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E-book - A evasão na educação profissional_ do entendimento da problemática a propostas de enfrentamento final

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Prévia do material em texto

A EVASÃO NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL: DO ENTENDIMENTO DA
PROBLEMÁTICA A PROPOSTAS DE
ENFRENTAMENTO
A U T O R A : M A R I V Â N I A D A S I L V A F E I T O S A
O R I E N T A D O R A : C R I S T I A N E A Y A L A D E O L I V E I R A
 AGOSTO
 2020
Cristiane Ayala de Oliveira possui graduação em Tecnologia em Agropecuária: Sistemas de
Produção pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS (2007), foi bolsista da
Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul - FAPERGS no projeto "Diagnóstico Sócio-
Econômico-Ambiental da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul (2005-2007). Possui outra
graduação em Tecnologia em Agroindústria, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Farroupilha - IF Farroupilha (2009). Possui Formação pedagógica através do Programa
Especial de Formação de Professores (PEG) pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-
2010). É Especialista em Processamento e Controle de Qualidade de Carne Leite e Ovos pela
Universidade Federal de Lavras - UFLA/MG (2009) e Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos
pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM (2011). Foi bolsista de mestrado da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (2010-2011). Possui
Doutorado (2015) através do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos pela
Universidade Federal de Lavras - UFLA na linha de pesquisa de Carnes e Derivados, onde foi
bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - período de
Março de 2011 à Setembro de 2012). Desde setembro de 2012, é professora do quadro efetivo do
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Sertão Pernambucano - IF Sertão-PE - Campus Salgueiro, ministrando aulas para o Curso Superior
de Tecnologia em Alimentos. Tem experiência na área de Agronomia,Ciência e Tecnologia de
Alimentos, Química dos Alimentos, Processamento e Controle de Qualidade de produtos de Origem
Animal e Vegetal. Foi coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Alimentos do IF Sertão-
PE - Campus Salgueiro nos biênios 2015-2016 e 2017-2018. Desde agosto de 2018, é
Coordenadora de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação do IF Sertão Pernambucano - Campus
Salgueiro. É também docente do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica -
ProfEPT, no Campus que é lotada.
Marivânia da Silva Feitosa é natural da cidade de Paulo Afonso - BA, fez graduação em Letras e
especialização em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa na UNIRIOS - Centro
Universitário do Rio São Franscisco, também na cidade de Paulo Afonso. Atualmente, é mestra em
Educação Profissional e Tecnológica pelo ProfEPT - Programa de pós-graduação em Educação
Profissional e Tecnológica, no IF Sertão - PE,Campus Salgueiro. Na parte profissional, é servidora
pública da UFAL - Universidade Federal de Alagoas, Campus Sertão, Delmiro Gouveia - AL, onde é
lotada na COGRAD - Coordenadoria de Graduação.
AUTORAS 
APRESENTAÇÃO
 O referido e-book foi fruto da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação Profissional e Tecnológica, realizado no IF Sertão - Campus Salgueiro,intitulada
"Evasão Escolar na Educação Profissional Científica e Tecnológica: reflexões e possibilidades de
enfrentamento". 
 Este material objetiva ser uma fonte de pesquisa para estudantes de graduação, pós-graduação,
professores da EPT e demais profissionais do setor educacional interessados em conhecer sobre a
história da Educação Profissional, ensino médio integrado e, principalmente, sobre o problema da
evasão que é tão presente na realidade brasileira. Além da reflexão em torno da evasão,
apresentamos algumas sugestões que podem ser adotadas para prevenir e colaborar para a
diminuição dos índices relativos a esta problemática, principalmente, no âmbito dos IFECTs -
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
 Assim, no que concerne à estrutura deste e-book, o mesmo foi dividido em quatro capítulos, a
saber: o primeiro contempla um breve histórico da educação profissional, no segundo,
apresentamos as discussões acerca do Ensino Médio Integrado, destacando a importância deste
para uma formação mais ampla do indivíduo, em que os pressupostos da politecnia podem ser
vislumbrados, no terceiro, debruçamos nas reflexões sobre evasão, procurando conceituá-la e
entender as causas e consequências deste fenômeno multifacetado, no quarto, revelamos
algumas estratégias colaborativas para prevenir e enfrentar este percalço que é comumente
encontrado na educação. No prosseguimento, apresentamos as considerações finais e referências
bibliográficas.
 Neste livro digital, o leitor ainda pode desfrutar de um "mergulho" a mais na compreensão dos
capítulos discutidos, obervando a seção " vamos saber mais", em que trazemos produções de
outros mestres do ProfEPT, que enriquece e aprofunda os diálogos por ora debatidos. Nestas
seções, estas produções podem ser acessadas por QR Code "Código de Resposta Rápida" ou por
meio de l ink. Para acessar o QR Code, é necessário que o leitor tenha instalado um aplicativo em
seu celular. Assim, será possível fazer a decodificação desses materiais. Caso não consiga ou não
possa instalá-lo em seu aparelho,o leitor poderá acessar o l ink e visualizar o material indicado. 
 Compreendemos que as inferências, aqui realizadas, não devem ser esgotadas neste trabalho,
mas sim, que sirvam como um material colaborativo e informativo sobre a evasão e permanência
escolar. Portanto, nosso objetivo não foi apresentar uma "receita pronta", até porque, como já dito,
a evasão é um fenômeno de causas múltiplas , portanto não se esgota em um único trabalho. O
ponto central, assim, perpassa pela reflexão do fenômeno da evasão, o entendimento de que a
prevenção é a maneira mais eficaz de combatê-la e que, nessa batalha, a união de todos os
sujeitos envolvidos: professores, técnicos, gestor, comunidade, governantes,aluno e família é
essencial. 
 A você leitor, desejamos uma ótima apreciação.
 Também, aqui, quero deixar meus sinceros agradecimentos. Assim, agradeço a minha
orientadora, Cristiane Ayala, ao coordenador do Mestrado no Campus de Salgueiro - PE ,
professor Kelsen Oliveira, demais professores do curso, colegas e amigos que formei nesta
trajetória, especialmente, a Roberta Gomes,Silvia, Lana, Elidiane, Antônio, Suemys e João Paulo.
Um agradecimento, especial, aos meus amigos da UFAL, Rute e Benício, pelo valioso apoio nesta
jornada. Também, quero agradecer a minha família, principalmente, a meu esposo José Marques
que me acompanhou em todos os momentos dessa longa e importante etapa da minha vida, aos
meus filhos, Melissa e Miguel, a minha sogra Alaíde, as minhas irmã Marta e Neide e ao meu
sobrinho, Victor Feitosa, pela grande colaboração. Ainda sou grata aos profissionais do IFBA e aos
ex-alunos que contribuíram com a pesquisa. Agradeço, mais que tudo, a Jeová Deus que me
fortaleceu e manteve meu equilíbrio em meio as turbulências que o mundo se encontra por causa
da pandemia. Ao Senhor, minha eterna gratidão.
SU
M
ÁR
IO
5 CAPÍTULO I - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃOPROFISSIONAL
11
15
23
28
CAPÍTULO I I -ENSINO MÉDIO INTEGRADO: EM BUSCA DE
UMA FORMAÇÃO MAIS HUMANIZADA
CAPÍTULO I I I - EVASÃO ESCOLAR - CONSIDERAÇÕES
INICIAIS E CONCEITOS
50 CAPÍTULO IV - VAMOS FALAR EM PREVENÇÃO DA EVASÃO?REFLETINDO ALGUMAS ESTRATÉGIAS COLABORATIVAS
1.1 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma proposta
para articular cultura, trabalho, ciência e tecnologia
2.1. Pressupostos para a formação integrada
32
37 3.2 Evasão Escolar na Rede Federal de Educação Profissional, Científica eTecnológica
3.1 Evasão Escolar no Âmbito Internacional
43 3.3 Avaliação Inicial da Evasão no IFBA - Campus Paulo Afonso 
3.4 Panorama Geral da Evasão no IFBA - Campus Paulo Afonso: um resumo a
partir dos dados quantitativos e qualitativos47
4.1 Quinze Estratégias para a Prevençãoda Evasão51
54 4.2 Questionário de pré-ingresso estudantil
58 4.3 Questionário da experiência institucional
62
67
4.4 Propostas de prevenção baseadas nos indicadores de evasão
predominantes no lócus da pesquisa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
69
4.5 Resumo das principais ações para o lócus da pesquisa
 Ao revisitarmos a história da educação profissional no Brasil,percebemos a prevalência explícita
da dualidade educacional: havia uma educação de cunho assistencialista, destinada às classes
menos favorecidas: órfãos, escravos e índios e, para os mais afortunados, uma educação
propedêutica, de cunho acadêmico, preparatória para o prosseguimento dos estudos. Infere-se,
assim, que a escola não foi institucionalizada para atender a todas as classes sociais, pois como
declaram Moura, Lima Filho e Silva (2015, p.1059): "Dessa forma, não foi essencial, inicialmente,
mas um luxo, porque foi concebida para atender aos interesses de uma determinada classe, a dos
dirigentes”.
 Portanto, percebe-se que foi sob a égide da dualidade, que a educação brasileira delineou seu
percurso, conforme atestam também Lima, F. Silva e L. Silva (2015, p. 120) “[...] a Educação
Profissional foi historicamente voltada para as classes populares enquanto o Ensino Superior era
destinado à elite. Essa realidade persistiu e chegou na 1ª década do século XXI, apesar de
atualmente ser menos perceptível”.
 Nas pesquisas que discorrem acerca da educação no processo de colonização do Brasil,
observa-se que, na pedagogia preconizada pelos padres jesuítas, havia a propagação da ideia de
que o trabalho desenvolvido por um determinado indivíduo deveria estar atrelado a sua classe
social. Asim, afirma Rocha (2005, p.6): “[...] a cada pessoa se deveria atribuir um tipo de trabalho,
conforme o lugar por ela socialmente ocupado”. Sendo assim, quando os jesuítas possibilitaram
aos escravos e a outros grupos vulneráveis socialmente, a aprendizagem de ofícios, como
artesãos, mestre de obras e outros, de imediato, estas profissões começaram a sofrer preconceitos
e, aqueles que as praticavam, começaram a abandoná-las (ROCHA,2005).
