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cap_16_Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais

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Manejo do solo-água-planta
em áreas afetadas por sais
José F. de Medeiros1, Iarajane B. do Nascimento2 & Hans R. Gheyi2
1 Universidade Federal Rural do Semiárido
2 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9
Fortaleza - CE
2010
Introdução
Origem da salinidade em áreas irrigadas
Qualidade da água de irrigação
Efeitos prejudiciais dos sais nas áreas irrigadas
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
Efeitos dos sais sobre as plantas
Fatores que afetam a salinidade do solo e resposta das culturas à salinidade
Fatores que afetam a salinidade do solo e respostas das culturas à salinidade
Salinidade integrada no espaço e no tempo
Integração com a profundidade:
Integração no tempo
Frequência de irrigação
Necessidade de lixiviação
Frequência de lixiviação
Previsão de salinidade em áreas irrigadas
Balanço de sais na zona radicular
Avaliação da água de irrigação através de simulação e previsão da salinidade do solo
Manejo da água e tolerância das culturas considerando os valores de CE das águas dos poços
na região de Mossoró
Experiências no Nordeste brasileiro com água salina
Referências
INTRODUÇÃO
Para atender o acelerado crescimento populacional
mundial, surge, a cada dia, a necessidade de maior
produção de alimento. Com isso, expandiram-se as áreas
agricultáveis em todo mundo, impulsionado pelo uso da
irrigação, para tornar produtivas as regiões áridas e semi-
áridas, bem como complementar as necessidades
hídricas das regiões úmidas. No Brasil, a área irrigada
corresponde a três milhões de hectares, ocupando o 18º
lugar no mundo em termos de área irrigada; quando se
leva em consideração a relação área irrigada/área total
cultivada, o Brasil encontra-se no 23º lugar, com 5% da
área total cultivada (Hoffman & Evans, 2007), mas
produzindo mais de 17% da produção total. Por essa
capacidade produtiva e maior necessidade de se produzir
por unidade de área, a tendência atual é de um
crescimento acelerado das áreas irrigadas.
Por outro lado, a expansão das áreas irrigadas tem
causado alguns problemas, dentre eles, destaca-se a
salinização do solo. Isso ocorre pelo fato da água de
irrigação apresentar sais dissolvidos que, mesmo em
baixa concentração, podem ser incorporados ao solo, o
qual pode se tornar salino em poucos anos (Medeiros,
2001). Segundo Ayers & Westcot (1999), quanto maior
o conteúdo de sais no solo, maior será o esforço que a
planta terá para absorver a água; assim, ocorre a
diminuição no consumo da planta à medida que cresce a
concentração de sais na zona radicular das culturas
(Allen et al., 1998; Medeiros, 1998).
Na agricultura irrigada, a qualidade da água deve ser
questionada antes do início do cultivo, pois se trata de um
dos fatores que tem limitado ou impossibilitado a
expansão da produção agrícola nas regiões áridas e semi-
áridas do mundo. Além disso, a alta taxa de
evapotranspiração e a baixa pluviosidade contribuem
para a salinização dos solos irrigados. Embora as águas
salinas tenham sido consideradas inadequadas para a
irrigação existem amplas evidencias em todo mundo, que
seu uso pode ser viabilizado, desde que adotem técnicas
de manejo adequadas e culturas tolerantes á salinidade
(Steppunh, 2001).
No mundo, numerosos exemplos de empreendimentos
agrícolas com sucessos sob condições salinas podem ser
citados (Hoffman et al., 1992). Nos Estados Unidos, alfafa,
sorgo e trigo são irrigados nos vale de Arkansas e Colorado
com água contendo de 1500 a 5000 mg L-1 de sólidos
dissolvidos totais (SDT). Bons rendimentos de algodão tem
sido obtidos no Uzbekistão irrigando-se com água de
drenagem contendo de 5000 a 6000 mg L-1 de SDT.
Neste contexto, o grande desafio mundial consiste em
aumentar os níveis de produtividade na agricultura,
mediante aproveitamento de águas marginais (qualidade
inferior), atualmente disponíveis.
No Brasil, aproximadamente nove milhões de hectares
de solos são afetados pela presença de sais, cobrindo sete
Estados. Na região do Nordeste brasileiro, a maior área
afetada está localizada no estado da Bahia (44% do total),
seguido pelo estado do Ceará, com 25% da área total
(Fageria & Gheyi, 1997). Nesses estados, a salinidade
tem sido apontada como um dos principais fatores
responsáveis pela diminuição no crescimento e na
produtividade das culturas (Pereira et al., 2005).
Os efeitos negativos da salinidade podem ser observados
no “stand” da cultura, no crescimento das plantas e em
rendimentos, sendo que em casos extremos pode haver até
perda total da cultura (Richards,1954). Portanto,o manejo de
água nas áreas irrigadas, associada ao manejo do solo e das
culturas é fundamental para manter a atividade da
agricultura irrigada por várias gerações.
Neste contexto, em seguida serão apresentadas
informações sobre a origem da salinização dos solos em
Manejo do solo-água-planta
em áreas afetadas por sais
290 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
áreas irrigadas, a importancia da qualidade da água, os
efeitos prejudiciais dos sais para o solo e as culturas, os
fatores de manejo que controlam os efeitos da salinidade
para planta, a previsão de salinização do solo em áreas
irrigadas a partir da qualidade da água de irrigação e
manejo da irrigação.
ORIGEM DA SALINIDADE
EM ÁREAS IRRIGADAS
O processo de salinização do solo pode ser
ocasionado por processos natural e o induzido (Ferreira,
1998). O natural ocorre através de intemperização das
rochas, e os diversos constituintes da mesma que são
liberados em forma de compostos simples. Já o processo
induzido ocorre pela ação do homem, através do manejo
inadequado da irrigação, excesso de fertilizantes e
drenagem deficiente em regiões áridas e semi-áridas.
Embora a fonte principal de todos os sais encontrados
no solo seja a intemperização das rochas, no entanto,
raros são exemplos onde esta fonte de sais tenha
provocado problema de salinização do solo
(Richards,1954).
Frequentemente, problemas de salinidade tem sido
associados a água de irrigação e a presença de lençol
freático não controlado, situado entre os primeiros
metros do solo.
Normalmente, a salinidade em áreas irrigadas na
região nordeste é consequência da drenagem interna
deficiente dos solos juntamente com a evaporação
superior a precipitação, onde essa excessiva evaporação
produz acumulação de sais solúveis e o incremento do
sódio trocável na superficie do solo (Barros et al., 2004).
De maneira geral, o processo de salinização pode ser
evitado ou desacelerado caso ocorram precipitações
pluviométricas concentradas em quantidades suficientes,
associadas à boa permeabilidade do solo ou sistema de
drenagem eficiente, promovendo assim uma lavagem
natural do perfil (Medeiros, 1998).
Estima-se em aproximadamente 30% da área dos
projetos públicos de irrigação do Nordeste brasileiro é
afetado por salinidade (Bernardo, 1995). Nesses
perímetros irrigados do Nordeste, segundo Goes (1978),
cerca de 25% a 30% das áreas irrigadas apresentam
problemas de salinidade, percentagem esta considerada
bastante conservadora, pois levantamento detalhado
realizado por Cordeiro et al. (1988), mostrou que 24%
da área de projeto de irrigação de São Gonçalo, PB,
estão afetados por sais, isto sem considerar as áreas já
abandonadas.
QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO
Partindo-se do princípio de que todas as águas
contêm sais, mesmo utilizando águas para irrigação que
apresentam reduzidas concentrações, existe um certo
potencial de salinização em condições de chuvas e/ou
drenagem insuficientes. Normalmente, em regiões áridas
e semi-áridas, as águas superficiais e subterrâneas
apresentam maior concentração salina do que em regiões
úmidas e sub-úmidas, o que vai se somar ao problema
de salinização e sodificação do solo (Medeiros, 1998). O
conceito de qualidade da água refere-se às
características que podem afetar as necessidades do
usuário, definidas por uma ou mais propriedades físicas,
químicas e/ou biológicas. Assim, uma água pode ser
considerada de melhor qualidade se produzirmelhores
resultados (Figueirêdo, 2008).
De acordo com Medeiros et al. (2003), nas regiões
áridas e semi-áridas, como acontece mundialmente, o
aumento da demanda por água tem levado à utilização da
maioria das fontes de boa qualidade disponível e
obrigando à utilização de águas que apresentem níveis
de salinidade mais elevados. No nordeste brasileiro a
maioria das fontes de água utilizada na irrigação
apresenta boa qualidade, porém o volume de águas de
qualidade inferior e bastante elevado e com custo de
obtenção mais barato, que pode ser utilizado para o
crescimento da área irrigada (Tabela 1).
Existem amplas evidências em todo o mundo, que
águas de alta salinidade, classificadas como inadequada
para irrigação, podem ser usadas na irrigação de várias
culturas selecionadas sob certas condições (Rhoades et
al., 2000). Por outro lado, a utilização indiscriminada de
águas com concentração elevada de sais pode salinizar
os solos, comprometendo a produção das culturas.
A classificação proposta pelos técnicos do
Laboratório Americano de Salinidade é a mais utilizada
no Brasil para classificar as águas destinadas à irrigação.
De acordo com Richards (1954), baseia-se geralmente na
condutividade elétrica (CE), que indica o risco de
salinidade e na razão de adsorção de sódio (RAS) como
indicador de sodicidade. As águas dividem-se em quatro
classes de acordo com a concentração total de sais
solúveis (C1, C2, C3 e C4), cada qual representando
condutividades elétricas de 0-0,25; 0,25-0,75; 0,75-2,25;
2,25-4,00 dS m-1, respectivamente.
Para se determinar a viabilidade do uso de uma
determinada água de irrigação, deve-se levar em
consideração a concentração e composição química da
mesma, a tolerância das culturas aos sais, as
propriedades físicas e químicas do solo, as práticas de
291Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
manejo do solo, água e culturas, as condições climáticas,
o método de irrigação e as condições de drenagem
(Medeiros, 1998).
Segundo Rhoades et al. (1992) a utilização das águas
para irrigação depende das condições de uso, incluindo-
se culturas, clima, solos, métodos de irrigação e práticas
de manejo, o que torna as classificações de água quanto
à salinidade não aconselhadas para avaliar a
adequabilidade da água de irrigação. No entanto, os
mesmos autores sugerem que, com o propósito de
identificar os níveis de salinidade de água, é necessário
dispor de um esquema de classificação, sugerindo a
mesma em termos de concentração de sais, expressos em
condutividade elétrica e o tipo de água correspondente
dentro das classes (Tabela 2).
No Estado do Rio Grande do Norte, a água usada na
região produtora de melão é proveniente de poços
artesianos profundos que, embora de boa qualidade,
apresenta alto custo de obtenção, impossibilitando o uso
por parte de pequenos produtores, e vem levando os
grandes produtores a buscarem fontes alternativas de
água, como poços abertos no calcário Jandaíra, a um
custo consideravelmente menor. Entretanto, essas fontes
de água apresentam níveis elevados de sais, podendo
causar a salinização dos solos e prejudicar o rendimento
das culturas.
Segundo Medeiros (1992) e Oliveira & Maia (1998)
são relativamente elevadas as concentrações de sais nas
águas do aquífero calcário, às vezes superando 2000 mg L-1
(aproximadamente 3,0 dS m-1). Neste caso, sua
utilização fica condicionada à tolerância das culturas à
salinidade e ao manejo da irrigação, com vistas ao
controle da salinização das áreas.
EFEITOS PREJUDICIAIS
DOS SAIS NAS ÁREAS IRRIGADAS
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
O acúmulo de sais solúveis, e especificamente de
sódio, no solo, além de reduzir o potencial osmótico da
solução do solo, produz alteração no pH,
desbalanceamento nutricional e desestruturação de seus
agregados. O efeito dos sais sobre a estrutura do solo
ocorre basicamente pela interação eletroquímica
existente entre os cátions e a argila. A característica
principal deste efeito é a expansão da argila quando
úmida e a contração quando seca, devido o excesso de
sódio trocável. Se a expansão for exagerada, poderá
ocorrer a fragmentação das partículas, causando a
dispersão da argila e modificando a estrutura do solo.
Em geral, os solos sódicos, ou seja, com excesso de
* As águas de poço, sobretudo as ricas em bicarbonatos, o pH 24 horas após coletados pode passar para valor superior a 8,0. Fonte: Gheyi et al., 2001; Medeiros et al., 2003.
Tabela 1. Composição química de águas utilizadas para irrigação no NE
Tabela 2. Classificação das águas em função da condutividade elétrica (CE) em dS m-1 e concentração de sais em mg L-1
Cátions (mmolc L-1) Ânions (mmolc L-1)
Tipos de Água
292 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
sódio trocável, apresentam problemas de permeabilidade
e qualquer excesso de água causará encharcamento na
superfície do solo, afetando a germinação das sementes
e o crescimento das plantas, por falta de aeração
(Medeiros et al., 2008).
Várias são as causas que podem levar à salinização
do solo. Geralmente, a origem dos sais está relacionada
à drenagem deficiente do solo. Os sais tendem a se
acumular no solo devido à ascensão capilar do lençol
freático e evaporação da água, na ausência de lixiviação.
O uso excessivo de fertilizantes, a influência de ventos
que carregam sais encrostados na superfície de solos
altamente salinos para outras áreas e inundações de áreas
cultivadas pela água do mar devido à maré alta, também
podem ser a causa de salinização do solo (Blanco, 1999).
A acumulação de sais solúveis torna o solo floculado,
fofo e bem permeável; o aumento do sódio trocável
poderá torná-lo adensado, compacto em condições secas,
disperso e pegajoso em condições molhadas.
A dispersão do solo poderá ser explicada pela teoria
da dupla camada difusa (DCD) de Gouy & Chapman. A
micela do solo ou partículas de argila contém cargas
negativas, as quais são equilibradas pela adsorção de uma
quantidade equivalente dos cátions presentes na solução.
Os cátions são atraídos pela superfície das partículas de
solos e, portanto, a concentração relativa dos cátions perto
da superfície é maior do que em qualquer lugar afastado
desta, tornando a distribuição resultante em uma camada
dupla difusa. Por outro lado, os ânions, por terem carga
negativa, são repelidos e sua concentração relativa perto
da superfície é igual a zero. A uma certa distância da
superfície da micela, as concentrações de cátions e ânions
tornam-se equivalentes. O espaço onde as concentrações
de cátions e ânions são diferentes é conhecido como
espessura da DCD, que varia com a concentração da
solução e a valência dos cátions.
Os cátions bivalentes (Ca e Mg) são atraídos pela
superfície da micela mais fortemente do que os
monovalentes (Na e K). Assim, com o aumento da relação
Ca/Na na solução do solo, o tamanho da dupla camada
diminui, acontecendo o mesmo quando aumenta a
concentração da solução do solo (Bohn et al., 1985).
Quanto maior ou menor for a DCD, maior a facilidade,
respectivamente, de dispersão ou floculação dos colóides
do solo.
No solo, a quantidade de sódio trocável (NaT) em
relação a sua capacidade de troca catiônica, denominada
de percentagem de sódio trocável (PST), associada a
concentração total da solução solo, são as grandes
responsáveis pela agregação e dispersão das partículas
coloidais. A PST do solo pode ser estimada a partir da
composição da solução do solo, medida no extrato de
saturação partindo da equação de Gapon (Richards,
1954):
 
