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A EVASÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: DO ENTENDIMENTO DA PROBLEMÁTICA A PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO A U T O R A : M A R I V Â N I A D A S I L V A F E I T O S A O R I E N T A D O R A : C R I S T I A N E A Y A L A D E O L I V E I R A AGOSTO 2020 Cristiane Ayala de Oliveira possui graduação em Tecnologia em Agropecuária: Sistemas de Produção pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS (2007), foi bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul - FAPERGS no projeto "Diagnóstico Sócio- Econômico-Ambiental da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul (2005-2007). Possui outra graduação em Tecnologia em Agroindústria, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - IF Farroupilha (2009). Possui Formação pedagógica através do Programa Especial de Formação de Professores (PEG) pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM- 2010). É Especialista em Processamento e Controle de Qualidade de Carne Leite e Ovos pela Universidade Federal de Lavras - UFLA/MG (2009) e Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM (2011). Foi bolsista de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (2010-2011). Possui Doutorado (2015) através do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Lavras - UFLA na linha de pesquisa de Carnes e Derivados, onde foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - período de Março de 2011 à Setembro de 2012). Desde setembro de 2012, é professora do quadro efetivo do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sertão Pernambucano - IF Sertão-PE - Campus Salgueiro, ministrando aulas para o Curso Superior de Tecnologia em Alimentos. Tem experiência na área de Agronomia,Ciência e Tecnologia de Alimentos, Química dos Alimentos, Processamento e Controle de Qualidade de produtos de Origem Animal e Vegetal. Foi coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Alimentos do IF Sertão- PE - Campus Salgueiro nos biênios 2015-2016 e 2017-2018. Desde agosto de 2018, é Coordenadora de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação do IF Sertão Pernambucano - Campus Salgueiro. É também docente do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica - ProfEPT, no Campus que é lotada. Marivânia da Silva Feitosa é natural da cidade de Paulo Afonso - BA, fez graduação em Letras e especialização em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa na UNIRIOS - Centro Universitário do Rio São Franscisco, também na cidade de Paulo Afonso. Atualmente, é mestra em Educação Profissional e Tecnológica pelo ProfEPT - Programa de pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica, no IF Sertão - PE,Campus Salgueiro. Na parte profissional, é servidora pública da UFAL - Universidade Federal de Alagoas, Campus Sertão, Delmiro Gouveia - AL, onde é lotada na COGRAD - Coordenadoria de Graduação. AUTORAS APRESENTAÇÃO O referido e-book foi fruto da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica, realizado no IF Sertão - Campus Salgueiro,intitulada "Evasão Escolar na Educação Profissional Científica e Tecnológica: reflexões e possibilidades de enfrentamento". Este material objetiva ser uma fonte de pesquisa para estudantes de graduação, pós-graduação, professores da EPT e demais profissionais do setor educacional interessados em conhecer sobre a história da Educação Profissional, ensino médio integrado e, principalmente, sobre o problema da evasão que é tão presente na realidade brasileira. Além da reflexão em torno da evasão, apresentamos algumas sugestões que podem ser adotadas para prevenir e colaborar para a diminuição dos índices relativos a esta problemática, principalmente, no âmbito dos IFECTs - Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Assim, no que concerne à estrutura deste e-book, o mesmo foi dividido em quatro capítulos, a saber: o primeiro contempla um breve histórico da educação profissional, no segundo, apresentamos as discussões acerca do Ensino Médio Integrado, destacando a importância deste para uma formação mais ampla do indivíduo, em que os pressupostos da politecnia podem ser vislumbrados, no terceiro, debruçamos nas reflexões sobre evasão, procurando conceituá-la e entender as causas e consequências deste fenômeno multifacetado, no quarto, revelamos algumas estratégias colaborativas para prevenir e enfrentar este percalço que é comumente encontrado na educação. No prosseguimento, apresentamos as considerações finais e referências bibliográficas. Neste livro digital, o leitor ainda pode desfrutar de um "mergulho" a mais na compreensão dos capítulos discutidos, obervando a seção " vamos saber mais", em que trazemos produções de outros mestres do ProfEPT, que enriquece e aprofunda os diálogos por ora debatidos. Nestas seções, estas produções podem ser acessadas por QR Code "Código de Resposta Rápida" ou por meio de l ink. Para acessar o QR Code, é necessário que o leitor tenha instalado um aplicativo em seu celular. Assim, será possível fazer a decodificação desses materiais. Caso não consiga ou não possa instalá-lo em seu aparelho,o leitor poderá acessar o l ink e visualizar o material indicado. Compreendemos que as inferências, aqui realizadas, não devem ser esgotadas neste trabalho, mas sim, que sirvam como um material colaborativo e informativo sobre a evasão e permanência escolar. Portanto, nosso objetivo não foi apresentar uma "receita pronta", até porque, como já dito, a evasão é um fenômeno de causas múltiplas , portanto não se esgota em um único trabalho. O ponto central, assim, perpassa pela reflexão do fenômeno da evasão, o entendimento de que a prevenção é a maneira mais eficaz de combatê-la e que, nessa batalha, a união de todos os sujeitos envolvidos: professores, técnicos, gestor, comunidade, governantes,aluno e família é essencial. A você leitor, desejamos uma ótima apreciação. Também, aqui, quero deixar meus sinceros agradecimentos. Assim, agradeço a minha orientadora, Cristiane Ayala, ao coordenador do Mestrado no Campus de Salgueiro - PE , professor Kelsen Oliveira, demais professores do curso, colegas e amigos que formei nesta trajetória, especialmente, a Roberta Gomes,Silvia, Lana, Elidiane, Antônio, Suemys e João Paulo. Um agradecimento, especial, aos meus amigos da UFAL, Rute e Benício, pelo valioso apoio nesta jornada. Também, quero agradecer a minha família, principalmente, a meu esposo José Marques que me acompanhou em todos os momentos dessa longa e importante etapa da minha vida, aos meus filhos, Melissa e Miguel, a minha sogra Alaíde, as minhas irmã Marta e Neide e ao meu sobrinho, Victor Feitosa, pela grande colaboração. Ainda sou grata aos profissionais do IFBA e aos ex-alunos que contribuíram com a pesquisa. Agradeço, mais que tudo, a Jeová Deus que me fortaleceu e manteve meu equilíbrio em meio as turbulências que o mundo se encontra por causa da pandemia. Ao Senhor, minha eterna gratidão. SU M ÁR IO 5 CAPÍTULO I - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃOPROFISSIONAL 11 15 23 28 CAPÍTULO I I -ENSINO MÉDIO INTEGRADO: EM BUSCA DE UMA FORMAÇÃO MAIS HUMANIZADA CAPÍTULO I I I - EVASÃO ESCOLAR - CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONCEITOS 50 CAPÍTULO IV - VAMOS FALAR EM PREVENÇÃO DA EVASÃO?REFLETINDO ALGUMAS ESTRATÉGIAS COLABORATIVAS 1.1 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma proposta para articular cultura, trabalho, ciência e tecnologia 2.1. Pressupostos para a formação integrada 32 37 3.2 Evasão Escolar na Rede Federal de Educação Profissional, Científica eTecnológica 3.1 Evasão Escolar no Âmbito Internacional 43 3.3 Avaliação Inicial da Evasão no IFBA - Campus Paulo Afonso 3.4 Panorama Geral da Evasão no IFBA - Campus Paulo Afonso: um resumo a partir dos dados quantitativos e qualitativos47 4.1 Quinze Estratégias para a Prevençãoda Evasão51 54 4.2 Questionário de pré-ingresso estudantil 58 4.3 Questionário da experiência institucional 62 67 4.4 Propostas de prevenção baseadas nos indicadores de evasão predominantes no lócus da pesquisa CONSIDERAÇÕES FINAIS 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69 4.5 Resumo das principais ações para o lócus da pesquisa Ao revisitarmos a história da educação profissional no Brasil,percebemos a prevalência explícita da dualidade educacional: havia uma educação de cunho assistencialista, destinada às classes menos favorecidas: órfãos, escravos e índios e, para os mais afortunados, uma educação propedêutica, de cunho acadêmico, preparatória para o prosseguimento dos estudos. Infere-se, assim, que a escola não foi institucionalizada para atender a todas as classes sociais, pois como declaram Moura, Lima Filho e Silva (2015, p.1059): "Dessa forma, não foi essencial, inicialmente, mas um luxo, porque foi concebida para atender aos interesses de uma determinada classe, a dos dirigentes”. Portanto, percebe-se que foi sob a égide da dualidade, que a educação brasileira delineou seu percurso, conforme atestam também Lima, F. Silva e L. Silva (2015, p. 120) “[...] a Educação Profissional foi historicamente voltada para as classes populares enquanto o Ensino Superior era destinado à elite. Essa realidade persistiu e chegou na 1ª década do século XXI, apesar de atualmente ser menos perceptível”. Nas pesquisas que discorrem acerca da educação no processo de colonização do Brasil, observa-se que, na pedagogia preconizada pelos padres jesuítas, havia a propagação da ideia de que o trabalho desenvolvido por um determinado indivíduo deveria estar atrelado a sua classe social. Asim, afirma Rocha (2005, p.6): “[...] a cada pessoa se deveria atribuir um tipo de trabalho, conforme o lugar por ela socialmente ocupado”. Sendo assim, quando os jesuítas possibilitaram aos escravos e a outros grupos vulneráveis socialmente, a aprendizagem de ofícios, como artesãos, mestre de obras e outros, de imediato, estas profissões começaram a sofrer preconceitos e, aqueles que as praticavam, começaram a abandoná-las (ROCHA,2005). 