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No corpo, milhares de enzimas diferentes são reguladas para realizar suas funções individuais sem a perda de componentes da dieta. Assim, com alterações em estado fisiológico, horário da alimentação, ambiente, dieta ou idade, as velocidades de algumas enzimas podem aumentar e de outras diminuir. Neste capítulo, serão descritos os mecanismos para a regulação da atividade de enzimas e as estratégias empregadas para regular as vias metabólicas nas quais elas estão. Regulação corresponde à função. As alterações na velocidade de uma rota metabólica ocorrem porque pelo menos uma enzima naquela via, a enzima regulatória, foi ativada ou inibida, ou a quantidade de enzima foi aumentada ou diminuída. As enzimas regulatórias em geral catalisam a etapa limitante de velocidade, ou mais lenta, na via, de tal modo que um aumento ou uma diminuição de sua velocidade altera a velocidade de toda a rota (Figura 9.1). Os mecanismos utilizados para regular a enzima limitante de velocidade em uma rota refletem a função da via e Concentração do substrato. A velocidade de todas as enzimas é dependente da concentração de substrato. As enzimas exibem cinética de saturação; sua velocidade aumenta com o aumento da concentração do substrato [S], mas elas atingem uma velocidade máxima (Vmáx) quando estão saturadas com substrato. Para muitas, a equação de Michaelis-Menten descreve a relação entre vi (a velocidade inicial da reação), [S], Vmáx e Km (a concentração do substrato na qual vi = 1/2 Vmáx). Inibição reversível. As enzimas são reversivelmente inibidas por análogos estruturais e produtos. Esses inibidores são classificados como competitivo, não competitivo dependendo de seu efeito na formação do complexo enzima-substrato. Enzimas alostéricas. Ativadores ou inibidores alostéricos são compostos que se ligam a outros sítios, e não no sítio catalítico ativo, e regulam a enzima por alterações conformacionais afetando o sítio catalítico. Modificação covalente. A atividade da enzima também pode ser regulada por uma modificação covalente, como a fosforilação de um resíduo de serina, treonina ou tirosina por uma proteína-quinase. Interações proteína-proteína. A atividade da enzima pode ser modulada por ligação reversível de uma proteína moduladora, como Ca2 +-calmodulina. As proteínas G monoméricas (proteínas ligadoras de GTP) ativam proteínas-alvo por ligação reversível. Quebra de zimogênio. Algumas enzimas são sintetizadas como precursores inativos, chamados de zimogênios, que são ativados pela proteólise (p. ex., a enzima digestiva quimotripsina). Alterações na concentração da enzima. A concentração pode ser regulada por alterações na velocidade de síntese de uma enzima (p. ex., indução de transcrição gênica) ou na velocidade de degradação. Regulação das vias metabólicas. Os mecanismos regulatórios para a enzima limitante de velocidade de uma rota sempre refletem a função da rota em um tecido particular. Na regulação por feedback (retroalimentação), o produto final de uma rota direta ou indiretamente controla sua própria velocidade de síntese; na regulação por feedforward (ântero-alimentação), o substrato controla a velocidade da via. As vias biossintéticas e de degradação são controladas por regulações diferentes, mas complementares. As vias também são reguladas por compartimentalização de enzimas. Janaina Barreto As enzimas alostéricas são um dos tipos de enzimas que não podem ser explicadas pelo modelo de Michaelis-Menten.As enzimas alostéricas frequentemente exibem gráficos sigmoides da velocidade da reação versus a concentração de substrato [S], em vez de gráficos hiperbólicos previstos pela equação de Michaeli-Menten. As enzimas alostéricas são sensíveis reguladores do metabolismo, porque ao se ligarem a determinados metabólitos celulares, sua atividade sofre grandes alterações. Estes metabólitos também podem ser chamados de efetuadores ou moduladores alostéricos, e podem ser positivos(aumento da velocidade de reação) ou negativos (redução da velocidade de reação) de acordo com o seu efeito. Portanto os moduladores alostéricos podem atuar tanto como inibidores, como ativadores da reação enzimática.