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RESUMO E QUESTÕES DAS OBRAS DA UEM

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RESUMO E QUESTÕES DAS OBRAS 
DA UEM 
POR: @DIIPLOMED 
 
ANTOLOGIA POÉTICA 
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 
Sobre o autor: Carlos Drummond de Andrade nasceu dia 31 de outubro de 1902 em Itabira do Mato 
Dentro, no interior de Minas Gerais. Descendente de uma família de fazendeiros tradicionais da região, 
Drummond foi o nono filho do casal Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. 
Desde pequeno Carlos demonstrou grande interesse pelas palavras e pela literatura. Em 1916, ingressou 
no Colégio em Belo Horizonte. Dois anos mais tarde, foi estudar no internato jesuíta no Colégio Anchieta, 
no interior do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, sendo laureado em “Certames Literários”. Em 1919, foi 
expulso do colégio jesuíta por “insubordinação mental” ao discutir com o professor de Português. Assim, 
retorna a Belo Horizonte e a partir e 1921 começa a publicar seus primeiros trabalhos no Diário de Minas. 
Formou-se em Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, porém não exerceu a 
profissão. Em 1925 casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio (em 
1926, que vive apenas meia hora) e Maria Julieta Drummond de Andrade, nascida em 1928. 
Em 1926, ministra aulas de Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira e trabalha como 
redator-chefe do Diário de Minas. 
Continuou com seus trabalhos literários e em 1930 publica seu primeiro livro intitulado “Alguma Poesia”. 
Um de seus poemas mais conhecidos é “No meio do caminho”. Ele foi publicado na Revista de 
Antropofagia de São Paulo em 1928. Na época, foi considerado um dos maiores escândalos literários do 
Brasil. 
Trabalhou como funcionário público durante grande parte de sua vida e se aposentou como Chefe de 
Seção da DPHAN, após 35 anos de serviço público. Em 1982, com 80 anos, recebeu o título de “Doutor 
Honoris Causa” pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 
Drummond faleceu em dia 17 de agosto de 1987 no Rio de Janeiro. Morreu com 85 anos, poucos dias após 
a morte de sua filha, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade, sua grande companheira. 
Escola Literária: 2 Fase do Modernismo, ele segue a linha do verso livre, da liberdade linguística, o 
meto livre, as temáticas cotidianas. 
 
 
 
Sobre a Obra: Dividido em nove partes, que correspondem a diferentes universos temáticos definidos 
pelo próprio autor, o livro oferece uma visão geral da criação de Carlos Drummond de Andrade desde sua 
estreia até o início da década de 1960. 
O ser e o mundo 
Organizada pelo próprio Carlos Drummond de Andrade e publicada em 1962, a Antologia Poética reúne 
textos que originalmente saíram em diversos livros. A obra foi dividida pelo autor em nove partes, cada 
uma correspondente a um universo temático específico. São as seguintes: um eu todo retorcido; uma 
província: esta; a família que me dei; cantar de amigos; na praça de convites; amar-amaro; poesia 
contemplada; uma, duas argolinhas; tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo. 
A seleção que Drummond empreendeu revela alto grau de consciência do escritor sobre seu fazer poético. 
Os temas que escolheu são basicamente os mesmos que a crítica, no futuro, sintetizaria como os 
fundamentais em sua vasta obra. 
Há uma tensão na poesia de Drummond, principalmente a partir do livro “Sentimento do Mundo” (1940), 
que faz o poeta questionar sua atividade com extrema severidade. Tal tensão tem como eixo temático uma 
oposição entre o ser do poeta e o mundo exterior. Quando o eu-lírico se volta para si, sente que seria 
melhor dirigir-se ao mundo; quando se volta para o mundo, sente que seria menos pretensioso limitar-se á 
esfera do ser. 
No “Poema de Sete Faces”, o polo do ser tem prioridade, como mostram os seguintes versos: 
Mundo mundo vasto mundo, 
mais vasto é meu coração. 
Num poema posterior, “Mundo Grande”, o eu-lírico parece responder àquela sentença: 
Não, meu coração não é maior que o mundo. 
É muito menor. 
Nele não cabem nem as minhas dores. 
Por isso gosto tanto de me contar. 
Por isso me dispo, 
por isso me grito, 
por isso frequento os jornais, me exponho 
cruamente nas livrarias 
preciso de todos . 
Essa tensão de impulsos contraditórios será a origem de todos os desdobramentos temáticos indicados 
pelo poeta. 
1- Um eu todo retorcido 
Na primeira parte do livro estão poemas que tratam da questão do indivíduo. O eu-lírico fragmentado se 
apresenta como um deslocado no mundo, na figura do gauche (palavra francesa que significa, literalmente, 
 
 
esquerdo). A imagem retoma a tradição francesa do poeta inadaptado, que tem como referência central 
Charles Baudelaire. Isso ocorre, por exemplo, no próprio “Poema de Sete Faces”: 
Quando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombra 
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. 
2- Uma província: esta 
Nessa seção, há poemas sobre a terra natal do autor. Permeados de atmosfera nostálgica, não se deixam 
levar pelo saudosismo, mas, antes, questionam o espaço natal, colocando sempre em evidência que o 
espaço é também uma criação subjetiva. 
Trata-se, portanto, de um prolongamento da questão do eu em relação ao mundo. Em “Confidência do 
Itabirano” diz: 
Alguns anos vivi em Itabira. 
Principalmente nasci em Itabira. 
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. 
Noventa por cento de ferro nas calçadas. 
Oitenta por cento de ferro nas almas. 
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação 
3- A família que me dei 
Os poemas expressam uma profunda reflexão do poeta sobre o atributo da memória. A família é criação 
do eu. A memória cria nostalgia e saudade, a partir do presente, articulando fragmentos esparsos de um 
passado sem nenhum sentido pressuposto. O questionamento a respeito da memória deve destruir a sua 
ilusão para recompô-la em seguida, no plano da criação poética. Um exemplo é “Infância”: 
E eu não sabia que minha história 
era mais bonita que a de Robinson Crusoe 
4- Cantar de amigos 
Esse bloco de poemas trata da temática da amizade, mas de uma amizade estabelecida no plano poético, 
como se os amigos fossem ligados ao eu-lírico, esse “Carlos” mitológico, que não deve ser confundido com 
o próprio poeta e que saúda Manuel Bandeira, nos belos versos de “Ode no Cinqüentenário do Poeta 
Brasileiro”: 
Debruço-me em teus poemas 
e neles percebo as ilhas 
em que nem tu nem nós habitamos 
(ou jamais habitaremos) 
e nessas ilhas me banho 
num sol que não é dos trópicos, 
 
 
numa água que não é das fontes 
mas que ambos refletem a imagem 
de um mundo amoroso e patético 
5- Na praça de convites 
Poesia que se aproxima do lúdico. Procura-se, nos herméticos caminhos da linguagem, um sentido para a 
atividade poética no mundo contemporâneo. 
 
Resta à poesia o jogo desinteressado com a linguagem, como uma prática da arte mais técnica, uma 
espécie de poesia para poetas. Veja-se “Política Literária”: 
O poeta municipal 
discute com o poeta estadual 
qual deles é capaz de bater o poeta federal. 
Enquanto isso o poeta federal 
tira ouro do nariz. 
6- Amar- amaro 
Aparece aqui a tensão entre o mundo exterior e o ser do poeta. É um momento de angústia e medo, que 
lembra bastante a perspectiva da II Guerra Mundial (1939-1945). Em “Sentimento do Mundo”, o poeta diz: 
Tenho apenas duas mãos 
e o sentimento do mundo, 
mas estou cheio de escravos, 
minhas lembranças escorrem 
e o corpo transige 
na confluência do amor. 
O eu-lírico mostra sua pequenez enquanto matéria, mas acredita numa forma de transformação social, que 
se mantém apenas como perspectiva embrionária. Essa “esperança” não é apenas na transformação do 
mundo exterior, mas de todas as relações humanas. Quase sempre, porém, tal perspectiva é sufocada por 
forças gigantescas que partem a unidade dos seres e os tornam incomunicáveis e incompreensíveis uns aos 
outros e a si mesmo. Em “O Elefante”: 
Eis meu pobre elefante 
pronto para sair 
à procurade amigos 
num mundo enfastiado 
que já não crê nos bichos 
 
 
e duvida das coisas. 
Ei-lo, massa imponente 
e frágil, que se abana 
e move lentamente 
a pele costurada 
onde há flores de pano 
e nuvens, alusões 
a um mundo mais poético 
onde o amor reagrupa 
as formas naturais 
7- Poesia Contemplada 
Poemas de cunho metalinguístico, ou seja, em que o poeta constrói uma reflexão sobre o próprio fazer 
poético. O senso estético do autor alcança grande dimensão de consciência, e a tensão entre o eu e o 
mundo se atenua, já que o eu-lírico suspende a existência de ambos para situar-se no território da 
linguagem (“penetra surdamente no reino das palavras”). 
Drummond atinge, nesse momento, uma dimensão parecida com a do poeta francês Stéphane Mallarmé, 
numa postura de arte pela arte, ou seja, a arte existe por si e é justificativa de si mesma. O poeta não deve, 
portanto, buscar a expressão de qualquer sentimento, sensação ou objeto exterior. O tema de sua poesia 
está no nada que se esconde por trás das coisas, esse nada que as cria e que é a própria linguagem. O 
poeta parece compreender que tudo o que está no poema só existe como linguagem. Em “Procura da 
Poesia”, diz: 
Não faças versos sobre acontecimentos. 
Não há criação nem morte perante a poesia. 
Diante dela, a vida é um sol estático, 
não aquece nem ilumina. 
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. 
8- Uma, duas argolinhas 
Poemas sobre o conhecimento amoroso, nos quais a própria natureza do amor é contestada: ele será visto 
mais como criação subjetiva do que como fenômeno exterior, um dado natural. O angustioso ato de amar, 
no entanto, não se contenta em saber disso e tem quase sempre um desfecho triste, um travo amargo. 
O amor, tema que foi tão largamente utilizado pela poesia e por isso poderia parecer desgastado, ganha 
nova significação, numa estrutura poética que leva em conta o próprio ato criativo implícito na experiência 
subjetiva do amar. O poeta não expressa o amor, mas cria uma narrativa sobre esse sentimento, como em 
“O Amor Bate na Aorta”: 
Entre uvas meio verdes, 
meu amor, não te atormentes. 
 