MgCa
NaK
MgCa
Na
G
TT
T



em que o primeiro membro da Eq. (1) representa a relação
de sódio trocável (RST), com o sub-índice “T” denotando
íons trocáveis em cmolc kg-1, KG representa o coeficiente
de Gapon, variando de 0,008 a 0,016 e a razão do segundo
membro, denominada de relação de adsorção de sódio
(RAS), é composta pela concentrações dos íons no extrato
de saturação do solo, em mmol L-1.
Considerando que em solos afetados por sais, os
cátions trocáveis do solo correspondem ao Ca, Mg e Na,
a PST pode ser calculadapor:
 
RASK1
RASK100
100
RST1
RSTPST
G
G





Gheyi (1986) estudou a troca entre sódio-cálcio em
solos aluvionais (fração argila) dos perímetros irrigados do
Estado da Paraíba, utilizando-se metodologia proposta por
Fletcher et al. (1984) e soluções mistas de Na-Ca em
várias proporções (RAS variando de 0 a 150 (mmol L-
1)0,5), porém concentração total (Ca2++ Na+)-2 constante
de 50 mmolc L-1 e constatou existência de uma correlação
altamente significativa entre RST e RAS (r2 = 0,987),
permitindo a estimativa da PST do solo a partir da RAS.
 