[1] Na maioria das vias metabólicas, é comum que o produto final atue como modulador alostérico negativo da enzima que catalisa as primeiras reações da via. Portanto, quando a concentração deste produto fica aumentada ele vai agir como um inibidor alostérico, diminuindo a velocidade da via e a sua própria produção. Este mecanismo é denominado inibição por retroalimentação ou feedback. Caso o produto final comece a ser consumido e consequentemente sua concentração diminua ele vai deixar de inibir a via, fazendo com isso que a via tenha sua velocidade aumentada. [carece de fontes] Exemplo comparativo: O fluxo de substratos pela rota metabólica é análogo a carros viajando por uma auto-estrada. A enzima limitante de velocidade é a porção da auto-estrada que é estreitada para uma pista por uma barreira. Essa única porção da auto-estrada limita a velocidade com a qual os carros chegam ao seu destino final milhas mais tarde. Os carros se acumularão antes da barreira (similar ao aumento da concentração de um precursor quando a enzima limitante de velocidade é inibida). Alguns carros podem sair e pegar uma rota alternativa (similar a precursores entrando em outra rota metabólica). Movimentar a barreira apenas um pouco para abrir uma pista adicional é como ativar a enzima limitante de velocidade; ela aumenta o fluxo através de toda a extensão da via. Momento de aplicação prática do conteúdo: AI Martini não foi capaz de retirar o etanol do sangue rápido o sufi ciente para fi car dentro do limite legal para dirigir. O etanol é retirado do sangue em cerca de 15 mg/dL por hora. O metabolismo hepático é responsável por mais de 90% da depuração do sangue. A maior rota do metabolismo do etanol no fígado é a enzima hepática álcool - desidrogenase (ADH), a qual oxida etanol a acetaldeído com a produção de N ADH. Etanol + N AD+ → Acetaldeído + N ADH + H+ O complexo multienzimático MEO S (sistema microssomal de oxidação do etanol, do inglês microsomal ethanol oxidizing system), o qual também é chamado de P450-2E1, fornece uma rota adicional para a oxidação de etanol a acetaldeído no fígado. Obs, As enzimas regulatórias com freqüência são isoenzimas tecido-específicas, cujas propriedades refletem as diferentes funções de uma rota em tecidos específicos. As vias também são reguladas por meio de compartimentalização, agrupamento de enzimas com uma função dentro de uma organela ou em um sítio específico na célula. Os mecanismos empregados para regular as enzimas foram organizados em três categorias gerais: regulação por compostos que se ligam reversivelmente no sítio ativo (incluindo dependência de velocidade na concentração do substrato e níveis de produto); regulação por alteração da conformação do sítio ativo (incluindo reguladores alostéricos, modificação covalente, interações proteína-proteína e quebra de zimogênio), e regulação por alteração da concentração de enzima (síntese e degradação de enzima). Um dos substratos energéticos utilizados pelos músculos esqueléticos de Ann O’Rexia para correr é a glicose, a qual é convertida em glicose-6-fosfato (glicose-6-P) pelas enzimas hexoquinase (HK) e glicoquinase (GK). A glicose-6-P é metabolizada na rota da glicólise para gerar ATP. Essa rota é regulada por retroalimentação, de tal modo que, à medida que seus músculos utilizarem ATP, a velocidade da glicólise será aumentada para gerar mais ATP. REGULAÇÃO POR CONCENTRAÇÃO DE SUBSTRATO E PRODUTO A. Velocidade e Concentração de Substrato A velocidade de todas as reações enzimáticas é dependente da concentração de substrato. Essa dependência é evidenciada em condições como jejum, na qual diversas vias são desprovidas de substrato. Em contraste, as vias de armazenamento (p. ex., conversão da glicose a glicogênio no fígado) e as viasde excreção de lixo tóxico (p. ex., o ciclo da uréia, o qual impede a toxicidade de NH4 + por sua conversão em uréia) normalmente são reguladas para acelerar quando mais substrato está disponível. Nas seções seguintes, será utilizada a equação de Michaelis-Menten para descrever a resposta das alterações na concentração do substrato e a glicoquinase para ilustrar o papel do suprimento de substrato na regulação da atividade