1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Disponível em :https ://revistapesquisa .fapesp .br/2019/12/03/ensino-de-oficio/#&gid=1&pid=1
AGOSTO 2020 PÁGINA 05
 Com o intuito de compreender melhor o percurso delineado pela educação, destacaremos, a
seguir, uma breve contextualização histórica, refletindo acerca de aspectos relevantes que
ocorreram antes da independência do Brasil até os dias atuais, no que tange à educação
profissional. Foram muitas as transformações e reconfigurações que a educação profissional
passou no decorrer dos anos no Brasil, conforme veremos.
 Nesse período, a educação profissional ainda era pouco visível. Nas palavras de Peres (2005,
p.12) “o ensino técnico – agrícola, comercial e industrial – ainda não passava de meras tentativas
e ensaios”. O desprestígio concernente ao trabalho manual e técnico também continuava. Assim,
os cursos técnicos apresentavam um “número reduzido de alunos – um pouco mais de uma
centena em 1864 –, esparsos por pequenas escolas comerciais e agrícolas”. (PERES,2005, p.13).
BRASIL IMPÉRIO
PRIMEIRA REPÚBLICA
 De acordo com Palma Filho (2005),nessa época, houve por parte do governo federal, várias
reformas no que tange ao Ensino Médio e Ensino Superior. No entanto, a escola continuava
segregadora, pois não atingia toda população em idade escolar. Em conformidade com Fernandes
(1966, p.47 apud PALMA FILHO, 2005, p.13), “embora entre 1900 e 1920 tenha havido um
crescimento significativo da população que sabia ler e escrever[...] o percentual dos que não
sabiam ler e escrever permaneceu o mesmo, ou seja, 65%”. Como podemos perceber, o quadro de
pessoas analfabetas ainda era alarmante e a escola continuava a excluir aqueles das classes
menos favorecidas.
 Relevante também destacar que, nesse contexto, ocorreram várias transformações
socioeconômicas, promovidas pela reestruturação da força de trabalho (agora não mais escrava) e
pelo desenvolvimento das atividades da indústria. Para qualificar os indivíduos para o mercado de
trabalho e também para preparar os desvalidos da sorte para um trabalho técnico, afastando da
ociosidade, era necessário um maior “investimento” na educação profissional. Assim, é criado o
Decreto nº 7.566, que instituiu à criação das Escolas de Aprendizes Artífices (EAAs.), criadas no
governo de Nilo Peçanha, em 1909. A partir deste decreto, são criadas 19 (dezenove) escolas em
várias unidades federativas do país. Em conformidade com documento Brasil (2011), a assinatura
do decreto 7.566/1909 “é considerado o marco inicial do ensino profissional, científico e
tecnológico de abrangência federal no Brasil”. Ainda no que tange a estas escolas, de acordo com
os estudos de Canali (2009), a evasão era muito alta nas EAAs, pois chegava a índices de mais de
50%. A autora também explicita que estas escolas tinham variados problemas, como: prédios com
estrutura deficitária, profissionais desqualificados, oficinas com funcionamento deficitário etc.
AGOSTO 2020 PÁGINA 06
 No ano de 1937, o então presidente Getúlio Vargas, outorgou a Carta Constitucional que, no seu
artigo 129, deixava claro que a educação profissional continuava a ser destinada às classes mais
baixas, o que continuou a perpetuar dualidade educacional. De acordo com Palma Filho (2005,
p.13) para à elite a oferta era do ginásio e colégios secundários e, para a grande massa, a oferta
se reduzia ao ensino técnico-profissionalizante. Ainda, neste ano, as Escolas de Aprendizes e
Artífices são transformadas em Liceus Industriais, destinados ao ensino profissional de todos os
ramos e graus (BRASIL, 2011). Já no ano de 1942, tivemos a reforma empenhada por Gustavo
Capanema. Esta,segundo Canali (2009), tinha o objetivo de formar mão de obra para atender à
demanda do mercado de trabalho, mas o ingresso para o ensino superior continuava a ser um
empecilho para a classe trabalhadora. Como expressa Anísio Teixeira “de um lado a escola para
os nossos filhos, de outro, a escola para os filhos dos outros” (PALMA FILHO, 2005, p. 13).
 Por meio do Decreto nº 4.127, de 25 de fevereiro de 1942, os Liceus Industriais passaram a ser
denominados de Escolas Industriais e Técnicas (EITs) e estas, de acordo com o documento Brasil,
(2009, p.4) tinham o intuito de "[..] oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do
secundário".Nos anos seguintes, ainda no referido governo, foram criados o Serviço Nacional da
Indústria - SENAI (1942) e, alguns anos após (1946) o SENAC - Serviço Nacional do Comércio.
Segundo reflete Manfredi (2017), a educação promovida pelo sistema S é bastante criticada, pois
objetiva somente atender a necessidade do mercado, bem nos moldes da formação tecnicista.
ERA VARGAS
GOVERNO JK
GOVERNO JK
 No governo de Juscelino Kubitschek,1959, as Escolas Industriais e Técnicas foram
transformadas em autarquias e passaram a ser chamadas de Escolas Técnicas Federais. Estas
foram contempladas com autonomia didática e de gestão. Toda essa efervescência foi motivada
pelo grande processo de industrialização que o país passava (BRASIL, 2009).
AGOSTO 2020 PÁGINA 07
 Em 1961, tivemos a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a de nº
4024/1961. Nesta, houve um avanço, pelo menos nos moldes da lei, pois determinou “plena
equivalência entre todos os cursos do mesmo nível sem a necessidade de exames e provas de
conhecimento visando à equiparação” (MOURA, 2007, p. 11). Ainda de acordo com o referido
autor, no entanto, na prática, os currículos continuavam a perpetuar a dualidade, pois nos
currículos dos cursos profissionalizantes, os conteúdos eram elaborados para a atender as
especificidades do mercado trabalho, já para os cursos que visavam a continuidade dos estudos,
ou seja, o acesso ao nível superior, eram privilegiados os conteúdos para este fim.
GOVERNO JK
 No ano de 1971, sob o governo militar, foi promulgada aLei nº 5.692/71, com a pretensão de
instituir o ensino do 2º grau como sendo profissionalizante para todas as classes. (CANALI,2009).
Segundo Palma Filho (2005), esta plenitude de profissionalização tinha como meta conter a
demanda que crescia pelo ensino superior. Ainda de acordo com Palma Filho (2005, p. 18) “ os
formuladores da política educacional temem que, se esta expansão não for contida, ela criará um
exército de desempregados de nível superior”.
 Portanto, o que realmente esta reforma propôs foi conter o acesso dos sujeitos ao nível superior
e procurar atender logo a demanda do mercado do trabalho. Isso porque, segundo Manfredi
(2017), nesse período o país estava buscando participar da economia internacional e, assim,
necessitava de um contingente de trabalhadores preparados para atuarem no mercado de trabalho.
GOVERNO GOULART
GOVERNO MÉDICI
GOVERNO GEISEL
 Ainda neste contexto de governo militar, em 1978, no governo de Ernesto Geisel, surgiram os
Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), com o objetivo de formar profissionais na
área de engenharia de operação e tecnólogos. (BRASIL,2011).
AGOSTO 2020 PÁGINA 08
 Após o estabelecimento da democracia (1985), tivemos a promulgação da Constituição Cidadã,
como é conhecida a constituição de 1988. Esta propôs grandes avanços, como: o direito à
educação é vislumbrado como pertencente a qualquer cidadão, sendo assim, independentemente
da classe social, o estado deveria ofertar o ensino público e, não necessariamente , só para
aqueles que comprovassem escassez de recursos.( art. 208 (1º e 2º);estado, município e união
tem suas funções, quanto ao custeio da educação, expressos claramente; as comunidades
indígenas passaram a ter sua língua materna valorizada, pois foi assegurada o seu uso e
processos próprios de aprendizagem (art. 210, §2º), dentre outros destaques.(PALMA FILHO,
2005).
GOVERNO JK
 Em 1996, nesse governo, após sucessivos debates, é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação - LDB de nº 9.394. Na visão de Moura (2007, p. 15): “O texto é minimalista e ambíguo
em geral e, em particular, no que se refere a essa relação – ensino médio e educação
profissional”. O autor, ainda pontua, que o ensino médio é vislumbrado no texto da LDB como
sendo parte da educação básica e, a educação profissional, é colocada em um capítulo a parte,
explicitada por três pequenos artigos. Nessa concepção, Moura (2007) conclui que a dualidade
educacional vislumbrada desde os primórdios da educação no Brasil é também notadamente
expressa na lei em discussão.
 No ano 2003, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, novos diálogos são lançados e é revogado
o Decreto nº 2.208, de 1997. Surge, então, o Decreto 5.154/2004, que regulamentou o § 2º do
artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Com este novo
decreto, é mantido a possibilidade de oferta dos cursos técnicos tanto na forma concomitante,
quanto subsequente.
DEMOCRACIA
GOVERNO FHC
GOVERNO LULA
AGOSTO 2020 PÁGINA 09
 No entanto, o diferencial está para a oferta do ensino médio integrado à educação profissional,
que, segundo Moura (2007, p. 20) "não se confunde totalmente com a educação tecnológica ou
politécnica, mas que aponta em sua direção porque contém os princípios de sua construção".
 Três anos depois do decreto acima mencionado, é proposto o decreto nº 6.302, de 2007, que
estabelece o Programa Brasil Profissionalizado. Este, segundo consta no documento Brasil (2007),
visa “estimular o ensino médio integrado à educação profissional, enfatizando a educação
científica e humanística, por meio da articulação entre formação geral e educação profissional no
contexto dos arranjos produtivos e das vocações locais e regionais”.
 A proposta, a priori, parece ser plausível, no entanto como destacam (MOURA; LIMA FILHO;
SILVA, 2015, p. 1073-1074):
GOVERNO JK
 
Esse programa foi estruturado de modo que a União financie a infraestrutura
enquanto os eetados assegurem algumas rrntrapartidas, entre elas a criação
ou adequação do quadro docente. Em razão de distorções decorrentes do
nosso pacto federativo, a maioria dos estados, apesar de terem apresentado
projeto e recebido, não tem nem está constituindo quadro de professores
efetivos, especialmente no que se refere às disciplinas específicas da
educação profissional, e o curso técnico de nível médio continua sem avançar
na maioria dos estados.
 
