev lução, legrtim:l-la e restitui-la.Trata-se de uma filosofia 
acção (Viegas)º ou, nos termos de Gramsc1, uma filosofia da .J,... cm pe igo de morte, que deve viver perigosamente. A ideia de 
Praxis, e anunciam o 'evento de uma hlosolra dotada cle um ~.<f l'll uma fi osofia a r-ic11nn repousa, de certa maneira, sobre uma()~.Jf(.k 
podei: consequente.sobre a realidade social, económ1ca-e-culcu- # t,JI:> aposia que ê a c0Frel~&-cle-mu00&.1,-Qpçio-inver3a do Te~ 
ral, dando-se como missão, ser uma filosofia do poder político ~ )!1• . lruFe:l e <la.multi-culruralismo. --------
(Ngoma Binda, 2004, p.21). 1 Fia procede de um evento cle grande dimensão, CUJO tópi· 
com reservas estes projecms, deve-se cair na evidência de que / . lárros lnmos estao ainda em CUTSO, e sobretudo os efeitos, vão 
Como demonstra Hounwndji (1981 ), deve-se acolher \ \ co _de ~'. c_ensidad~ e sem dúvida ulmpassado, mas cujos coro-
não ê pela filosofia, mas pela pr:ltlca pol itica que se transforma ccrtam nte influenciar ns construções de verdade a vir. A este 
o mundo, e de que esta pr:irrca política nunca se contenta em evento eu chamana de incerculturação eurccaJriraoa 
rea:izar uma filosofia ou um sisrema de pensamcnm, mas pro- A rHoS"ofia africana ê como um lugar propicio para a in· 
cura sempre inscrever nos faccos práacos focados pela vontade, venção de si do su1e1co moderno, na perspectiva de um devir 
rendo em coma as condições materiais exrsrcnrcs, as circuns- / ' planei rio, que se já abriu a ele. Os filósofos africanos ocu· 
caricias, e as conjuoruras (ld. p.59). O filósofo, não tem ue 
1 
pam u campo drsciplinar com limites incertos; traca-sc de 
rocurnr trabalhos que outros fazem ue um cs aço de investigação , cuja pcrtinéncia residenum v:\cuo, 
pode, enquan o, manter a exigência de uma rarefa numn ituação onde rodo o mundo se enconcra hoje; de esrar 
conrinua de cr itica e clarificação ídeológ1ca, assumindo como radica os, de um lado, sobre a modernidade, e a necessidade 
meio$ teóricos, baseados sobre a uadição filosófica existente, de ultr$passa-la (pó~modemidade); de ulcrapassar os próprios 
cumprir esta difícil rnrefa de desmistificação com rigor, e pela funda emos, ao mesmo tempo que se afirmam. Todos somos 
cmdici nais, modernos, mas ao mesmo tempo, jã não somos 
42 1.? 
Severino E. Ngoerha 
moden:i~s. Ora o filósofo africano encontra uma conJ1çii o da 
sua act~v1dade nesta espécie de disjun.,.ao parado,al. 
Existem contudo maneiras de se balançar neye não-lugar. 
Todavia, quesrionar sobre o binó n111 > moderno - tradicional 
significa também e ao mesmo tempo, quei.uon*r-se sohre 0 
b inómio modernidade - poH-modem idade, isto f• da dissolu-
ção dos pressupostos mesmo da modernidade (ajeparaçào do 
políuco e do económico). Por isso ê necessário q e o binómio 
de reflexão não se cinja àquilo que lhe deu nasç menco e aos 
eco~ que se faz a partir da emofiloso(ia, com o ri· co de repro-
duzu debates e realidades passadas e por conse uência ficar 
sempre aquêm da realidade acruaJ das sociedades povos. Esta 
perspectiva pode, com pertinência, ser abordad pela via da 
interrogação da significação d o concciro de gov~mação quer 
na wx popo!i, quer cambém nos cír culos culturai africanos e 
mundiais. Se existe hoje uma clarificação ideológi a a fazer, ela 
está necessariamente ligada à questão do ulrra lib~ralismo, que 
o conceiro de governação subenccnde. " .-.-
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2. O que é a Governacão 
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S • J~!· enhores da ACAflL. o que então a governação? O l.tué 
é que este termo compreende e qual é a sua signific:açãql''A 
rradução prática da sua posição teórica, será capaz de c&ef 
aquele bom funcionamento que os senhores parecem alme'Jâlf 
Qual é a relação que existe entre a governação e a politlca 'l)q 
scnàdo pleno? É o novo vesrido da pollcica ou inversameÓÇt 
uma apoHtica disfarçada? Será que ele oferece um novo insiru-
menco ao serviço do governo (dos governos), ou então ele cst)i' 
ao serviço de inceresses particulares? •1'• 
~ 
Fala-se constantemente de uma governação democrática, 
ignorando que o casamento entre esras duas noções é problC.. 
