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10º ano 
Camões Lírico 
Três conceitos caracterizaram a grande viragem no pensamento humano: 
renascimento, humanismo e classicismo. 
O renascimento é um movimento cultural com origem em Itália (sec. XIV-XVI), 
em que surge uma nova conceção de homem e natureza, caracterizando-se por uma 
recuperação dos conhecimentos e modelos da antiguidade clássica. Humanismo é um 
movimento intelectual e filosófico que coloca o homem no centro do conhecimento 
(antropocentrismo), através de uma valorização do próprio homem e exaltação da sua 
capacidade de entender o mundo e tudo o que o rodeia. Classicismo é uma tendência 
estética que ganha corpo com os valores clássicos greco-latinos e introduz novas formas, 
novas espécies, novos géneros nas artes plásticas e na literatura, como modelos a imitar; 
preconiza o gosto das composições equilibradas, a simplicidade, a precisão, a busca da 
harmoniza das formas e a idealização da realidade, de que a visão da natureza como um 
locus amoenus, a mulher perfeita, idealiza de acordo com o cânone petrarquista, e o 
amor platónico são exemplos. 
 
Influencia tradicional vs influencia clássica ou renascentista 
Luís de camões cultivou diversos géneros poéticos. Sendo um poeta de transição, 
faz uma incorporação artística da corrente tradicional, de cariz peninsular (medida 
velha), e dos modelos formais e das temáticas da corrente renascentista que se 
cultivavam em Itália (medida nova), aos quais imprimiu um cunho muito pessoal. 
 
Representação da mulher amada 
A mulher é ideal de beleza, apresentada ora como símbolo de pureza, ora como 
símbolo do amor físico e sensual: 
• Ideal de mulher petrarquista: a mulher é apresentada como uma figura angelical, 
a celeste fermosura, a Circe que pôde transformar o pensamento do eu que por 
ela sofre, um ser superior de perfeição moral inacessível e intocável. Remete 
para a dimensão espiritual do amor. O modelo de mulher petrarquista é laura, a 
musa inspiradora de Petrarca. 
• Ideal de Vénus: a mulher é apresentada como uma figura individualizada, uma 
mulher de perfeição física, descrita como ser sensual, simbolizada por Vénus. 
Evidencia uma exaltação da dimensão terrena do amor. A sensualidade da 
mulher é uma inovação de camões, em relação aos poetas do renascimento 
italiano. 
No modelo renascentista, a mulher apresenta fisicamente cabelo louro, pele branca, 
olhos azuis, sorriso longínquo, gesto suave, pensar maduro, alegria saudosa. 
A representação da natureza 
A natureza aparece associada à poesia amorosa como expressão de estados de 
alma ou por contraste entre o estado de espírito do sujeito poético; apresenta-se como 
objeto de contemplação, cenário ou pretexto para a reflexão do eu poético; é 
geralmente uma paisagem diurna, natural, harmoniosa e agradável- descrição do tipo 
locus amoenus. 
O desconcerto 
 O poeta constata o desconcerto moral, social e existencial, que revela: 
• Na desordem do mundo exterior, entre os homens: as injustiças sociais, a virtude 
não recompensada adv. a desonestidade compensada, a mediocridade que tem 
sucesso (os bons vi sempre passar/ no mundo graves tormentos/ e para mais me 
espantar, / os maus vi sempre nadar/ em mar de contentamentos.); 
• No conflito interior de cada homem: o sujeito poético como vítima; a desilusão 
amorosa; o mundo em tumulto igual ao eu em tumulto; a ação do destino cruel; 
o fracasso do sonho e dos projetos; o absurdo da morte. 
A mudança 
 O tema da mudança aparece associado à temática do desconcerto e à temática 
do destino. O poeta reflete sobre a mudança na natureza e a mudança do ser humano.
 A mudança é cíclica na natureza (reversível) e é linear (irreversível) no homem. 
A existência humana muda, mas é imprevisível e marcada pela adversidade, com 
consequências negativas (pessimismo e morte). O poeta reflete ainda sobre a mudança 
da própria mudança, de que o soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades é 
exemplo. 
Formas poéticas/métrica 
• Medida velha (influencia/ corrente tradicional) 
• Medida nova (influência/ corrente clássica) 
 
Os lusíadas, luís de Camões 
Conceito de epopeia 
 A epopeia é um género narrativo em verso que remonta à antiguidade clássica. 
A epopeia, marcada pelo estilo grandioso e solene, canta um facto heroico de interesse 
nacional e universal que assegura a unidade de ação (em Os Lusíadas, a viagem à Índia); 
os episódios retrospetivos e as profecias dão extensão e riqueza à obra. 
 