 Assim, os autores acima nos trazem essa alerta de não constituição de um quadro docente
efetivo, maximizando, assim, contratações que, a nosso ver, não constitui uma forma
potencializadora da formação integrada.
 A nossa Carta Magna estabelece a educação como um direito de todos, mas Kuenzer (2007, p.
1170) alerta que “há uma aparente disponibilização das oportunidades educacionais, por meio de
múltiplas modalidades e diferentes naturezas, que se caracterizam por seu caráter desigual e, na
maioria das vezes, meramente certificatório [..]”.
 Sendo assim, a educação pode até está sendo ofertada com mais amplitude, mas, não igual para
todos os membros, porque, como revela a autora acima, muitos só adquirem o certificado através
de cursos que são realizados sem eficiência acadêmica, o que torna uma pseudo inclusão
educacional.
 Uma perspectiva diferenciada desta que Kuenzer (2007) apresenta é vislumbrada com a criação
dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia. A subseção que segue tratará dessa
perspectiva.
AGOSTO 2020 PÁGINA 10
 No ano de 2008, por meio da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro, são
criados os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia,
representando um marco na história da Educação Profissional.
Entendemos que os institutos federais proporcionam, aos seus
educandos, o acesso a uma educação pública e de qualidade. Através
dessas instituições, os sujeitos podem fazer cursos de qualificação,
estudar o ensino médio integrado, cursos superiores de tecnologia,
licenciaturas e também podem prosseguir com os cursos de pós-
graduação, em programas lato e stricto sensu. Atualmente,
contabilizam-se : 38 institutos federais, 02 CEFETs, 25 escolas
vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e uma Universidade
Tecnológica. (BRASIL, 2016).O número de institutos e campi por
região, pode ser melhor visualizado pelo gráfico 1, a seguir.
 
 É notório que houve uma grande expansão e interiorização da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica nos
últimos anos. No que tange à educação profissional na Bahia, de
acordo com a Plataforma Nilo Peçanha (2019) , o território baiano
conta com os seguintes institutos: IFBA – Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, com 21 (vinte e um)
campi e o IF Baiano - Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Baiano, com 15 (quinze) campi. Silva (2014) revela que a
expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
tem o intuito de democratizar o acesso a educação profissional, e,
principalmente, contribuir para o fomento dos locais que estes se
encontram.
Atualmente,
contabilizam-
se : 38
institutos
federais, 02
CEFETs, 25
escolas
vinculadas a
Universidades,
o Colégio
Pedro II e uma
Universidade
Tecnológica. 
MEC,2016
1.1 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: uma
proposta para articular trabalho, cultura, ciência e tecnologia
AGOSTO 2020 PÁGINA 11
Fonte: Plataforma Nilo Peçanha
Elaborada pela autora,2020
Gráfico 1: Número de Unidade/Campi
 A expansão dos IFECTs beneficiou também a cidade de Paulo
Afonso-BA. O IFBA, Campus Paulo Afonso, foi inaugurado no ano de
2010 e teve autorização para funcionamento através da Portaria nº 105,
de 29 de janeiro de 2010, publicada no DOU de 01/02/2010. Este
funciona nas instalações do antigo COLEPA – Colégio Paulo Afonso,
que foi reformado para atender a demanda da instituição, contando,
também, com uma Usina de Biodiesel. O referido Campus ofereceu,
inicialmente, os cursos de Biocombustíveis, Eletromecânica e
Informática, nas modalidadesintegrada e subsequente. Atualmente, o
curso de Biocombustíveis na modalidade subsequente não está sendo
mais ofertado. (IFBA, 2020).
 Nos referidos cursos técnicos, são disponibilizadas 30 (trinta) vagas,
por curso, anualmente. No Integrado, o aluno estuda o Ensino Médio e
o curso técnico simultaneamente. Tais cursos têm duração de três ou
quatro anos, a depender do curso. Já no Subsequente, o foco é o
ensino técnico. O aluno já deve ter concluído o Ensino Médio ou
concluí-lo até a data da matrícula. A duração é de dois anos. O instituto
também oferta o curso superior de Engenharia Elétrica, já reconhecido
pelo MEC. A escolha dos referidos cursos, foram por meio de
audiências públicas na comunidade. ( IFBA, 2020).
 O mencionado instituto beneficia vários estudantes de Paulo Afonso,
cidade sede, como também, aqueles das cidades inseridas num raio de
até 120 km. Assim, percebe-se a importância desse Campus para a
região e como o mesmo potencializa o acesso à educação gratuita e de
qualidade, tanto no nível médio técnico, quanto no superior, ofertando,
aos seus alunos “formação permanente, para aquisição de
competências e habilidades do aprender a aprender, aprender a fazer,
aprender a ser e aprender a conviver no mais amplo sentido do
desenvolvimento pessoal, social e profissional”. ( IFBA, 2020).
 De acordo com Pacheco (2010), a formação proporcionada pelos
institutos federais deve articular trabalho, ciência e cultura, na
perspectiva da emancipação dos sujeitos. O autor também reflete que a
orientação pedagógica dessas instituições deve recusar o ensino
meramente enciclopédico e visar uma formação mais integral em que o
sujeito possa atuar criticamente na sociedade.
 Ainda segundo Pacheco (2010, p.16) os institutos federais pautam-se
“na construção de uma rede de saberes que entrelaça cultura, trabalho,
ciência e tecnologia em favor da sociedade, identificam-se como
verdadeiras incubadoras de políticas sociais”.
 A perspectiva de formação proporcionada pelos IFECTs aponta para
uma formação humana integral, conforme vislumbramos pelos diálogos
acima, na qual os sujeitos são preparados para uma formação
profissional e, também, têm potencial para avançar no ensino
superior.Sendo assim, parece-nos ser uma proposta viável a expandir
pelas escolas brasileiras. No entanto, atendendo mais a lógica
imediatista do mercado e não preocupado com uma formação humana
integral, o governo, sem dialogar com a sociedade, impõe-nos a
Reforma do Ensino Médio, sancionada pela Lei nº 13.415, de 16 de
fevereiro de 2017, que surgiu a partir da Medida Provisória 746, de
2016.
 