má rica. Trata-se por isso de ver se a governação pode se tornar 
democrática e em que condições. Trata-se de ver, por OIJt~Ó 
lado, se a governação seria uma maneira de coorJtnac, um 
instrumento maleável e adaptável ao funcionamento da de-
mocracia ou, ao conrrário, um instrumento totalitário. Aliás, 
a configuração institucional que melhor se lhe adequaria se' 
siruaria provavelmente entre os dois e seria um regime autor~· 
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Sevenno E. Ngoenna 
tário, praticando um pluralismo controlado e uma corporação 
orgânica. 
A relação entre a governação e a politica é pelo menos am-
bígua. Fundada sobre 1.1111;1 lógica apolltica - serà que ele pode 
se inscrever leg1t1mamcnte na politica? Tornar-se demo-com· 
pativel e conforrar o regime de reprcsenranvidade, atenuando 
certas fraquezas desce úlri rno? Ou ao conL-rário, a sua ascen· 
são prefieura uma nova historicidade do polinco, através do 
evento de uma sociedade pu'>t-polit1ca um regime sem demos 
(povo) substituindo-se a democracia representativa! 
A sua inscrição na realidade da ~egunda rupótese signifi-
caria a dominação da racionalidade insrrumenral do mercado 
e a derrota da rnzão polirica. Em Moçambique desde os acor-
do.s_de.p.a.Úo..que em outras panes dO-Jnundo.cinha come91do 
ance.-;), a lógici do mercado ganhou progressivamente terreno 
em detrimento da lógica emancipndora que tinha caracteriza-
do a luta do pai~ até emão, e mesmo a d!'mocracia que emer· 
giu nos acordos de paz, na realidade fo1 fagocitada pela lógica 
do mercado. 
Convêm recordar, que não s~o as relações de mercado e da 
governação tecnocrática que produzem sentido e legmmidade 
dos quais a sociedade e os indivíduos tem necessiuade, mas a 
poliuca, que se consrirui como uma relação no espaço que há 
entre os homens, segundo a definição de f lannan Arendt. 
Desde os a nos oitcnra, a governação, ao que o BM chamou 
a Good Gouuemanct, goza de uma reputação Aorcscence. Ela 
aproveitou do desencanto crescente em relação a política, ao 
governo tradic ional e a democracia representativa. De facto, os 
governos decepc1onam porque parece que deixam de ter mão 
sobre a realidade, sobre os desafios e os problemas das pessoas. 
Para nos limitarmos só a África, basta pcnsnr no regime de 
46 
ln1ercul1ura. A11ernauva â Governação 81opolltica 
Muscv~ne na Uganda, de Mugabe no Zimbabwe, de Eduardo 
dos S~to> em Angola, e mesmo do ANC que, no fundo, não 
consc iu evitar que o apanhL1d político fosse substituldo por 
um a rthe1d económico. Mas os govc1 nos decepcionam por· 
que os ovcrnanres parecem mais preocupados com as suas pe· 
qucnas !X'"oas e íamihas, com as pequenas elites e em confiar 
ou su~ltcrnar-sc aos grandes capitais internacionais do que 
em governar efccnvamente. 