 
 
Estrutura externa 
 O poema está escrito em versos decassilábicos, apresenta dez cantos; as estrofes 
organizam-se geometricamente em oitavas, com esquema rimático abababcc; tem 1102 
estrofes. Rima emparelhada e cruzada. 
Estrutura interna 
 O poema está organizado em quatro partes: Proposição (I, 1-3); Invocação (I,4-
5); Dedicatória (I, 6-18 e X, 145-156); Narração (I-X). 
Proposição, apresenta o assunto da epopeia, propondo-se cantar os feitos do 
povo português. 
Invocação; suplica, apelo, pedido. 
Dedicatória, camões oferece a epopeia ao rei D. Sebastião. 
Narração, o poeta narra os feitos das personagens. 
 
Planos estruturais da Epopeia 
 O plano da viagem, constitui a ação central do poema. Compreende a narração 
da viagem do descoberto do caminho marítimo para a Índia e o regresso para Portugal. 
 O plano mitológico, dado pela intervenção dos deuses pagãos na ação, 
simbolizando, por um lado, as diversas adversidades superadas pelos heróis. 
 O plano da história de Portugal, assegurado por diversas vozes (Vasco da Gama, 
Paulo da Gama, figuras mitológicas). São narrativas secundárias que se inserem no 
propósito inicial do poeta sem perder a unidade da ação: o louvor dos feitos valorosos 
do português. 
 O plano das considerações do poeta, revela-nos um autor atento ao seu tempo 
e com uma intenção pedagógica e cívica que acompanha os diversos relatos. Assim, 
críticas, tece lamentos e desabafos ou exorta os portugueses a seguirem o exemplo dos 
verdadeiros heróis, o caminho da imortalidade, que é, como afirma, o Caminho da 
virtude, alto e fragoso/ mas, no fim, alegre e deleitoso. 
 
Principais considerações do poeta ao longo da epopeia 
 Nestas reflexões do poeta, destacam-se duas perspetivas diferentes. 
 Por um lado, constituem a visão do poeta renascentista relativamente à própria 
condição humana, o que está, por vezes, ao serviço da construção do herói do poema, 
que ultrapassa todas as dificuldades e será premiado pelo seu esforço e valentia, na ilha 
dos amores, espaço simbólico de recompensa pela conclusão de um percurso heroico e 
glorioso. 
Todavia, o poeta revela também a sua perspetiva disfórica em relação a uma fase 
do império português e aos valores dominantes no país, num momento em que o brilho 
das grandes navegações começava a ser ofuscado pelo materialismo que dominava o 
reino, pela indiferença em relação à arte; o poeta manifesta ainda o seu desalente pelo 
desprezo a que a sua epopeia era votada. 
Canto I- reflexões sobre os perigos a que o ser humano está sujeito. 
Canto V- Considerações sobre os que desprezam a poesia. 
Canto VI- reflexões sobre o valor da gloria. 
Canto VII- exaltação do espírito de cruzada dos portugueses, espalhando a fé 
cristã. 
Canto VIII- considerações do poeta sobre os efeitos preciosos do vil metal. Critica 
à sociedade orientada por valores materialistas. 
Canto IX- reflexões sobre o significado e o valor da imortalidade. 
Canto X- sentimentos contraditórios- desalento, orgulho, esperança. 
 
11ºano 
Sermão de santo António aos peixes, padre António vieira 
O sermão de santo António é um longo discurso argumentativo, criado com a 
finalidade de ser pregado. A partir das propriedades do sal (conservar o são e preservar 
da corrupção) e das características da pregação de santo António (louvar o bem e 
repreender o mal), o sermão de vieira assume uma dupla finalidade: louvar as virtudes 
e repreender os vícios humanos. 
Começandopor referir as qualidades dos peixes, o pregador retira duas 
conclusões: os peixes são melhores do que os homens e, para evitar a maldade, aqueles 
devem manter-se afastados dos homens. De forma semelhante, santo António, para se 
aproximar de deus, afastou-se dos homens. 
Pelo contrário, os vícios, em geral, dos peixes, que se comem uns aos outros e 
em que os grandes comem os pequenos, servem de pretexto para uma critica à 
exploração dos poderosos sobre os mais humildes. Alem disso, os defeitos, em 
particular, de certos peixes estão ao serviço da denuncia dos vícios humanos. É o caso 
do roncador que simboliza a arrogância; o pegador, o oportunismo; o voador, a ambição 
desmedida e vaidade; o polvo, a hipocrisia e a traição. 
Louvores aos peixes: 
• Peixe de Tobias: sara a cegueira e expulsa os demónios (critica-se a 
heresia e a ausência de conversão por parte dos homens); 
• Remora: peixe tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder 
(travão dos ímpetos humanos(impulso/violência)) (critica-se a fraqueza 
humana e a ausência de força de vontade); 
• Torpedo: emite pequenas descargas elétricas que fazem tremer o braço 
do pescador (voz da consciência) (critica-se a exploração do próximo, 
corrupção e ambição desmedida); 
• Quatro-olhos: vigia, noção do céu e do inferno (critica-se a vaidade 
humana). 
Repreensões aos peixes: 
• Roncadores: embora tão pequenos, roncam muito, daí que representam 
a arrogância e a soberba dos homens; 
• Pegadores: sendo pequenos, pegam-se aos maiores, não os largando 
mais, razão porque simbolizam o parasitismo, a vivencia à custa dos 
outros (critica-se o parasitismo e o oportunismo); 
• Voadores: apesar de serem peixes, também se metem a ser aves. Por 
isso, simbolizam a presunção, a vaidade e a ambição (é criticada a 
ambição, vaidade e o capricho dos homens); 
• Polvo: maior traidor do mar (critica-se a falsa aparência dos homens, a 
traição e a hipocrisia. 
Critica social e alegoria 
O sermão é uma sátira social em que o padre António vieira tece duras críticas à 
exploração e à ganância humana, principalmente aquela que é exercida pelos colonos 
sobre os índios. Por outro lado, o Sermão é uma longa alegoria (em que se apresentam 
ideias através de imagens ou figuras concretas), funcionando os peixes como uma 
metáfora dos homens. Deste modo, as virtudes dos peixes são pretexto para denunciar 
os vícios humanos, da mesma forma que os defeitos dos seres marinhos são motivo para 
criticar os defeitos morais e sociais dos homens. 
Contudo, pode-se afirmar que o sermão aborda um assunto intemporal na 
medida em que os homens procuram constantemente a ascensão social, ainda que de 
forma impropria, revelando atitudes moralmente condenáveis. 
 