O EMI “não
se confunde
totalmente
com a
educação
tecnológica
ou
politécnica,
mas que
aponta em
sua direção
porque
contém os
princípios de
sua
construção"
Moura,2007
Disponível em :https ://portal .ifba .edu .br/paulo-afonso/anexos/banners/ifba-fachada-4 .jpg/@@images/8da3c1af-2d85-488f-a1ff-205f72282703 .jpeg
AGOSTO 2020 PÁGINA 12
 O novo panorama que nos foi imposto, cabe-nos indagar: o que esta
reforma vem implicar para o ensino profissional? Segundo aponta
Lemos et al (2017, p.456), esta reforma “ traz à tona as concepções
políticas conservadoras/ liberais do “novo governo” e aponta para um
tratamento de descaso para com a Educação Profissional,
especificamente no que se refere ao Ensino Médio Integrado (EMI)”.Os
autores agora citados ainda refletem que a velha história volta a se
repetir: para uns, a possibilidade de avançar nos estudos, alcançar o
ensino superior e, para aqueles que optarem pelo ensino profissional, a
estagnação está declarada,pois com o currículo dessa oferta, aqueles
que optarem por este tipo de formação, terão conteúdos tão
fragmentados que dificilmente alcançarão o nível superior, pois o
“itinerário formativo” não lhes serão favoráveis.
 Ainda nas palavras de Lemos et al (2017, p. 457), “isto significa que,
para os alunos deste segmento social, o ensino profissionalizante
assume um caráter de terminalidade não por escolha pessoal, mas por
imposição do próprio sistema de ensino, econômico e social vigentes”.
Os mais afetados pela lei em discussão serão os educandos da rede
estadual, assim alerta Ferreti; Silva (2017, p. 392): 
 Sendo assim, podemos perceber que a figura do “ Ornitorrinco” está
cada vez mais viva na sociedade brasileira. O Ornitorrinco é o nome
que Oliveira (2015) encontrou para representar o nosso país. Segundo
o autor, o Brasil é um “bicho” esquisito, não por sua natureza, pois esta
tem belezas incontáveis, e sim, por suas estranhezas realizadas no
âmbito da política (que objetiva interesses próprios em detrimento do
coletivo), da economia (que prioriza uma eterna dependência do capital
estrangeiro) e no meio social segregador (que resplandece cenários de
ostentação para uns e de extrema pobreza para outros). 
 Por todas essas contradições, Oliveira (2015) denominou o Brasil de
Ornitorrinco, um ser estranho na escala da evolução. No entanto, como
destaca Moura (2013, p. 719): “É preciso atuar em meio às contradições
do modelo hegemônico vigente no sentido de produzir movimentos que
contribuam para o rompimento da dualidade educacional, o que também
contribuirá para a superação do sistema capital".
 Portanto, que concentremos nessa travessia rumo a uma educação
menos dual e que, as hipóteses levantadas por Ferreti;Silva (2017),
possam ser verídicas, no que tange ao ensino médio integrado, pelo
menos de sua continuidade na rede federal de ensino.
 Após delinearmos este percurso, histórico acerca da educação
profissional, nossa concentração, agora, seguirá para a compreensão do
Ensino Médio Integrado. É o que focalizaremos a seguir. Mas, antes
disso, aprecie a próxima página e fique mais informado (a) acerca da
história da EPT.
 “É preciso
atuar em
meio às
contradições
do modelo
hegemônico
vigente no
sentido de
produzir
movimentos
que
contribuam
para o
rompimento
da dualidade
educacional,
o que
também
contribuirá
para a
superação do
sistema
capital".
Moura,2013
Por coerência e opção epistemológica, essa MP propõe que
desapareça da cena, no âmbito dos governos estaduais, a proposta de
integração no ensino médio e deste com a educação profissional, ainda
que se possa levantar a hipótese de sua continuidade nos Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, por sua autonomia
pedagógico-administrativa e por pertencerem à rede federal de ensino.
Disponível em :https ://vermelho .org .br/wp-content/uploads/2020/01/ensino-medio .jpeg
AGOSTO 2020 PÁGINA 13
VAMOS SABER MAIS?
ACESSE O LINK OU O QR CODE
PARA SABER MAIS SOBRE A
HISTÓRIA DA EPT
 Para saber mais sobre a história da EPT, acesse o vídeo , “ A
origem de uma nova institucionalidade em EPT”, que é um produto
educacional,fruto da pesquisa realizada por Silvia Schiedck e
orientada pela Drª Maria Cristina Caminha de Castilhos França. 
 No vídeo, participaram vários teóricos da Educação Profissional,
como Dante Moura, Eliezer Pachêco, Gaudêncio Frigotto, Maria
Ciavatta, Marise Ramos,dentre outros. Na fala desses sujeitos que
participaram da concepção e implementação dos Institutos
Federais, notamos como a proposta idealizada para os IFECTs , do
currículo integrado, do ensino politécnico, priorizando uma
educação menos dual representou um grande avanço para a EPT.
No entanto, o grande desafio, como alerta a professora Jaqueline
Moll é “manter-se de pé”. 
Disponível em :http ://www .sindepominas .com .br/images/demo/imagem-de-destaque .jpg
Acesse:http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/433129
AGOSTO 2020 PÁGINA 14
2 ENSINO MÉDIO INTEGRADO: EM
BUSCA DE UMA FORMAÇÃO MAIS
HUMANIZADA
"Evidentemente , não posso levar
meus dias como professor a
perguntar aos alunos o que
acham de mim ou como me
avaliam . Mas devo estar atento à
leitura que fazem de minha
atividade com eles . Precisamos
aprender a compreender a
significação de um silêncio , ou
de um sorriso ou de uma
retirada da sala".
Paulo Freire
 No capítulo anterior, revelamos que a educação brasileira, desde a sua concepção,foi marcada
pela dualidade. Esta discrepância percebia-se na oferta de educação propedêutica para uns e
ensino profissionalizante para outros, valorização do trabalho intelectual e desvalorização do
trabalho manual, supremacia da cultura elitista em detrimento da cultura popular, conforme já
apresentamos nos parágrafos anteriores ao leitor. Foi assim que os dirigentes do gigante, chamado
Brasil, delinearam a educação para o seu povo. Em suma: para aqueles que possuíam um melhor
poder aquisitivo, a educação era voltada para ascensão ao nível superior, para formar sujeitos
para o comando do país, para os indivíduos da base da pirâmide, a oferta era de uma educação
que visava atender a demanda do mercado de trabalho, os operários, os subalternos, com
perspectiva educacional para educação superior reduzidas.
 No entanto, vimos, também, que esse quadro de discrepâncias, teve uma possibilidade de
mudança, com a gênese do decreto nº 5.154/2004, que regulamentou o § 2º do artigo 36 e os
artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Neste decreto, como apontam
Frigotto, Ciavatta e Ramos (2012, p. 44) “ pretende reinstaurar um novo ponto de partida para essa
travessia, de tal forma que o horizonte do ensino médio seja a consolidação da formação básica
unitária e politécnica [..]”. Que travessia é essa que os autores mencionam?
 Os autores revelam que é uma travessia visando uma “nova realidade”. Realidade esta que seja
manifestada em oferta de melhores condições educacionais também para os filhos da classe
trabalhadora, para que estes possam ser formados não apenas para servir aos anseios do mercado
de trabalho, mas que também tenham a oportunidade de avançar na carreira e cursar o ensino 
Disponível em : https ://www .ucv .edu .br/conteudo/wp-content/uploads/2019/12/sala-
de-aula-invertida .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 15
superior, se assim desejarem. Então, é sob
essa perspectiva de mudança, de novas
oportunidades educacionais, que nasce o
ensino médio integrado ao ensino técnico.
 Moura (2013) vem afirmar que como o
capitalismo e a burguesia ainda são
hegemônicos, os ideais da politecnica e da
escola unitária, em sua plenitude, só podem
ser vislumbrados numa perspectiva futura,
quando a classe dos trabalhadores conquistar
o poder político. Assim sendo, o autor conclui
que o Ensino Médio Integrado – EMI, pode ser
“considerado o germe da formação humana
integral, omnilateral ou politécnica” (MOURA,
2013, p.707). Que esse germe não seja
lançado no vácuo, mas que se propague, se
multiplique, mesmo com todas as forças
antagônicas que estamos vivenciando. É o que
esperamos.
 Mencionamos acerca de politecnia e escola
unitária no parágrafo anterior, mas quais são
os ideais dessas concepções? De acordo com
Ramos (2014, p. 38): 
[...]o ideário da politecnia buscava romper com a
dicotomia entre educação básica e técnica,
resgatando o princípio da formação humana em sua
totalidade; em termos epistemológicos e
pedagógicos, esse ideário defendia um ensino que
integrasse ciência e cultura, humanismo e
tecnologia, visando ao desenvolvimento de todas as
potencialidades humanas.
 Portanto, como destaca a autora, a politecnia é
vista como uma proposta de ruptura do sistema dual,
visando, assim, formar o sujeito em sua totalidade,
integrando, nesta, os princípios científicos,
humanísticos, tecnológicos e culturais, como afirma a
referida autora.
“[...]o ideário da politecnia buscava romper com a dicotomia entre educação básica e técnica, resgatando
o princípio da formação humana em sua totalidade...". Ramos,2014
Disponível emhttp ://www .comciencia .br/wp-content/uploads/2018/11/ensinotecnico-672x372 .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 16
 O ensino politécnico tem suas raízes nos
estudos de Marx e Engels e, a escola unitária,
tem como expoente Gramsci. Saviani (2007)
aponta que a escola unitária é correspondente,
no que tange ao Brasil, ao ensino fundamental
e médio.
 Segundo Gramsci (1982, p. 121 apud
MOURA 2013, p.711) a escola unitária é
entendida como: 
 No entanto, como também nos revela Moura
(2013, p.711) “Marx e Engels se referem à
politecnia em seu sentido pleno como uma
perspectiva educacional futura, Gramsci
também considera a escola unitária dessa
forma”. Sendo assim, enquanto não podemos
desfrutar dessa plenitude, que ofertemos aos
jovens que necessitam trabalhar e estudar,
uma educação mais igualitária, que como
destaca Ciavatta (2012, p.84) “ a educação
geral se torne parte inseparável da educação
profissional em todos os campos onde se dá a
preparação para o trabalho [..]”.
 O argumento de Ciavatta merece uma
reflexão: se educação geral e a profissional
devem ser pautadas pela integração, quais são
elementos básicos que devem compor o
currículo direcionado para a formação
integrada?
 Antes de revelarmos os elementos
constituintes do currículo integrado, vamos
apresentar a definição de currículo, como este 
 
“Marx e Engels se referem à politecnia em seu sentido pleno como uma perspectiva educacional
futura, Gramsci também considera a escola unitária dessa forma”.
Moura,2013
A escola unitária ou de formação humanista
(entendido este termo, ‘humanismo’, em sentido
amplo e não apenas em sentido tradicional) ou de
cultura geral deveria se propor a tarefa de inserir
os jovens na atividade social, depois de tê-los
levado a um certo grau de maturidade e
capacidade, à criação intelectual e prática e a
uma certa autonomia na orientação e na
iniciativa.
 Pela citação acima, Gramsci aponta que a
profissionalização dos jovens deveria ocorrer só após
a formação na escola unitária. Marx e Engels, também
não defendem a profissionalização precoce
(MOURA,2013). 
Disponível em : https ://www .falabarreiras .com/wp-content/uploads/2015/07/secretaria-011 .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 17
é relevante para o direcionamento do processo
de ensino-aprendizagem que se pretende
instaurar na instituição e também a
importância de se ter professores mediadores
deste processo.
 Ramos (2014, p. 87), apresenta a seguinte
definição:
dos problemas, valorização da diversidade
cultural, dentre outras nuances. Ainda,
segundo destacam Araújo e Frigotto (2015,
p.68), na perspectiva de formação integrada, o
objetivo é “[...] formar o indivíduo em suas
múltiplas capacidades: de trabalhar, de viver
coletivamente e agir autonomamente sobre a
realidade, contribuindo para a construção de
uma sociabilidade de fraternidade e de justiça
social”. 
 Para que essa integração ocorra realmente,
é muito importante a atuação do professor
como mediador desse processo, como
destacam os autores abaixo, na pesquisa
realizada com os docentes sobre suas práticas
de integração curricular do IFMT - Campus
Cáceres. De acordo com (RODRIGUES; DE
ARAÚJO,2017, p. 3), nessa concepção de
currículo integrado, o professor é
“compreendido como mediador e articulador do
processo de ensino e de aprendizagem, 
 