)0122,0RAS01407,0(1
)0122,0RAS01407,0(100PST


As curvas de isotermas de troca sódio-cálcio
mostraram que o cálcio é adsorvido com preferência no
solo, e a presença de cálcio solúvel entre 20 e 30% na
solução foi suficiente para evitar que o solo atingisse
PST superior a 15.
A dispersão (liberação das plaquetas individuais de
argila dos agregados) é primariamente importante em
solos que contêm quantidades substanciais de minerais
filossilicatados de argila com camadas expansíveis
(esmectitas e montmorilonitas) nos quais a PST excede
cerca de 15%. A dispersão e a desestruturação
(desarranjo dos agregados em subagregados) do solo
pode ocorrer mesmo em condições de baixos valores de
PST (< 15), desde que, a concentração eletrolítica seja
suficientemente baixa. A reunião de agregados resulta
em mais espaço poroso que o de partículas individuais
ou de microagregados; portanto, a permeabilidade e a
(1)
(2)
(3)
293Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
friabilidade são melhores em condições de solo agregado
(floculado). As micelas dispersas de argila ou
microagregados podem alojar-se nos poros reduzindo,
também, a permeabilidade. Assim, soluções de solo
compostas de altas concentrações de solutos (salinidade)
ou com predominância de sais de cálcio e magnésio,
proporcionam aos solos boas propriedades físicas.
Reciprocamente, baixas concentrações de sais e
proporções relativamente altas de sais de sódio afetam
drasticamente a permeabilidade e a friabilidade,
enquanto o alto valor de pH (>8) também afeta
adversamente a permeabilidade e a friabilidade, porque
aumenta a quantidade de cargas negativas da argila e da
matéria orgânica e, ainda, as forças repulsivas entre elas
(Rhoades et al., 2000).
A elevação do pH do solo afeta a fertilidade do solo,
diminuindo principalmente a disponibilidade de fósforo
e de micronutrientes.
A infiltração refere-se à facilidade com que a água
atravessa a superfície do solo, e é medida em termos de
velocidade. Uma velocidade de infiltração (VI) de 3
mm h-1 considera-se baixa, enquanto que acima de 12
mm h-1 é relativamente alta (Ayers & Westcot, 1999).
Decréscimos na velocidade de infiltração do solo
geralmente ocorrem na época de irrigação, por causa da
gradual deterioração da estrutura do mesmo e formação
de um “lacre”, crosta superficial (arranjo horizontal em
camadas das partículas de solo) como consequência de
sucessivas irrigações (sedimentações, eventos de
molhamento e secamento). A VI é ainda mais sensível ao
sódio trocável, à concentração eletrolítica e ao pH, que
a condutividade hidráulica, o que se deve à expressiva
vulnerabilidade da camada superior do solo às forças
mecânicas, as quais aumentam a dispersão das argilas,
a desestruturação dos agregados e o movimento da argila
desagregada no solo próximo à superfície, e também à
baixa concentração eletrolítica que, geralmente, existe
aí, em particular sob condições de chuva.
As crostas, devido à deposição, frequentemente
ocorrem em sulcos irrigados, onde partículas de solo,
suspensas na água, são depositadas quando a vazão de
água é baixa ou quando a água se infiltra. A
condutividade hidráulica de tais crostas é
frequentemente, de duas a três vezes menores, em ordem
de magnitude, que a do solo abaixo, especialmente
quando a concentração eletrolítica da água infiltrada está
reduzida e o sódio trocável, está elevado. A adição de
gesso (tanto no solo como na água) pode frequentemente
ajudar, de maneira apreciável, na prevenção ou alívio
dos problemas de redução da VI ou condutividade
hidráulica.
Valores representativos críticos de RAS ajustada ou
corrigida (aproximadamente igual à PST) e condutividade
elétrica da água de infiltração para manutenção da
permeabilidade do solo, são mostrados nas Figuras 1 e 2.
A relação de adsorção de sódio (RASc), conforme
Suarez (1982), é recomendada por Ayers & Westcot
(1999) e Rhoades et al. (2000).
Figura 1. Valores limites da RAS corrigida (ou da RAS na
superfície do solo) e CE da água de irrigação associados
à probabilidade de redução substancial na infiltração
da água no solo (adaptado de Rhoades, 1982)
Figura 2. Redução relativa da infiltração, provocada pela
salinidade e relação de adsorção de sódio ajustada da
água de irrigação (Ayers & Westcot, 1999)
Para Medeiros & Gheyi (1997), o nível de salinidade
dos solos deve ser sempre inferior ao nível nocivo às
plantas cultivadas. Assim, o monitoramento direto da
salinidade na zona radicular é recomendado para avaliar
a eficiência dos diversos programas de manejo nas áreas
irrigadas. Essas águas nem sempre são adequadas para
irrigação, contribuindo para o aparecimento de
problemas de salinidade e, consequentemente, problemas
nutricionais do cultivo, resultando em prejuízos para os
agricultores. A água de irrigação, mesmo de baixa
Condutividade elétrica da água de irrigação (dS m-1)
RA
Sc
 o
u 
RA
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Salinidade da água de irrigação (dS m-1)
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294 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
salinidade, pode se tornar um fator de salinização do solo
se não for manejada corretamente (Ayers & Westcot,
1991).
Silva et al. (2007) estudando o risco de salinização em
quatro solos do Rio Grande do Norte sob irrigação com
águas salinas verificaram que o uso de águas de
condutividade elétrica crescente promoveu a elevação do
pH, da CEes e da RAS no extrato de saturação dos solos.
O aumento na relação de adsorção de sódio das águas
promoveu o incremento dos efeitos das soluções salinas
sobre os solos indicando a necessidade do monitoramento
da qualidade da água e das propriedades físico-químicas
dos solos submetidos a irrigação com águas salinas.
Efeitos dos sais sobre as plantas
As plantas em ambientes com alta concentração de
sais podem sofrer estresse de duas maneiras: em razão
da baixa disponibilidade de água no solo, em
consequência da diminuição do potencial osmótico na
zona radicular, e pelo efeito de altas concentrações de
íons específicos (Marron, 2001).
Dias et al (2003) relatam que dependendo do grau de
salinidade, a planta em vez de absorver, poderá até
perder a água que se encontra no seu interior. Esta ação
é denominada plasmólise, e ocorre quando uma solução
é altamente concentrada é posta em contato com a célula
vegetal. O fenômeno é devido ao movimento da água que
passa das células para a solução mais concentrada.
Deste modo, energia necessária para absorver água de
uma solução salina é adicional a energia requerida para
absorver água de uma solução de solo não salina.
Os efeitos da salinidade nos vegetais caracterizam-se
por redução e não uniformidade do crescimento, presença
de coloração verde-azulado e queimaduras nas bordas
das folhas das plantas (Richards, 1965). Por outro lado,
a salinidade pode afetar positivamente a composição e o
crescimento de algumas planta, pode promover o
crescimento de halófitas ou incrementar a produção ou
a qualidade de frutos (Pastercak et al 1987).
Os efeitos causados pela toxidade acontecem quando
as plantas absorvem os sais do solo, juntamente com a
água, permitindo que haja toxidez na planta por excesso
de sais absorvidos. Este excesso promove então
desbalanceamento e danos principalmente na bordadura
e no ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por
transpiração, quase que tão somente água havendo,
nessas regiões acumulo do sal translocado do solopara
a planta para obviamente, intensa toxidez de sais (Dias
et al 2005).
Sabe-se que as diferentes espécies e cultivares de
plantas reagem diferentemente à salinidade, havendo
para cada espécie ou cultivar um limite tolerável de
salinidade que não causa redução na produtividade
potencial (salinidade limiar – SL) a partir do qual a
produtividade passa a diminuir a medida que se
incrementa a salinidade do solo (Ayers & Westcot,1991;
Roades et al,1992).
Para Maas & Hoffmam (1997), além de haver
diferenças de tolerância entre as espécies e cultivares,
dentro de uma mesma espécie pode também existir
diferenças entre as fases fonológicas. A resposta das
plantas aos sais depende, sobretudo, do tipo de sal,
método e frequência de irrigação (Roades etal., 1992).
A tolerância de várias culturas a salinidade é
convencionalmente expressa, segundo Maas & Hoffmam
(1977), em termos de rendimento relativo (Y), o valor de
salinidade limiar (SL) e decréscimos percentuais de
produção por unidade de aumento da salinidade acima
da salinidade limiar (b) onde a salinidade do solo é
expressa, de CEes em dS m-1 , como segue:
 
 