Linguagem e estilo 
Recursos expressivos: 
a. Alegoria, que é todo o sermão, na medida em que os defeitos dos peixes 
personificam a maldade humana; 
b. Comparação, entre os peixes e os homens, pois os homens, com suas más e 
perversas cobiças, vêm a ser como os peixes; 
c. Metáfora, identificam os pregadores com o sal da terra; 
d. Apostrofe, (invocação de pessoas ausentes, seres inanimados ou entidades 
abstratas) em Vós, diz cristo senhor nosso, falando com os pregadores, sois o 
sal da terra; 
e. Enumeração, associada a uma gradação: começam a correr os peixes, os 
grandes, os maiores, os pequenos; 
f. Antíteses, deixa as praças vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar; 
g. Anáfora, p.e mimetismo do polvo: se está nos limos faz-se verde, se está na 
areia faz-se branco, se esta no lodo faz-se pardo. 
Frei Luís de Sousa, Almeida Garret 
O pano de fundo da obra romântica é um quadro tumultuoso, agreste, sombrio, 
preferencialmente noturno- a dita paisagem romântica (locus horrendus) – que 
contrasta com a sobriedade, harmonia, frescura, serenidade e elegância da paisagem 
clássica (locus amoenus). 
Sebastianismo: história e ficção 
 O sebastianismo é um mito criado apos o desaparecimento do rei D. Sebastião 
na batalha de Alcácer Quibir em 1578 que apresenta várias características. O 
desaparecimento misterioso de D. Sebastião; associação da sua morte à decadência do 
império; esperança no seu regresso. 
Fundada em superstições, a crença popular profetizava o regresso do rei numa 
manhã de nevoeiro para libertar o país do domínio filipino e instaurar a gloria passada. 
O mito tornou-se um traço de personalidade nacional que se caracteriza por viver as 
glorias do passado e acreditar que os problemas serão resolvidos com a chegada de um 
redentor, de um messias. 
Em Frei Luís de Sousa, as personagens assumem posições contrárias 
relativamente a este mito. Com efeito, Maria de Noronha confessa o seu culto por D. 
Sebastião e acredita em lendas messiânicas sobre o seu regresso. Na mesma linha, 
Telmo pais alia o sebastianismo à esperança do regresso do seu amo, D. João de 
Portugal, desaparecido na mesma batalha. Pelo contrário, D. Madalena vive 
atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente do primeiro marido, D. 
João de Portugal. Manuel de Sousa Coutinho, apesar do seu patriotismo, mas com uma 
mentalidade racionalista, nega este mito. Por último, D. João de Portugal, na figura do 
Romeiro, representa o Portugal do passado e o seu regresso desencadeará a tragédia 
familiar. 
 