Na perspectiva de formação integrada, o objetivo é“[...] formar o indivíduo em suas múltiplas
capacidades: de trabalhar, de viver coletivamente e agir autonomamente sobre a realidade, contribuindo
para a construção de uma sociabilidade de fraternidade e de justiça social”. Araújo e Frigotto (2015)
O currículo integrado organiza o conhecimento e
desenvolve o processo de ensino-aprendizagem
de forma que os conceitos sejam apreendidos
como sistema de relações de uma totalidade
concreta que se pretende explicar/compreender.
 A autora destaca a importância que o currículo tem
de organizar e desenvolver os processos relacionados
ao ensino e a aprendizagem dos indivíduos. Entende-
se, ainda, que o currículo integrado deve-se buscar a
emancipação dos educandos, valorizando os
conhecimentos prévios destes, integração entre teoria
e prática, desenvolvimento de projetos 
 interdisciplinares, incentivo à pesquisa, resolução 
Disponível em : https ://nova-escola-producao .s3 .amazonaws .com/GjhD2w6devMhRZgaTuZwx5PyXKuzXFPMWTHkBW67ANCdevvCVHEQ9aJHzkm9/blog-
coordenadoras-reuniao-curriculo .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA18
visando à construção do sujeito histórico,
social e afetivo”. Então, a figura do professor
como único detentor do saber e o educando
como ser passivo, são completamente
antagônicas para a concepção de currículo
integrado. Portanto, que floresçam cada vez
mais educadores que sejam mediadores e
potencializadores do processo de ensino-
aprendizagem.
 Entendido o que é currículo, passamos,
agora, a concentrarmos nos componentes base
do currículo integrado, a saber: trabalho,
ciência, tecnologia e cultura. Essas categorias,
Ramos (2014) afirma que são indissociáveis
para a formação humana, afirmando que o
trabalho é visto como categoria central, em
seus sentidos ontológico e histórico, os quais
explicaremos melhor nos parágrafos seguintes.
 No que tange ao trabalho, o conceito aqui
defendido não é do trabalho apenas como um
meio de provento, uma atividade que vise
apenas uma relação de recompensa por algo, 
mas sim, em um significado mais amplo, em
suas dimensões ontológica e histórica. Nas
palavras de Lukács, 1978(apud RAMOS 2014,
p.91), estes termos são vistos da seguinte
forma:
 
“ O trabalho, ciência, tecnologia e cultura são categorias indissociáveis para a formação humana.”
Ramos, 2014
a) ontológico, como práxis humana e, então, como a
forma pela qual o homem produz sua própria existência
na relação com a natureza e com os outros homens e,
assim, produz conhecimentos;
b) histórico que no sistema capitalista se transforma
em trabalho assalariado ou fator econômico, forma
específica da produção da existência humana sob o
capitalismo;
 Sendo assim, a categoria ontológica do trabalho
expressa a relação do homem com sua própria
existência e também com a transformação social. Já o
sentido histórico, diz respeito as mudanças nos
modos de produção ocorridas no mundo do trabalho
com o passar dos tempos, como por exemplo, o modo
escravista e o assalariado.
Disponível em : http ://www .midiadrops .com/wp-content/uploads/2016/03/kaboompics .com_Working-in-a-group_kaboompics .com_-768x512 .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 19
 Ainda concernente ao trabalho, Ramos
(2014, p.90) vem enfatizar que “a concepção
do trabalho como princípio educativo é a base
para a organização e desenvolvimento
curricular em seus objetivos conteúdos e
métodos”. A referida autora ainda menciona
que considerar o trabalho como princípio
educativo, é o mesmo que reconhecer que o
homem cria sua realidade, apropria-se dela e a
transforma.
 No que tange à ciência, outro componente
base para o currículo integrado, Ramos (2014)
vem esclarecer que esta diz respeito aos
conhecimentos que foram produzidos e
validados pela sociedade ao longo dos tempos.
A autora ainda enfatiza que:
 No que diz respeito à tecnologia, ainda
segundo Ramos (2014), esta atua modificando
uma realidade, dando uma outra configuração
tanto a base técnica, quanto as relações que
envolvem os seres humanos. Constantemente,
o ser humano promove novas invenções
tecnológicas, aprimorando e ressignificando as
técnicas utilizadas. Portanto, é fundamental
que sejam intensificados na escolas, colégios
e institutos estudos que promovam o avanço
ou geração de novas tecnologias para a
sociedade, tanto em contextos locais quanto
regionais, e que, estas ações, sejam
divulgadas e compartilhadas para outros
ambientes. Avanços positivos necessitam ser
publicizados para que contribuam com a
melhoria de outras pessoas.
 Já a cultura, diz respeito aos saberes
acumulados pelo homem no decorrer da
história. Está relacionada a crenças, valores,
atitudes e conhecimento dos seres humanos.
Ramos (2014, p.87) declara que a cultura 
 
“A concepção do trabalho como princípio educativo é a base para a organização e desenvolvimento
curricular em seus objetivos conteúdos e métodos”. Ramos,2014
[..] na formação profissional o conhecimento científico
adquire, para o trabalhador, o sentido de força
produtiva, traduzindo-se em técnicas e procedimentos,
a partir da compreensão dos conceitos científicos e
tecnológicos básicos que o possibilitarão à atuação
autônoma e consciente na dinâmica econômica da
sociedade. (RAMOS 2014, p. 92)
Disponível em : https ://spaceks .net/noticias/20200515174004 .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 20
 “corresponde aos valores éticos e estéticos
que orientam as normas de conduta de uma
sociedade. Entendemos, também, que as
crenças e valores de um grupo social ou povo,
devem ser respeitadas e que, a escola, deve
promover a conscientização desse respeito à
cultura do outro, ofertando assim, aulas que
contemplem a diversidade cultural que é
inerente ao Brasil.
 Como podemos notar pelas explicações
referentes aos componentes da base curricular
para um currículo integrado (trabalho, ciência,
tecnologia e cultura), a formação que se
pretende com essa concepção é realmente
ampla, pois o objetivo é potencializar a
criticidade dos educandos, a autonomia, o
aprimoramento e/ou desenvolvimento de novas
tecnologias que beneficiem a sociedade,
levando também em consideração a cultura, o
conhecimento acumulado com o tempo. Sendo
assim, a pedagogia que se prática é das
práxis em detrimento da pedagogia 
das competências, que visa somente adestrar
os sujeitos para o mercado de trabalho. A
figura 1 representa os eixos, as bases que
compõem o ensino médio integrado.
 Figura 1: Componentes do Currículo Integrado 
 Fonte: Elaborado pela autora,2020
"O desafio é educar as crianças e os jovens propiciando-lhes um desenvolvimento humano, cultural,
científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para fazer frente às exigências do mundo
contemporâneo“. Charlot,2014
Disponível em :https ://www .gestaoeducacional .com .br/wp-content/uploads/2019/02/Cultura-brasileira3 .png
AGOSTO 2020 PÁGINA 21
 A partir das discussões tecidas até esse
momento, corroboramos com o conceito de
ensino médio integrado compartilhado por
Araújo e Frigotto (2015, p.62) que assim
revelam:
 