da enzima. EQUAÇÃO DE MICHAELIS MENTEN As equações da cinética enzimática fornecem uma maneira quantitativa de descrever como a velocidade de enzima depende da concentração do substrato. A mais simples dessas equações, a equação de Michaelis-Menten, relaciona a velocidade inicial (vi) à concentração de substrato [S] e os dois parâmetros Km e Vmáx (Equação 9.1). A Vmáx da enzima é a velocidade máxima que pode ser atingida com uma concentração infinita de substrato, e o Km da enzima para um substrato é a concentração de substrato necessária para atingir 1/2 Vmáx. O modelo de Michaelis-Menten de cinética de enzimas se aplica para uma reação simples na qual a enzima e o substrato formam um complexo enzima substrato (ES) que pode se dissociar, novamente, em enzima livre e substrato. A velocidade inicial da formação de produto, vi, é proporcional à concentração de complexos de enzima- substrato [ES]. À medida que a concentração do substrato é aumentada, a concentração dos complexos enzima-substrato e a velocidade da reação aumentam proporcionalmente. O gráfico da equação de Michaelis-Menten (vi como uma função da concentração de substrato) é uma hipérbole retangular que se aproxima de um limite finito, Vmáx, à medida que a fração total da enzima presente como complexo enzima-substrato aumenta (Figura 9.2). A uma concentração de substrato hipoteticamente infi nita, todas as moléculas da enzima contêm substrato ligado, e a velocidade da reação corresponde à Vmáx. A aproximação do limite finito de Vmáx é chamada de cinética de saturação devido ao fato de a velocidade não poder mais ser aumentada uma vez que a enzima está saturada com substrato. A cinética de saturação é uma propriedade característica de todos os processos de velocidade dependentes da ligação de um composto a uma proteína. O Km da enzima por um substrato é definido como a concentração de substrato, na qual vi é igual a 1/2 Vmáx. A velocidade de uma enzima é mais sensível a alterações na concentração do substrato quando a variação da concentração está abaixo de seu Km (ver Figura 9.2). Em concentrações de substrato menores do que 1/10 do Km, dobrar a concentração do substrato quase dobra a velocidade da reação; em concentrações de substrato 10 vezes o Km, dobrar a concentração do substrato tem pouco efeito na velocidade. O Km de uma enzima por um substrato está relacionado com a constante de dissociação, Kd, a qual é a velocidade de liberação do substrato dividida pela velocidade de ligação do substrato. Por exemplo, uma mutação genética que diminui a velocidade de ligação do substrato à enzima diminui a afinidade da enzima pelo substrato e aumenta o Kd e o Km da enzima por aquele substrato. Quanto maior o Km, tanto maior a concentração do substrato necessária para atingir 1/2 Vmáx. Um gráfico da equação de Michaelis- Menten. Vmáx (linhas azuis sólidas) é a velocidade inicial extrapolada para o infinito [S]. Km (linha azul tracejada) é a concentração de S na qual vi = Vmáx/2. Uma comparação entre as isoenzimas da hexoquinase encontradas em células sangüíneas vermelhas e no fígado ilustra o signifi cado do Km de uma enzima pelo seu substrato. A hexoquinase catalisa a primeira etapa do metabolismo da glicose na maioria das células, a transferência de um fosfato do ATP para a glicose formando glicose-6-fosfato. ISOENZIMAS HEXOQUINASE TEM DIFERENTES VALORES DE Km para a glicose. A glicose-6-fosfato pode, então, ser metabolizada na glicólise, a qual gera energia na forma de ATP, ou ser convertida em glicogênio, um polímero de armazenamento de glicose. A hexoquinase 1, a isoenzima nas células sangüíneas vermelhas (eritrócitos), tem um Km para a glicose de aproximadamente 0,05 mM (Figura 9.3). A isoenzima da hexoquinase, chamada de glicoquinase, a qual é encontrada no fígado e no pâncreas, tem um Km muito maior de aproximadamente 5 a 6 mM. As células sangüíneas vermelhas são totalmente dependentes do metabolismo da glicose para obter suas necessidades de ATP. No jejum normal, a glicose sangüínea pode diminuir drasticamente para menos de seu nível normal dos eritrócitos, cerca de 5 mM. Devido ao Km baixo da hexoquinase, a célula sangüínea vermelha consegue, ainda, fosforilar