Características de tragédia clássica e de drama romântico 
A obra é um drama romântico, pois apresenta uma forma em prosa e não em 
poesia. O dramaturgo assume uma atitude romântica perante a história, uma vez que a 
ação se inspira em acontecimentos históricos, isto é, na figura o prosador Frei Luís de 
Sousa que decidiu, juntamente com sua mulher, consagrar-se a deus num convento. 
Alem disso, na obra, celebra-se o individualismo e o sentimento. Assim, Manuel de 
Sousa afirma a sua individualidade através das suas excecionais qualidades de coragem 
e patriotismo. Por outro lado, Madalena é o símbolo da mulher sentimental, vítima do 
destino e do amor. Há uma valorização dos sentimentos em detrimento da razão. 
Também as personagens apresentam um perfil romântico. Neste sentido, o herói 
romântico caracteriza-se pela sua natureza excessiva, uma rutura com os valores da 
sociedade, como é o caso de Manuel de sousa no gesto de incendiar o seu palácio, numa 
clara oposição ao poder espanhol. No entanto, estas personagens românticas perdem a 
compostura altiva e serena perante o destino traçado, recusando-o. 
Todavia, pode classificar-se também como tragedia clássica, uma vez que 
apresenta um número de personagens restrito e de condição social elevada. De igual 
modo, regista-se a presença de peripécias (como o incendio do palácio e o regresso de 
D. João de Portugal); a hybris (o desafio lançado às leis da sociedade, quando D. 
Madalena contrai segundas núpcias sem a certeza da morte do primeiro marido); a 
presença do destino, que determina a vida das personagens; o climax, que se atinge em 
determinadas cenas como a destruição do retrato e o incendio do palácio; o conflito 
interior e o pathos (sofrimento) continuo experimentados por D. Madalena; a 
anagnórise (com a identificação do romeiro com D. João de Portugal; a catástrofe, com 
a morte física de Maria, e D. Madalena e Manuel de Sousa para o mundo; verifica-se, 
alem disso, a presença do coro da tragedia grega nas figuras de Frei Jorge e de Telmo. 
 
A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica 
 Há três personagens que evidenciam o seu patriotismo nacionalista. Manuel de 
Sousa Coutinho transmite o seu amor à pátria não só por palavras, mas também pelos 
atos, pois não hesita em incendiar o seu próprio palácio, evitando que o venham habitar 
aqueles que governam o país em nome de um rei estrangeiro. Também Telmo e Maria 
de Noronha, que partilham do mesmo idealismo sebastianista, afirmam o seu 
patriotismo e admiram o gesto praticado por Manuel de Sousa. 
 O patriotismo é uma das marcas da dimensão romântica da obra que assume 
umadupla dimensão temporal. No tempo em que ocorrem os acontecimentos, Portugal 
vive sob o domínio filipino e, na data da publicação da obra, 1844, o país vive sob a 
ditadura cabralista. 
 É, portanto, na atmosfera psicológica do sebastianismo e na crença no regresso 
do monarca que se vai desenrolar a tragedia que se abate sobre toda uma família, 
arrastando-a de forma implacável para um final funesto, bem ao gosto do romantismo. 
 
Personagens: 
 D. Madalena de Vilhena, a mais trágica das personagens, encarna a heroína 
romântica. 
Manuel de Sousa Coutinho, é a personagem que melhor define as contradições 
do homem romântico. Oscilando entre a razão e o sentimento. 
 Maria, também ela uma heroína romântica, é o anjo inocente vítima da 
sociedade, que acredita piamente no regresso de D. Sebastião. Treze anos com uma 
maturidade e preocupações invulgares para a sua idade. Acentuada pela tuberculose, 
deixa-se arrastar pela tragedia presente e a persegue, morrendo de vergonha em palco, 
como convém a um final trágico. 
 Telmo Pais, escudeiro valido, o familiar quase parente, o velho amigo que foi de 
D. João de Portugal e que permaneceu ao serviço de D. Madalena, apos o 
desaparecimento daquele. 
 D. João de Portugal é, na verdade, a sombra que paira desde o início sobre os 
Sousa Coutinho. 
 Frei Jorge, frade dominicano, irmão de Manuel, representa o papel dos 
confidentes da tragédia clássica e pode ser considerado o verdadeiro culpado do 
desfecho tráfico. 
 
Cânticos do Realismo, Cesário Verde 
Representação da cidade e dos tipos sociais 
 Esta vivência entre o campo e a cidade vai determinar decisivamente a temática 
da sua poesia, marcada pela dicotomia cidade / campo. Esta oposição é um elemento 
estruturante da obra poética de Cesário. Com efeito, divide-se entre a critica da cidade 
e o elogio do campo. O espaço confinado da cidade opõe-se sistematicamente ao espaço 
amplo do campo. Na cidade, o sujeito sente-se sufocado, encarcerado. O ambiente 
citadino, símbolo do desenvolvimento e do progresso, metáfora do ocidente 
(sentimento dum ocidental) aparece paradoxalmente como paradigma em todos os 
males – a cidade como palco da doença: do lado da cidade, encontra-se a humilhação, 
a noite, a morte, a solidão, o presente (cristalizações); do lado do campo, a liberdade 
amorosa, a saúde, a vida, o passado infantil (De tarde). O campo simboliza a energia, a 
vida, a saúde, o espaço onde se recuperam as forças perdidas na confusão da cidade. É 
espaço de inspiração, presente no verso: “no campo; eu acho nele a musa que me 
anima” (De verão). Por influência do realismo, Cesário Verde dá atenção às situações do 
quotidiano. Com realidades aparentemente insignificantes, constrói quadros de grande 
expressividade. O deambular constante pela cidade, as estadias no campo tornar-se-ão 
motivos de inspiração da sua poesia. Os seus poemas deixam transparecer pequenos 
quadros da vida real, do ambiente doméstico e familiar, tornando Cesário um poeta-
pintor da paisagem urbana e do mundo rural. 
 Tipos sociais: 
• Povo/classes trabalhadoras: produtividade, vitalidade, 
autenticidade. Alvo de simpatia e solidariedade por parte do 
sujeito poético. Ex: vendedora de legumes, calafates, obreiras, 
varinas… 
• Burguesia: ociosidade, inércia, artificialidade. Alvo de critica e 
ironia por parte do sujeito poético. Ex: criado do bairro burgues, 
dentistas, lojistas… 
• Marginais que vivem na cidade: degradação social e moral. Alvo 
de critica por pare do sujeito poético. Ex: ladroes, jogadores, 
prostitutas… 
 