CEmax CEes SL para
CEmax CEes para 0
SL) - CEesb - 100
SL CEes para 100
Y
em que,Y é o percentual de rendimento esperado sob
condições salinas, em relação ao obtido sob condições
não salinas, mantidas comparáveis para as demais
condições e CEmax é salinidade do solo que o
rendimento tende a ser zero.
Este uso da CEes para expressar o efeito da
salinidade na produção, implica no fato de que as plantas
respondem primariamente ao potencial osmótico da
solução do solo.
A tolerância relativa da maioria das culturas é
suficientemente conhecida, o que enseja a preparação de
diretrizes técnicas da salinidade. A Figura 4 mostra,
esquematicamente, os grupos de tolerância relativas das
culturas e a Tabela 3 inclui valores de tolerância de
algumas culturas extensivas, hortaliças e frutíferas, a
qual se refere à salinidade da água de irrigação e a
salinidade medida no extrato da pasta saturada do solo
(CEes). Os valores deverão ser considerados apenas
como de tolerância relativa entre os grupos de culturas,
pois os valores de tolerância absoluta variam com o
clima, condições de solo e práticas culturais. Esses
limites de salinidade foi calculado, considerando que a
relação entre salinidade do solo e da água (CEes = 1,5
CEa) e a fração de lixiviação equivalente a 15-20 %,
(4)
295Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
adotando-se um modelo de absorção de água na zona
radicular igual a 40-30-20-10 (padrão de extração
normal). O rendimento potencial zero implica na
salinidade máxima teórica (CEes) com a qual cessam o
crescimento e o desenvolvimento da planta.
Merrill (1976), a salinidade dos solos e resposta das
plantas à salinidade são afetadas pelas características de
retenção de água do solo, frequência de irrigação, fração
de lixiviação adotada e salinidade da água de irrigação.
Baseado nesse estudo para as condições de equilíbrio,
Rhoades et al. (2000) retirou as seguintes conclusões:
i) A salinidade da água de irrigação e a FL são
combinadas para se estabelecer a distribuição de estresse
osmótico na zona radicular e o seu valor médio na zona
radicular; ambos também afetando o potencial total
médio;
ii) a fração de lixiviação tem pouco efeito no
potencial mátrico médio, mas a frequência de irrigação
afeta significativamente, devido a depleção de água entre
irrigações e características de retenção de água do solo;
iii) a duração do estresse, tais como “dias de
estresse”, é afetado pela salinidade da água de irrigação,
fração de lixiviação, frequência de irrigação e
características de retenção de água do solo;
iv) embora a importância desses índices de “status”
de água na resposta das culturas possa variar com a
tolerância das plantas, a composição da água,
propriedades do solo e condições de estresse climático
parecem justificar a conclusão de que, onde águas
salinas são usadas para irrigação, a FL deveria ser
aumentada para elevar o potencial osmótico e, todos
outros fatores sendo mantidos constantes, a frequência
de irrigação deveria ser aumentada para elevar o
potencial mátrico, que combinados maximizam o
potencial total e minimizam a duração dos “dias de
estresse”;
v) a salinidade média no espaço (profundidade)
deveria ser um índice razoavelmente bom de resposta
das plantas à salinidade da água do solo nos casos onde
o estresse mátrico é significativo, como nas condições de
irrigação pouco frequente, devido a dependência
acentuada da duração de “dias de estresse” à fração de
lixiviação. Isso é assim porque a FL primeiramente afeta
o nível de salinidade no fundo da zona radicular;
entretanto, um parâmetro de salinidade que está
relacionado à distribuição da salinidade, especialmente
da salinidade da parte inferior da zona radicular, deveria
ser usada como um índice aproximado para estimar a
resposta das culturas para o caso de irrigação pouco
frequente.
vi) quando o intervalo entre as irrigações é
prolongado, a duração de estresse aumenta e menos
condições é dada para o desenvolvimento da cultura “vir
equiparar-se” a irrigações frequentes. A diminuição do
potencial osmótico associada a frações de lixiviação
pequenas e ao uso de águas de irrigação salina, torna-se
especialmente perigosa, porque o nível de “estresse
Figura 3. Curva típica de tolerância das culturas à salinidade,
mostrado os parâmetros salinidade limiar (SL) e o declínio
de rendimento ou perda relativa (b)
Figura 4. Limites de tolerância à salinidade das culturas
(Maas, 1984)
FATORES QUE AFETAM A SALINIDADE
DO SOLO E RESPOSTA DAS CULTURAS
À SALINIDADE
Fatores que afetam a salinidade do solo e respostas
das culturas à salinidade
Sendo a salinidade do solo expressa pela
concentração dos sais no extrato de saturação, e que o
valor médio do perfil de salinidade na profundidade da
zona radicular é o parâmetro utilizado para correlacionar
com o rendimento da cultura, os fatores de manejo que
interferem na distribuição dos sais no perfil e na diluição
dos sais na solução do solo são preponderantes na
resposta das plantas à salinidade.
Conforme Rhoades et al. (2000), como foi mostrado
pelo estudo de modelagem conceitual de Rhoades &
Salinidade do solo (dS m-1)
R
en
di
m
en
to
 r
el
at
iv
o 
(%
)
dS m-1
R
en
di
m
en
to
 r
el
at
iv
o 
(%
)
296 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
Tabela 3. Tolerância das culturas herbáceas à salinidade1 (adaptado de Maas, 1986)
1 Esses dados servem apenas como indicativo da tolerância relativa entre culturas. Tolerância absoluta depende do clima, das condições do solo e práticas culturais
2 Os nomes botânicos e comuns em inglês, conforme a convenção de “Hortus Third”, quando possível
3 Em solos gipsíferos, as plantas toleram CEes cerca de 2 dS/m acima do indicado
4 T = Tolerante, MT = Moderadamente Tolerante, MS = Moderadamente Sensível e S = Sensível. Classes com * são estimativas
5 Como arroz é cultivado sob condições de inundação, os valores se referem às condutividades elétrica da água do solo, enquanto plantas estão inundadas. Menos tolerantes durante fase de plântula
crítico” do potencial total será alcançado mais
rapidamente (para uma dada quantidade de uso de
água), quanto maior for o potencial osmótico no começo
da depleção de água;
vii) sob condições de irrigações mais frequentes, a
resposta das plantas à salinidade deveria torna-se
relativamente mais relacionada à salinidade da água de
irrigação (CEa) e potencial osmótico médio, do que à FL
Classe de
Tolerância4
297Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
e salinidade média com a profundidade. Alguns
resultados experimentais confirmam isso (Meiri, 1984;
Bresler & Hoffman, 1986; Bresler, 1987).
Em seguida serão discutidos os diferentes fatores que
afetam a salinidade do solo e resposta das plantas à
salinidade.
Salinidade integrada no espaço e no tempo
No campo, a distribuição dos sais nem é uniforme no
espaço (profundidade),nem é constante com o tempo. A
aplicação de resultados experimentais dos estudos de
tolerância à salinidade das culturas para as condições de
campo, requer conhecimentos de resposta das plantas à
salinidade variando com o tempo e profundidade. Até o
momento, muitos experimentos de campo têm sido
conduzidos considerando a hipótese que as plantas
respondem à salinidade média da zona radicular a
estação de crescimento.
Rhoades (1972) introduziu o conceito de salinidade
média integrada da solução do solo, ao longo do ciclo de
irrigação, para considerar as variações de salinidade
entre irrigações. Conforme Rhoades & Merrill (1976), a
salinidade média da água do solo, em determinado
intervalo de tempo, é maior em solos que são irrigados
com menor frequência, quando se mantêm outros fatores
constantes.
Ingvalson et al. (1976) correlacionaram rendimento de
alfafa, obtido sob condições de salinidade, para vários
índices de salinidade, e verificaram que o rendimento foi
melhor correlacionado à salinidade da água de drenagem
do que à da água de irrigação. Também, correlacionou-
se melhor à salinidade média integrada no tempo e no
espaço (profundidade), do que com a salinidade média da
zona radicular e ponderada com a absorção de água,
embora estes índices tenham mostrado correlações
relativamente altas. Vale salientar que o método de
irrigação adotado era inundação intermitente e a
frequência das aplicações de água correspondia a de
irrigações convencionais.
Meiri & Polijakoff-Mayber (1970) observaram que a
área foliar relativa do feijão, de diferentes experimentos
de salinidade, foi afetada linearmente com a salinidade.
Integração com a profundidade:
Em experimento de campo, para estabelecer a
tolerância à salinidade do milho, Hoffman et al. (1983),
utilizando dois métodos de irrigação (microaspersão e
subirrigação), obtiveram perfis de salinidade do solo
diferentes para cada método de irrigação, entretanto, as
curvas de resposta de tolerância à salinidade para os
métodos de irrigação, usando a salinidade média linear do
perfil para todos os níveis de salinidade testados durante
os três anos de experimento não diferiram
estatisticamente. Isso sugere que as plantas respondem
a média aritmética dos valores de salinidade da zona
radicular. Os resultados dos estudos de milho em solos
orgânicos concordam com resultados de experimento de
campo em Israel com solo mineral cultivando amendoim
e tomate e com resultados da Califórnia para alfafa
(Hoffman et al., 1992).
Integração no tempo
Para avaliação, a salinidade do solo é tipicamente
monitorada no começo e fim do ciclo da cultura e os
valores são usados para determinar a salinidade média do
solo. Em experimentos, a salinidade do solo é
normalmente monitorada com maior frequência.
Relacionar a resposta das culturas à salinidade do solo
integrada no tempo é difícil porque, para algumas
culturas, a sensibilidade varia com o estádio de
desenvolvimento.
Bernstein & Pearson (1954), comparando a influência
de um nível constante de salinidade com níveis crescendo
e diminuindo, em vários ciclos, porém mantendo o valor
médio do potencial osmótico idêntico ao produzido pelo
nível constante, concluíram que o pimentão respondeu a
salinidade média do período, independente se variava ou
não durante o desenvolvimento da cultura, enquanto o
tomate foi mais afetado por períodos de alta salinidade.
Então, a resposta à salinidade média do período é
provavelmente uma estimativa razoável, a não ser que
valores de salinidade durante o ciclo oscilem ao redor da
salinidade limiar da cultura ou, como foi provavelmente
o caso para tomate, existam alguns valores de salinidade
que excedam a faixa de resposta linear na curva de
tolerância à salinidade.
Avaliar a resposta de culturas perenes à salinidade no
tempo é mais complexo do que para as anuais, porque o
rendimento pode ser afetado pela salinidade do solo de
anos anteriores. É difícil explicar como ocorre a
compensação do efeito da salinidade devido períodos de
dormência e mudanças drásticas do tempo como as
monções, chuvas de inverno ou grandes mudanças da
demanda evaporativa da atmosfera. Segundo Hoffman
et al. (1992), o período de tempo apropriado para
determinar a salinidade média dependerá da cultura e de
seu ambiente.
Frequência de irrigação
Para o cultivo em solos salinos a frequência de
irrigação é um fator muito importante, pois, quanto maior
a frequência, menor será a concentração dos sais, devido
ao efeito da diluição. Poucas evidencias experimentais
existentes, entretanto, sustentam como recomendação
298 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
comum, que o intervalo de irrigação deveria ser
diminuído quando se utiliza água salina (Hoffman et
al.,1992).
Quando o solo seca devido à evapotranspiração,
depois de uma irrigação, os potenciais mátrico e osmótico
diminuem. A taxa de decréscimo depende da taxa de
evapotranspiração e da relação entre o potencial mátrico
e o teor umidade do solo. A taxa de secamento do solo
decresce quando o potencial osmótico diminui,
produzindo, assim, um maior potencial mátrico antes da
próxima irrigação. Contrapondo a esse processo, o
intervalo de irrigação influencia na forma da distribuição
de sais no perfil e no nível total de salinidade do solo
Conforme Ayers & Westcot (1999), o momento da
lixiviação não é o fator decisivo, a menos que a
concentração de sais exceda o limite de tolerância da
cultura por tempo prolongado. Pelo suposto, isto não quer
dizer que a lixiviação tenha menos importância relativa,
pelo contrário, para evitar a acumulação excessiva e
perigosa é imprescindível que se satisfaça a necessidade
de lixiviação. A frequência de lixiviação deve ser tal que
permita manter a salinidade abaixo da concentração que
ocasionaria reduções inaceitáveis nos rendimentos. Isso
implica que a lixiviação pode ser praticada a cada
irrigação, com irrigações intercaladas, ou ainda, com
menos frequência, como em cada período (estação) ou
intervalos ainda maiores. Em muitos casos, as irrigações
de aplicações aceitáveis, satisfazem as necessidades de
lixiviação e, portanto, aplicar água adicional para lavar
sais poderá ser desnecessário.
A lâmina de lixiviação, que controla a acumulação de
sais na zona radicular das culturas irrigadas, depende da
concentração salina da água, do método de aplicação, da
precipitação pluviométrica e das peculiaridades do solo
(Kelley, 1963). Segundo Bower et al. (1969), frações de
lixiviações maiores produzem perfis de salinidade mais
uniforme. Shalhevet & Reiniger (1964), durante o ciclo
de culturas anuais, observaram que com lixiviações
elevadas houve aumento gradativo da salinidade com a
profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação
induziram maior concentração na parte intermediária da
zona radicular.
Considerando a salinidade do solo, Meire & Shalevet
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes
proporcionaram maiores salinidades na zona radicular no
final do experimento, no cultivo de pimentão.
Necessidade de lixiviação
A forma de controlar o acúmulo de sais no solo é
pela lixiviação, que pode ser proporcionada pela
precipitação pluvial ou pela aplicação de uma lâmina de
água de irrigação superior aquela requerida pela cultura,
fazendo com que uma fração da água aplicada percole
abaixo da zona radicular, lixiviando parte dos sais
acumulados.
A lixiviação é a chave da irrigação bem sucedida
onde a salinidade é excessiva, e também é considera
como o único meio pelo qual a salinidade do solo pode
ser mantida em níveis aceitáveis sem riscos para as
culturas. Pois, quanto mais salina é a água de irrigação
ou mais sensível é a cultura à salinidade, a mais lixiviação
deve existir para manter o rendimento da cultura
explorada.
A necessidade de lixiviação (NL) é a fração mínima
da quantidade total de água aplicada que deve passar
através da zona radicular, para prevenir a redução no
rendimento da cultura. Devido à condutividade elétrica
(CE) ser facilmente medida e quase linearmente
relacionada com a concentração de uma soluçãodo solo
relativamente diluída, comumente substitui-se a
concentração por CE.
Para Rhoades et al. (1992), a necessidade de
lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
da frequência de irrigação, que influencia na resposta
das culturas à salinidade da água de irrigação. Ele não é
suficientemente entendido, especialmente quando suas
interações de equilíbrio com a frequência de irrigação são
consideradas em conjunto. Bower et al. (1969) considera
quando o solo está em condições de equilíbrio com a
salinidade da água de irrigação, a interação entre
concentração de sais da água de irrigação e a fração de
lixiviação é quem primeiramente determina a
concentração e a distribuição de sais na zona radicular,
assim, como o valor médio do potencial osmótico da água
do solo. A fração de lixiviação é também o principal fator
de manejo que afeta a salinidade ponderada com a
absorção de água. Isso pode ser verificado na Eq. (2),
desenvolvida por Bernstein & François (1973b) para
descrever a concentração média de sais considerando a
absorção de água pela planta, C
 , que é independente do
padrão de absorção de água pelas raízes (Hoffman &
van Genuchten, 1983; Smith & Hancock, 1986):
sendo:
Va e Vr - volume de água de irrigação infiltrado e
drenado, respectivamente;
Ca e Cr - concentração das águas de irrigação e
drenada, respectivamente;
FL - fração de lixiviação, que é a relação entre
a lâmina drenada e a irrigação.
(5)
299Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
A equação acima aplica-se somente para a condição
em que ocorre conservação de massa, ou seja, Ca. Va =
Cr.Vr (Medeiros, 1998). Entretanto, segundo Ingvalson et
al. (1976), pode ser modificada para considerar efeitos de
precipitação ou dissolução de sais como segue:
  