glicose em velocidades próximas à Vmáx. O fígado, contudo, armazena grandes quantidades do excesso de glicose como glicogênio ou a converte em gordura. Devido ao fato de a glicoquinase ter um Km de aproximadamente 5 mM, a velocidade de fosforilação da glicose no fígado tenderá a aumentar à medida que a glicose sangüínea aumenta após uma refeição rica em carboidratos e diminuir à medida que os níveis de glicose sangüínea diminuem. O alto Km da glicoquinase hepática promove, assim, o armazenamento de glicose como glicogênio hepático ou como gordura, mas apenas quando a glicose está sendo fornecida em excesso. VELOCIDADE E CONCENTRAÇÃO DA ENZIMA A velocidade de uma reação é diretamente proporcional à concentração da enzima; se a quantidade de enzima é dobrada, a quantidade de produto produzido por minuto será dobrada, em concentrações baixas ou de saturação do substrato. Essa importante relação entre velocidade e concentração da enzima não é imediatamente aparente na equação de Michaelis- Menten, pois a concentração de enzima total presente (Et) foi incorporada ao termo Vmáx (isto é, Vmáx é igual à velocidade constante k3 vezes Et). Contudo, Vmáx é expressa com mais freqüência como produto produzido por minuto por miligrama de enzima e deve refletir uma propriedade da enzima que não é dependente de sua concentração. VELOCIDADES DAS REAÇÕES CATALISADAS POR ENZIMAS NA CÉLULA As equações para a velocidade inicial de uma reação catalisada por enzima, como a equação de Michaelis-Menten, podem fornecer parâmetros úteis para descrever ou comparar enzimas. Contudo, muitas enzimas com múltiplos substratos, como a glicoquinase, têm padrões cinéticos que não se encaixam no modelo de Michaelis-Menten (ou o fazem sob condições não- fisiológicas). O modelo de Michaelis-Menten também é inaplicável para as enzimas presentes em uma concentração mais alta do que seus substratos. Contudo, o termo “Km” ainda é utilizado para essas enzimas para descrever a concentração aproximada de substrato na qual a velocidade é igual 1/2 Vmáx. INIBIÇÃO SIMPLES POR PRODUTO EM VIAS METABÓLICAS Todos os produtos são inibidores reversíveis das enzimas que os produzem e podem ser competitivos, não-competitivos ou incompetitivos em relação a um substrato específico. A inibição por produto simples, uma diminuição na velocidade de uma enzima causada pela acumulação de seu próprio produto, tem um papel importante nas vias metabólicas; ela impede uma enzima em uma seqüência de reações de gerar um produto mais rápido do que ele pode ser utilizado pela próxima enzima na seqüência. REGULAÇÃO POR MEIO DE ALTERAÇÕES CONFORMACIONAIS Na resposta do substrato e na inibição por produto, a velocidade da enzima é afetada principalmente pela ligação de um substrato ou produto dentro do sítio catalítico. A maioria das enzimas limitantes de velocidade também é controlada por mecanismos regulatórios que alteram a conformação da enzima de um modo que afetam o sítio catalítico. Esses mecanismos regulatórios incluem: (1) ativação ou inibição alostérica; (2) fosforilação ou outra modificação covalente; (3) interações proteína-proteína entre subunidades regulatórias e catalíticas, ou entre duas proteínas, e (4) quebra proteolítica. Esses tipos de regulação podem rapidamentealterar uma enzima de uma forma inativa para uma conformação totalmente ativa. Nas seções a seguir, serão descritas as características gerais desses mecanismos regulatórios e serão ilustrados os três primeiros com a glicogênio- fosforilase, glicogênio- fosforilase-quinase e proteína-quinase A. Alterações Conformacionais nas Enzimas Alostéricas Os ativadores e os inibidores alostéricos (efetores alostéricos) são compostos que se ligam ao sítio alostérico (um sítio separado do sítio catalítico) e causam uma alteração conformacional que afeta a afinidade da enzima pelo substrato. Em geral uma enzima alostérica tem múltiplas subunidades interativas que podem existir em conformações ativas e inativas, e o efetor alostérico promove ou impede a conversão de uma conformação na outra. As enzimas alostéricas em geral contêm duas ou mais subunidades e exibem cooperatividade positiva; a ligação do substrato a uma subunidade facilita