Dois tipos de mulher em Cesário Verde 
A poesia de Cesário Verde apresenta dois tipos opostos de mulher: a mulher 
esplêndida, madura, destrutiva e essencialmente frigida, associada com a cidade 
(mulher fatal), e a jovem simples (mulher angelical) terna e vulnerável, associada com o 
campo e com os valores opostos à cidade. 
 
Deambulação e imaginação: o observador acidental 
 Deambulando, o poeta capta as impressões da realidade quotidiana, tornando 
um observador acidental. O espaço urbano transforma-se num espaço de observação 
do mundo e da vida. Ao deambular pelas ruas de lisboa, observa acidentalmente 
pessoas e espaços, transformando-os num repórter do quotidiano. Ao estilo realista, 
transporta para a sua poesia a realidade de todos os dias, concedendo particular 
atenção aos lugares e, sobretudo, às pessoas com quem se cruza. Nessa sua 
deambulação pelos vários espaços, o poeta apresenta-nos, por exemplo, uma vasta 
galeria de figuras femininas de diferentes estratos sociais: as varinas, a engomadeira 
tisica, a vendedeira de hortaliças, a atriz, a mulher fatal, a mulher altiva, as prostitutas… 
 
Perceção sensorial e transfiguração poética do real 
 
 
 
Relações com o poema épico 
Cesário Verde, o sentimento dum ocidental 
 
- Espírito antiépico (atitude face à realidade observada: descrença na capacidade 
humana no universo citadino); 
- Viagem pela cidade (representação da degradação social e moral); 
- Personagens antiépicas: 
 - Marginais (ladrões, bêbados, jogadores, prostitutas); 
 - Ociosas, artificiais (dentistas, arlequins, lojistas). 
Também há exaltação das personagens “épicas” (classes trabalhadoras). 
 
Os Lusíadas, Luís de Camões 
 
- Espírito épico- exaltação das capacidades humanas; 
 Também está presente o espírito antiépico. 
- Viagem marítima (epopeia dos descobrimentos); 
- Personagem coletiva épica: povo português (representado por vasco da gama e pelos 
marinheiros que com ele percorrem o caminho marítimo para a índia). 
 
Linguagem, estilo, estrutura 
• Recurso às sinestesiasi (“Com choques rijos, ásperos e cantantes”); 
• Parnasianismo ii (“e apuro-me em lançar originais e exatos, os meus 
alexandrinos”); 
• Comparação (“como morcegos, ao cair das badaladas, saltam de viga em 
viga os mestres carpinteiros”); 
• Metáfora (“há colos, ombros, bocas, um semblante nas posições de certos 
frutos”); 
• Tripla e dupla adjetivação (“saias curtas, frescas, engomadas”); 
• Enumeração (“com santos e fiéis, andores, ramos e velas”); 
• Hipérbole (“em uma catedral de um comprimento imenso”); 
• Hipálage (“cheiro salutar e honesto ao pão do forno”); 
• Assíndetoiii (“eu hoje estou cruel, frenético, exigente”). 
 
 
 
i Sinestesias, Associação de sensações resultantes da perceção sensorial de sentidos diferentes. 
ii Parnasianismo, procura a confeção perfeita através de uma poesia descritiva, baseada em temáticas 
greco-latinas que defende a reação contra o romantismo, a obsessão pela beleza na perfeição formal 
(em ritmo e rima) e a busca da impessoalidade e da impassibilidade. 
iii Assíndeto, acentua os valores individuais de cada palavra, registando as gradações subtis de uma 
realidade mutável. 
 