 
Certos ácidos adoçam 
a boca murcha dos velhos 
e quando os dentes não mordem 
e quando os braços não prendem 
o amor faz uma cócega 
o amor desenha uma curva 
propõe uma geometria. 
Amor é bicho instruído. 
Olha: o amor pulou o muro 
o amor subiu na árvore 
em tempo de se estrepar. 
Pronto, o amor se estrepou. 
Daqui estou vendo o sangue 
que escorre do corpo andrógino. 
Essa ferida, meu bem, 
às vezes não sara nunca 
às vezes sara amanhã. 
9- Tentativa de exploração e de interpretação do estar- no mundo. 
O mundo aparece como uma “máquina” sem sentido prático a priori. O eu busca uma compreensão 
impossível, que está para além das coisas. O ideal de uma arte pura tropeça nos impedimentos do mundo, 
na simbologia dos objetos: a “pedra no meio do caminho”, o “resíduo”. Após a destruição do mundo, 
busca-se o que resta, essas marcas que permanecem, que perduram na existência e resistem, de maneira 
precária, á ação do tempo. “Tristeza no Céu: 
No céu também há uma hora melancólica. 
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas. 
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta 
e se responde: Não sei. 
Carlos Drummond de Andrade é, por assim dizer, o poeta da razão, o poeta tenso, cuja sensibilidade é 
reveladora de uma aguda percepção da realidade circundante. Ele observa o mundo ao seu redor e dele 
retira impressões angustiantes e pungentes. Pretende encontrar uma explicação para o fenômeno árduo 
de existir, de estar no mundo. 
Estamos diante de um poeta cujo estro é predominantemente amargo e trespassado pela angústia diante 
de um mundo negativo, árido e deformado, no qual o homem (individual) confronta-se com a sociedade 
(coletivo) preconceituosa e constrangedora. O choque entre o indivíduo e a sociedade resulta, 
geralmente, no que se costuma chamar de “poesia do impasse”, a poesia daquilo que não tem solução 
 
 
aparente, a não ser a necessidade imediata de sobreviver, de suportar a dor e a opressão do mundo 
caótico, desordenado. 
A Antologia Poética foram distribuídos em nove seções ou linhas temáticas: 1) O indivíduo; 2) A terra natal; 
3) A família; 4) Amigos; 5) O choque social; 6) O conhecimento amoroso; 7) A própria poesia; 8) Exercícios 
lúdicos; 9) Uma visão, ou tentativa de, da existência. 
Se cotejados com atenção, os nove temas constituem, na verdade, partes de um todo simétrico, além de 
estarem coerentemente interligados. Vejamos: o 1) indivíduo nasce num 2) contexto cultural qualquer (sua 
terra natal), inserido num 3) ambiente familiar. No decorrer dos anos, faz 4) amigos, interage com a 5) 
realidade circundante, política e socialmente. Em seguida, conhece o 6) amor, que lhe inspira para a 
descoberta da 7) poesia, chegando a 8) brincar com as palavras e com sua estrutura estética. Depois de 
estabelecido como um homem pleno, 9) constrói suas impressões e reflexões sobre a vida, sobre a 
existência. 
SEM QUESTÕES 
CONTOS NOVOS 
MARIO DE ANDRADE 
Sobre o autor: Mário de Andrade (1893-1945) iniciou sua carreira no auge da implantação do 
Modernismo no Brasil. Ao lado de Oswald de Andrade (que não era seu parente) e outros artistas, 
colaborou decisivamente para a revolução modernista e para a realização da Semana de Arte Moderna, em 
1922. E, como tal, fez diversas experiências estilísticas tanto na prosa quanto na poesia, com destaque 
para Macunaíma – o herói sem nenhum caráter (1928) e Amar, verbo intransitivo (1927), destacando-se 
como um dos mentores da renovação literária com vocabulário, estrutura e olhar voltado à cultura 
brasileira. No caso de Contos novos, abandona o experimentalismo mais radical, em prol de uma narrativa 
modernista segura e madura, por assim dizer. As histórias, que se passam em São Paulo, tanto na capital 
quanto no interior, têm como objetivo retratar o processo de urbanização e industrialização, o duelo entre 
patriarcalismo e progressismo, além de denunciar as injustiças sociais e fazer análise psicológica dos 
personagens. 
Escola literária: modernismo – 1 ° geração. O Modernismo surgiu como produto das transformações 
sofridas pelo Brasil nas duas primeiras décadas do século 20, iniciando com a Semana de Arte Moderna de 
1922, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo e tinha como objetivo causar incomodo e chocar os 
expectadores. O Modernismo divide-se em 3 momentos, sendo que a obra e o autor estudados pertencem 
à 1° Geração Modernista 
Sobre a obra: Contos Novos foi publicado postumamente, em 1947. A morte prematura impediu o 
autor de finalizar o projeto do livro, que compreenderia doze contos. Com isso, apenas nove foram 
efetivamente escritos. Segundo indicações do próprio Andrade, ele iniciou a redação ainda na década de 
1920, tendo-a revisado em diversas ocasiões, como é o caso, por exemplo, de Atrás da Catedral de Ruão, 
iniciado em 1927, que passou por, ao menos, cinco revisões até a sua finalização, em julho de 1944. Dos 
nove contos, quatro são narrados em 1ª pessoa pelo personagem Juca. São eles, na ordem em que 
aparecem: Vestida de Preto, Peru de Natal, Frederico Paciência e Tempo da Camisolinha. São narrativas de 
períodos distintos da vida do narrador, desde a infância, passando pela adolescência, até a fase adulta. 
Nesse sentido, a ordem dos contos é exatamente ao contrário, isto é, Tempo da Camisolinha seria o 
 
 
primeiro, Frederico Paciência o segundo; Peru de Natal o terceiro; e, finalmente, Vestida de Preto, o conto 
que compreende os três grandes momentos da vida do narrador (infância, adolescência e vida adulta). No 
entanto, em Tempo da Camisolinha, o narrador é Carlos, embora tudo indique tratar-se mesmo de Juca, 
ainda mais se consideramos a descrição dos cabelos cacheados logo no início do conto, referência idêntica 
à descrição feita do personagem nos outroscontos. O objetivo 27 de todos parece ser a de tentar entender 
quem foi, que aspectos da vida levaram o narrador a ser o que é, bem como, já na quase velhice, tentar 
compreender as atitudes que tomou nos momentos específicos de sua vida. Também, pode-se dizer, que 
são contos em que o peso do lirismo é mais acentuado, em que recompor uma imagem perdida é mais 
importante que a análise social. Além disso, os contos em 1ª pessoa apresentam caráter autobiográfico. 
No período, influenciado pelas doutrinas psicanalíticas de Freud, o autor deixa-se levar por certo complexo 
edipiano, de maneira a exaltar a figura da mãe-mártir perfeita e abominar a formação patriarcal da família. 
Ainda é lembrada (Frederico Paciência) certa tendência ao homossexualismo. Por trás da análise 
psicológica, o escritor mostra a vivência urbana, retirando seus personagens das camadas médias da 
sociedade paulistana. Já os cinco contos restantes são narrados em 3a pessoa – com narrador observador e 
também narrador onisciente (“O Ladrão”, “Primeiro de Maio”, “O Poço”, “Atrás da Catedral de Ruão” e 
“Nélson”). Os três primeiros apresentam um componente social, de inspiração neorrealista, ao passo que 
os dois últimos têm como ponto central questões de ordem existencial. 
Enredo dos contos 
1. "VESTIDA DE PRETO": Juca, em flashback, recupera as primeiras experiências amorosas com sua 
prima Maria, bruscamente interrompidas por uma Tia Velha. A repressão associa-se à rejeição da prima, 
que o esnoba na adolescência. A prima se casa, descasa, e o convida para visitá-la. "Fantasticamente 
mulher", sua aparição deixa Juca assustado. 
 2."O LADRÃO": Numa madrugada paulistana, um bairro operário é acordado por gritos de pega-ladrão. 
Num primeiro momento, marcado pela agitação, os moradores reagem com atitudes que vão do medo ao 
pânico e à histeria, anulados pela solidariedade com que se unem na perseguição ao ladrão. Num segundo 
momento, caracterizado pela serenidade e enleio poético, um pequeno grupo de moradores experimenta 
momentos de êxtase existencial. Os comportamentos se sucedem, numa linha que vai do instinto gregário 
ao esvaziamento trazido pela rotina. 
3. "PRIMEIRO DE MAIO": Conflito de um jovem operário, identificado como "chapinha 35", com o 
momento histórico do Estado Novo. 35 vê passar o Dia do Trabalho, experimentando reflexões e emoções 
que vão da felicidade matinal à amargura e desencanto vespertinos. Mesmo assim, acalenta a esperança 
de que, no futuro, haja liberdade democrática para que "sua" data seja comemorada sem repressão. 
4. "ATRÁS DA CATEDRAL DE RUÃO: Relato dos obsessivos anseios sexuais de uma professora de 
francês, quarentona invicta, que procura hipocritamente dissimular seus impulsos carnais. Aplicação 
ficcional da psicanálise: decifração freudiana. 
5. "O POÇO": Joaquim Prestes, fazendeiro dividido entre o autoritarismo e o progressismo, é desafiado 
por um grupo de peões que se insubordinam, desrespeitando o mandonismo absurdo do patrão. 
 6. "PERU DE NATAL": Juca exorciza a figura do pai, "o puro-sangue dos desmancha-prazeres", 
proporcionando à família o que o velho, "acolchoado no medíocre", sempre negara. 
 