1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Disponível em :https ://revistapesquisa .fapesp .br/2019/12/03/ensino-de-oficio/#&gid=1&pid=1 AGOSTO 2020 PÁGINA 05 Com o intuito de compreender melhor o percurso delineado pela educação, destacaremos, a seguir, uma breve contextualização histórica, refletindo acerca de aspectos relevantes que ocorreram antes da independência do Brasil até os dias atuais, no que tange à educação profissional. Foram muitas as transformações e reconfigurações que a educação profissional passou no decorrer dos anos no Brasil, conforme veremos. Nesse período, a educação profissional ainda era pouco visível. Nas palavras de Peres (2005, p.12) “o ensino técnico – agrícola, comercial e industrial – ainda não passava de meras tentativas e ensaios”. O desprestígio concernente ao trabalho manual e técnico também continuava. Assim, os cursos técnicos apresentavam um “número reduzido de alunos – um pouco mais de uma centena em 1864 –, esparsos por pequenas escolas comerciais e agrícolas”. (PERES,2005, p.13). BRASIL IMPÉRIO PRIMEIRA REPÚBLICA De acordo com Palma Filho (2005),nessa época, houve por parte do governo federal, várias reformas no que tange ao Ensino Médio e Ensino Superior. No entanto, a escola continuava segregadora, pois não atingia toda população em idade escolar. Em conformidade com Fernandes (1966, p.47 apud PALMA FILHO, 2005, p.13), “embora entre 1900 e 1920 tenha havido um crescimento significativo da população que sabia ler e escrever[...] o percentual dos que não sabiam ler e escrever permaneceu o mesmo, ou seja, 65%”. Como podemos perceber, o quadro de pessoas analfabetas ainda era alarmante e a escola continuava a excluir aqueles das classes menos favorecidas. Relevante também destacar que, nesse contexto, ocorreram várias transformações socioeconômicas, promovidas pela reestruturação da força de trabalho (agora não mais escrava) e pelo desenvolvimento das atividades da indústria. Para qualificar os indivíduos para o mercado de trabalho e também para preparar os desvalidos da sorte para um trabalho técnico, afastando da ociosidade, era necessário um maior “investimento” na educação profissional. Assim, é criado o Decreto nº 7.566, que instituiu à criação das Escolas de Aprendizes Artífices (EAAs.), criadas no governo de Nilo Peçanha, em 1909. A partir deste decreto, são criadas 19 (dezenove) escolas em várias unidades federativas do país. Em conformidade com documento Brasil (2011), a assinatura do decreto 7.566/1909 “é considerado o marco inicial do ensino profissional, científico e tecnológico de abrangência federal no Brasil”. Ainda no que tange a estas escolas, de acordo com os estudos de Canali (2009), a evasão era muito alta nas EAAs, pois chegava a índices de mais de 50%. A autora também explicita que estas escolas tinham variados problemas, como: prédios com estrutura deficitária, profissionais desqualificados, oficinas com funcionamento deficitário etc. AGOSTO 2020 PÁGINA 06 No ano de 1937, o então presidente Getúlio Vargas, outorgou a Carta Constitucional que, no seu artigo 129, deixava claro que a educação profissional continuava a ser destinada às classes mais baixas, o que continuou a perpetuar dualidade educacional. De acordo com Palma Filho (2005, p.13) para à elite a oferta era do ginásio e colégios secundários e, para a grande massa, a oferta se reduzia ao ensino técnico-profissionalizante. Ainda, neste ano, as Escolas de Aprendizes e Artífices são transformadas em Liceus Industriais, destinados ao ensino profissional de todos os ramos e graus (BRASIL, 2011). Já no ano de 1942, tivemos a reforma empenhada por Gustavo Capanema. Esta,segundo Canali (2009), tinha o objetivo de formar mão de obra para atender à demanda do mercado de trabalho, mas o ingresso para o ensino superior continuava a ser um empecilho para a classe trabalhadora. Como expressa Anísio Teixeira “de um lado a escola para os nossos filhos, de outro, a escola para os filhos dos outros” (PALMA FILHO, 2005, p. 13). Por meio do Decreto nº 4.127, de 25 de fevereiro de 1942, os Liceus Industriais passaram a ser denominados de Escolas Industriais e Técnicas (EITs) e estas, de acordo com o documento Brasil, (2009, p.4) tinham o intuito de "[..] oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário".Nos anos seguintes, ainda no referido governo, foram criados o Serviço Nacional da Indústria - SENAI (1942) e, alguns anos após (1946) o SENAC - Serviço Nacional do Comércio. Segundo reflete Manfredi (2017), a educação promovida pelo sistema S é bastante criticada, pois objetiva somente atender a necessidade do mercado, bem nos moldes da formação tecnicista. ERA VARGAS GOVERNO JK GOVERNO JK No governo de Juscelino Kubitschek,1959, as Escolas Industriais e Técnicas foram transformadas em autarquias e passaram a ser chamadas de Escolas Técnicas Federais. Estas foram contempladas com autonomia didática e de gestão. Toda essa efervescência foi motivada pelo grande processo de industrialização que o país passava (BRASIL, 2009). AGOSTO 2020 PÁGINA 07 Em 1961, tivemos a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a de nº 4024/1961. Nesta, houve um avanço, pelo menos nos moldes da lei, pois determinou “plena equivalência entre todos os cursos do mesmo nível sem a necessidade de exames e provas de conhecimento visando à equiparação” (MOURA, 2007, p. 11). Ainda de acordo com o referido autor, no entanto, na prática, os currículos continuavam a perpetuar a dualidade, pois nos currículos dos cursos profissionalizantes, os conteúdos eram elaborados para a atender as especificidades do mercado trabalho, já para os cursos que visavam a continuidade dos estudos, ou seja, o acesso ao nível superior, eram privilegiados os conteúdos para este fim. GOVERNO JK No ano de 1971, sob o governo militar, foi promulgada aLei nº 5.692/71, com a pretensão de instituir o ensino do 2º grau como sendo profissionalizante para todas as classes. (CANALI,2009). Segundo Palma Filho (2005), esta plenitude de profissionalização tinha como meta conter a demanda que crescia pelo ensino superior. Ainda de acordo com Palma Filho (2005, p. 18) “ os formuladores da política educacional temem que, se esta expansão não for contida, ela criará um exército de desempregados de nível superior”. Portanto, o que realmente esta reforma propôs foi conter o acesso dos sujeitos ao nível superior e procurar atender logo a demanda do mercado do trabalho. Isso porque, segundo Manfredi (2017), nesse período o país estava buscando participar da economia internacional e, assim, necessitava de um contingente de trabalhadores preparados para atuarem no mercado de trabalho. GOVERNO GOULART GOVERNO MÉDICI GOVERNO GEISEL Ainda neste contexto de governo militar, em 1978, no governo de Ernesto Geisel, surgiram os Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), com o objetivo de formar profissionais na área de engenharia de operação e tecnólogos. (BRASIL,2011). AGOSTO 2020 PÁGINA 08 Após o estabelecimento da democracia (1985), tivemos a promulgação da Constituição Cidadã, como é conhecida a constituição de 1988. Esta propôs grandes avanços, como: o direito à educação é vislumbrado como pertencente a qualquer cidadão, sendo assim, independentemente da classe social, o estado deveria ofertar o ensino público e, não necessariamente , só para aqueles que comprovassem escassez de recursos.( art. 208 (1º e 2º);estado, município e união tem suas funções, quanto ao custeio da educação, expressos claramente; as comunidades indígenas passaram a ter sua língua materna valorizada, pois foi assegurada o seu uso e processos próprios de aprendizagem (art. 210, §2º), dentre outros destaques.(PALMA FILHO, 2005). GOVERNO JK Em 1996, nesse governo, após sucessivos debates, é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB de nº 9.394. Na visão de Moura (2007, p. 15): “O texto é minimalista e ambíguo em geral e, em particular, no que se refere a essa relação – ensino médio e educação profissional”. O autor, ainda pontua, que o ensino médio é vislumbrado no texto da LDB como sendo parte da educação básica e, a educação profissional, é colocada em um capítulo a parte, explicitada por três pequenos artigos. Nessa concepção, Moura (2007) conclui que a dualidade educacional vislumbrada desde os primórdios da educação no Brasil é também notadamente expressa na lei em discussão. No ano 2003, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, novos diálogos são lançados e é revogado o Decreto nº 2.208, de 1997. Surge, então, o Decreto 5.154/2004, que regulamentou o § 2º do artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Com este novo decreto, é mantido a possibilidade de oferta dos cursos técnicos tanto na forma concomitante, quanto subsequente. DEMOCRACIA GOVERNO FHC GOVERNO LULA AGOSTO 2020 PÁGINA 09 No entanto, o diferencial está para a oferta do ensino médio integrado à educação profissional, que, segundo Moura (2007, p. 20) "não se confunde totalmente com a educação tecnológica ou politécnica, mas que aponta em sua direção porque contém os princípios de sua construção". Três anos depois do decreto acima mencionado, é proposto o decreto nº 6.302, de 2007, que estabelece o Programa Brasil Profissionalizado. Este, segundo consta no documento Brasil (2007), visa “estimular o ensino médio integrado à educação profissional, enfatizando a educação científica e humanística, por meio da articulação entre formação geral e educação profissional no contexto dos arranjos produtivos e das vocações locais e regionais”. A proposta, a priori, parece ser plausível, no entanto como destacam (MOURA; LIMA FILHO; SILVA, 2015, p. 1073-1074): GOVERNO JK Esse programa foi estruturado de modo que a União financie a infraestrutura enquanto os eetados assegurem algumas rrntrapartidas, entre elas a criação ou adequação do quadro docente. Em razão de distorções decorrentes do nosso pacto federativo, a maioria dos estados, apesar de terem apresentado projeto e recebido, não tem nem está constituindo quadro de professores efetivos, especialmente no que se refere às disciplinas específicas da educação profissional, e o curso técnico de nível médio continua sem avançar na maioria dos estados. Assim, os autores acima nos trazem essa alerta de não constituição de um quadro docente efetivo, maximizando, assim, contratações que, a nosso ver, não constitui uma forma potencializadora da formação integrada. A nossa Carta Magna estabelece a educação como um direito de todos, mas Kuenzer (2007, p. 1170) alerta que “há uma aparente disponibilização das oportunidades educacionais, por meio de múltiplas modalidades e diferentes naturezas, que se caracterizam por seu caráter desigual e, na maioria das vezes, meramente certificatório [..]”