Jâ o ul rimo Machel, dizendo que o c>ta<lo 11ao podia fazer 
tudo, dma uma grande verdade. Mas por detrás desta verdade, 
emergia um descrédito em relação às políticas e às capacidades 
do i;overno, o que abria as ponas para aquilo que Foucauk 
chnmol1 de biopoliuca. Esta consiste na génese do fim da se· 
-ParaçãÓ entre a-esfera poliúc:a e-a-económica, os-aoorde&-Ge 
PARP t entrada no BM conduzem não ~ó ao fim da separação, 
mas so ire tudo à hcgemonaa do económico. 
c11(~sano não foi só o pai do cabri1ismo, mas foi também, 
o fautor principal de uma pohtica de cunho neo-liberal (tudo 
se podÍ comprar), 1:1 cm curso nos anos novenrn com o conse· 
quente enfraquecimento, gradual mas acenruado, do Estado, 
e de consequência, da política e da democracia. 
O tres1dence Oucbuza hinçou-se num voluntarismo, (lura 
cont-ra pobreza absoluta) com promessas que não pôde man· 
ter e n ma política ambigua, de um lado viagens frequentes 
aherta~ para auscultar as populações e do outro, imposição 
atravésldos grandes projcccos das pollricas nec>·liberais. 
Contudo a crise geral que apareceu em 2008 evidenciou 
al.~uns le.le~entos pr~blemãticos da governação, que as opi· 
naocs ~ubhcas não nnham percebido até encão. Tornou-se 
evidente que os extcSl>OS do sistema financeiro globalizado, 
que esrva na origem da crise, foram poss ive1s porque este 
47 
Severino E. Ngoenha 
está supervis ionado, com a cumplicidade dos gov nantes, por 
grupos de interesses que são, ao mesmo tempo, jogadores e 
árbitros. Davos7 mrnou-se o protótipo desta governação, onde 
indivíd uos sem nenhuma legitimidade democrátiÇa se encon-
tram anualmente para rraçar as estratégias da econdmia mundo. 
Num tal contexto, a retirada do politico cri~u nos cida-
dãos a impressão de viverem numa era pós-po li ica; onde a 
governação é elogiada pelos seus defensores com a inovação 
. institucional mais adequada de sociedades dife enciadas, e 
, . que a permite gerir com maior eficácia as quest es públicas. 
Em contrapartida, os seus detractores acusam-na de ser uma 
modalidade tecnocrática e privatizada, ao serviço e uma socie-
dade de mercado e não da democracia e da cida ania. Deste 
ponto de vista, a sua aplicação a questões pertenc tes ao po lí-
tico careceria de toda e qualquer legitimidade. 
Governação é um termo antigo, caído em de uso, mas re-
cuperado no século XX no mundo das empresas o qual gra-
dualmente invadiu os discursos e as práticas das rganizações 
internacionais e dos responsáveis políticos, e alé mesmo a 
linguagem dos meios de comunicação socia l. Ele é percebido 
como símbo lo da eficácia política e institucional, quer ~o lo-
cal quer no global,nas empresas como nos goveros. Se este 
conceiro, porém, é razoável e compreensível qua do se aplica 
ao 'mundo privado e das empresas, ele cria dever s confusão, 
quando apl icado a questões públicas, à política e o governo. 
Pode-se governar uma nação ou um estado com se governa 
uma empresa? O objectivo de uma empresa é a r ntabilidade, 
mas o que define um Estado é o bem-estar dos 'se s cidadãos. 
1 Estaç~o de Inverno suiça onde desde algumas decad~s onde se encon rm os principais 
fazedores da tlnança internacional 
lntercultura. Alternativa à Governação Biopolitr~a 
Para atingir este objectivo, o Estado tem, muitas vezes, de rttali-
zar acções que à economia poderiam parecer desperdício. ~ar::i. · 
o Estado moçambicano celebrar o três de Fevereiro, o sete d~ 
Abril, o vinte cinco de Junho, o sete e o vinte e cinco de Se-
tembro, para mencio nar alguns, tem um significado simbófi-.:0 
importante, na medida em que são momentos de reflexão e. cie. 
congregacão em volta de factos inolvidáveis da nossa hi.stó;i~. 