 
7. "FREDERICO PACIÊNCIA": Dois adolescentes envolvidos por uma amizade dúbia, de conotação 
homossexual, procuram encontrar justificativas para esse controvertido vínculo e se rebelam contra as 
convenções impostas pela sociedade. 
 8. "NÉLSON": Registro do comportamento insólito de um homem sem nome. Num bar, um grupo de 
rapazes exercita seu "voyeurismo" pela curiosidade despertada pelo estranho sujeito: quatro relatos se 
acumulam, na tentativa de decifrar a identidade e a história de vida de uma pessoa que vive ilhada da 
sociedade, ruminando sua misantropia. 
9. "TEMPO DE CAMISOLINHA": Juca, posicionando-se novamente como personagem narrador, evoca 
reminiscências da infância, especialmente do trauma que lhe causou o corte de seus longos cabelos 
cacheados. Reconcilia-se com a vida ao presentear um operário português com três estrelas-do-mar. 
Personagens 
 Juca: presente em vários contos na condição de narrador, parece funcionar como alter ego do autor. 
 35: o protagonista sem nome de “Primeiro de maio”, símbolo da festa e da solidariedade que se opõem 
ao estado repressivo. 
 Frederico Paciência: personagem do conto homônimo, síntese das tentativas de vencer as barreiras 
impostas pelo superego. 
 Nelson: personagem do conto homônimo, fiuração da solidão. 
 Mademoiselle: personagem de “Atrás da Catedral de Ruão”, figuração do desejo sexual reprimido. 
Trabalhadores: presentes em “O poço”, “Tempo da camisolinha” e “Primeiro de maio”, evidenciam a 
perspectiva social da literatura modernista. 
QUESTOES 
1) (UEL) Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, é correto afirmar que esse livro: 
a) representa obra da fase madura do autor, desligando-se dos ideais estéticos modernistas de 22 e 
retomando atitudes românticas. 
 b) representa uma evolução da prosa de ficção realista e crítica, assemelhando-se ao regionalismo do 
romance de 30, inclusive no âmbito temático. 
 c) reúne intimismo e crítica social, firmando-se como uma obra de caráter reflexivo do modernismo e 
discutindo diversos preconceitos, como a homossexualidade e o tabu da morte no âmbito familiar. 
 d) recorre, em diversos textos, à personagem Juca, que, ora como narrador, ora como personagem, se 
constitui na defesa do presente e no desprezo pelo passado. 
 e) contraria um traço expressivo da obra poética do autor, ao repudiar a oralidade valorizada nos poemas 
da primeira geração modernista. 
2) (UNEMAT) Os contos de Mário de Andrade ligam-se ao tom coloquial da primeira fase do Modernismo 
brasileiro. Nesse aspecto, assinale a alternativa correta quanto à composição narrativa. 
a) A ausência dos nomes das personagens em Primeiro de Maio e Atrás da catedral de Ruão indica a 
alienação do homem na sociedade. 
 
 
 b) A linguagem coloquial, próxima da oralidade, caracteriza a necessidade de manter o estilo parnasiano. 
 c) A exploração das novas técnicas de linguagem garante a densidade da composição e o apagamento da 
emoção. 
 d) A narrativa linear não permite a digressão e o flashback. 
e) A manutenção do espírito conservador e conformista estabiliza os conflitos das personagens. 
 3) (FUVEST) 
 I. A manobra psicológica do narrador-protagonista mostra que as lembranças obsessivas perdem a força, 
quando o seu culto as eleva a uma respeitosa distância. 
II. A paisagem paulistana é percorrida pelo olhar ingênuo de quem busca reconhecimento e esbarra no 
oficialismo autoritário. 
 As afirmações I e II referem-se, respectivamente, aos seguintes contos de Mário de Andrade (Contos 
Novos): 
 a) Vestida de Preto e Primeiro de Maio 
b) Peru de Natal e Frederico Paciência 
c) O Ladrão e Frederico Paciência 
d) Peru de Natal e Primeiro de Maio 
 e) Vestida de Preto e O Ladrão 
 4) (UNEMAT) Leia os fragmentos da obra Contos Novos, de Mário de Andrade. 
I. “E só mais tarde, já lá pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Se a 
criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque 
assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedos aliás que nos interessava muito, apesar da idade já 
avançada para ele, mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, 
só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par 
fugia logo, indo viver no seu quarto […]. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não 
fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já, 
mas sem tentar nenhuma”. (Vestida de Preto, p. 19) 
 II. “Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas 
chamadas ‘loucuras’. Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquistacontra o ambiente 
familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação 
todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma 
detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, duma criada de parentes: eu 
consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de ‘louco’”. (O Peru de Natal, 
p. 71) 
 Assinale a alternativa correta: 
a) Juca é o personagem-narrador do primeiro conto, enquanto o segundo, é narrado por Joaquim Prestes. 
b) As memórias da infância são recuperadas no segundo conto, pois o primeiro traz o narrador onisciente. 
 c) Em ambos os contos o personagem-narrador é o Juca que recupera a memória da infância. 
 
 
d) Nas lembranças do personagem-narrador Juca, de ambos os contos, o trauma causado pela Tia Velha foi 
o corte de seus longos cabelos cacheados. 
e) A Tia Velha representa uma lembrança prazerosa na memória do narrador. 
5) (FUVEST) “Se em ambos os contos a dominação social é tema de primeiro plano, cabe, no entanto, 
fazer uma DISTINÇÃO: em um deles, ela é direta, e aparece sob a forma do capricho e do arbítrio 
patronais; já em outro, ela é mais moderna – torna-se indireta e anônima.” 
 A distinção realizada nesta afirmação refere-se, RESPECTIVAMENTE, aos seguintes contos de Mário de 
Andrade (Contos Novos): 
a) Nélson e O Poço 
 b) O Ladrão e O Poço 
 c) O Ladrão e Nélson 
 d) O Poço e Primeiro de Maio 
e) Primeiro de Maio e O Ladrão 
GABARITO 
1) C 2) A 3) D 4) C 5) D 
DOIS IRMÃOS 
MILTON HATOUM 
 
Sobre o autor: Milton Hatoum nasceu em Manaus, em de agosto de 1952. É arquiteto de formação, 
mas a literatura sempre esteve no centro de sua vida. Hatoum deu aulas de literatura na Universidade 
Federal do Amazonas e na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Autor do livro de contos A cidade 
ilhada (2009), o escritor ganhou notoriedade com os romances Relato de um certo oriente (1989), Dois 
irmãos (2000), Cinzas do norte (2005) e Órfãos do eldorado (2008), todos publicados pela Companhia das 
Letras. Os três primeiros foram premiados com o Jabuti. Cinzas do norte ganhou os prêmios Portugal 
Telecom, APCA e Bravo!. Sua obra já foi traduzida para diversos idiomas e está publicada nos Estados 
Unidos e na Europa. 
 
Com a publicação do romance Dois irmãos, Hatoum se tornou um dos escritores mais importantes da 
literatura contemporânea. O livro arrebatou a crítica e caiu nas graças dos leitores, feito raro na literatura 
nacional. O romance também tem sido lido por leitores mais jovens, incentivados por professores, que 
frequentemente adotam o romance de Hatoum para trabalhar em sala de aula. 
“Estou ficando com medo de Dois irmãos, porque é muito lido. Então penso: será que é de fato um livro 
que tem alguma qualidade? Quando se atinge um público muito grande, é de desconfiar”, diz o escritor, 
que esteve na última edição do projeto “Um Escritor na Biblioteca” em 2011. O autor também comentou o 
papel social do escritor, dizendo que “cada escritor tem a sua voz e a sua preocupação ética, moral, ou 
ideológica. Por isso, não me omito. A palavra omissão, desconheço”. 
 
 
 
No bate-papo, Hatoum também falou sobre o seu próximo romance (O lugar mais sombrio, com previsão 
de lançamento para 2012), a biblioteca de língua francesa que conheceu ainda menino e que foi a porta de 
entrada para que passasse a se interessar por literatura, e seu método de escrita “flaubertiano”, em que as 
construções são de fato pensadas e refletidas. “Mesmo sabendo que depois muita coisa é imprevisível e 
vem do inesperado”. 
Movimento Literário: Literatura Contemporânea. 
Sobre a Obra: É narrado em 1ª pessoa por Nael, filho de Domingas, empregada e índia. Ele tenta 
descobrir quem dos gêmeos é seu pai, buscando sua própria identidade ao investigar suas raízes. 
Zana e Halim se casam e dessa união nascem os gêmeos Omar e Yaqub (caçula dos gêmeos) e Rânia, a 
caçula dos filhos. Embora os gêmeos Omar e Yaqub fossem bem diferentes no que se refere ao 
temperamento e à personalidade, fisicamente eram idênticos, sendo confundidos até pela própria mãe. Os 
dois se tornam rivais conforme crescem e isso fica notório quando se apaixonam pela mesma moça, Lívia, 
fato que provoca a agressão de Omar contra Yaqub, que é atingido com uma garrafa no rosto (gerando 
uma cicatriz) durante uma sessão de cinema em que beijava Lívia. 
O pai decide mandar os dois para o Líbano para amenizar essa rivalidade, mas a mãe intervém para que 
Omar fique justificando este ter saúde mais frágil. Então Yaqub vai com alguns amigos de Halim (um ano 
antes da Segunda Guerra Mundial) para uma aldeia no sul do Líbano e constata a preferência da mãe por 
Omar (o protegido). Cinco anos depois a família o traz de volta para o Brasil (Manaus) e Yaqub não 
consegue perdoar a mãe. 
Omar é beberrão, não estuda e não trabalha. Ao contrário, Yaqub é estudioso, formou-se em engenharia 
em São Paulo, onde se casa com Lívia sem a família saber; após um tempo envia fotos para a família para 
mostrar que havia “vencido na vida”. 
Omar enganava aos pais dizendo que o dinheiro que pedia era para os estudos, embora gastasse tudo na 
farra. Mesmo assim a mãe o defendia cegamente. Isso provocava ciúmes em Halim, porque Zana venerava 
o filho. Halim torcia para que o filho se casasse logo, mas Zana afastava todas as pretendentes de Omar. 
Devido aos dissabores da vida, Halim saía às vezes para beber com os amigos e sumia por horas. Assim, 
Nael era incumbido de ir atrás dele e levá-lo para casa, a pedido de Zana. Desde o início do casamento, 
Halim não queria ter filhos, pois tinha medo do distanciamento da esposa… E foi o que aconteceu. Dessa 
maneira, desgostoso, Halim morre sentado no sofá. “Depois da morte de Halim, a casa começou a 
desmoronar”. 
Yaqub retorna a Manaus com intuito de construir um hotel na cidade; o irmão o acusa de roubar seu 
projeto, o agride e vai preso. Ao sair da cadeia, Omar, já velho, se depara com a casa vendida, a mãe 
falecida, então desaparece sem deixar pistas. 
Domingas fica doente e antes de morrer revela a Nael, narrador da história, que fora estuprada por Omar. 
Nael fica desconsolado porque era filho do gêmeo que não admirava. O narrador continua morando no 
quartinho dos fundos, agora independente, sua “herança”. 
 