. Sendo assim, a educação pode até está sendo ofertada com mais amplitude, mas, não igual para todos os membros, porque, como revela a autora acima, muitos só adquirem o certificado através de cursos que são realizados sem eficiência acadêmica, o que torna uma pseudo inclusão educacional. Uma perspectiva diferenciada desta que Kuenzer (2007) apresenta é vislumbrada com a criação dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia. A subseção que segue tratará dessa perspectiva. AGOSTO 2020 PÁGINA 10 No ano de 2008, por meio da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro, são criados os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, representando um marco na história da Educação Profissional. Entendemos que os institutos federais proporcionam, aos seus educandos, o acesso a uma educação pública e de qualidade. Através dessas instituições, os sujeitos podem fazer cursos de qualificação, estudar o ensino médio integrado, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas e também podem prosseguir com os cursos de pós- graduação, em programas lato e stricto sensu. Atualmente, contabilizam-se : 38 institutos federais, 02 CEFETs, 25 escolas vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e uma Universidade Tecnológica. (BRASIL, 2016).O número de institutos e campi por região, pode ser melhor visualizado pelo gráfico 1, a seguir. É notório que houve uma grande expansão e interiorização da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica nos últimos anos. No que tange à educação profissional na Bahia, de acordo com a Plataforma Nilo Peçanha (2019) , o território baiano conta com os seguintes institutos: IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, com 21 (vinte e um) campi e o IF Baiano - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, com 15 (quinze) campi. Silva (2014) revela que a expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia tem o intuito de democratizar o acesso a educação profissional, e, principalmente, contribuir para o fomento dos locais que estes se encontram. Atualmente, contabilizam- se : 38 institutos federais, 02 CEFETs, 25 escolas vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e uma Universidade Tecnológica. MEC,2016 1.1 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma proposta para articular trabalho, cultura, ciência e tecnologia AGOSTO 2020 PÁGINA 11 Fonte: Plataforma Nilo Peçanha Elaborada pela autora,2020 Gráfico 1: Número de Unidade/Campi A expansão dos IFECTs beneficiou também a cidade de Paulo Afonso-BA. O IFBA, Campus Paulo Afonso, foi inaugurado no ano de 2010 e teve autorização para funcionamento através da Portaria nº 105, de 29 de janeiro de 2010, publicada no DOU de 01/02/2010. Este funciona nas instalações do antigo COLEPA – Colégio Paulo Afonso, que foi reformado para atender a demanda da instituição, contando, também, com uma Usina de Biodiesel. O referido Campus ofereceu, inicialmente, os cursos de Biocombustíveis, Eletromecânica e Informática, nas modalidadesintegrada e subsequente. Atualmente, o curso de Biocombustíveis na modalidade subsequente não está sendo mais ofertado. (IFBA, 2020). Nos referidos cursos técnicos, são disponibilizadas 30 (trinta) vagas, por curso, anualmente. No Integrado, o aluno estuda o Ensino Médio e o curso técnico simultaneamente. Tais cursos têm duração de três ou quatro anos, a depender do curso. Já no Subsequente, o foco é o ensino técnico. O aluno já deve ter concluído o Ensino Médio ou concluí-lo até a data da matrícula. A duração é de dois anos. O instituto também oferta o curso superior de Engenharia Elétrica, já reconhecido pelo MEC. A escolha dos referidos cursos, foram por meio de audiências públicas na comunidade. ( IFBA, 2020). O mencionado instituto beneficia vários estudantes de Paulo Afonso, cidade sede, como também, aqueles das cidades inseridas num raio de até 120 km. Assim, percebe-se a importância desse Campus para a região e como o mesmo potencializa o acesso à educação gratuita e de qualidade, tanto no nível médio técnico, quanto no superior, ofertando, aos seus alunos “formação permanente, para aquisição de competências e habilidades do aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver no mais amplo sentido do desenvolvimento pessoal, social e profissional”. ( IFBA, 2020). De acordo com Pacheco (2010), a formação proporcionada pelos institutos federais deve articular trabalho, ciência e cultura, na perspectiva da emancipação dos sujeitos. O autor também reflete que a orientação pedagógica dessas instituições deve recusar o ensino meramente enciclopédico e visar uma formação mais integral em que o sujeito possa atuar criticamente na sociedade. Ainda segundo Pacheco (2010, p.16) os institutos federais pautam-se “na construção de uma rede de saberes que entrelaça cultura, trabalho, ciência e tecnologia em favor da sociedade, identificam-se como verdadeiras incubadoras de políticas sociais”. A perspectiva de formação proporcionada pelos IFECTs aponta para uma formação humana integral, conforme vislumbramos pelos diálogos acima, na qual os sujeitos são preparados para uma formação profissional e, também, têm potencial para avançar no ensino superior.Sendo assim, parece-nos ser uma proposta viável a expandir pelas escolas brasileiras. No entanto, atendendo mais a lógica imediatista do mercado e não preocupado com uma formação humana integral, o governo, sem dialogar com a sociedade, impõe-nos a Reforma do Ensino Médio, sancionada pela Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que surgiu a partir da Medida Provisória 746, de 2016. O EMI “não se confunde totalmente com a educação tecnológica ou politécnica, mas que aponta em sua direção porque contém os princípios de sua construção" Moura,2007 Disponível em :https ://portal .ifba .edu .br/paulo-afonso/anexos/banners/ifba-fachada-4 .jpg/@@images/8da3c1af-2d85-488f-a1ff-205f72282703 .jpeg AGOSTO 2020 PÁGINA 12 O novo panorama que nos foi imposto, cabe-nos indagar: o que esta reforma vem implicar para o ensino profissional? Segundo aponta Lemos et al (2017, p.456), esta reforma “ traz à tona as concepções políticas conservadoras/ liberais do “novo governo” e aponta para um tratamento de descaso para com a Educação Profissional, especificamente no que se refere ao Ensino Médio Integrado (EMI)”.Os autores agora citados ainda refletem que a velha história volta a se repetir: para uns, a possibilidade de avançar nos estudos, alcançar o ensino superior e, para aqueles que optarem pelo ensino profissional, a estagnação está declarada,pois com o currículo dessa oferta, aqueles que optarem por este tipo de formação, terão conteúdos tão fragmentados que dificilmente alcançarão o nível superior, pois o “itinerário formativo” não lhes serão favoráveis. Ainda nas palavras de Lemos et al (2017, p. 457), “isto significa que, para os alunos deste segmento social, o ensino profissionalizante assume um caráter de terminalidade não por escolha pessoal, mas por imposição do próprio sistema de ensino, econômico e social vigentes”. Os mais afetados pela lei em discussão serão os educandos da rede estadual, assim alerta Ferreti; Silva (2017, p. 392): Sendo assim, podemos perceber que a figura do “ Ornitorrinco” está cada vez mais viva na sociedade brasileira. O Ornitorrinco é o nome que Oliveira (2015) encontrou para representar o nosso país. Segundo o autor, o Brasil é um “bicho” esquisito, não por sua natureza, pois esta tem belezas incontáveis, e sim, por suas estranhezas realizadas no âmbito da política (que objetiva interesses próprios em detrimento do coletivo), da economia (que prioriza uma eterna dependência do capital estrangeiro) e no meio social segregador (que resplandece cenários de ostentação para uns e de extrema pobreza para outros). Por todas essas contradições, Oliveira (2015) denominou o Brasil de Ornitorrinco, um ser estranho na escala da evolução. No entanto, como destaca Moura (2013, p. 719): “É preciso atuar em meio às contradições do modelo hegemônico vigente no sentido de produzir movimentos que contribuam para o rompimento da dualidade educacional, o que também contribuirá para a superação do sistema capital". Portanto, que concentremos nessa travessia rumo a uma educação menos dual e que, as hipóteses levantadas por Ferreti;Silva (2017), possam ser verídicas, no que tange ao ensino médio integrado, pelo menos de sua continuidade na rede federal de ensino. Após delinearmos este percurso, histórico acerca da educação profissional, nossa concentração, agora, seguirá para a compreensão do Ensino Médio Integrado. É o que focalizaremos a seguir. Mas, antes disso, aprecie a próxima página e fique mais informado (a) acerca da história da EPT. “É preciso atuar em meio às contradições do modelo hegemônico vigente no sentido de produzir movimentos que contribuam para o rompimento da dualidade