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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DISCIPLINA: HERMENÊUTICA FILOSÓFICA PROFESSOR: TATIANE BOECHAT ALUNO: ACSON ARAUJO MUNDANIDADE DO MUNDO HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução de Marcia Sá Cavalcante. 9. Ed.–Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco. Martin Heidegger nos conduz a pensar o mundo sob um novo olhar, retirando o conceito do âmbito de ente, na obra Ser e Tempo (1927). Escrever sob a ótica Heideggeriana é retomar a questão da filosofia clássica sobre o ser, pois o que toca a mundanidade é o caminho investigativo sobre o ser dos entes. Para tratar a questão do mundo, é necessário investigá-lo na perspectiva ontológica, na qual é preciso trazer à luz o fenômeno do mundo, ou seja, a mundanidade do mundo. Dasein é uma expressão alemã que significa Ser-aí. Para Heidegger o ser tem natureza própria, é ontológico e qualquer tentativa de explicação o reduz a um ente. O ente é aquilo que se explica que conceitua, que limita. O ente significa coisa. Uma grande questão que envolve o estudo do ser surgiu primeiramente na filosofia clássica, sendo justamente a necessidade de explicar o ser humano, através da pergunta: “O que é o ser humano?” (Ente) Heidegger um filósofo moderno, lúcido e dedicado no assunto, notou que a pergunta faria ser feita da seguinte maneira: “Como é ser humano?” (Dasein/ser-ai) Analisando os dois questionamentos; O primeiro é possível ser respondido considerando o ser humano um ser vivo, capaz de usar razão, capaz da formação de conceitos e de entender as diferenças entre as coisas, além de suas características biológicas. Já o segundo até pode ser respondido, no entanto, ele não se finda, pois estamos em constante experiência, em movimento, eterno devir, seguindo Heráclito nesta perspectiva. O grande problema é que a pergunta clássica é possível explicar e findar com uma resposta, diferentemente do questionamento moderno de Heidegger. Pois, o Dasein (ser-aí) está ligado a dialética, a partir do momento que se é lançado no mundo, estamos em constante diálogo com o mundo. Portanto, a pergunta sob a ótica de Heidegger, não se finda, pois só se finda com a morte. A experiência Humana é inexplicável, porque qualquer tentativa de explicar o Ser o reduz a um Ente. Acerca de uma colocação propriamente ontológica da questão sobre o sentido do ser, a mundanidade do mundo surge, enquanto uma problemática, na medida em que descartando suas possíveis definições como: natureza, totalidade exterior, planeta, e reconhecendo seu sentido subjetivo, já que cada Dasein(ser-ai) possui um mundo, deve-se achar um conteúdo característico que defina o fenômeno de mundo presente em cada Dasein (ser-ai). Isto é, o caráter essencial do fenômeno de mundo em geral, a mundanidade do mundo. Tendo por escopo o conceito de mundo tratado em Ser e Tempo na ótica existencial do Dasein(ser-ai), destaca-se a notável diferença com a noção de mundo habitual de qualquer espécie. Ao mesmo tempo, a mundanidade do mundo se relaciona e se baseia na cotidianidade, situação na qual se concebe as noções habituais ou cotidianas de mundo e da vida. O que Heidegger chama atenção é que a mundanidade do mundo se vê anterior a qualquer noção concebida de mundo. Pode-se concluir que a problemática da mundanidade do mundo estabelecida por Heidegger na analítica existencial do Dasein (ser-ai) busca pela essência definidora de mundo em geral. O caráter provocativo do questionamento pelo tomado evidente ao longo da história da filosofia torna a investigação heideggeriana singular e originária. Tratar da mundanidade do mundo como um problema, reside no esquecimento da verdadeira condição de mundo promovido pela tradição, um saltar por cima do fenômeno do mundo, o fechar dos olhos para o que há de mais fundamental naquele ente que existe, a saber, a sua relação significativa com o mundo. Por isso, Heidegger precisou lançar mão da investigação de mundo, trazendo a analítica existencial para o núcleo desta trajetória, pois é o Dasein (ser-aí) que mundaniza o mundo. É na relação com o seu ser e com os ser dos outros entes que a mundanização se dá, tendo como horizonte a compreensão e a significação em uma infinidade de possibilidades relacionais. Esse relacionar-se não é teórico, não é uma ação descritiva, como se fosse um sujeito frente a um objeto, no qual deseja conhecer e dominar. Esta relação é anterior a qualquer conceito pelo fato de ser ela mesma um modo de estar no mundo, mundo, este, que o Dasein (ser-aí) habita existencialmente. O Dasein (ser-aí) é essencialmente na ocupação, pois ao ser lançado no mundo se depara primeiramente e constantemente com entes à mão, aos quais se referem a um mundo. O mundo é do Dasein (ser-aí). Assim, “a significância é o que constitui a estrutura de mundo” (P. 138). Mas do que essa estrutura é formada? Do todo das remissões que compõem os modos relacionais. Primeiro, temos a situação ocupacional, na qual o Dasein (ser-aí) lida com os entes que vem ao encontro. Segundo, temos a rede referencial que trata do conjunto instrumental, no qual o instrumento está sempre em referência a outros instrumentos. Por último, a totalidade remissiva que acopla todos esses modos relacionais. Compor a mundanidade do mundo é tocar a significância. “Chamamos de significância o todo das remissões dessa ação de significar.” (P. 138). A ação de significar atravessa o todo das relações remissivas, desde o operar com os instrumentos à interpretação de sinais. Neste sentido, temos a articulação do todo relacional. Heidegger afirma que a Significância