 
 
 
QUESTÕES 
1 (UFSJ) 
 A relação de Rânia com Omar e Yaqub, no romance Dois irmãos, de Milton Hatoum, é 
descrita pelo narrador como: 
a) erotizada 
b) cruel 
c) pudica 
d) fraterna 
2- (UFSJ) 
 Os planos narrativos do romance Dois irmãos, de Milton Hatoum, se organizam a partir: 
a) Do diário de Rânia e das lembranças de Zana. 
b) Dos relatos de Halim e das lembranças de Nael. 
c) Das lembranças de Domingas e das cartas de Zana. 
d) Do depoimento de Omar e dos documentos de Talib. 
 
1- A, 2- B 
 
 
EU E OUTRAS POESIA 
AUGUSTO DOS ANJOS 
Sobre o autor: Augusto dos Anjos nasceu em 1884, em Engenho Pau-d’Arco (PB) e morreu em 1914, 
em Leopoldina (MG). Em Recife, formou-se em direito, mas foi no Rio de Janeiro que viveu grande parte 
dos seus 30 anos. Atuou como professor de aulas particulares, porém teve o apoio financeiro de seu irmão 
Odilon dos Anjos para publicar sua única obra, Eu (1912), que mais tarde foi intitulada de Eu e outras 
poesias, com esta se tornou imortal na literatura brasileira. 
Eclético, Augusto dos Anjos foi influenciado por diversos estilos de época, a saber: Romantismo, 
Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo. Era irreverente em seus poemas ao utilizar palavras como 
“carbono”, “amoníaco”, “moléculas”, “diatomáceas”, ambas advindas do vocabulário de ciências como 
química e biologia. 
“Eu, filho do carbono e do amoníaco 
Monstro de escuridão e rutilância| 
Sofro, desde a epigênese da infância 
A influência má dos signos do zodíaco.” 
O soneto era sua forma preferida de composição e com isso provocava aira dos poetas parnasianos com 
seu vocabulário inovador; acusavam-no de “manchar” a pedra preciosa da literatura: o soneto. Em seus 
poemas explorava a decomposição da matéria, a hipocrisia do homem e sua falta de perspectiva de vida; 
pode-se então perceber que Augusto dos Anjos era um pessimista extremo. 
Sobre a obra: Como o próprio poeta reconheceu, seu livro causou um verdadeiro choque aos padrões 
literários da época. Entre elogios e impropérios, havia, no entanto, unanimidade quanto à originalidade da 
sua obra: com sua linguagem técnica-científica e grotesca, contrariava a ideologia vigente da 'belle époque' 
https://www.coladaweb.com/literatura/romantismo
https://www.coladaweb.com/literatura/parnasianismo
https://www.coladaweb.com/literatura/simbolismo
 
 
carioca. 
Após oito anos do lançamento, seu livro foi reeditado - 'Eu e Outras Poesias' [1920] - alcançando, assim, a 
tão esperada popularidade. 
'Eu e Outras Poesias' representa a soma de todas as tendências e estilos dominantes desde o final do 
século XIX até o início do século XX. Em outras palavras, sua obra recebe influência do Parnasianismo, do 
decadentismo, do Simbolismo e ainda antecipa uma série de características modernistas. Em face disso, 
podemos dizer que, na realidade, Augusto dos Anjos não se filiou, com exatidão, a nenhuma escola em 
particular, produzindo, desse modo, uma obra múltipla e personalíssima [até mesmo com um vocabulário 
naturalista ]. 
 
Entre as suas principais características, temos, além da linguagem científica e extravagante, a temática do 
vazio da coisas [ o nada ] e a morte [ finitude da vida ] em seus estágios mais degradados: a putrefação, a 
decomposição da matéria. Simultaneamente, reflete em seus versos a profunda melancolia, a descrença e 
o pessimismo frente ao ser e à sociedade, elaborando, assim, uma poesia de negação: nega as falsas 
ideologias, a corrupção, os amores fúteis e as paixões transitórias: 
 
'Melancolia! Estende-me a tua asa! 
És a árvore em que devo reclinar-me... 
Se algum dia o prazer vier procurar-me 
Dize a este monstro que eu fugi de casa!' 
 Ao abrir o livro, logo percebe a influência parnasiana, expressa no forte rigor formal: são sonetos e 
poemas mais longos, predominando os quartetos, todos com versos isométricos e rimados, quase todos 
decassílabos. 
 
Ao mesmo tempo, emergem com força as influências do Simbolismo, explicitadas pela sonoridade dos 
versos [ ritmo, rimas, aliterações ], pelo uso de iniciais maiúsculas em certos substantivos comuns e por 
alguns aspectos temáticos, como o ideal de transcendentalismo e a angústia cósmica, entre outros. 
 
Por outro lado, ocorrem na obra índices da modernidade, pois, além da linguagem agressiva, por vezes 
coloquial, o poeta incorpora em seus versos tudo o que é podre e sujo, realizando, em certos momentos, 
crítica e denúncia social. 
 
Recorrendo com frequência às imagens da larva e do verme, o poeta do hediondo opera a dessacralização 
do poema, a desvinculação da palavra poética com o 'belo'. 
 
Concluindo, Augusto dos Anjos caracteriza-se por ser um poeta 'sui-generis', único em nossa poesia. A sua 
temática, a dos sofrimentos e angústias do homem, reflete, enfim, algo profundo e universal: 'Grito, e se 
grito é para que meu grito / Seja a revelação deste Infinito / Que eu trago encarcerado na minha alma! 
QUESTÕES 
1- (MACK-SP) 
Assinale a alternativa onde aparece uma característica que não se aplica à obra de Augusto dos Anjos. 
a) referência à decomposição da matéria. 
b) pessimismo diante da vida. 
 
 
c) amor reduzido a instinto. 
d) incorporação de vocabulário científico. 
e) nacionalismo exaltado. 
1- E 
MEMÓRIAS POSTUMAS DE BRÁS CUBAS 
MACHADO DE ASSIS 
Sobre o autor: Machado de Assis, cujo nome completo é Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no 
morro do Livramento, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Filho de pais humildes, seu pai, Francisco 
José de Assis, era pintor de paredes e sua mãe, a açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, era 
lavadeira. Machado ficou órfão de mãe muito cedo e, por isso foi criado com sua madrasta. 
Em 1851 seu pai também morreu. Sem recursos para estudar, era autodidata, e com apenas 14 anos publicou 
o soneto "À Ilma. Sra. D.P.J.A.", no Periódico dos Pobres, de 3 de outubro de 1854. Em 1855 seu poema 
"Ela" é publicado na revista Marmota Fluminenses. Fascinado por livraria e tipografia, em 1856 tornou-se 
aprendiz de tipógrafo na tipografia Nacional. Dois anos depois, em 1858, já era revisor no Correio Mercantil 
e, em 1860, redator do Diário do Rio de Janeiro, cargo que aceitou a convite de Quintino Bocaiuva. 
Machado escrevia para a revista O Espelho, a Semana Ilustrada e o Jornal das Famílias. O primeiro livro 
que publicou foi a tradução de Queda que as mulheres têm para os tolos. Em 1864, com 25 anos, publicou o 
seu primeiro livro de poesias, Crisálidas.Foi censor teatral, em 1862, e em 1867, foi promovido a ajudante 
do diretor de publicação do Diário Oficial. Em 1869, casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais, 
senhora portuguesa que lhe ajudou na revisão dos livros e com quem esteve casado durante 35 anos. 
Em 1872, publicou Ressurreição, o seu primeiro romance. Em 1873, torna-se primeiro oficial da Secretaria 
de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Continuou escrevendo em jornais e 
revistas. Seus escritos eram publicados em folhetins, de seguida tornando-se livros. Foi o que aconteceu com 
uma de suas obras-primas, Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em livro 1881. 
Entre 1881 e 1897, publicou crônicas na Gazeta de Notícias. Com outros intelectuais, fundou, em 1896, a 
Academia Brasileira de Letras, tendo sido presidente no ano seguinte. Carolina foi a mulher ideal para 
Machado de Assis. Esgotado pelo intenso trabalho de escritor e funcionário público, Machado sofria de 
epilepsia e a esposa ajudou-lhe não só nas revisões como cuidando dele. 
Sempre doente e para aumentar seu sofrimento, em outubro de 1904, morre sua mulher, auxiliar e 
companheira. Em sua homenagem, Machado escreve o poema "A Carolina". 
Em 1908, licenciado das funções públicas, mesmo debilitado, escreveu seu último romance “Memorial de 
Aires”. Participou do projeto de criação da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito seu presidente em 28 
de janeiro de 1897, cargo ocupado por mais de dez anos. No dia 29 de setembro de 1908, Machado de Assis 
faleceu na casa 18 da rua Cosme Velho, no Rio de Janeiro, vítima de câncer. 
Sobre a Obra: 
Memórias Póstumas de Brás Cubas é o romance que inaugura o Realismo no Brasil. Foi publicado em 1881 
e está dividido em 160 capítulos. Dentre as diversas obras, é a prosa de Machado de Assis - um dos 
maiores representantes da literatura brasileira - que mais se destaca. 
 