educacional, o que também contribuirá para a superação do sistema capital". Moura,2013 Por coerência e opção epistemológica, essa MP propõe que desapareça da cena, no âmbito dos governos estaduais, a proposta de integração no ensino médio e deste com a educação profissional, ainda que se possa levantar a hipótese de sua continuidade nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, por sua autonomia pedagógico-administrativa e por pertencerem à rede federal de ensino. Disponível em :https ://vermelho .org .br/wp-content/uploads/2020/01/ensino-medio .jpeg AGOSTO 2020 PÁGINA 13 VAMOS SABER MAIS? ACESSE O LINK OU O QR CODE PARA SABER MAIS SOBRE A HISTÓRIA DA EPT Para saber mais sobre a história da EPT, acesse o vídeo , “ A origem de uma nova institucionalidade em EPT”, que é um produto educacional,fruto da pesquisa realizada por Silvia Schiedck e orientada pela Drª Maria Cristina Caminha de Castilhos França. No vídeo, participaram vários teóricos da Educação Profissional, como Dante Moura, Eliezer Pachêco, Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta, Marise Ramos,dentre outros. Na fala desses sujeitos que participaram da concepção e implementação dos Institutos Federais, notamos como a proposta idealizada para os IFECTs , do currículo integrado, do ensino politécnico, priorizando uma educação menos dual representou um grande avanço para a EPT. No entanto, o grande desafio, como alerta a professora Jaqueline Moll é “manter-se de pé”. Disponível em :http ://www .sindepominas .com .br/images/demo/imagem-de-destaque .jpg Acesse:http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/433129 AGOSTO 2020 PÁGINA 14 2 ENSINO MÉDIO INTEGRADO: EM BUSCA DE UMA FORMAÇÃO MAIS HUMANIZADA "Evidentemente , não posso levar meus dias como professor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou como me avaliam . Mas devo estar atento à leitura que fazem de minha atividade com eles . Precisamos aprender a compreender a significação de um silêncio , ou de um sorriso ou de uma retirada da sala". Paulo Freire No capítulo anterior, revelamos que a educação brasileira, desde a sua concepção,foi marcada pela dualidade. Esta discrepância percebia-se na oferta de educação propedêutica para uns e ensino profissionalizante para outros, valorização do trabalho intelectual e desvalorização do trabalho manual, supremacia da cultura elitista em detrimento da cultura popular, conforme já apresentamos nos parágrafos anteriores ao leitor. Foi assim que os dirigentes do gigante, chamado Brasil, delinearam a educação para o seu povo. Em suma: para aqueles que possuíam um melhor poder aquisitivo, a educação era voltada para ascensão ao nível superior, para formar sujeitos para o comando do país, para os indivíduos da base da pirâmide, a oferta era de uma educação que visava atender a demanda do mercado de trabalho, os operários, os subalternos, com perspectiva educacional para educação superior reduzidas. No entanto, vimos, também, que esse quadro de discrepâncias, teve uma possibilidade de mudança, com a gênese do decreto nº 5.154/2004, que regulamentou o § 2º do artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Neste decreto, como apontam Frigotto, Ciavatta e Ramos (2012, p. 44) “ pretende reinstaurar um novo ponto de partida para essa travessia, de tal forma que o horizonte do ensino médio seja a consolidação da formação básica unitária e politécnica [..]”. Que travessia é essa que os autores mencionam? Os autores revelam que é uma travessia visando uma “nova realidade”. Realidade esta que seja manifestada em oferta de melhores condições educacionais também para os filhos da classe trabalhadora, para que estes possam ser formados não apenas para servir aos anseios do mercado de trabalho, mas que também tenham a oportunidade de avançar na carreira e cursar o ensino Disponível em : https ://www .ucv .edu .br/conteudo/wp-content/uploads/2019/12/sala- de-aula-invertida .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 15 superior, se assim desejarem. Então, é sob essa perspectiva de mudança, de novas oportunidades educacionais, que nasce o ensino médio integrado ao ensino técnico. Moura (2013) vem afirmar que como o capitalismo e a burguesia ainda são hegemônicos, os ideais da politecnica e da escola unitária, em sua plenitude, só podem ser vislumbrados numa perspectiva futura, quando a classe dos trabalhadores conquistar o poder político. Assim sendo, o autor conclui que o Ensino Médio Integrado – EMI, pode ser “considerado o germe da formação humana integral, omnilateral ou politécnica” (MOURA, 2013, p.707). Que esse germe não seja lançado no vácuo, mas que se propague, se multiplique, mesmo com todas as forças antagônicas que estamos vivenciando. É o que esperamos. Mencionamos acerca de politecnia e escola unitária no parágrafo anterior, mas quais são os ideais dessas concepções? De acordo com Ramos (2014, p. 38): [...]o ideário da politecnia buscava romper com a dicotomia entre educação básica e técnica, resgatando o princípio da formação humana em sua totalidade; em termos epistemológicos e pedagógicos, esse ideário defendia um ensino que integrasse ciência e cultura, humanismo e tecnologia, visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. Portanto, como destaca a autora, a politecnia é vista como uma proposta de ruptura do sistema dual, visando, assim, formar o sujeito em sua totalidade, integrando, nesta, os princípios científicos, humanísticos, tecnológicos e culturais, como afirma a referida autora. “[...]o ideário da politecnia buscava romper com a dicotomia entre educação básica e técnica, resgatando o princípio da formação humana em sua totalidade...". Ramos,2014 Disponível emhttp ://www .comciencia .br/wp-content/uploads/2018/11/ensinotecnico-672x372 .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 16 O ensino politécnico tem suas raízes nos estudos de Marx e Engels e, a escola unitária, tem como expoente Gramsci. Saviani (2007) aponta que a escola unitária é correspondente, no que tange ao Brasil, ao ensino fundamental e médio. Segundo Gramsci (1982, p. 121 apud MOURA 2013, p.711) a escola unitária é entendida como: No entanto, como também nos revela Moura (2013, p.711) “Marx e Engels se referem à politecnia em seu sentido pleno como uma perspectiva educacional futura, Gramsci também considera a escola unitária dessa forma”. Sendo assim, enquanto não podemos desfrutar dessa plenitude, que ofertemos aos jovens que necessitam trabalhar e estudar, uma educação mais igualitária, que como destaca Ciavatta (2012, p.84) “ a educação geral se torne parte inseparável da educação profissional em todos os campos onde se dá a preparação para o trabalho [..]”. O argumento de Ciavatta merece uma reflexão: se educação geral e a profissional devem ser pautadas pela integração, quais são elementos básicos que devem compor o currículo direcionado para a formação integrada? Antes de revelarmos os elementos constituintes do currículo integrado, vamos apresentar a definição de currículo, como este “Marx e Engels se referem à politecnia em seu sentido pleno como uma perspectiva educacional futura, Gramsci também considera a escola unitária dessa forma”. Moura,2013 A escola unitária ou de formação humanista (entendido este termo, ‘humanismo’, em sentido amplo e não apenas em sentido tradicional) ou de cultura geral deveria se propor a tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade e capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na iniciativa. Pela citação acima, Gramsci aponta que a profissionalização dos jovens deveria ocorrer só após a formação na escola unitária. Marx e Engels, também não defendem a profissionalização precoce (MOURA,2013). Disponível em : https ://www .falabarreiras .com/wp-content/uploads/2015/07/secretaria-011 .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 17 é relevante para o direcionamento do processo de ensino-aprendizagem que se pretende instaurar na instituição e também a importância de se ter professores mediadores deste processo. Ramos (2014, p. 87), apresenta a seguinte definição: dos problemas, valorização da diversidade cultural, dentre outras nuances. Ainda, segundo destacam Araújo e Frigotto (2015, p.68), na perspectiva de formação integrada, o objetivo é “[...] formar o indivíduo em suas múltiplas capacidades: de trabalhar, de viver coletivamente e agir autonomamente sobre a realidade, contribuindo para a construção de uma sociabilidade de fraternidade e de justiça social”. Para que essa integração ocorra realmente, é muito importante a atuação do professor como mediador desse processo, como destacam os autores abaixo, na pesquisa realizada com os docentes sobre suas práticas de integração curricular do IFMT - Campus Cáceres. De acordo com (RODRIGUES; DE ARAÚJO,2017, p. 3), nessa concepção de currículo integrado, o professor é “compreendido como mediador e articulador do processo de ensino e de aprendizagem, Na perspectiva de formação integrada, o objetivo é“[...] formar o indivíduo em suas múltiplas capacidades: de trabalhar, de viver coletivamente e agir autonomamente sobre a realidade, contribuindo para a construção de uma sociabilidade de fraternidade e de justiça social”. Araújo e Frigotto (2015) O currículo integrado organiza o conhecimento e desenvolve o processo de ensino-aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta que se pretende explicar/compreender. A autora destaca a importância que o currículo tem de organizar e desenvolver os processos relacionados ao ensino e a aprendizagem dos indivíduos. Entende- se, ainda, que o currículo integrado deve-se buscar a emancipação dos educandos, valorizando os conhecimentos prévios destes, integração entre teoria e prática, desenvolvimento de projetos interdisciplinares, incentivo à pesquisa, resolução Disponível em : https ://nova-escola-producao .s3 .amazonaws .com/GjhD2w6devMhRZgaTuZwx5PyXKuzXFPMWTHkBW67ANCdevvCVHEQ9aJHzkm9/blog- coordenadoras-reuniao-curriculo .