FL
cFLln
FL1
baC 



em que, “a”, “b” e “c” são considerados constantes
empíricas da equação polinomial de 2ª ordem, que
descreve a concentração da solução do solo para uma
dada água de irrigação como função de (1/F) derivada
do modelo “Watsuit” (Rhoades et al., 1992).
Segundo Raats (1974), C não é corretamente descrito
pelas equações acima, quando a dispersão hidrodinâmica
e difusão afetam apreciavelmente a distribuição de sais
na zona radicular.
De acordo com Rhoades (1974), para culturas
específicas e aproximações mais exatas de NL, pode-se
utilizar a seguinte equação:
em que a NL é a necessidade de lixiviação mínima que
se necessita para controlar os sais dentro do limite de
tolerância da cultura, empregando-se métodos de
irrigação convencional; CEa é salinidade da água de
irrigação, em dS m-1, e CEes* é a salinidade média do
extrato de saturação do solo, em dS m-1, que
representam a salinidade tolerada pela cultura
considerada.
A necessidade de lixiviação (NL) para o controle da
salinidade, também pode ser determinada usando as
relações apresentadas por Rhoades (1977, 1982), quando
se conhece a tolerância da cultura à salinidade, a
salinidade da água de irrigação e o tipo de manejo de
irrigação. Nesse caso, a relação para “irrigação
convencional” é usada onde o solo pode ser deixado
secar entre as irrigações, isto é, onde o estresse matricial
significante ocorre junto com o estresse osmótico
induzido pela salinidade; a relação para “irrigação com
alta frequência” é usada onde o solo não seca
significativamente entre irrigações. Inerente a essas duas
relações, está a mudança no índice de salinidade usado
para relacionar a resposta da cultura á salinidade. A
salinidade média na zona radicular (média aritmética) é
usada para “irrigações convencionais”, enquanto a
salinidade da zona radicular ponderada com a absorção
de água da cultura é usada para irrigação de alta
frequência (Medeiros, 1998).
Smith & Hancock (1986) apresentaram a mesma
relação e aproximação como a de Bernstein & Francois
(1973b), Rhoades (1982), Hoffman & van Genuchten
(1983) para calcular NL. Eles sugeriram que a relação
ponderada com a extração de água do solo é único
método aceitável para calcular a NL. Os resultados da
avaliação recente feita por Bresler (1987), quanto a
resposta da cultura à salinidade e manejo da irrigação,
pode ser interpretado como o suporte do conceito de “NL
dual” de Rhoades (1982). O conceito de “NL dual” é um
caminho indireto de ajustamento da NL para os efeitos
do estresse mátrico sobre a resposta da cultura à
salinidade e é recomendada para isto, até que um método
mais convincente seja desenvolvido (Rhoades &
Loveday, 1990).
Para Rhoades et al. (2000), a necessidade de
lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
da frequência de irrigação, que influencia a resposta das
culturas à salinidade da água de irrigação mas é, também
suficientemente entendido, especialmente quando suas
interações com a frequência de irrigação são juntamente
considerados. Com o solo em condições de equilíbrio
com a salinidade da água de irrigação e a fração de
lixiviação (FL) que determina concentração e
distribuição de sais na zona radicular, assim como o valor
médio do potencial osmótico da água do solo, como
evidenciam os dados de Bower et al. (1969). A fração de
lixiviação é também o principal fator de manejo que
afeta a salinidade ponderada com a absorção de água.
Isso pode ser verificado na equação desenvolvida por
Bernstein & Francois (1973) para descrever a
concentração média de sais na solução do solo
considerando à absorção de água pela planta, C, que é
independente do padrão de absorção de água pelas
raízes:
Shalhevet & Reiniger (1964) observaram, durante o
ciclo de culturas anuais que, com lixiviações elevadas,
ocorreu aumento gradativo da salinidade com a
profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação
induziram uma concentração maior na parte intermediária
da zona radicular.
Para Rhoades et al. (1992) o nível de sais na zona
radicular deve ficar abaixo do nível nocivo às plantas
cultivadas. Assim, o monitoramento direto da salinidade
na zona radicular é recomendado para se avaliar a
eficiência dos diversos programas de manejo na área
irrigada.
Frequência de lixiviação
Altas concentrações de sais na porção inferior da
zona radicular das culturas pode ser tolerada com efeitos
mínimos no rendimento, quando a porção superior é
(6)
(7)
300 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
mantida com teor de sais relativamente baixo (Bernstein
& Francois, 1973). As plantas compensam reduzindo a
absorção de água da região mais salina e aumentando a
absorção da parte menos salina (Shalhevet & Bernstein,
1968). Embora essa compensação possa ocorrer sem
redução de rendimento, questões frequentemente
levantadas são: (i) quanto de sais pode ser armazenado
na zona radicular antes que a lixiviação seja necessária
e (ii) quantas vezes água em excesso deve ser aplicada
para proporcionar lixiviação.
A maioria das águas de irrigação apresenta salinidade
que, mesmo sem lixiviação, muitas irrigações possam ser
aplicadas antes que a salinidade atinja níveis prejudiciais às
culturas. Esse atraso na lixiviação é claro, depende da
tolerância da cultura; mais tolerante a cultura, maior o
atraso. Um exemplo de atraso da lixiviação, foi o
experimento de lisímetro em casa de vegetação com
alfafa usando água de irrigação de 1 dS m-1, em perfis de
solo franco arenoso de 0,6, 1,2 e 1,8 m de profundidade,
durante 9, 14 e 20 meses, respectivamente (Francois,
1981). O rendimento foi reduzido menos de 25%, embora
mais de 14, 30 e 45 Mg ha-1 de sais fossem armazenados
na metade inferior dos três perfis sem lixiviação. Assim,
quanto mais profundo for o solo, maior será a capacidade
de armazenar sais, com redução mínima de rendimento.
Reduções drásticas de rendimento somente ocorreram
quando os sais começaram a se acumular na porção
superior da zona radicular.
Considerando a salinidade do solo, Meiri & Shalhevet
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes
proporcionaram maiores salinidades no final do
experimento.
Sendo assim, para irrigações de alta frequência, o
problema do pico de salinidade mais raso pode ser
resolvido aplicando-se as lâminasde lixiviação apenas
quando a salinidade do solo atinge valores críticos para
as culturas.
PREVISÃO DE SALINIDADE EM
ÁREAS IRRIGADAS
Balanço de sais na zona radicular
A água de irrigação contém sais solúveis e seu uso
constante, na ausência de lixiviação, faz com que o sal
se deposite na zona do sistema radicular devido à
evaporação. A remoção de sais da zona radicular para
manter a solução do solo a um nível de salinidade
compatível como sistema de cultivo depende da
manutenção do balanço de sais. Essa lixiviação dos sais
é o fator mais importante para evitar a salinização de
uma área irrigada. Além disso, vários outros fatores
podem ainda afetar o processo de salinização, como a
drenabilidade do solo, a precipitação dos sais de baixa
solubilidade, manejo da irrigação e manejo agronômico.
A salinidade do solo pode aumentar
consideravelmente em apenas um período de irrigação
com água salina, quando não ocorrem chuvas nesse
período (FAO/UNESCO, 1973). Em Israel, o uso de
água com uma condutividade elétrica variando entre 0,70
e 4,00 dS m-1 tem aumentado a condutividade elétrica do
extrato de saturação do solo de 0,20 a 2,50 dS m-1 após
um período de irrigação (Medeiros, 1992). O Comitê de
Terminologia da Sociedade Americana de Ciência do
Solo classifica um solo de sódico quando este apresenta
RAS > 15 meq L-1 e salino para CEes > 2dS m-1 a 25ºC
(Glossary of Soiul Science Terms, 1975).
Segundo Medeiros (1998), sendo conhecido o teor de
sais no início, na zona radicular, pode-se calcular a
variação de armazenamento de sais (Z) no intervalo de
tempo considerado, como:
sendo,
Z1 - quantidade de sais na zona radicular (Z =
CEcc.Wcc), no início da irrigação ou período considerado,
expresso como CEmm, em dS m-1.mm;
Wcc - lâmina de água que o solo retém à capacidade
de campo (cc) na profundidade da zona radicular, em
mm;
R*- lâmina de percolação, (mm);
I - lâmina de irrigação (mm);
Ca - concentração de sais na água de irrigação (dS m-1).
Medeiros (1998) considera que a variação de CE da
água do solo à capacidade de campo, num período de
tempo, pode ser obtida, dividindo-se a variação de
armazenamento de sais (Z) pela lâmina de água à
capacidade de campo (Wcc).
Avaliação da água de irrigação através de
simulação e previsão da salinidade do solo
Segundo Rhoades et al. (2000), as condições de
equilíbrio não ocorrem na maioria das situações
encontradas na agricultura irrigada. Nesse caso, são
necessários modelos dinâmicos complexos (Bresler,
1987; Bresler & Hoffman, 1986; Letey & Dinar, 1986;
Letey et al., 1990; entre outros) para levar em conta as
variáveis climáticas, culturas, solos, água, atmosfera,
manejo de irrigação e tempo, relacionando as variáveis
que influenciam o potencial total da água e seus
(8)
301Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
componentes. Entretanto, a maioria dos dados de entrada
requeridos por esses modelos não está geralmente
disponível para muitas aplicações práticas e existem
muitas incertezas a respeito de como relacionar a
resposta das culturas à salinidade e ao potencial mátrico
variável no tempo e espaço, tal como pode ser previsto
por estes modelos. Por estas razões, modelos
conceitualmente simplificados, como os existentes para
condições de equilíbrio, podem ser mais apropriados para
avaliar a adequabilidade da água de irrigação. Estes
modelos, provavelmente, fornecem a pior situação que
resultaria da irrigação com uma determinada água
(Rhoades et al., 2000).
Assim, Rhoades & Loveday (1990) e Rhoades et al.
(2000) recomendam um modelo para condições de
equilíbrio relativamente simples desenvolvido por
Rhoades & Merrill (1976). A sequência básica é a
seguinte: (1) prever a salinidade, sodicidade e
concentração de íons tóxicos da água do solo em uma
zona radicular simulada, resultante do uso de uma
determinada água de irrigação de dada composição,
aplicada com uma fração de lixiviação específica e (2)
avaliar o efeito deste nível de salinidade (ou
concentração iônica) no rendimento da cultura e do nível
de sodicidade sobre a permeabilidade do solo. Também
existe uma versão deste modelo, com mais sofisticação,
em forma de programa para computador, denominado
“Watsuit” (Rhoades & Merrill, 1976).
A tendência atual é desenvolver modelos capazes de
prognosticar os riscos de salinização e/ou sodificação a
partir de dados meteorológicos do local e as
características do solo, água e cultura a serem utilizadas.
No Brasil, de nosso conhecimento, essa linha de pesquisa
ainda encontra-se na fase inicial de adaptação. Os
técnicos da CODEVASF elaboraram um mapa de riscos
relativos de salinização para bacia do rio São Francisco
utilizando dados climatológicos (evapotranspiração e
precipitação) e a qualidade da água disponível para
irrigação. Por outro lado, a Universidade Federal da
Paraíba com base de balanço de sais no solo tem
verificado boas correlações entre os resultados
simulados e experimentais obtidos em cultivo de banana
(Santos, 1997), o mesmo tem sido verificado em plantio
de melão, em Mossoró/RN (Costa, 1999), e por Medeiros
(1998), sob cultivo de estufa, onde verificou, que em
termos médios a salinidade simulada ficou próxima da
medida (Tabela 4), divergindo apenas na evolução ao
longo do tempo. O valor médio simulado 15 a 20% acima
do valor medido pode ser atribuído a posição das coletas
das amostras de solo, que foi feita na região central do
bulbo, onde a salinidade tendeu a ser menor.
O exemplo apresentado em seguida apresenta uma
versão adaptada por Medeiros & Gheyi (1997) para
cálculo em planilha eletrônica para simular a salinidade
no perfil do solo para diferentes valores CE da água e
valores de fração de lixiviação, considerando a irrigação
convencional e alta frequência. Este procedimento
apresenta boa precisão para as águas do Brasil, pois as
mesmas, em sua grande maioria são pobres em SO4, não
havendo formação de precipitados de sulfato de cálcio.
E ainda pode identificar culturas que possam ser
exploradas na área em estudo. A mesma planilha utiliza
um procedimento, sugerido por Suarez (1981), que é o
cálculo da RAS ajustada ou corrigida (RASaj ou RASc)
para predizer potenciais problemas de infiltração devido
alta concentração de Na ou baixa concentração de Ca
na água de irrigação, como também estimar a sodicidade
do solo no seu perfil, conforme a equação:
 