 
 O romance é uma obra complexa, e os diversos detalhes presentes no seu enredo só podem ser 
apreendidos a partir da leitura, na íntegra, do livro de Machado de Assis. Não obstante, a seguir 
descrevemos alguns dos pontos fundamentais para a compreensão da narrativa. 
O romance machadiano é narrado em primeira pessoa, possuindo, portanto, um narrador em primeira 
pessoa e, nessa estruturação, há duas questões fundamentais: 
Primeiramente, essa escolha afasta a obra das narrativas realistas europeias – ali se usava o narrador 
onisciente para transferir à obra maior grau de objetividade; 
Em segundo lugar, para além do uso de um personagem narrando sua vida a partir de uma visão particular 
– e subjetiva, portanto –, Brás Cubas, antes de começar a contar sua história, morre. Nesse sentido, a 
personagem intitula-se não um autor defunto, mas sim um defunto autor – haja vista que a morte ocorre 
antes da escrita de suas memórias póstumas. 
Infância 
A infância de Brás Cubas é contada brevemente nos primeiros capítulos do romance. Ali, percebemos a 
representação de uma infância não idealizada e, em muitos casos, até cruel – conforme se pode ver na 
descrição da relaçãoentre o narrador e um escravo, transcrita anteriormente. 
Feito dessa forma, o retrato dos anos de criança afasta o romance de Machado de Assis do Romantismo, 
movimento em que a mocidade é vista como ideal e motivo de saudade. 
Amores 
O amor é outro elemento que afasta o romance Memórias póstumas de Brás Cubas da estética romântica – 
movimento que foi sucedido pelo Realismo. 
Para os românticos, tais quais José de Alencar e Álvares de Azevedo , o sentimento amoroso era 
representado como maior meta da vida e, em muitos casos, inatingível. Além disso, a figura da amada era 
idealizada e única. 
No romance de Machado de Assis, entretanto, não há idealização do amor ou da mulher. De fato, Brás Cubas 
tem uma grande paixão na vida, a personagem Virgília. Entretanto, ela nem é única e tampouco 
completamente correspondida e eterna. Outros amores do protagonista são Marcela, Eugênia e Nhã-Loló. 
Emplasto Brás Cubas 
Já no final da vida, Brás Cubas assume para si a responsabilidade de criar um medicamento capaz de curar 
todas as doenças do mundo. Tal projeto, obviamente, não dá certo e torna-se mais uma das frustrações do 
narrador. Leia, a seguir, o momento em que o narrador conta da ideia do remédio, intitulado “Emplasto Brás 
Cubas” 
O capítulo das negativas 
O último capítulo do romance tornou-se célebre por resumir a ironia e o pessimismo típicos da escrita de 
Machado de Assis. Nele, Brás Cubas faz uma espécie da ponderação acerca da própria vida, que, segundo 
ele, pode ser resumida como uma sucessão de negativas. Não obstante, um saldo positivo acaba restando 
para o narrador 
 
QUESTÕES 
1. Texto para as questões 1 e 2 
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu 
nascimento ou a minha morte. Suposto que o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram 
a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para 
quem a campa foi outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” (“Memórias póstumas 
de Brás Cubas – Machado de Assis) 
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/romantismo.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/romantismo.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/jose-alencar.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/alvares-de-azevedo.htm
 
 
Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro desse contexto, já dá para se ver o tipo de narrativa 
que será explorada. Assinale a alternativa correta a esse respeito. 
a) A narrativa decorre de forma cronologicamente correta, de acordo com a passagem do tempo: infância, juventude, 
maturidade e velhice. 
b) A linearidade das ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento inusitado dos personagens. 
c) Não há como prever o final da narrativa, já que seu enredo é, propositadamente, complicado. 
d) A ação terá, como cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo. 
e) O autor usa o recurso do flashback devido a sua intenção de iniciar o romance pelo “fim”. 
2. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe de um recurso enriquecedor: a disposição das 
palavras no espaço frasal. Sendo assim, que tipo de leitura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor defunto” e 
“defunto autor”? 
a) A colocação da palavra defunto após a palavra autor leva-nos a pensar que o segundo elemento está em fase final de 
carreira. 
b) Defunto autor remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro de um cemitério. 
c) Ambas as expressões transmitem a mesma ideia, com iguais valores semânticos. 
d) A expressão defunto autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma nova forma de narração 
autobiográfica. 
e) Ambas as construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis. 
1- E 2- D 
A LEGIÃO ESTRANGEIRA 
CLARICE LISPECTOR 
Sobre o autor: Haya Pinkhasovna Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920 na cidade 
ucraniana de Tchetchelnik. Descendente de judeus, seus pais Pinkhas Lispector e Mania Krimgold Lispector, 
passaram os primeiros momentos de vida de Clarice fugindo da perseguição aos judeus durante a Guerra 
Civil Russa (1918-1920). 
Diante disso, chegam ao Brasil em 1921 e vivem nas cidades de Maceió, Recife e Rio de Janeiro onde 
passaram algumas dificuldades financeiras. Desde pequena, Clarice estudou várias línguas (português, 
francês, hebraico, inglês, iídiche) e teve aulas de piano. Era boa aluna na escola e gostava de escrever 
poemas. 
 
 
Após a morte de sua mãe em 1930, Clarice termina o terceiro ano primário no Collegio Hebreo-Idisch-
Brasileiro. Mais tarde, sua família vai viver no Rio de Janeiro. Em 1939, com 19 anos, ingressa na Escola de 
Direito da Universidade do Brasil e começa a dedicar-se totalmente à sua grande paixão: a literatura. 
Fez cursos de antropologia e psicologia e, em 1940, publica seu primeiro conto, intitulado “Triunfo”. Após a 
morte de seu pai, em 1940, Clarice começa sua carreira de jornalista. Nos anos seguintes, trabalha como 
redatora e repórter na Agência Nacional, no Correio da Manhã e no Diário da Noite. Em 1943, casa-se com 
o Diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Seu primogênito, Pedro, foi diagnosticado 
com esquizofrenia. Seu segundo filho, Paulo, foi afilhado do escritor Érico Veríssimo. 
Devido à profissão de seu marido, Clarice viveu em muitos países do mundo, desde Itália, Inglaterra, Suíça 
e Estados Unidos. O relacionamento durou até 1959, e quando resolveram se separar, Clarice retornou ao 
Rio com seus filhos. A escritora foi naturalizada brasileira e se declarava pernambucana. Seu nome, Clarice, 
foi uma das formas que seu pai encontrou de esconder toda sua família quando chegaram ao Brasil. 
Clarice falece no dia 09 de dezembro de 1977, véspera de seu aniversário de 57 anos, na cidade do Rio de 
Janeiro, vítima de câncer de ovário. 
Sobre a obra: Livro de contos, publicado em setembro de 1946, reune 13 contos/cronicas que 
abordam temáticas familiares, semelhantes ao estilo dos contos que compõem Felicidade Clandestina. 
Temáticas como a solidão, a perversidade, o egoísmo, a relação entre o homem e os animais, a oposição 
entre o ‘eu’ e o outro, etc, levam o leitor a enxergar o interior das personagens, seus pensamentos e 
sentimentos, enfim, sua intimidade. Durante cada história os per 
Nos treze contos de A Legião Estrangeira encontramos temas diversos, e não apenas um. Dentre os contos, 
encontraremos: 
Viagem a Petrópolis - escrito quando a autora tinha somente 14 anos, fala de uma senhora idosa que muda 
o tempo todo de residência. 
Mensagem - conto que trata de dois amigos que são apaixonados mas não admitem isso. O homem só 
percebe quando a mulher vai embora. Alguns contos de A Legião Estrangeira foram republicados com 
modificações no livro Felicidade Clandestina, em 1971. Um exemplo disso é o próprio conto que dá nome ao 
livro, A Legião Estrangeira. 
O CONTO - A Legião Estrangeira 
Conto publicado nas obras Felicidade Clandestina e Legião Estrangeira de Clarice Lispector, começa com a 
personagem principal lembrando de Ofélia e de seus pais, que há muito tempo não via. A protagonista fala 
da família de uma forma rancorosa, o que podemos ver no seguinte trecho: “Estou tentando falar daquela 
família que sumiu há anos sem deixar traços em mim”. 
O aparecimento de um pinto na sua casa, na véspera do natal, relembra-lhe a família, com a qual se 
preocupa. Seu marido e seus filhos se admiram com a situação, enquanto a protagonista compara este fato 
com um sentimento que vai se modificando, ou como a água que vai se transformando. 
Discorre sobre a bondade e seus efeitos no coração das pessoas de sua família. Descreve que os sentimentos 
vão se transformando como a água, e pela falta de habilidade de sermos bons, os sentimentos são efêmeros, 
indo facilmente da bondade para a falta de bondade. “Daí a pouco olhamosenredados pela falta de 
habilidades de sermos bons, e o sentimento já era outro, da falta de bondade para tínhamos no rosto a 
responsabilidade de uma aspiração, o coração pesado de um amor que já não era mais livre. 
https://www.infoescola.com/literatura/clarice-lispector/
 
 
Passado o momento do pinto, os adultos já o tinham esquecido, mas os meninos não, ficara uma indignação. 
Não só indignação, mas também acusação de que nada fazíamos pelo Pinto e pela humanidade” 
Dentre estas e outras reflexões que fazem a respeito daquele pinto, de si mesmos, do amor e da sua condição 
humana, a protagonista chega à conclusão final de que um dia, sem que ela mesma soubesse, sua família a 
amara. 
QUARTO DE DESPEJO 
CAROLINA MARIA DE JESUS 
Sobre a autora: Carolina Maria de Jesus, nasceu por volta de 1914, em Sacramento – MG. Foi 
alfabetizada até o segundo ano do primário e adquiriu o hábito de leitura, exercido como meio de imaginar 
mundos diferentes, melhores do que a realidade que vivia. Com a morte da mãe, mudou-se para São Paulo 
com 23 anos. Já em São Paulo, foi empregada doméstica, e, mais tarde, passou a catar papel e outros tipos 
de lixo reaproveitáveis para sobreviver. Seus filhos, José Carlos, João José e Vera Eunice, nasceram quando 
já morava na favela do Canindé, respectivamente em 1948, 1949 e 1953. Ela nunca se casou com nenhum 
dos pais das crianças, pois não queria se submeter ao mando de um homem. 
Em reportagem sobre a favela do Canindé, onde vivia Carolina, o repórter Audálio Dantas a conheceu e 
descobriu que ela escrevia um diário. Surpreso com a força do texto, o jornalista mostrou-o a um editor. 
Uma vez publicado, o livro trouxe fama e algum dinheiro para Carolina. O suficiente para deixar a favela, 
mas não o bastante para escapar à pobreza. Quase esquecida pelo público e pela imprensa, a escritora 
morreu em um pequeno sítio na periferia de São Paulo, em 13 de fevereiro de 1977. Em seus 
depoimentos, Carolina relatou que começou a escrever quando sentia fome e não tinha o que comer, 
então para não xingar, ela escrevia. Além disso, segundo ela o motivo para ler um livro era simples: “para 
adquirirmos boas maneiras e formamos nosso caráter”. 
Movimento literário: literatura marginal 
Sobre a obra: Quarto de despejo foi o primeiro livro de Carolina. Publicado em 1960 e traduzido para 
13 idiomas, a autora tem outros seis livros publicados. Esse primeiro foi escrito como diário no período em 
que viveu na favela do Canindé em São Paulo.. O objetivo original da autora em escrever era registrar o 
que acontecia com ela e com os moradores da favela do Canindé. Porém, a autora não esconde nas 
páginas escritas que a sua intenção é publicar e conta com a ajuda de um jornalista que a descobriu, 
Audálio Dantas. Ela chegou a enviar 40 os originais para a revista Reader’s Digest nos Estados Unidos, mas 
houve recusa. De toda forma, em 1960 publicou seu livro no Brasil, a partir de uma entrevista dada à 
importante revista O Cruzeiro. A primeira parte do diário foi escrita entre 15 e 28 de julho de 1955 e a 
sequência entre 02 de maio de 1958 e 1 de janeiro de 1960. Trata-se de um diário, ou seja, não há começo, 
meio ou fim e apresenta o ponto de vista de uma mulher negra, pobre, batalhadora, favelada, com três 
filhos pequenos e de pais diferentes, sobre a vida do pobre e da favela. A ideia para o título da obra surgiu, 
como ela relata: “é que em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, 
nós, os pobres, que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo 
das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, 
somos os trastes velhos”. Por fim, as edições publicadas de seu diário respeitam fielmente a linguagem da 
autora, que muitas vezes contraria a gramática, incluindo a grafia e a acentuação das palavras, de forma a 
retratar exatamente a realidade vivida por ela. 
 