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA18 visando à construção do sujeito histórico, social e afetivo”. Então, a figura do professor como único detentor do saber e o educando como ser passivo, são completamente antagônicas para a concepção de currículo integrado. Portanto, que floresçam cada vez mais educadores que sejam mediadores e potencializadores do processo de ensino- aprendizagem. Entendido o que é currículo, passamos, agora, a concentrarmos nos componentes base do currículo integrado, a saber: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Essas categorias, Ramos (2014) afirma que são indissociáveis para a formação humana, afirmando que o trabalho é visto como categoria central, em seus sentidos ontológico e histórico, os quais explicaremos melhor nos parágrafos seguintes. No que tange ao trabalho, o conceito aqui defendido não é do trabalho apenas como um meio de provento, uma atividade que vise apenas uma relação de recompensa por algo, mas sim, em um significado mais amplo, em suas dimensões ontológica e histórica. Nas palavras de Lukács, 1978(apud RAMOS 2014, p.91), estes termos são vistos da seguinte forma: “ O trabalho, ciência, tecnologia e cultura são categorias indissociáveis para a formação humana.” Ramos, 2014 a) ontológico, como práxis humana e, então, como a forma pela qual o homem produz sua própria existência na relação com a natureza e com os outros homens e, assim, produz conhecimentos; b) histórico que no sistema capitalista se transforma em trabalho assalariado ou fator econômico, forma específica da produção da existência humana sob o capitalismo; Sendo assim, a categoria ontológica do trabalho expressa a relação do homem com sua própria existência e também com a transformação social. Já o sentido histórico, diz respeito as mudanças nos modos de produção ocorridas no mundo do trabalho com o passar dos tempos, como por exemplo, o modo escravista e o assalariado. Disponível em : http ://www .midiadrops .com/wp-content/uploads/2016/03/kaboompics .com_Working-in-a-group_kaboompics .com_-768x512 .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 19 Ainda concernente ao trabalho, Ramos (2014, p.90) vem enfatizar que “a concepção do trabalho como princípio educativo é a base para a organização e desenvolvimento curricular em seus objetivos conteúdos e métodos”. A referida autora ainda menciona que considerar o trabalho como princípio educativo, é o mesmo que reconhecer que o homem cria sua realidade, apropria-se dela e a transforma. No que tange à ciência, outro componente base para o currículo integrado, Ramos (2014) vem esclarecer que esta diz respeito aos conhecimentos que foram produzidos e validados pela sociedade ao longo dos tempos. A autora ainda enfatiza que: No que diz respeito à tecnologia, ainda segundo Ramos (2014), esta atua modificando uma realidade, dando uma outra configuração tanto a base técnica, quanto as relações que envolvem os seres humanos. Constantemente, o ser humano promove novas invenções tecnológicas, aprimorando e ressignificando as técnicas utilizadas. Portanto, é fundamental que sejam intensificados na escolas, colégios e institutos estudos que promovam o avanço ou geração de novas tecnologias para a sociedade, tanto em contextos locais quanto regionais, e que, estas ações, sejam divulgadas e compartilhadas para outros ambientes. Avanços positivos necessitam ser publicizados para que contribuam com a melhoria de outras pessoas. Já a cultura, diz respeito aos saberes acumulados pelo homem no decorrer da história. Está relacionada a crenças, valores, atitudes e conhecimento dos seres humanos. Ramos (2014, p.87) declara que a cultura “A concepção do trabalho como princípio educativo é a base para a organização e desenvolvimento curricular em seus objetivos conteúdos e métodos”. Ramos,2014 [..] na formação profissional o conhecimento científico adquire, para o trabalhador, o sentido de força produtiva, traduzindo-se em técnicas e procedimentos, a partir da compreensão dos conceitos científicos e tecnológicos básicos que o possibilitarão à atuação autônoma e consciente na dinâmica econômica da sociedade. (RAMOS 2014, p. 92) Disponível em : https ://spaceks .net/noticias/20200515174004 .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 20 “corresponde aos valores éticos e estéticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade. Entendemos, também, que as crenças e valores de um grupo social ou povo, devem ser respeitadas e que, a escola, deve promover a conscientização desse respeito à cultura do outro, ofertando assim, aulas que contemplem a diversidade cultural que é inerente ao Brasil. Como podemos notar pelas explicações referentes aos componentes da base curricular para um currículo integrado (trabalho, ciência, tecnologia e cultura), a formação que se pretende com essa concepção é realmente ampla, pois o objetivo é potencializar a criticidade dos educandos, a autonomia, o aprimoramento e/ou desenvolvimento de novas tecnologias que beneficiem a sociedade, levando também em consideração a cultura, o conhecimento acumulado com o tempo. Sendo assim, a pedagogia que se prática é das práxis em detrimento da pedagogia das competências, que visa somente adestrar os sujeitos para o mercado de trabalho. A figura 1 representa os eixos, as bases que compõem o ensino médio integrado. Figura 1: Componentes do Currículo Integrado Fonte: Elaborado pela autora,2020 "O desafio é educar as crianças e os jovens propiciando-lhes um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para fazer frente às exigências do mundo contemporâneo“. Charlot,2014 Disponível em :https ://www .gestaoeducacional .com .br/wp-content/uploads/2019/02/Cultura-brasileira3 .png AGOSTO 2020 PÁGINA 21 A partir das discussões tecidas até esse momento, corroboramos com o conceito de ensino médio integrado compartilhado por Araújo e Frigotto (2015, p.62) que assim revelam: Após essas discussões acerca da gênese do ensino médio integrado, vamos direcionar nossa reflexão para alguns pressupostos necessários para a formação integrada, conforme apresentaremos na subseção seguinte. “O ensino médio integrado é uma proposição pedagógica que se compromete com a utopia de uma formação inteira [...]". Araújo e Frigotto, 2015 O ensino médio integrado é uma proposição pedagógica que se compromete com a utopia de uma formação inteira, que não se satisfaz com a socialização de fragmentos da cultura sistematizada e que compreende como direito de todos ao acesso a um processo formativo, inclusive escolar, que promova o desenvolvimento de suas amplas faculdades físicas e intelectuais. Portanto, a proposta do ensino médio integrado é o de permitir uma formação ampla do indivíduo, conforme já mencionamos, visando formar cidadãos atuantes no meio social, capazes de construírem uma sociedade mais justa e fraterna. Justiça essa que seja visualizada pelo respeito ao ser humano independentemente de status social, cultura, religião ou etnia. Que possamos olhar para o outro e enxergar simplesmente como semelhante. Disponível em : https ://nova-escola-producao .s3 .amazonaws .com/DvFE4NYjxRry2nRmgCe4uSkXmWS2eE9zhPhS5ncPnfSqFW7AB9qZZFTymh6V/blendedlearning .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 22 Os pressupostos que seguem são destacados por Ciavatta (2012), no artigo intitulado “ A formação integrada: escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade”. A mencionada autora elenca 07 (sete) pressuposições que influenciam a materialização de uma formação integrada. Em resumo, os pressupostos são estes elencados abaixo. O primeiro pressuposto da formação integrada é a existência de um projeto de sociedade. Neste, a autora enfatiza a importância das instâncias ligadas à educação (governo federal, secretarias de educação direção escolar e professores), portanto, um projeto de vários segmentos sociais, manifestarem o desejo político de romper com a formação que se limita a preparar os jovens para o mercado de trabalho. O segundopressuposto diz respeito a manter na lei, a articulação entre o ensino médio de formação geral e profissional em todas as suas modalidades. Para que essa articulação aconteça de forma satisfatória, a autora enfatiza que deve haver empenho para superar o dualismo manifestado por meio de educação deficitária no sistema público, pela falta de materiais que impedem o cumprimento de duplas jornadas na escola e trabalho, pelas políticas de acesso ilusórias que não dão suporte para que o aluno realmente permaneça na escola etc. No terceiro item, é dado ênfase para a adesão de gestores e de professores responsáveis pela formação geral e pela formação específica. Assim sendo, o destaque 2 .1 . PRESSUPOSTOS PARA A FORMAÇÃO INTEGRADA Disponível em : https ://static .wixstatic .com/media/081322_51a68479c1b04ec080122318f490e229~mv2_d_3892_2192_s_2 .jpg/v1/fit/w_1000 ,h_1000 ,al_c ,q_80/file .