2
CaMg
NaRAS
e
aj


em que, Na e Mg são concentrações de sódio e
magnésio na água de irrigação, em mmolc L-1 e Cae é
teor de cálcio da água, modificado pela pressão parcial
do dióxido de carbono (PCO2) exercida no perfil do solo.
O valor de Cae representa a concentração final de
cálcio que permaneceria na solução do solo, como
resultado da aplicação de uma água de determinada
salinidade (CEa) e teor relativo de bicarbonato em
relação ao cálcio (HCO3/Ca) e foram apresentados por
Suarez (1981), na forma de tabela. Medeiros & Gheyi
(1997) desenvolveram a partir de um ajustamento
matemático dos valores da tabela apresentada por
Suarez (1981), adaptando-a às grandezas e unidades a
Equação seguinte:
Tabela 4. Média ao longo do tempo da salinidade medida e
simulada, assumindo a média aritmética para a
profundidade da zona radicular de 60 cm, e salinidade
medida no final do ciclo. (Medeiros, 1998)
(9)
302 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
   )999,0r(
Ca
HCOCE136,0CE47,232,9X 2
3/2
32/1 





onde, X é concentração molar de cálcio dissolvido ou
precipitado na solução do solo para alcançar o equilíbrio
com a calcita, em mmol L-1 e (HCO3/Ca) é teor relativo
de bicarbonato em relação ao cálcio, com concentração
expressa em mmolc L-1.
O valor da concentração de cálcio em equilíbrio na
solução do solo, em mmolc L-1, é obtido por:
 3/1)CO(e )P(X43,0Ca 2
em que, PCO2 é pressão de CO2 no perfil do solo, em kPa.
Para a superfície do solo, usa-se PCO2=0,03 a 0,07
kPa; para a parte da zona radicular mais profunda, na
ausência de informações específicas, usa-se valores de 1
e 3 kPa para solos arenosos e argilosos, respectivamente
(Rhoadeset al., 2000). Segundo Rhoades & Loveday
(1990), o programa “Watsuit” adota para PCO2 na
superfície do solo e nos quatros quartos subsequentes, de
abrangência do sistema radicular, respectivamente, os
seguintes valores: 0,07; 0,5; 0,15; 2,3 e 3,0 kPa.
As perdas (ou ganhos) em concentração de Ca são
iguais à diferença [(Caa.Fc) – Cae], todos em mmolc L-1,
e a perda (ou ganho) correspondente em CE (dS m-1) é
igual ao produto de 0,1 vezes esta diferença.
Exemplo de aplicação:
Avaliar a qualidade da água de irrigação, baseado nas
condições de manejo, sabendo-se que vai ser utilizada para
irrigar tomate. A composição da água é a seguinte: Cl =
15,3; HCO3 = 7,0; Ca = 9,3; Mg = 4,0 e Na = 10,0 mmolc
L-1, CE = 2,3 dS m-1 e pH =7,0. O solo é um Latossolo
Vermelho Amarelo Eutrófico com boa drenagem. A área
irrigada se localiza em Mossoró-RN, cuja precipitação
pluviométrica média é de 700 mm, com uma precipitação
efetiva de 420 mm.
O padrão de absorção radicular, assumindo quatro
camadas, será 60-30-7-3%, que é típico para irrigação de
alta frequência, e a pressão parcial de CO2 nas interfaces
de cada camada são: 0,07; 0,5; 1,5; 2,3 e 3 kPa.
O tomateiro tolera a uma salinidade de 2,5 dS m-1 e a
partir daí há uma redução no rendimento da ordem de 10%
por unidade de salinidade do solo (CEes).
Pede-se:
a) Utilizar a planilha eletrônica para simular o
comportamento da salinidade do solo para condições de
equilíbrio, aplicando diferentes frações de lixiviação.
a.1) Estimar o perfil de salinidade sem considerar
precipitação de sais para FL = 0,10.
a.2) Estimar a composição da solução do solo,
assumindo precipitação da calcita, para FL = 0,10.
a.3) Determinar a necessidade de lixiviação para se
obter rendimento potencial e 90% para irrigação
convencional e de alta frequência.
Solução:
a.1) Previsão do perfil de salinidade para as condições
de equilíbrio, sem considerar precipitação de sais:
Os cálculos de balanço de sais serão feitos por
camada, conforme procedimento mostrado para
elaboração da Tabela 4.
A lâmina de irrigação necessária para suprir a
demanda hídrica da cultura e a fração de lixiviação será:
      PE1111,1
9,0
1
PE
FL1
1
PEI 