É uma e~pécie de renovação do nosso contracto social e)~~: 
afirmação da nossa cidadania comum. r :y 
Ora para algumas empresas essas datas ou outras ~(tÍ1~~, 
lhantes são inúteis, são desperdício, são dinheiro deitado ff:iiif.: 
assim como são um esbanjamento e desperdício a organiza~~p" 
de eleições-manifestação da cidadania por excelência-, com ·~0' 
dos os custos que isso acarreta. Também pode ser vista com~· 
desperdício de tempo e dinheiro, a construcão de escolas ·pú~ ' . ,, ; ~ 
blicas e infra-estruturas hospitalares em zonas economicame~~ 
te não rentáveis. Aliás, uma das críticas que tem sido feira ~os 
sete milhões é que eles são desperdício, sem que ninguém se. 
interrogue quanto ao acto político que ele encerra e à dím.ê~-. 
são de participação e de cidadania que ele pode proporciorià=r~ 
Aliás, governação tornou-se um leirmotiv, um musr, nas esn:até~· 
gias de desenvolvimento e de ajuda pública fornecida pelos pa·í~s: 
ricos e pelas organizações internacionais. Como se vê, goveri\~::. 
ção tornou-se o termo favorito dos discursos hegemónicos e t~m· 
como obje'ctivo persuadir os cidadãos que eles têm que viver n'ú~ 
mundo caracterizado pelas relações de mercado. ' "·: · 
Contudo, os principais factores susceptíve is de explicar 'a 
subida em flecha da governação no espaço público, é nece~s?:·· 
rio ir procurá-los nas mudanças profundas, que se operar:im,, 
nas úlrimas três décadas, nas relações entre a política e a ec0~\9.;· . 
mia; o que afectou profundamente os estados e as sociedade}i::.;. 
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Severino E. Ngoenha 
Isto é, trata-se de tensões que caracterizam o mundo actual 
entre as lógicas do mercado e as lógicas democráticas, bens 
públicos e bens de mercado, intere$S~s públicos e interesses 
privados, eficácia económica e coesão social ou globalização 
económico-financeira e circunscrição nacional do polirico. 
É necessário, antes de mais, fazer uma clarificação termi-
nológica. As questões como estado, soberania, democracia, 
sociedade civil, mercado, neoliberalismo, globalização são rra-
tadas como ideal tipo. É claro que não vamos ter em conta todas 
· l . 
Segunda Parte 
Os Paradoxos do Liberalismo 
as complexidades e diferenciações empiricas que as caracteri-
zam no tempo e no espaço. Duas destas categorias precisam 
de ser precisadas: a primeira designa um processo do nosso 
tempo chamado mundialização ou globalização. Há que esta-
_--~-~'_.:~"""l:~--'b~e=l=e=ce=r~u~m~a~disri nrãa....s_emântica earre estes dois conceitos n, __ _jl------1---------- ------------------rs ~ ,--
Jt.. · 1· que faremos mais tarde com base nos trabalhos de O. Marra-
f'J ~-: ·.··. mao(2003), vem a seguir o Neoliberalismo. 
ri 1'.'h:· A priori a globalização significa os processos de disterrito-
IW ·':~ :' rialização, de eliminação das fronteiras nacionais para os flu-"i~~:,~ xos financeiros e da contracção dos espaços, devido às novas 
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tecnologias de informação e aos meios de transportes cada vez 
mais rápidos. 
O outro termo é o do neo-liberalismo, termo polémico, 
defendido e utilizado por uns, mas que provoca irritação em 
outros, que o consideram muito vago que propõem em sua 
substituição "segundo liberalismo". 