 Após essas discussões acerca da gênese do
ensino médio integrado, vamos direcionar
nossa reflexão para alguns pressupostos
necessários para a formação integrada,
conforme apresentaremos na subseção
seguinte.
“O ensino médio integrado é uma proposição pedagógica que se compromete com a utopia de uma
formação inteira [...]". Araújo e Frigotto, 2015
O ensino médio integrado é uma proposição pedagógica que
se compromete com a utopia de uma formação inteira, que
não se satisfaz com a socialização de fragmentos da cultura
sistematizada e que compreende como direito de todos ao
acesso a um processo formativo, inclusive escolar, que
promova o desenvolvimento de suas amplas faculdades
físicas e intelectuais.
 Portanto, a proposta do ensino médio
integrado é o de permitir uma formação ampla
do indivíduo, conforme já mencionamos,
visando formar cidadãos atuantes no meio
social, capazes de construírem uma sociedade
mais justa e fraterna. Justiça essa que seja
visualizada pelo respeito ao ser humano
independentemente de status social, cultura,
religião ou etnia. Que possamos olhar para o
outro e enxergar simplesmente como
semelhante.
Disponível em : https ://nova-escola-producao .s3 .amazonaws .com/DvFE4NYjxRry2nRmgCe4uSkXmWS2eE9zhPhS5ncPnfSqFW7AB9qZZFTymh6V/blendedlearning .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 22
 Os pressupostos que seguem são
destacados por Ciavatta (2012), no artigo
intitulado “ A formação integrada: escola e o
trabalho como lugares de memória e de
identidade”. A mencionada autora elenca 07
(sete) pressuposições que influenciam a
materialização de uma formação integrada. Em
resumo, os pressupostos são estes elencados
abaixo.
 O primeiro pressuposto da formação
integrada é a existência de um projeto de
sociedade. Neste, a autora enfatiza a
importância das instâncias ligadas à educação
(governo federal, secretarias de educação
direção escolar e professores), portanto, um
projeto de vários segmentos sociais,
manifestarem o desejo político de romper com
a formação que se limita a preparar os jovens
para o mercado de trabalho.
 O segundopressuposto diz respeito a manter
na lei, a articulação entre o ensino médio de
formação geral e profissional em todas as suas
modalidades. Para que essa articulação
aconteça de forma satisfatória, a autora
enfatiza que deve haver empenho para superar
o dualismo manifestado por meio de educação
deficitária no sistema público, pela falta de
materiais que impedem o cumprimento de
duplas jornadas na escola e trabalho, pelas
políticas de acesso ilusórias que não dão
suporte para que o aluno realmente permaneça
na escola etc.
 No terceiro item, é dado ênfase para a
adesão de gestores e de professores
responsáveis pela formação geral e pela
formação específica. Assim sendo, o destaque 
2 .1 . PRESSUPOSTOS PARA A FORMAÇÃO INTEGRADA
Disponível em : https ://static .wixstatic .com/media/081322_51a68479c1b04ec080122318f490e229~mv2_d_3892_2192_s_2 .jpg/v1/fit/w_1000 ,h_1000 ,al_c ,q_80/file .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 23
é para que haja realmente integração, que
sejam elaborados, de forma coletiva, as
estratégias acadêmico-científico da educação
integrada, destacando a necessidade de
articular o geral e específico e a teoria e
prática dos conteúdos.
 No quarto pressuposto, a autora apresenta
que deve haver uma articulação da instituição
com os alunos e os familiares, destacando que
a realização de uma educação integrada não
se faz somente na instituição, mas sim, com o
diálogo e conscientização de alunos e seus
familiares acerca das expectativas que estes
têm e a possibilidade de realização destas.
 No que tange ao quinto item, é posto em
destaque que o exercício da formação
integrada é uma experiência de democracia
participativa, ou seja, para sua realização é
necessária a comunhão, o diálogo entre os
sujeitos envolvidos e, jamais, sob o uso do 
autoritarismo. A integração requer, portanto,
participação coletiva. Ainda, neste, a autora
menciona a importância de se ter, neste
processo, professores abertos à inovação,
disciplina e conteúdos mais condizentes com a
integração.
 O outro item, o sexto, a autora discorre
acerca do resgate da escola como um lugar de
memória. Aqui é destacado a importância em
lembrar os personagens que figuraram como
importante na escola, momentos expressivos,
fotos, livros, documentos que ajudam a compor
a memória escolar. A autora ainda revela que
isso pode colaborar para a perspectiva de uma
escola e de uma formação integrada mais
completa para a juventude.
 No sétimo e último item, o destaque é para
necessidade de garantia de investimentos na
educação. Neste, a autora reflete
Para que haja realmente integração, que sejam elaborados, de forma coletiva, as estratégias
acadêmico-científico da educação integrada, destacando a necessidade de articular o geral e específico
e a teoria e prática dos conteúdos. Ciavatta,2012
Disponível em : https ://blog .wpensar .com .br/wp-content/uploads/2017/07/arte-reuniao-de-pais-efetiva .png
AGOSTO 2020 PÁGINA 24
a importância que a educação tem para
transformação social, discutindo, também, que
o nosso país apresenta déficit de investimento
neste setor tão importante para a sociedade.
Ainda, também destaca, que não se faz uma
boa educação, sem que haja investimento que
permita a oferta pública e gratuita de bons
serviços sociais. Como nos lembra Paulo
Freire, “ Se a educação sozinha não
transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a
sociedade muda". A educação é vital,
essencial para uma sociedade. Investir em
educação é permitir a construção de uma
sociedade mais justa e fraterna para todos.
 Portanto, como vimos no presente capítulo, o
ensino médio integrado é uma proposição que
busca romper com a dualidade histórica
presente há muito tempo na educação
brasileira. É vislumbrado como uma proposta
pedagógica que busca formar o sujeito em sua 
plenitude, visando a transformação de si, de
outros e da sociedade. Mas, para que haja
essa materialização do ensino médio
integrado, é preciso haver também “integração”
entre as pessoas que fazem o ambiente
escolar, professores, gestores, coordenadores,
equipe técnica, alunos e família. O elo formado
por esses agentes precisa estar forte e, caso,
ele enfraqueça, é preciso buscar a força e
equilíbrio novamente, propondo, assim,
reflexões sobre o papel de cada um desses
sujeitos para o fortalecimento dessa
integração. A atenção para o currículo
integrado, como já enfatizamos, também
precisa ser levado em consideração para que
essa proposta alcance êxito. Além disso, é
preciso que os governantes promovam
investimentos educacionais e se comprometam
com uma educação pública e de qualidade
para todos. 
Disponível em : https ://image .freepik .com/fotos-gratis/grupo-multietnico-de-jovens-olhando-um-tablet-computador_1139-1004 .jpg
"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda".
Paulo Freire
AGOSTO 2020 PÁGINA 25
 Que os dirigentes do nosso país
compreendam que, reformas educacionais
precisam ser dialogadas com a sociedade, o
que está em total acordo com os princípios de
uma sociedade democrática e, não imposta,
como tivemos recentemente com a reforma do
ensino médio.
 Após esta debate acerca do ensino médio
integrado, as reflexões, agora , serão
direcionadas para a problemática da evasão
escolar. Nesta, a priori, iremos discutir os
conceitos relacionados a este termo, depois
apresentaremos uma discussão da evasão no
âmbito internacional, na sequência, é focado
acerca da evasão escolar na rede federal de
educação profissional, cientifica e tecnológica
e, por último, apresentamos as discussões e
dados relativos à evasão no IFBA,Campus
Paulo Afonso. Mas, antes de irmos para o
próximo capítulo, vamos entender melhor
sobre o EMI na subseção que segue. Vamos
lá!
Disponível em http ://moodle3 .mec .gov .br/ufba/file .php/1/imagens/LivrosTECE/Livro2/parteI .jpg
"Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem
andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido". Rubem Alves
AGOSTO 2020 PÁGINA 26
VAMOS SABER MAIS?
ACESSE O LINK OU O QR CODE
PARA SABER MAIS SOBRE O
ENSINO MÉDIO INTEGRADO
 Para saber mais sobre o Ensino Médio Integrado, acesse o Qr
Code ou l ink do produto educacional de Dione Mari
Caetano,orientado pela Drª Michele Rousset , cujo título é: “ Guia
para implementação de uma proposta de estrutura curricular para o
ensino médio integrado".
 Segundo destaca Caetano (2020, p.5), o guia é visto como " uma
sugestão para orientar o trabalho dos profissionais da Educação no
sentido de implementar o ensino médio integrado nos diversos
Institutos Federais e demais Instituições que possam ter interesse
na temática".
 Esperamos que faça uma boa apreciação dessa produção para a
educação.Acesse:http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/569210
Disponível em :http ://www .sindepominas .com .br/images/demo/imagem-de-destaque .jpg
AGOSTO 2020 PÁGINA 27
 A evasão escolar é um grave problema educacional que atinge milhares de jovens brasileiros. De
acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD, do ano de 2018, o
acesso à escola tem alcançado índices melhores, no entanto, é destacado também que problemas
como atraso escolar e evasão, ainda são presentes e, estes, são “mais característicos do ensino
médio (15 a 17 anos), onde foi registrada, em 2018, taxa de frequência líquida de 69,3%, ou seja,
30,7% dos alunos estavam atrasados ou tinham deixado a escola”. (IBGE, 2019). Estes números
revelam o quão é urgente fomentar políticas públicas para que este cenário seja modificado,
visando à redução destes índices. Na figura 2 que segue, podemos visualizar os dados que
apresentamos neste parágrafo.
 O ano letivo se inicia e a sala de aula está lotada. Contudo, passados alguns meses, esta
realidade se modifica: alunos começam a se ausentar das aulas e as carteiras já não estão mais
todas preenchidas. Este é um retrato comum em muitas salas de aulas brasileiras e que merece
maisatenção: a evasão escolar. Isso porque, a carteira que ficou vazia não representa apenas um
espaço obsoleto, mas sim, uma demonstração de que naquela instituição, um sujeito deixou de
progredir em seus estudos, especializar-se numa determinada profissão e, consequentemente,
deixou lacunas nos variados conhecimentos que a escola poderia lhe proporcionar.
3. EVASÃO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES
INICIAIS E CONCEITOS
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 Pela figura 2, percebe-se que a região Nordeste necessita mais ainda de fomentar políticas
públicas e ações que visem melhorias nos índices apresentados, pois é a região com a menor taxa
ajustada de frequência escolar líquida ao ensino médio no ano de 2018. A imagem, em destaque,
revelou a problemática da evasão e do atraso escolar na faixa etária que corresponde ao ensino
médio, destacamos, esta, porque a presente pesquisa visa identificar as causas da evasão
justamente nesta etapa. A complexidade dessa problemática perpassa também pelo seu conceito,
conforme podemos visualizar nas definições que seguem.
 No que tange ao conceito de evasão, a priori podemos defini-la como sendo a interrupção nos
estudos em um dado momento escolar. No entanto, encontramos outros conceitos na literatura,
que nem sempre se coadunam. Para o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira – há uma diferenciação entre evasão e abandono, como nota-se: “O
conceito técnico de abandono é diferente de evasão. Abandono quer dizer que o aluno deixa a
escola num ano, mas retorna no ano seguinte. Evasão significa que o aluno sai da escola e não
volta mais para o sistema”. (INEP, 1998).
Figura 2: *Taxa ajustada de frequência escolar líquida ao ensino médio
 *Taxa ajustada de frequência escolar líquida = Estudantes com idade prevista para estar cursando uma determinada etapa de ensino + estudantes
da mesma idade que já concluíram essa etapa, dividido pela população total na mesma faixa etária.
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Fonte: IBGE, 2019
 Já a Comissão Especial para Estudo da Evasão , diz que
a evasão é a saída definitiva do curso de origem sem
conclusão. Os estudos realizados por esta comissão são
vistos como “um dos primeiros trabalhos a sistematizar a
problemática da evasão no Brasil” (BRASIL, 2014, p. 15).
Essa comissão apresentou três tipos de classificação para
a evasão: evasão de curso, evasão da instituição e evasão
do sistema. A primeira engloba o desligamento do ensino
superior, nas situações de não realização de matrícula,
desistência, transferência ou reopção de curso e exclusão
por norma institucional. Já evasão da instituição, é
entendida nas situações em que o aluno se desliga da
instituição na qual estuda e, por evasão do sistema,
entende-se a situação que o educando abandona de forma
definitiva ou temporária o nível superior. (BRASIL, 1996).
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As classificações acima estão relacionadas ao nível
superior, mas podem ser utilizadas no ensino médio, visto
que muitas situações mencionadas (não realização de
matrícula, desistência, transferência etc) são também
vivenciadas neste contexto. Sendo assim, é passível este
entendimento também.
 Um conceito muito presente nas pesquisas sobre evasão
no Brasil é o de Gaioso. Para Gaioso (2005, apud BAGGI e
LOPES, 2011), a evasão é um fenômeno social complexo,
definido pela interrupção do ciclo de estudos. Segundo
ainda apontam Baggi e Lopes (2011, p.356) a evasão
escolar “é um problema que vem preocupando as
instituições de ensino em geral, sejam públicas ou
particulares, pois a saída de alunos provoca graves
consequências sociais, acadêmicas e econômicas”.
 Complementando as discussões, trazemos para o debate
Digiácomo (2005, p. 1) que assim conceitua: “a evasão
escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo
muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por
escolas e sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de
admitirem a matrícula de um número mais elevado de
alunos por turma do que o adequado já contando com a
"desistência" de muitos ao longo do ano letivo".
 Para as pesquisadoras Lüscher e Dore (2011, p. 150), a
evasão está relacionada a variadas circunstâncias,
conforme excerto abaixo:
 