A lâmina percolada abaixo da zona radicular para a
FL proposta será:
    PE1111,0
FL - 1
FLPER 
1 (E-P) representa a quantidade da água de irrigação líquida consumida pela cultura.
2 Assume-se que a CE da água percolada é igual a CE da solução do solo à capacidade de campo.
a.2) Assumindo a precipitação do Ca.
Como a concentração do sulfato na água de irrigação
é baixa e o maior fator de concentração da água no solo
ser 10, o sulfato irá se concentrar abaixo da solubilidade
do sulfato de cálcio. Assim a ocorrência de precipitados
deve ocorrer apenas como carbonato de cálcio.
Os quadros seguintes apresentam os resultados para
cada posição da zona radicular.
(10)
(11)
(12)
(13)
303Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
Os procedimentos de como se calcular os valores
apresentados nestes dois últimos quadros estão
apresentados em seguida:
CEr - CE da água percolada das respectivas
camadas, sem considerar ocorrência de precipitações.
O valor para a posição “0” corresponde a CE da água
de irrigação.
Fc - fator de concentração da solução do solo, obtido
pela razão entre CEr de cada posição da zona radicular
e CEa.
Na, Mg, Ca, HCO3 e Cl - concentração dos
elementos contidos na água de irrigação vezes o fator de
concentração de cada posição.
RAS determinada pela equação: RAS = Na/
[(Ca+Mg)/2]0,5
RASaj determinada pelas Eqs. 17, 18 e 19
CEas - CE da solução do solo na capacidade de
campo, corrigida pela precipitação ou dissolução da
calcita, ou seja, CEas=CEr - 0,1.(Ca - Cae).
CEesaj - CE da solução do solo (CEas) expressa como
do extrato de saturação, obtido por:
 