a ligação do substrato a outra subunidade (Figura 9.6). A primeira molécula de substrato tem dificuldade em se ligar à enzima, pois todas as subunidades estão na conformação com baixa afinidade para o substrato (a conformação tensa “T”) (ver Capítulo 7, Seção VII.B). A primeira molécula de substrato que se liga altera sua própria subunidade e pelo menos uma subunidade subjacente à conformação de alta afinidade (o estado relaxado “R”). No exemplo do tetrâmero da hemoglobina, discutido no Capítulo 7, a alteração em uma subunidade facilitava alterações em todas as quatro subunidades, e a molécula em geral muda a sua estrutura para a nova conformação. Contudo, a maioria das enzimas alostéricas segue uma progressão com mais etapas (seqüencial) por estágios intermediários ATIVADORES E INIBIDORES ALOSTÉRICOS Os ativadores se ligam no sítio alostérico das enzimas alostéricas, um sítio fi sicamente separado do sítio catalítico. A ligação de um ativador alostérico altera a conformação do sítio catalítico de uma maneira que aumenta a afi nidade da enzima pelo substrato. Em geral, os ativadores de enzimas alostéricas se ligam mais fortemente ao estado de alta afi nidade R da enzima que ao estado T (ou seja, o sítio alostérico é aberto apenas na enzima R) (Figura 9.7). Assim, os ativadores aumentam a quantidade de enzima no estado ativo, facilitando, assim, a ligação do substrato na sua própria subunidade e nas outras. Em contraste, os inibidores alostéricos se ligam mais fortemente ao estado T; assim, tanto a concentração do substrato como a concentração do ativador devem estar aumentadas para vencer os efeitos do inibidor alostérico. Os inibidores alostéricos podem ter seu próprio sítio de ligação na enzima ou podem competir com o substrato no sítio ativo e impedir a cooperatividade. Assim, o termo “inibidor alostérico” em geral é mais aplicado a qualquer inibidor de uma enzima alostérica. Algumas das enzimas limitantes de velocidade nas vias de oxidação de substratos energéticos (p. ex., glicogênio-fosforilase do músculo na glicogenólise, fosfofrutoquinase-1 na glicólise e isocitrato- desidrogenase no ciclo TCA) são enzimas alostéricas reguladas por alterações na concentração de ADP ou AMP, os quais são ativadores alostéricos. A função das vias de oxidação de substratos energéticos é a geração de ATP. Quando a concentração de ATP nas células musculares começa a diminuir, ADP e AMP aumentam; o ADP ativa a isocitrato desidrogenase, e o AMP ativa a glicogênio fosforilase e a fosfofrutoquinase-1. A resposta é muito rápida, e pequenas alterações na concentração do ativador podem causar grandes alterações na velocidade da reação. Alterações Conformacionais por Modificação Covalente 1. FOSFORILAÇÃO A atividade de muitas enzimas é regulada por fosforilação por uma proteína-quinaseou por desfosforilação por uma proteína-fosfatase (Figura 9.8). Serina/treonina-proteína- quinases transferem um fosfato de ATP para o grupo hidroxila de uma serina específi ca (e algumas vezes treonina) da enzima-alvo; tirosina-quinases transferem um fosfato para o grupo hidroxila de um resíduo de tirosina. O fosfato é um resíduo grande, negativamente carregado, que interage com outros resíduos de aminoácidos próximos da proteína para criar uma alteração conformacional no sítio catalítico. A alteração conformacional torna algumas enzimas mais ativas e outras menos ativas. O efeito é revertido por uma proteína-fosfatase específica que remove o fosfato por hidrólise. GLICOGÊNIO-FOSFORILASE DO MÚSCULO A glicogênio-fosforilase do músculo, a enzima limitante de velocidade na rota da degradação do glicogênio, degrada glicogênio em glicose-1-fosfato. Ela é regulada pelo ativador alostérico AMP, o qual aumenta na célula à medida que o ATP é utilizado para a contração muscular (Figura 9.9). Assim, um aumento rápido na velocidade da degradação do glicogênio a glicose- 1-fosfato é conseguido quando um aumento de AMP sinaliza que mais substrato energético é necessário para a geração de ATP na rota glicolítica. A glicogênio-fosforilase também pode ser ativada por fosforilação pela glicogênio- fosforilase-quinase. A fosforilação ou a ligação de AMP podem alterar a enzima para