A evasão escolar tem sido associada a situações muito diversas.
Pode se referir à retenção e repetência do aluno na escola; a
saída do aluno da instituição; a saída do aluno do sistema de
ensino; a não conclusão de um determinado nível de ensino; ao
abandono da escola e posterior retorno. Abrange indivíduos que
nunca ingressaram em um determinado nível de ensino,
especialmente na educação compulsória, bem como o estudante
que concluiu uma etapa de ensino, mas se comporta como um
dropout**.
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 ** O termo dropout se refere ao indivíduo que larga ou abandona uma atividade.
 Como se percebe pelas definições anteriores, a evasão realmente é um problema complexo, que
traz prejuízos para instituição, para a sociedade e para o estudante.
 A interrupção nos estudos, as constantes repetências vão permitindo a abertura de lacunas que
podem marcar profundamente a vida do indivíduo. Desmotivação, ociosidade e isolamento são
algumas das características negativas presentes no percurso destes alunos que se deparam com a
evasão em sua trajetória educacional. Nas seções seguintes deste trabalho, abordar-se-á mais
detalhadamente as consequências advindas da evasão com base em outras pesquisas realizadas.
 Nesta pesquisa, trabalharemos com o conceito de evasão revelado pela Comissão Especial para
Estudo da Evasão (1996), à qual entende que evasão é a saída definitiva do curso de origem sem
conclusão, por entender que converge com entendimento que reconhecemos sobre evasão.Ainda,
adotamos as palavras desistência, abandono do curso e evasão como sendo sinônimas neste
trabalho, assim também como fizeram Cordeiro e Zarpelan (2011,p. 71), quando enfatizaram:
“Compreendendo a palavra evasão como sinônimo para fuga, desistência ou abandono de
algo,podemos dizer que o abandono de um curso na sua trajetória pode ser classificado como
evasão”.
 
A evasão escolar tem sido associada a situações muito diversas. Pode se referir
à retenção e repetência do aluno na escola; a saída do aluno da instituição; a
saída do aluno do sistema de ensino; a não conclusão de um determinado
nível de ensino; ao abandono da escola e posterior retorno. Abrange indivíduos
  que nunca ingressaram em um determinado nível de ensino, especialmente
na educação compulsória, bem como o estudante que concluiu uma etapa
de ensino, mas se comporta como um dropout.
Lüscher e Dore  (2011)
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3.1 EVASÃO ESCOLAR NO ÂMBITO INTERNACIONAL
 Nesta seção, apresentamos as discussões de Vincent Tinto (1975) e Rumberger (2011) para
ampliarmos o leque de compreensão acerca da evasão escolar, bem como, aprimorar as sugestões
e estratégias que colaborem para amenizar este entrave na educação.
 Um dos teóricos mais citados internacionalmente quando a temática é evasão é o professor
Vincent Tinto. O Modelo de Integração do Estudante (Student Integration Model), criado por Tinto
sobre o abandono no ensino superior, continua sendo bastante referenciado e aceito “como
principal modelo teórico para estudos de evasão chegando a ser considerada quase
paradigmática”. Massi e Villani (2015, p. 978). O Documento Orientador para a Superação da
Evasão e Retenção na Rede Federal (MEC, 2014) também destaca os estudos de Tinto (1975)
para compor o embasamento teórico da pesquisa.
 Para explicar o abandono escolar, Tinto fez uma analogia com a teoria do suicídio desenvolvida
pelo sociólogofrancês Émile Durkheim (1961), à qual revela que o suicídio tem mais chances de
ocorrer com os indivíduos que estão desintegrados do meio social ou que estão integrados de
modo insuficiente. Assim, Tinto (1975, p. 91, tradução nossa) compreende que “ pode-se
razoavelmente esperar, então, que as condições que afetam o abandono do sistema social da
faculdade assemelhar-se-ia àqueles que resultam no suicídio na sociedade [...]”. Tinto (1975)
ressalta que o primeiro pesquisador a aplicar a teoria do suicídio ligado ao abandono, foi Spady
(1970).Assim, para Tinto (1975, p.111, tradução nossa) o abandono “é o resultado de um processo
multidimensional envolvendo a interação entre o indivíduo e a instituição […]”. O autor argumenta
que quanto maior o grau de integração entre o sistema acadêmico e social, a probabilidade de o
estudante concluir o curso com êxito será alta, ou seja, o objetivo final será alcançado. A
integração acadêmica diz respeito ao desempenho dos alunos na instituição, suas notas,
frequência, assimilação dos conteúdos, progressão intelectual. Ou seja, relaciona-se mais com a
percepção do aluno em relação aos estudos e a experiência que este delineou neste percurso. Já
a integração social, refere-se às atividades extracurriculares, grupo de amigos, nível de interação
entre pessoas que compõem o corpo administrativo e docentes da instituição.
 De forma simbólica, podemos fazer alusão da evasão com a confecção artesanal de uma rede.
Sempre observava minha mãe no tear... assim, percebia que se as linhas não estivessem
próximas, bem ajustadas, a rede se desgastaria facilmente, mas, se ela fosse feita com linhas,
cujas amarras fossem firmes, estivessem ao todo harmônica, certamente, esta peça iria ter uma
boa durabilidade, então, o resultado esperado teria sido alcançado. Assim também pode ocorrer
com o processo de evasão. Se as linhas (as experiências escolares anteriores, a integração
acadêmica e social) forem estabelecidas de modo firme, conectadas em harmonia, o aluno
conseguirá fazer sua “rede”, ou seja, alcançará a conclusão do curso. Caso contrário, se as linhas
estiverem, desgastadas, enfraquecidas, o processo que se dará é o de provável abandono de suas
metas, a desistência ou fuga do objetivo final: o de formar-se.
 Tinto (1975) também esclarece dois tipos de abandono, os quais ele nomeia de saídas
voluntárias e demissões acadêmicas. As primeiras referem-se aos sujeitos que não desenvolveram
uma relação harmoniosa com meio, ou seja, as relações sociais na faculdade foram incongruentes,
insuficientes, fazendo com que este indivíduo decidisse sair da instituição. Já a demissão
acadêmica, está mais relacionada ao desempenho não satisfatório no curso, o que pode ser
provocado por constantes repetências, notas baixas, insucesso escolar.
 