as
cc
S
es CEU
UajCE 
Assim, CEes e CEes, assumindo a precipitação do
CaCO3, foram respectivamente 2,22 e 4,01 dS m-1,
representando uma redução de 30,8 e 33,9% em relação
aos valores obtidos sem considerar as precipitações. Por
outro lado, as médias aritmética e ponderada da RAS
apresentaram um aumento de 51,3 e 45,3%, quando se
efetuou a correção da precipitação do Ca.
a.3- Necessidade de lixiviação para se obter o
rendimento potencial de 90%.
Considerando os parâmetros de tolerância para o
tomate, aplicando a Eq. (1), a salinidade do solo para o
rendimento de 90% é de 3,5.
Utilizando a planilha de cálculo acima, para FL de
0,02 a 0,30, têm-se os seguintes valores de salinidade do
solo para irrigação convencional e de alta frequência:
Assim, para irrigação convencional, a necessidade de
lixiviação deve ficar por volta de 12%, e para irrigação
de alta frequência, 2%.
Manejo da água e tolerância das culturas
considerando os valores de CE das águas dos poços
na região de Mossoró
A área explorada sob condições de irrigação no
Nordeste do Brasil ainda é pequena (aproximadamente
663.672 ha, em 2001), mas existe potencial para chegar
a 1.304.000 ha (Christofidis, 2001). Embora a irrigação
seja apontada como uma das alternativas para o
desenvolvimento socioeconômico das regiões semi-
áridas, ela deve ser manejada racionalmente, a fim de
evitar problemas de salinização dos solos e de
degradação dos recursos hídricos e edáficos, uma vez
que as condições climáticas dessas regiões são
extremamente favoráveis à ocorrência desses problemas
(Medeiros, 2008).
Souza et al. (2000) reforçam que, em áreas irrigadas,
o processo de salinização pode acontecer mesmo em
solos com boas características, em especial nas situações
em que não existe manejo de solo e água adequado. Na
realidade, a concentração de sais nos solos irrigados
apresenta relação direta com a precipitação total anual,
com as características físicas do solo e com as condições
de drenagem.
Sabe-se que todas as águas utilizadas na irrigação
contêm sais, que se concentram no solo à medida que as
plantas retiram a água do mesmo. Uma lâmina de 100
mm mesmo com, relativamente, baixo teor de sais
(condutividade elétrica de 0,50 dS m-1 ou 320 mg L-1 de
sólidos dissolvidos totais), pode incorporar no solo cerca
de 320 kg ha-1 de sais, sendo que cada irrigação ou
lâmina adicional provocaria um aumento progressivo se
estes sais não forem lixiviados ou sofrerem qualquer
outra transformação - precipitação ou retirada pelas
plantas. Na presença do lençol freático alto, a água
ascende por capilaridade na zona radicular à medida que
esta é evapotranspirada. A rapidez deste processo
depende do manejo da irrigação, da concentração de sais
na água do lençol, da profundidade do lençol freático, do
tipo de solo e do clima (Ayers & Westcot, 1999).
Na agricultura irrigada, a utilização indiscriminada de
águas com concentração elevadas de sais pode salinizar
os solos, comprometendo a produção das culturas.
Porém, existem amplas evidências em todo o mundo, que
águas de alta salinidade, classificadas como inadequada
1 Valor calculado fazendo-se a média de cada camada e posterior média das médias parciais.
(14)
304 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
para irrigação, podem ser usadas na irrigação de várias
culturas selecionadas sob certas condições (Rhoades et
al., 2000).
Alguns autores (Medeiros et al., 2003; Maia, 1996)
verificaram a existência de relações entre diferentes
características da água. Na Tabela 5 são apresentadas
relações existentes entre a CE e as concentrações de
(Ca2++ Mg2+, Ca2+, Na+ e Cl-), as duas podem ser
estimadas com boa precisão (R2 > 0,69) a partir da CE,
crescendo todos proporcionalmente com a salinidade da
água, enquanto o HCO3- não apresentou correlação
significativa, mas podendo ser obtido por diferença
(HCO3=Ca+Mg+Na-Cl). De uma forma geral, as
relações foram similares entre as épocas, exceto para a
relação Na x CE, cujas águas mais salina tenderam a
apresentar maiores teores de Na.
Nas culturas moderadamente tolerantes (mamão,
abobrinha, sorgo, etc.) a irrigação convencional pode ser
utilizada sem nenhuma restrição quando se utilizar águas
com CEa ≤ 1,75 dS m-1,contudoestas culturas não
suportam irrigação com águas de CEa ≥ 5dS m-1, sem que
haja prejuízo. Para se utilizar águas com CEa de 2,5; 3,5
e 4,5 dS m-1 sem redução do seu rendimento, é preciso
adicionar lâmina de irrigação com frações de lixiviação
≥ 5%, 10% e 18%, respectivamente.
Utilizando-se irrigação de alta frequência (Figura 6),
observa-se que todas as águas avaliadas podem ser
aplicadas na irrigação das culturas tolerantes. Para
moderadamente tolerantes, existem restrições para águas
com CEa > 3,5 dS m-1.
Figura 5. Comportamento da CEes em função da CEa e da
fração de lixiviação aplicada através de métodos de
irrigação convencional e de alta freqüência
Tabela 5. Relação entre condutividade elétrica e as
concentrações de diferentes íons
O uso da irrigação com águas de qualidade inferior em
regiões semi-áridas exige manejo adequado, com
aplicação de frações de lixiviação e o uso sistemas de
drenagem como estratégia para minimizar a acumulação
de sais na área do sistema radicular das culturas.
Na Figura 5 verifica-se que as culturas classificadas
como tolerantes (algodão, coqueiro, grama) podem ser
irrigadas sem nenhuma restrição pelo método convencional
quando se utiliza águas com CE ≤ 3,5 dS m-1. Já as águas
com CEa a 4,5 apresenta restrição para o uso convencional
em culturas tolerantes, recomendando-se uma lixiviação
de ≥ 8 % .
C
Ee
s 
(d
S 
m
-1
)
Figura 6. Comportamento da CEes em função da CEa e da
fração de lixiviação aplicada através de métodos de
irrigação de alta freqüência
FL (%)
C
Ee
s 
(d
S 
m
-1
)
FL (%)
Para a cultura do melão, considerada moderadamente
sensível, não pode ser irrigada sem que haja prejuízo pela
água de CEa ≥ 3,5 dS m-1 (Figura 6). Já as águas de 2,5
dS m-1 podem ser utilizadas sem prejuízos na produção,
desde que se aplique fração de lixiviação ≥ 14%.
EXPERIENCIAS NO NORDESTE
BRASILEIRO COM ÁGUA SALINA
Na área semi-árida do Brasil, embora exista uma boa
disponibilidade de água doce, há uma má distribuição
espacial, muitas vezes distante dos bons solos para
irrigação. Um exemplo concreto disso ocorre na área da
Chapada do Apodi, no estado do Rio Grande do Norte,
onde existe uma área significativa de solos apropriados
para culturas irrigadas, sem problemas de drenagem, mas
a água que tem disponibilidade a custo relativamente
barato apresenta salinidade alta (1,0 a 4,0 dS m-1).
Mesmo assim, cerca de 50% do melão produzido pelo
país é produzido nesta área.
Na Figura 7 mostra-se o rendimento e peso medo de
frutos de duas cultivares de melão irrigadas com
305Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
diferentes níveis de salinidade. Verifica-se que a cultivar
Trusty, que é melão cantaloupe, seu rendimento é
reduzido apenas a partir de uma salinidade 3,3 dS m-1,
enquanto a cultivar Orange flesh decresceu seu
rendimento a partir do uso de água de CE 2,5 dS m-1.
Gurgel et al. (2003) observando a evolução da
salinidade no solo em dois cultivos consecutivos de melão
irrigado com águas de diferentes salinidades na Fazenda
São João, no município de Mossoró, estado do Rio
Grande do Norte, verificou que de modo geral, a
salinidade do solo tendeu ao equilíbrio, a partir do final do
primeiro ciclo do meloeiro. Apesar da concentração
salina do solo no segundo ciclo da cultura, ter aumentado
nas camadas mais profundas, a intensidade foi superior
na camada superficial e tanto no primeiro como no
Figura 7. Rendimento comercial (A) e peso médio de fru-
tos das cultivares de melão Trusty (C1) e Orange flesh
(C2) (B) submetidas a diferentes níveis de salinidade de
água de irrigação (Barros, 2002)
Figura 8. Lâmina de irrigação e de chuva ocorrida durante o
cultivo de melão, milho e melão. Cultivo de milho foi
realizado 120 dias após o início do Exp. I e o segundo
ciclo do melão 335 dias após o início do Exp. I
Figura 9. Curvas de salinidade do solo durante um período
de um ano e meio, onde se cultivou dois ciclos de
melão e um de milho
Estudando o risco de salinização em quatro solos do
Rio Grande do Norte sob irrigação com águas salinas
Silva et al. (2007) verificaram que o uso de águas de
condutividade elétrica crescente promoveu a elevação do
pH, da CEes e da RAS no extrato de saturação dos solos.
O aumento na relação de adsorção de sódio das águas
promoveu o incremento dos efeitos das soluções salinas
sobre os solos, indicando a necessidade do
monitoramento da qualidade da água e das propriedades
físico-químicas dos solos submetidos a irrigação com
águas salinas.
Os solos da região de Mossoró são solos sedimentares
que apresentam na sua maioria boa drenagem e que a
precipitação média na região fica ao redor de 700 mm,
o que tem sido suficiente para lixiviar os sais que se
acumulam durante o período seco, com irrigações. Na
Figura 8 são mostradas as lâminas de irrigação e
precipitação pluviométrica que ocorrem durante dois
ciclos de melão intercalado do cultivo de milho no período
das chuvas, enquanto na Figura 9 mostra-se a salinidade
do solo durante esse período para a área irrigada com
quatro níveis de sais. Verifica-se que o período chuvoso
foi suficiente para reduzir os sais do solo acumulados no
período seco para valores similares aos níveis existentes
antes do cultivo. Resultados similares podem ser
observados em Barros (2002).
C
E 
1:
2 
m
éd
ia
 d
o 
so
lo
 (d
S 
m
-1
)
Dias após semeadura do Exp. I
306 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
segundo ciclo, a salinidade média na zona radicular, ao
longo de cada ciclo, foi reduzida linearmente com o
aumento da lâmina de irrigação (Figura 10).
econômica quando essa cultivar foi irrigada com água de
máxima salinidade equivalente CEa = 2,4 dS m-1 e
adubada com doses maiores de K2O.
No caso do coqueiro admite-se que possua elevada
tolerância aos sais, levando em consideração os cultivos
existentes na orla marítima. De acordo com Ferreira Neto
et al. (2002) a água de irrigação com CE de até 10
dS m-1 pode ser utilizada no cultivo de coqueiro anão,
para coco verde sem alterar a qualidade do fruto
comercialmente.
A utilização de água de qualidade inferior nas plantas
além de promove efeito osmótico ocasiona também
desbalanceamento dos nutrientes essenciais.
Recentemente Carmo (2010) estudando o efeito de cinco
níveis de salinidade da água de irrigação (S1 – 0,66, S2
– 2,21, S3 – 3,29, S4 – 4,11 e S5 – 4,38 dS m-1) associados
com três níveis de doses de N aplicadas em fertirrigação
(26, 51 e 76 kg ha-1) na produção e nos seus
componentes, verificou que a salinidade da água de
irrigação diminuiu a produtividade, número de frutos
por planta e peso médio de frutos de abóbora (Figura 11),
Figura 10. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxx
Pr
od
uç
ão
 (
kg
 h
a-
1 )
N
o 
de
 F
ru
to
s 
po
r
Pl
an
ta
Pe
so
 M
éd
io
 (
g)
Cea (dS m-1)
Figura 11. Produtividade, número de frutos por planta e
peso médio de frutos totais e comerciais de abóbora,
híbrido atlas, em função do nível de salinidade da água
de irrigação (Carmo, 2010)
Sa
lin
id
ad
e 
do
 so
lo
 (d
S 
m
-1
)
Dias após início do primeiro ciclo
Na perspectiva de aproveitamento de água salina
podemos destacar várias pesquisas com intuito de
minimizar o problema de salinidade, através da utilização
de espécies mais tolerante. Sabe-se que as espécies e
cultivares se comportam diferentemente em relação á
salinidade. Costa et al. (2008) estudando a emergência
de plântulas de melões híbridos Goldex e Vereda, em
diferentes níveis de salinidade (CE= 0,45; 1,30; 2,15;
3,00; 3,85; 4,70 dS m-1) da água de irrigação observaram
que a salinidade interferiu em todos os parâmetros
estudados: índice de velocidade de emergência (IVE),
emergência das plântulas em casa de vegetação, altura
da parte aérea da plântula e massa da matéria seca da
parte aérea das plântulas, sendo que concentrações a
partir de 2,15 dS m-1 são mais prejudiciais ao híbrido
Goldex que o Vereda. Em melão tipo ‘Honey Dew’,
Pereira et al. (2007) verificaram redução 6,2% na
fotossíntese entre a menor (0,57dS m-1) e a maior (4,50 dS
m-1) salinidade da água de irrigação.
Objetivando avaliar o crescimento e o
desenvolvimento do híbrido Gold mine, submetido a dois
níveis de salinidade da água de irrigação (0,55 e 2,65
dS m-1), em Mossoró (RN), Farias et al (2003)
verificaram que o acúmulo de fitomassa seca foi afetado
pela água de maior salinidade ao longo de todo o ciclo
da cultura.
Em vários trabalhos conduzidos na região do Agropólo
Mossoró-Assu foram avaliados os efeitos da salinidade
da água de irrigação no crescimento, produção e
qualidade pós-colheita do meloeiro (Dutra et al 2000;
Porto Filho et al., 2006a, 2006b; Queiroga et al., 2006;
Silva Júnior et al., 2007). Gurgel et al. (2005) mostraram
que é viável, economicamente, produzir melões de cultivar
Orange Flesh, utilizando água salina (CEa = 3,02 dS m-1
), mas para a cultivar Goldex só houve viabilidade
307Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais
quer seja da produção total quer seja da produção
comercial, entretanto, na produção total as perdas
relativas por unidade de salinidade acima do menor
nível utilizado para produtividade, número de frutos por
planta e peso médio de frutos foram respectivamente de
8,0, 3,2 e 3,5%/(dS m-1), enquanto para a produção
comercial os respectivos valores foram 10,3%, 7,9% e
3,2%/(dS m-1). Constataram ainda que as doses de
nitrogênio incrementaram a produção, exceto para peso
médio de frutos comerciais.
Na Figura 12 (A e B) mostra a produção de melancia
Mickely irrigada com água de diferentes salinidade
Verifica-se que a salinidade influenciou linearmente
parâmetros analisados, sendo a característica mais
afetada a produtividade com uma redução de ate 41,28%
em relação ao menor nível salino.
(A)
(B)
Figura 12. Produtividade (a) e número de frutos (b) e peso
médio dos frutos de melancia irrigada com diferentes
níveis salinos
Figura 13. Relação entre rendimento relativo a água S1
(CE=0,6) em função da salinidade da água de irriga-
ção aplicada de forma incremental à partir diferentes
dias após semeadura (DAS) em dois ciclos (Porto Filho,
2003). (A) – primeiro ciclo e (B) – segundo ciclo
(B)
(A)
Outras alternativas podem ser utilizadas no caso de
existir águas de baixa e alta salinidade como a mistura de
água com elevada concentração de sais com água de
boa qualidade, vem sendo uma alternativa para melhorar
a qualidade e aumentar a disponibilidade de água nessas
regiões, principalmente nas áreas em que as águas
apresentam elevados teores de sais, ou se irrigar nas
fases iniciais de cultura com água doce e posteriormente
utilizar as águas de maior salinidade. A Figura 13 ilustra
o uso de água de águas de salinidade incremental sendo
utilizada na irrigação do melão, onde se verifica, que o
uso de águas salinas no terço final do ciclo não provoca
efeitos negativos à cultura.
Na Figura 14 é apresentado os valores de rendimento
da bananeira, em termos de peso de cacho, e que a
planta responde a salinidade média do solo durante o
Figura 14. Peso de cacho de banana, em valor absoluto e em
relação ao valor obtido para o menor nível de salinida-
de (0,55 dS m-1), em função da salinidade do solo
média ao longo do ciclo cultural (CEa= 0,55, 1,70,
2,85 e 4,0 dS m-1)
308 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
ciclo cultural, apresentando um decréscimo no peso de
2,61 kg por incremento unitário da salinidade acima de
CEes=1,7 dS m-1, representando uma perda relativa de
rendimento de 26%/(dS m-1). Assumindo 1,7 dS m-1
como sendo a salinidade limiar, que na realidade seria
este valor ou menor, a perda relativa de rendimento
acima deste valor pode ser considerada com sendo de
26%.
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