 
 O livro segue praticamente a escrita original da autora. 
 
QUESTÕES 
(UFRRS) Leia este trecho de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. 
18 de dezembro... Eu estava escrevendo. Ela perguntou-me: 
 – Dona Carolina, eu estou neste livro? Deixa eu ver! 
– Não. Quem vai ler isto é o senhor Audálio Dantas, que vai publicá-lo 
. – E porque é que eu estou nisto? 
– Você está aqui por que naquele dia que o Armin brigou com você e começou a bater-te, você saiu 
correndo nua para a rua. 
Ela não gostou e disse-me: 
– O que é que a senhora ganha com isto? 
 Resolvi entrar para dentro de casa. Olhei o céu com suas nuvens negras que estavam prestes a 
transformar-se em chuva 
Considere as seguintes afirmações sobre o trecho acima. 
I. Está presente no fragmento uma tensão que perpassa o conjunto do livro: ao mesmo tempo em 
que se apropria da experiência de pobreza e violência da favela, Carolina quer diferenciar-se dela. 
II. Audálio Dantas aparece como figura que representa oportunidade de publicação e autoridade 
letrada. 
III. Aparece no fragmento uma alternância narrativa que marca Quarto de despejo: do dia a dia 
inclemente na favela para certa linguagem literária idealizada por Carolina. 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. 
b) Apenas II. 
c) Apenas III. 
d) Apenas I e III. 
e) I, II e III. 
2) (UEM) Sobre o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina Maria de 
Jesus, assinale o que for correto. 
01) A narrativa, escrita em forma de diário, começa no dia do aniversário de Vera Eunice, filha da 
autora, que recebe de presente um par de sapatos achado no lixo. Ao longo da obra, o leitor 
percebe como a escritora, que sobrevive do lixo e de materiais recicláveis, encontra sua resistência 
na escrita e nos livros. 
02) A escritora descreve a dura realidade de uma mulher negra, moradora da favela, que trabalhava 
como catadora de papel, faxineira e lavadeira para sustentar seus três filhos. O livro apresenta os 
relatos dessa mulher que vivenciou as mazelas das camadas mais marginalizadas da sociedade. 
04) Apesar da linguagem simples, contudo original, Carolina Maria de Jesus se revela uma escritora 
atenta à realidade social do Brasil. Questionadora, crítica da classe política, sua escrita se impõe 
vigorosa por sua atualidade, ainda que passadas décadas de sua publicação. 
08) Entre as situações abordadas na obra, há relatos de discriminação racial e social; há, também, 
diálogos, descrições de encontros amorosos, de festas, de brigas e de outros conflitos cotidianos. A 
fome, entretanto, é um dos assuntos mais abordados. 
16) No diário, inúmeras são as passagens que informam que a escritora foi candidata ao cargo de 
vereadora, em 1958, evidenciando sua grande participação no cenário político nacional da época. 
3) Assinale com V ou F as seguintes afirmações abaixo: 
 
 
( ) Carolina mora na favela, é pobre, catadora de lixo e alcoólatra. Às segundas-feiras são o melhor 
dia para catar papéis. 
( ) Carolina, apesar de se dar muito bem com seus vizinhos, almeja um dia poder sair da favela e 
publicar seu livro. 
( ) Os filhos de Carolina são muito bem tratados pela comunidade da favela. A solidariedade é muito 
presente. 
( ) Carolina tem 3 filhos, Vera Eunice, José Carlos e João José. Carolina sempre teve boas 
experiências com os homens. 
a) F, F, F, F 
b) V, F, V, F 
c) V, V, V, V 
d) V, F, F, V 
e) V, F, F, F 
 
GABARITO 
1) E 2) 01 + 02 + 04 + 08 = 15 3) A 
 
MELHORES POEMAS 
ÁLVARES DE AZEVEDO 
 
 
Sobre a autor: Manoel Antônio Álvares de Azevedo nasceu no dia 12 de setembro de 1831, em São 
Paulo, e a família se mudou logo para o Rio de Janeiro, cidade onde foi criado. Foi por lá que ele seguiu os 
seus estudos e se revelou, desde sempre, um aluno extremamente talentoso e inteligente. 
O jovem voltou a São Paulo mais tarde para cursar a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde 
conheceu várias figuras relacionadas com o romantismobrasileiro. Nesse período, Álvares de Azevedo se 
iniciou no mundo literário, como autor e tradutor, tendo também fundado a revista Sociedade Ensaio 
Filosófico Paulistano. 
Estudante de línguas como o inglês e o francês, ele traduziu obras de grandes autores como Byron e 
Shakespeare. Ao mesmo tempo, Álvares de Azevedo se dedicava à produção de textos de inúmeros 
gêneros, mas morreu prematuramente, antes de chegar a publicá-los. Sofrendo de tuberculose e depois 
de uma queda de cavalo que provocou o surgimento de um tumor, o poeta acabou falecendo no dia 25 de 
abril de 1852, com apenas 20 anos. 
As suas obras foram lançadas postumamente e representaram um grande sucesso de vendas durante o 
começo do século XX; Álvares de Azevedo também passou a ocupar um lugar na Academia Brasileira de 
Letras. Entre os seus livros se destacam a antologia poética Lira dos Vinte Anos (1853), a peça de 
teatro Macário (1855) e Noite na Taverna (1855), uma antologia de contos. Mesmo tendo vivido apenas 20 
anos, o autor marcou a nossa história e o seu universo literário sombrio e melancólico passou a integrar o 
cânone nacional. 
 
 
Sobre a Obra: 
1. Amor 
Amemos! quero de amor 
Viver no teu coração! 
Sofrer e amar essa dor 
Que desmaia de paixão! 
Na tu'alma, em teus encantos 
E na tua palidez 
E nos teus ardentes prantos 
Suspirar de languidez! 
Quero em teus lábios beber 
Os teus amores do céu! 
Quero em teu seio morrer 
No enlevo do seio teu! 
Quero viver d'esperança! 
Quero tremer e sentir! 
Na tua cheirosa trança 
Quero sonhar e dormir! 
 
Vem, anjo, minha donzela, 
Minh'alma, meu coração... 
Que noite! que noite bela! 
Como é doce a viração! 
E entre os suspiros do vento, 
Da noite ao mole frescor, 
Quero viver um momento, 
 
 
Morrer contigo de amor! 
 
Este é um poema bastante célebre do autor que ilustra a sua conduta de exaltação e idealização do 
sentimento amoroso. Embora fique evidente que o sujeito associa o amor ao sofrimento, através de um 
vocabulário que remete para a fragilidade e a tristeza, ele encara o relacionamento como a única 
possibilidade de salvação. Na ânsia de fugir da realidade, o "descanso eterno" ao lado da amada parece ser 
a melhor forma de evitar a dor. Por isso, o eu-lírico não esconde que sonha com uma morte conjunta, ao 
estilo de Romeu e Julieta. 
2. Meu Desejo 
Meu desejo? era ser a luva branca 
Que essa tua gentil mãozinha aperta: 
A camélia que murcha no teu seio, 
O anjo que por te ver do céu deserta.... 
 
Meu desejo? era ser o sapatinho 
Que teu mimoso pé no baile encerra.... 
A esperança que sonhas no futuro, 
As saudades que tens aqui na terra.... 
 
Meu desejo? era ser o cortinado 
Que não conta os mistérios do teu leito; 
Era de teu colar de negra seda 
Ser a cruz com que dormes sobre o peito. 
 
Meu desejo? era ser o teu espelho 
Que mais bela te vê quando deslaças 
Do baile as roupas de escomilha e flores 
E mira-te amoroso as nuas graças! 
 
 
 
Meu desejo? era ser desse teu leito 
De cambraia o lençol, o travesseiro 
Com que velas o seio, onde repousas, 
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro.... 
 
Meu desejo? era ser a voz da terra 
Que da estrela do céu ouvisse amor! 
Ser o amante que sonhas, que desejas 
Nas cismas encantadas de languor! 
Estamos perante um poema de amor que demonstra a adoração e dedicação do sujeito à mulher que ama. 
Ao longo da composição, ele vai descrevendo as várias instâncias nas quais queria estar na presença dela. 
Mesmo que fosse de forma superficial, como se fosse um objeto, o eu-lírico revela querer estar próximo do 
seu corpo. O erotismo é sugerido de um jeito velado, por exemplo, quando ele deseja ser os lençóis onde 
ela se deita. Também é visível que a composição reúne emoções contrastantes, como o próprio amor: se 
existe um vocabulário disfórico, também surgem referências à alegria e à esperança. 
3. Passei ontem a noite junto dela 
Passei ontem a noite junto dela. 
Do camarote a divisão se erguia 
Apenas entre nós — e eu vivia 
No doce alento dessa virgem bela... 
 