 
 
 
12º ano 
 
Poesia do ortónimo, Fernando Pessoa 
 
Fingimento artístico 
Nos poemas «Autopsicografia» e «Isto», o eu lírico defende que o poeta não 
pretende representar diretamente os seus sentimentos e as suas experiências interiores 
tal qual as viveu. Nesta sua conceção de poesia, Pessoa afirma que o poeta parte das 
emoções que experienciou («a dor que deveras sente») e representa-as poeticamente, 
por palavras, transformando essas emoções em arte, através de um processo de 
intelectualização. A escrita resulta, portanto de um processo de racionalização dos 
sentimentos e da imaginação artística (trabalho poético) para escrever o poema. 
 Pessoa chama a este processo fingimento artístico: «o poeta é um fingidor». Mas 
fingimento não significa aqui falta de autenticidade ou de sinceridade, o poeta apenas 
ganha distanciação em relação aos seus sentimentos para os poder representar 
estipticidade por palavras.Fingimento artístico associada às dicotomias sentir/ Pensar, Coração/ Razão; 
Sinceridade convencional/ Sinceridade Intelectual. 
 
A dor de pensar 
 A consciência de si é um fardo, uma dor, por isso o poeta inveja aqueles que não 
pensam e que não intelectualizam a sua condição humana e, num sentido mais lato, a 
existência. No entanto, o “eu” acredita que aqueles que não pensam não podem ser 
verdadeiramente felizes, uma vez que não tem consciência da sua suposta felicidade. 
 Surgem tentativas da fuga à dor de pensar: Alberto Caeiro, sonho, música e a 
nostalgia da infância. 
 Ex: “gato que brincas na rua” e “ela canta pobre ceifeira” 
 
Sonho e realidade 
 O “eu” lírico não encontra a felicidade na realidade do quotidiano, porque se 
sente tomado pela frustração, pelo vazio ou pelo tédio. O sonho é a dimensão em que 
se idealiza e onde cré conseguir realizar-se e atingir a plenitude ou o equilíbrio: 
metaforicamente, refere-se a este como «um país/ onde ser feliz/ consiste/ apenas em 
ser feliz» (“às vezes em sonho triste”). 
 Na poesia de pessoa, o espaço onírico, ou seja, o mundo do sonho, não funciona 
como uma evasão ou escape, é antes um lugar onde o “eu” acredita que pode recuperar 
uma experiência perdida (a da infância) ou ser o que não se é no mundo «real». 
 O “eu sonhado” não é uma outra pessoa, é sim uma outra faceta do «eu» lírico 
(“não sei se é sonho, se realidade”). O sujeito sente-se, pois, dividido entre o que é 
«realmente» e o que desejava ser. 
Para pessoa, a sensação do sonho torna-se mais profunda que a própria realidade. 
 
A nostalgia da infância 
 A melancolia no presente que marca o «eu» na poesia de Fernando Pessoa 
ortónimo leva-o muitas vezes a manifestar um sentimento de nostalgia em relação à 
infância. Nessa época, o “eu” não recorria ao pensamento analito que lhe permitiria ter 
consciência do seu estado de alma. Deste modo, a evocação da infância não passa de 
uma tentativa infrutífera de evasão da melancolia do presente através de um passado 
que, porque concebido apenas ilusoriamente como um paraíso perdido, acaba por não 
permitir ao «eu» libertar-se da tristeza, do tédio e da angústia que o atormentam. 
 Ex: “ó sino da mina aldeia”, “pobre velha música” 
 
Poesia dos heterónimos, Fernando Pessoa 
 
Alberto Caeiro, o poeta bucólico 
 Caeiro é o mestre de Fernando Pessoa ortónimo e dos heterónimos: aponta 
soluções para os problemas existenciais e filosóficos (dor de pensar, a metafísica, a 
consciência do mundo, etc). Defende que devemos percecionar, conhecer e fruir o 
mundo através dos sentidos, sobretudo a visão, e que o real se reduz à materialidade. 
Sente deslumbrado perante a Natureza e a sua diversidade. Advoga a comunhão do 
Homem com a natureza – neste ponto, aproxima-se do paganismo («fui o único poeta 
da natureza»). 
 É o poeta do real objetivo. Aceita de forma tranquila a natureza e o mundo («sei 
a verdade e sou feliz»). Considera que só o presente existe e deve ser vivido. Afirma 
recusar o pensamento, a filosofia e a existência de uma metafísica («eu não tenho 
filosofia: tenho sentidos», «pensar é não compreender», «pensar é estar doente dos 
olhos»). 
 
 Contradições: 
• Caeiro diz desvalorizar ou recusar o pensamento, mas os seus poemas 
são reflexões e não tanto descrições da Natureza. 
• Analisa e reflete sobre as sensações, não se limita a captar impressões. 
• Afirma-se contra a filosofia, mas expõe a sua doutrina nos seus poemas. 
 
Estilo: 
• Frases simples 
• Domínio do campo lexical de «natureza» 
• Marcas do discurso de oralidade (polissíndeto, repetição) 
• Recursos retóricos: comparações, metáforas e imagens simples 
• Irregularidade a nível da estrutura estrófica e métrica. 
 