a mesma conformação totalmente ativada. O fosfato é removido por uma proteína fosfatase PROTEÍNA-QUINASE A Algumas proteína-quinases, chamadas de proteína-quinases específicas, são fortemente ligadas a uma única proteína e regulam apenas a proteína à qual elas estão fortemente ligadas. Contudo, outras proteína-quinases e proteína-fosfatases regularão simultaneamente diversas enzimas limitantes de velocidade em uma célula para obter uma resposta coordenada. Por exemplo, a proteína-quinase A, uma serina/treonina-proteína-quinase, fosforila um número de enzimas que regulam diferentes rotas metabólicas. Uma dessas enzimas é a glicogênio- fosforilase-quinase (ver Figura 9.9). A proteína-quinase A fornece um meio de os hormônios controlarem as vias metabólicas. A adrenalina e muitos outros hormônios aumentam a concentração intracelular do regulador alostérico 3',5'-AMP cíclico (AMPc), o qual é referido com um segundo mensageiro hormonal (Figura 9.10). O AMPc se liga às subunidades regulatórias da proteína-quinase A, a qual se dissocia e libera as subunidades catalíticas ativadas (Figura 9.11). A dissociação das subunidades regulatórias inibitórias é um tema comum em regulação enzimática. As subunidades catalíticas ativas fosforilam a glicogêniofosforilase e outras enzimas nos resíduos de serina. No exemplo mostrado na Figura 9.9, a adrenalina aumenta indiretamente o AMPc, o qual ativa a proteína-quinase A, que fosforila a fosforilase-quinase, a qual fosforila a glicogênio- fosforilase. A seqüência de eventos na qual uma quinase fosforila outra quinase é chamada de cascata de fosforilação. Devido ao fato de cada estágio da cascata de fosforilação ser associado a uma molécula de enzima ativando muitas moléculas, o evento ativador inicial é bastante amplificado. OUTRAS MODIFICAÇÕES COVALENTES Diversas proteínas são covalentemente modificadas pela adição de grupos como acetila, ADP- ribose ou porções lipídicas (ver Capítulo 6). Essas modificações podem ativar ou inibir a enzima. Contudo, elas também podem modificar a habilidade da enzima de interagir com outras proteínas ou de atingir sua localização correta na célula. Alterações Conformacionais de Interações Proteína-Proteína As alterações na conformação do sítio ativo também podem ser reguladas por interação direta proteína-proteína. Esse tipo de regulação é ilustrado por Ca2 +-calmodulina e proteínas G pequenas (monoméricas). PROTEÍNAS Os moduladores de proteínas se ligam a outras proteínas e regulam sua atividade por causarem uma alteração conformacional no sítio catalítico ativo ou por bloquearem o sítio catalítico (impedimento estérico). Eles são efetores de proteína alostérica que podem ativar ou inibir a enzima ou a proteína à qual eles se ligam. A Ca2+-calmodulinaé um exemplo de um modulador de proteína dissociável que se liga a diversas proteínas diferentes e regula sua função. Ele também existe no citosol e funciona como uma proteína ligadora de Ca2+ (Figura 9.12). o centro da molécula simétrica é uma região de dobradiça que se dobra à medida que a Ca2+-calmodulina se curva sobre a proteína que está regulando. Uma das enzimas ativadas por Ca2+-calmodulina é a glicogênio-fosforilase-quinase do músculo, a qual também é ativada por proteína-quinase A (ver Figura 9.9). Quando um impulso neural dispara a liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático,Ca2+ se liga à subunidade da calmodulina-glicogênio-fosforilase quinase do músculo, a qual sofre uma alteração conformacional. Essa quinase ativada, então, fosforila a glicogênio-fosforilase, aumentando enfim m a geração de ATP para fornecer energia para a contração muscular. Simultaneamente, Ca2+ se liga à troponina-C, um membro da superfamília Ca2+-calmodulina que serve como uma subunidade não-dissociável regulatória da troponina, um regulador da contração muscular. A ligação de cálcio à troponina prepara o músculo para a contração. Assim, o suprimento de energia para a contração é ativado simultaneamente com o conjunto de fatores responsáveis pela contração. Quebra Proteolítica Embora muitas enzimas sofram alguma quebra durante a síntese, outras entram nos lisossomas, nas vesículas secretoras ou são secretadas