Tanto amor, tanto fogo se revela 
Naqueles olhos negros! Só a via! 
Música mais do céu, mais harmonia 
Aspirando nessa alma de donzela! 
 
Como era doce aquele seio arfando! 
Nos lábios que sorriso feiticeiro! 
Daquelas horas lembro-me chorando! 
 
Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro 
É sentir todo o seio palpitando... 
Cheio de amores! E dormir solteiro! 
Neste soneto, o sujeito confessa que passou a noite perto da amada. Pela descrição, podemos perceber 
que o seu olhar se fixou nela o tempo todo, observando a beleza que rende os maiores elogios. Os versos 
transmitem o desejo do eu-lírico que parece ecoar nos olhos da donzela, revelando o fogo da paixão. Ele 
 
 
está dominado pelo seu "sorriso feiticeiro" e no dia seguinte chega a chorar de saudades. Num tom 
dramático, os últimos versos confessam o seu desgosto por querer tanto alguém e permanecer sozinho. 
4. Adeus, meus sonhos! 
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! 
Não levo da existência uma saudade! 
E tanta vida que meu peito enchia 
Morreu na minha triste mocidade! 
 
Misérrimo! Votei meus pobres dias 
À sina doida de um amor sem fruto, 
E minh’alma na treva agora dorme 
Como um olhar que a morte envolve em luto. 
 
Que me resta, meu Deus? Morra comigo 
A estrela de meus cândidos amores, 
Já não vejo no meu peito morto 
Um punhado sequer de murchas flores! 
Aqui, a total falta de esperança está presente desde o próprio título da composição. Com um sentimento 
pessimista de desgosto e derrota, este sujeito poético revela um estado de alma apático, uma 
impossibilidade de sentir até saudades. 
Entregue à tristeza e à depressão, ele revela que o tempo foi levando todas as suas alegrias e chega a 
questionar a própria existência, desejando a morte. O isolamento e a degradação do eu-lírico parecem ser 
o resultado da sua dedicação absoluta a um amor não correspondido. 
5. Se eu morresse amanhã 
Se eu morresse amanhã, viria ao menos 
Fechar meus olhos minha triste irmã; 
Minha mãe de saudades morreria 
Se eu morresse amanhã! 
 
Quanta glória pressinto em meu futuro! 
Que aurora de porvir e que amanhã! 
Eu perdera chorando essas coroas 
Se eu morresse amanhã! 
 
Que sol! que céu azul! que doce n'alva 
Acorda a natureza mais louçã! 
Não me batera tanto amor no peito 
Se eu morresse amanhã! 
 
Mas essa dor da vida que devora 
A ânsia de glória, o doloroso afã... 
A dor no peito emudecera ao menos 
Se eu morresse amanhã! 
 
 
Escrita aproximadamente um mês antes do falecimento do poeta, a composição chegou a ser lida durante 
o seu velório. Nela, o sujeito poético pondera o que aconteceria depois da sua morte, quase como se 
enumerasse os prós e os contras. Por um lado, pensa no sofrimento da família e no futuro que perderia, 
revelando que ainda alimenta esperanças e curiosidade. Lembra ainda de todas as belezas naturais deste 
mundo que ele nunca mais poderia ver. Contudo, no final, conclui que seria um alívio, já que só assim 
poderia apaziguar o seu sofrimento constante. 
A PALAVRA ALGO 
LUCI COLLIN 
Sobre a autora: Luci Collin nasceu em Curitiba-PR, em 1964, e reside na capital. Graduou-se em piano 
(1985) pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em Letras PortuguêsInglês (1987) pela 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Percussão Clássica (1990) pela EMBAP. Obteve os títulos de 
mestre em Literaturas de Língua Inglesa (1994) pela UFPR, de doutora em Estudos Linguísticos e Literários 
em Inglês (2003) pela Universidade de São Paulo (USP) e de pós-doutora (2010) pela USP. Entre 1986 a 
1987, foi presidente da Cooperativa de Artes do Paraná e, desde 1999, leciona Literaturas de Língua Inglesa 
na UFPR. Poetisa, ficcionista, tradutora e professora universitária, publicou livros de literatura, participou 
de antologias nacionais e internacionais (EUA, Alemanha, França, Uruguai, Argentina, Peru e México), 
produziu artigos e ensaios para revistas e jornais no Brasil e no exterior,escreveu e produziu textos 
dramáticos e teve vários textos seus transformados em peças teatrais. Publicou seu primeiro livro aos vinte 
anos: Estarrecer. Depois vieram outros oito livros de poesia, sete de contos e quatro romances. Obteve 
diversos prêmios por sua obra. Em 2017, com a publicação de A palavra algo (de 2016) ficou em segundo 
lugar no prêmio Jabuti, o mais importante na área literária no Brasil. 
Movimento literário: nova poética. 
 Assim como há uma prosa e teatro contemporâneo, há a poesia de autores que passaram a produzir e 
publicar no fim do século XX ou já no século XXI. Podemos dividir tal produção em oficial e marginal. Luci 
Collin se encaixa na poética oficial, que são os autores que publicaram seus trabalhos no circuito 
tradicional, ou seja, por meio de editoras. Outros autores, como: Manoel de Barros, Adélia Prado e Ferreira 
Gullar também fazem parte dessa divisão. 
Sobre a obra: Há, em A palavra algo, 47 poemas, na maior parte líricos, em que a autora retoma e 
ressignifica a tradição literária do ocidente, com destaque para alguns autores, como Edgar Allan Poe, 
Mallarmé, Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, William Shakespeare, entre outros. Do ponto de vista 
formal, os poemas raramente apresentam alguma pontuação, aproveitando-se da lição aprendida dos 
modernistas de 1922 e que ainda influencia uma série de poetas de outros momentos. Também exploram 
a sonoridade, os recursos estéticos, como o uso reiterado de anáforas, a linguagem simbólica por meio de 
metáforas. Além disso os poemas são marcados pela repetição e pela diversidade. 
 Enredo e Análise da obra: Como em um lance de dados Luci Collin celebra o jorro da linguagem 
em A Palavra Algo (Iluminuras, 2016) – livro que lhe concedeu o segundo lugar no Prêmio Jabuti 2017. A 
metáfora dos dados pode ser encontrada no poema “Lances” em que mostra como Collin utiliza as 
palavras para “cumprir o poema”: “dado que nos poreja / cumprir o poema / sagrar sua sorte / de verbos 
em chamas”. Sua poesia – apesar de cerebral – estabelece essa conexão com o improvável, o que lhe 
garante maior liberdade para compor seus versos: 
 
 
dado que é sem doutrina 
 jogo de emblemas 
 ondulação das cortinas 
 que tudo a voragem do início 
 e os sons feito fossem azes 
 estilando 
 o âmago desimpedido 
 de um esplêndido algo. 
Seu único comprometimento é com a poesia, ela mesma enquanto fluxo constante, como escreve em 
“Tule”: “assim aqui não se traceja perguntas / que os passos da dança são um jorro / as falas são manjar e 
reeditam / o script que a vida assina”. Esse diálogo com o inconsciente – de onde sai o jorro de 
significantes – é o material primordial da poeta, que assume sua escrita enquanto tessitura imaterial. Em 
“Firmamento”, ela nos dá a indicação: 
o espantadiço gosto da memória 
cristal de confeitaria 
adorno de sèvres longínquo 
faz desfilar aqui não só os mortos 
mas as tessituras abortadas no algo que têm 
de farelos 
de abstração 
de incongruência. 
 
A poeta e escritora curitibana deixa entrever em A palavra algo a sua clave do poético. Seu livro nos fala da 
construção da linguagem – seu cerne – e nos mostra a ficcionalidade do poema. Toda poesia é ficção. No 
poema “Óbvia”, Collin nos lembra disso: “a flor é forma de flor / que o poema vê / intenta / namora / 
cogita / grita com uma voz parecida / mas que nunca chega a ser voz de flor”. Ficção onde mais esconde do 
que mostra sua intencionalidade, como nos lembra em Atinências: “existem coisas que eu digo/no meio 
das coisas que escondo / (...) / resistem horas inteiras / em meio a meio minuto”. A poesia gravita em sua 
própria lei. Em “Desenlace”, Collin escreve sobre a inevitabilidade da escrita: “tentei escapar daquele areal 
por dentro / mas a palavra era oblívio / (...) / tentei escapar daquele terremoto por dentro / mas a palavra 
era limbo”. Poesia como limbo, limite do que é passível de ser dito. Em “Jim Said”, a poeta arma: “a poesia 
é metal precioso é metal nobre/agarrado aos detalhes e ao insubmisso”. Em A palavra algo, Luci Collin 
flerta com o corte incisivo do poema ao mostrar que toda poesia é artifício do real. Nos poemas que 
versam sobre o fazer poético da autora, lê-se que “o discurso é para ser longo e nítido/ mas a tinta borra 
hesita/ ela mesma tem lapsos/e talvez falsifique as cenas em seu arredamento de pávida lembrança”; ou 
“as palavras que se alcançam/ são o esquecimento das figuras/ que descem degraus na pressa/ do 
inédito”. 
 