 
 
 
Ricardo Reis, o poeta clássico 
 Ricardo Reis é helenista (estudioso da língua e/ou civilização da antiga Grécia) e 
latinista (conhece bem e estuda a língua e literaturas latinas). 
 Transmite nos poemas ensinamentos (uma filosofia de vida) para os indivíduos 
saberem enfrentar as adversidades do mundo. Entre essas adversidades contam-se a 
ação do destino (fado), o tempo que foge, a velhice, a doença, a morte e outras situações 
que desencadeiam o sofrimento. 
 Aconselha a aceitar a ordem das coisas e a desfrutar a vida na terra. 
 Adota uma visão pagã do mundo, em que o homem vive em comunhão com a 
Natureza e em que existem deuses, uma mitologia e o destino. «Abdica e sê rei de ti 
próprio». 
 
 Epicurismo 
• Na vida, devem procurar-se os prazeres serenos e moderados; 
• Aconselha-se a fruição tranquila do presente em vez de recear a ação do destino, 
a morte e outros problemas que ameaçam os indivíduos; 
• Adota-se a firmeza e a autonomia na forma como se enfrentam as adversidades 
do mundo e se evitam as ciladas da fortuna (do fado); 
• Advoga-se uma atitude imperturbável e de distanciação face aos males que 
podem surgir: ataraxia; 
• Defende-se o carpe diem, a ideia de se procurar uma felicidade suave e tranquila 
de prazeres moderados; 
• Incentiva-se a aceitação de uma vida simples, sem grandes ambições e em 
contacto com a natureza. 
 
Estoicismo 
• Autodisciplina e autocontrolo na vida e na escrita; 
• Indiferença perante as paixões; 
• Encoraja-se a «apatia», um estado de ausência do sofrimento como forma de o 
sujeito enfrentar com determinação as contrariedades, a doença e a morte; 
• Aconselha-se também a ataraxia. 
 
Estilo: 
• Recurso ao hipérbato e à anástrofe, sugerindo, assim, a construção da frase 
latina. 
• Uso de um vocabulário erudito de origem grega e latina. 
 
 
 
 
 
 
Álvaro de campos, o poeta da modernidade 
Evolução literária em 3 fases: 1º fase- decadentista; 2º fase- sensacionista e 
futurista; 3º fase- intimista. 
 Após uma primeira fase mais associadas a temas característicos do 
decadentismo (tédio profundo em relação à vida, desejo de experimentar novas 
sensações), e que tem como paradigma o poema «opiário», a poesia de Álvaro de 
Campos evolui para um período fortemente marcado pela influência do futurismo 
(2ºfase). 
 É neste âmbito que o sujeito poético procede à exaltação da vida moderna, ou 
sejam da crescente industrialização, da evolução tecnológica e do ritmo frenético dos 
grandes centros urbanos, sobretudo em poemas como «Ode triunfal» e «Ode 
marítimas» 
 A poesia de Álvaro de campos transmite nos seus poemas as sensações intensas 
desencadeadas pelo ritmo alucinante das máquinas e da vida moderna. Por dar primazia 
às sensações («sentir tudo de todas as maneiras», também é um exemplo de 
sensacionismo. 
 Na terceira fase, todo este ambiente marcado pelo excesso se desfaz, acabando 
por culminar uma atitude de apatia resultante de um desalento e ceticismo profundos 
em relação à vida. A defetividade do presente desencadeia no «eu» uma profunda 
nostalgia da infância, época supostamente feliz. 
 Em suma, Álvaro de Campos resulta no heterónimo mais complexo de Pessoa, 
atravessando fases poéticas diferentes. 
 
 
Mensagem, Fernando Pessoa 
 
Estrutura da obra 
 Mensagem divide-se em três partes: Brasão, Mar Português e o Encoberto. 
 Na primeira parte, Brasão, alinham-se mitos e figuras históricas de Portugal. 
 Na segunda parte, Mar Português, fala-se dos descobrimentos. 
 Na terceira parte, Encoberto, sebastianismo e iminência da concretização do 
quinto império. 
 
A natureza épico-lírica da obra 
A natureza épico-líricade Mensagem assenta no facto de os 44 poemas que a 
compõem revelarem marcas de ambos os domínios literários. O leitor reconhece um 
caracter híbrido que resulta do cruzamento do género da epopeia e do modo lírico, 
como se pode ver em «O infante» (segunda parte: «O mar português»). 
A par da sua faceta épica emerge em mensagem uma dimensão lírica que se 
manifesta numa vertente mais introspetiva dos poemas. Como é característica deste 
 
modo literário, encontramos um sujeito poético que, no seu discurso, dá conta do seu 
mundo interior, dos seus sentimentos, das suas reflexões sobre Portugal e o seu destino. 
Ao contrário d’Os Lusíadas, que, num momento de abatimento e decadência, 
narra a grandeza do passado, a Mensagem, exaltando os heróis e feitos do passado, na 
primeira e segunda parte. A terceira parte da obra dissocia-se definitivamente da 
epopeia camoniana, erigindo e alimentando o mito sebastianista. 
 