como pró-enzimas, as quais são precursores de proteínas que devem sofrer quebra proteolítica para se tornarem completamente funcionais. Diferente de muitas outras formas de regulação, a quebra proteolítica é irreversível. As proteínas precursoras de proteases (enzimas que quebram ligações peptídicas específicas) são chamadas de zimogênios. Para indicar a forma inativa de zimogênio de uma enzima, o nome é modificado pela adição do sufixo “ogênio” ou o prefixo “pró”. A síntese de zimogênios como precursores inativos impede que eles quebrem proteínas prematuramente nos seus sítios de síntese ou secreção. O quimotripsinogênio, por exemplo, é armazenado em vesículas dentro das células pancreáticas até ser excretado nos ductos que vão ao lúmen intestinal. No trato digestivo, o quimotripsinogênio é convertido pela enzima proteolítica tripsina, a qual retira um pequeno peptídeo da região N-terminal (e dois peptídeos internos). Essa quebra ativa a quimotripsina por causar uma alteração conformacional no espaçamento de resíduos de aminoácidos em torno do sítio de ligação para o substrato protéico desnaturado e em torno do sítio catalítico. REGULAÇÃO POR ALTERAÇÕES NA QUANTIDADE DE ENZIMA Os tecidos continuamente ajustam a velocidade na qual diferentes proteínas são sintetizadas para variar a quantidade de diferentes proteínas presentes. A expressão para a Vmáx na equação de Michaelis-Menten incorpora o conceito de que a velocidade da reação é proporcional à quantidade de enzima presente. Assim, a capacidade máxima de um tecido pode mudar com o aumento da síntese protéica ou com o aumento da degradação protéica. Regulação por Síntese de Enzima A síntese protéica inicia com o processo de transcrição gênica, transcrevendo o código genético para aquela proteína do DNA em RNA mensageiro. O código no RNA mensageiro é, então, traduzido na seqüência primária de aminoácidos da proteína. Em geral, a velocidade da síntese de enzima é regulada por um aumento ou uma diminuição da velocidade de transcrição gênica, processos geralmente referidos como indução (aumento) e repressão (diminuição). Contudo, a velocidade da síntese de enzima algumas vezes é regulada pela estabilização do RNA mensageiro. (Esses processos são discutidos na Parte Três.) Comparado com os tipos mais imediatos de regulação discutidos anteriormente, a regulação por meio de indução/repressão da síntese de enzima em geral é lenta nos humanos, ocorrendo em horas ou dias. Regulação por Degradação de Proteína O conteúdo de uma enzima na célula pode ser alterado por degradação seletiva regulada bem como por síntese regulada. Embora todas as proteínas na célula possam ser degradadas com uma meia-vida característica dentro de lisossomas, a via de degradação de proteínas por dois sistemas especializados, proteossomas e caspases, é altamente seletiva e regulada. A degradação de proteína é tratada em mais detalhes no Capítulo 3 REGULAÇÃO DE VIAS METABÓLICAS Os diferentes meios de regular a atividade enzimática descritos anteriormente são utilizados para controlar vias metabólicas, eventos celulares e processos fisiológicos para corresponder às necessidades do corpo. Embora muitas vias metabólicas estejam presentes no corpo, alguns poucos temas ou princípios estão envolvidos na sua regulação. É claro que o princípio geral é: A regulação de uma rota está de acordo com a sua função Princípios de Regulação de Via As vias metabólicas são uma série de reações sequenciais nas quais o produto de uma reação é o substrato da próxima (Figura 9.15). Cada etapa ou reação em geral é catalisada por uma enzima separada. As enzimas de uma rota têm uma função comum – a conversão de substrato nos produtos finais da via. Uma rota também pode ter um ponto de ramificação no qual um intermediário se torna o precursor para outra via. REGULAÇÃO OCORRE EM UMA ETAPA LIMITANTE DA VELOCIDADE As vias são reguladas principalmente por uma enzima-chave, a enzima regulatória, a qual catalisa a etapa limitante de velocidade na via. Essa é a etapa mais lenta e em geral não é prontamente reversível. Assim, as alterações na etapa limitante de velocidade podem influenciar o fluxo através do resto da rota (ver Figura 9.1). A etapa