 
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 A partir dos estudos de Tinto (1975), compreendemos que evasão é de fato uma problemática
complexa, que, para entendê-la de forma mais profunda, é preciso procurar conhecer a trajetória
do aluno antes do ingresso na instituição, seja no âmbito da família, da escola, seja no revelar de
suas próprias características, crenças e no compromisso que este tem, as suas metas
educacionais. Além do diagnóstico inicial, é necessário atentar como está a integração no
ambiente estudantil: como o aluno interage como o professor, com os colegas de sala, com os
terceirizados, com o pessoal que compõe a equipe técnica da instituição, com as atividades
extracurriculares, enfim, como está sendo construída a relação entre a escola e este indivíduo. Se
analisar a integração social é relevante, a percepção desta no nível acadêmico também se faz
necessário.
 Todos estes aspectos, juntamente com o compromisso em graduar-se e o compromisso
institucional, a relevância que o aluno observa em fazer parte daquela instituição, são
fundamentais e decisivos para opção entre evadir ou permanecer no ambiente escolar.
 Sendo assim, conforme é visualizado na Figura 3, o modelo de Tinto (1975) estabelece que o
processo de evasão é visto como um processo longitudinal de interações entre o individual, o
sistema acadêmico e social da instituição de ensino.
 Portanto, Tinto esclarece, neste modelo, que os fatores anteriores ao ingresso na instituição
(background familiar, atributos individuais e experiências escolares) influenciam os compromissos
assumidos inicialmente em concluir o curso e o compromisso com a instituição. O nível de
compromisso assumido na etapa anterior, por sua vez, irá influenciar o modo como o aluno
desempenhará as suas funções no sistema acadêmico e social da instituição. Os dois processos
agora citados irão gerar um determinado nível de integração acadêmica e social do educando. Isso
vai depender das experiências predominantes nas ações anteriores. Assim sendo, há um outra
reflexão e remodelamento dos compromissos assumidos anteriormente, que irão ser decisivos para
continuar nos estudos e lograr êxito ou evadir e romper com o percurso.
 Posteriormente, Tinto (1975) revisou seu modelo base duas vezes. A primeira revisão foi em
1993 e, a outra, em 1997. A nova revisão apresenta um novo alcance para a integração acadêmica
e social, conforme aponta (CISLAGHI ,2008, p. 53):
Figura 3: Esquema Conceitual do Processo de Evasão na Universidade Tinto (1975)
 Fonte: Traduzido e adaptado de Tinto (1975)
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 Continuando as discussões, trazemos para os debates Rumberger (2011). O autor americano, no
artigo intitulado “Por que os alunos abandonam a escola e o que pode ser feito”, analisa a
problemática da evasão com base em duas estruturas conceituais, a saber: perspectiva individual
e perspectiva institucional. Segundo ele, os fatores individuais são aqueles que englobam os
valores, atitudes e comportamentos dos estudantes. Já o institucional, focaliza a família, escola,
comunidade e amigos. A referida pesquisa foi desenvolvida nos Estados Unidos e, por meio desta,
o autor também discute se os E.U.A “têm a capacidade e vontade de reduzir as taxas de evasão e
eliminar as disparidades nas taxas de abandono escolar entre grupos raciais e étnicos”.
(RUMBERGER, 2011, tradução nossa).
 O autor afirma que os governadores e presidente dos E.U.A., nos anos de 1990, preocupados
com o grande número de desistentes, adotaram seis metas educacionais para o ano de 2000. Em
função desse plano, foi concedido mais de 1,5 bilhão aos estados e distritos para implementarem
reformas que visassem a diminuição dos índices de evasão. Mas, por que essa preocupação com
os desistentes? A explicação para isso, podemos visualizar na figura 5 que segue.
Figura 4: Modelo de salas de aula, aprendizagem e permanência - TINTO, 1997
 Fonte: Tinto (1997); Cislaghi (2008, p. 54)
 Além desse novo alcance para a integração social e acadêmica, conforme explanado pelo autor acima,
Tinto, no novo modelo, traz também maior ênfase aos compromissos externos que ao longo do tempo
também influenciam o processo de evasão. Ainda, neste, permanecem o background familiar, atributos
individuais e escolaridade anterior do aluno como fatores que influenciam na permanência ou evasão do
estudante, conforme podemos observar na figura 4 abaixo.
[...] a integração social e acadêmica ganharam novo alcance e passaram a ser, juntamente
com as técnicas pedagógicas e os meios tecnológicos disponíveis para estudantes e
professores, componentes cruciais na aprendizagem. Como exemplo, as comunidades de
estudo ou grupos de estudos colaborativos que transcendem os horários normais das
aulas criam condições especiais para que os estudantes ultrapassem os limites normais
existentes entre os relacionamentos acadêmicos e sociais. Este tipo de interação gera
facilidades e reduz o esforço ou sacrifício necessários para que os estudantes aumentem
seu nível de integração social e acadêmico, ao mesmo tempo.
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 Como se nota pela figura 5, os que desistem dos estudos trazem prejuízos diversos a sociedade
e a eles próprios. Desse modo, infere-se o quãoé relevante pensar em sugestões que amenizem e
controlem estes dados negativos no sistema educacional. Antes de se pensar em sugestões, faz-se
necessário, também, compreender os motivos que levam os alunos a abandonarem a escola.
Rumberger (2011) afirma que identificar as causas é algo extremamente difícil, pois vários fatores
individuais e institucionais podem afetar esta decisão. Conforme já revelamos a partir do quadro
conceitual elaborado por Tinto (1975), realmente a evasão está atrelada a diversas variáveis.
 Rumberger (2011), ao pesquisar outros estudiosos, destaca alguns fatores individuais que
contribuem para o processo de evasão, como:
· Mobilidade residencial e escolar;
· Desempenho acadêmico fraco;
· Falta de envolvimento do aluno no ambiente escolar;
· Variáveis demográficas: raça, gênero, etnia, status de migração e antecedentes linguísticos;
Na perspectiva institucional, o autor cita os seguintes fatores como influenciadores da evasão:
· Fatores familiares (Conforme pesquisas realizadas pelo autor, a família exerce uma influência
poderosa no desempenho escolar dos alunos);
· Fatores escolares (composição do aluno, recursos da escola, estrutura escolar, políticas e
práticas escolares);
· Comunidades e pares.
Figura 5: Problemas causados pela desistência
Fonte: Rumberger (2011) 
 Elaborado pela autora,2020
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 Como afirma o autor em discussão, a evasão
é a soma de diversos fatores. Estes podem
estrar atrelados a aspectos individuais, como
também institucionais, ou ainda, aos dois
simultaneamente. Diante disso, o trabalho
integrado entre gestores, professores, corpo
técnico, família e comunidade local para
dialogar e procurar compreender os motivos
que causam o abandono é de fundamental
relevância. Pois, não seria plausível apenas a
escola trabalhar, por exemplo, com as “falhas
acadêmicas”, problemas com notas,
aprendizagem em geral, pois, como é proposto
pelos estudiosos, as causas da evasão são
múltiplas, assim também, as propostas têm
que procurar atingir todos os segmentos ou
pelos menos a maior parte destes. Rumberger
(2011) afirma que a intervenção realizada de
forma precoce pode ser a forma mais
econômica e poderosa para prevenir o
abandono escolar.
 Medidas preventivas de combate à evasão
serão apresentadas em uma subseção deste
trabalho.No entanto, antes de apresentarmos
estas medidas preventivas, revelaremos
pesquisas de outros autores nacionais que
investigaram a evasão escolar na rede federal
de educação profissional, cientifica e
tecnológica. É o que revelaremos na próxima
subseção.
 
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3.2 EVASÃO ESCOLAR NA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
 Estudos que versam acerca da evasão escolar na educação profissional, tanto no contexto
nacional quanto internacional, estão disponibilizados pela Rede Ibero-Americana de Estudos sobre
Educação Profissional e Evasão Escolar (RIMEPES). O principal objetivo da RIMEPES é o de
fomentar estudos que colaborem para a formulação de políticas públicas que visem à prevenção da
evasão escolar na educação técnica profissional de nível médio, nos países ibero-americanos
Dore, Araújo e Mendes (2014). A RIMEPES foi criada em 2009 e integra pesquisadores de vários
países. Nas palavras Maduro Silva (2018, p. 21) são:
 
33 pesquisadores e 27 instituições educacionais de 11 países da América
Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Uruguai)
e da Europa (Itália, Portugal e Espanha), além da parceria em
publicações com investigadores dos Estados Unidos e Japão.
 
 Com o intuito de consolidar os estudos provenientes da RIMEPES é lançado, em 2014, o livro
“Evasão na educação: estudos, políticas e propostas de enfrentamento”. O referido livro reúne 16
(dezesseis) artigos que discutem políticas para a educação profissional e também versam estudos
acerca da evasão escolar na na educação profissional e tecnológica. Sendo assim, os trabalhos
desenvolvidos pela RIMEPES tornam-se uma importante fonte de estudos para ampliarmos o
conhecimento sobre a evasão estudantil na educação profissional, pois as investigações sobre a
evasão na EPT ainda são escassas, requerendo, assim, uma maior quantidade de pesquisas
direcionadas para esta modalidade. Os estudos da pesquisadora Rosemary Dore, líder dos grupos
de pesquisa da RIMEPES, contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa, principalmente, no
que tange à crença de que a melhor forma para combater a evasão, é buscar meios para preveni-
la. Através desta reflexão, surgiu a impulsão para desenvolver este produto educacional – E-book.
 Como vimos nas discussões da seção anterior, em que apresentamos os estudos de Tinto (1975;
1993) e Rumberger (2011), a evasão está associada a uma gama de fatores, que podem ser
oriundos do plano individual, do institucional ou do contexto externo. Tinto (1975) nos revelou que
analisar os fatores de pré-entrada estudantil é de suma importância para detectar problemas com a
evasão. O autor ainda alerta que o estudante que tem uma boa integração acadêmica e social na
instituição terá maiores oportunidades de concluir o curso. Rumberger (2011), também reforça que
analisar os fatores individuais e institucionais nos quais os estudantes estão inseridos é de suma
importância para entender o porquê ocorre à evasão escolar, pois as consequências decorrentes
deste problema são graves, conforme também reflete Silva Filho et al. (2007, p.642):
 
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 [...] as perdas de estudantes que iniciam, mas não terminam seus cursos são desperdícios
sociais, acadêmicos e econômicos. No setor público, são recursos públicos investidos sem o
devido retorno. No setor privado, é uma importante perda de receitas. Em ambos os casos, a
evasão é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço
físico.
 
33 pesquisadores e 27 instituições educacionais de 11 países da América
Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Uruguai)
e da Europa (Itália, Portugal e Espanha), além da parceria em
publicações com investigadores dos Estados Unidos e Japão.
 
 Dessa forma, conforme explicitado pelos autores acima, há muitas perdas ocasionadas pela
evasão que vão desde econômicas, sociais e também acadêmicas. Primordial também destacar
que, além disso, o aluno que evade pode perder o interesse pelos estudos, visto que, dependendo
do período que saia do ambiente escolar, pode não mais encontrar vagas para estudar em outra
instituição e, assim, ficar sem estudar o restante do ano letivo. Este cenário pode ocasionar
desmotivação ou falta de interesse para se matricular novamente .
 E por mencionar perdas, destacamos aqui a pesquisa realizada por Dourado, Mutim e Alecrim
(2018), no Instituto Federal da Bahia – Campus Irecê, que nos revela um retrato de evasão
alarmante, gerando estas perdas destacadas por Silva Filho et al (2007). Segundo os autores, nos
anos de 2011 a 2014, o número de evadidos ultrapassou mais de 60% (sessenta) na maior parte
das turmas investigadas. Os autores também demonstram que neste período (2011 a 2014) vários
fatores aconteceram na instituição como: falta de profissionais, material didático básico e
infraestrutura deficitária.
 Certamente, estes fatores contribuíram para o insucesso destes alunos e do Campus como um
todo. Entendemos que a problemática da evasão não é somente uma perda para os alunos, mas
ela também reflete no histórico da instituição, na gestão, no corpo docente e no sistema
educacional como um todo.
 Para diminuir os índices de evasão escolar, Oliveira (2013), por meio de uma pesquisa no ensino
médio técnico integrado, no Instituto Federal de Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás (IFG) – Campus

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