Face a este conflito de linguagem, nós vamos começar por 
adoptar o termo segundo liberalismo. Contudo, de chofre, este 
suscita um problema de definição histórico-filosófica. Se fala-
mos de um segundo liberal ismo, isso supõe que existe antes 
um primeiro. Então a questão que se nos levanta, é o que é o 
liberalismo . 
50 
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~ .. . 
Ocorre em primeiro lugar distinguir liberalismo económi-
co de liberalismo político. Isto é importante porque os dois 
liberalismos gozam actualmente de reputações diferentes e 
mesmo contrastantes. 
De facto, as diatribes actuais da economia de mercado de 
certa maneira imputáveis ao liberalismo, fazem com que o e~­
pectro de Marx volte a pairar nos imaginários colectivos. Ao 
inverso, a fukuyamiana vitória final do liberalismo político, 
com os seus diros postulados de emancipação para "rodes" µa-
rece não ter fronteiras nos imaginários. Mas a questão é quem 
e quantos são para a filosofia liberal esses "todos"? Quantos 
alguns (negros, índios, latinos, chineses, europeus pobres) não 
contam no somatório liberal do todos? Se tirarmos todos esses 
alguns no somatório que dá o todos, quantos alguns ficom 
para fazer o todos liberal? 
Liberalismo é um dos conceii:os mais ambíguos do ltxico 
jurispolítico; parece até mesmo impossível encontrar algo de cq-
mum entre os autores, ideias ou movimentos etiquetados com 
este nome. Autores como Hegel e Bentham, por exemplo, não 
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Severino E. Ngoenha lntercultura, Alternativa à Governação Biopolítica 
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se podem classificar de liberais sem nenhuma outra precisão. pode do Estado fortifica-se e torna-se mesmo monopolizador. 
Conrudo, podem se indicar seme!hanças de família entre as É nes e novo contexto que se começa a vê-lo como um possível 
suas posições e a posição de autores paradigmaticamente li- inimi o da liberdade e a imaginar redimens ioná-lo, como fará 
berais, como W.von Humboldt, B. Constant, ou John Sruart o libe alismo, ou mesmo abatê-lo, como tentarão o anarquis-
MilL É verdade que não se pode falar de liberalismo em qual- mo e comunismo. 
·~ quer discurso jurispolitico formulado em termos de liberda- e ntudo, o liberalismo não se pode compreender, aliás 
~1 de - que um autor invoque a liberdade é talvez a cond L_·c.ão talvez não tivesse mesmo nascido, sem a vitória do republica-. j " necessária mas não suficiente para etiquetá-lo de liberal; mas nism em três revoluções paradigmáticas, a holandesa, a ingle-
~ também não se pode reservar este denominativo só para os sa e a mericana, e com elas, novos problemas, contradições e 
if protagonisr.as ou se qu isermos, os liberais conscientes do século paradoxos. 
1 XlX, pois isto excluiria, ipsus factum, os pais históricos do libe- D is aspectos merecem uma menção especial. Primeiro, o 1 .1> ralisrno como J. Locke, Montesquieu e Adam Smith. parad • xo e a contradição que se verificam entre, de um lado, os 
- ... · Por razões de rigor histórico, podem distinguir-se as con- princi ios teóricos de urna doutrina filosófica que se constitui 
_;:~~~l _:::...;L:.?·..'._1·_...::c:.:::e!:'..pc:r.:.õ~e::::s:.._r~i2go~r~o:'..:::s~a..:..:m:.:.:e::.!n.!.!t~e~l~ib~e::.!r.!!a.!::is:....:d~a~s~q::t.u=e....:::d:..::e~s~ig>.!.n~a~r~ia~rn!.!Co~s~d_,,.e-1P-~é'------t---.u.e.._; ptindpiG-da-Lib(}roaee,de-eut:r-e,a-----
;i ,·: liberais como as de Locke e de .Montesquieu. Para ser breve, histór a sóciopolítica do liberalismo que representa o principal 
''"!' .~ : a concepção liberal da liberdade tem a ver com a segurança vector de opressão de todo o período dito moderno. Segundo, 
·- :.. garantida pelas leis, não contra

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