é a perspectiva em virtude da qual o mundo se abre como tal. Dizer que o em virtude de e a significância se abrem no Dasein significa dizer que o Dasein é um ente em que, como ser-no-mundo, está em jogo seu próprio ser. (P. 203). A significância constitui a estrutura do mundo, por anteceder ontologicamente à ação ôntica. Heidegger diz: Em sua familiaridade com a significância, o Dasein (ser-aí) é a condição ôntica de possibilidade para se poder descobrir os entes que no mundo vêm ao encontro no modo de ser da conjuntura (manualidade) e que podem anunciar em seu em-si. (P. 138). A conjuntura, ou totalidade conjuntural, é apresentada como elemento de caráter ontológico às diversas possibilidades de ação entre os modos de ser no mundo, representando o estar e o em conjunto. Segundo Heidegger (P. 134), o caráter ontológico dos entes manuais é a conjuntura, onde é visualizado o deixar e fazer-se. A totalidade conjuntural diz respeito ao todo dos entes manuais, dentro de um contexto fático de ocupações. A totalidade conjuntural representa a apreensão fenomenológica de mundo, ao passo, que, garante a articulação dos entes intramundanos, instância na qual o Dasein (ser-aí) se move em uma rede de significância. Heidegger diz que: Conjuntura é o ser dos entes intramundanos em que cada um deles já, desde sempre, liberou-se. Junto com ele, enquanto ente, sempre se dá uma conjuntura. Dar uma conjuntura constitui a determinação ontológica do ser deste ente e não uma afirmação ôntica que sobre ele se possa fazer." (P. 134). No § 16 de Ser e Tempo, Heidegger intitula da seguinte maneira: “a determinação mundana do mundo circundante que se anuncia no ente intramundano”, indicando que há um caráter mundano do mundo e os modos de anúncios daqueles que pertencem a ele. Mundanidade do mundo é o todo da significância. Assim, mundo jamais poderia ser concebido como um ente qualquer. Partindo deste pensamento, Heidegger, junto a sua analítica existencial, pensa no mundo como a morada desse ente e para elucidar sua teoria, ele traz à luz a mundanidade do mundo, estrutura ontológica do acontecer dos entes. “Mundanidade é um conceito ontológico e significa a estrutura de um momento constitutivo de ser-no-mundo. Este, nós o conhecemos como determinação existencial do Dasein (ser-aí).Assim, a mundanidade já é em si mesma um existencial.” (P. 111). Com isso, a mundanidade do mundo é característica fundamental para o existir do Dasein. A abertura do Dasein (ser-aí) é a determinação ontológica-existencial que estrutura o ser em um mundo, é a abertura que possibilita o mundo se mostrar enquanto existencial do próprio Dasein (ser-aí). Enquanto ente existente, Dasein (ser-aí) é mundo e sua abertura representa o ser-em, em um mundo. Posto isto, o Dasein (ser-aí) é em virtude de mundo, o que mostra quem ele é, pois, é no compreender que o em virtude de atua em conjunto com a significância. Esta atuação diz respeito ao ser-no-mundo no seu modo mais originário. Logo, a significância é o âmbito onde mundo se abre na perspectiva do Dasein (ser-aí), o que representa o jogo deste ente com o seu próprio ser, tal como afirma Heidegger (2014, p. 203). “Sendo assim, a abertura como compreensão junto à significância é característica fundamental do existir do Dasein.” A conjuntura, ou totalidade conjuntural, é apresentada como elemento de caráter ontológico às diversas possibilidades de ação entre os modos de ser no mundo, representando o estar e o em conjunto. A totalidade conjuntural diz respeito ao todo dos entes manuais, dentro de um contexto fático de ocupações. Heidegger diz que: Conjuntura é o ser dos entes intramundanos em que cada um deles já, desde sempre, liberou-se. Junto com ele, enquanto ente, sempre se dá uma conjuntura. Dar uma conjuntura constitui a determinação ontológica do ser deste ente e não uma afirmação ôntica que sobre ele se possa fazer." (P.134). Heidegger afirma que os entes intramundanos só são descobertos, porque mundo já se deu. Esse acontecer prévio de mundo é possível graças a compreensão de Dasein (ser- aí) em relação ao mundo, que se abre em significações ao ente, (P.121). Deste modo, mundo não é a soma de entes, o Dasein (ser-aí) mundaniza mundo, o que nos faz perceber a mundanidade do mundo. Isso ocorre no instante em que os intramundanos são descobertos, o horizonte de possibilidades se abre ao mundo, uma vez que, a abertura do Dasein(ser-aí) é a própria descoberta do mundo e consequentemente dos entes intramundanos. O mundo não deve ser entendido como um ente qualquer, ou como nomeou Descartes, como extensão substancial, pois, na perspectiva heideggeriana, ao qual nos propomos analisar, mundo é um acontecimento unitário, entre dois entes, Dasein (ser-aí) e mundo. Para tanto, foi preciso expor o problema da mundanidade do mundo que, apesar de atribuirmos o predicativo problema, não se trata de algo com peso negativo, mas uma questão a ser analisada originalmente a partir da analítica existencial do Dasein (ser-aí). Para o filosófo, mundanidade é um conceito existencial-ontológico, que rompe com as atribuições modernas de mundo como substância ou representação. O mundo não acontece de forma objetiva e representacional como uma imagem, ele se dá no acontecer das relações: Dasein (ser-aí), mundo e entes intramundanos. A mundanidade se funde na ação do mostrar-se de mundo na perspectiva do Dasein (ser-aí), sendo apreendida desde o que é familiar, ou seja, a partir do mundo circundante, estas apreensões acontecem nas ocupações cotidianas, que se caracterizam na lida com os entes intramundanos.
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