 
O poema Grande Fome “anuncia” paródias anteriores e posteriores que se insinuam, mas não se 
concretizam - “essa maquiagem máscara e as paródias que insinua/ espantam as cirandas já - escassas/ e a 
pressa rega uma semente/ sifilítica” -, dando um calço nas expectativas do leitor. Luci não parodia 
explicitamente, mas cita diversos poetas como Fernando Pessoa, Mallarmé, Casimiro de Abreu. Nessas 
citações, a poeta parece ter encontrado “a amenidade do velho e a agitação de um menino ao repetir 
gestos que duplicam o pouso”. E Luci duplica o voo desses poetas. Em A Palavra Algo, Autopsicografia, de 
Fernando Pessoa, se transforma em Deveras e assim inicia: “O poeta finge/ e enquanto isso/ cigarras 
estouram/ pontes caem/ azaleias claudicam”. Luci se vale também de frases banais, provavelmente lidas 
em placas espalhadas pela cidade, e com elas constrói o poema Orçamento Sem Compromisso, no melhor 
exemplo de “escrita não criativa” contemporânea: “Compro ouro/ Cobrem-se botões/ Compro e vendo 
cabelo/ Xcalabresa/ Porção e executivo/ Piso escorregadio”. A poeta não “se incomoda” em não ser 
criativa, parece saber que, como se lê no poema Imortalha, “todos os termos foram inventados”. 
QUESTÕES 
1) (POSITIVO) Leia as assertivas a seguir: 
(01) Luci Collin em seu livro de poesias A palavra algo valoriza a língua portuguesa sem utilizar 
estrangeirismos, mas sim variantes locais, numa tentativa de reconhecer variantes regionais curitibanas 
como sendo as principais. 
 (02) Nos versos “o cavalo mais que imediato /que vibra no destino das lonjuras /trama uma esparsa 
coreografia/ que é seu discurso de casco /e informa tudo o que se diz /de olhos fechados/ amplitude 
redenção”, há um espaço proposital, cuja lacuna representa afastamento físico mesmo e pede para que o 
leitor as complete. 
(04) Em A palavra algo de Luci Collin podem ser encontrados alguns dos temas presentes da Poesia 
Brasileira Contemporânea, tais como a atualidade da apropriação de meios digitais em Imortalha e o 
suicídio em Cividade. 
(08) O recurso do neologismo (criação de novas palavras) se faz presente em títulos como Insoneto, um 
soneto no qual o eu lírico parodia várias outras referências literárias que se aventuraram nessa forma fixa, 
como Olavo Bilac e Vinicius de Moraes. 
(16) Mesmo em se tratando de uma escritora contemporânea, Luci Collins estabelece intertextualidade 
com os clássicos, como é o caso de Gonçalves Dias em Meus oito anos, bem como utiliza palavras no seu 
sentido original. 
Assinale o que for correto quanto à soma das alternativas sobre a obra A palavra algo de Luci Collin e 
sobre a Poesia Brasileira Contemporânea. 
a) 03. 
b) 06. 
c) 14. 
d) 30. 
e) 31 
GABARITO 
1) C 
 
 
 
ELES NÃO USAM BLACK-TIE 
GIANFRANCESCO GUARNIERI 
Sobre o autor: Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri (1934-2006), nasceu em 
Milão (Itália). A família, fugindo do fascismo de Benito Mussolini (1883-1945), se muda para o Rio de 
Janeiro, quando Gianfrancesco tinha dois anos de idade. Aos 21 anos, mudou-se para São Paulo, onde, com 
o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho (1936-1974), fundou o Teatro Paulista do Estudante, que em seguida 
iria se unir ao Teatro de Arena, conhecido por ser um polo de resistência cultural durante a ditadura militar 
no Brasil (1964-1989). Guarnieri atuou em dezenas de novelas, filmes e escreveu ao menos 23 peças 
teatrais. Faleceu em 2006 por complicações renais. 
Movimentoliterário: produção contemporânea. O teatro no Brasil, teve início no século XIX, mas 
foi em meados do século XX que a dramaturgia brasileira começou a se destacar de fato. Assim, o termo 
contemporâneo em teatro se inicia com Nelson Rodrigues, com Vestido de noiva (1943). 
 
Personagens 
TIÃO - Um jovem bonito, criado na cidade pelos padrinhos, viveu longe do morro e de seus pais por 
decorrência das prisões de seu pai, um operário que era detido por conta das greves feitas. Tião também 
se tornou operário e trabalhava na mesma fábrica que o pai, mas não concordava com o movimento 
(assumia isso abertamente) e foi taxado como “fura greve”; 
 OTÁVIO - Pai de Tião, revolucionário e grevista. Um homem que já foi preso durante manifestações na 
greve e se culpa por ter um filho que não concorda com o movimento operário. 
 ROMANA - Mãe de Tião e esposa de Otávio. Zelosa com o lar e família. Uma mulher forte que equilibra 
as tensões com a família. 
 MARIA - Noiva de Tião. Uma moça que cresceu no morro e gosta muito das pessoas que moram lá. Logo 
no início da obra, conta que está grávida de Tião e os dois engatam um noivado. 
 JOÃO - Irmão de Maria que se coloca ao lado de Tião quando este fura a greve, traindo seu pai. 
CHIQUINHO - Irmão de Tião, um adolescente que trabalha na venda do bairro e é apaixonado por 
Terezinha. 
TEREZINHA - Namorada de Chiquinho, também adolescente, que está sempre na casa da família e 
participa de todas as ocasiões importantes. 
 BRÁULIO - Amigo de Otávio que está sempre o apoiando na organização das greves. 
 JESUÍNO - Operário, trabalhador da mesma fábrica de Tião, Otávio e Bráulio. Foi convencido pelos chefes 
a se infiltrar no movimento operário e falar quem são os trabalhadores que participam. Trai os colegas, age 
com frieza e é covarde para admitir que trai os outros operários. 
 
 
SOBRE A OBRA: A peça se inicia com Maria e Tião conversando, trocando juras de amor. Namorados, 
ela está grávida e decidem se casar o quanto antes, para evitarem a conversa alheia. Há, nesse momento 
uma preocupação com as questões morais. Como se uma mulher não pudesse ter relações e um filho fora 
do casamento. Tião e o pai, Otávio, trabalhavam em uma metalúrgica. O pai sempre estivera à frente da 
luta pelos operários, por melhores salários e condições de trabalho. Em meio ao noivado de Tião, há um 
contexto de deflagração de uma nova greve. Tião, de sua parte, fica com medo de perder o emprego, pois 
agora tem uma família para zelar. Seus temores aumentam quando três operários são previamente presos 
acusados de tumulto à ordem social, por estimularem a greve. Então, no dia marcado para o início do 
movimento, há um confronto. Tudo isso é relatado pelos personagens, ou seja, não há na peça cenas que 
ilustram tais episódios. O que mais importa é o espectador saber o que pensam os personagens. 
Nesse dia, Tião se dirige ao trabalho antes do pai. Ao final do dia, retorna e é questionado pela mãe, 
Romana, e por Maria sobre o que se passara na fábrica. Tião informa que foi tudo bem, que do total de 
trabalhadores, dezoito haviam furado o movimento e entrado para trabalhar. Ele era um desses dezoito, 
pois recebera a garantia do emprego, além de um bônus por ter furado a greve. Se isso representava, para 
ele, algo positivo, aos demais membros de sua família e amigos, isso era um problema. Otávio, de sua 
parte, fora preso juntamente com outros trabalhadores. Romana, logo que soube da prisão, desce para a 
delegacia com outras pessoas para libertá-los. 
A partir disso, Tião fica malvisto por todos, inclusive por Maria, que por ser apegada ao morro e sentir que 
ali era seu lugar fica contraria a posição dele, decidindo por não o acompanhar na cidade. 
Otávio já em casa conversa com o filho e acreditando que ele deveria ter lutado ao seu lado pelos 
trabalhadores, expulsa-o. Romana, nesse caso, entende as justificativas de ambos e acaba por não tomar 
nenhum partido. A peça termina com Chiquinho (irmão mais novo de Tião) ouvindo Nóis não usa os bleque 
tais, de Juvêncio, um sambista do morro, suposto autor do samba, que seria, na verdade, 
de Adoniran Barbosa. 
QUESTÕES 
1) (UFPR) Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, texto encenado pela primeira vez em 
1958 e posteriormente adaptado para o cinema, trata da luta de classes no cenário urbano do Rio de 
Janeiro. Sobre essa obra, é correto afirmar: 
 a) O emprego da língua portuguesa em seu padrão culto nas falas dos operários atende a uma exigência 
própria da literatura e do teatro produzidos em meados do século XX. 
 b) Prevalece na peça uma visão conciliatória já que, influenciados por Tião, no terceiro ato os moradores 
do morro abandonam suas principais reivindicações. 
 c) O conflito que está no centro da ação dramática é motivado pelas diferentes opções que as 
personagens assumem perante uma greve. 
d) As personagens femininas não participam das decisões familiares nem têm opinião política, 
comportamento típico do patriarcalismo vigente naquele período histórico. 
 e) O sucesso do samba “Nós não usa black-tie” resultou em uma surpreendente ascensão socioeconômica 
para seu compositor, Juvêncio. 
2) (Positivo) A respeito de Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, assinale a alternativa 
correta. 
 
 
 a) O autor da peça, que era ator, enfatizou a importância das carreiras artísticas – cinema, música – como 
meio seguro para atingir melhores condições financeiras. 
 b) Enquanto outros textos encenados pelo Teatro de Arena caracterizavam-se pelo nacionalismo, Eles não 
usam black-tie afastou-se dessa tendência, por abordar a influência da cultura norte-americana no Brasil. 
 c) Os quadros que mostram a oposição entre Otávio e seu filho Tião acontecem na fábrica, para contrastar 
com cenas mais amenas, vividas no cenário doméstico do barraco. 
d) A postura realista e a coragem de Romana são responsáveis pela manutenção da união familiar, 
ameaçada apenas pela postura conflitante de Tião, que é contra a greve. 
 e) Ao dançar gafieira e executar os sambas produzidos no morro, as personagens percebem a fragilidade 
de suas convicções em relação à luta por melhores condições de trabalho. 
 3) (UFCG) Julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações sobre a obra Eles não usam Black-tie, 
de Gianfrancesco Guarnieri. Em seguida, assinale a sequência correta 
 I. A música de Juvêncio no final da narrativa é concedida a intérpretes citadinos, simbolizando uma 
tentativa do dramaturgo de unir o morro e a cidade. 
 II. Diferentemente de Maria, Tião não reconhece o morro como seu espaço, o que, segundo alguns 
personagens, atribui-se ao fato de ter sido criado na cidade. 
 III. É uma peça peculiar da década de 50 que inova ao trazer uma linguagem revolucionária e ao abordar a 
plena liberdade sindical vivenciada pelos operários brasileiros. 
 IV. Há uma relação conflituosa entre os interesses coletivos (representado pelos operários) e os 
particulares (representado pela figura de Tião) 
 A sequência correta é: 
a) V, F, V, F. 
 b) F, V, V, F. 
 c) F, V, F, V. 
d) V, V, V, F. 
GABARITO 
 1) C 2) D 3) C

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