limitante de velocidade em geral é a primeira comprometida em uma via, ou uma reação que está relacionada ou influenciada pela primeira etapa comprometida. Adicionalmente, enzimas reguladoras ocorrem após cada ponto de ramificação metabólica dirigir o fluxo para uma das ramificações (p. ex., na Figura 9.15, a inibição por retroalimentação da enzima 2 resulta em acúmulo de B, o qual a enzima 5 utiliza para a síntese do composto G). A inibição da enzima limitante de velocidade em uma rota em geral leva a acúmulo do precursor da via. REGULAÇÃO POR RETROALIMENTAÇÃO Regulação por retroalimentação se refere a uma situação na qual o produto final de uma rota controla sua própria velocidade de síntese (ver Figura 9.15). A regulação por retroalimentação em geral envolve a regulação alostérica da enzima limitante de velocidade pelo produto final de uma rota (ou um composto que reflete as alterações na concentração do produto final). O produto final de uma rota também pode controlar sua própria síntese por indução ou repressão do gene para a transcrição da enzima limitante de velocidade na rota. Esse tipo de regulação é muito mais lento para responder a alterações nas condições da reação do que a regulação alostérica. ISOENZIMAS TECIDUAIS DE PROTEÍNAS REGULATÓRIAS O corpo humano é composto de diversos tipos celulares diferentes que realizam funções únicas para determinado tipo celular e sintetizam apenas as proteínas consistentes com suas funções. Devido ao fato de a regulação corresponder à função, enzimas regulatórias de rotas em geral existem como isoenzimas tecido-específicas com algumas ISOENZIMAS TECIDUAIS DE PROTEÍNAS REGULATÓRIAS As diferentes isoenzimas da hexoquinase (p. ex., hexoquinase 1 e glicoquinase) são isoenzimas tecido específicas que surgiram da duplicação de um gene. A glicoquinase, a enzima de baixa afinidade encontrada no fígado, é uma cadeia polipeptídica única com um peso molecular de 55 kDa que contém um sítio catalítico ativo. As hexoquinases encontradas nos eritrócitos, nos músculos esqueléticos e na maioria dos outros tecidos têm 110 kDa e são essencialmente duas moléculas de glicoquinase mutantes sintetizadas como uma única cadeia polipeptídica. Contudo, apenas um sítio catalítico é funcional. Todasas hexoquinases tecido-específicas, com exceção da glicoquinase, têm Kms para a glicose que são menores do que 0,2 mM. CONTRA-REGULAÇÃO DE ROTAS OPOSTAS Uma rota para a síntese de um composto em geral tem uma ou mais etapas enzimáticas que diferem da rota para a degradação daquele composto. Uma rota biossintética pode, portanto, ter uma enzima regulatória diferente da rota de degradação, e uma rota pode ser ativada, enquanto a outra é inibida (p. ex., a síntese de glicogênio é ativada, enquanto a degradação de glicogênio é inibida). CANALIZAÇÃO DE SUBSTRATO POR COMPARTIMENTALIZAÇÃO Na célula, a compartimentalização de enzimas em complexos multi enzima ou organelas fornece uma maneira de regulação, ou porque o compartimento fornece condições únicas, ou porque ele limita ou canaliza o acesso das enzimas aos substratos. As enzimas ou as rotas com uma função comum com freqüência são agrupadas em organelas. Por exemplo, as enzimas do ciclo do TCA estão localizadas na mitocôndria. As enzimas catalisam reações sequenciais, e o produto de uma reação é o substrato da próxima. A concentração dos intermediários da rota permanece muito mais alta dentro da mitocôndria do que no citoplasma celular circundante. Outro tipo de compartimentalização envolve o agrupamento de enzimas catalisando as reações seqüenciais em complexos multi enzima, de tal forma que intermediários da rota podem ser transferidos do sítio ativo de uma enzima para o sítio ativo de outra, prevenindo, assim, a perda de energia e informação. Um exemplo de complexo multi enzima é a MEOS (sistema microssomal de oxidação do etanol, do inglês microsomal ethanol oxidizing system), o qual é composto por duas subunidades diferentes com atividades enzimáticas diferentes. Uma subunidade transfere elétrons de NADPH para um grupo citocromo Fe-heme na segunda subunidade, a qual, então, transfere os elétrons para O2.
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