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 23 é para que haja realmente integração, que sejam elaborados, de forma coletiva, as estratégias acadêmico-científico da educação integrada, destacando a necessidade de articular o geral e específico e a teoria e prática dos conteúdos. No quarto pressuposto, a autora apresenta que deve haver uma articulação da instituição com os alunos e os familiares, destacando que a realização de uma educação integrada não se faz somente na instituição, mas sim, com o diálogo e conscientização de alunos e seus familiares acerca das expectativas que estes têm e a possibilidade de realização destas. No que tange ao quinto item, é posto em destaque que o exercício da formação integrada é uma experiência de democracia participativa, ou seja, para sua realização é necessária a comunhão, o diálogo entre os sujeitos envolvidos e, jamais, sob o uso do autoritarismo. A integração requer, portanto, participação coletiva. Ainda, neste, a autora menciona a importância de se ter, neste processo, professores abertos à inovação, disciplina e conteúdos mais condizentes com a integração. O outro item, o sexto, a autora discorre acerca do resgate da escola como um lugar de memória. Aqui é destacado a importância em lembrar os personagens que figuraram como importante na escola, momentos expressivos, fotos, livros, documentos que ajudam a compor a memória escolar. A autora ainda revela que isso pode colaborar para a perspectiva de uma escola e de uma formação integrada mais completa para a juventude. No sétimo e último item, o destaque é para necessidade de garantia de investimentos na educação. Neste, a autora reflete Para que haja realmente integração, que sejam elaborados, de forma coletiva, as estratégias acadêmico-científico da educação integrada, destacando a necessidade de articular o geral e específico e a teoria e prática dos conteúdos. Ciavatta,2012 Disponível em : https ://blog .wpensar .com .br/wp-content/uploads/2017/07/arte-reuniao-de-pais-efetiva .png AGOSTO 2020 PÁGINA 24 a importância que a educação tem para transformação social, discutindo, também, que o nosso país apresenta déficit de investimento neste setor tão importante para a sociedade. Ainda, também destaca, que não se faz uma boa educação, sem que haja investimento que permita a oferta pública e gratuita de bons serviços sociais. Como nos lembra Paulo Freire, “ Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda". A educação é vital, essencial para uma sociedade. Investir em educação é permitir a construção de uma sociedade mais justa e fraterna para todos. Portanto, como vimos no presente capítulo, o ensino médio integrado é uma proposição que busca romper com a dualidade histórica presente há muito tempo na educação brasileira. É vislumbrado como uma proposta pedagógica que busca formar o sujeito em sua plenitude, visando a transformação de si, de outros e da sociedade. Mas, para que haja essa materialização do ensino médio integrado, é preciso haver também “integração” entre as pessoas que fazem o ambiente escolar, professores, gestores, coordenadores, equipe técnica, alunos e família. O elo formado por esses agentes precisa estar forte e, caso, ele enfraqueça, é preciso buscar a força e equilíbrio novamente, propondo, assim, reflexões sobre o papel de cada um desses sujeitos para o fortalecimento dessa integração. A atenção para o currículo integrado, como já enfatizamos, também precisa ser levado em consideração para que essa proposta alcance êxito. Além disso, é preciso que os governantes promovam investimentos educacionais e se comprometam com uma educação pública e de qualidade para todos. Disponível em : https ://image .freepik .com/fotos-gratis/grupo-multietnico-de-jovens-olhando-um-tablet-computador_1139-1004 .jpg "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda". Paulo Freire AGOSTO 2020 PÁGINA 25 Que os dirigentes do nosso país compreendam que, reformas educacionais precisam ser dialogadas com a sociedade, o que está em total acordo com os princípios de uma sociedade democrática e, não imposta, como tivemos recentemente com a reforma do ensino médio. Após esta debate acerca do ensino médio integrado, as reflexões, agora , serão direcionadas para a problemática da evasão escolar. Nesta, a priori, iremos discutir os conceitos relacionados a este termo, depois apresentaremos uma discussão da evasão no âmbito internacional, na sequência, é focado acerca da evasão escolar na rede federal de educação profissional, cientifica e tecnológica e, por último, apresentamos as discussões e dados relativos à evasão no IFBA,Campus Paulo Afonso. Mas, antes de irmos para o próximo capítulo, vamos entender melhor sobre o EMI na subseção que segue. Vamos lá! Disponível em http ://moodle3 .mec .gov .br/ufba/file .php/1/imagens/LivrosTECE/Livro2/parteI .jpg "Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido". Rubem Alves AGOSTO 2020 PÁGINA 26 VAMOS SABER MAIS? ACESSE O LINK OU O QR CODE PARA SABER MAIS SOBRE O ENSINO MÉDIO INTEGRADO Para saber mais sobre o Ensino Médio Integrado, acesse o Qr Code ou l ink do produto educacional de Dione Mari Caetano,orientado pela Drª Michele Rousset , cujo título é: “ Guia para implementação de uma proposta de estrutura curricular para o ensino médio integrado". Segundo destaca Caetano (2020, p.5), o guia é visto como " uma sugestão para orientar o trabalho dos profissionais da Educação no sentido de implementar o ensino médio integrado nos diversos Institutos Federais e demais Instituições que possam ter interesse na temática". Esperamos que faça uma boa apreciação dessa produção para a educação.Acesse:http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/569210 Disponível em :http ://www .sindepominas .com .br/images/demo/imagem-de-destaque .jpg AGOSTO 2020 PÁGINA 27 A evasão escolar é um grave problema educacional que atinge milhares de jovens brasileiros. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD, do ano de 2018, o acesso à escola tem alcançado índices melhores, no entanto, é destacado também que problemas como atraso escolar e evasão, ainda são presentes e, estes, são “mais característicos do ensino médio (15 a 17 anos), onde foi registrada, em 2018, taxa de frequência líquida de 69,3%, ou seja, 30,7% dos alunos estavam atrasados ou tinham deixado a escola”. (IBGE, 2019). Estes números revelam o quão é urgente fomentar políticas públicas para que este cenário seja modificado, visando à redução destes índices. Na figura 2 que segue, podemos visualizar os dados que apresentamos neste parágrafo. O ano letivo se inicia e a sala de aula está lotada. Contudo, passados alguns meses, esta realidade se modifica: alunos começam a se ausentar das aulas e as carteiras já não estão mais todas preenchidas. Este é um retrato comum em muitas salas de aulas brasileiras e que merece maisatenção: a evasão escolar. Isso porque, a carteira que ficou vazia não representa apenas um espaço obsoleto, mas sim, uma demonstração de que naquela instituição, um sujeito deixou de progredir em seus estudos, especializar-se numa determinada profissão e, consequentemente, deixou lacunas nos variados conhecimentos que a escola poderia lhe proporcionar. 3. EVASÃO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONCEITOS Disponível em : https ://www .redebrasilatual .com .br/wp-content/uploads/2019/04/3fbad2ba-2aaf-44b9-992b-3c367b706f75 .jpeg AGOSTO 2020 PÁGINA 28 Pela figura 2, percebe-se que a região Nordeste necessita mais ainda de fomentar políticas públicas e ações que visem melhorias nos índices apresentados, pois é a região com a menor taxa ajustada de frequência escolar líquida ao ensino médio no ano de 2018. A imagem, em destaque, revelou a problemática da evasão e do atraso escolar na faixa etária que corresponde ao ensino médio, destacamos, esta, porque a presente pesquisa visa identificar as causas da evasão justamente nesta etapa. A complexidade dessa problemática perpassa também pelo seu conceito, conforme podemos visualizar nas definições que seguem. No que tange ao conceito de evasão, a priori podemos defini-la como sendo a interrupção nos estudos em um dado momento escolar. No entanto, encontramos outros conceitos na literatura, que nem sempre se coadunam. Para o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – há uma diferenciação entre evasão e abandono, como nota-se: “O conceito técnico de abandono é diferente de evasão. Abandono quer dizer que o aluno deixa a escola num ano, mas retorna no ano seguinte. Evasão significa que o aluno sai da escola e não volta mais para o sistema”. (INEP, 1998). Figura 2: *Taxa ajustada de frequência escolar líquida ao ensino médio *Taxa ajustada de frequência escolar líquida = Estudantes com idade prevista para estar cursando uma determinada etapa de ensino + estudantes da mesma idade que já concluíram essa etapa, dividido pela população total na mesma faixa etária. AGOSTO 2020 PÁGINA 29 Fonte: IBGE, 2019 Já a Comissão Especial para Estudo da Evasão , diz que a evasão é a saída definitiva do curso de origem sem conclusão. Os estudos realizados por esta comissão são vistos como “um dos primeiros trabalhos a sistematizar a problemática da evasão no Brasil” (BRASIL, 2014, p. 15). Essa comissão apresentou três tipos de classificação para a evasão: evasão de curso, evasão da instituição e evasão do sistema. A primeira engloba o desligamento do ensino superior, nas situações de não realização de matrícula, desistência, transferência ou reopção de curso e exclusão por norma institucional. Já evasão da instituição, é entendida nas situações em que o aluno se desliga da instituição na qual estuda e, por evasão do sistema, entende-se a situação que o educando abandona de forma definitiva ou temporária o nível superior. (BRASIL, 1996). We see the value of growing our business through social media. We will place our efforts in growing our follower base and engaging our audience. As classificações acima estão relacionadas ao nível superior, mas podem ser utilizadas no ensino médio, visto que muitas situações mencionadas (não realização de matrícula, desistência, transferência etc) são também vivenciadas neste contexto. Sendo assim, é passível este entendimento também. Um conceito muito presente nas pesquisas sobre evasão no Brasil é o de Gaioso. Para Gaioso (2005, apud BAGGI e LOPES, 2011), a evasão é um fenômeno social complexo, definido pela interrupção do ciclo de estudos. Segundo ainda apontam Baggi e Lopes (2011, p.356) a evasão escolar “é um problema que vem preocupando as instituições de ensino em geral, sejam públicas ou particulares, pois a saída de alunos provoca graves consequências sociais, acadêmicas e econômicas”. Complementando as discussões, trazemos para o debate Digiácomo (2005, p. 