 
Dimensão simbólica do herói 
 As figuras retratadas surgem como heróis que se enquadram no plano de deus 
para Portugal. De acordo com a vontade divina, o nosso país deverá traçar até alcançar 
o Quinto Império. Estes heróis são em geral figuras solitárias, dado que se elevam acima 
da turba, que vive para a satisfação das suas necessidades básicas, ousando sonhar. A 
sua «loucura» e febre do «longe» mostram que são ungidos por deus. O paradigma 
deste tipo de herói é D. Sebastião. O preço a pagar por este desejo de elevação acima 
da sua condição humana é o sofrimento. Aqueles que conseguem ultrapassar o medo e 
a dor são elevados à condição de imortais. 
 
O sebastianismo 
 Mensagem retoma o mito Sebástico com uma configuração própria. Fernando 
pessoa é agora o profeta que, num contexto nacional difícil e de crise, fala do 
ressurgimento de Portugal e do seu futuro traçado por deus. Nesta obra, D. Sebastião é 
uma figura que surge no título de dois poemas, mas o seu valor é simbólico e não será 
o seu regresso «carnal» que Pessoa aguarda; a noção de Salvador terá uma configuração 
simbólica. 
 Mensagem é atravessada por figuras, símbolos («as ilhas afortunadas», 
«nevoeiro») e avisos («o bandarra», «nevoeiro») que anunciam uma nova era. Essa era 
futura é o do Quinto Império. Um conceito bíblico que o padre António Vieira, Fernando 
Pessoa e outros autores atualizaram. Para o poeta da Mensagem, depois dos impérios 
grego, romano, cristão (medieval) e europeu marítimo chegará este novo tempo (quinto 
império). 
 O Quinto Império é um conceito universal, pois envolve toda a humanidade e 
não será conquistada pelas armas. Trata-se de um domínio espiritual, que por escolha 
divina, tem Portugal à cabeça e que se propõe trazer fraternidade, paz, prosperidade a 
todos os povos. Será uma espécie de regresso ao paraíso perfeito. 
 
 
 
 
 
 
 
*Livro do desassossego, Bernardo Soares* 
 
O quotidiano 
 Bernardo Soares reconhece que o fracasso que marca o seu quotidiano decorre, 
em parte, da inaptidão para lidar com estas questões pragmáticas da existência («Nunca 
aprendi a existir»). Consciente desta sua característica, acredita que todos os seus 
sonhos estão à partida condenados ao malogro- motivo pelo qual se refugia numa 
atitude de inércia. 
 Considera que a condição de ser pensante o torna superior aos indivíduos que o 
rodeiam- seres marcados pela inconsciência que se contentam com uma existência 
marcada pela mediocridade. É por este motivo que se refugia numa solidão voluntária. 
 
Deambulação e sonho: o observador acidental 
 Em vários fragmentos do livro, o enunciador percorre as ruas de lisboa e regista 
as perceções que tem da cidade recordando o que Cesário Verde tinha feito em «um 
sentimento do ocidental». 
 A deambulação permite observar e fazer registos sobre diferentes lugares e 
elementos do real que se cruzam com o sujeito. A relação desta personagem com a 
realidade em que vive e o lugar em que se inscreve que o conduzem ao desassossego, 
que tem origem na insatisfação, no tédio, no seu temperamento sonhador, nas 
circunstâncias adversas da sociedade em que vive. 
 Os momentos descritivos e os narrativos são frequentemente o ponto de partida 
para reflexões ou abrem portas para a imaginação e para o mundo do sonho: o «eu» 
imagina-se «outro» noutro lugar que ele próprio cria atrás da imaginação. No fundo, é 
no mundo onírico que se procura por termo ao seu desassossego. 
 
Perceção e transfiguração poética do real 
 A perceção que o «eu» tem e regista do real é a que podemos apelidar de 
objetiva. 
 É a imaginação que serve de ponte entre as paisagens exteriores e o mundo 
interior e a realidade interior suplanta a exterior. Assim, substitui o real exterior pelo 
interior. Há também as paisagens e as experiências que foram interiorizadas pelo «eu» 
e que são caracterizadas como suas: “certos quadros, sem sombra de relevo artísticos, 
certas oleogravuras que havia em paredes com que convivi muitas horas- passa a 
realidade dentro de mim”. Nestes casos, o enunciador seleciona aspetos do mundo 
exterior que transforma interiormente, de forma artística e imaginativa. O «eu» 
transfigura assim o real, torna-o seu e/ou muda-lhe a forma pelas palavras usadas- 
transfiguração poética: “os bancos do elétrico, de um entretecido da palha forte e 
pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários…”.

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