1) que assim conceitua: “a evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de admitirem a matrícula de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado já contando com a "desistência" de muitos ao longo do ano letivo". Para as pesquisadoras Lüscher e Dore (2011, p. 150), a evasão está relacionada a variadas circunstâncias, conforme excerto abaixo: A evasão escolar tem sido associada a situações muito diversas. Pode se referir à retenção e repetência do aluno na escola; a saída do aluno da instituição; a saída do aluno do sistema de ensino; a não conclusão de um determinado nível de ensino; ao abandono da escola e posterior retorno. Abrange indivíduos que nunca ingressaram em um determinado nível de ensino, especialmente na educação compulsória, bem como o estudante que concluiu uma etapa de ensino, mas se comporta como um dropout**. D isp o n ív e l e m h ttp s ://b lo g .so ftw a re g e o .c o m .b r/w p -c o n te n t/u p lo a d s /2 0 18 /12 /e v a sa o -d e -a lu n o s .p n g AGOSTO 2020 PÁGINA 30 ** O termo dropout se refere ao indivíduo que larga ou abandona uma atividade. Como se percebe pelas definições anteriores, a evasão realmente é um problema complexo, que traz prejuízos para instituição, para a sociedade e para o estudante. A interrupção nos estudos, as constantes repetências vão permitindo a abertura de lacunas que podem marcar profundamente a vida do indivíduo. Desmotivação, ociosidade e isolamento são algumas das características negativas presentes no percurso destes alunos que se deparam com a evasão em sua trajetória educacional. Nas seções seguintes deste trabalho, abordar-se-á mais detalhadamente as consequências advindas da evasão com base em outras pesquisas realizadas. Nesta pesquisa, trabalharemos com o conceito de evasão revelado pela Comissão Especial para Estudo da Evasão (1996), à qual entende que evasão é a saída definitiva do curso de origem sem conclusão, por entender que converge com entendimento que reconhecemos sobre evasão.Ainda, adotamos as palavras desistência, abandono do curso e evasão como sendo sinônimas neste trabalho, assim também como fizeram Cordeiro e Zarpelan (2011,p. 71), quando enfatizaram: “Compreendendo a palavra evasão como sinônimo para fuga, desistência ou abandono de algo,podemos dizer que o abandono de um curso na sua trajetória pode ser classificado como evasão”. A evasão escolar tem sido associada a situações muito diversas. Pode se referir à retenção e repetência do aluno na escola; a saída do aluno da instituição; a saída do aluno do sistema de ensino; a não conclusão de um determinado nível de ensino; ao abandono da escola e posterior retorno. Abrange indivíduos que nunca ingressaram em um determinado nível de ensino, especialmente na educação compulsória, bem como o estudante que concluiu uma etapa de ensino, mas se comporta como um dropout. Lüscher e Dore (2011) AGOSTO 2020 PÁGINA 31 3.1 EVASÃO ESCOLAR NO ÂMBITO INTERNACIONAL Nesta seção, apresentamos as discussões de Vincent Tinto (1975) e Rumberger (2011) para ampliarmos o leque de compreensão acerca da evasão escolar, bem como, aprimorar as sugestões e estratégias que colaborem para amenizar este entrave na educação. Um dos teóricos mais citados internacionalmente quando a temática é evasão é o professor Vincent Tinto. O Modelo de Integração do Estudante (Student Integration Model), criado por Tinto sobre o abandono no ensino superior, continua sendo bastante referenciado e aceito “como principal modelo teórico para estudos de evasão chegando a ser considerada quase paradigmática”. Massi e Villani (2015, p. 978). O Documento Orientador para a Superação da Evasão e Retenção na Rede Federal (MEC, 2014) também destaca os estudos de Tinto (1975) para compor o embasamento teórico da pesquisa. Para explicar o abandono escolar, Tinto fez uma analogia com a teoria do suicídio desenvolvida pelo sociólogofrancês Émile Durkheim (1961), à qual revela que o suicídio tem mais chances de ocorrer com os indivíduos que estão desintegrados do meio social ou que estão integrados de modo insuficiente. Assim, Tinto (1975, p. 91, tradução nossa) compreende que “ pode-se razoavelmente esperar, então, que as condições que afetam o abandono do sistema social da faculdade assemelhar-se-ia àqueles que resultam no suicídio na sociedade [...]”. Tinto (1975) ressalta que o primeiro pesquisador a aplicar a teoria do suicídio ligado ao abandono, foi Spady (1970).Assim, para Tinto (1975, p.111, tradução nossa) o abandono “é o resultado de um processo multidimensional envolvendo a interação entre o indivíduo e a instituição […]”. O autor argumenta que quanto maior o grau de integração entre o sistema acadêmico e social, a probabilidade de o estudante concluir o curso com êxito será alta, ou seja, o objetivo final será alcançado. A integração acadêmica diz respeito ao desempenho dos alunos na instituição, suas notas, frequência, assimilação dos conteúdos, progressão intelectual. Ou seja, relaciona-se mais com a percepção do aluno em relação aos estudos e a experiência que este delineou neste percurso. Já a integração social, refere-se às atividades extracurriculares, grupo de amigos, nível de interação entre pessoas que compõem o corpo administrativo e docentes da instituição. De forma simbólica, podemos fazer alusão da evasão com a confecção artesanal de uma rede. Sempre observava minha mãe no tear... assim, percebia que se as linhas não estivessem próximas, bem ajustadas, a rede se desgastaria facilmente, mas, se ela fosse feita com linhas, cujas amarras fossem firmes, estivessem ao todo harmônica, certamente, esta peça iria ter uma boa durabilidade, então, o resultado esperado teria sido alcançado. Assim também pode ocorrer com o processo de evasão. Se as linhas (as experiências escolares anteriores, a integração acadêmica e social) forem estabelecidas de modo firme, conectadas em harmonia, o aluno conseguirá fazer sua “rede”, ou seja, alcançará a conclusão do curso. Caso contrário, se as linhas estiverem, desgastadas, enfraquecidas, o processo que se dará é o de provável abandono de suas metas, a desistência ou fuga do objetivo final: o de formar-se. Tinto (1975) também esclarece dois tipos de abandono, os quais ele nomeia de saídas voluntárias e demissões acadêmicas. As primeiras referem-se aos sujeitos que não desenvolveram uma relação harmoniosa com meio, ou seja, as relações sociais na faculdade foram incongruentes, insuficientes, fazendo com que este indivíduo decidisse sair da instituição. Já a demissão acadêmica, está mais relacionada ao desempenho não satisfatório no curso, o que pode ser provocado por constantes repetências, notas baixas, insucesso escolar. AGOSTO 2020 PÁGINA 32 A partir dos estudos de Tinto (1975), compreendemos que evasão é de fato uma problemática complexa, que, para entendê-la de forma mais profunda, é preciso procurar conhecer a trajetória do aluno antes do ingresso na instituição, seja no âmbito da família, da escola, seja no revelar de suas próprias características, crenças e no compromisso que este tem, as suas metas educacionais. Além do diagnóstico inicial, é necessário atentar como está a integração no ambiente estudantil: como o aluno interage como o professor, com os colegas de sala, com os terceirizados, com o pessoal que compõe a equipe técnica da instituição, com as atividades extracurriculares, enfim, como está sendo construída a relação entre a escola e este indivíduo. Se analisar a integração social é relevante, a percepção desta no nível acadêmico também se faz necessário. Todos estes aspectos, juntamente com o compromisso em graduar-se e o compromisso institucional, a relevância que o aluno observa em fazer parte daquela instituição, são fundamentais e decisivos para opção entre evadir ou permanecer no ambiente escolar. Sendo assim, conforme é visualizado na Figura 3, o modelo de Tinto (1975) estabelece que o processo de evasão é visto como um processo longitudinal de interações entre o individual, o sistema acadêmico e social da instituição de ensino. Portanto, Tinto esclarece, neste modelo, que os fatores anteriores ao ingresso na instituição (background familiar, atributos individuais e experiências escolares) influenciam os compromissos assumidos inicialmente em concluir o curso e o compromisso com a instituição. O nível de compromisso assumido na etapa anterior, por sua vez, irá influenciar o modo como o aluno desempenhará as suas funções no sistema acadêmico e social da instituição. Os dois processos agora citados irão gerar um determinado nível de integração acadêmica e social do educando. Isso vai depender das experiências predominantes nas ações anteriores. Assim sendo, há um outra reflexão e remodelamento dos compromissos assumidos anteriormente, que irão ser decisivos para continuar nos estudos e lograr êxito ou evadir e romper com o percurso. Posteriormente, Tinto (1975) revisou seu modelo base duas vezes. A primeira revisão foi em 1993 e, a outra, em 1997. A nova revisão apresenta um novo alcance para a integração acadêmica e social, conforme aponta (CISLAGHI ,2008, p. 53): Figura 3: Esquema Conceitual do Processo de Evasão na Universidade Tinto (1975) Fonte: Traduzido e adaptado de Tinto (1975) AGOSTO 2020 PÁGINA 33 Continuando as discussões, trazemos para os debates Rumberger (2011). O autor americano, no artigo intitulado “Por que os alunos abandonam a escola e o que pode ser feito”, analisa a problemática da evasão com base em duas estruturas conceituais, a saber: perspectiva individual e perspectiva institucional. Segundo ele, os fatores individuais são aqueles que englobam os valores, atitudes e comportamentos dos estudantes. Já o institucional, focaliza a família, escola, comunidade e amigos. A referida pesquisa foi desenvolvida nos Estados Unidos e, por meio desta, o autor também discute se os E.U.A “têm a capacidade e vontade de reduzir as taxas de evasão e eliminar as disparidades nas taxas de abandono escolar entre grupos raciais e étnicos”. (RUMBERGER, 2011, tradução nossa). O autor afirma que os governadores e presidente dos E.U.A., nos anos de 1990, preocupados com o grande número de desistentes, adotaram seis metas educacionais para o ano de 2000. Em função desse plano, foi concedido mais de 1,5 bilhão aos estados e distritos para implementarem reformas que visassem a diminuição dos índices de evasão. Mas, por que essa preocupação com os desistentes? A explicação para isso, podemos visualizar na figura 5 que segue. Figura 4: Modelo de salas de aula, aprendizagem e permanência - TINTO, 1997 Fonte: Tinto (1997); Cislaghi (2008, p. 54) Além desse novo alcance para a integração social e acadêmica, conforme explanado pelo autor acima, Tinto, no novo modelo, traz também maior ênfase aos compromissos externos que ao longo do tempo também influenciam o processo de evasão. Ainda, neste, permanecem o background familiar, atributos individuais e escolaridade anterior do aluno como fatores que influenciam na permanência ou evasão do estudante, conforme podemos observar na figura 4 abaixo. [...] a integração social e acadêmica ganharam novo alcance e passaram a ser, juntamente com as técnicas pedagógicas e os meios tecnológicos disponíveis para estudantes e professores, componentes cruciais na aprendizagem. Como exemplo, as comunidades de estudo ou grupos de estudos colaborativos que transcendem os horários normais das aulas criam condições especiais para que os estudantes ultrapassem os limites normais existentes entre os relacionamentos acadêmicos e sociais. Este tipo de interação gera facilidades e reduz o esforço ou sacrifício necessários para que os estudantes aumentem seu nível de integração social e acadêmico, ao mesmo tempo. AGOSTO 2020 PÁGINA 34 Como se nota pela figura 5, os que desistem dos estudos trazem prejuízos diversos a sociedade e a eles próprios. Desse modo, infere-se o quãoé relevante pensar em sugestões que amenizem e controlem estes dados negativos no sistema educacional. Antes de se pensar em sugestões, faz-se necessário, também, compreender os motivos que levam os alunos a abandonarem a escola. Rumberger (2011) afirma que identificar as causas é algo extremamente difícil, pois vários fatores individuais e institucionais podem afetar esta decisão. Conforme já revelamos a partir do quadro conceitual elaborado por Tinto (1975), realmente a evasão está atrelada a diversas variáveis. Rumberger (2011), ao pesquisar outros estudiosos, destaca alguns fatores individuais que contribuem para o processo de evasão, como: · Mobilidade residencial e escolar; · Desempenho acadêmico fraco; · Falta de envolvimento do aluno no ambiente escolar; · Variáveis demográficas: raça, gênero, etnia, status de migração e antecedentes linguísticos; Na perspectiva institucional, o autor cita os seguintes fatores como influenciadores da evasão: · Fatores familiares (Conforme pesquisas realizadas pelo autor, a família exerce uma influência poderosa no desempenho escolar dos alunos); · Fatores escolares (composição do aluno, recursos da escola, estrutura escolar, políticas e práticas escolares); · Comunidades e pares. Figura 5: Problemas causados pela desistência Fonte: Rumberger (2011) Elaborado pela autora,2020 AGOSTO 2020 PÁGINA 35 Como afirma o autor em discussão, a evasão é a soma de diversos fatores. Estes podem estrar atrelados a aspectos individuais, como também institucionais, ou ainda, aos dois simultaneamente. Diante disso, o trabalho integrado entre gestores, professores, corpo técnico, família e comunidade local para dialogar e procurar compreender os motivos que causam o abandono é de fundamental relevância. Pois, não seria plausível apenas a escola trabalhar, por exemplo, com as “falhas acadêmicas”, problemas com notas, aprendizagem em geral, pois, como é proposto pelos estudiosos, as causas da evasão são múltiplas, assim também, as propostas têm que procurar atingir todos os segmentos ou pelos menos a maior parte destes. Rumberger (2011) afirma que a intervenção realizada de forma precoce pode ser a forma mais econômica e poderosa para prevenir o abandono escolar. Medidas preventivas de combate à evasão serão apresentadas em uma subseção deste trabalho.No entanto, antes de apresentarmos estas medidas preventivas, revelaremos pesquisas de outros autores nacionais que investigaram a evasão escolar na rede federal de educação profissional, cientifica e tecnológica. É o que revelaremos na próxima subseção. D is p o n ív e l e m :h t t p s ://b lo g .w p e n s a r.c o m .b r/w p -c o n t e n t /u p lo a d s /2 0 18 /10 /A R T IG O -5 -E S T R A T E G IA S -P A R A -D IM IN U IR -A -E V A S % C 3 % 8 3 O -E S C O L A R .p n g AGOSTO 2020 PÁGINA 36 3.2 EVASÃO ESCOLAR NA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA Estudos que versam acerca da evasão escolar na educação profissional, tanto no contexto nacional quanto internacional, estão disponibilizados pela Rede Ibero-Americana de Estudos sobre Educação Profissional e Evasão Escolar (RIMEPES). O principal objetivo da RIMEPES é o de fomentar estudos que colaborem para a formulação de políticas públicas que visem à prevenção da evasão escolar na educação técnica profissional de nível médio, nos países ibero-americanos Dore, Araújo e Mendes (2014). A RIMEPES foi criada em 2009 e integra pesquisadores de vários países. Nas palavras Maduro Silva (2018, p. 21) são: 33 pesquisadores e 27 instituições educacionais de 11 países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Uruguai) e da Europa (Itália, Portugal e Espanha), além da parceria em publicações com investigadores dos Estados Unidos e Japão. Com o intuito de consolidar os estudos provenientes da RIMEPES é lançado, em 2014, o livro “Evasão na educação: estudos, políticas e propostas de enfrentamento”. O referido livro reúne 16 (dezesseis) artigos que discutem políticas para a educação profissional e também versam estudos acerca da evasão escolar na na educação profissional e tecnológica. Sendo assim, os trabalhos desenvolvidos pela RIMEPES tornam-se uma importante fonte de estudos para ampliarmos o conhecimento sobre a evasão estudantil na educação profissional, pois as investigações sobre a evasão na EPT ainda são escassas, requerendo, assim, uma maior quantidade de pesquisas direcionadas para esta modalidade. Os estudos da pesquisadora Rosemary Dore, líder dos grupos de pesquisa da RIMEPES, contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa, principalmente, no que tange à crença de que a melhor forma para combater a evasão, é buscar meios para preveni- la. Através desta reflexão, surgiu a impulsão para desenvolver este produto educacional – E-book. Como vimos nas discussões da seção anterior, em que apresentamos os estudos de Tinto (1975; 1993) e Rumberger (2011), a evasão está associada a uma gama de fatores, que podem ser oriundos do plano individual, do institucional ou do contexto externo. Tinto (1975) nos revelou que analisar os fatores de pré-entrada estudantil é de suma importância para detectar problemas com a evasão. O autor ainda alerta que o estudante que tem uma boa integração acadêmica e social na instituição terá maiores oportunidades de concluir o curso. Rumberger (2011), também reforça que analisar os fatores individuais e institucionais nos quais os estudantes estão inseridos é de suma importância para entender o porquê ocorre à evasão escolar, pois as consequências decorrentes deste problema são graves, conforme também reflete Silva Filho et al. (2007, p.642): AGOSTO 2020 PÁGINA 37 [...] as perdas de estudantes que iniciam, mas não terminam seus cursos são desperdícios sociais, acadêmicos e econômicos. No setor público, são recursos públicos investidos sem o devido retorno. No setor privado, é uma importante perda de receitas. Em ambos os casos, a evasão é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço físico. 33 pesquisadores e 27 instituições educacionais de 11 países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Uruguai) e da Europa (Itália, Portugal e Espanha), além da parceria em publicações com investigadores dos Estados Unidos e Japão. Dessa forma, conforme explicitado pelos autores acima, há muitas perdas ocasionadas pela evasão que vão desde econômicas, sociais e também acadêmicas. Primordial também destacar que, além disso, o aluno que evade pode perder o interesse pelos estudos, visto que, dependendo do período que saia do ambiente escolar, pode não mais encontrar vagas para estudar em outra instituição e, assim, ficar sem estudar o restante do ano letivo. Este cenário pode ocasionar desmotivação ou falta de interesse para se matricular novamente . E por mencionar perdas, destacamos aqui a pesquisa realizada por Dourado, Mutim e Alecrim (2018), no Instituto Federal da Bahia – Campus Irecê, que nos revela um retrato de evasão alarmante, gerando estas perdas destacadas por Silva Filho et al (2007). Segundo os autores, nos anos de 2011 a 2014, o número de evadidos ultrapassou mais de 60% (sessenta) na maior parte das turmas investigadas. Os autores também demonstram que neste período (2011 a 2014) vários fatores aconteceram na instituição como: falta de profissionais, material didático básico e infraestrutura deficitária. Certamente, estes fatores contribuíram para o insucesso destes alunos e do Campus como um todo. Entendemos que a problemática da evasão não é somente uma perda para os alunos, mas ela também reflete no histórico da instituição, na gestão, no corpo docente e no sistema educacional como um todo. Para diminuir os índices de evasão escolar, Oliveira (2013), por meio de uma pesquisa no ensino médio técnico integrado, no Instituto Federal de Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) – Campus
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